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Projecto Wesley
“GRAÇA LIVRE EM TODOS E PARA TODOS”
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A SANTA TRINDADE
Autor: John Wesley
Sermão nº55, Pregado em Cork, 1775.
Tradução: Isilda Bela
Edição: Projecto Wesley
Capa e Diagramação: Projecto Wesley
[Editado por David R. Leonard, estudante Northwest Nazarene
College (Nampa, ID), com correções de George Lyons para a Wesley
Center for Applied Theology.]
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Projecto Wesley
“GRAÇA LIVRE EM TODOS E PARA TODOS”
'Porque três são os que
testificam no céu: o Pai,
a Palavra, e o Espírito
Santo; e estes três são
um'
I João 5:7

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Projecto Wesley
“GRAÇA LIVRE EM TODOS E PARA TODOS”
A SANTA TRINDADE
'Porque três são os que testificam no céu: o Pai, a
Palavra, e o Espírito Santo; e estes três são um'
I João 5:7

AVISO:

Há alguns dias, pediram-me que eu pregasse sobre este texto.


Eu o fiz ontem de manhã. À tarde, eu fui pressionado a escrever e
imprimi-lo, se possível, antes de deixar Cork. Eu o escrevi esta
manhã; mas eu imploro ao leitor que leve em consideração, as
desvantagens a que eu estou submetido, uma vez que eu não tenho
aqui livro algum para consultar; nem, de facto, tempo para consultá-
los.

Cork, 8 de Maio, 1775

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“GRAÇA LIVRE EM TODOS E PARA TODOS”
INTRODUÇÃO

O que quer que a generalidade das pessoas possa pensar, é


certo que opinião não é religião, Não, nem a opinião correcta
aquiesce à uma, ou para dez mil verdades. Existe uma larga
diferença entre elas, Mesmo a opinião correcta está tão distante da
religião, quanto o leste está do oeste. As pessoas podem estar
absolutamente certas, em suas opiniões, e, no entanto, não terem
religião, afinal; e, por outro lado, as pessoas podem ser
verdadeiramente religiosas, e terem muitas opiniões errôneas.
Alguém pode possivelmente duvidar disto, enquanto existirem
romanistas no mundo? Quem poderá negar que, não apenas muitos
deles foram verdadeiramente religiosos outrora, como Thomas a
Kempis, Gregory Lopes, e o Marques de Renty; mas que muitos
deles, até mesmo hoje em dia, são verdadeiros cristãos interiores? E
mesmo assim, que quantidade de opiniões errôneas eles abraçam,
entregues pela tradição de seus antepassados! Mais ainda, quem
poderá duvidar delas, enquanto existirem calvinistas no mundo -
defensores da predestinação absoluta? Quem se atreverá a afirmar
que nenhum desses são homens verdadeiramente religiosos? Não
apenas muitos deles, no último século foram luzes ardentes e
brilhantes, mas muitos deles são agora cristãos verdadeiros, amando
a Deus e toda a humanidade. E, ainda assim, o que são todas as
opiniões absurdas de todos os romanistas do mundo, comparadas
àquela de que o Deus do amor, o sábio, misericordioso Pai dos
espíritos de toda carne tem fixado, de toda a eternidade, um
decreto, absoluto, imutável, irresistível, de que parte da
humanidade será salva, faça o que fizer; e o restante dela,
condenada, faça o que puder?

Disto, nós não podemos deixar de afirmar que existem


milhares de erros que podem consistir com a religião verdadeira;
com respeito ao que todo homem imparcial, e ponderado irá pensar
e permitirá pensar. Mas existem algumas verdades mais importantes
que outras. Parece que existem algumas que são de profunda
importância. Eu não as denomino verdades fundamentais; porque
esta é uma palavra ambígua: E, por conseguinte, deve haver tantas
muitas disputas acaloradas a respeito do número das verdades
fundamentais. Mas certamente, existem algumas que proximamente
nos concerne conhecer, como tendo uma íntima conexão com a
religião vital. E, sem dúvida, nós podemos enfileirar, em meio a
essas, as que estão contidas nas palavras acima citadas: 'Porque três

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são os que testificam no céu: o Pai, a Palavra, e o Espírito Santo; e
estes três são um'.

Eu não quero dizer que seja importante acreditar nesta ou


naquela explicação dessas palavras. Eu não sei se algum homem de
bom julgamento tentaria explicá-las, afinal. Um dos melhores
tratados que aquele grande homem, Dean Swift, escreveu, foi seu
Sermão sobre a Trindade. Nisto, ele mostra que todos que se
esforçaram para explicá-la, perderam completamente sua direção;
acima de todas as outras pessoas, danificaram a causa que eles
pretenderam promover; tendo apenas, como Jó diz, em (Jó 38:2),
'Quem é este que escurece o conselho com palavras sem
conhecimento?'. Foi numa má hora, que esses explanadores
começaram seu trabalho infrutífero; eu ínsito em nenhuma
explicação, afinal; não, nem mesmo sobre o melhor que eu tenha
visto; eu quero dizer aquela que nos é dada, no credo comumente
imputado a Atanásio. Eu estou longe de dizer que, se alguém não
reconhecer isto, sem dúvida, perecerá eternamente. Porque a
finalidade desta e de outra condição, eu, por algum tempo, tive
escrúpulos de afirmar aquele credo; até que eu considerei:

(1) Que essas sentenças apenas se relacionam ao descrente


obstinado, não involuntário; àqueles que, tendo todos os meios de
conhecer a verdade, não obstante, a rejeitam, obstinadamente.
(2) Que a aqueles que relatam apenas a substância da doutrina
lá entregue; não as ilustrações filosóficas dela.

Eu não insisto sobre qualquer um usar a palavra Trindade, ou


Pessoa. Eu mesmo as uso sem qualquer escrúpulo, porque eu não
conheço nenhuma melhor. Mas, se algum homem tem algum
escrúpulo concernente a elas, quem poderá constrangê-lo a usá-las?
Eu não posso: Muito menos, eu queimaria um homem vivo, e isto
com madeira verde e úmida, por dizer, 'Embora eu creia que o Pai é
Deus, o Filho é Deus, e o Espírito Santo é Deus; ainda assim, eu
hesito em usar as palavras Trindade e Pessoas, porque eu não
encontro esses termos na Bíblia'. Estas são as palavras que o
―misericordioso‖ John Calvin cita como escrita por Servitus, em uma
carta a si mesmo. Eu insistiria apenas nas palavras diretas,
inexplicadas, exatamente como elas se apresentam no texto: 'Porque
três são os que testificam no céu: o Pai, a Palavra, e o Espírito
Santo; e estes três são um'.

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AUTENTICIDADE DO TEXTO

'Como elas se apresentam no texto'. Mas aqui surge uma


questão: Este texto é genuíno? Ele foi originalmente escrito pelo
Apóstolo, ou inserido nos últimos tempos? Muitos têm esta dúvida;
e, em particular, a grande luz da igreja cristã, Bengelius, o mais
devoto, o mais criterioso, e o mais laborioso, de todos os estudiosos
sobre o Novo Testamento, por algum tempo permaneceu em dúvida
sobre a sua autenticidade, porque ela está deficiente em muitas das
transcrições antigas. Mas suas dúvidas foram removidas, através de
três considerações:

(1) Que embora ela seja deficiente em muitas transcrições,


ainda assim, é encontrada em mais [transcrições ainda]; e [em]
transcrições, da maior autoridade.

(2) Que ela é citada por uma completa gama de escritores


antigos, desde o tempo de João, até o de Constantino. Este
argumento é conclusivo: Já que eles não a teriam citado, não
estivesse no cânone sagrado.

(3) Nós podemos facilmente compreender a razão porque ele


continua deficiente, depois desta época, quando nos lembramos que
o sucessor de Constantino era um zeloso ariano, que usou de todos
os meios para promover sua causa iníqua, para espalhar o
arianismo, por todo o império; em particular, para apagar este texto,
das muitas transcrições que lhe caíram nas mãos. Ele prevaleceu até
agora, já que a época em que ele viveu é comumente chamada de 'A
época ariana' [seita de Ario, que, no dogma da Santíssima Trindade,
não admitia a consubstancialidade do Pai com o Filho]; havia
apenas um homem eminente que se opôs a ele, com risco de morte.
De modo que foi um provérbio: 'Atanásio contra o mundo'.

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CRER NA TRINDADE É CRER NO INCOMPRESSÍVEL?

Mas alega-se: 'No que quer que o texto se torne, nós não
podemos crer naquilo que não podemos compreender. Quando,
portanto, você nos exige que acreditemos nos mistérios, nós oramos
para que você nos desculpe'. Aqui existe erro duplo:

1o Nós não ordenamos a vocês que acreditem em algum


mistério nisto; considerando que vocês supõem o contrário. Mas,

2o Vocês já acreditam em muitas coisas que vocês não


compreendem.

Considerando que, para começar com o último, vocês já


acreditam em muitas coisas que vocês não compreendem. Vocês
acreditam que existe um sol sobre suas cabeças. Mas, quer ele se
situe, ainda no meio do seu sistema, ou não apenas gire sobre seu
próprio eixo, mas se regozije como um gigante a seguir seu curso;
vocês não podem compreender tanto um quanto o outro. Como ele
se move, e como ele se apoia. Através de que poder; que poder
natural e mecânico, ele está soerguido no fluido também? Vocês não
podem negar o facto; ainda assim, vocês não podem responder por
ele, de maneira a satisfazerem algum inquiridor racional. Vocês
podem, decerto, nos dar as hipóteses de Ptolomeu, Tycho Brahe,
Copérnico, e vinte outros mais. Eu os tenho lido, repetidas vezes. Eu
estou enjoado deles; eu não dou a mínima por eles todos.

A cada nova solução, uma mais se permite,


Novas mudanças de termos, e pilhas de palavras
Em outra roupagem minha questão eu recebo
E tomo de volta minha dúvida,
Da mesma maneira que entreguei.

Ainda eu insisto; no facto, vocês acreditam; vocês não podem


negar; mas a maneira, vocês não podem compreender.

Vocês acreditam que exista tal coisa como a luz; quer fluindo
do sol, ou algum outro corpo luminoso; mas vocês não podem
compreender tanto sua natureza, ou a maneira como ela flui. Como
ela se move de Júpiter até a terra, em oito minutos; a duzentas mil
milhas, em um momento? Como os raios da vela, trazida para a sala,
se dispersam instantaneamente em cada canto? Novamente: Aqui

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existem três velas, ainda assim, existe apenas uma luz. Explique isto,
e eu irei explicar o Deus trino.

Vocês acreditam que exista tal coisa como o ar. Ele cobre tanto
vocês quanto suas vestimentas; e, amplamente difundido, envolve
essa terra florida. Mas vocês podem compreender como [isto
acontece]? Vocês podem me dar um relato satisfatório de sua
natureza, ou a causa de suas propriedades? Pensem em apenas uma:
sua elasticidade: vocês podem responder por isto? Ela pode ser
devido ao fogo eléctrico ligado a cada partícula dela; pode ser que
não; e nem mesmo vocês, nem eu posso dizer. Mas se nós não o
respirarmos, até que compreendamos, nossas vidas estarão perto do
seu final.

Vocês acreditam que exista tal coisa como a terra. Aqui vocês
fixam seus pés sobre ela: vocês são apoiados por ela. Mas vocês
compreendem o que é que sustenta a terra? 'Ó, um elefante', diz o
filósofo malabárico [de Malabar (índia)] 'um touro o sustenta'. Mas
o que apóia o touro? O indiano e o bretão estão igualmente perdidos,
por uma resposta. Nós sabemos que é Deus que 'expande o norte
sobre o espaço vazio, e projeta a terra no nada'. Este é o facto. Mas
de que maneira? Quem poderá responder por isto? Talvez, criaturas
angélicas, mas não criaturas humanas.

Eu sei o que é plausivelmente dito, com respeitos aos poderes


da projeção e atração. Mas por mais delicadamente que possamos
engendrar, o facto em si varre todas as nossa hipóteses sutis, fora.
Conectem a força de projeção e atração como vocês puderem, elas
nunca irão produzir um movimento circular. No momento em que o
aço projetado se aproxima da atração do imã, ele não forma uma
curva, mas se inclina para baixo.

Vocês acreditam que têm uma alma. 'Esperem ai', diz o


Doutor; [Dr. Bl-r, em seu último tratado]. Eu não acredito em tal
coisa. Se vocês têm uma alma imaterial, então os animais também
têm'. Eu não irei puxar briga com alguns que pensam que eles
tenham; ao contrário, eu desejo que eles possam provar isto: E
certamente, eu antes permitira a eles, almas, do que desistiria da
minha própria. E nisto eu cordialmente concordo com o sentimento
do honesto pagão: 'Se eu erro, eu erro prontamente; e eu
veementemente me recuso a ser convencido disto'. Eu confio que a
maioria destes que não desmentem a Trindade pense da mesma
maneira. Permita-me, então, seguir adiante. Vocês acreditam que
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têm uma alma ligada com a morada de barro. Mas vocês podem
entender como? Quais são os laços que unem a chama celeste com
ao torrão de terra? Vocês entendem exatamente nada do assunto.
Assim ela é; mas, como ela é, ninguém pode dizer.

Vocês certamente acreditam que têm um corpo, unido com sua


alma, e que cada um é dependente do outro. Enfie um espinho em
sua mão; imediatamente, a dor é sentida em sua alma. Se, por outro
lado, a vergonha é sentida em sua alma, instantaneamente, o rubor
se espalha por sua face. A alma sente temor, ou ira violenta? Logo o
corpo treme. Esses também são fatos que vocês não podem negar;
nem vocês podem dar conta deles.

Eu trago, a não ser um exemplo mais: Ao comando de sua


alma, sua mão é erguida. Mas quem é capaz de responder por isto?
Porque da conexão entre a acção da mente, e as ações exteriores?
Mais ainda, quem poderá responder a respeito do movimento
muscular, afinal; em qualquer instância que seja? Quando um dos
mais engenhosos Físicos na Inglaterra terminou seu discurso sobre
aquela matéria, ele acrescentou: 'Agora, cavalheiros, eu tenho dito a
vocês todos as descobertas de nossos tempos eruditos; e, se vocês
entenderem um jota do que eu disse, vocês terão entendido mais do
que eu entendo'. O resumo do assunto é este: Aqueles que não
acreditam em nada, a não ser naquilo que eles podem compreender,
não devem acreditar que exista um sol no firmamento; que exista
luz, brilhando em derredor deles; que exista ar, embora ele os
rodeiem de todos os lados; que exista qualquer terra, embora eles
permaneçam sobre ela. Eles não devem acreditar que tenham uma
alma; não, nem que tenham um corpo.

Mas, em Segundo lugar, por mais estranho que isto possa


parecer, em exigir que vocês acreditem 'Que existem três que
testificam no céu: o Pai, a Palavra, e o Espírito Santo; e que estes
três são um', vocês não estarão sendo questionados a acreditarem
em mistério algum. Mais ainda; que, o grande e bom homem, Dr.
Peter Browne, algumas vezes, Bispo de Cork, tem provado
largamente que a Bíblia não requer que vocês acreditem em algum
mistério, afinal. A Bíblia requer apenas que vocês acreditem em tais
factos; não na maneira deles. Agora o mistério não se coloca nos
factos, mas inteiramente na maneira.

Por exemplo: 'Deus disse, haja luz: e houve luz'. Eu creio nisto:
Eu creio no facto claro: não existe mistério, nisto. O mistério se
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coloca na maneira de como isto aconteceu. E disto eu acredito em
nada, afinal; nem Deus requer isto de mim.

Novamente: 'A palavra se fez carne'. Eu acredito neste fato


também. Não existe mistério nele; mas quanto à maneira como ele
se fez carne, no qual o mistério se encontra, eu nada sei a respeito;
eu creio em nada com relação a isto, isto não é o objecto da minha fé,
mas sim do meu entendimento.

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ENTENDENDO A SANTA TRINDADE

Aplicando isto ao caso diante de nós: 'Porque três são os que


testificam no céu o Pai, a Palavra, e o Espírito Santo; e estes três
são um'. Eu acredito neste facto também, (se eu posso usar a
expressão) que Deus é Trino. Mas a maneira eu não compreendo e
não creio nela. Agora, nisto, na maneira, situa-se o mistério; e, assim
sendo, eu não tenho preocupação com ela: ela não é o objeto de
minha fé: eu creio exatamente no quanto Deus tem revelado, e não
mais. Mas isto, a maneira, Ele não revelou; portanto, eu creio em
nada sobre ela. Mas não seria um absurdo eu negar o facto, porque
eu não entendo a maneira? Ou seja, rejeitar o que Deus tem
revelado, porque eu não compreendo o que Ele tem revelado?

Este é um ponto que deve ser muito observado. Existem


muitas coisas que 'os olhos não vêem, nem os ouvidos ouvem, nem
tem entrado no coração do homem conceber'. Parte dessas, Deus
'nos tem revelado, através de Seu Espírito': - 'Revelado'; ou seja,
tirado o véu, descoberto: Esta parte, Ele requer que acreditemos.
Parte delas Ele não tem revelado: Esta nós não precisamos, e de fato,
não podemos crer: está muito acima; fora de nossas vistas.

Agora, onde está a sabedoria de rejeitar o que é revelado,


porque nós não compreendemos o que não é revelado? De negar o
fato de que Deus tem tirado o véu, porque nós não podemos ver a
maneira, que ainda está velada?

Especialmente, quando nós consideramos que o que Deus tem


se agradado de revelar sobre sua cabeça, está longe de ser um ponto
de indiferença; na verdade, ele é de extrema importância. Ele entra
no próprio coração do Cristianismo: e se situa no coração de toda
religião vital.

A menos que esses Três sejam Um, de que maneira, 'os homens
poderão honrar o Filho, do mesmo modo que eles honram o Pai?'.
"Eu não sei o que fazer", diz Socinus, em uma carta ao seu amigo,
"com meus seguidores adversos: Eles não irão adorar Jesus Cristo.
Eu digo a eles que está escrito: 'Que todos os anjos de Deus o
adoram'. Eles respondem: De qualquer modo, se ele não for Deus,
nós não devemos adorá-lo. Já que 'está escrito que tu deves adorar
o Senhor teu Deus, e a Ele, tão somente, deves servir'".

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Mas a coisa que eu aqui particularmente quero dizer é esta: O
conhecimento do Deus Trino mistura-se com toda fé cristã
verdadeira; com toda religião vital.

Eu não digo que todo cristão real pode dizer o mesmo que o
Marquês de Renty: 'Eu trago comigo continuamente uma verdade
experimental, e uma plenitude da presença da sempre abençoada
Trindade. Eu compreendo que está não seja a experiência de bebês',
mas, preferivelmente, dos 'pais em Cristo'.

Mas eu não sei como alguém pode ser um crente cristão, até
que ele 'tenha', como João diz, 'o testemunho, em si mesmo'; até que
'o Espírito de Deus testemunhe com seu espírito que ele é um filho
de Deus', ou seja, em efeito, até que Deus – o Espírito Santo –
testemunhe que Deus – o Pai – o aceitou, através dos méritos de
Deus – o Filho: E tendo esse testemunho, ele honra o Filho, e o
abençoado Espírito, 'assim como ele honra o Pai'.

Não que todo crente cristão alude a isto; talvez, em princípio,


nem um em vinte: Mas, se vocês perguntarem algumas poucas
questões a algum deles, vocês irão facilmente se certificar que ele
está inserido no que ele acredita. Portanto, eu não vejo como é
possível ter uma religião vital, alguém que nega que esses Três são
um. E todas as minhas esperanças por eles, não é, que eles sejam
salvos, durante a descrença deles (exceto sobre o fundamento dos
honestos pagãos, sobre o pretexto da ignorância invencível), mas
que Deus, antes que eles sigam adiante, 'os traga para o
conhecimento da verdade'.

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SOBRE O AUTOR

John Wesley nasceu em 1703, durante o reinado da boa rainha


Anne. Sua infância foi dirigida por sua mãe, uma mulher rígida e
piedosa e seu pai, um homem difícil de agradar. Sua mãe acreditava
que os desejos das crianças deviam ser subjugados, que eles
deveriam ser açoitados quando não se comportassem e que deviam
chorar baixinho depois de açoitados. John era o décimo quarto filho.
Ele teria morrido num incêndio em Epworth Rectory se não tivesse
sido arrancado das chamas por um vizinho que subiu nos ombros de
outro vizinho. Ele tinha sete anos então, e depois disso, sua mãe o
lembrou várias vezes que ele era ―um tição colhido do fogo‖. Ela
sentia – e mais tarde ele veio a sentir – que ele tinha sido poupado
por um propósito, servir a Deus.

Samuel, o pai de John, era um erudito, que por muitos anos


trabalhou numa obra monumental sobre o livro de Jó. Um pregador
severo, para não dizer implacável, uma vez exigiu que uma adúltera
andasse nas ruas em sua vergonha e ele forçou o casamento de uma
de suas filhas depois que ela tentou fugir com um homem que não
era o escolhido de seu pai. Com seu pai e sua mãe, John Wesley
desenvolveu excelentes hábitos de estudo e também se acostumou
com sofrimento físico.

John Wesley foi para Charterhouse School em 1714, para


Christ Church College, Oxford, em 1720, e em 1726 foi eleito
membro na Lincoln College, Oxford. Depois de aceitar uma posição
de pastor auxiliar em Wroote, Lincolnshire, de 1727 a 1729, ele
voltou à Oxford não apenas para continuar seus estudos, mas
também começar a viver a vida santa. Muitos outros jovens
brilhantes tinham um curriculum como o de Wesley, mas poucos
tinham a sua dedicação. Ele dominava pelo menos sete idiomas e
desenvolveu uma visão verdadeiramente abrangente em todas as
áreas da investigação. Sua mente nunca encerrou a busca pelo resto
de sua vida. Quando ele voltou de Wroote para Oxford, ele assumiu a
liderança de um grupo chamado Holy Club (Clube Santo), iniciado
por seu irmão Charles. Aqui, eles buscavam reforçar a fé através do
estudo das Escrituras e medindo a qualidade da santidade da vida de
cada membro.

O Holy Club fazia mais que pensar e orar. Eles foram às


prisões levar salvação aos prisioneiros. Embora eles fossem
ridicularizados por seus companheiros de Oxford, de seu grupo de
baixa posição saíram homens que se tornaram importantes para
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Projecto Wesley
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aquele tempo, particularmente os irmãos Wesley e George
Whitefield. O seu regime exigia jejuns periódicos, encontros
regulares para estudo e auto-exame. Somente muito tempo depois
foi que John Wesley percebeu que eles seguiam mais a letra do que o
espírito do cristianismo.

Em 1735 grandes mudanças atingiram John e Charles Wesley.


O seu pai morreu e ambos foram com o governador Ogilthorpe para
a colônia Georgia com a bênção e encorajamento de sua mãe. A
Georgia foi uma prova para John, que logrou que realmente não
gostava dos índios e que sua rigidez não era muito apreciada pelas
pessoas da Georgia. Mas importante que isto, foi o contato de John
com uma pequena banda de morávios na viagem para a colônia.
Estes homens e mulheres destemidamente cantavam hinos durante
terríveis tempestades no mar, enquanto ele se desesperava. Ele
queria conhecer a fé que eles pareciam ter. Em 1737 ele retornou à
Inglaterra.

Devemos dar a John Wesley o crédito, pois ele podia ser crítico
o bastante consigo mesmo para parar naquele momento e saber que
ele era um ministro experiente para examinar sua falta de fé. Peter
Boehler, um morávio, deu-lhe a chave – pregar a fé até que ele a
tivesse, e então ele pregava a fé. Então aconteceu que John Wesley
habitou na fé até 24 de maio, uma quarta-feira, em 1738, no famoso
encontro de Aldersgate, ele teve uma conversão, uma profunda e
inconfundível experiência de fé. Seu ―coração foi estranhamente
aquecido‖. Então seu verdadeiro trabalho começou.

Como tinha uma mente livre, John Wesley ainda conseguia


retirar os melhores recursos das melhores mentes do seu tempo.
William Law, por exemplo, foi seu professor, amigo e mentor por
vários anos; mas Wesley achou que um ingrediente importante
estava faltando no programa de Law para uma vida devota. Os
seguidores de Platão conseguiram comunicar a Wesley uma
estrutura intelectual que era mais espiritual do que material, mas os
hábitos mentais de Wesley estavam moldados tanto pelo modelo de
análise de Newton do que pelo platonismo. Os morávios eram o mais
perto de uma síntese de todos os elementos que ele desejava e pôde
encontrar. Ele até mesmo visitou Herrnhut para saber como sua
comunidade trabalhava. Mas algo estava faltando lá, como em todo
lugar, e em 1740, ele e seus seguidores romperam com os morávios,
mas não antes que ele tivesse aprendido a pregar sermões ao ar livre,
o que veio a ser uma parte essencial de seu programa mais tarde.

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John Wesley tinha 37 anos de idade quando começou a viajar e
pregar. Ele freqüentemente exagerava o número daqueles que
vinham ouvi-lo. Muitas vezes, as mesmas pessoas que precisaram de
sua ajuda eram as mesmas que mais o perseguiam. Ele pregava em
púlpitos até que eles fossem fechados para ele, e ele então pregava
nos campos abertos. Ele pregava três vezes por dia, começando às 5
da manhã, uma vez que os trabalhadores poderiam parar para ouvi-
lo enquanto andavam para o seu trabalho monótono.

Algumas vezes ele andava 60 milhas (90 quilômetros) por dia


a cavalo. As condições do tempo não importavam; ele fazia seu
horário e o cumpria, não importavam as dificuldades. Ele fugia de
uma multidão zangada pulando num lago gelado, nadava para fora
dele e continuava a pregar novamente. Ele tinha a habilidade de
trazer as pessoas hostis para o seu lado.

Ele foi para Gales do Sul em 1741, para o norte da Inglaterra


em 1742, Irlanda em 1747, e Escócia em 1751. No total, ele foi à
Irlanda quarenta e duas vezes e à Escócia vinte e duas vezes. Ele
retornou às cidades vezes e mais vezes. Houve ocasiões em que ele
retornava anos depois de sua última visita e registrava que a
pequena sociedade que ele ajudara ainda estava intacta e fiel. Ele
examinava cada membro de cada sociedade pessoalmente para
buscar crescimento espiritual e de fé. As sociedades então formadas
proviam a organização local para seu movimento.

Durante 53 anos de um ministério incansável, Wesley chamou


a si mesmo de "homem de um livro só" — a Bíblia. Ele escreveu,
todavia, mais de 200 livros, editou uma revista, compilou
dicionários em quatro línguas — tudo escrito a mão. Ele percorreu a
Inglaterra a cavalo, num total de 250.000 milhas. Durante anos, fez
uma média de 20 milhas diárias e muitas vezes andava 50 a 60 e até
mais milhas por dia, parando para pregar ao longo do caminho. Ele
pregou 40.000 sermões — raramente menos que dois por dia e às
vezes sete, oito ou até mais.

O que Wesley pregava? Frugalidade, limpeza, honestidade,


salvação, boas relações familiares, dúzias de outros temas, mas
acima de tudo, a fé em Cristo. Ele não pedia aos seus ouvintes para
deixarem suas igrejas, mas para continuarem indo nelas. Ele lhes
deu o refrigério espiritual que eles não achavam fora do círculo.
Quando suas décadas de provação produziram décadas de triunfo, as
multidões aumentaram. Ricos e pobres vinham para ouvi-lo falar.
Ele desenvolveu redes de assistentes leigos. Suas exortações para
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viver perfeitamente em amor hoje parecem duras, mas considere os
efeitos em suas congregações. Os xingamentos nas fábricas pararam,
os homens e as mulheres começaram a se preocupar com
vestimentas limpas e simples, extravagâncias como chá caro e vícios
como o gim foram deixados por seus seguidores, vizinhos deram um
ao outro ajuda mútua através das sociedades.

Wesley ensinou tanto pelo exemplo como pelos seus sermões


tão medidos. Suas despesas anuais já foram mencionadas. Ele
publicou muitos volumes para serem usados em devocionais e
direcionou o lucro para projetos, como um local de ajuda para os
pobres. Sua vida pessoal estava além de reprovação. Ele traduziu
hinos, interpretou as Escrituras, escreveu centenas de cartas, treinou
centenas de homens e mulheres e manteve em seus diários um
registro da energia dispensada, que dificilmente tem um rival na
literatura ocidental. Sua maneira de falar na linguagem do homem
comum teve um impacto imensurável no surgimento do inglês
moderno, assim como os hinos de Charles Wesley tiveram um
grande impacto na música com suas muitas canções sem mencionar
a poesia da subseqüente era Romântica.

Mas o impacto dos Wesleys nas classes mais baixas foi além de
afetar seus hábitos de vida e modo de falar. John Wesley proveu uma
estrutura religiosa que era local e pessoal, bem como
energeticamente moral. Sua teologia não tirava a liberdade e o
direito de ninguém, pois qualquer um podia achar a graça de Deus
para resistir ao diabo e ser salvo, se tão somente buscasse e
recebesse. As sociedades que ele formou preservaram em seus
estudos um foco de fé – uma fé que também levou a uma maneira de
lidar com a realidade da vida das classes mais pobres. A religião não
era só para os ricos, mas Wesley também não estava pregando uma
revolta contra o anglicanismo – até muito tarde e então quase por
um acidente histórico.

O anglicanismo de John Wesley era muito forte, embora os


púlpitos anglicanos tornassem-se universalmente fechados a ele. Só
quando tinha oitenta e um anos ele permitiu uma pequena divisão
entre seus seguidores e a igreja nacional. Tendo mandado muitos
homens à América, em 1784 ele ordenou mais pessoas para este
esforço missionário e, porque ―ordenação é separação‖, efetivamente
começou uma nova igreja. O conservadorismo dele era tanto político
como religioso. Ele publicou uma carta aberta às colônias
americanas, aconselhando-as a permanecerem leais à Grã-Bretanha,

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Projecto Wesley
“GRAÇA LIVRE EM TODOS E PARA TODOS”
logo antes da Revolução Americana. Ele não tolerava nenhuma
conversa sobre agitação civil na Inglaterra.

Tem se discutido que outras forças estavam trabalhando na


Inglaterra além de Wesley e uns outros poucos pregadores. Por
exemplo, a Revolução Industrial que estava vindo progrediu mais
rápido na Inglaterra do que em qualquer outro lugar, dando aos
homens novos tipos de trabalho; a justiça do Sistema de Paz e o
sistema de governo com um Primeiro-Ministro eram únicos na sua
forma e deram muito mais poder do que era possível em qualquer
outro lugar à classe média local e os grandes problemas, que
poderiam, de outra forma, causar revolução, simplesmente não
estavam presentes depois de 1750. Ainda assim, sem Wesley e seus
seguidores, como poderia o ateísmo, tal como existia entre os
camponeses franceses, ser evitado e como poderia uma classe
inferior oprimida e dominada pelos vícios ter esperança?

John Wesley morreu em 2 de março de 1791, cerca de três anos


depois que seu irmão Charles morreu. Até seus anos finais, ele fez a
mesma frase de abertura em seu diário a cada ano no seu
aniversário, agradecendo a Deus por sua longa vida e sua contínua
boa saúde, afirmando que sermões pregados de manhã cedo e muita
atividade ao ar livre o mantiveram em forma para a obra de Deus.
Desde o momento em que ele tornou-se livre de influências, exceto a
de Deus, ele teve cinqüenta anos de serviço constante e fez um bem
imensurável à Inglaterra através da perseverança, resistência e fé.
Seu legado não se limitou ao seu século ou país, mas sobrevive até
hoje na fé de milhões em uma variedade de igrejas.

A seguinte frase foi escrita em seu diário em 28 de junho de


1774:

Sendo hoje meu aniversário, o primeiro dia do septuagésimo


segundo ano, eu estava pensando, Como pode ser isso, que eu ache
a mesma força que tinha trinta anos atrás? Que a minha vista
esteja consideravelmente melhor agora, e meus nervos mais firmes
do que eram antes? Que eu não tenha nenhuma enfermidade da
velhice, e não tenha mais aquelas que tive na juventude? A grande
causa é, o bom prazer de Deus, que faz o que lhe agrada. Os meios
principais são: meu constante levantar às quatro da madrugada,
por cerca de cinqüenta anos; o fato de geralmente pregar às cinco
da manhã, um dos exercícios mais saudáveis do mundo; o fato de
que nunca viajo menos, por mar ou terra, do que 4500 milhas
(6.750 km) por ano.
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Referências da Biografia:
- Christianity Today International – 2008
- Wesley Dwel - Em Chamas para Deus

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