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1982-1670

NÚMERO 105 DEZEMBRO 2016

No segundo ciclo de seleção, conheça as 11 micros


e pequenas empresas que integram
o ecossistema da inovação
EDITORIAL Use o QR Code para acessar Página22
gratuitamente e ler esta e outras edições ÍNDICE
A força do conjunto PÁGINA
Caixa de entrada
COMENTÁRIOS DE LEITORES

15
RECEBIDOS POR E-MAIL, REDES
SOCIAIS E NO SITE DE Página22
Empresas sem capacidade de inovar estão para as monoculturas,
assim como os ambientes propícios à criatividade estão para as florestas
tropicais. A comparação é traçada por Victor W. Hwang, consultor de ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS INBOX
DE SÃO PAULO DA FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
[democracia renovável – Edição 104]
inovação no Vale do Silício – como mostra a reportagem, à página 6, DIRETOR Luiz Artur Brito
Parabéns, Dudu Rombauer! Tinha dito
desta segunda edição do Guia de Inovação para Sustentabilidade em há algum tempo que o poder político
também pode ser considerado um
MPE. Não por acaso, a expressão “ecossistema” tornou-se recorrente
recurso natural "renovável", condição
quando falamos sobre inovação e empreendedorismo. para realizar a tão falada, sonhada
e desejada sustentabilidade. Você
Um ambiente diversificado – e, mais que isso, articulado e COORDENADOR Mario Monzoni
VICE-COORDENADOR Paulo Durval Branco
aprimorou! O poder político pode se
interdependente –, tal qual uma floresta tropical úmida, confere as JORNALISTAS FUNDADORAS Amália Safatle e Flavia Pardini tornar a grande a energia renovável
EDITORA Amália Safatle
de que precisamos para catalisar
condições ideais para fazer a inovação florescer. Nesse ecossistema, a
EDIÇÃO DE ARTE José Roosevelt Junior
a transformação democrática e
www.mondoyumi.com
força não está com o maior, nem com o mais poderoso que isoladamente EDITORA DE FOTOGRAFIA Flavia Sakai sustentável. Boa comparação! O dia em
FOTOS F. Pepe Guimarães/F14 Fotografia
que cada moradia produzir sua energia,
se sobrepõe aos demais. A força está, sim, no relacionamento entre Américo Nunes, Andrea G.A. Carlini
ILUSTRAÇÕES Flavio Castellan reciclar seus resíduos e reutilizar sua
as mais diferentes partes que compõem essa teia. Quanto mais coesa REVISOR José Genulino Moura Ribeiro
água estaremos no rumo certo. Mas
GESTORA DE PRODUÇÃO Bel Brunharo o que vem antes para viabilizar essa
e diversa a rede, mais resiliente será o conjunto.
COLABORARAM NESTA EDIÇÃO transformação? "Solarizemos" a nossa
O Brasil, dono da maior floresta tropical do mundo, tem dentro Andrea Vialli, Aron Belinky, Fernanda Macedo,
política! André Lima
Magali Cabral (textos e edição), Paulo Durval Branco,
Sérgio Adeodato
de casa o modelo que deve mimetizar em suas políticas de inovação,
JORNALISTA RESPONSÁVEL
[Antropoceno 3.0 – Edição 104]
necessárias para que o País retome o crescimento – não qualquer Amália Safatle (MTb 22.790) José Augusto Pádua, uma das
maiores referência no campo
crescimento, mas aquele que produza benefícios econômicos e PROJETOS ESPECIAIS & ANÚNCIOS
da História Ambiental no Brasil!
sociais em harmonia com o ambiente. Será preciso inovar muito para Para informações sobre participação em Projetos Especiais
e/ou anúncios no website
CAPA Estevam Bread Soares

As 11 escolhidas em 2016
e no pdf das edições, contate Bel Brunharo:
encontrar soluções que gerem bem-estar para as pessoas ao mesmo
belbrunharo@pagina22.com.br [Meio Ambiente: a mão invisível
tempo em que não extrapolem os limites naturais. Somadas às selecionadas no ano passado, formam uma massa crítica não funcionou? – Opinião]
REDAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO
de inovação, com destacada atuação na economia circular A velha história: concentração
Daí a importância – e até mesmo urgência – de promover ações Avenida Nove de Julho, 2029, 11º andar - São Paulo - SP
(11) 3799-3212 / leitor@pagina22.com.br dos lucros e socialização dos
articuladas entre atores-chave do ecossistema de inovação no Brasil, www.fgv.br/ces/pagina22
6 Análise do portfólio Os desafios deste século dão o tom das prejuízos, no caso, os ambientais!
CONSELHO EDITORIAL
oportunidades de inovação. Ainda há frentes importantes a explorar, como no Rubens Chagas
como o governo, as empresas e a área acadêmica. Exemplos no exterior Ana Carla Fonseca Reis, Aron Belinky,
José Eli da Veiga, Leeward Wang, campo da infraestrutura urbana, incluindo saneamento, habitação e mobilidade,
mostram que temos muito ainda a melhorar nessas interconexões. Mario Monzoni, Pedro Telles,
Roberto S. Waack, Rodolfo Guttilla
e no atendimento às demandas por reestruturação na área educacional [Floresta e água, uma relação
interdependente – Blog da Redação]
Este Guia é uma contribuição, ainda que modesta, no sentido de Os artigos e textos de caráter opinativo assinados
por colaboradores expressam a visão de seus autores,
12 Metodologia Entenda como se deu o processo seletivo conduzido pelo Sem sombra de dúvida! Parabéns
fortalecer o ecossistema do qual todos dependemos. não representando, necessariamente, o ponto de vista GVces, que incluiu visitas de campo e rodadas de negócio, e conheça os membros #Página22 por bater nesta tecla!
de Página22 e do FGVces.
do Comitê Seletor, formado por facilitadores, investidores, especialistas, Isa Garcia Drigo
representantes de empresas, da academia e da imprensa
Boa leitura! [Legado da borracha – Edição 104]
FSC
60 Guia 2015 Um ano depois, marcado por forte crise, saiba como evoluíram Sérgio Adeodato em mais um de seus
os negócios das empresas listadas no ciclo anterior excelentes textos. Rubens Benini
A REVISTA Página22 FOI IMPRESSA EM PAPEL CERTIFICADO, PROVENIENTE DE
REFLORESTAMENTOS CERTIFICADOS PELO FSC, DE ACORDO COM RIGOROSOS
PADRÕES SOCIAIS, AMBIENTAIS, ECONÔMICOS, E DE OUTRAS FONTES CONTROLADAS.

A REVISTA Página22 ADERIU À LICENÇA


CREATIVE COMMONS. ASSIM, É LIVRE
SEÇÕES CAPA: FLAVIA YUMI SAKAI

A REPRODUÇÃO DO CONTEÚDO – EXCETO


IMAGENS – DESDE QUE SEJAM CITADOS COMO FONTES A PUBLICAÇÃO E O AUTOR.
11 Artigo

4 PÁ G I N A 2 2 D E Z E M B R O 2 0 1 6 PÁ G I N A 2 2 D E Z E M B R O 2 0 1 6 5
REPORTAGEM ANÁLISE DO PORTFÓLIO

É empreendendo
que se inova
Pequenos negócios no Brasil ganham mais importância e os
desafios deste século dão o tom das novas oportunidades
POR FERNANDA MACEDO

E
rvas daninhas são uma ameaça à colheita. Os fazendeiros as arrancam e sentem-se
aliviados em restabelecer a ordem e o controle sobre a plantação. Mas, nesse monó-
tono e pouco diverso ambiente, não haverá adubo para a inovação. Victor W. Hwang,
consultor do tema no Vale do Silício, compara empresas sem capacidade de inovar a
monoculturas, enquanto ambientes propícios à criatividade lembram mais o cenário
de uma floresta tropical. A diversidade e a imprevisibilidade das espécies que ali surgem abrem
caminho para a inovação. Inovar é saber identificar de antemão qual erva daninha pode ser a
boa ideia que mudará as regras do jogo.
E é melhor mudar logo. Em um mundo com o desafio de erradicar a pobreza e garantir prosperi-
dade a 7,46 bilhões de habitantes com recursos naturais limitados, isso não será fácil . A mudança
exigirá mais eficiência para transformar esses recursos e atender às necessidades humanas.
A agilidade para essa transformação pode ser encontrada nos pequenos negócios. Grandes
empresas têm recorrido a start-ups para conseguir sobreviver. Alguns estudos mostram que
mudanças na cadeia de valor estão fortemente relacionadas à inovação no modelo de negó-
cios, um objetivo corporativo que tem sido perseguido à risca por empresas que encontram
um mercado em constante transformação . Por exemplo, o mercado da música ao enfrentar
a concorrência dos dispositivos e serviços de música digital nas últimas décadas, ou o setor de
telecomunicações, que passou a ver a telefonia móvel e a indústria de computadores disputan-
do o mesmo cliente assim que o iPhone chegou ao mercado.
Mas o Brasil precisa se apressar. Isso porque a inovação no País não anda lá muito bem ava-
liada. Um relatório do Global Entrepreneurship Monitor (GEM) e do Fórum Econômico Mundial
indica que a ambição de inovação empresarial do País é a mais baixa entre as nações estudadas.
Essa pesquisa avalia especificamente o campo do empreendedorismo, partindo do princípio de
que, quanto mais inovadores forem os novos empresários, mais competitiva será a economia.

A Oxfam aborda os desafios de garantir um espaço seguro e justo para a humanidade, considerando os limites ambientais do planeta. Acesse
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6 PÁ G I N A 2 2 D E Z E M B R O 2 0 1 6 PÁ G I N A 2 2 D E Z E M B R O 2 0 1 6 7
ANÁLISE DO PORTFÓLIO

POTENCIAL EMPREENDEDOR cimento das empresas. Mas a qualificação de ainda plataformas virtuais, como aplicativos Tecnologias da Informação e Comunicação” ,
Mas, embora os empreendedores não fi- mão de obra, antigo problema do País, tem me- de negócios sem a necessidade de presença comenta Risola.
gurem neste estudo como protagonistas da lhorado. Nos últimos anos, o acesso ao ensino física em um determinado local e hora. Uma pesquisa do Sebrae indicou que 48%
inovação, não se pode ignorar seu imenso superior e técnico foi facilitado por meio de fi- Nesses ambientes, diferentes atores – das micros e pequenas empresas percebem
peso na economia brasileira. Pequenos ne- nanciamento estudantil como o Fies e o Prouni, start-ups, grandes empresas, investidores, a sustentabilidade como uma oportunidade
gócios já somam 99% da quantidade de em- e programas como o Pronatec. Mesmo assim, entidades de pesquisa, incubadoras, gover- aos seus negócios. As 22 empresas reunidas
presas do Brasil e são responsáveis por 52% as pesquisas indicam que são necessários mais no etc. – do ecossistema interagem e fazem a em duas edições do Guia são mais uma evi-
dos empregos . A pesquisa internacional investimentos em educação de qualidade. “mágica” acontecer. Mas a diferença está em dência dessa tendência.
realizada anualmente pelo GEM compara o Embora haja ainda tantos desafios, al- quebrar zonas de conforto. Em visita ao Brasil “Exemplos como a Faex [destinada a tra-
Brasil com cinco outros países semelhantes gumas políticas de governo são ressaltadas , Hwang comentou que a natureza humana tar o desafio de pequenos geradores de resíduos
em aspectos socioeconômicos. pela pesquisa do GEM como grandes incen- nos faz criar hábitos e rotinas que resultam em perigosos, veja mais na página 24], que fornece
Um pouco mais da metade da população tivos ao empreendedorismo no País. É o caso estruturas muito rígidas, afastando a intera- serviços para negócios cumprirem aspectos
brasileira (55,5%) percebe boas oportunida- da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, o ção que alimenta esse sistema. “O que deve- legais, normas e condições de responsabi-
des para start-ups na área onde vivem. Apenas Microempreendedor Individual e, mais re- mos pensar é como redesenhar a comunidade, lidade ambiental, são fundamentais para
os Estados Unidos (50,9%) e o México (48,9%) centemente, o programa Start-Up Brasil e a onde as ervas daninhas positivas comecem a permitir que seus clientes garantam sobre-
têm taxas comparáveis. Além disso, 50% da expansão do Simples Nacional. Essas inicia- crescer novamente, criando os nutrientes vivência e atendam mercados que compram
população afirma ter habilidades e experiên- tivas representam um progresso na redução para se tornarem as instituições do futuro.” de empresas com responsabilidade” , comen-
cia necessárias para se tornar um empreen- da burocracia, da complexidade e da carga ta Suênia Sousa, gerente do Centro Sebrae de
dedor. Novamente, o estudo destaca a visão tributária envolvidas na formalização das OPORTUNIDADE Sustentabilidade.
positiva dos brasileiros sobre suas capacida- empresas de menor porte. Identificar as start-ups – ou ervas dani- Ela também faz parte do Comitê Seletor e
des e habilidades, colocando-o atrás apenas nhas – que se tornarão as instituições do fu- destaca o caso da Quinta da Estância [projeto
dos EUA (53,3%) e México (53,5%), mais uma ECOSSISTEMAS turo é a missão deste Guia. Para isso, basta en- pedagógico que permite experiências vivenciais
vez. Esses resultados situam o Brasil entre os Com tanto potencial, por que não existe tender de que nutrientes elas se alimentam. para aprendizados da sala de aula, veja mais na
países com os melhores níveis de percepções um Vale do Silício no Brasil? Em seu vídeo Sergio Risola, diretor-executivo do Centro de página 28]. “A Quinta nasceu com uma estra-
sobre as oportunidades empreendedoras. TED , Hwang questiona: “Como você cria Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia tégia de sustentabilidade em seu modelo de
O potencial empreendedor do brasileiro ambientes para coletar ideias de uma flo- (Cietec) e membro do grupo de especialistas negócio, ocupando e crescendo dentro de cri-
vai além. Sem medo de fracassar, a pesqui- resta tropical e, ao mesmo tempo, lida com que compõem o Comitê Seletor, acredita que térios integrados de responsabilidade social,
sa do GEM indica também que para 60,9% da o fato de que o mercado e as empresas ainda a inovação para a sustentabilidade na grande sendo detentora de prêmios internacionais
população a chance de insucesso não é uma são como as plantações, as monoculturas?” maioria dos pequenos negócios já é parte do que reconhecem sua forma de empreender” ,
razão para não empreender. Apenas a Alema- Para isso, é preciso fazer uso do ambiente seu propósito inicial. comenta a gestora.
nha (36,4%) apresenta uma taxa mais baixa. da própria floresta, ou seja, do ecossistema “Noventa por cento de todos os negócios Rebeca Rocha, gerente da Aspen Network
A jornada empreendedora guarda alguns da inovação. Esse termo corresponde a um inovadores e em todas as áreas do conheci- of Development Entrepreneurs (Ande) no Bra-
obstáculos, como a burocracia, a ineficiência e exemplo bem-sucedido de aglomeração, seja mento como Química, Energia, Saúde e Ele- sil, uma rede internacional de empreendedo-
a corrupção que, em certa medida, incentivam ele geográfico, como o Vale do Silício, seja ele trônica que chegam ao Cietec para avaliação rismo, acredita que os pequenos negócios são
a informalidade de trabalhos e limitam o cres- o polo tecnológico indiano de Bangalore, ou apresentam um claro e forte viés para a sus- importantes para trazer inovação e novas
tentabilidade; mesmo aqueles relacionados a ideias para o mercado. Também integrante do
Dados da pesquisa Empreendedorismo no Brasil 2015. Acesse em bit.ly/2fKlxuH Acesse em bit.ly/2fkicUo. TED é a sigla para
Technology, Entertainment and Design, iniciativa sem fins lucrativos que organiza conferências com o propósito de disseminar ideias Acesse em bit.ly/2g3pMDQ Acesse em bit.ly/2fXT4ov

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ANÁLISE DO PORTFÓLIO PAULO DURVAL BRANCO* E ARON BELINKY**
* Vice-coordenador do GVces ** Coordenador do Programa Desempenho e Transparência do GVces artigo

Comitê Seletor, ela destaca os casos da Bra- tes portes e até mesmo com concorrentes, em
Contribuindo para a formação
silOzônio [empresa que desenvolveu tecnologia
capaz de gerar ozônio a baixos custos com diver-
uma tentativa de complementar esforços para
a inovação. O exemplo da Tesla de abrir suas
de um ecossistema
sas aplicabilidades] e da TerpenOil [fabricante patentes de armazenagem de energia pode re-

H
de produtos de limpeza 100% naturais, veja mais fletir em avanços tecnológicos decisivos em á um ano, ao lançar a primei-
na página 60]. “Eles mostram a habilidade que outros campos, como o uso de energia solar e ra edição do Guia de Inovação
os empreendedores têm de inovar, reduzindo eólica em todo o mundo. para Sustentabilidade em
custos, trazendo mais eficiência para o mer- O campo do empreendedorismo deverá Micros e Pequenas Empre-
cado”, observa. também ser impactado por transformações sas, resumimos em uma frase os atribu-
que o setor de educação precisará fazer em tos dos empreendimentos que o GVces
LACUNAS E FUTURO seus cursos. O ensino em sala de aula aliado à e a revista Página22 buscam identificar
No filtro do Cietec, negócios voltados para experiência prática e vivência em campo serão com esta iniciativa:
a eficiência energética, uso racional da água, capazes de formar de maneira mais adequada “Para aliar-se à força transformado-
tratamento de resíduos e inovações no campo os alunos para a vida empreendedora, seja para ra da nova economia e se tornar realmen-
da saúde são cada vez mais frequentes. Mas uma carreira solo, seja para a carreira dentro te um sucesso, não basta um negócio ser
Risola acredita que o empreendedor brasi- das organizações sociais ou empresariais que inovador, ter potencial de escalabilidade
leiro deve também procurar oportunidades precisam deste olhar em seu capital humano. e excelentes práticas de gestão (econô-
em áreas ainda muito carentes do País, como “A tendência é que o empreendedorismo ocu- mica, ambiental, social e de governan-
a infraestrutura urbana, especialmente em pe um posto principal na preferência das novas ça). É preciso, também, criar e cultivar
saneamento e habitação. “Aí reside um cam- gerações” , acredita Risola, que vê essa transfor- uma relação de benefício recíproco com
po de grandes oportunidades, não totalmen- mação acompanhada de uma profissionaliza- o elemento central da nova economia:
te presente na agenda de inovação, relegada ção da carreira de empreendedor, e uma abor- atender às demandas das pessoas e, ao
ainda ao tradicional discurso político” , alerta. dagem mais estruturada por parte não apenas mesmo tempo, produzir contribuições um círculo virtuoso pode se estabelecer. empresa, como no caso das recicladoras
Suênia Sousa vê também forte necessi- do ensino superior, como também do ensino relevantes para aliviar a pressão sobre Ao selecionar e apresentar as 22 e recuperadoras de produtos. Nas de-
dade de encontrar no meio empreendedor técnico e na formação básica . os sistemas sociais e naturais”. empresas integrantes de seu portfólio mais, resíduos de outras empresas são
brasileiro negócios que pensem em tornar O Guia de Inovação para Sustentabilidade Hoje, ao completar o segundo ciclo (11 selecionadas em 2015 e outras 11 em utilizados como um dos insumos para o
as cidades mais resilientes, ou seja, soluções em MPE surgiu na academia como um projeto anual do Guia, já é possível lançar um 2016), cremos que este Guia contribui seu processo produtivo.
para a mobilidade urbana, bem-estar, aten- de pesquisa aplicada e com a ambição de con- olhar retrospectivo sobre a experiência para identificar e dar visibilidade a um Também crucial para a nova econo-
dimento aos idosos, pessoas com deficiên- tribuir na prática para o avanço do empreende- realizada, buscando reflexões e apren- conjunto de empresas que, no Brasil de mia, o desenvolvimento de equipamen-
cia. “Em países que conseguiram estudar e dorismo na agenda do desenvolvimento sus- dizados adicionais. Desse exercício, des- hoje, aposta em um futuro impulsionado tos e processos produtivos inovadores
implantar estratégias desse tipo, vemos uma tentável. Segundo Risola, a marca Fundação tacamos dois aspectos principais: o pro- pela sinergia com a sustentabilidade. e em sinergia com a sustentabilidade é
densidade de pequenos negócios fornecendo Getulio Vargas (FGV) valoriza e dá credibilidade cesso de formação de massa crítica e o Nossa experiência mostra que não o centro do negócio de 11 das empresas
serviços especialmente na indústria criativa, ao empreendedor. Rebeca Rocha destaca que o perfil das empresas selecionadas. são poucas: em dois anos, 138 empresas selecionadas, tendo em vista que muitas
negócios digitais, ecoturismo, fornecimento Guia posiciona os empreendedores que já estão É sabido que as perspectivas de flo- se inscreveram no processo seletivo, e delas são desenvolvedoras de tecnolo-
e indústria de transformação para alimentos inovando em sustentabilidade e contribui para rescimento de um negócio dependem, dessas 46 qualificaram-se na primeira gias específicas nas áreas da química, da
saudáveis, entre outros segmentos empresa- aumentar o impacto de suas ideias. além de seus atributos individuais, em fase de avaliação. Esperamos que, as- mecânica e mesmo da biotecnologia.
riais que surgem desta agenda de cidades in- Para Sousa, do Sebrae, a publicação reco- grande medida do ecossistema em que sim motivados, mais e mais negócios Finalmente, 6 empresas têm como
teligentes e sustentáveis” , diz. nhece os esforços das empresas diante dos de- está inserido. A formação desses ecos- surjam e se apresentem nos próximos objetivo principal a prestação de servi-
Além dessa vertente, a inovação aberta pelos safios da sustentabilidade e as ajuda a conhecer sistemas – lastreados em organizações anos, fomentando um ecossistema pu- ços – inclusive educacionais –, em muitos
pares será cada vez mais um indutor de transfor- os gaps para uma atuação mais inovadora. Além conectadas por relações produtivas jante e capaz de contribuir para a pros- casos apoiados na aplicação de tecnolo-
mações na sociedade para que o avanço tecnoló- disso, serve de inspiração a empresários, em- porém integradas e, também, por inú- peridade do Brasil e do mundo. gia da informação e voltados para a so-
gico aconteça na velocidade que precisamos . preendedores, gestores de empresas públicas e meros outros elementos e atores – tem Além disso, o perfil dos negócios se- lução de desafios de gestão em logística
Antigamente, a inovação era vista como um privadas, pois dá luz a trajetórias empresariais entre suas condições essenciais a exis- lecionados traz um interessante vislum- ou monitoramento de processos e ca-
processo interno da empresa, limitado a seus que conseguiram ser protagonistas da agenda tência de uma “massa crítica” inicial de bre das atividades que hoje se destacam deias de valor.
funcionários e laboratórios. Hoje, ideias como a do desenvolvimento sustentável do País. empresas. Ou seja, de um conjunto de nesse contexto, por seu potencial e con- Esperamos que este brevíssimo
metáfora da floresta tropical, apresentada por Muitas “ervas daninhas” estão brotando, negócios cujo porte, diversidade e perfil sistência com os critérios deste Guia. olhar sobre o portfólio do Guia de Ino-
Hwang, que valorizam o ecossistema da ino- inspiradas pelos desafios da sustentabilidade, é capaz de atrair pessoas e organiza- Considerando que estabelecer uma vação para Sustentabilidade em Micros
vação, ressaltam a importância de a empresa e transformando a paisagem do País em uma ções interessadas em ali alocar seus economia circular é uma das mais eviden- e Pequenas Empresas, criado em 2015,
conectar-se com o mundo lá fora, com insti- “floresta tropical” composta de uma enorme múltiplos recursos. tes demandas da sustentabilidade, não é dê uma ideia da riqueza, diversidade e po-
tuições de pesquisa, fornecedores de diferen- diversidade de pequenos negócios. Idealmente, com a disponibilidade surpresa que a destinação de resíduos tencial da massa crítica em formação no
desses capitais (financeiros, humanos, esteja presente nos modelos de negócio Brasil, e que motive cada vez mais atores
Entenda mais sobre inovação pelos pares neste artigo do professor Ricardo Abramovay: bit.ly/2fJeBw5 Leia o posicionamento da empresa
em bit.ly/2cnij2f Leia mais sobre formação para sustentabilidade em p22on.com.br/formacao-integrada
materiais, informacionais), o ambiente de de 10 das 22 empresas selecionadas. Em a conhecer e fortalecer esse importante
negócios tende a tornar-se mais pujante e 5 delas esta é a própria atividade-fim da ecossistema em formação.

10 PÁ G I N A 2 2 D E Z E M B R O 2 0 1 6 PÁ G I N A 2 2 D E Z E M B R O 2 0 1 6 11
REPORTAGEM METODOLOGIA

Entenda como outros; e também de atores externos à escola


que se voluntariaram para realizar uma cons-
trução coletiva dessa iniciativa.
avaliação (saiba mais na página seguinte).
Entre as 23 pré-selecionadas, o comitê es-
colheu 11; coincidentemente o mesmo número

foi feita a avaliação


O resultado final foi uma proposta de aná- de selecionadas no ano anterior, mas cabe res-
lise de micros e pequenas empresas baseada saltar que não há uma quantidade predefinida
em três pilares: inovação para a sustentabili- de empresas para ingressar no Guia. As 11 se-
dade; potencial de replicação e escalabilidade; lecionadas este ano se somaram às 11 empresas
e gestão. O primeiro pilar tratou de aspectos do ano passado que, de acordo com uma avalia-
Processo seletivo conduzido pelo GVces incluiu visitas inovadores presentes no modelo de negócio
da empresa, seus produtos, serviços ou pro-
ção do GVces em relação ao status atual desses
negócios, mantêm seus perfis de protagonis-
de campo, rodadas de negócio e consulta a experts cessos e a relação entre a sua inovação e os
desafios da sustentabilidade – como a gestão
tas no tema da inovação para a sustentabilida-
de (mais na página 60). Com isso, o Guia reúne
POR FERNANDA MACEDO da água, resíduos, produtos “verdes” , direitos hoje um portfólio com 22 empresas.
humanos, diversidade, inclusão social etc. As selecionadas para a edição 2016 foram
O pilar potencial de replicação e escalabi- convidadas a passar por uma atividade de for- As rodadas de
negócio simulam
lidade observou os impactos positivos ou ne- mação na FGV, em novembro. Nesse encontro,

C
o encontro de
gativos que a organização pode proporcionar à experienciaram duas rodadas de negócio empresas com
om duas edições já lançadas, o Guia As candidatas preencheram um formulá- sociedade e a estratégia para ganho de escala para aprimorar suas apresentações, visando interessados em
de Inovação para Sustentabilidade rio contendo breve apresentação e uma justi- contratar seus
ou para disseminar e replicar inovações no o evento de lançamento do Guia, em dezem-
produtos e serviços
em MPE reúne 22 empresas que bus- ficativa de por que deveriam ser parte deste mercado a curto e a longo prazo. Já o pilar de bro. Além disso, tiveram a chance de conhe- e em estabelecer
cam inspirar empreendedores e ou- Guia. Realizou-se uma primeira seleção das gestão usou como referencial as boas práticas cer algumas das empresas selecionadas para novas parcerias
tros interessados em inovação para empresas com base nesse material, a partir que negócios de menor porte, como as micros a edição 2015 e compreender melhor os pila-
se lançarem nos desafios da sustentabilidade. dos debates de um grupo de pesquisadores do ou pequenas empresas, devem adotar e anali- res de avaliação e os diferenciais de sustenta-
Para selecionar essas empresas, foi preciso GVces, que estabeleceram os critérios de ele- sou os indicadores financeiros da empresa. bilidade identificadas pelo Comitê Seletor em
seguir extenso processo seletivo, conduzido gibilidade da iniciativa – tempo de operação Das 83 inscritas, apenas 53 foram convida- seus modelos de negócio.
pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da empresa, atuação no Brasil e porte –, além das a responder o questionário de avaliação e, Todo esse processo culminou na elabo-
da FGV-Eaesp (GVces). de aderência à proposta do projeto. destas, 23 selecionadas para receber uma vi- ração desta segunda edição, cujo objetivo é
Aberto em março deste ano, o proces- As selecionadas nesta fase foram convida- sita de campo dos pesquisadores do GVces. A compartilhar com todos os interessados em
so de inscrições atraiu 83 candidatas, 48% das a responder um questionário de avaliação visita tem o objetivo de aprofundar as infor- inovação, negócios e sustentabilidade ex-
a mais do que no ciclo inaugural, que con- – fruto de um trabalho conjunto de diversos mações declaradas no questionário. Apresen- periências que estão fazendo a diferença na
tou com 56 inscritas, confirmando o inte- pesquisadores do GVces que lidam com temas tou-se o material completo dessas visitas e do transição para uma nova economia.
resse do público-alvo em iniciativas como variados, como desempenho e transparência questionário ao Comitê Seletor, composto de
o Guia e sua capacidade de diferencia- em sustentabilidade, inovação, desenvol- um grupo de especialistas que apontou as em- As inscrições para o próximo processo seletivo serão
ção para os empreendedores no mercado. vimento local e consumo sustentável, entre presas que mais se destacaram nos critérios de anunciadas em pagina22.com.br.

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METODOLOGIA

COMITÊ SELETOR Guia de Inovação para a Sustentabilidade – 2016


Para montar o Comitê Seletor das micros e pequenas empresas brasileiras mais inovadoras em sustentabilidade nesta edição, foram
definidas cinco categorias de atuação profissional: investidores, capacitação importante para analisar retorno e impacto dos negócios;
facilitadores, que em geral trazem um olhar sobre ineditismo e necessidade de recursos; acadêmicos; representantes de empresas, que
dão a perspectiva da inovação na cadeia de valor; e especialistas na área de sustentabilidade, que adicionam inputs de conhecimento para
julgar com propriedade a qualidade dos casos apresentados. (Por Andrea Vialli)

Participaram do Comitê Seletor de 2016 (acesse os perfis completos na versão digital desta edição em pagina22.com.br):

ANA LUIZA HERZOG LUCIANA HASHIBA RODRIGO VIEIRA DA CUNHA


Editora sênior da Exame, re- Responsável pela gestão Fundador da agência de rela-
vista em que trabalha há 16 estratégica de inovação e ções públicas Profile, sócio
anos e responde pela cober- pelo modelo de inovação da agência digital LiveAD e
tura do tema sustentabilida- aberta em redes da Natu- embaixador sênior do TEDx
de. Também é responsável pela realização ra. Integra conselhos como o do CNPq e no Brasil. Foi coordenador de estratégia de
e edição do Guia Exame de Sustentabilidade. Supera, participa da rede Anjos do Brasil, comunicação de sustentabilidade do Banco
Mulheres Investidoras Anjo e é mentora no Real e gestor da estratégia de relações pú-
ANDRÉ PEREIRA DE Inovativa Brasil. blicas da presidência do Santander.
CARVALHO
Professor da Escola de Ad- MARISA GIL SERGIO WIGBERTO RISOLA
ministração de Empresas Editora-executiva da revista CEO do Centro de Inovação,
de São Paulo (FGV-Eaesp), Pequenas Empresas & Gran- Empreendedorismo e Tec-
escola pela qual é mestre e doutor na linha des Negócios. Antes de se nologia (Cietec) e diretor da
de gestão socioambiental. No GVces, coor- especializar em empreen- Associação Nacional de En-
denou, de 2004 a 2011, o Programa New dedorismo, realizou reportagens em dife- tidades Promotoras de Empreendimentos
Ventures Brasil, de apoio a empreendimen- rentes áreas, para veículos como o jornal Inovadores. Professor-apoiador na Facul-
tos inovadores voltados para a economia Folha de S.Paulo e as revistas Bizz e Viagem dade de Economia, Administração e Conta-
verde. & Turismo. bilidade (FEA-USP) .

DANIEL IZZO
Sócio e cofundador da Vox
PAULO BELLOTTI
Sócio cofundador e diretor-
SUÊNIA SOUSA
Gerente do Centro Sebrae
Inscreveram-se para o processo seletivo desta
Capital, o primeiro fundo de -executivo da MOV Investi- de Sustentabilidade, em segunda edição do Guia 83 micros e pequenas
investimentos de impacto do
Brasil, dirigido a negócios que
mentos, onde trabalha com
os temas de energia reno-
Cuiabá, centro de referência
nacional do sistema sobre o
empresas que traziam o critério da inovação para a
apresentem soluções para melhorar a vida da vável; moradia e direitos de propriedade; tema. Atua há mais de dez anos em gestão sustentabilidade em seus DNA. Além do ineditismo,
população de baixa renda. É membro dos con-
selhos da Aspen Network of Development
educação; reciclagem; e florestas e biodi-
versidade. Possui mestrado em inovação e
de projetos de engenharia e foi responsável
por edificações que possuem certificação
o Comitê Seletor identificou a preocupação com
Entrepreneurs (Ande) no País e da World Res- políticas públicas pelo Massachusetts Insti- internacional de construção verde, como a escala e a replicação do negócio, chegando a
ponsible Leaders da BMW Foundation. tute of Technology ( MIT). Breeam-in-Use e Procel Edifica.
11 escolhidas: Banco de Tecido, Braerg, Fazenda
GILSON DA SILVA REBECA ROCHA WILSON NOBRE FILHO Quinta da Estância, Faex, Fornari, Heide, Joy Street,
SPANEMBERG
Gestor de projetos de sustenta-
Gerente da Ande no Bra-
sil, rede global de apoio a
ProfessordoDepartamento
de Produção e Operações
Methanum, Pecsa, Sanhaçu e Vert. A seguir,
bilidade na Apex-Brasil. No se- pequenas empresas em da FGV-Eaesp, escola pela você encontrará instigantes histórias sobre cada
tor governamental adquiriu ex-
periência em gestão de substâncias e produtos
países emergentes voltada
para a geração de impacto social e eco-
qual é mestre no tema
inovação e design thinking. Pesquisador
uma delas, desde o surgimento da ideia até a
químicos. Na Associação Brasileira da Indústria nômico. É integrante do Global Shapers, do Fórum de Inovação da FGV-Eaesp, concretização do negócio e os seus defechos.
Química (Abiquim), foi assessor para assuntos comunidade de líderes criada pelo Fórum possui formação básica em Teoria U no
industriais, regulatórios e de sustentabilidade. Econômico Mundial. Presencing Institute do MIT.

14 PÁ G I N A 2 2 D E Z E M B R O 2 0 1 6 PÁ G I N A 2 2 D E Z E M B R O 2 0 1 6 15
GUIA DE INOVAÇÃO CASOS BANCO DE TECIDO

BANCO Lu Bueno
Sócia-presidente do Banco de Tecido

DE TECIDO

F. PEPE GUIMARÃES / F14 FOTOGRAFIA


16 PÁ G I N A 2 2 D E Z E M B R O 2 0 1 6 PÁ G I N A 2 2 D E Z E M B R O 2 0 1 6 17
GUIA DE INOVAÇÃO CASOS BANCO DE TECIDO

a cargo de quem faz depósitos no sistema. O pulo do


gato é manter ativa essa circulação, beneficiando tanto BANCO DE TECIDO

A moda é circular
ateliês de costura e confecções que buscam tecidos de www.bancodetecido.com.br
reúso para produzir roupas como grandes tecelagens e
importadoras que precisam de soluções mais eficientes Microempresa
e baratas para a destinação de seus Setor: Serviços
As perdas no resíduos. Faturamento em 2015: R$ 120 mil

Por meio de um modelo de negócios inovador, processo têxtil são


estimadas entre
No momento, a empreendedo-
ra finaliza a plataforma de comér-
Funcionários: 1
Fundação: 2015
10% e 20%, com
o Banco de Tecido faz com que o resíduo de um geração de resíduos cio eletrônico destinada a escalo-
que muitas vezes nar o negócio, com expectativa de
Principais clientes: Insecta Schoes, Flavio Aranha,
Eco Simple, Karmen, Dog Care.
não têm o descarte
seja a matéria-prima de outro correto
captar investimento de R$ 300 mil.
O sistema está sendo criado com
O que faz: Promove a conexão em rede de em-
preendedores que usam tecidos em suas atividades,
apoio do Instituto C&A, que reco- conciliando demanda e oferta e otimizando a gestão
P O R S É R G I O A D E O D AT O
nhece mundialmente inovações úteis à cadeia têxtil e de estoques. Trabalha com clientes de pequeno por-

A
selecionou projetos para aplicação da metodologia So- te e empresas de tecelagem e moda que buscam
cenógrafa e figurinista Lu Bueno jamais pode- ciclo com reflexos sociais, econômicos e ambientais. cial Good, voltada para empreendimentos sociais. destinar adequadamente seus resíduos.
ria imaginar que lidar com a enorme tralha de A possibilidade de dar nova vida aos tecidos desper- O formato começou a ser dese-
tecidos usados nos espetáculos renderia uma tou grande interesse por parte de diferentes segmen- Maratona nhado no hackathon promovido INOVAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE: O reúso de
que reúne em 2015 pela Federação das Indús- tecidos contribui para a redução de impactos negativos
ideia inovadora capaz de virar negócio, muito tos do mercado à medida que se difundia no Facebook e
programadores,
menos que ele pudesse rapidamente prosperar era apresentado em feiras têxteis. Assim, o modelo se designers e outros trias do Estado de São Paulo (Fiesp) da cadeia têxtil, grande geradora de resíduos que
oferecendo alternativas mais sustentáveis ao mercado. estruturava para funcionar tendo como base uma rede profissionais para contato com desenvolvedo- podem conter químicos tóxicos. O negócio também
ligados à viabiliza a compra de tecidos em pequena escala e
Com cabeça no mundo artístico, as ousadias de criação se de correntistas que fornecem sobras de seus estoques res. “Foi quando entendi onde po-
inovação para o
restringiam ao palco. Mas uma conjugação de inquietu- para que tenham chance de virar novas criações. Des- desenvolvimento deríamos chegar” , afirma Bueno, traz impacto social positivo, pois reduz a dependência
des e o despertar para a lógica da economia compartilha- sa forma, cortes de algodão, sintéticos, popelines, fla- de projetos ao lembrar que também buscou de tecidos importados de regiões onde prevalece o
colaborativos, trabalho análogo à escravidão nesse setor.
da, na qual o que é problema para uns pode ser solução nelas, feltros, napa e couro, por exemplo, depositados auxílio do Sebrae com o objetivo
que podem ser
para outros e no final todos saem ganhando, culminaram no banco, são moeda corrente – e não lixo. Em síntese: específicos ou de “entender como transpor para
na concepção do Banco de Tecido – start-up de comércio o usuário recebe créditos a cada quilo entregue e, com livres o mercado regular uma ideia que POTENCIAL: Em um ano de atividades, a marca Banco
em rede que se desenvolve no rastro de temas bastante eles, pode sacar outros tecidos quando quiser. nasceu na arte”. de Tecido conta com três unidades e possibilidade de
próximos do cotidiano: moda e resíduos urbanos. A título de remuneração do serviço, o Banco de Tecido Na visão estratégica da cenó- expansão para mais duas. A unidade Lupa vai abrir
Ao mudar o escritório para uma pequena casa no retém 25% do crédito a cada depósito no regime de troca e grafa, o negócio baseia-se no tripé ar-raiz-terra: o um espaço virtual de vendas mediante plataforma
bairro da Vila Leopoldina, em São Paulo, Bueno já fler- vende o tecido a R$ 45 por quilo. Além do preço, a vanta- primeiro pilar é representado pela plataforma de e- de comércio eletrônico, ainda em desenvolvimento.
tava com o mundo não convencional e planejava fazer gem é que o acervo conta com tecidos exclusivos e antigos, -commerce, “para voar longe”; o segundo, a raiz, sim- Nas redes sociais a empresa tem mais de 7,5 mil
diferente, mas sempre dentro do ramo sob seu domí- não encontrados no comércio tradicional, e tem garantia boliza a rede de comunicação e o potencial de suas seguidores e iniciará a comunicação pelo YouTube,
nio, o das artes cênicas. Até que uma coisa passou a in- de origem (saiba mais sobre a inovação do modelo de negócios ramificações; e, por fim, o terceiro, “o chão que esta- com tutoriais e informações sobre tecidos para
comodar: a grande quantidade de tecidos que sobrava em goo.gl/pDLgRv e em vimeo.com/190029410). belece o caminho” , é retratado pelas lojas físicas onde monetizar o compartilhamento de conhecimento.
após a produção de cenários e figurinos. “Quando per- O alvo principal está no atendimento ao nicho das os tecidos de reúso são vendidos.
cebi, havia 600 quilos de sobras guardadas no depósito, pequenas e médias confecções para acesso a maior va- Hoje o negócio reúne três lojas: a Lupa, que origi- DESTAQUES DA GESTÃO: A empresa tem um comitê
inclusive peças de 15 anos usadas por mim no acústico riedade de tecidos, permitindo a compra em pequena nou o negócio, comandada por Lu Bueno na Vila Leo- formado por cinco profissionais, não remunerados,
da Gal Costa” , conta cenógrafa. Em meio ao caos, diz ela, escala com menor desperdício. “Nas últimas décadas, poldina, em São Paulo; o Lab Fashion, na Consolação, que se dividem nas áreas de estratégia e vendas,
surgiu uma luz: “vamos trocar”. o império do fast-fashion mudou também na capital paulista, e a Casa Base, em Curi- financeiro, TI e marketing. Além da revisão da
Em 2013, o boca a boca multiplicado informalmen- as relações comerciais e hoje os tiba (PR). A esperada expansão dos pontos de venda ferramenta empresarial Canvas, a qual não
Tradicional polo
te na sua rede de relações sociais e profissionais gerou estoques nas lojas são renovados após o lançamento do sistema digital deverá ocorrer acredita encaixar em seu modelo, a Lupa pretende
de confecção
a expectativa de que um coelho sairia daquela carto- inicialmente de forma muito rápida, a partir de com o uso de contrato de licenciamento de marca e fixar princípios para qualquer contrato jurídico de
la. “Fosse lá o que fosse, teria de estar associado a uma marcado pelo tendências de moda impostas, sem não por meio de franquias. Além disso, incorporar ampliação da rede no sentido de garantir adequação à
trabalho dos
forma especial de ver o mundo, em uma perspecti- prevalecer a vontade do consu- novos itens ao portfólio de produtos aptos a ampliar ideia do negócio. Os retalhos maiores que sobram de
imigrantes judeus,
va mais integradora.” Assim, uma ação iniciada sem seguidos dos midor” , explica Bueno, antiga fre- o ciclo de vida, como os aviamentos, é um passo natu- suas operações são encaminhados para uma ONG que
muitas pretensões entre amigos das artes cênicas ga- árabes e, mais quentadora do Bom Retiro, em ral. Entre pilhas de retalhos no showroom da Lupa, um capacita mulheres em costura. O que não pode ser
recentemente,
nhou corpo e, dois anos depois, começou efetivamen- São Paulo, importante vitrine des- poema escrito pela empreendedora no quadro fixado reaproveitado é triturado para uso em estofados.
dos coreanos, que
te a se estabelecer como negócio. O diferencial estava priorizam tecidos sas transformações. à parede revela o que está por vir: “Os botões na len-
em operar como um sistema inclusivo e circular que da China Na lógica do Banco de Tecido, a tidão ensinam sobre o tempo, enxergam o vazio (...) O
mobiliza os elos da cadeia têxtil, impulsionando um curadoria e o giro do estoque estão espaço prestes a ser ocupado (...)”.

18 PÁ G I N A 2 2 D E Z E M B R O 2 0 1 6 PÁ G I N A 2 2 D E Z E M B R O 2 0 1 6 19
GUIA DE INOVAÇÃO CASOS BRAERG

BRAERG
Marcos Spalato, Douglas Spalato,
Anderson Dutra, Karen Girotto
Diretores da Braerg

FOTOS: F. PEPE GUIMARÃES / F14 FOTOGRAFIA


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GUIA DE INOVAÇÃO CASOS BRAERG

patente registrada em 37 países pela Braerg. Os cien-


BRAERG
tistas da empresa chegaram a formulações capazes de

Da bancada
www.braerg.com.br
multiplicar o rendimento de etanol por tonelada de ba-
gaço e palha de cana-de-açúcar. Isso significa maior
Microempresa
produção por hectare, com redução de impactos ne-
Setor: Pesquisa, desenvolvimento e inovação

para o mercado
gativos no campo. O método permite uso de madeira,
Faturamento em 2015: Não houve
milho, palha de bananeira e até lixo orgânico: a cada
Funcionários: 10
tonelada de biomassa são gerados, em média, 198 litros
Fundação: 2012
de etanol para o mercado de biocombustível, plástico e
Principais clientes: Instituições de apoio e fomento
outros produtos de origem renovável.
A Braerg centra a estratégia na pesquisa De acordo com Dutra, em razão do alto rendimento
ao desenvolvimento e pesquisa de novas tecnolo-
gias e clientes interessados em comercializar as
do processo biológico, a tecnologia da Braerg tem po-
de soluções para venda de patentes tencial de mercado – validado por estudos da Universi-
patentes. Até o momento, nenhuma patente foi
comercializada, mas o mercado potencial é o de
dade de São Paulo e da consultoria Xingu Capital –, que
de valor socioambiental a coloca em vantagem perante a concorrência. Hoje usi-
indústrias que buscam inovações tecnológicas para
lançamento de produtos, bem como escalonamen-
nas brasileiras produzem em escala comercial o etanol
to e melhoria de bioprocessos.
P O R S É R G I O A D E O D AT O de primeira geração, com o uso da fermentação do caldo
O que faz: Desenvolve e transfere para o
da cana, e o de segunda, por meio de enzimas que cata-
mercado inovações de importância socioam-

D
lisam processos químicos tendo o bagaço como fonte.
biental, explorando soluções de biotecnologia,
e início, o jovem cientista Douglas Spalato, aos anos, o negócio exigiu detalhado alinhamento de estra- No entanto, no caso das indústrias que trabalham ba-
farmacologia e físico-química em benefício da
22 anos, tinha somente a intenção de obter fi- tégias e contas para lidar com riscos e transpor barreiras. seadas nesse último método, apesar dos altos investi-
população da base da pirâmide. Um dos setores
nanciamento para comprar equipamentos e O plano é, posteriormente, decolar, mentos, a produção tem se mostrado cara e enfrentado
atendidos é o de energia renovável, mediante o
ampliar a escala de sua pesquisa para novos de olho no mercado externo. barreiras de rendimento, conforme análise do diretor.
Termo em inglês desenvolvimento de etanol de terceira geração.
processos de transformação de biomassa em para “avaliação A lista dos itens para planeja- “Após a formatação do modelo de negócios e os pre-
etanol, com produtividade superior à obtida no merca- de empresas”, mento da Braerg inclui análise de parativos ao longo de três anos, agora vamos ao mercado
processo pelo qual INOVAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE: Empresas que
do. Mas o objetivo ganhou outra dimensão após a ideia custos e do sistema de propriedade para vender, transformar o conhecimento em receita” ,
se estima quanto se dedicam a desenvolver pesquisa com fins comerciais
ter sido apresentada ao administrador de empresas An- valem seus ativos intelectual e também estudos de revela Dutra. A estratégia será a venda de patente e li-
ainda são raras no País. Além disso, a Braerg tem o
derson Dutra, que carregava na bagagem ampla expe- valuation, de modo a identificar cenciamento de tecnologias, mediante recebimento de
compromisso em seu planejamento estratégico de
riência na captação de investimentos para inovações e as oportunidades para maior va- royalties, ou constituição de spin-off em parceria com
direcionar suas pesquisas para soluções sociais e
se constituiu um parceiro. “Após consultas a especialis- lorização dos novos negócios com empresa já atuante no mercado específico do produto a
De acordo com ambientais de alto impacto para populações da base
tas do setor sobre o potencial da proposta, sugeri que não o Blacksmith biotecnologias, desenvolvidas ser lançado.
da pirâmide. Por exemplo, no setor farmacêutico, a
exatamente aquela iniciativa pontual com etanol, mas Institute, cerca unicamente conforme pesquisas Empresa criada Para o diretor, o ambiente para
de 125 milhões por um grupo de empresa oferece alternativas mais baratas e eficientes.
o projeto maior e mais ambicioso de um centro de pes- próprias da empresa – e não com negócios em inovação no País é
de pessoas pesquisa com
quisas gerador de patentes em biotecnologia que fosse foram expostas à know-how adquirido de terceiros. o objetivo de positivo, especialmente quando as
POTENCIAL: O diferencial está no domínio da linguagem
submetido à análise de investidores” , conta Dutra. contaminação por Como suporte à tomada de decisão, explorar um novo soluções promovem substituição
metais pesados em produto ou serviço de negócios e inovação. Há três tecnologias prontas para
Pouco tempo depois, no primeiro semestre de 2012, a empresa criou o Termo de Análi- de importados e processos mais
49 países, em 2012 de alta tecnologia comercialização: o etanol de terceira geração, o ácido
surgiu o convite para o projeto ser defendido no Chile, se de Oportunidades (TAO), em que limpos e baratos. Em sua avaliação,
acético glacial e um fitoterápico contra queimaduras. Os
em evento que reuniu potenciais negócios para acesso a são mapeados riscos e potenciais entraves no sistema de proprieda-
laboratórios são equipados com tecnologias de ponta, com
recursos da iniciativa World-Transforming Technologies das pesquisas em cada fase de desenvolvimento. de intelectual e falta de pontes entre academia e mundo
certificados europeus de qualidade, equipe multidisciplinar
(WTT), mantida pela Fundação Avina para investimento Hoje o portfólio abrange tecnologias que vão de no- empresarial não atrapalham os planos da Braerg, que in-
e uma rede de parceiros e mentores. A empresa negocia
em inovações de impacto social. De lá Spalato saiu com vos antibióticos mais potentes até processos biológicos vestiu R$ 10 milhões na estrutura própria de laboratórios,
com governos estrangeiros a abertura de filial e planeja a
um cheque de US$ 1 milhão para colocar a ideia em prática, para obtenção de ácido cítrico como onde hoje trabalham dez funcionários administrativos e
estruturação de seu primeiro IPO – Initial Public Offering
com a estruturação da empresa Braerg, sigla para Brazi- Etanol obtido de conservante natural de alimentos e pesquisadores.
resíduos da cana (venda de ações para o público) na Europa, em 2018.
lian Expertise Research Group. “A primeira preocupação bebidas. Na prateleira, há também A empresa foi selecionada pela Agência Brasileira
(bagaço e palha),
foi deixar o objetivo claro no contrato social: transformar mediante a ação de inovações para diagnóstico de con- de Promoções de Exportações e Investimentos (Apex-
DESTAQUES DA GESTÃO: Para obter apoio
conhecimento, processos e serviços em valores susten- microrganismos, taminação por metais pesados -Brasil) para processo de consultoria voltada para o
podendo aproveitar financeiro da WTT, foi necessário estabelecera
táveis para a sociedade” , afirma Dutra, um dos sócios fun- a baixo custo, além de cosméticos mercado internacional - um serviço oferecido pela
a estrutura visão e a missão da empresa, reforçando o
dadores e diretor de relações institucionais. de usinas já e fitoterápicos, como um potente Apex para empresas iniciarem ou ampliarem opera-
compromisso socioambiental. A empresa elaborou
Com sede em Sorocaba (SP), a empresa se diferencia existentes, cicatrizante de queimaduras ela- ções no exterior. “Tudo indica que estamos no caminho
sem gerar procedimento detalhado para as diferentes etapas do
como centro de pesquisa privado, estruturado para de- borado com extratos vegetais. certo” , aponta Dutra, reconhecendo os riscos de cami-
novos passivos desenvolvimento de pesquisas, Todos os processos de
senvolver inovações tecnológicas de relevância social ambientais O etanol de terceira geração, nhar em terreno novo, fora do contexto tradicional dos
pesquisa são certificados pelas normas ISO 9001.
e ambiental e levá-las ao mercado. Nos primeiros três ponto de partida do negócio, tem negócios. É preciso boa dose de ousadia e ambição.

22 PÁ G I N A 2 2 D E Z E M B R O 2 0 1 6 PÁ G I N A 2 2 D E Z E M B R O 2 0 1 6 23
GUIA DE INOVAÇÃO CASOS FAEX

FAEX
Flávio Bragante
Diretor de novos negócios da Faex

FOTOS: F. PEPE GUIMARÃES / F14 FOTOGRAFIA


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GUIA DE INOVAÇÃO CASOS FAEX

FAEX SOLUÇÕES AMBIENTAIS

Saída legal
www.faex.com.br

Microempresa
Setor: Resíduos
A Faex encontrou solução para pequenos geradores Faturamento em 2015: R$ 626 mil
Funcionários: 3
de resíduos perigosos que, por falta de escala, Fundação: 2005
Principais clientes: Fábrica de Artefatos de Latex
tinham dificuldade em cumprir a lei Blowtex, Aquapolo Ambiental, Serviço Federal de
Processamento de Dados (Serpro), Wika do Brasil,
Anchieta Serviços Educacionais, Ata Indústria e
Comércio de Tensoativos.
P O R S É R G I O A D E O D AT O
O que faz: Coleta e destinação correta de resí-

Q
duos sólidos perigosos industriais, voltadas para
uando funcionário de uma companhia de administrativo em São Bernardo do Campo, ambos na o atendimento de pequenos volumes. O material é
grande porte especializada em resíduos Região Metropolitana de São Paulo, a Faex tem como recebido no centro de estocagem e posteriormente
perigosos, o químico e gestor ambiental base um processo que abrange desde o recebimento de enviado para o descarte final.
Flávio Bragante era sempre consultado por resíduos perigosos e sua segregação e armazenamento
pequenas empresas interessadas no serviço até o envio para o destino final, principalmente blen- INOVAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE: Viabiliza
para o descarte correto de seus rejeitos, devido ao risco deiras que abastecem fornos de cimenteiras. O galpão a gestão desses resíduos para micros, pequenas e
da fiscalização. Mas nada podia ser feito, porque o mer- recebe óleos contaminados, lo- médias empresas industriais e prestadoras de serviço
cado só recebia esses materiais para destinação final dos industriais, pós, solventes, que têm dificuldades em destinar corretamente tais
São fábricas que
em quantidades bem maiores. fazem a mistura
lâmpadas fluorescentes e ou- materiais, que geralmente são coletados somente
Até que um dia o químico se viu inspirado a ima- de resíduos na tros produtos tóxicos, com desta- a partir de uma quantidade mínima de 5 toneladas.
ginar uma solução capaz de virar negócio e começou a dosagem correta que para os líquidos – um diferen- A empresa atende também grandes corporações
para a melhor
desenhar um caminho. Os anos se passaram e, já tra- combustão
cial da empresa. Atualmente, são que geram um determinado resíduo em pequenas
balhando em uma fábrica de ci- recebidos por mês 40 tambores de quantidades.
O Brasil mento adquirindo resíduos para 200 litros, vindos de 50 indústrias
produz cerca combustão nos fornos, voltou a ser de menor porte. POTENCIAL: A empresa atua em nicho com alta
de 3,8 milhões
questionado sobre o assunto. “Foi A cada tambor de A capacidade de processamen- demanda e uma escassez de empresas preparadas
de toneladas de
quando decidi arrendar o galpão resíduo a empresa to, no entanto, é dez vezes maior. para o seu atendimento. Para ganhar escala, o negócio
resíduos industriais
recebe sem custo
perigosos por ano, de um cliente e me desligar da Apesar do menor ritmo no último para receber e encaminhar os resíduos, disseminando prevê a contratação de pessoal qualificado e novas
dez lâmpadas
segundo
cimenteira, iniciando uma nova fluorescentes, que ano em consequência da queda o tratamento final adequado, que é o principal serviço sedes na Região Metropolitana de São Paulo e no
o Ministério do
atividade para oferecer alternati- são encaminhadas da atividade econômica do País, o prestado por eles, na ponta do processo”. interior paulista, além de maior esforço de divulgação
Meio Ambiente
a uma recicladora
va ao lixo tóxico de indústrias me- para recuperação segmento apresenta expressivo O negócio é atraente, com margem de lucro de 50%, junto aos diferentes setores produtivos.
nores, diante do grande potencial dos materiais nela potencial, devido ao impulso da podendo chegar a 70%, segundo o empreendedor, ani-
do segmento” , conta Bragante. contidos lei que estabeleceu a Política Na- mado com a resposta do mercado à estratégia centrada DESTAQUES DA GESTÃO: Possui sistema de gestão de
As indústrias
de cimento têm Formatada para micros, pe- cional de Resíduos Sólidos, com a nas empresas de menor porte. Entre 2010 e 2016, a Faex desempenho baseado em indicadores relacionados
capacidade de quenas e médias empresas, a solu- obrigação do registro no Cadastro registrou crescimento anual médio de 20% a 30%, com a objetivos e metas corporativas, incluindo temas
receber em torno ção permite um fim mais nobre e Técnico Federal (CTF), em que o lixo das empresas e sua faturamento de R$ 650 mil em 2015. socioambientais em seu planejamento estratégico.
de 200 a 300
toneladas por dia ambientalmente correto para ma- destinação são especificados. “A tendência é de cresci- Para melhorar a logística e ampliar a escala, o plano O centro de estocagem da empresa segue todas
de resíduos para teriais poluentes que muitas vezes mento do emprego de soluções à medida que a adesão ao é instalar mais bases no ABC e outras regiões no inte- as normas legais. O consumo de energia elétrica é
processamento vinham sendo descartados sem cadastro aumenta” , analisa Bragante. Para ele, a maior rior paulista, além da compra de frota própria de cami- menor com o uso de telhas translúcidas que permitem
nos fornos
critérios em terrenos baldios, por- responsabilidade ambiental e social das corporações, nhões, com investimento de R$ 2 milhões. O modelo de realizar o trabalho em até 90% do período diurno
que não havia quem os recebesse. que disseminam regras em suas cadeias produtivas, franquia poderá ser o caminho para atingir o restante apenas com luz natural. Possui, também, um sistema
Em 2010, o negócio finalmente começou a operar, após ajuda a mobilizar pequenos fornecedores e prestadores do País, em polos econômicos de alta demanda, também de captação de água pluvial.
investimento inicial de R$ 100 mil na compra de equi- de serviço para o tema. pressionados pela fiscalização. Mas qualquer expan-
pamentos e nas licenças ambientais, que demoraram Além disso, a chegada de uma pequena empresa são, de acordo com Bragante, deverá priorizar a quali-
três anos para serem expedidas. especializada na gestão de resíduos perigosos é bem- ficação profissional, porque “a credibilidade é o prin-
Com galpão localizado em São Roque e escritório vinda para os gigantes do setor, que “precisam da gente cipal segredo do negócio com resíduos perigosos”.

26 PÁ G I N A 2 2 D E Z E M B R O 2 0 1 6 PÁ G I N A 2 2 D E Z E M B R O 2 0 1 6 27
GUIA DE INOVAÇÃO CASOS FAZENDA QUINTA DA ESTÂNCIA

FAZENDA QUINTA
Família Goelzer
Fundadora da Fazenda Quinta da Estância
(no banco, Lucídio e Sônia, com os filhos

DA ESTÂNCIA André, Rafael e Lucas)

FOTOS: F. PEPE GUIMARÃES / F14 FOTOGRAFIA


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GUIA DE INOVAÇÃO CASOS FAZENDA QUINTA DA ESTÂNCIA

além de muitos animais, eles “veem” a importância


da mata ciliar para os córregos e da vegetação para a FAZENDA QUINTA DA ESTÂNCIA

Pise na grama
preservação das nascentes. De- www.quintadaestancia.com.br
Mais de 7 mil pois de provarem da água gelada
animais silvestres e cristalina que brota na Quinta Microempresa
vítimas de tráfico
no Rio Grande da Estância, aprendem que alguns Setor: Educação e turismo
Na cidade gaúcha de Viamão, a Quinta da Estância do Sul já foram
recuperados na
quilômetros à frente aquele líqui-
do tão puro se mistura às águas
Faturamento em 2015: R$ 1,9 milhão
Funcionários: 30
Quinta da Estância
permite aos estudantes vivenciarem na prática e devolvidos ao
habitat natural
contaminadas do castigado Rio
Gravataí.
Fundação: 1992
Principais clientes: Instituições de ensino (esco-
o conhecimento teórico das salas de aula Após essa experiência, é bom
saber que o empreendimento
las e universidades do Brasil, Uruguai e Argentina)
e empresas (eventos de treinamento vivencial e
mantém unidades biológicas de tratamento de todo o confraternizações).
POR MAGALI CABRAL
efluente gerado na propriedade. Os resíduos secos são, O que faz: Projeto turístico-pedagógico na fazenda
por sua vez, doados a associações de catadores do mu- Quinta da Estância, em Viamão, próxima a Porto
nicípio de Viamão e os orgânicos têm como destino as Alegre. Une o conhecimento teórico da sala de aula

Q
composteiras e os minhocários. e as dinâmicas práticas em um ambiente de nature-
uando jovem, a pedagoga gaúcha Sonia Goel- “Chegue mais perto da natureza, não tenha medo”. As za preservada.
zer cultivou dois grandes sonhos. Um, pes- atividades desenvolvidas na Quinta da Estância com os CARBONO NEGATIVO
soal: casar e criar seus guris em uma fazenda. estudantes dependem dessa conexão. Como é trans- Segundo Goezel, os fornecedores localizados em INOVAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE: Está
Outro, profissional: tornar o conhecimento disciplinar, os projetos podem abordar qualquer disci- um raio de 50 quilômetros da fazenda têm preferência presente na proposta do empreendimento em si,
teórico que oferecia aos alunos em sala de plina da grade curricular, mas em geral os temas mais em relação aos mais distantes, mesmo quando cobram cuja abordagem ainda é pouco utilizada na área de
aula em algo “concreto, prático, real e significativo”. tratados estão relacionados às atividades no campo. um pouco mais caro. Em 2007 a Quinta da Estância educação. Contribui para a formação de alunos com
No início dos anos 1980, realizou o primeiro ao mudar- Um projeto recente firmado com o Colégio Anchie- contratou uma empresa especializada, a Ecofinance uma visão integral da sustentabilidade. Foi o primeiro
-se com o marido e os filhos para uma fazendola de 1,5 ta, de Porto Alegre, trabalhou a industrialização dos Negócios, para fazer seu inventário de emissão de ga- empreendimento turístico do Brasil a se tornar
hectare em Viamão, a 28 quilômetros de Porto Alegre, alimentos. “A escola queria que os alunos do segundo ses de efeito estufa (GEE) e optou por neutralizar suas signatário do Pacto Global da ONU.
que chamou de Quinta da Estância. O segundo sonho ano [do Ensino Fundamental] conhecessem a trajetória emissões com o plantio de árvores nativas e frutíferas
virou realidade em 1992, quando abriu a porteira da fa- dos alimentos, desde a preparação da terra até chegar à dentro da própria instalação. A empresa crê que assim POTENCIAL: Já recebeu mais de 1 milhão de visitantes
zenda, agora com uma centena a mais de hectares in- mesa” , conta Sonia Goelzer. “Criamos um projeto, colo- ganha duas vezes, no global e no local. “Se pararmos e criou uma rede de professores interessados em
corporados, para receber as escolas da região interes- cando implementos antigos e modernos utilizados no de plantar hoje, diz Goelzer, as emissões da Quinta da atividades vivenciais (250 mil cadastrados). Os
sadas em seu projeto pedagógico transdisciplinar de plantio e na colheita.” Estância já estarão neutralizadas até 2046.” empreendedores estudam o melhor formato para
concretização do conhecimento. Em uma minifazenda as crianças receberam no- Com 24 anos de atividades e resultados positivos, levar o negócio a outras localidades, pois reconhecem
Ela não imaginava que alguns anos mais tarde o ções sobre criação. As instalações foram montadas de não seria hora de expandir a experiência a outras plagas que existe uma demanda para esse tipo de formação.
seu singelo projeto profissional se tornaria referên- modo que elas pudessem alimentar e tocar os bichos. a fim de que mais pessoas usufruam desse modelo de
cia mundial em turismo rural pedagógico e ecológi- “É importante que sintam a textura e a temperatura negócio? A opção da franquia como forma de ganhar es- DESTAQUES DA GESTÃO: O casal Goelzer e os três
co e acumularia uma respeitável coleção de prêmios e dos animais” , explica a professora. Mais tarde, en- cala não está nos planos da família. O maior impeditivo filhos administram a fazenda. Realizam reuniões com
certificados . Muito menos supunha que seus filhos quanto os monitores explicavam a etapa do processa- estaria no acompanhamento pedagógico das ativida- as equipes e com as escolas. Valorizam a governança
levariam os princípios da sustentabilidade na gestão mento dos alimentos, os pequenos ajudavam a prepa- des educativas, que são a espinha dorsal do empreen- e as práticas ambientais, como geração de energia
do negócio da família até as últimas consequências. rar uma fornada de pães. dimento. “Temos quatro profissionais contratados só eólica e solar (a meta é ser 100% autossuficiente).
Não fosse o projeto pedagógico por si só um sucesso A fazenda conta com mais de 90 monitores gradua- para fazer esse acompanhamento. É um trabalho muito Mantém um viveiro onde tratam dos animais
em inovação, a Quinta da Estância seguramente al- dos, e alguns pós-graduados, nas áreas de Biologia, sério e de alto comprometimento com as escolas clien- resgatados do tráfico no Rio Grande do Sul.
cançaria fama por ser também um “laboratório” em Agronomia, Veterinária e Educação Física. Parte deles tes”, pondera Sonia Goelzer. Não aceitam verbas governamentais em nenhuma
sustentabilidade integrada ao core business como rara- aprendeu a se comunicar em libras (a língua brasilei- Deixar de franquear o negócio não significa manter a de suas ações.
mente visto – grupos empresariais interessados neste ra de sinais), pois todo o projeto de acessibilidade na Quinta da Estância “ilhada” em Viamão. Além das cer-
tema também estão entre o público recepcionado em fazenda é integrador. Não se realizam eventos espe- ca de 20 palestras anuais que os Goelzer já fazem para
Viamão pela família Goelzer. ciais só para alunos surdos, ou para alunos autistas, divulgar o seu modelo de governança de uma gestão
A filosofia aplicada na Quinta da Estância segue ou para portadores de deficiência física: “Estamos com sustentabilidade para pequenas e médias empre-
a linha do “pise na grama”. A mensagem subliminar preparados e adaptados para receber a todos simul- sas, uma solução que está sendo considerada é separar
que recepciona os alunos – pertencentes da pré-esco- taneamente, sem segregação” , afirma o filho do meio, em nichos toda a gama de atividades pedagógicas que se
la à universidade – logo na entrada diz na entrelinha: Rafael Goelzer, diretor de relacionamento com mer- desenvolvem ali e apresentá-las como modelos inspira-
cado. Entre as programações oferecidas aos visitantes dores a novos empreendimentos. “A preparação desses
Veja a relação em bit.ly/2ejmT1v
está a caminhada por uma trilha ecológica. No trajeto, módulos está entre os nossos planos para 2017”, revela.

30 PÁ G I N A 2 2 D E Z E M B R O 2 0 1 6 PÁ G I N A 2 2 D E Z E M B R O 2 0 1 6 31
GUIA DE INOVAÇÃO CASOS FORNARI

FORNARI
Luciane Piovezan Fornari
Diretora da Fornari Indústria

FOTOS: F. PEPE GUIMARÃES / F14 FOTOGRAFIA


32 PÁ G I N A 2 2 D E Z E M B R O 2 0 1 6 PÁ G I N A 2 2 D E Z E M B R O 2 0 1 6 33
GUIA DE INOVAÇÃO CASOS FORNARI

FORNARI INDÚSTRIA

A máquina
www.fornariindustria.com.br

Pequena empresa
Setor: Agronegócio

dos ovos de ouro


Faturamento em 2015: R$ 3,1 milhões
Funcionários: 18
Fundação: 2008
Principais clientes: BRF, JBS, Cooperativa Central
A Fornari, de Santa Catarina, promove segurança Aurora, C.Vale, Cooperativa Agroindustrial Lar.
O que faz: Os equipamentos de higienização da
alimentar e cuidado com o trabalhador Fornari substituem métodos que utilizam produtos
químicos como o formol, que, além de trazer danos
ao desenvolver equipamento para desinfecção à saúde dos trabalhadores das avícolas, também
leva à maior mortalidade de pintos e pode trazer
de ovos sem uso de formol riscos à saúde do consumidor. Também desenvol-
ve máquinas para tratamento do lodo da pecuária
(bovinos e suínos).
POR ANDREA VIALLI
INOVAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE: A máquina de

G
desinfecção de ovos não utiliza formol, o que reduz
rande polo produtor de frango e ovos, o estado máquinas poderiam substituir o formol se espalhou
o impacto da atividade no ambiente e na saúde dos
de Santa Catarina ficou em polvorosa com o entre os produtores, e a demanda pelo equipamento
trabalhadores; outros equipamentos da empresa,
primeiro surto da gripe aviária no Brasil, em começou a se intensificar. De oficina mecânica com
como o separador de lodo, promete melhorar a
2006. Muitos produtores precisaram investir atuação local, a Fornari tornou-se uma indústria de
gestão dos resíduos nas propriedades que criam
em tecnologias de desinfecção e descontami- bens de capital para o segmento do agronegócio e pas-
suínos e gado leiteiro; e o clorador permite ajuste
nação para conter o avanço do vírus H5N1, subtipo que sou a atender todo o Brasil.
ideal da quantidade de cloro da água que é oferecida
causa influenza A em aves. Para Luciane Piovezan For- A máquina de desinfecção de ovos é hoje o carro-
às criações.
nari, o problema cheirava a oportunidade de negócios. -chefe da empresa e permite a sanitização não só dos
Com nove anos de experiência no setor administra- ovos que são vendidos ao consumidor final, mas tam-
POTENCIAL: A máquina de desinfecção de ovos tem
tivo da Sadia (hoje BRF), ela enxergou uma oportunida- bém dos ovos férteis, que seguem para a criação de
potencial para exportação aos EUA, onde o uso do
de de negócios que aliava bem-estar animal, seguran- frangos. “Esse sistema, além de mais seguro para o tra-
formol nas avícolas ainda é permitido, mas há um
ça alimentar e melhores condições de trabalho. Propôs balhador e o consumidor final, ainda reduziu signifi-
movimento de transição para um possível banimento.
ao sogro, dono de uma mecânica com mais de 30 anos cativamente a mortalidade de pintinhos, que não nas- e descontaminação do lodo para adequar o sistema à
A empresa já está em estágio avançado para testar
de atuação no município de Concórdia, no interior do ciam devido ao contato com o formol. Os nascimentos realidade dos produtores” , diz. O novo produto, lançado
o equipamento no estado da Geórgia, em parceria
Estado, que adaptasse o maquinário para produzir um aumentaram a uma taxa de 1%,” diz a empreendedora. este ano, prensa o lodo, retendo 30% dos resíduos lí-
com uma universidade local. O clorador também tem
equipamento para descontaminação de ovos. quidos, que possuem grande quantidade de fósforo na
potencial para ser exportado para países da África.
Os ovos saem das galinhas muitas vezes conta- CONTAMINAÇÃO DE AQUÍFEROS composição. O resíduos contaminam as águas quando
minados com sangue e fezes, o que propicia a disse- Ao longo dos anos, a empresa foi elaborando outras lançados in natura no meio ambiente, mas têm poten-
DESTAQUES DA GESTÃO: Empresa familiar, a Fornari
minação de patógenos na cadeia produtiva. Tradicio- soluções para o mercado avícola, como um sistema de cial para serem utilizados como fertilizantes agrícolas.
possui práticas de governança e transparência, como
nalmente, os ovos passavam por processo de limpeza cloração para a água que é servida às aves e uma lava- Decidida a expandir sua atuação para o mercado ex-
contas e contabilidade separadas das contas pessoais
manual seguido por fumigação com formol – mas o uso dora destinada à limpeza de bandejas de nascimento e terno, a Fornari estuda o mercado americano há três
dos sócios. São realizadas reuniões periódicas entre
do produto para essa aplicação começou a ser banido caixas de pintinhos. Além disso, acaba de desenvolver, anos e, em uma visita recente à Poultry Show, principal
os sócios para divulgação interna dos atos de gestão
no País a partir de 2008, pois o contato direto vinha em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa e feira do setor avícola dos Estados Unidos, fez os primei-
relevantes ou discussões estratégicas. A empresa
causando sérios problemas de saúde em funcionários Inovação de Santa Catarina (Fapesc), um equipamento ros contatos com zootécnicos do estado da Geórgia para
monitora a origem das matérias-primas utilizadas
de avícolas – com casos relatados de câncer de esôfago que possibilita separar os componentes líquido e só- testar os equipamentos em uma universidade local.
em sua cadeia produtiva. Em relação aos clientes, a
devido à inalação da substância. lido do lodo das criações de gado de leite e suínos, que A empresa, que já comercializou maquinário para
Fornari realiza avaliações de riscos à saúde humana
Luciane Fornari então desenvolveu um protótipo da têm alto impacto ambiental. países como Turquia e Filipinas, espera acessar o mer-
de produtos e serviços antes da introdução de novos
máquina de desinfecção de ovos e apresentou a ideia “Em Santa Catarina, os aquíferos estão sendo con- cado americano a partir do ano que vem, e, de lá, vali-
materiais, tecnologias ou métodos de produção.
para as duas grandes empresas do segmento – Sadia taminados com os rejeitos da criação de suínos” , diz dar suas tecnologias para comercializá-las em outros
e Perdigão, que aceitaram testar o equipamento. Após Fornari. “Visitamos várias empresas de saneamento países. “Exportar para os EUA abre as portas para o
dois anos de testes bem-sucedidos, a notícia de que as para ver como funcionam os processos de separação restante do mundo” , diz Fornari.

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GUIA DE INOVAÇÃO CASOS HEIDE

HEIDE
Rodrigo Heemann e Ana Carolina
Winkler Heemann
Fundadores da Heide

FOTOS: F. PEPE GUIMARÃES / F14 FOTOGRAFIA


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GUIA DE INOVAÇÃO CASOS HEIDE

HEIDE EXTRATOS VEGETAIS

Sem
www.heide.com.br

Microempresa
Setor: Química verde

intermediários
Faturamento em 2015: R$ 940,5 mil
Funcionários: 8
Fundação: 2000
Principais clientes: Empresas B2B, fabricantes de
A Heide faz a ponte entre agricultores familiares cosméticos, alimentos e produtos para saúde ani-
mal, tais como Hugo Cini S/A, Mili S/A, Farmoquimica
que cultivam insumos vegetais da biodiversidade S/A, Ourofino Saúde Animal, Bayonne Cosméticos.
O que faz: Desenvolve e fabrica extratos vegetais
brasileira – como a erva-mate – e a indústria para as indústrias cosmética e alimentícia.

de alimentos e cosméticos INOVAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE: A empresa


se propõe a unir agricultores de plantas medicinais,
aromáticas e frutíferas e a indústria alimentícia
POR ANDREA VIALLI
e de cosméticos. Isso é feito com a aquisição da

N
produção diretamente dos agricultores, o que elimina
ativa da América do Sul, a planta Ilex paragua- rizar a produção da agricultura familiar”, diz Heeman,
intermediários e contribui para uma maior valorização
riensis é uma velha conhecida de quem mora fundadora e diretora técnica da empresa.
do agricultor, incentivando sua permanência no
nas regiões Sul e Centro-Oeste do Brasil: mui- Nos últimos anos, a Heide tem se dedicado a agre-
campo. Os produtos são desenvolvidos com insumos
to apreciada no chimarrão e no tereré, a erva- gar mais tecnologia à produção de insumos, com in-
renováveis, sem presença de solventes derivados
-mate tem fascinado a indústria em razão vestimentos em P&D por meio do programa Tecno-
do petróleo.
de suas propriedades funcionais e cosméticas. Por ser va, da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), e a
diurética, digestiva e cheia de antioxidantes, a bebida à Fundação Araucária, de apoio à inovação no Paraná. A
POTENCIAL: A empresa deseja estudar as tendências
base da planta tem atraído consumidores que buscam empresa possui quatro patentes de inovação, e atual-
e avaliar os mercados que possuem potencial de
alimentos mais saudáveis. A cafeína e os flavonoides mente desenvolve um insumo alimentício funcional à
compra para suas matérias-primas. Nos próximos dez
presentes na erva também são atributos desejados pela base de erva-mate, cujo lançamento está previsto para
anos, a Heide vislumbra exportar para Estados Unidos,
indústria cosmética, que hoje produz de sabonetes e 2017. Hoje, o extrato concentrado da planta, cultivada
países árabes e Alemanha. As atividades de P&D são
xampus a hidratantes e cremes anticelulite. em São Mateus do Sul (PR), já é um dos carros-chefe da
desenvolvidas com instituições parceiras (UFPR, Ital),
De olho nesse potencial mercado, em 2000 os far- empresa: sem adição de corantes e aromas artificiais, é
e o objetivo é a comprovação da segurança e eficácia
macêuticos Rodrigo Heemann e Ana Carolina Wink- comercializado para a indústria de bebidas.
dos insumos.
ler Heemann fundaram a Heide Extratos Vegetais, em relação a aspectos de saúde e sustentabilidade é um
Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, com o PRODUÇÃO RENOVÁVEL E MAIS LIMPA dos motores do crescimento da empresa, que busca
DESTAQUES DA GESTÃO: A empresa possui boas
objetivo de transformar matérias-primas de origem Na área de insumos cosméticos, todo o processo de se expandir organicamente e também vislumbrando
práticas de gestão em sua cadeia produtiva,
vegetal da biodiversidade brasileira, em especial a desenvolvimento dos produtos também é guiado por o mercado externo – a empresa já fez remessas para
como o monitoramento de origem das principais
erva-mate, em ingredientes naturais voltados para a atributos de sustentabilidade – é o caso dos extratos China, Estados Unidos e Alemanha, mas visa também
matérias-primas utilizadas e do atendimento de
indústria alimentícia e cosmética. cosméticos da linha Fitoglicerinados (plantas e gliceri- o mercado latino-americano.
seus fornecedores a requisitos legais. Realiza o
Mais do que comercializar insumos de origem ve- na vegetal), com 100% de ingredientes de origem reno- Segundo Heeman, a tendência dos alimentos e cos-
aproveitamento dos resíduos orgânicos em hortas,
getal, a empresa busca reduzir a distância entre o tra- vável, o que contribui para a redução no uso de deriva- méticos orgânicos veio para ficar. “Quando o consumi-
enquanto os resíduos inorgânicos são destinados à
balhador da agricultura familiar que planta e colhe as dos de petróleo, que geram maior impacto ambiental. A dor entende o benefício de uma alimentação saudável,
reciclagem. Minimizam ruídos com a utilização de
matérias-primas e a indústria, eliminando outros in- empresa também aguarda a certificação orgânica Eco- ele vê também o benefício do cosmético com a mesma
revestimento acústico na casa de máquinas, já que
termediários na cadeia. cert, de origem francesa, voltada para insumos. proposta e do produto certificado”, diz. Para a fundado-
a sede da empresa está localizada em uma área
Além da erva-mate, a Heide também comerciali- Outro diferencial da pequena empresa de Pinhais é ra da Heide, não se trata apenas de um nicho de mer-
residencial de Pinhais (PR).
za insumos e produtos à base de camomila, calêndula, o processo produtivo, que não utiliza solventes orgâ- cado, pois a popularização desses produtos é uma ten-
café verde, gengibre e frutos amazônicos oriundos do nicos pesados, somente água e álcool etílico de cana- dência – um exemplo são os alimentos orgânicos, que
extrativismo, como açaí e guaraná. “Somos uma em- -de-açúcar. A produção dos extratos não gera grandes já têm lugar cativo nas gôndolas dos supermercados.
presa de transformação que faz a ponte entre o pequeno volumes de resíduos sólidos, e as quantidades produ- “O preço final maior ainda é um desafio, mas, com o
agricultor que está no campo e a grande indústria. Nos- zidas hoje são destinadas à adubação. tempo e barateamento dos custos, os orgânicos devem
so modelo de negócios foi concebido de modo a valo- O aumento da consciência dos consumidores em atingir uma parcela maior da população” , acredita.

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GUIA DE INOVAÇÃO CASOS JOY STREET

JOY STREET
Fred Vasconcelos, Luciano Meira e Diego Garcez
Executivo-chefe, chefe de ciência e inovação
e diretor de negócios da Joy Street

AMÉRICO NUNES
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GUIA DE INOVAÇÃO CASOS JOY STREET

salta Garcez, ex-integrante do Centro de Estudos e Siste-


JOY STREET
mas Avançados do Recife (Cesar), que reúne desenvolve-

Play
www.joystreet.com.br
dores de games na Universidade Federal de Pernambuco.
Após o sucesso inicial, o passo seguinte foi diminuir
Pequena empresa
a dependência de contratos com governos e desenvolver
Setor: Educação

escola
soluções para o Terceiro Setor e iniciativa privada. Dessa
Faturamento em 2015: R$ 5,5 milhões
forma, como resultado de demandas educacionais como
Funcionários: 39
as dos institutos Telefônica e Natura, surgiu a plataforma
Fundação: 2010
Plinks, destinada a trabalhar Português e Matemática
Principais clientes: Governo de Pernambuco,
no Ensino Fundamental. Inspirado
A Joy Street cria plataformas de jogos digitais Jogo virtual nas interações virtuais do Club
Prefeitura de Aracaju, Telefônica, Natura, Editora
Saraiva, Instituto Ayrton Senna.
on-line, voltado Penguin, pertencente à Disney, o
que podem melhorar a performance acadêmica para crianças e
adolescentes, com
método tem como base um perso-
O que faz: Desenvolve plataformas de gamifi-
cação e ludicidade para transformar o ensino e a
participação em nagem que desbrava os encantos do
dos alunos e diminuir a evasão escolar massa de múltiplos
usuários de várias
planeta apresentando os conteúdos
aprendizagem em algo mais engajador e desafiador,
diminuindo as altas taxas de evasão e melhorando
partes do mundo de forma lúdica.
a performance acadêmica dos alunos.
P O R S É R G I O A D E O D AT O A empresa investe atualmente
em um terceiro segmento de mer-
INOVAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE: A abordagem

O
cado: o ensino à distância, que faturou R$ 2,4 bilhões em
educativa está baseada em torneios e enigmas por
bairro do Recife, onde a capital pernambu- a escola da cultura digital e da linguagem dos jovens. 2014, absorvendo 25% das matrículas do ensino supe-
meio de jogos de máximo engajamento, tematizados
cana foi fundada, há 480 anos, é cenário do Os gestores do Porto Digital articularam, então, a for- rior. Por meio da plataforma Apta, em fase de lançamen-
com conteúdos acadêmicos. Possui método autoral
charmoso encontro da tradição com a mo- mação de uma equipe de experts juntando múltiplos to após investimento massivo nos últimos dois anos, o
de design para educação, criado em interação
dernidade. Em meio a monumentos e casa- perfis profissionais – da ciência da computação à psi- objetivo é desenvolver competências para o mercado de
com a Universidade Federal de Pernambuco. Além
rios tombados pelo patrimônio histórico, o cologia cognitiva, design, desenvolvimento de games e trabalho, melhorando práticas de cursos técnicos e pro-
disso, desenvolve a interação social dos alunos e
Porto Digital reúne mais de 200 empresas e se desta- engenharia de software. fissionalizantes à distância.
professores e dinâmicas com enredo que dá sentido à
ca pelo ambiente de inovação como estratégia de revi- A empresa especializou-se em plataformas de jo- O modelo inclui ferramentas como vídeos, hiper-
aprendizagem. Tem o desafio de atuar fortemente com
talização urbana. Na Rua da Guia, o prédio de uma antiga gos digitais e interações sociais aplicadas à educação texto e quiz e pode ser adaptado sob demanda dos de-
crianças e jovens de escolas públicas que representam
indústria gráfica, hoje Empresarial como ferramenta capaz de superar barreiras típicas de partamentos de recursos humanos para atividades de
a base da pirâmide social. Assim, a empresa promove a
Nos últimos três ITBC, mantém a fachada original e, um paradigma de escola que parou no tempo. Os jovens treinamento nas empresas. A Unilever, por exemplo,
inclusão de forma estruturada e colabora diretamente
anos, o parque no último andar, um terraço verde deixavam de ir à aula para ficar jogando games em casa encomendou o produto para capacitar a força de ven-
tecnológico para a melhoria dos indicadores de aprendizagem.
com vista para o mar é convida- ou em lan houses, uma febre dez anos atrás, quando o da. “Também o ensino à distância, disseminado nos
movimentou R$ 1
bilhão em negócios tivo à troca de ideias. Um dos 50 crescimento da evasão foi diagnosticado” , afirma Diego últimos anos como alternativa à educação formal e às
POTENCIAL: A empresa foi acelerada pela Endeavor e
inovadores empreendimentos de tecnologia Garcez, diretor de negócios da empresa recifense, cujo salas de aula enfadonhas, sofre hoje com a baixa qua-
Artemisia e tem presença relevante no ecossistema
lá abrigados, a Joy Street chama lema é a “aprendizagem como diversão”. lidade e alta taxa de evasão” , explica Garcez.
do Porto Digital, no Recife (PE). As plataformas digitais
atenção pelo estilo descontraído. O primeiro produto, o Oje, voltado para a rede pú- Desafio, narrativa e aventura são pilares dos pro-
desenvolvidas pela empresa atingiram até hoje 150
Trabalhar de bermuda e chinelo é algo comum entre os blica de ensino, tornou-se carro-chefe como platafor- dutos educativos desenvolvidos pela Joy Street, que se
mil jovens e 10 mil professores de 4.000 escolas, com
39 funcionários, que têm acesso a manicure e massa- ma estruturada em games e enigmas que interagem diferencia como empresa de nicho, alicerçada no po-
alto poder de escala e replicação. Após receber capital
gista. Tatuagens e cabelos coloridos são bem-vindos. E, com as diversas disciplinas escolares. Até o momento, tencial interativo e lúdico da chamada gamificação,
do fundo Criatec 2, a estratégia é crescer por meio de
nas paredes, as palavras “aprendizagem” , “diversão” e a tecnologia beneficiou mais de 150 mil usuários nos que permite índices de aprendi-
investimento em marketing e vendas e novos canais de
“diálogo” retratam os conceitos que marcam o negócio, estados de Pernambuco, Rio de O mercado de zagem até duas vezes maior em
jogos digitais
distribuição em território nacional.
baseado em soluções para um dos principais desafios Desafios Janeiro e Acre e do município de relação a métodos convencionais,
inspirados movimentou cerca
brasileiros: a educação. Aracaju (SE). Entre os diferenciais de R$ 5,2 bilhões segundo estudos americanos.
na matriz de DESTAQUES DA GESTÃO: A empresa tem estrutura
No Brasil, O empreendimento tomou for- competências do que renderam ao produto prêmios em 2014 no Brasil, Em 2015, a empresa recebeu in-
de todos os com 73 milhões de
de governança auditada pela Ernst Young e aplica
ma com a demanda apresentada Exame Nacional internacionais, como o European jeção de R$ 2,5 milhões em capital
estudantes que do Ensino Médio horas diárias de metodologia ágil de gestão de projetos e de
iniciam o Ensino pela Secretaria de Educação de Seal of e-Excellence, está a nave- engajamento de risco do fundo Criatec 2, gerido
(Enem) desempenho, com acompanhamento de metas.
Fundamental, Pernambuco, em 2007, para mu- gação mais eficiente e produtiva pela Bozano Investimentos, para
apenas 41% o A organização identifica e monitora os riscos
dar os preocupantes números da para fins de pesquisa na internet, expandir estratégias. O plano é au-
concluem (estratégico, operacional, financeiro reputacional
evasão escolar. Para especialis- estimulando a leitura e a melhor interpretação de ver- mentar o faturamento dos atuais R$ 5,5 milhões anuais
e legal) e cumpre a legislação aplicável a seu
tas, aprender tornou-se uma ati- betes, com menor quantidade de cliques. para até R$ 40 milhões, em cinco anos. Para Garcez, “o
negócio. O modelo pedagógico é sólido e baseado em
vidade pouco interessante e sem engajamento no País. “Conseguimos comprovar maior interesse e parti- segmento vive a transição entre o furor do modismo e a
metodologias reconhecidas internacionalmente.
A estratégia do governo estadual centrou-se no cipação, inclusive dos professores, cujo vínculo com os etapa da consolidação, na qual terá vantagem quem re-
desenvolvimento local de tecnologias para aproximar esforços para a qualidade do ensino estava perdido”, res- unir mais experiência e domínio do conhecimento”.

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GUIA DE INOVAÇÃO CASOS METHANUM

METHANUM

FOTOS: F. PEPE GUIMARÃES / F14 FOTOGRAFIA


Luiz Felipe Colturato e Tathiana Almeida
Diretor-exectivo e diretora de planejamento
e gestão da Methanum

44 PÁ G I N A 2 2 D E Z E M B R O 2 0 1 6 PÁ G I N A 2 2 D E Z E M B R O 2 0 1 6 45
GUIA DE INOVAÇÃO CASOS METHANUM

METHANUM ENGENHARIA AMBIENTAL


www.methanum.com.br

A todo gás Microempresa


Setor: Energia
Faturamento em 2015: R$ 450 mil

A Methanum, de Minas Gerais, desenvolve Funcionários: 2


Fundação: 2009

sistema adaptado ao Brasil para tratar Principais clientes: Órgãos de fomento (Finep,
BNDES, Feam, GIZ) e as empresas Efficientia (Cemig),

resíduos urbanos, agrícolas e industriais Rotária do Brasil, GE Global Research, AngloGold.


O que faz: Projeta e desenvolve equipamentos e

e gerar energia a partir do metano sistemas para tratamento de efluentes e resíduos


com aproveitamento do biogás e geração de energia
elétrica. Também oferece consultoria técnica
especializada nesta área.
POR ANDREA VIALLI

A
INOVAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE: Soluções
gestão deficiente do lixo urbano no Brasil e Soma-se a isso o imenso potencial de geração de de saneamento em resíduos urbanos, agrícolas e
seus problemas associados – chorume, ga- energia do biogás com o aproveitamento do lixo no industriais, associadas à obtenção de subprodutos
ses de efeito estufa, proliferação de animais, País: além dos aterros sanitários, existem cerca de 3 (composto orgânico e energia elétrica). Suas tecnologias
odores – sempre inquietou o engenheiro am- mil plantas para tratamento dos resíduos da suino- contribuem para a redução do passivo ambiental de
biental Luiz Felipe Colturato, que buscou se cultura – equipamentos que foram instalados com a empresas e permitem melhorar as condições sanitárias
aprofundar no tema ao fazer um mestrado em Barcelo- promessa de geração de créditos de carbono e que hoje de aterros. A geração de energia, por sua vez, reduz os
na, na Espanha, no começo dos anos 2000. Lá, percebeu operam aquém da capacidade. custos de produção e amplia a eficiência energética. A
que os resíduos gerados eram muito semelhantes aos A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) pre- empresa inova ao adaptar tecnologias internacionais em
das cidades brasileiras, com grande volume de matéria vê o fim dos lixões até 2018 e, embora muitos municí- biodigestores para o cenário brasileiro.
orgânica e pouca separação, mesmo nas lixeiras des- pios ainda façam o descarte inadequado do lixo urbano,
tinadas à coleta seletiva. Durante dois anos, Colturato será necessário investir em soluções de tecnologia. “O POTENCIAL: As tecnologias da Methanum foram
trabalhou no Ecoparc 2, maior planta de tratamento de Brasil tem tudo para ser um dos grandes produtores de subsidiadas por recursos destinados à inovação por
resíduos do mundo até então, onde aprendeu sobre o po- energia à base de biogás no mundo. Mas só vamos mu- órgãos de fomento do País e estão em processo de
tencial de geração de energia a partir dos gases que ema- dar a realidade do tratamento de resíduos no País com obtenção de patentes. Os sistemas permitem tratar
nam do lixo em decomposição, especialmente o metano. tecnologias locais, caso contrário ficamos reféns de uma gama ampla de resíduos, do lixo urbano até
De volta ao Brasil, o engenheiro uniu-se a outros multinacionais” , diz Colturato. rejeitos da suinocultura e efluentes industriais. Em
três sócios – Felipe Gomes, um amigo da faculdade; As tecnologias da Methanum foram subsidiadas por razão da necessidade de cumprimento da Política
seu irmão, Thiago Colturato; e Tathiana Almeida, que recursos destinados exclusivamente à inovação por Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), pode contribuir
conheceu em Barcelona – para fundar a Methanum órgãos de fomento e estão em processo de obtenção de com soluções adaptadas à realidade brasileira. A
Engenharia Ambiental, em 2009. A empresa projeta e patentes. Um dos projetos piloto, que deve entrar em empresa também realiza parcerias, por exemplo com
desenvolve equipamentos e sistemas para tratamento operação até o fim de 2016, conta com a participação da a alemã Union e a americana GE, para assistência
de diversos tipos de resíduos, de lixo urbano a resíduos Comlurb, empresa responsável pela gestão dos resíduos Outra frente de atuação são os clientes do segmento técnica ou revendedores de equipamentos.
agrícolas e industriais, como a vinhaça das usinas de na cidade do Rio de Janeiro. A Methanum vai operar uma industrial e do agronegócio. A Methanum está cons-
açúcar e álcool e rejeitos da suino- planta na qual a produção de gás metano será feita em truindo uma unidade para tratar a vinhaça, da em- DESTAQUES DA GESTÃO: Oferece treinamento de
Vinhaça, cultura, com geração de energia do biodigestores, com bactérias cultivadas sem presença presa Adecoagro, no município de Ivinhema (MS), com segurança em instalações de biogás, tanto para equipe
ou vinhoto, é
biogás. de oxigênio e a seco, ou seja, sem adição de água ao ma- previsão de gerar até 20 MW de energia elétrica à base interna como para clientes, de acordo com normas
um resíduo da
produção de Os diferenciais de mercado terial tratado. A rota tecnológica é fruto de uma parceria de biomassa. Segundo a Methanum, a maior parte dos internacionais. Os projetos de maior escala contam
álcool obtido da da microempresa, sediada em entre a Methanum e a Universidade Federal de Minas resíduos ricos em matéria orgânica tem potencial para com uma matriz de risco relacionada à sua execução.
cana-de-açúcar.
Belo Horizonte, são justamen- Gerais (UFMG) e conta com suporte financeiro do Ban- produzir biogás – a exceção são resíduos florestais, que Periodicamente, realizam-se reuniões com a equipe
Antes despejado
diretamente nos te o know-how dos fundadores, co Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social ainda requerem mais pesquisas para sua transforma- sobre possibilidades de melhoria da governança, do
rios, passou a ser todos especialistas em gestão de (BNDES). A planta piloto será abrigada nas imediações ção. “O trabalho da Methanum consiste em agregar va- planejamento e da gestão estratégica da empresa.
reaproveitado como
lor ao resíduo, de modo que ele deixe de ser um passivo No escritório, separam e destinam corretamente
fertilizante ou como resíduos, e os projetos customi- da estação de transbordo do Caju, no Rio, e o contra-
fonte de energia zados, desenvolvidos lado a lado to prevê o tratamento de resíduos e obtenção de sub- ambiental para a empresa e se torne um ativo capaz de resíduos, pilhas, baterias e cartuchos.
com os clientes. produtos, como energia e composto orgânico, até 2017. gerar receita”
, diz Colturato.

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GUIA DE INOVAÇÃO CASOS PECSA

PECSA
Vando Telles
Diretor-executivo da Pecsa

ANDREA G.A. CARLINI/ PECSA


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GUIA DE INOVAÇÃO CASOS PECSA

rurais parceiras, ampliando para 10 mil hectares a área


PECUÁRIA SUSTENTÁVEL DA AMAZÔNIA
de pecuária a ser submetida a processos de baixo im-

O que parecia
www.pecsa.com.br/pt
pacto com aumento da produtividade. “Foi necessário
estabelecer perfil jurídico de empresa, porque o fundo
Microempresa
tem fins lucrativos para remuneração dos investido-
Setor: Pecuária

impossível
res” , explica o diretor. Hoje existem 8,5 mil hectares sob
Faturamento em 2015: R$ 51 mil (em operação
contrato, estando 3 mil hectares em produção, com um
desde outubro de 2015)
total de 6 mil cabeças. O plano é atingir entre 35 mil e 40
Funcionários: 54
mil animais a partir de março de 2017, quando termina
Fundação: 2015
a atual fase do projeto.
A Pecsa une fundo de investimentos, produtores O modelo de negócio da Pecsa baseia-se na parce-
Principais clientes: Diretos (frigoríficos): JBS e
Frigobom. Indiretos (empresas de distribuição e
ria com produtores rurais que fornecem a terra degra-
rurais e tecnologia, recupera pastagens degradadas dada e uma parte do rebanho por um período de seis a
food service): Arcos Dorados/McDonald’s e Norvida.
O que faz: Parcerias com produtores rurais
oito anos. A área e a produção passam a ser gerenciadas
na Amazônia, aumenta a produção e reduz emissões pela empresa, que repassa ao fazendeiro em média 10%
na Amazônia que buscam recuperar suas áreas
degradadas visando também uma melhor gestão
da receita com a recria, engorda e venda de gado, man-
por meio de práticas de menor impacto e maior
tido com técnicas adequadas para recuperação do solo e
produtividade, com atuação na Amazônia.
P O R S É R G I O A D E O D AT O manejo rotacionado de pastagens.

A
O aumento da eficiência e da
As áreas
INOVAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE: Oferece um
pecuária é líder da emissão de gases de jetado para atender a mercados mais exigentes quanto produtividade gera resultados fi-
são divididas novo modelo de gestão a produtores rurais que une
efeito estufa no Brasil. Em 2015, a ativi- aos atributos socioambientais. nanceiros que, segundo Micol,
em módulos, acesso a fundo de investimentos e capacitação técnica
dade gerou 361,9 milhões de toneladas de submetidos cobrem facilmente os custos da
para aumentar a criação de gado sem derrubar mais
carbono, quantidade mais de três vezes PARCERIA COM PRODUTORES a períodos adequação às leis ambientais. O
alternados de áreas de floresta. O negócio baseia-se em métodos
superior à do segundo colocado, o trans- “A solução estava em resolver tanto a questão am- retorno do investimento inicial se
pastejo e descanso, de recuperação e manejo de pastagens. A empresa
porte de carga, conforme dados do Sistema de Esti- biental como a econômica, por meio de um modelo de permitindo dá em cerca três anos. Ao final do
maior controle e
garante a rastreabilidade do gado conforme exigência
mativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (Seeg), boas práticas que pudesse ser replicado” , afirma Lau- contrato de parceria, o proprietá-
qualidade do solo do mercado europeu. Entre os diferenciais estão o
do Observatório do Clima. O desafio de reduzir seus rent Micol, especialista que começou a enfrentar o rio recebe a área de volta, já dentro
maior volume de água para hidratação dos animais e
impactos e mudar a imagem de vilã, produzindo desafio como integrante da equipe do ICV, juntamen- de padrões altamente produtivos e
a substituição de componentes químicos por naturais
melhor em áreas já desmatadas sem necessidade de te com Vando Telles, que posteriormente se tornou o com mão de obra capacitada para seguir adiante sem
na ração. Como resultado, a empresa reduziu as
derrubar mais árvores, tem inspirado vários expe- diretor-executivo da Pecsa. Eles estruturaram um pro- necessidade de desmatar para aumentar a produção.
emissões de gases de efeito estufa em cerca de 40%
rimentos de campo para se chegar a novos modelos, jeto piloto com dez fazendas parceiras para a adoção de Em seu primeiro ano de vida, entre outubro de 2015
por hectare.
como o desenvolvido pelo Instituto Centro de Vida novos métodos produtivos e a medição de custos e re- e setembro de 2016, a Pecsa teve faturamento de R$ 5,5
(ICV) – ONG situada em Alta Floresta, em Mato Gros- sultados. Entre 2012 e 2014, a iniciativa construiu “mó- milhões. A partir de agora, uma vez confirmado o bom
POTENCIAL: No início de 2017 a empresa iniciará
so, uma das regiões de maior concentração de áreas dulos de produção sustentável” de 30 hectares em cada resultado do modelo comercial, a estratégia é buscar no-
a fase de expansão, abrangendo áreas maiores de
degradadas na Amazônia. propriedade, onde foi aferida a viabilidade econômica vos investimentos para abranger áreas cada vez maio-
Mato Grosso e de outras regiões da Amazônia.
Naquele município e seu entor- da adequação ambiental, com recuperação de passivos res em Mato Grosso e, futuramente, em outras regiões
Em Mato O fundo investidor planeja captar de 100 milhões a
no há cerca de 2 milhões de hecta- por meio de reflorestamento. Em paralelo, foram ado- da Amazônia. O apelo climático impulsiona o processo:
Grosso, há mais 200 milhões de euros até 2020 para investir na Pecsa.
de 20 milhões res – extensão maior que as regiões tadas medidas relativas à nutrição o método produtivo implantado pela empresa reduz as
de hectares de metropolitanas de São Paulo e Rio Fundo europeu, do gado e ao manejo da pastagem. emissões de gases de efeito estufa em cerca de 40% por
terras degradadas sediado em DESTAQUES DA GESTÃO: Adota política de
de Janeiro juntas – com pastagem “Os resultados mostraram-se hectare e em mais de 90% por quilo de carne produzida.
pela pecuária Londres, voltado desmatamento zero. Os contratos são firmados
que demandam em estado de degradação. Após para projetos bastante favoráveis, com aumento “A inovação tem base no modelo que junta acesso a
que reduzam o
somente com propriedades não envolvidas com
soluções em larga mapear a realidade da pecuária da produtividade por hectare em recursos financeiros, parcerias com pecuaristas e capa-
escala desmatamento, desmatamento recente (2008). A madeira dos
local, por meio de trabalhos de seis vezes”, atesta Micol, hoje dire- citação técnica” , ressalta Micol, ao lembrar que a inicia-
atenuem as cercados é substituída por plástico reciclado. A
pesquisa e assistência técnica in- alterações tor de governança e investimentos tiva tem atraído o interesse de grandes grupos expostos
climáticas,
atividade da empresa gerou 50 postos de trabalho
tensificados em 2010, a instituição decidiu partir para da Pecuária Sustentável da Ama- a pressões de mercado por credenciais ambientais. É o
protejam a diretos na região do município de Alta Floresta, além
algo mais efetivo e ambicioso, capaz de demonstrar aos zônia (Pecsa), empresa criada em caso da rede McDonald’s, que compra carne processada
biodiversidade da formalização de dez pequenos negócios.
produtores rurais que a mudança para um novo padrão e melhorem a 2015 para captar capital de risco e no JBS, frigorífico abastecido pelas fazendas do proje-
qualidade de vida
A geração de renda do projeto na atual fase é de
de menor impacto é possível e rentável. dar escala comercial ao projeto. to. “Foi um ano e meio de discussão e auditorias, porque
em comunidades cerca de R$ 200 milhões ao longo de sete anos, o que
Nos moldes tradicionais, a criação extensiva de Dessa forma, foram obtidos o grupo já tinha uma política de não comprar carne da
rurais, com retorno representa R$ 5 para cada R$ 1 investido.
gado é refém de práticas arcaicas, com ampla área de financeiro aos 1,5 milhão de euros do Althelia Amazônia, devido ao desmatamento” , conta o diretor.
solos já expostos, baixa produtividade e desmatamen- investidores Climate Fund, com o objetivo de Um sinal claro de que a garantia de origem é um atributo
to, não condizentes com o crescimento do rebanho pro- dobrar o número de propriedades cada vez mais fundamental no setor.

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GUIA DE INOVAÇÃO CASOS SANHAÇU

Oto Barreto
SANHAÇU Sócio-admnistrador da Sanhaçu

AMÉRICO NUNES
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GUIA DE INOVAÇÃO CASOS SANHAÇU

ano e hoje tanto o turismo rural como o pedagógico já


SANHAÇU
correspondem a 30% do faturamento da empresa, no total

Novidade
www.sanhacu.com.br
de R$ 360 mil ao ano.
Cada turista Para além dos aspectos socioam-
paga taxa de Microempresa
R$ 10 com direito bientais, a qualidade do produto é
Setor: Bebidas & Alimentos

no alambique
a degustação da importante pilar do negócio. A pro-
cachaça e visita à
Faturamento em 2015: R$ 360 mil
dução anual de 16 mil litros abrange
fábrica e canaviais Funcionários: 5
três tipos de cachaça, diferenciados
Fundação: 2006
pela madeira dos barris em que é en-
Principais clientes: Distribuidores de bebidas em
velhecida – freijó, carvalho ou umburana. No entanto, o que
Recife, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo.
Cachaça orgânica de Pernambuco planeja mais chama atenção naquele alambique é a música clássi-
ca tocada no ambiente onde ocorre a fermentação da cana.
Visitantes recebidos nas atividades de turismo rural
e pedagógico.
exportações com viés socioambiental “É para melhorar a qualidade da levedura e do processo,
tornando-o mais uniforme” , explica Barreto, ao esclarecer
O que faz: Produz cachaça artesanal orgânica
certificada. A empresa realiza também atividades
que a iniciativa se baseia em relatos de experiências exitosas
P O R S É R G I O A D E O D AT O de educação ambiental para visitantes.
com produção de orquídeas e outras plantas.

P
Seja qual for o real efeito da obra de Chopin ou Bee-
INOVAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE: Os resíduos
ernambucano entrou para a História do Brasil com frutas e verduras – e permite melhores condições thoven para se produzir uma boa pinga, o fato é que a
agroindustriais são 100% aproveitados. O bagaço
como celeiro da cana-de-açúcar, riqueza que de preço” , explica Barreto, que se associou ao irmão para Sanhaçu tem colecionado prêmios, como a medalha
alimenta a caldeira e o vinhoto se junta ao esterco
sustentou o poderio dos antigos engenhos e raspar as economias e investir R$ 70 mil na instalação de ouro nos concursos mundiais de Berlim e Bruxelas
para produção do adubo. A energia consumida é
seus “senhores”, e abasteceu os cofres dos co- dos canaviais orgânicos e da fábrica. (2016). É considerada a quarta melhor do Brasil pelo ran-
gerada no local por painéis fotovoltaicos. A água
lonizadores e dos invasores holandeses que Assim nasceu a Sanhaçu, lançada em 2008 como a pri- king da Cúpula da Cachaça – reconhecimento que, so-
utilizada na limpeza da fábrica é captada da chuva
ocuparam a região no século XVII. A tradição açuca- meira cachaça orgânica de Pernambuco. Desde o berço, a mado aos demais, influencia positivamente na agrega-
e reaproveitada para irrigação. A empresa também
reira tornou-se símbolo cultural, influenciando a obra marca – inspirada no nome de uma espécie de passarinho ção de valor ao produto, no momento distribuído para os
busca novas tecnologias para capturar carbono e
de escritores como Gilberto Freyre. De tudo que foi presente no Nordeste – adotou como diferencial o ape- mercados de Recife, Rio de Janeiro,
comercializá-lo na forma de CO2 comprimido.
construído no rastro daquele ciclo econômico, restou lo da sustentabilidade. A produção Belo Horizonte e São Paulo. O plano
A empresa
hoje em terras pernambucanas Porção inicial da familiar orgânica é apenas um dos integra o projeto é exportar, a partir de 2017.
Autor de Casa- Inovação e POTENCIAL: Meta de crescer 15% ao ano,
basicamente a produção de etanol, cachaça gerada atributos. Além dela, a eletricidade Para chegar ao mercado ex-
Grande & Senzala após destilação. Sustentabilidade apostando no mercado crescente de consumidores
o álcool da cana usado como com- para mover a fábrica vem de placas terno, a estratégia nos próximos
(1933) e Açúcar: Contém alto teor nas Cadeias Globais que demandam produtos com atributos de
uma Sociologia do bustível. Ficaram para trás a ve- de substâncias solares. A água é bombeada por cata- de Valor (ICV cinco anos está no aumento da pro-
Doce (1932), em que lha rapadura, o açúcar mascavo, o Global), conduzido sustentabilidade, além da qualidade. A renda
voláteis, danosas -ventos e os resíduos agroindustriais dução para 40 mil litros anuais, su-
destacava ao organismo de pelo Centro de proveniente dos convênios com escolas e
mel de engenho e a brasileiríssima são aproveitados: parte do bagaço de perior ao dobro da atual. Devido ao
as tradições quem consome Estudos em universidades representa cerca de um terço da
e as disputas de cachaça – bebida que rompe pre- e, por isso, é cana, por exemplo, vira combustí- Sustentabilidade elevado custo da certificação orgâ-
poder e prestígio (GVces), da receita. O serviço possui potencial de sensibilizar
conceitos, incorpora valor e busca descartada vel para caldeira e outra parte volta nica para os pequenos produtores, o
envolvendo FGV-Eaesp, em estudantes em como trabalhar e produzir de forma
uma nova história, agora marca- aos canaviais na forma de adubo, plano de negócios da empresa – de-
o “ouro branco” parceria com a socialmente justa e harmônica com o meio ambiente.
da pelo encontro entre inovação e mediante a compostagem. Entre Agência Brasileira tentora do selo do IBD há cinco anos
sustentabilidade. as demais sobras, a “cachaça de de Promoção de – prevê aumentar a escala produtiva
Resíduo líquido DESTAQUES DA GESTÃO: Compensa emissões de
Exportações e
O inconfundível aroma que exala das instalações poluente, de alta cabeça” é redestilada para se trans- com canaviais próprios, que hoje to-
Investimentos carbono, plantando anualmente 3 mil mudas de
de uma pequena propriedade rural de Chã Grande (PE), carga orgânica, formar em etanol usado nos carros talizam 7,5 hectares. Uma nova área
(ApexBrasil)
resultante da árvores nativas com o objetivo de recompor a flora
na Zona da Mata, a 82 quilômetros do Recife, protago- destilação do caldo
da empresa e o vinhoto gerado no de 10 hectares está sendo adquirida
original da Mata Atlântica em que está inserida.
niza a retomada. Tudo começou quando o engenheiro de cana fermentado processamento da cana retorna ao para dar suporte à expansão.
Emprega métodos de produção por gravidade, que
mecânico Oto Barreto abraçou o projeto do pai, físico campo como fertilizante. Para as exportações, “deve-
A exportação permitem economia de energia. Possui boas práticas
aposentado da Marinha que trocou a capital pela vida mos mostrar nossos diferenciais
brasileira de de relacionamento com clientes e orientação aos
mais tranquila na roça. Inicialmente, no cenário do in- EDUCAÇÃO cachaça somou de modo tangível para quem está
R$ 13,3 milhões em consumidores.
tenso debate ambiental na década de 1990, o plano para Isso tudo está associado a um programa de educação, longe; não apenas para os que vi-
2015. No País, há
obter renda foi investir nas promessas da agricultura no qual a propriedade recebe estudantes para o conheci- sitam a área” , reconhece Barreto, de
2 mil produtores
orgânica. Mas a aposta não vingou: “Havia muito des- mento de experiências sustentáveis e também para aulas formais e mais de olho no mercado colombiano como
perdício e o valor agregado do produto era baixo” , diz o de Geografia e História, uma vez que a região se destaca 10 mil informais ponto de partida da empreitada in-
(85% micros e
empresário. por ter sediado o primeiro engenho do Brasil, construído ternacional. Os tempos mudaram.
pequenos), com 4
Em 2006, Barreto achou um novo caminho: a pro- no século XVI. Na rota da BR-232, que liga Recife a Caruaru mil marcas. Mais Práticas de sustentabilidade têm
dução de cachaça. “O produto não tem problema de va- e a diversas cidades do Agreste pernambucano, as insta- em goo.gl/pdj5XK potencial de abrir espaços aos no-
lidade – uma grande vantagem para quem trabalhava lações da Sanhaçu acolhem cerca de 8 mil visitantes por vos “senhores de engenho”.

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GUIA DE INOVAÇÃO CASOS VERT

VERT
Leandro Elias Miguel
Diretor comercial
da Vert no Brasil

FOTOS: F. PEPE GUIMARÃES / F14 FOTOGRAFIA


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GUIA DE INOVAÇÃO CASOS VERT

VERT

V de
www.vert.com.br

Microempresa
Setor: Moda/Calçadista

verde
Faturamento em 2015: Vert (Brasil) R$ 900 mil
Funcionários: 11 no Brasil
Fundação: 2005
Principais clientes: empresas do setor de moda
O tênis que vem conquistando os pés europeus (multimarcas e monomarcas), sites de moda e gale-
rias de arte e design.
é fabricado no Brasil com borracha natural O que faz: tênis de design minimalista e urbano
com a utilização de matéria-prima natural, dentro
da Floresta Amazônica e algodão orgânico do Ceará das regras do comércio justo, com o intuito de im-
pactar de forma positiva os trabalhadores da cadeia
produtiva e o meio ambiente.
POR MAGALI CABRAL
INOVAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE: Trabalha

C
Leandro Elias Miguel, é possível à empresa garantir
com pequenas comunidades da Amazônia que fazem
onfortáveis e cheios de estilo, os tênis da mar- a ecoempreendedora Bia Saldanha – ela se estabeleceu que o material não provém de fazendas em regiões
extração de borracha nativa, utilizada nas solas dos
ca franco-brasileira Vert (ou Veja, como é no Acre nos anos 1980/1990 e apresentou ao mundo o desmatadas da Amazônia, mas ainda não foi possível
tênis. Sem intermediários, consegue remunerar os
chamada na Europa) estão longe da perfeição couro vegetal, uma matéria-prima produzida por abrir um canal direto com os pecuaristas para garantir,
trabalhadores com valores acima dos de mercado,
quando o assunto é sustentabilidade. Não é seringueiros na Floresta Amazônica que ganhou fama por exemplo, bons tratos no manejo dos rebanhos. A
incentivando a conservação da floresta.
qualquer empresa que tem coragem de lis- internacional ao ser usada em co- Vert consegue fazer o acompanhamento do couro a
O pagamento diferenciado também na cadeia do
tar seus pontos fracos no próprio site (e-commerce) da Grosso modo leções de grandes marcas da moda, partir de sua chegada ao curtume. Para curtir as peles,
é um tecido algodão estimula a agroecologia. Na confecção dos
marca. Mas é exatamente isso que fazem os france- como a francesa Hèrmes. em lugar dos sais de cromo, altamente tóxicos para o
de algodão tênis, utiliza fábricas auditadas e que respeitam os
ses François-Ghislain Morillion Em Rio Branco, Saldanha apre- meio ambiente e para quem os manipula, a Vert utiliza
impregnado com direitos dos trabalhadores.
Na Europa a e Sébastien Kopp, fundadores da o látex extraído sentou Morillion e Kopp ao quími- o tanino vegetal à base de extrato de acácia.
denominação da Vert Shoes. Transparência é um de seringueiras co e professor da Universidade de Desde 2005, a empresa, cuja sede fica em Paris, já
marca é Veja. Como nativas POTENCIAL: A empresa está em expansão mundial, o
dos atributos que eles querem ver Brasília (UnB) Floriano Pastore, comprou 75 toneladas de borracha nativa da Amazô-
não conseguiram que deverá gerar mais benefícios ambientais e sociais.
registrar o produto associados aos tênis que escolhe- que há cerca de 20 anos desenvol- nia e 120 toneladas de algodão agroecológico, sempre
com esse nome no ram fabricar no Brasil utilizando ve tecnologias para agregar valor ao látex nativo e com por meio do comércio justo. A cadeia da borracha en-
Brasil, optaram por DESTAQUES DA GESTÃO: Existe uma proximidade
borracha extraída de seringueiras isso aumentar trabalho e renda dos seringueiros da volve 100 famílias de seringueiros e a do algodão, 700
Vert entre os sócios-fundadores, funcionários e
nativas do Acre e algodão orgânico floresta. Diante da certeza de que os trabalhadores de famílias. A produção atual é de 250 mil pares de tênis
trabalhadores das comunidades que propicia um
cultivado por pequenas comuni- Curralinho (AC) conseguiriam fornecer uma produção comercializados em 900 pontos de venda espalhados
envolvimento maior em torno do projeto. Reuniões
dades rurais do Ceará. Tudo feito regular de folha defumada líquida – a borracha já pro- por 15 países, quase todos europeus. A marca começou
A principal delas
periódicas definem claramente os objetivos da
dentro das regras do comércio cessada naturalmente dentro da floresta e apropria- a entrar no mercado brasileiro somente há três anos e
é o contato direto empresa, sem deixar de lado o bem-estar dos
justo (fair trade). da ao solado dos tênis –, os dois amigos começaram a hoje está presente em 50 pontos de venda. A Vert ter-
entre o produtor parceiros envolvidos.
e o comprador, Os dois franceses, amigos de acreditar que tinham finalmente encontrado o lugar ceiriza da marca Ramarim de calçados as instalações e
eliminando a infância, percorreram muito chão certo e o negócio que queriam. a mão de obra para a fabricação dos tênis.
dependência de
até 2005, quando tiraram de uma A comunidade que lhes forne- O aumento de escala de produção, de acordo com o
atravessadores
pequena linha de produção, no Ação do ceria o algodão livre de agrotóxicos diretor comercial, tem de se dar “organicamente” , uma
Ministério do
polo calçadista do Vale dos Sinos, estava do outro lado da floresta, já vez que os principais fornecedores trabalham de forma
Desenvolvimento
no Rio Grande do Sul, os primeiros 5 mil pares de tênis Agrário de combate na Caatinga. Foi encontrada por in- artesanal ou comunitária. Para se prevenir de uma crise
com design urbano parisiense. Cerca de um ano antes, à pobreza e apoio ao termédio do projeto Dom Helder de crescimento (ou de uma eventual quebra de safra do
desenvolvimento
eles haviam se demitido do emprego no mercado fi- Camara, em Tauá, no Ceará. algodão), a Vert vem agregando novas matérias-primas
rural sustentável
nanceiro de Wall Street, em Manhattan, nos EUA, para no Semiárido, O couro, que completa o trio dentro do mesmo escopo de cadeias inclusivas e atenção
mergulhar em um período sabático. Deram quase uma que beneficia, dos principais insumos usados com o meio ambiente: tecidos feitos de garrafas pet re-
diretamente,
volta ao mundo em busca de um negócio inovador que na confecção dos tênis, tem uma cicladas, juta natural, couro de tilápia etc. Entre os prin-
15.021 famílias de
lhes desse satisfação. Pesquisaram China, Índia, África seis estados do cadeia mais complexa quando se cipais desafios da empresa estão estabelecer um plano
do Sul e Brasil. O destino dos futuros empresários come- Nordeste busca sustentabilidade. Segundo o de reciclagem dos tênis e passar a só utilizar tinturas ve-
çou a se definir quando, no Rio de Janeiro, conheceram diretor comercial da Vert no Brasil, getais não poluentes e cadarços de algodão orgânicos.

58 PÁ G I N A 2 2 D E Z E M B R O 2 0 1 6 PÁ G I N A 2 2 D E Z E M B R O 2 0 1 6 59
REPORTAGEM GUIA 2015

rar o desafio da internacionalização, enquanto cionou esforços para as exportações, que hoje

A travessia
outros iniciaram uma aproximação com esse já respondem por 65% do faturamento da Atina.
universo. Algumas empresas aprimoraram A Biotechnos, start-up que fabrica equipa-
seus modelos de negócios, outras buscaram mentos para produção de biodiesel a partir do
novos parceiros ou lançaram novos produtos. A óleo usado em cozinhas, resíduo que normal-
boa notícia é que todas as 11 seguiram firmes em mente é descartado, também mirou o cenário Árvore nativa
da Mata Atlântica
seus propósitos de inovação e sustentabilidade e internacional em 2016. O coordenador Vinícius
Um ano depois, saiba como evoluíram continuam a mostrar bons resultados. Puhl destaca que o Programa Bioplanet – Ener-
de onde se extrai
o alfabisabolol
Apesar da volatilidade cambial sofrida pelo gia para o Mundo, uma iniciativa socioambien- – um composto
as empresas selecionadas no ciclo anterior Brasil este ano, pelo menos cinco empresas tal de inclusão produtiva e educação ambiental apreciado
pela indústria
apostaram no mercado externo. Uma delas foi da empresa –, entrou em um novo patamar. cosmética por
POR MAGALI CABRAL a Atina, empresa que fabrica e fornece óleos “Ampliamos a sua referência no País e no ex- suas propriedades

M
terior”, afirma. Como resultado, a Biotechnos cicatrizantes
essenciais e extratos vegetais para as indús-
e anti-irritantes
esmo na bonança, manter a boa blicos, do desemprego e da queda no consu- trias cosmética, farmacêutica e alimentícia foi a única organização sul-americana sele-
saúde de um pequeno negócio, mo das famílias, a que estratégias estariam (seu diferencial está na produção do óleo de cionada para expor suas soluções no evento
por mais inovador que seja, exige recorrendo as 11 micros e pequenas empre- candeia com certificação e garantia de ras- anual da Clean Energy Ministerial. “Tam-
dos empreendedores todo o es- sas que integraram o Guia de Inovação para treabilidade). O diretor-executivo da empresa, bém estreitamos os laços com organizações Fórum global
forço que possam reunir. O que a Sustentabilidade em MPE de 2015 para se Eduardo Roxo, conta que a recessão profunda como a WWF e a União Europeia” , diz Puhl. para políticas
dirá sob uma crise econômica grave e per- adaptar às dificuldades do momento? e programas
pela qual passa o País afetou muito as indús- No mercado interno, após o lançamen-
que promovam
sistente como a que se abate sobre o Brasil há Cada uma a seu modo encontrou soluções trias de cosméticos, razão pela qual ele dire- to do Guia 2015, a Biotechnos aproximou-se tecnologias de
pelo menos dois anos. Em face da recessão, para driblar as dificuldades: o mercado no exte- de setores acadêmicos e empresariais brasi- energia limpa
Saiba mais em bit.ly/2ga8kxC
da redução dos investimentos privados e pú- rior atraiu os negócios já preparados para enca- leiros e transferiu uma de suas unidades de

ATINA BIOTECHNOS BRASILOZÔNIO CBPAK COURRIEROS


www.atina.com.br www.biotechnos.com.br www.brasilozonio.com.br www.cbpak.com.br www.courrieros.com.br

AS Pequena empresa
Setor: Química verde
Microempresa
Setor: Energia (biodiesel)
Microempresa
Setor: Química verde (tratamento
Microempresa
Setor: Embalagens
Microempresa
Setor: Transporte (bike entrega)
ESCOLHIDAS (ingredientes naturais) Faturamento 2015: R$ 2,2 milhões de água, ar e efluentes) (biodegradáveis) Faturamento 2015: R$ 841 mil

2015
Faturamento 2015: R$ 7 milhões Funcionários: 12 Faturamento 2015: R$ 696,9 mil Faturamento 2015: R$ 250 mil Funcionários: 51
Funcionários: 56 Fundação: 2007 Funcionários: 12 Funcionários: 25 Fundação: 2012
Fundação: 2004 Saiba mais: bit.ly/Guia_biotechnos Fundação: 2005 Fundação: 2002 Saiba mais: bit.ly/Guia_courrieros
Saiba mais: bit.ly/Guia_atina Saiba mais: bit.ly/Guia_brasilozonio Saiba mais: bit.ly/Guia_cbpak

MORADA DA FLORESTA POLI ÓLEOS RECOMÉRCIO REDERESÍDUO TERPENOIL TERRACYCLE


www.moradadafloresta.eco.br www.ikove.com www.recomercio.com.br www.rederesiduo.com.br www.terpenoil.com.br www.terracycle.com.br
Microempresa Pequena empresa Microempresa Microempresa Pequena empresa Microempresa
Setor: Resíduos (produtos Setor: Química verde (ingredientes Setor: Comércio (smartphones Setor: Resíduos (plataformas de Setor: Química verde (limpeza) Setor: Resíduos (logística
ecológicos) naturais e cosméticos) usados) gestão) Faturamento 2015: R$ 6 milhões reversa)
Faturamento 2015: R$ 1,04 milhão Faturamento 2015: R$ 3,2 milhões Faturamento 2015: R$ 615 mil Faturamento 2015: R$ 246 mil Funcionários: 20 Faturamento 2015: R$ 1,5 milhão
Funcionários: 10 Funcionários: 12 Funcionários: 9 Funcionários: 15 Fundação: 2007 Funcionários: 4
Fundação: 2009 Fundação: 2006 Fundação: 2013 Fundação: 2005 Saiba mais: bit.ly/Guia_terpenoil Fundação: 2009
Saiba mais: bit.ly/Guia_ Saiba mais: bit.ly/Guia_polioleos Saiba mais: bit.ly/Guia_ Saiba mais: bit.ly/Guia_rederesiduo Saiba mais: bit.ly/Guia_terra_cycle
moradadafloresta recomercio

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GUIA 2015

pesquisa para São Paulo, a fim de fortalecer permitiu enveredar por novos caminhos na
Organização as ações comerciais da empresa no Sudeste. área comercial, ampliando o leque de opções.
global que certifica Outra que driblou bem a recessão econô- A retração do setor de construção civil,
empresas com
ótima performance
mica foi a Courrieros, serviço de entregas um dos maiores geradores de rejeitos no País,
em ação social que tem a bicicleta como seu principal meio impactou diretamente os negócios na Rede-
e ambiental, em de transporte. Vários de seus clientes desa- Resíduo, que no entanto não se deixou abater.
prestação de contas
e em transparência pareceram do mercado, mas, ainda assim, a Segundo o sócio e diretor de novos negócios
empresa conseguiu expandir-se e projetar Ricardo Olliani, a recessão os estimulou a
um faturamento arrojado para este ano: R$ buscar novos mercados: “Estabelecemos re-
2 milhões, mais que o dobro de 2015. Outras presentações em Minas Gerais e Rio de Janeiro
boas notícias, segundo o diretor André Bisel- e ampliamos a área de gestão do conhecimen-
li, foram a premiação internacional Best for to, com a participação ativa em congressos,
the World, pela B Corp, e o convite para par- workshops e seminários do setor”.
ticipar do Better Brands, um evento realizado O grande destaque da CBPAK, produtora de
na Suécia sobre sustentabilidade e constru- embalagens compostáveis fabricadas a partir
ção de marcas. da fécula de mandioca, em 2016 ficou por conta
Projeto do GVces Ao longo deste ano, a Morada da Floresta – de um novo modelo de negócios, o de “loca-
criado em 2014 para empresa que trabalha com o fomento da reci- ção” de embalagens, situação em que a empre-
ajudar pequenos clagem de resíduos orgânicos por meio de ativi- sa passa a se responsabilizar pela destinação
empreendedores
a desenvolver dades educativas e com o desenvolvimento e a das embalagens depois de utilizadas. Segun-
estratégia de venda de composteiras domésticas e empresa- do o fundador e presidente Cláudio Bastos, a
exportação riais – viu o número de concorrentes aumentar CBPAK quer priorizar clientes que apresentem
consistente e
acessar mercados substancialmente nos últimos tempos e deci- no seu core business “preservação ambiental,
internacionais, diu se preparar para a internacionalização. mitigação em ações de compensação de gases
ou ampliá-los, Para isso, ingressou no ICV Global e no de efeito estufa e gestão de resíduos sólidos”.
quando já forem
exportadores Projeto Extensão Industrial Exportadora Sem medo da crise, a TerpenOil – que de-
(Peiex). “Fomos aprovados para participar senvolve e comercializa produtos de limpeza,
também do programa Design Export, que purificação de ar e neutralização de odor uti-
nos ajudará a preparar os materiais de lizando ativos naturais encontrados nos óleos
Iniciativa da comunicação (branding, site, flyers, displays, essenciais das plantas – lançou novo produto
Apex-Brasil que
embalagens etc.) para a exportação” , informa este ano: o TerpenOil Natural Laundry, primei-
tem por objetivo
qualificar empresas o sócio-diretor da Morada Cláudio Spínola. ro detergente líquido para roupas do mercado
para a exportação A Poli Óleos, fornecedora de ingredientes feito essencialmente com matérias-primas
vegetais brasileiros certificados para a in- naturais e que dispensa o uso de amaciante.
dústria cosmética nacional e internacional, O CEO Marcelo Ebert informa que este ano
colheu este ano os frutos plantados em 2015, a empresa também recebeu o Rótulo Ecológi-
quando reviu suas estratégias para atuação no co, da Associação Brasileira de Normas Técni-
mercado internacional. “Com participações cas (ABNT), para produtos de limpeza de uso
em feiras, eventos do setor e missões empre- industrial e institucional. “Somos a primeira
sariais, realizamos novos contatos para aber- empresa na América Latina a ter essa certifi-
tura de novos mercados até 2018” , afirma a di- cação, que atesta o baixo impacto ambiental e
retora-executiva Evelyn Steiner, que tem boas a saúde dos produtos naturais da TerpenOil.”
perspectivas para este e os próximos anos. Empresa que oferece soluções para resí-
A BrasilOzônio – que desenvolve e comer- duos de difícil reciclabilidade, como esponjas
cializa sistemas modulares que utilizam ozô- multiúso, instrumentos de escrita e escovas de
nio para o tratamento de água, ar e efluentes, dente, a TerraCycle perdeu um grande cliente
em substituição a produtos químicos conven- ao longo do ano, a L’Oréal (Garnier-Fructis),
cionais –, apesar de ter fechado poucos ne- mas encontrou uma solução para não deixar
gócios este ano, conseguiu o financiamento a crise tomar conta do negócio. Firmou nova
Fundo de de dois fundos: Criatec 2 e Schnurrbart parceria com o Grupo L’Occitane e participou
investimento em
venture capital Participações. O presidente Samy Menasce de um evento internacional, o Sustainable
disse que esse reforço no caixa da empresa Cosmetics Summit Latin America 2016.

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Centro Sebrae
de Sustentabilidade
Certificado como
o prédio em uso
mais sustentável
da América Latina.
A BRE (Building Research Establishment),
sediada na Inglaterra, é uma das instituições
mais conceituadas e criteriosas do mundo em
sustentabilidade e edificações. Foi ela quem
conferiu ao Centro Sebrae de Sustentabilidade a
certificação BREEAM in Use nível Excellent
entregue exclusivamente para edificações que
minimizam os seus impactos ambientais durante
o seu uso.

Um importante passo para a


sustentabilidade no Brasil e para a
inovação rentável e consciente dos seus
pequenos negócios.

www.sustentabilidade.sebrae.com.br

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