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A Escuta Analítica
A Escuta Analítica
04/09/2007
AS RECOMENDAÇÕES FREUDIANAS
Bem sei eu que o nome do artigo ao qual farei breve referência e comentário agora é O
ouvido com que convém ouvir. Contudo, não posso me furtar a, no meu entender, fazer
esta alteração em seu nome. Afinal, como apontei na introdução deste trabalho, cabe ao
analista escutar e não, simplesmente, ouvir.
Leclaire, no artigo supracitado, faz comentários bastante pertinentes e críticos com
relação à escuta do analista. Vejamos.
Nos diz o autor que "(...) o psicanalista...em escutando a narração de seu paciente deve
estar atento ao desejo - inconsciente - que está sendo enunciado. Essa a posição que
assumiu ao se tornar psicanalista: ouvir outra coisa além do simples significado das
palavras que estão sendo pronunciadas..." (Leclaire, 1977: p. 09 - grifos nossos). Ouvir
além, isto é, escutar. Ou seja, cabe ao analista escutar as e nas entrelinhas do discurso do
paciente.
O psicanalista deve buscar a verdade singular do paciente. E esta verdade só emergirá
nas entrelinhas do discurso do analisando, aonde sua fala tropeça e se revela a partir das
formações do inconsciente ou se apresenta na forma de resistência, ou ainda quando se
opera uma transformação na relação transferencial. Ou como nos diz Leclaire: "(...) todo
nosso trabalho se desenvolverá no sentido de compreender a ordem da verdade
solicitada a se manifestar na situação psicanalítica"(Leclaire, 1977: p. 16 - grifos
nossos).
Ao relatar o fragmento de uma sessão analítica, a título de exemplo, com o qual começa
seu artigo, Leclaire pontua que o analista não se deve aprisionar pela técnica da
psicanálise, pois o analista que não confere ao paciente a atenção equiflutuante que
deveria ser a este último dispensada, devido a associações e articulações com questões
teóricas, perde o "fio da meada" daquilo que o paciente diz e fica, assim,
impossibilitado de escutar o desejo do analisando.
Isto, por sua vez, requer que o analista nada espere da sessão - conforme já disse
anteriormente. Ou como Leclaire afirma: "(...) seu interlocutor (referindo-se ao analista)
reterá apenas os tropeços da língua. Inversamente, o psicanalisando 'dá de presente' a
seu ouvinte um 'precioso' lapso. O psicanalista terá ouvidos somente para a seqüência
em que o tropeço escande...a arte do analista parece consistir em nada esperar"
(Leclaire, 1977: p. 15 - grifos nossos).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Freud, S. (1912). Recomendações aos médicos que exercem psicanálise. In: ESB das
obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Editora Imago, Rio de Janeiro, 1996.
v. XII, p. 123-133.
Freud, S. (1913). Sobre o Início do Tratamento. In: ESB das obras psicológicas
completas de Sigmund Freud. Editora Imago, Rio de Janeiro, 1996. v. XII, p. 137-158.
Lacan, J. (1961). Crítica da Contra-transferência In: O Seminário. Livro 8 - A
Transferência. Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 1992. p. 182-196.
Leclaire, S. (1977). O Ouvido com o que convém ouvir. In: Psicanalisar. Capítulo I.
Editora Perspectivas, 1977. p. 07-23.