Você está na página 1de 31

2.

(Enem 2020) O ouro do século 21

Cério, gadolínio, lutécio, promécio e érbio; sumário,


térbio e disprósio; hólmio, túlio e itérbio. Essa lista
LÍNGUA PORTUGUESA – Apostila 3 de nomes esquisitos e pouco conhecidos pode
parecer a escalação de um time de futebol, que
Sintaxe – Concordância Nominal e Verbal; ainda teria no banco de reservas lantânio,
Regência; Crase; Pontuação neodímio, praseodímio, európio, escândio e ítrio.
Mas esses 17 metais, chamados de terras-raras,
1. (Enem PPL 2011) fazem parte da vida de quase todos os humanos do
planeta. Chamados por muitos de “ouro do século
21”, “elementos do futuro” ou “vitaminas da
indústria”, eles estão nos materiais usados na
fabricação de lâmpadas, telas de computadores,
tablets e celulares, motores de carros elétricos,
baterias e até turbinas eólicas. Apesar de tantas
aplicações, o Brasil, dono da segunda maior
reserva do mundo desses metais, parou de extraí-
los e usá-los em 2002. Agora, volta a pensar em
retomar sua exploração. (SILVEIRA, E. Disponível em:
www.revistaplaneta.com.br. Acesso em: 6 dez. 2017
(adaptado).

As aspas sinalizam expressões metafóricas


empregadas intencionalmente pelo autor do texto
para
a) imprimir um tom irônico à reportagem.
b) incorporar citações de especialistas à
reportagem.
A situação social em que o falante está inserido é c) atribuir maior valor aos metais, objeto da
determinante para o uso da língua. Dessa forma, reportagem.
cabe ao usuário adequar-se a cada contexto, a d) esclarecer termos científicos empregados na
seus condicionantes: formalidade/informalidade, reportagem.
intimidade/hierarquias etc. Considerando-se a e) marcar a apropriação de termos de outra ciência
situação comunicativa, há, na charge, pela reportagem.
a) displicência de ambos os falantes, já que
desconsideram a situação em que estão inseridos 3. (Enem 2020)
e usam um registro inadequado ao contexto.
b) dualidade de registros entre os dois falantes, já
que ambos usam regras distintas quanto à
concordância.
c) inobservância do personagem vestido de preto
quanto à informalidade da situação e o
consequente uso de um registro bastante formal.
d) inadequação, do ponto de vista da norma
padrão, do registro de um e de outro falante.
e) consenso entre os registros dos dois falantes no
tocante à norma padrão, já que ambos usam as
mesmas regras de regência.

1
A frase, título do filme, reproduz uma variedade é uma criatividade e, como toda criação, é difícil.
linguística recorrente na fala de muitos brasileiros. Por isso é que os espertos não conseguem passar
Essa estrutura caracteriza-se pelo(a) por bobos. 4Os espertos ganham dos outros. Em
compensação os bobos ganham a vida. 5Bem-
a) uso de uma marcação temporal.
aventurados os bobos porque sabem sem que
b) imprecisão do referente de pessoa. ninguém desconfie. Aliás não se importam que
c) organização interrogativa da frase. saibam que eles sabem.
d) utilização de um verbo de ação. Há lugares que facilitam mais
e) apagamento de uma preposição. _____iv_____ pessoas serem bobas (não
confundir bobo com burro, com tolo, com fútil).
Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah,
quantos perdem por não nascer em Minas!
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço,
Das vantagens de ser bobo
voando por cima das casas. É quase impossível
evitar o excesso de amor que o bobo provoca. É
O bobo, por não se ocupar com ambições,
que só 6o bobo é capaz de excesso de amor. E só
tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo
o amor faz o bobo.
é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por
duas horas. Se perguntado por que não faz alguma LISPECTOR, Clarice. Das vantagens de ser bobo. Disponível
coisa, responde: "Estou fazendo. Estou em: http://www.revistapazes.com/das-vantagens-de-ser-bobo/.
pensando.". Acesso em 10 de maio de 2017.Originalmente publicado no
1
Ser bobo às vezes oferece um mundo de Jornal do Brasil em 12 de setembro de 1970.
saída porque os espertos só se lembram de sair por
meio da esperteza, e o bobo tem originalidade,
espontaneamente lhe vem a ideia. 4. (Ime 2018) Marque a opção que completa
O bobo tem oportunidade de ver coisas que corretamente os claros encontrados no texto,
os espertos não veem. Os espertos estão sempre abaixo destacados:
tão atentos _____i_____ espertezas alheias que se
descontraem diante dos bobos, e estes os veem Os espertos estão sempre tão atentos
como simples pessoas humanas. O bobo ganha _____(i)_____ espertezas alheias;
utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca
parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, 2o _____(ii)_____ desvantagem, obviamente;
bobo é um Dostoievski.
_____ii_____ desvantagem, obviamente. confiou na palavra de um desconhecido para
Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um _____(iii)_____ compra de um ar refrigerado de
desconhecido para _____iii_____ compra de um ar segunda mão;
refrigerado de segunda mão: 3ele disse que o
aparelho era novo, praticamente sem uso porque Há lugares que facilitam mais _____(iv)_____
se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba pessoas serem bobas.
e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: a) às – Há – a – às
não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste b) as – A – à – as
era de que o aparelho estava tão estragado que o c) às – Há – a – as
conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. d) às – A – a – às
Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é e) as – A – à – às
ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar
tranquilo, enquanto o esperto não dorme à noite TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
com medo de ser ludibriado. O esperto vence com Limites da manipulação genética
úlcera no estômago. O bobo não percebe que
venceu. Nos últimos anos, a possibilidade de
Aviso: não confundir bobos com burros. manipulação genética de seres humanos se tornou
Desvantagem: pode receber uma punhalada de tecnicamente real, o que levou à publicação de
quem menos espera. É uma das tristezas que o vários manifestos da comunidade científica
bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre internacional contra o uso da técnica em embriões,
frase: "Até tu, Brutus?". óvulos e espermatozoides humanos. 1Não
Bobo não reclama. Em compensação, aceitamos alterações genéticas que possam ser
como exclama! transmitidas às próximas gerações. Apesar disso,
Os bobos, com todas as suas palhaçadas, cientistas chineses publicaram um trabalho
devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido descrevendo a criação de embriões humanos
esperto não teria morrido na cruz. geneticamente modificados! 2Abrimos a Caixa de
O bobo é sempre tão simpático que há Pandora?
espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo

2
Ainda não. Os pesquisadores chineses só possa ser feita. Mas, por enquanto, estamos
testaram o quão segura a técnica é de fato em protegidos – que orgulho!
embriões humanos – afinal, se um dia
pudéssemos, por exemplo, corrigir a mutação no PEREIRA, L. O Globo. Opinião. 12 maio 2015. Disponível em:
<https://oglobo.globo.com/opiniao/limites-da-manipulacao-
gene do câncer de mama, interromperíamos a
genetica-16125529>. Acesso em: 20 jun. 2017. Adaptado .
herança genética familiar e os filhos não correriam
o risco de herdar a doença.
Se temos algo a ganhar com a técnica, não 5. (Fmp 2018) A concordância da forma verbal em
vale a pena testá-la? 3Sim, mas existe uma linha destaque está de acordo com a norma-padrão da
muito tênue entre ousadia e irresponsabilidade, e o Língua Portuguesa em:
desenvolvimento científico não pode cruzá-la. a) Não basta, na opinião das autoridades,
Assim, para ficar do lado de cá dessa fronteira, oportunidades de trabalho para o jovem se
foram usados embriões defeituosos de fertilização desenvolver, mas é preciso oferecer
in vitro. 4Neles foram injetadas pequenas moléculas escolaridade a todos.
construídas para consertar um gene que, quando b) Crescem continuamente, de acordo com as
"mutado", causa uma forma grave de anemia. Dos estatísticas, os percentuais de comércio nacional
54 embriões analisados, somente quatro tinham o e internacional por meio da rede.
gene corrigido... Além disso, eles também tinham c) Acredita-se que a profusão de informações e a
alterações genéticas em outros locais não amplitude de acesso a elas está forjando uma
planejados do genoma – 5ou seja, a tal molécula geração mais inteligente.
muitas vezes erra o seu alvo... d) Consta da programação da Feira Literária
6
Em resumo, o trabalho demonstrou que a Internacional de Paraty vários títulos a serem
técnica de edição de genoma é ineficiente e lançados sobre o escritor Lima Barreto.
insegura para se utilizar em embriões humanos – e) Contribuíram para o aumento da expectativa de
exatamente o que 7a comunidade científica previa vida da humanidade o crescimento das
e questionava, com o objetivo de que esse pesquisas científicas e tecnológicas.
procedimento não fosse feito em embriões
humanos. 6. (Eear 2017) De acordo com o significado de
8
O que não significa que as pesquisas cada sentença, marque a opção que apresenta erro
nesse sentido devam ser interrompidas. Se em relação à presença ou ausência da vírgula.
tivéssemos proibido as pesquisas em transplante
cardíaco em 1968, quando 80% dos pacientes a) Eu que não sou o dono da verdade sei que o
transplantados morriam, 9nunca teríamos tornado senhor está certo.
esse procedimento uma realidade que hoje em dia b) Maria foi a pessoa rara que escolheu a casa dos
salva muitas vidas. 10Cientistas seguirão pais.
aprimorando a técnica para torná-la mais eficiente c) Meu avô Tobias, que foi meu modelo de pai,
e segura. Porém, essas pesquisas devem ser faleceu quando eu era menino.
conduzidas de forma absolutamente ética – aliás, d) Dona Jorgina, que dedicou-se inteiramente ao
todas as pesquisas devem ser conduzidas assim; trabalho aos outros, era muito respeitada pelos
mas, quando envolvem embriões humanos, mais novos da família.
mais ainda.
E enquanto nós, cientistas, resolvemos os 7. (Pucrj 2017) Os filósofos chineses viam a
aspectos técnicos, conclamamos legistas, realidade, a cuja essência primária chamaram tao,
psicólogos, sociólogos e a população em geral para como um processo de contínuo fluxo e mudança.
discutir as vantagens e os riscos de usar a Na concepção deles, todos os fenômenos que
tecnologia de edição do genoma em seres observamos participam desse processo cósmico e
humanos. Para pesquisar ou para evitar doenças são, pois, intrinsecamente dinâmicos. A principal
como câncer e Alzheimer? Sim. 11E para que o característica do tao é a natureza cíclica de seu
bebê nasça com olhos azuis, mais inteligente, mais movimento incessante; a natureza, em todos os
alto? Não. Em que situações permitiremos sua seus aspectos – tanto os do mundo físico quanto os
aplicação? dos domínios psicológico e social –, exibe padrões
12
Um cenário que, há 15 anos, era ficção cíclicos. Os chineses atribuem a essa ideia de
científica agora é tão real que devemos discuti-lo padrões cíclicos uma estrutura definida, mediante a
urgentemente. No Brasil, já estamos precavidos: a introdução dos opostos yin e yang, os dois polos
Lei de Biossegurança de 2005 proíbe "engenharia que fixam os limites para os ciclos de mudança:
genética em célula germinal humana, zigoto “Tendo yang atingido seu clímax, retira-se em favor
humano e embrião humano". Talvez um dia do yin; tendo o yin atingido seu clímax, retira-se em
tenhamos que rever o texto 13para considerar casos favor do yang”.
específicos em que essa engenharia genética
Na concepção chinesa, todas as manifestações do
tao são geradas pela interação dinâmica desses

3
dois polos arquetípicos, os quais estão associados ______________________________________
a numerosas imagens de opostos colhidas na ______________________________________
natureza e na vida social. É importante, e muito ______________________________________
difícil para nós, ocidentais, entender que esses ______________________________________
opostos não pertencem a diferentes categorias, ______________________________________
mas são polos extremos de um único todo. Nada é ______________________________________
apenas yin ou apenas yang. Todos os fenômenos ______________________________________
naturais são manifestações de uma contínua ______________________________________
oscilação entre os dois polos; todas as transições ______________________________________
ocorrem gradualmente e numa progressão ____________________
ininterrupta. A ordem natural é de equilíbrio
dinâmico entre o yin e o yang. 8. (Eear 2017) Marque a alternativa que apresenta
uso adequado dos dois-pontos, de acordo com a
CAPRA, Fritjof. O Ponto de Mutação. São Paulo: gramática normativa.
Editora Cultrix. 1982. Tradução de Álvaro Cabral,
pp. 32-33. a) Das duas participantes, ficamos atordoados com
a súplica de uma: mas não fizemos nada por ela.
Mantendo o sentido dos trechos em destaque, b) A verdade é somente uma: todos são culpados
reescreva-os atendendo ao que é solicitado. Faça pela sua rebeldia.
as modificações necessárias. c) Ainda que a tristeza dure uma noite: a alegria virá
pela manhã.
a) Não use gerúndio: d) Estude bem uma: forma de solução adequada.

“Tendo yang atingido seu clímax, retira-se em 9. (Eear 2017) Assinale a alternativa em que o
favor do yin; tendo o yin atingido seu clímax, emprego do acento grave, indicador de crase, está
retira-se em favor do yang”. correto.
a) Peça desculpas à seu mestre.
b) Inicie por “A interação”. b) Atribuiu o insucesso à má sorte.
c) Quando a festa acabou, voltamos à casa felizes.
“Na concepção chinesa, todas as manifestações d) Daqui à quatro meses muita coisa terá mudado.
do tao são geradas pela interação dinâmica
desses dois polos arquetípicos.” 10. (Eear 2017) Assinale a alternativa que não
apresenta falha na concordância.
c) Proponha uma nova pontuação para o trecho a) Ainda que sobre menas coisas para nós,
abaixo, substituindo apenas o sinal de ponto e devemos ir.
vírgula e os travessões. b) As peças não eram bastante para a montagem
do veículo.
“A principal característica do tao é a natureza c) Os formulários estão, conforme solicitado, anexo
cíclica de seu movimento incessante; a natureza, à mensagem.
em todos os seus aspectos – tanto os do mundo d) Neste contexto de provas em que vocês se
físico quanto os dos domínios psicológico e encontram, está proibida a tentativa de cola.
social –, exibe padrões cíclicos.”
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
______________________________________
______________________________________ O passado anda atrás de nós
______________________________________ como os detetives os cobradores os ladrões
______________________________________ o futuro anda na frente
______________________________________ como as crianças os guias de montanha
______________________________________ os maratonistas melhores
______________________________________ do que nós
______________________________________ salvo engano o futuro não se imprime
______________________________________ como o passado nas pedras nos móveis no rosto
______________________________________ das pessoas que conhecemos
______________________________________ o passado ao contrário dos gatos
______________________________________ não se limpa a si mesmo
______________________________________ aos cães domesticados se ensina
______________________________________ a andar sempre atrás do dono
______________________________________ mas os cães o passado só aparentemente nos
______________________________________ pertencem
______________________________________ pense em como do lodo primeiro surgiu esta

4
poltrona este livro e menos dinheiro poderiam limitar as novas
este besouro este vulcão este despenhadeiro conexões. 10Mas, pesquisando os idosos, se
à frente de nós à frente deles percebeu que ter menos amigos era muito mais
corre o cão uma escolha pessoal do que uma consequência do
envelhecer.
ANA MARTINS MARQUES Uma linha de investigação explica que
O livro das semelhanças. São Paulo: Companhia das Letras,
essa redução dos amigos seria, na verdade, uma
2015.
seleção dos mais velhos de como usar melhor o
11. (Uerj 2017) No poema, há marcas de tempo. Mas outros especialistas defendem a ideia
linguagem que remetem tanto à poeta quanto a de que os mais velhos teriam menos recursos e
seus leitores. Uma dessas marcas, referindo-se defesas para lidar com estresse e ameaças e,
unicamente ao leitor, está presente no seguinte assim, 11escolheriam com mais cautela as pessoas
verso: com quem se sentem mais seguros (os amigos)
para passar seu tempo.
a) como o passado nas pedras nos móveis no rosto BOUER, J. Jornal O Estado de São Paulo, caderno Metrópole,
(v. 8) domingo, 26 jun. 2016, p. A23. Adaptado.
b) das pessoas que conhecemos (v. 9)
c) pense em como do lodo primeiro surgiu esta 12. (Fmp 2017) Um dos objetivos do título de um
poltrona este livro (v. 15) texto é atrair a atenção do leitor e levá-lo a refletir
d) à frente de nós à frente deles (v. 17) sobre as ideias nele desenvolvidas.
No texto apresentado, o título é uma pergunta
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: retórica constituída por duas expressões
Mais velho, poucos amigos? separadas por uma vírgula, que tem a função de
sugerir a relação lógica de
Um curioso estudo divulgado na última
semana mostrou que a redução do número de a) causalidade
amigos com a idade, tão comum entre os humanos, b) alternância
pode não ser exclusivo da nossa espécie. c) comparação
1
Aparentemente, macacos também passariam por d) explicação
processo semelhante em suas redes de contatos e) finalidade
sociais, o que poderia sugerir um caráter evolutivo
desse fenômeno. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
2
No trabalho desenvolvido pelo Instituto de Tentação
Pesquisa com Primatas em Göttingen, Alemanha,
se identificou uma redução de grooming (tempo Ela estava com soluço. E como se não
dedicado ao cuidado com outros indivíduos, como bastasse a claridade das duas horas, ela era ruiva.
limpar o pelo e catar piolhos) entre os macacos Na rua vazia as pedras vibravam de calor
mais velhos da espécie Macaca sylvanus. 3Além − a cabeça da menina flamejava. Sentada nos
disso, eles praticavam grooming em um número degraus de sua casa, ela suportava. Ninguém na
menor de “amigos” ou parentes. rua, só uma pessoa esperando inutilmente no ponto
4
Fazer grooming está para os macacos do bonde. E como se não bastasse seu olhar
mais ou menos como o “papo” para nós. 5Da submisso e paciente, o soluço a interrompia de
mesma forma que o “carinho” humano, ele parece momento a momento, abalando o queixo que se
provocar a liberação de endorfinas. 6Geram-se, apoiava conformado na mão. Que fazer de uma
dessa forma, sensações de bem-estar tanto em menina ruiva com soluço? Olhamo-nos sem
homens como em outros animais. palavras, desalento contra desalento. Na rua
Na pesquisa, publicada pelo periódico New deserta nenhum sinal de bonde. Numa terra de
Scientist, os cientistas perceberam que macacos morenos, ser ruivo era uma revolta involuntária.
de 25 anos tiveram uma redução de até 30% do Que importava se num dia futuro sua marca ia fazê-
tempo de grooming quando comparados com la erguer insolente uma cabeça de mulher? Por
adultos de cinco anos. 7Se esse fenômeno enquanto ela estava sentada num degrau faiscante
acontece em outros primatas, ele também pode ter da porta, às duas horas. O que a salvava era uma
chegado a nós ao longo do caminho de formação bolsa velha de senhora, com alça partida.
da nossa espécie. 8Se chegou, qual teria sido a Segurava-a com um amor conjugal já habituado,
vantagem evolutiva? apertando-a contra os joelhos.
9
Durante muito tempo se especulou que Foi quando se aproximou a sua outra
esse “encolhimento” social em humanos seria, na metade neste mundo, um irmão em Grajaú. A
verdade, resultado de um processo de possibilidade de comunicação surgiu no ângulo
envelhecimento, em que depressão, morte de quente da esquina, acompanhando uma senhora, e
amigos, limitações físicas, vergonha da aparência encarnada na figura de um cão. Era um basset

5
lindo e miserável, doce sob a sua fatalidade. Era
um basset ruivo. c) Reescreva o período em destaque, usando a
Lá vinha ele trotando, à frente de sua dona, expressão tão... que. Faça as adaptações
arrastando seu comprimento. Desprevenido, necessárias.
acostumado, cachorro.
A menina abriu os olhos pasmada. “A constatação é que as bases neurobiológicas
Suavemente avisado, o cachorro estacou diante do afeto desempenham papel muito significativo
dela. Sua língua vibrava. Ambos se olhavam. no comportamento humano, a ponto de
Entre tantos seres que estão prontos para aumentar as chances de sobrevivência.”
se tornarem donos de outro ser, lá estava a menina
que viera ao mundo para ter aquele cachorro. Ele ______________________________________
fremia suavemente, sem latir. Ela olhava-o sob os ______________________________________
cabelos, fascinada, séria. Quanto tempo se ______________________________________
passava? Um grande soluço sacudiu-a desafinado. ______________________________________
Ele nem sequer tremeu. Também ela passou por ______________________________________
cima do soluço e continuou a fitá-lo. ______________________________________
Os pelos de ambos eram curtos, ______________________________________
vermelhos. ______________________________________
Que foi que se disseram? Não se sabe. ______________________________________
Sabe-se apenas que se comunicaram ______________________________________
rapidamente, pois não havia tempo. Sabe-se _____________________________________
também que sem falar eles se pediam. Pediam-se
com urgência, com encabulamento, surpreendidos.
No meio de tanta vaga impossibilidade e de
tanto sol, ali estava a solução para a criança TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
vermelha. E no meio de tantas ruas a serem Nosso pensamento, como toda entidade
trotadas, de tantos cães maiores, de tantos esgotos viva, nasce para se vestir de fronteiras. Essa
secos − lá estava uma menina, como se fora carne invenção é uma espécie de vício de arquitetura,
de sua ruiva carne. Eles se fitavam profundos, pois não há infinito sem linha do horizonte. A
entregues, ausentes de Grajaú. Mais um instante e verdade é que a vida tem fome de fronteiras.
o suspenso sonho se quebraria, cedendo talvez à Porque essas fronteiras da natureza não servem
gravidade com que se pediam. apenas para fechar. Todas as membranas
Mas ambos eram comprometidos. orgânicas são entidades vivas e permeáveis. 1São
Ela com sua infância impossível, o centro fronteiras feitas para, ao mesmo tempo, delimitar e
da inocência que só se abriria quando ela fosse negociar: o “dentro” e o “fora” trocam-se por turnos.
uma mulher. Ele, com sua natureza aprisionada. A Um dos casos mais notáveis na construção
dona esperava impaciente sob o guarda-sol. O de fronteiras acontece no mundo das aves. É o
basset ruivo afinal despregou-se da menina e saiu caso do nosso tucano, o tucano africano, que
sonâmbulo. Ela ficou espantada, com o fabrica o ninho a partir do oco de uma árvore.
2
acontecimento nas mãos, numa mudez que nem Nesse vão, a fêmea se empareda literalmente,
pai nem mãe compreenderiam. Acompanhou-o erguendo, ela e o macho, um tapume de barro.
3
com olhos pretos que mal acreditavam, debruçada Essa parede tem apenas um pequeno orifício, ele
sobre a bolsa e os joelhos, até vê-lo dobrar a outra é a única janela aberta sobre o mundo. Naquele
esquina. cárcere escuro, a fêmea arranca as próprias penas
Mas ele foi mais forte que ela. Nem uma só para preparar o ninho das futuras crias. 4Se
vez olhou para trás. quisesse desistir da empreitada, ela morreria, sem
possibilidade de voar. 5Mesmo neste caso de
LISPECTOR, Clarice. A legião estrangeira. Rio de consentida clausura, a divisória foi inventada para
Janeiro: Editora do Autor, 1964, p. 67-69 ser negada.
6
Mas o que aqueles pássaros construíram
não foi uma parede: foi um buraco. Erguemos
13. (Pucrj 2017) a) Justifique a concordância de paredes inteiras como se fôssemos tucanos cegos.
gênero aplicada à palavra sublinhada em “e De um e do outro lado há sempre algo que morre,
encarnada na figura de um cão” (3º parágrafo do truncado do seu lado gêmeo. Aprendemos a
conto Tentação). demarcarmo-nos do Outro e do Estranho como se
fossem ameaças à nossa integridade. Temos medo
b) Reescreva a frase abaixo no passado. da mudança, medo da desordem, medo da
complexidade. 7Precisamos de modelos para
“Se nos sonhos eu sentir medo de ladrões, eles entender o universo (que é, afinal, um pluriverso ou
serão por certo imaginários”. um multiverso), que foi construído em permanente

6
mudança, no meio do caos e do imprevisível. “Eu sou um escritor difícil
A própria palavra “fronteira” nasceu como Que a muita gente enquizila,
um conceito militar, era o modo como se designava Porém essa culpa é fácil
a frente de batalha. 8Nesse mesmo berço De se acabar duma vez:
aconteceu um fato curioso: um oficial do exército É só tirar a cortina
francês inventou um código de gravação de Que entra luz nesta escurez.”
mensagens em alto-relevo. Esse código servia para
que, nas noites de combate, os soldados pudessem Mário de Andrade – Lundu do escritor difícil
se comunicar em silêncio e no escuro. Foi a partir
desse código que se inventou o sistema de leitura No eterno criar e recriar da atividade verbal, a
Braille. No mesmo lugar em que nasceu a palavra criatividade, a semanticidade, a intersubjetividade,
“fronteira” sucedeu um episódio que negava o a materialidade e a historicidade são propriedades
sentido limitador da palavra. essenciais da linguagem, indispensáveis a todos os
A fronteira concebida como vedação atos da fala, sejam eles presente, passados ou
estanque tem a ver com o modo como pensamos e futuros.
vivemos a nossa própria identidade. 9Somos um Porém, é a atividade semântica que
pouco como a tucana que se despluma dentro do intermedeia a conexão dos seres humanos com o
escuro: temos a ilusão de que a nossa proteção mundo dos objetos, estabelecendo a relação entre
vem da espessura da parede. Mas seriam as asas o EU e o Universo, e, junto com a alteridade
e a capacidade de voar que nos devolveriam a (relação do EU com o Outro, de caráter
segurança de ter o mundo inteiro como a nossa interlocutivo), permite a identificação da linguagem
casa. como tal, pois a linguagem existe não apenas para
significar, mas significar alguma coisa para o outro.
MIA COUTO A semanticidade possibilita o indivíduo
Adaptado de fronteiras.com, 10/08/2014. conceber e revelar as coisas pertencentes ao
mundo do real e da imaginação. Logo, é ao mesmo
tempo significação, modo de conceber, ou melhor,
14. (Uerj 2017) Os dois-pontos podem delimitar uma configuração linguística de conhecimento,
uma relação entre uma expressão e a uma organização verbal do pensamento, e
especificação de seu sentido. designação ou referência, aplicação dos conceitos
às coisas extralinguísticas. [...].
Observa-se esse uso dos dois-pontos no trecho No processo de leitura do texto, para que o
apresentado em: leitor se aproprie desse(s) sentido(s), é necessário
a) São fronteiras feitas para, ao mesmo tempo, que ele domine não apenas o código linguístico,
delimitar e negociar: o “dentro” e o “fora” trocam- mas também compartilhe bagagem cultural,
se por turnos. (ref. 1) vivências, experiências, valores, correlacione os
b) Mas o que aqueles pássaros construíram não foi conhecimentos construídos anteriormente (de
uma parede: foi um buraco. (ref. 6) gênero e de mundo, entre outros) com as novas
c) Nesse mesmo berço aconteceu um fato curioso: informações expressas no texto; faça inferências e
um oficial do exército francês inventou um código comparações; compreenda que o texto não é uma
de gravação de mensagens em alto-relevo. (ref. estrutura fechada, acabada, pronta; perceba as
8) significações, as intencionalidades, os dialogismos,
d) Somos um pouco como a tucana que se o não dito, os silêncios.
despluma dentro do escuro: temos a ilusão de Em resumo, é fundamental que, por meio
que a nossa proteção vem da espessura da de uma série de contribuições, o interlocutor
parede. (ref. 9) colabore para a construção do conhecimento.
Assim, ler não significa traduzir um sentido já
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: considerado pronto, mas interagir com o outro (o
Leia o texto abaixo e responda à(s) questão(ões). autor), aceitando, ou não, os propósitos do
interlocutor.
Leitura - leituras: quando ler (bem) é preciso
Profª Marina Cezar – Revista Villegagnon. Ano IV.
“[...] Alguns leitores ao lerem estas frases (poesia Nº 4. 2009 – Texto adaptado.
citada) não compreenderam logo. Creio mesmo é
impossível compreender inteiramente à primeira
leitura pensamentos assim esquematizados sem 15. (Esc. Naval 2017) No trecho a seguir.
uma certa prática.”
Mário de Andrade – Artista “No eterno criar e recriar da atividade verbal, a
criatividade, a semanticidade, a intersubjetividade,
a materialidade e a historicidade são propriedades

7
essenciais da linguagem [...]” (1º parágrafo) O dono do livro

Assinale a opção em que o comentário acerca do Li outro dia um fato real narrado pelo
uso dos sinais de pontuação está correto, tendo em escritor moçambicano Mia Couto. Ele disse que
vista a norma-padrão. certa vez chegou em casa no fim do dia, já havia
a) A primeira vírgula separa o sujeito do restante da anoitecido, quando um garoto humilde de 16 anos
frase, as demais separam os apostos. o esperava sentado no muro. O garoto estava com
b) As vírgulas separam, respectivamente, um um dos braços para trás, o que perturbou o escritor,
adjunto adverbial a termos de mesma função que imaginou que pudesse ser assaltado.
sintática. Mas logo o menino mostrou o que tinha em
c) Todas as vírgulas poderiam ser retiradas, pois mãos: um livro do próprio Mia Couto. Esse livro é
não há necessidade de pausas no trecho. seu? perguntou o menino. Sim, respondeu o
d) É igualmente correto usar ponto e vírgula no escritor. Vim devolver. O garoto explicou que horas
lugar de cada vírgula presente no trecho. antes estava na rua quando viu uma moça com
e) Pode-se usar um travessão no lugar da primeira aquele livro nas mãos, cuja capa trazia a foto do
vírgula e manter as demais sem prejuízo. autor.
O garoto reconheceu Mia Couto pelas fotos
16. (Esc. Naval 2017) Tendo em vista o título do que já havia visto em jornais. Então perguntou para
texto – “Leitura - leituras: quando ler (bem) é a moça: Esse livro é do Mia Couto? Ela respondeu:
preciso” – assinale a opção que justifica É. E o garoto mais que ligeiro tirou o livro das mãos
corretamente o emprego dos parênteses, segunda dela e correu para a casa do escritor para fazer a
intenção expressiva da autora. boa ação de devolver a obra ao verdadeiro dono.
a) Isola as orações intercaladas com verbos. Uma história assim pode acontecer em
b) Faz uma indicação bibliográfica sucinta. qualquer país habitado por pessoas que ainda não
c) Indica a citação literal de uma palavra estejam familiarizadas com os livros – aqui no
importante. Brasil, inclusive. De quem é o livro? A resposta não
d) Acrescenta um comentário implícito sobre a ideia é a mesma de quando se pergunta: “Quem
da autora. escreveu o livro?”.
e) Sugere um tom mais emotivo às reflexões da O autor é quem escreve, mas o livro é
autora, no texto. quem lê, e isso de uma forma muito mais
abrangente do que o conceito de propriedade
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: privada – comprei, é meu. O livro é de quem lê
Leia o texto abaixo para responder à(s) mesmo quando foi retirado de uma biblioteca,
questão(ões) a seguir. mesmo que seja emprestado, mesmo que tenha
sido encontrado num banco de praça.
“[...] Alguns leitores ao lerem estas frases (poesia O livro é de quem tem acesso às suas
citada) não compreenderam logo. Creio mesmo páginas e através delas consegue imaginas os
que é impossível compreender inteiramente à personagens, os cenários, a voz e o jeito com que
primeira leitura pensamentos assim se movimentam. São do leitor as sensações
esquematizados sem uma certa prática.” provocadas, a tristeza, a euforia, o medo, o
Mário de Andrade – Artista espanto, tudo que é transmitido pelo autor, mas que
reflete em quem lê de uma forma muito pessoal. É
17. (Esc. Naval 2017) Assinale a opção em que o do leitor o prazer. É do leitor a identificação. É do
termo destacado deve ser acentuado, conforme leitor o aprendizado. É o leitor o livro.
ocorre na expressão “à primeira leitura”. Dias atrás gravei um comercial de rádio em
a) Veio, finalmente, a primeira vitória de sua prol do Instituto Estadual do Livro em que falo aos
carreira. leitores exatamente isso: os meus livros são os
b) Conheceram-se numa biblioteca: foi amor a seus livros. E são, de fato. Não existe livro sem
primeira vista. leitor. Não existe. É um objeto fantasma que não
c) Não será a primeira e nem a segunda leitura que serve para nada.
o convencerá. Aquele garoto de Moçambique não vê
d) Foi a primeira vez que viajei a Portugal, e já assim. Para ele, o livro é de quem traz o nome
quero retornar. estampado na capa, como se isso sinalizasse o
e) Não peça informações a qualquer primeira direito de posse. Não tem ideia de como se dá o
pessoa que encontrar. processo todo, possivelmente nunca entrou numa
livraria, nem sabe o que é tiragem.
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: Mas, em seu desengano, teve a gentileza
Leia o texto abaixo e responda à(s) questão(ões) a de tentar colocar as coisas em seu devido lugar,
seguir. mesmo que para isso tenha roubado o livro de uma
garota sem perceber.

8
Ela era a dona do livro. E deve ter ficado arbitrárias. O acento recai, sobretudo, na sua
estupefata. Um fã do Mia Couto afanou seu capacidade de fundar uma comunidade emocional,
exemplar. Não levou o celular, a carteira, só quis o de agir como conectores de um “nós” nacional.
livro. Um danado de uma amante da literatura, deve O segundo aspecto é relativo à separação que se
ter pensado ela. Assim são as histórias escritas verifica, no contexto contemporâneo, dos vínculos
também pela vida, interpretadas a seu modo por que pareciam indissoluvelmente ligar sociedade e
cada dono. estado nacional. A relação identificatória entre
estado-nação e sociedade perdeu a obviedade e
Martha Medeiros. Jornal ZERO HORA – 06/11/11. naturalidade, quando, no contexto da globalização,
Revista O Globo, 25 de novembro de 2012. tornaram-se manifestas diversas formas de
socialidade completamente desvinculadas do
estado-nação: a “explosão” da complexidade
18. (Esc. Naval 2017) Assinale a opção em que a social, no momento em que outras agências de
troca da palavra sublinhada pela que está entre produção de significados (as religiões, o mercado,
parênteses mantém corretas as relações de a indústria cultural, etc.) competem com o estado-
sentido e a regência nominal ou verbal. nação, o que acaba por minar irreversivelmente sua
a) “[...] pessoas que ainda não estejam centralidade e capacidade de integração social.
familiarizadas com os livros [...]” (4º parágrafo) –
(entre) LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. Ficção televisiva e
identidade cultural da nação. In: Revista Alceu Nº 20. Rio de
b) “O livro é de quem tem acesso às suas páginas
Janeiro: Editora PUC--Rio, 2010. p. 11-12. Disponível em:
[...]” (6º parágrafo) – (ante) <http://revistaalceu.com.puc-
c) “[...] os cenários, a voz e o jeito com que se rio.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=32>. Acesso em: 21 jul.
movimentam.” (6º parágrafo) – (em) 2015. Adaptado.
d) “[...] mas que reflete em quem lê de uma forma
muito pessoal” (6º parágrafo) – (para)
e) “[...] na capa, como se isso sinalizasse o direito a) O texto apresenta duas visões distintas que,
de posse.” (8º parágrafo) – (a) hoje, encontram-se relacionadas ao conceito de
nação. Estabeleça a diferença entre elas.
19. (Esc. Naval 2017) Ao discutir a questão sobre
“quem é o dono do livro”, no texto, o verbo ser fica b) Com relação ao trecho abaixo, faça o que é
em evidência. Assinale a opção em que a solicitado a seguir.
concordância da forma verbal destacada está
correta, de acordo com a norma-padrão. A relação identificatória entre estado-nação e
a) Quem seria os donos deste livro? sociedade perdeu a obviedade e naturalidade,
b) O que há de bom neste livro é as histórias. quando, no contexto da globalização, tornaram-
c) O mais é discussões infundadas sobre o autor. se manifestas diversas formas de socialidade
d) Tudo é leituras, para quaisquer tipos de textos. completamente desvinculadas do estado-nação.
e) A leitura de três livros, em um dia, ... não serão
demais?! i) Justifique o emprego da forma verbal
“tornaram-se” na 3ª pessoa do plural.
20. (Pucrj 2016) Há dois aspectos imprescindíveis ii) Reescreva o trecho, iniciando-o por “É
a qualquer discurso que queira, hoje, tratar do possível que”. Faça as modificações
significado da nação. necessárias.
O primeiro é relativo à dimensão simbólica da ideia
de nação, entendida menos como território, mais ______________________________________
como repertório de recursos identitários. Sobre o ______________________________________
papel de constructo cultural e simbólico que a ideia ______________________________________
de nação representa, temos autores que ______________________________________
convergem sobre a arbitrariedade de sua gênese (a ______________________________________
nação como invenção histórica arbitrária, de ____________________
Gellner; como invenção da tradição, de Hobsbawm;
como comunidade imaginada, de Anderson).
Porém, independentemente do reconhecimento de 21. (Pucrj 2016) De acordo com as épocas
sua função ideológica ou de legitimação política, o históricas, ideias filosóficas e conquistas
que hoje se enfatiza na ideia de nação é a forte científicas, os valores éticos sofrem modificações.
carga simbólica e o caráter cultural que carrega. As situações práticas necessitam de diretrizes
Dizer, então, que os sentimentos de pertencimento efetivas que determinam o caminho a ser seguido.
são culturalmente construídos não significa Os códigos, as normas, os princípios, as tradições
necessariamente que eles se fundem em são critérios que se propõem a dirigir a ação
manipulações mistificadoras ou subficções humana.

9
À medida que avança o conhecimento humano a) A cidade tem características que a rendem, ao
sobre o próprio viver e tudo aquilo que sobre ele mesmo tempo, críticas e elogios.
interfere, também aumenta a capacidade humana b) Para você evitar o estresse, é imprescindível
de intervir sobre a vida individual, coletiva e seguir o estilo de vida que mais o interesse.
planetária e, portanto, maior é a necessidade de c) É importante prezar não só a ordem mas também
formas de controle social e ético sobre os produtos a liberdade.
e as atividades da ciência, ou seja, sobre tudo o d) Sua distração acarretou em grandes prejuízos
que se pratica em nome da ciência e de seus para todo o grupo.
desdobramentos tecnológicos. e) Alguém precisa se responsabilizar sobre a
Embora possamos nos reportar à história da abertura do prédio na hora combinada.
antiguidade, tomando o exemplo do juramento
hipocrático (Hipócrates é considerado o pai da
Medicina e foi quem introduziu as bases do 23. (Pucrj 2015) A imaginação
juramento médico), é a partir do início do século XX
que algumas regulamentações de experimentos A imaginação é provavelmente a maior força a
científicos começam a surgir em iniciativas de atuar sobre os nossos sentimentos – maior e mais
países isolados (EUA, 1900; Prússia, 1901; constante do que influências exteriores, como
Alemanha, 1931). Somente quando as atrocidades ruídos e visões amedrontadores (relâmpagos e
cometidas na 2ª Grande Guerra em campos de trovões, um caminhão em disparada, um tigre
concentração nazistas se tornaram públicas, é que furioso), ou prazer sensual direto, inclusive mesmo
a humanidade se defrontou, de forma drástica, com os intensos prazeres da excitação sexual. O que
o lado “terrível” da ciência. Deste confronto foi esteja realmente acontecendo é, para um ser
gerado o Código de Nüremberg, em 1947, humano, apenas uma pequena parte da realidade;
considerado o grande marco em termos de a maior parte é o que ele imagina em conexão com
movimento para manter a prática científica sob um as vistas e sons do momento.
controle ético e de definição dos pilares desta ética
na pesquisa em humanos. Sob os pilares da A imaginação constitui o seu mundo. O que não
“utilidade”, “inocuidade” e “autodecisão do quer dizer que seu mundo seja uma fantasia, sua
participante”, buscou-se coibir toda forma de abuso vida um sonho, nem qualquer outra coisa assim,
e crueldade, toda finalidade política ou eugênica, poética e pseudofilosófica. Isso significa que o seu
preservando os interesses da pessoa sobre os da “mundo” é maior do que os estímulos que o cercam;
ciência. e a medida deste, o alcance de sua imaginação
coerente e equilibrada. O ambiente de um animal
Texto modificado de PADILHA, M. I. C. S., RAMOS, F. R. S., consiste das coisas que lhe atuam sobre os
BORENSTEIN, M. S., MARTINS, C. R.. A responsabilidade do
sentidos. Coisas ausentes, que ele deseje ou tema,
pesquisador ou sobre o que dizemos acerca da ética em
pesquisa. Revista Texto & Contexto Enfermagem, 2005 Jan- provavelmente não têm substitutos em sua
Mar; 14(1). UFSC. p. 97-98. Disponível em: consciência, como as imagens de tais coisas na
<http://www.scielo.br/pdf/tce/v14n1/a13v14n1.pdf>. Acesso em: nossa, mas aparecem, quando por fim o fazem,
25 jul. 2015.
como satisfações de necessidades imperiosas, ou
como crises em seu espreitar e reagir mais ou
a) Quanto ao texto, explicite a que se refere... menos constante. [...]
i) o pronome possessivo seus no 2º parágrafo;
ii) o substantivo confronto no último parágrafo. No centro da experiência humana, portanto, existe
b) Tendo em vista a tessitura textual, explique a sempre a atividade de imaginar a realidade,
relevância das informações apresentadas entre concebendo-lhe a estrutura através de palavras,
parênteses no 3º parágrafo do texto. imagens ou outros símbolos, e assimilando-lhe
percepções reais à medida que surgem – isto é,
________________________________________ interpretando-as à luz das ideias gerais,
______________________________________ usualmente tácitas. Esse processo de
______________________________________ interpretação é tão natural e constante que sua
______________________________________ maior parte decorre de modo inconsciente.
______________________________________
______________________________________ LANGER, Suzanne K. Ensaios filosóficos. São Paulo: Cultrix,
______________________________________ 1971. p.132-133; 135-136. Apud ARANHA, M. L. de Arruda &
______________________________________ MARTINS, M. H. Pires. Filosofando: introdução à Filosofia. São
Paulo: Moderna, 2003. p. 367.

22. (Fgvrj 2016) Levando-se em conta a norma-


padrão escrita da língua portuguesa, das frases
abaixo, a única correta do ponto de vista da
regência verbal é:

10
a) Segundo o texto, quais são os dois componentes melhor amigo, a partir da infância média e
usados pelas pessoas para interpretar o mundo? adolescência.”
b) Há dois desvios gramaticais no período abaixo. b) Reescreva os trechos abaixo atendendo às
Reescreva-o, fazendo as devidas correções. modificações propostas em cada item a seguir.
Coisas ausentes não interferem no Faça as alterações necessárias.
comportamento dos animais, onde eles só
temem o que lhes despertam os sentidos. I. As amizades de crianças mais velhas e
adolescentes incluem lealdade, confiança e
______________________________________ intimidade, requerem interesses comuns e
______________________________________ comprometimento. Inicie o trecho com Talvez.
______________________________________
______________________________________ Talvez_______________________________
______________________________________ _____________________________________
______________________________________ _____________________________________
______________________________________
____________________________ II. “Esta tendência não decorre apenas da
facilidade para coletar dados nas
24. (Pucrj 2015) O uso da palavra amigo inicia aos universidades, mas também do fato de que,
quatro anos de idade; melhor amigo, a partir da nesta etapa, as amizades são mais
infância média e adolescência. A amizade infantil evidentes.” Substitua o verbo decorrer por
caracteriza-se por afeto, divertimento e ocorrer, mantendo a ideia expressa no
reciprocidades: mútua consideração, cooperação, trecho.
bom manejo de conflito, benefícios equivalentes
em trocas sociais; gostar um do outro, ou seja, Esta tendência
desejar passar mais tempo na companhia ocorre_______________________________
prazerosa um do outro. As amizades de crianças ____________________________________
mais velhas e adolescentes incluem lealdade, ___________________________________
confiança e intimidade, requerem interesses
comuns e comprometimento, tanto para manter os
amigos como para formar novas amizades 25. (Pucrj 2014) Numa versão apócrifa da
(Bukowski et al., 1996; Hartup, 1989). Odisseia, Lion Feuchtwanger propôs que os
marinheiros enfeitiçados por Circe e transformados
Amizades adultas caracterizam-se por em porcos gostaram de sua nova condição e
homogeneidade de traços de personalidade, resistiram desesperadamente aos esforços de
interesses, sexo, idade, estado civil, religião, status Ulisses para quebrar o encanto e trazê-los de volta
ocupacional, etnia, renda, escolaridade, gênero, à forma humana. Quando informados por Ulisses
número de amigos, duração da amizade e tipos de que ele tinha encontrado as ervas mágicas
(Bell, 1981; Blieszner & Adams, 1992; Fehr, 1996). capazes de desfazer a maldição e de que logo
A maioria das pesquisas aborda adultos jovens, seriam humanos novamente, fugiram numa
geralmente estudantes universitários entre 18 e 30 velocidade que seu zeloso salvador não pôde
anos. Esta tendência não decorre apenas da acompanhar. Ulisses conseguiu afinal prender um
facilidade para coletar dados nas universidades, dos suínos; esfregada com a erva maravilhosa, a
mas também do fato de que, nesta etapa, as pele eriçada deu lugar a Elpenoros – um
amizades são mais evidentes. Na adolescência a marinheiro, como insiste Feuchtwanger, em todos
amizade amadurece, passa a envolver confiança, os sentidos mediano e comum, exatamente “como
lealdade e intimidade. Na adultez jovem, torna-se todos os outros, sem se destacar por sua força ou
mais importante no contraste com o restante da por sua esperteza”. O “libertado” Elpenoros não
vida adulta, que a restringe com demandas ficou nada grato por sua liberdade, e furiosamente
profissionais, românticas e familiares (Fehr, 1996; atacou seu “libertador”:
Rawlins, 1992). Então voltaste, ó tratante, ó intrometido?
Queres novamente nos aborrecer e importunar,
SOUZA, Luciana Karine de & HUTZ, Claudio Simon. queres novamente expor nossos corpos ao perigo
Relacionamentos pessoais e sociais: amizade em adultos.
e forçar nossos corações sempre a novas
Psicologia em Estudo. Maringá, PR, v. 13, n. 2, abr./jun. 2008.
p. 257-265. Disponível em: decisões? Eu estava tão feliz, eu podia chafurdar
<http://www.scielo.br/pdf/pe/v13n2/a08v13n2.pdf>. Acesso em na lama e aquecer-me ao sol, eu podia comer e
3 ago. 2014. beber, grunhir e guinchar, e estava livre de
meditações e dúvidas: ‘O que devo fazer, isto ou
aquilo?’ Por que vieste? Para jogar-me outra vez na
a) Justifique o emprego da vírgula em “O uso da vida odiosa que eu levava antes?
palavra amigo inicia aos quatro anos de idade;

11
Texto adaptado de BAUMAN, Zygmunt. A máquina ficou ao relento, 15sem que
Modernidade líquida. Trad. Plínio Dentzien. Rio de ninguém soubesse 6quem a encomendou nem para
Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001. p.25. que servia. É claro que cada qual dava o seu
palpite, e cada palpite era tão bom quanto outro.
As crianças, que não são de respeitar
a) No texto, o conceito de liberdade é visto de uma mistério, como você sabe, trataram de aproveitar a
forma relativa, e não absoluta. Explique como se novidade. Sem pedir licença a ninguém (7e a quem
estabelece essa relativização, tomando como iam pedir?), retiraram a lona e foram subindo em
base o comportamento de Ulisses e Elpenoros. bando pela máquina acima – até hoje ainda sobem,
brincam de esconder entre os cilindros e colunas,
b) Reescreva a frase a seguir, substituindo gostar embaraçam-se nos dentes das engrenagens e
por conformar-se e esforços por batalha. fazem um berreiro dos diabos até que apareça
alguém para soltá-las; não adiantam ralhos,
Os marinheiros transformados em porcos castigos, pancadas; as crianças simplesmente se
gostaram de sua nova condição e resistiram apaixonaram pela tal máquina.
desesperadamente aos esforços de Ulisses para Contrariando a opinião de certas pessoas
quebrar o encanto de Circe. que não quiseram se entusiasmar, e garantiram
que em poucos dias a novidade passaria e a
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: ferrugem tomaria conta do metal, o interesse do
A máquina extraviada povo ainda não diminuiu. Ninguém passa pelo largo
sem ainda parar diante da máquina, e de cada vez
Você sempre pergunta pelas novidades há um detalhe novo a notar. [...]
daqui deste sertão, e finalmente posso lhe contar Ninguém sabe mesmo quem encomendou
uma importante. Fique o compadre sabendo que a máquina. O prefeito jura que não foi ele, e diz que
agora temos aqui uma máquina imponente, 2que consultou o arquivo e nele não encontrou nenhum
está entusiasmando todo o mundo. 3Desde que ela documento autorizando a transação. 1Mesmo
chegou – não me lembro quando, não sou muito assim não quis lavar as mãos, e de certa forma
bom em lembrar datas – quase não temos falado encampou a compra quando designou um
em outra coisa; e da maneira como 18o povo aqui funcionário para zelar pela máquina. [...]
se apaixona até pelos assuntos mais infantis, é de
VEIGA, J. J. “A máquina extraviada”. In: MORICONI, I. Os Cem
admirar que ninguém tenha brigado 4por causa Melhores Contos Brasileiros do Século. Rio de Janeiro: Objetiva,
dela, a não ser os políticos. 2000. p. 229-232.
9
A máquina chegou uma tarde, quando as
famílias estavam jantando ou acabando de jantar, 26. (Fmp 2014) Qual sentença mantém a
e foi descarregada na frente da Prefeitura. Com os concordância de acordo com a norma-padrão?
gritos dos choferes e seus ajudantes (a máquina a) A máquina tornou-se muito importante na cidade,
veio em dois ou três caminhões) muita gente haja visto o interesse despertado em cidadãos e
cancelou a sobremesa ou o café e foi ver que visitantes.
algazarra 5era aquela. Como geralmente acontece b) A máquina tornou-se muito importante na cidade,
nessas ocasiões, os homens estavam mal- e sempre haviam detalhes novos a serem
humorados e não quiseram dar explicações, descobertos.
esbarravam propositalmente nos curiosos, c) A máquina tornou-se muito importante na cidade,
pisavam-lhes os pés e não pediam desculpa, pois mais de um prefeito da região tentou adquiri-
jogavam as pontas de cordas sujas de graxa por la.
cima deles, quem não quisesse se sujar ou se d) A máquina tornou-se muito importante na cidade,
machucar que saísse do caminho. e vendê-la seria considerado um crime de lesa-
11
Descarregadas as várias partes da município.
máquina, foram elas cobertas com encerados e os e) A máquina tornou-se muito importante na cidade,
homens entraram num botequim do largo para mesmo quando já faziam muitos meses desde
comer e beber. Muita gente se amontoou na porta que ela chegara.
mas 13ninguém teve coragem de se aproximar dos
estranhos porque um deles, percebendo essa 27. (Fmp 2014) A sentença que mantém sua
intenção nos curiosos, de vez em quando enchia a estrutura morfossintática, de acordo com a norma-
boca de cerveja e esguichava na direção da porta. padrão, com a substituição do verbo principal em “e
Atribuímos essa esquiva ao cansaço e à fome deles a quem iam pedir?” (ref. 7) é
e deixamos as tentativas de aproximação para o dia a) e a quem iam avisar?
seguinte; mas quando os procuramos de manhã b) e a quem iam agir?
cedo na pensão, soubemos que eles tinham c) e a quem iam depender?
montado mais ou menos a máquina durante a noite d) e a quem iam discutir?
e viajado de madrugada. e) e a quem iam duvidar?

12
Contrariando a opinião de certas pessoas
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: que não quiseram se entusiasmar, e garantiram
Texto I que em poucos dias a novidade passaria e a
ferrugem tomaria conta do metal, o interesse do
A máquina extraviada povo ainda não diminuiu. Ninguém passa pelo largo
sem ainda parar diante da máquina, e de cada vez
Você sempre pergunta pelas novidades há um detalhe novo a notar. [...]
daqui deste sertão, e finalmente posso lhe contar Ninguém sabe mesmo quem encomendou
uma importante. Fique o compadre sabendo que a máquina. O prefeito jura que não foi ele, e diz que
agora temos aqui uma máquina imponente, 2que consultou o arquivo e nele não encontrou nenhum
está entusiasmando todo o mundo. 3Desde que ela documento autorizando a transação. 1Mesmo
chegou – não me lembro quando, não sou muito assim não quis lavar as mãos, e de certa forma
bom em lembrar datas – quase não temos falado encampou a compra quando designou um
em outra coisa; e da maneira como 18o povo aqui funcionário para zelar pela máquina. [...]
se apaixona até pelos assuntos mais infantis, é de
admirar que ninguém tenha brigado 4por causa VEIGA, J. J. “A máquina extraviada”. In:
dela, a não ser os políticos. MORICONI, I. Os Cem Melhores Contos Brasileiros
9
A máquina chegou uma tarde, quando as do Século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000. p. 229-
famílias estavam jantando ou acabando de jantar, 232.
e foi descarregada na frente da Prefeitura. Com os
gritos dos choferes e seus ajudantes (a máquina
veio em dois ou três caminhões) muita gente Texto II
cancelou a sobremesa ou o café e foi ver que
algazarra 5era aquela. Como geralmente acontece [...] 8Na testa de Fabiano o suor secava,
10
nessas ocasiões, os homens estavam mal- misturando-se à poeira que enchia as rugas
humorados e não quiseram dar explicações, fundas, embebendo-se na correia do chapéu. 12A
esbarravam propositalmente nos curiosos, tontura desaparecera, o estômago sossegara.
pisavam-lhes os pés e não pediam desculpa, Quando partissem, a cabaça não envergaria o
jogavam as pontas de cordas sujas de graxa por espinhaço de sinhá Vitória. Instintivamente
cima deles, quem não quisesse se sujar ou se procurou no descampado indício de fonte. 14Um
machucar que saísse do caminho. friozinho agudo arrepiou-o. Mostrou os dentes
11
Descarregadas as várias partes da sujos num riso infantil. Como podia ter frio com
máquina, foram elas cobertas com encerados e os semelhante calor? 17Ficou um instante assim besta,
homens entraram num botequim do largo para olhando os filhos, a mulher e a bagagem pesada.
16
comer e beber. Muita gente se amontoou na porta O menino mais velho esbrugava um osso com
mas 13ninguém teve coragem de se aproximar dos apetite. [...]
estranhos porque um deles, percebendo essa
intenção nos curiosos, de vez em quando enchia a RAMOS, G. Vidas Secas. RJ/SP: Record, 2013, p.
boca de cerveja e esguichava na direção da porta. 124.
19
Atribuímos essa esquiva ao cansaço e à fome
deles e deixamos as tentativas de aproximação
para o dia seguinte; mas quando os procuramos de 28. (Fmp 2014) A sentença do texto II “Ficou um
manhã cedo na pensão, soubemos que eles tinham instante assim besta, olhando os filhos, a mulher e
montado mais ou menos a máquina durante a noite a bagagem pesada.” (ref. 17) foi reescrita
e viajado de madrugada. alterando-se a colocação dos termos e a
A máquina ficou ao relento, 15sem que pontuação.
ninguém soubesse 6quem a encomendou nem para A sentença alterada que mantém o sentido da
que servia. É claro que cada qual dava o seu original é:
palpite, e cada palpite era tão bom quanto outro. a) Assim, ficou besta, olhando um instante os filhos,
As crianças, que não são de respeitar a mulher e a bagagem pesada.
mistério, como você sabe, trataram de aproveitar a b) Ficou um instante assim, olhando os filhos, a
novidade. Sem pedir licença a ninguém ( 7e a quem mulher besta e a bagagem pesada.
iam pedir?), retiraram a lona e foram subindo em c) Um instante assim besta, ficou olhando os filhos,
bando pela máquina acima – até hoje ainda sobem, a mulher pesada e a bagagem.
brincam de esconder entre os cilindros e colunas, d) Besta, ficou um instante, olhando os filhos;
embaraçam-se nos dentes das engrenagens e assim, a mulher e a bagagem pesada.
fazem um berreiro dos diabos até que apareça e) Ficou besta um instante assim, olhando os filhos,
alguém para soltá-las; não adiantam ralhos, a mulher e a bagagem pesada.
castigos, pancadas; as crianças simplesmente se
apaixonaram pela tal máquina.

13
29. (Pucrj 2013) Leia. 30. (Pucrj 2013) Leia.

De um lado, a loucura existe em relação à razão ou, Platão defendeu, no Banquete, em Fedra e em
pelo menos, em relação aos “outros” que, em sua outros textos, a existência de um espírito místico ou
generalidade anônima, encarregam-se de furor enviado pelo céu, através do qual uns poucos
representá-la e atribuir-lhe valor de exigência; por eleitos se “inspiravam”: “As maiores bênçãos vêm
outro lado, ela existe para a razão, na medida em por intermédio da loucura, aliás, da loucura que é
que surge ao olhar de uma consciência ideal que a enviada pelo céu.” Possuídas assim por visões
percebe como diferença em relação aos outros. A transcendentais ou por conhecimentos
loucura tem uma dupla maneira de postar-se diante transcendentais, 1essas pessoas desfrutavam de
da razão: ela está ao mesmo tempo do outro lado uma “loucura divina”, que as elevava acima dos
e sob seu olhar. Do outro lado: a loucura é mortais.
diferença imediata, negatividade pura, aquilo que A concepção freudiana do gênio era bastante
se denuncia como não-ser, numa evidência diferente. Não era uma dádiva dos deuses, mas
irrecusável; é uma ausência total de razão, que resultado dos processos do inconsciente; não vinha
logo se percebe como tal, sobre o fundo das de cima, mas de dentro, das profundezas. [...]
estruturas do razoável. Sob o olhar da razão: 1a A “arte” e a habilidade artística, mais que a
loucura é individualidade singular cujas inspiração, eram consideradas a marca do artista
características próprias, a conduta, a linguagem, os ou do escritor, e as estruturas de patronagem do
gestos, distinguem-se uma a uma daquilo que se mundo das letras tradicional proviam fortes
pode encontrar no não-louco; em sua argumentos a favor da conformidade social, em vez
particularidade ela se desdobra para uma razão de excentricidade do artista.
que não é termo de referência mas princípio de 2
Isso não quer dizer que a “imaginação” e o “gênio”
julgamento; a loucura é então considerada em suas visionário estivessem em baixa em terrenos
estruturas do racional. críticos. Mas a teoria clássica, modificada pela
psicologia empirista do Iluminismo, insistia que a
FOUCAULT, Michel. História da Loucura na Idade imaginação não deveria ser obstinada,
Clássica. Tradução: José Teixeira Coelho Netto. idiossincrática e visionária, mas residir na sólida
São Paulo: Ed. Perspectiva, 1972. p.203. formação dos sentidos e ser temperada pelo juízo.
O verdadeiro gênio era um impulso orgânico
a) Com relação ao trecho “A loucura tem uma saudável para a combinação das matérias-primas
dupla maneira de postar-se diante da razão: da mente.
ela está ao mesmo tempo do outro lado e sob
seu olhar.”, extraído do texto, faça o que é PORTER, Roy. Uma História Social da Loucura.
pedido a seguir: Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990. p.81-82.
i. identifique o referente de cada um dos
pronomes destacados, iniciando a sua a) A palavra que apresenta comportamentos
resposta da seguinte forma: distintos nos trechos em destaque. Estabeleça a
O referente do pronome diferença entre os dois empregos.
_____________________________________ i. “essas pessoas desfrutavam de uma “loucura
_____________________________________ divina”, que as elevava acima dos mortais”
_____________________________________ (ref. 1)
ii. “Isso não quer dizer que a “imaginação” e o
ii. indique um conectivo que poderia ser “gênio” visionário estivessem em baixa em
empregado no lugar dos dois pontos. terrenos críticos.” (ref. 2)
b) Mantendo o mesmo sentido, reescreva a
passagem em destaque, de acordo com o que é
b) Comprovando com dados do próprio trecho, pedido:
explique por que o verbo distinguir foi O Iluminismo endossou a fé na razão.
flexionado na 3ª pessoa do plural em “a loucura Durante a segunda metade do século XVII,
é individualidade singular cujas passou-se a criticar, condenar e massacrar
características próprias, a conduta, a qualquer coisa que fosse considerada
linguagem, os gestos, distinguem-se uma a irracional.
uma daquilo que se pode encontrar no não-
louco” (ref. 1). → Use o verbo “efetuar” no lugar do verbo
______________________________________ “passar”;
______________________________________ → Substitua cada um dos verbos assinalados
______________________________________ pela forma nominal correspondente no plural.
_____________________________________

14
→ Faça outras modificações que julgar “popozuda”. Depois, software 2001, veio a
necessárias em função das alterações “cachorra”, a “sarada”. Pasmem: era elogio.
propostas. Algumas continuavam atendendo.

O Iluminismo endossou a fé na razão. Agora está entrando em cena, perfilada num funk
Durante a segunda metade do século XVII, do grupo As Panteras — um rótulo que, a propósito,
______________________________________ notou a evolução das “gatas” —, a mulher do tipo
______________________________________ “descontrolada”. (...). Não é exatamente o que o
______________________________________ almofadinha lá do início diria no encaminhamento
do eterno processo sedutivo, mas, afinal, homem
nenhum também carrega mais almofadas para se
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: sentar no bonde. Sequer bondes 2há. Já fomos
As descontroladas “pães”. Muito doce, não pegou. Somos todos
lamentáveis “tigrões” em nossa triste sina de matar
As primeiras mulheres que passaram na calçada da um leão por dia.
Rio Branco chamavam-se melindrosas. Eram um
tanto afetadas, com seu vestido de cintura baixa e Elas mereciam verbetes melhores, que se lhes
longas franjas, mas a julgar por uma caricatura ajustassem perfeitos, redondos, como a tal calça da
célebre de J. Carlos tinham sempre uma multidão Gang. A língua das ruas anda avacalhando com as
de almofadinhas correndo atrás. O mundo, cem nossas “minas”, para usar a última expressão em
anos depois, mudou pouco no essencial. Diz-se que as mulheres foram saudadas com delicadeza e
agora que o homem “corre atrás do prejuízo”. De exatidão — dentro da mina, afinal, 4cabe tanto a
resto, porém, a versão nacional do assim caminha pepita de ouro como a cavidade que se enche de
a humanidade segue o mesmo cortejo de sempre pólvora para explodir e destruir tudo o que estiver
pela Rio Branco — com o detalhe que as mulheres em cima.
trocaram as franjas pelo cós baixo da calça da
Gang. E, evidentemente, não são mais chamadas A deusa da nossa rua, que sempre pisou os astros
de melindrosas. distraída, não passa hoje de “tchutchuca
marombada” ou “popozuda descontrolada”. É
Elas já atenderam por vários nomes. Uma “uva” era pouco para quem caminha nas pedrinhas
aquela que, de tão suculenta e bem-feita de curvas, portuguesas como se São Pedro fosse sobre as
devia abrir as folhas de sua parreira e deliciar os águas bíblicas. Algumas delas, uvas do vinho
machos com a eternidade de sua sombra. 1Há cem sagrado, santas apenas no aguardo da
anos as mulheres que circulam pela Rio Branco já beatificação vaticana, provocando ainda maior
foram chamadas de tudo e, diga-se a bem da alvoroço, alumbramento e estupefação dos
verdade, algumas atenderam. Por aqui 3passou o sentidos.
“broto”, o “avião”, o “violão”, a “certinha”, o
“pedaço”, a “deusa”, a “boazuda”, o “pitéu”, a “gata” JOAQUIM FERREIRA DOS SANTOS
O que as mulheres procuram na bolsa: crônicas. Rio de Janeiro:
e tantas outras que podem não estar mais no mapa,
Record, 2004.
como as mulatas do Sargentelli, mas já estão no
Houaiss eletrônico. Houve um momento que, de tão 31. (Uerj 2013) Observe os verbos sublinhados nas
belas, chegaram a ficar perigosas. Chamavam-nas passagens abaixo, todos no singular:
“pedaço de mau caminho” ou “chave de cadeia”.
Algumas, de carne tão tenra, eram “frangas”. Há cem anos as mulheres que circulam pela Rio
Branco já foram chamadas de tudo (ref. 1)
Havia, de um modo geral, um louvor respeitoso na Sequer bondes há. (ref. 2)
identificação de cada um desses tipos que
sucederam as melindrosas. Gosto de lembrar Por aqui passou o “broto”, o “avião”, (...) e
daquela, ali pelo início dos 60, que era um “suco”. tantas outras que podem não estar mais no
Talvez porque sucedesse o tipo de “uva” e fosse mapa, (ref. 3)
tão aperfeiçoada no inevitável processo de dentro da mina, afinal, cabe tanto a pepita de
evolução da espécie que já viesse sem casca e, ouro como a cavidade que se enche de pólvora
principalmente, sem os caroços. Sempre (ref. 4)
prontinhas para beber. De uns tempos para cá,
quando se pensava que na esquina surgiria um Explique, com base nas regras de concordância da
vinho de safra especial, a coisa avinagrou. As norma padrão, por que, nesses exemplos, o verbo
mulheres ficam cada vez mais lindas mas os haver fica sempre no singular, e por que passar e
homens, na hora de homenageá-las, inventam caber poderiam estar no plural: passaram e cabem.
rótulos de carinho duvidoso. O “broto”, o “violão” e
o “pitéu” na versão arroba ponto com 2000 era a

15
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Na sentença acima ocorre a elipse de um
7
De repente voltou-me a ideia de construir determinado termo, o qual, no entanto, pode-se
o livro. (...) deduzir pelo contexto e pela construção gramatical.
1
Desde então procuro descascar fatos, Esse termo está indicado em:
aqui sentado à mesa da sala de jantar (...). a) trilha
Às vezes, entro pela noite, passo tempo b) atalho
sem fim acordando lembranças. Outras vezes não c) desvio
me ajeito com esta ocupação nova. d) armadilha
Anteontem e ontem, por exemplo, foram
dias perdidos. 3Tentei debalde canalizar para termo TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
razoável esta prosa que se derrama como a chuva Tarde Cinzenta
da serra, e o que me apareceu foi um grande
desgosto. 8Desgosto e a vaga compreensão de A 13tarde de inverno é perfeita. O tempo
muitas coisas que sinto. nublado acinzenta tudo. Mesmo os mais
9 11
Sou um homem arrasado. Doença? Não. empedernidos cultores da agitação, do barulho,
Gozo perfeita saúde. (...) Não tenho doença das cores, hoje se rendem a uma certa passividade
nenhuma. e melancolia. Os espíritos 12ensimesmados reinam;
O que estou é velho. Cinquenta anos pelo os ativos pagam tributo à reflexão. Sem o sol, que
S. Pedro. 10Cinquenta anos perdidos, cinquenta provoca a 1rudeza dos contrastes, 2tudo é sutil, tudo
anos gastos sem objetivo, a maltratar-me e a é suave.
maltratar os outros. O resultado é que endureci, Tardes assim nos reconciliam com o
calejei, e não é um arranhão que penetra esta efêmero. 18Longe das 3certezas substanciais,
casca espessa e vem ferir cá dentro a sensibilidade ficamos flutuando entre as 4névoas da dúvida. A
embotada. superficialidade, que aparentemente plenifica,
Cinquenta anos! Quantas horas inúteis! dissolve-se; acabamos ancorados no porto das
Consumir-se uma pessoa a vida inteira sem saber insatisfações. E, ao invés de nos perenizarmos
para quê! como singularidade, desejamos subsumir na
2
Comer e dormir como um porco! Como um névoa...como a 14montanha e a tarde.
porco! Levantar-se cedo todas as manhãs e sair A vida sempre para numa tarde assim. É
correndo, procurando comida! 4E depois guardar como se tudo congelasse. Moléculas, músculos,
comida para os filhos, para os netos, para muitas máquinas e espíritos interrompem seu 5furor
gerações. Que estupidez! (...) produtivo 19e se rendem, estáticos, à 6magia da
5
Coloquei-me acima da minha classe, creio tarde cinzenta.
que me elevei bastante. Como lhes disse, 6fui guia 20
Numa tarde assim, não há senão uma
de cego, vendedor de doce e trabalhador alugado. coisa a fazer: contemplar. O espírito, carregando
Estou convencido de que nenhum desses ofícios consigo um corpo por vezes contrariado, 7aquieta-
me daria os recursos intelectuais necessários para se e divaga; 8torna-se receptivo a tudo: aos
engendrar esta narrativa. Magra, de acordo, mas mínimos sons, 24às réstias de luz que atravessam
em momentos de otimismo suponho que há nela a névoa, ao lento e pesado progresso que tudo
pedaços melhores que a literatura do Gondim. Sou, conduz para o fim do dia, para o mergulho nas
pois, superior a mestre Caetano e a outros brumas da noite. 25As narinas absorvem com
semelhantes. Considerando, porém, que os prazer um odor que parece carregado de umidade;
enfeites do meu espírito se reduzem a farrapos de a pele sente o toque enérgico do frio. O langor
conhecimentos apanhados sem escolha e mal impõe-se e comanda esse estar-no-mundo como
cosidos, devo confessar que a superioridade que que suspenso por um tênue fio 21que nos liga,
me envaidece é bem mesquinha. timidamente, à vida ativa.
(...) Nas tardes cinzentas, o coração balança
Quanto às vantagens restantes – casas, entre a paz e a inquietação, 23porque a calma e o
terras, móveis, semoventes, consideração de silêncio inquietam. 9O azáfama anestesia; 10o não
políticos, etc. – é preciso convir em que tudo está fazer deixa o espírito alerta — como um nervo
fora de mim. exposto a qualquer acontecer.
11
Julgo que me desnorteei numa errada. Não há jamais nada de espetacular nas
15
tardes cinzentas, a não ser o espetáculo da
GRACILIANO RAMOS própria tarde. E este é grandiosamente simples: ar
São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 2004. friorento, claridade difusa que se perde no cinza,
contemplação, inatividade e o contraditório do
32. (Uerj 2011) Julgo que me desnorteei numa espírito aguçado e acuado por esse acontecer
errada. (ref. 11) minimalista da vida.
Na tarde fria e cinzenta, corpos se rendem
ao aconchego de 16roupas macias ou de braços

16
macios em abraços suaves. Somente olhares e (http://www.facasper.com.br/cultura/site/ensaio.
corações conservam o fogo das paixões. As vozes Adaptação).
agudas e imperativas transformam-se em sons
baixos, quase guturais, que muitas vezes
convertem-se em sussurros, como temendo Texto I
quebrar a magia da tarde.
Não nos iludamos com as aparências: não “O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o
há necessariamente tristeza nas tardes cinzentas. raquitismo exaustivo dos mestiços do litoral. A sua
Mas também não existe aquela alegria aparência, entretanto, no primeiro lance de vista,
inconsequente dos dias cálidos e dourados pelo revela o contrário. É desgracioso, desengonçado,
sol. 22Existe, sim, um equilíbrio perfeito, numa torto. Hércules-Quasímodo é o homem
equidistância entre o tédio e a euforia, fazendo-nos permanentemente fatigado. Entretanto, toda essa
caminhar sobre um 17tênue fio distendido entre o aparência de cansaço ilude. No revés o homem
amargor e a satisfação, entre o entusiasmo e o transfigura-se e da figura vulgar do tabaréu
tédio. Tudo isso, porém, só se mostra aqui e ali, em canhestro reponta, inesperadamente, o aspecto
meio à bruma difusa, ao cinza que permeia tudo. dominador de um titã acobreado e potente, num
Uma simples tarde cinzenta pode parar o desdobramento surpreendente de força e agilidade
mundo, pode deter a vida. Somente por um extraordinárias.”
instante. Mas talvez apenas nos corações
sensíveis. Euclides da Cunha, Os sertões.

CARINO, J.
Disponível em: http://www.almacarioca.net/tarde-cinzenta-j-
Texto II
carino/
Acesso em: 23 ago. 2010. (Adaptado)

33. (Cesgranrio 2011) Considere as afirmativas


abaixo, segundo o registro culto e formal da língua.
I. O uso do acento grave indicativo da crase em “às
réstias de luz que atravessam a névoa,” (ref. 24),
constitui caso de regência nominal.
II. Em “As narinas absorvem com prazer um
odor...” (ref. 25), substituindo-se o verbo
destacado por aspirar, teríamos as narinas
aspiram com prazer a um odor.
III. Acrescentando-se à expressão destacada em
“...que nos liga, timidamente, à vida ativa.” (ref.
21) o pronome minha (à minha vida ativa), o uso
do acento grave indicativo da crase passa a ser
facultativo.

Está correto o que se afirma em


a) I, apenas.
b) I e II, apenas.
c) I e III, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.
a) Caracterize os efeitos de sentido que a
34. (Uff 2010) Cacá Diegues desbrava o Brasil intertextualidade do Texto II (aspectos verbais e
como os brasilianistas de outrora e mostra uma não verbais) apresenta com o fragmento de Os
população alijada que tenta se manter entre a sertões (Texto I).
cultura tradicional – transmitida por seus b) Observe a diferença de pontuação entre “O
antepassados – e a modernidade, que como um sertanejo é, antes de tudo, um forte.” (Texto I) e
bandeirante entra nos mais longínquos rincões do “O sertanejo é antes de tudo um agitador!” (Texto
Brasil. O eterno retorno e a interminável travessia II) e comente os aspectos semântico-estilísticos
resgatada, entre outros, por Euclides da Cunha na produção de sentidos nessas duas frases.
emergem na obra de Diegues. O filme é uma forma
contemporânea de denunciar o Brasil que TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
conhecemos pouco. Em 2008, o Brasil celebra a memória de Joaquim
Maria Machado de Assis, o Bruxo do Cosme Velho,

17
que morreu há cem anos, no dia 29 de setembro, já Uma noite dessas, vindo da cidade para o
reconhecido como o maior escritor brasileiro. Engenho Novo, encontrei no trem da Central um
Revisitar a obra de Machado pensada em seu rapaz daqui do bairro, que eu conheço de vista e de
conjunto é redescobrir um dos estilos mais originais chapéu. Cumprimentou-me, sentou-se ao pé de
e modernos da literatura universal. mim, falou da lua e dos ministros, e acabou
recitando-me versos. A viagem era curta, e os
Esse texto é o último capítulo de Memórias versos pode ser que não fossem tão inteiramente
Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, maus. Sucedeu, porém, que como eu estava
obra que inaugura uma segunda etapa da produção cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes; tanto
de Machado. bastou para que ele interrompesse a leitura e
metesse os versos no bolso.
- Continue, disse eu acordando.
Capítulo CLX - DAS NEGATIVAS
- Já acabei, murmurou ele.
[...]
1 - São muito bonitos.
Este último capítulo é todo de negativas. 8
Não alcancei a celebridade do emplastro, não fui Vi-lhe fazer um gesto para 9tirá-los outra
ministro, não fui califa, não conheci o casamento. vez do bolso, mas não passou do gesto; estava
1
Verdade é que, ao lado dessas faltas, 2coube-me a amuado. No dia seguinte entrou a dizer de mim
boa fortuna de não comprar o pão com o suor do nomes feios, e acabou 3alcunhando-me de Dom
meu rosto. Mais; não padeci a morte de dona Casmurro. Os vizinhos, que não gostam dos meus
Plácida, nem a semidemência de Quincas Borba. hábitos 2reclusos e calados, 5deram curso à
3
Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa alcunha, que afinal pegou. Nem por isso me
imaginará que não houve míngua nem sobra, zanguei. Contei a anedota aos amigos da cidade, e
conseguintemente que saí quite com a vida. E eles, por graça, chamam-me assim, alguns em
imaginará mal; porque 4ao chegar a esse outro lado bilhetes: "Dom Casmurro, domingo vou jantar com
do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que você" - "Vou pra Petrópolis, Dom Casmurro; a casa
é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: é a mesma da Renânia; vê se deixas essa caverna
- 9Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura do Engenho Novo, 10e vai lá passar uns quinze dias
o legado da nossa miséria. comigo." - "Meu caro Dom Casmurro, não cuide
que o dispenso do teatro amanhã; venha e dormirá
aqui na cidade; dou-lhe camarote, dou-lhe chá,
(Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado dou-lhe cama; só não lhe dou moça."
de Assis)
Não consulte dicionários. 4Casmurro não
está aqui no sentido que eles dão, mas no que lhe
35. (Ibmecrj 2009) Das alterações efetuadas em pôs o vulgo de homem calado e metido consigo.
"... não houve míngua nem sobra...", assinale a Dom veio por ironia, para atribuir-me fumos de
única que transgride a regra de concordância fidalgo. Tudo por estar cochilando! Também não
verbal. achei melhor título para a minha narração; 11se não
a) Pode existir muitas sobras. lhe guardo rancor. E com pequeno esforço, 6sendo
b) Hão de existir muitas sobras. título seu, 12poderá cuidar que a obra é sua. 7Há
c) Pode haver muitas sobras. livros que apenas terão isso de seus autores;
d) Há de haver muitas sobras. alguns nem tanto.
e) Devem existir muitas sobras.
(Dom Casmurro, Machado de Assis)
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Joaquim Maria Machado de Assis é cronista,
contista, dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, 36. (Ibmecrj 2009) Das alterações efetuadas em
romancista, crítico e ensaísta. "Há livros que apenas terão isso de seus
autores...", (ref. 7) assinale a única que transgride
Em 2008, comemora-se o centenário de sua morte,
a regra de concordância verbal.
ocorrida em setembro de 1908. Machado de Assis
é considerado o mais canônico escritor da a) Pode haver muitos livros.
Literatura Brasileira e deixou uma rica produção b) Hão de existir muitos livros.
literária composta de textos dos mais variados c) Devem existir muitos livros.
gêneros, em que se destacam o conto e o romance. d) Há de haver muitos livros.
e) Pode existir muitos livros.
Segue o texto desse autor, em prosa.

Capítulo Primeiro - Do título

18
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
TEXTO IV

O dia abriu seu para-sol bordado

O dia abriu seu para-sol bordado


De nuvens e de verde ramaria.
E estava até um fumo, que subia,
Mi-nu-ci-o-sa-men-te desenhado.

Depois surgiu, no céu azul arqueado,


A Lua – a Lua! – em pleno meio-dia.
Na rua, um menininho que seguia
Parou, ficou a olhá-la admirado...

Pus meus sapatos na janela alta,


Sobre o rebordo... Céu é que lhes falta No dia 15 de outubro - dia do professor -
Pra suportarem a existência rude! publicaram-se, no jornal "O Globo", duas matérias
publicitárias relativas à data.
E eles sonham, imóveis, deslumbrados,
a) Compare as duas matérias publicitárias (Texto I
Que são dois velhos barcos, encalhados e Texto II) e depreenda, na mensagem de cada
Sobre a margem tranquila de um açude..
texto, uma característica que aponte diferentes
MARIO QUINTANA
papéis exercidos pelo professor na sociedade.
Prosa e verso. Porto Alegre: Globo, 1978.
b) Retire, das tabuletas do Texto II, um exemplo de
inadequação em relação à grafia, concordância,
37. (Uerj 2009) Há no poema de Mario Quintana regência e pontuação, reescrevendo-os de acordo
um mesmo sinal de pontuação – o ponto de com a língua padrão.
exclamação – que aparece em versos diferentes e ________________________________________
com sentidos distintos. ________________________________________
Explicite o valor semântico atribuído a esse sinal ________________________________________
em cada um dos versos. ________________________________________
________________________________________
38. (Uff 2007) TEXTO I ________________________________________
________________________________________
__________________________________
Sabe os dias do aviador, do advogado, do médico,
do engenheiro?
39. (Pucrj 2007) a) Reescreva duas vezes a
Só existem por causa do dia de hoje.
segunda oração do período a seguir, substituindo o
verbo "VIVER" por cada um dos seguintes verbos:
15 de outubro,
Dia do professor I) lidar
II) depender
Uma homenagem do Globo e do programa Quem
Lê Jornal Sabe Mais, que capacita centenas de
"Ele é nossa principal tecnologia social, por
professores para, através da leitura crítica do jornal, meio da qual vivemos hoje."
levar seus alunos a ocupar um lugar importante no
mundo: o de cidadão. ________________________________________
________________________________________
________________________________________
TEXTO II ________________________________________
________________________________________
________________________

b) Pontue o período a seguir, empregando apenas


um sinal de vírgula e um de dois pontos.

É aquela velha história se você coloca


coisas caras em casa vai precisar pôr trancas nas

19
portas e grades nas janelas. c) - "Viva o nosso Presidente! Viva o Estado Novo!"
(ref. 3)
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: d) Logo abaixo, em garranchos brancos: "Viva
De súbito, os alto-falantes da Rádio Prestes! Morra o fascismo!" (ref. 4)
Anunciadora Serrana, presos aos postes e) Gardel silenciara: agora os violinos cantavam em
telefônicos ao longo da Rua do Comércio, melosa surdina, (ref. 5)
começaram a funcionar, e o ar se encheu de sons
que pareciam sair da boca de enormes robôs. O TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
vento varria as vozes metálicas que apregoavam a BALADA DO REI DAS SEREIAS
excelência de dentifrícios, inseticidas, sabonetes, e
pediam ao público que só comprasse na O rei atirou
"tradicional Loja Caramês, onde um cruzeiro vale Seu anel ao mar
três". Quando as vozes se calaram, romperam dos
E disse às sereias:
alto-falantes os acordes lânguidos dum velho tango
argentino, e o choro das cordeonas abafou a - Ide-o lá buscar,
lamúria do vento. Que se o não trouxerdes,
Naquele minuto, o Veiguinha saiu da Casa Virareis espuma
Sol, caminhou até a beira da calçada, trazendo Das ondas do mar!
debaixo do braço um quadro que durante sete anos
tivera pendurado na parede do escritório e, olhando Foram as sereias,
para um mulato que passava, exclamou:
Não tardou, voltaram
- Este é o dia mais feliz da minha vida!
1
Com o perdido anel.
Dito isto, agarrou o quadro com ambas as
Maldito o capricho
mãos e bateu com ele violentamente contra a quina
da calçada, partindo a moldura e o vidro. Depois, De rei tão cruel!
numa fúria que o deixava apoplético, arrancou
dentre os destroços do quadro o retrato do ex- O rei atirou
Presidente e rasgou-o em muitos pedaços, Grãos de arroz ao mar
lançando-os ao vento num gesto dramático: E disse às sereias:
- Este é o fim de todos os tiranos! - Ide-os lá buscar,
O mulato parou, olhou para o proprietário Que se os não trouxerdes,
da Casa Sol e disse:
Virareis espuma
- Deixe estar, um dia esse retrato volta pra
parede. 2Os milicos derrubaram o Velho, mas ele Das ondas do mar!
caiu de pé nos braços do povo!
- 3"Viva o nosso Presidente! Viva o Estado Foram as sereias
Novo!" Não tardou, voltaram,
Do outro lado da rua, à frente da Casa Sol, Não faltava um grão.
lia-se no muro caiado, em largas letras de piche: Maldito o capricho
"Queremos Getúlio". Logo abaixo, em garranchos Do mau coração!
brancos: 4"Viva Prestes! Morra o fascismo!" E, entre
a foice e o martelo, um moleque gravara no reboco,
à ponta de prego, um nome feio.
5
Gardel silenciara: agora os violinos O rei atirou
cantavam em melosa surdina, e a voz do sueste Sua filha ao mar
parecia também fazer parte da orquestra, bem E disse às sereias:
como o rufar do motor do Rosa-dos-Ventos. - Ide-a lá buscar,
Érico Veríssimo. O tempo e o vento. Que se a não trouxerdes,
Virareis espuma
40. (Uff 2006) Assinale a opção em que a pausa, Das ondas do mar!
marcada pela pontuação, inicia uma outra
sequência temporal na estrutura da narrativa.
Foram as sereias...
a) Dito isto, agarrou o quadro com ambas as mãos
e bateu com ele violentamente contra a quina da Quem as viu voltar?...
calçada (ref. 1) Não voltaram nunca!
b) Os milicos derrubaram o Velho, mas ele caiu de Viraram espuma
pé nos braços do povo. (ref. 2) Das ondas do mar.
(BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio

20
de Janeiro: José Aguilar, 1974.) A prática da gramática não deve estar desvinculada
da percepção das diferenças na produção de
41. (Uerj 2006) Entre os traços estilísticos sentido, encaminhadas pela língua no processo de
presentes no poema, destaca-se o emprego da comunicação.
pontuação em desacordo com as prescrições
propostas pela norma culta. Explique as diferentes regências do verbo
A passagem do texto modificada para atender aos "combater" e as decorrentes produções de sentido
padrões de pontuação da norma culta está no contexto em que se inserem:
presente em: "Combateremos a sombra. Com crase e sem
a) Seu anel ao mar, (v. 2) crase."
b) Que, se o não trouxerdes, (v. 5) ________________________________________
c) Não tardou voltaram, (v. 9) ________________________________________
d) - Ide-os, lá, buscar (v. 16)
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
42. (Uerj 2005) O CORPO

Acrobata enredado
Em clausura de pele
Sem nenhuma ruptura
Para onde me leva
Sua estrutura?

Doce máquina
Com engrenagem de músculos
Suspiro e rangido
O espaço devora
Seu movimento
(Braços e pernas
sem explosão)
22º. Anuário de Criação da Cidade de São Paulo
Engenho de febre
(INFANTE, Ulisses. "Curso de gramática: aplicada Sono e lembrança
aos textos". São Paulo: Scipione, 2001.) Que arma
E desarma minha morte
O emprego de ponto ao final da palavra "crack", no Em armadura de treva.
anúncio, é um recurso utilizado para mostrar que:
a) a legenda constitui enunciado completo, ARMANDO FREITAS FILHO
expressando ideia de princípio, meio e fim http://geocities.yahoo.com.br/jerusalem_
b) a mensagem tem caráter moralizante, 3/armandofreitasfilho.html
ressaltando o potencial destrutivo das drogas
c) a construção fere a norma padrão da língua,
enfatizando o impacto da mensagem 44. (Uerj 2005) "Engenho de febre
d) a palavra adquire valor onomatopéico, Sono e lembrança
reproduzindo o som da fratura presente na Que arma
imagem E desarma minha morte
Em armadura de treva."
43. (Uff 2005)
A ausência de pontuação nessa última estrofe do
poema pode nos levar a diferentes leituras do texto.
A única interpretação incoerente desse trecho é
apresentada em:
a) Engenho de febre e de sono, e lembrança que
arma e desarma minha morte em armadura de
treva.

21
b) Engenho de febre, de sono e de lembrança, a d) "(...) pros ricos ficar tudo pobre?" (ref. 4).
qual arma e desarma minha morte em armadura e) "Você sabe qual é a coisa mais melhor do
de treva. mundo?" (ref. 5).
c) Engenho de febre, de sono e de lembrança, o
qual arma e desarma minha morte em armadura TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
de treva. Casamento
d) Engenho de febre, engenho que é sono e
lembrança, e que arma e desarma minha morte Há mulheres que dizem:
em armadura de treva.
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: mas que limpe os peixes.
O preto Henrique tomou o caneco das mãos da Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
preta velha e bebeu dois tragos. ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
- Ainda tá quente, meu filho? É o restinho... de vez em quando os cotovelos se esbarram,
- 1Tá, tia. Bota mais. ele fala coisas como "este foi difícil"
Quando acabou, disse:
- Você lembra dessas histórias que você sabe, "prateou no ar dando rabanadas"
minha tia? e faz o gesto com a mão.
- Que histórias? O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
- Essas histórias de escravidão... atravessa a cozinha como um rio profundo.
- O que é que tem? Por fim, os peixes na travessa,
- 2Você vai esquecer elas todas. vamos dormir.
- Quando? Coisas prateadas espocam:
- No dia em que nós for dono disso... somos noivo e noiva.
- Dono de quê? PRADO, Adélia. Poesia reunida. São Paulo:
- Disso tudo... Da Bahia... do Brasil... Siciliano, 1991, p. 252.
- Como é isso, meu filho?
- 3Quando a gente não quiser mais ser escravo dos
ricos, titia, e acabar com eles... 46. (Ufrrj 2005) Em "este foi difícil", marque a
- Quem é que vai fazer feitiço tão grande 4pros ricos opção que apresenta a justificativa correta para o
ficar tudo pobre? uso das aspas:
- Os pobres mesmo, titia. a) mudança do interlocutor.
- Negro é escravo. Negro não briga com branco. b) ironia.
Branco é senhor dele. c) ênfase.
d) estilo poético da autora.
- O negro é liberto, tia.
e) exemplificação.
- Eu sei. Foi a Princesa Isabel, no tempo do
Imperador. Mas negro continua a respeitar o TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
branco... Saímos à varanda, dali à chácara, e foi então que
- Mas a gente agora livra o preto de vez, velha. notei uma circunstância. Eugênia coxeava um
- 5Você sabe qual é a coisa mais melhor do mundo, pouco, tão pouco, que eu cheguei a perguntar-lhe
Henrique? se machucara o pé. A mãe calou-se; e a filha
- Não. respondeu sem titubear:
- Não sabe o que é? É cavalo. Se não fosse cavalo, - Não, senhor, sou coxa de nascença.
branco montava em negro... O pior é que era coxa. Uns olhos tão lúcidos, uma
Adap. AMADO, Jorge. Suor. Rio de Janeiro: Record, 1984, 43ª boca tão fresca, uma compostura tão senhoril; e
ed., p.43/44. coxa! Esse contraste faria suspeitar que a natureza
é às vezes um imenso escárnio. Por que bonita, se
45. (Ufrrj 2005) O texto encontra-se repleto de coxa? Por que coxa, se bonita?
expressões próprias do padrão coloquial. A Essa voz saía de mim mesmo, e tinha duas origens:
passagem que apresenta inadequação ao padrão a piedade, que me desarmava ante a candura da
culto da língua, quanto à concordância verbal, é: pequena, e o terror de vir a amar deveras, e
a) "Tá, tia. Bota mais." (ref. 1). desposá-la. Uma mulher coxa!
b) "Você vai esquecer elas todas." (ref. 2). Foi na varanda, na tarde de uma segunda-feira, ao
c) "Quando a gente não quiser mais ser escravo anunciar-lhe que na seguinte manhã partiria:
dos ricos (...)" (ref. 3).

22
- Adeus, suspirou ela, faz bem em fugir ao ridículo d) representa uma exceção às regras do sistema
de casar comigo. de pontuação canônica.
Ia dizer-lhe que não; ela retirou-se lentamente, e) colabora para a construção da identidade do
engolindo as lágrimas. Alcancei-a a poucos narrador pouco escolarizado.
passos, e jurei-lhe por todos os santos do céu que
eu era obrigado a partir, mas que não deixava de 49. (Enem 2016) Quem procura a essência de um
lhe querer muito; tudo hipérboles frias, que ela conto no espaço que fica entre a obra e seu autor
escutou sem dizer nada. comete um erro: é muito melhor procurar não no
Adap. de: ASSIS, M. de. Memórias Póstumas de terreno que fica entre o escritor e sua obra, mas
Brás Cubas. São Paulo: Ática, 1991, 17ª ed., p. 53- justamente no terreno que fica entre o texto e seu
55. leitor.
OZ, A. De amor e trevas.
São Paulo: Cia. das Letras. 2005 (fragmento).
47. (Ufrrj 2004) "Uns olhos tão lúcidos, uma boca
tão fresca, uma compostura tão senhoril; e coxa!"
A utilização do ponto-e-vírgula nessa frase tem a A progressão temática de um texto pode ser
função de estruturada por meio de diferentes recursos
a) esclarecer uma consequência do que foi coesivos, entre os quais se destaca a pontuação.
enunciado. Nesse texto, o emprego dos dois pontos caracteriza
b) alongar uma pausa, para acentuar seu sentido uma operação textual realizada com a finalidade de
adversativo. a) comparar elementos opostos.
c) separar orações que têm o mesmo valor e b) relacionar informações gradativas.
extensão. c) intensificar um problema conceitual.
d) dividir períodos longos em partes menores, mas d) introduzir um argumento esclarecedor.
simétricas. e) assinalar uma consequência hipotética.
e) distinguir diversos itens de um enunciado
enumerativo. 50. (Enem 2016) L.J.C.

48. (Enem 2017) O homem disse, Está a chover, e — 5 tiros?


depois, Quem é você, Não sou daqui, Anda à — É.
procura de comida, Sim, há quatro dias que não — Brincando de pegador?
comemos, E como sabe que são quatro dias, É um — É. O PM pensou que...
cálculo, Está sozinha, Estou com o meu marido e — Hoje?
uns companheiros, Quantos são, Ao todo, sete; Se — Cedinho.
estão a pensar em ficar conosco, tirem daí o
sentido, já somos muitos, Só estamos de COELHO, M ln: FREIRE, M. (Org). Os cem
passagem, Donde vêm, Estivemos internados menores contos brasileiros do século.
desde que a cegueira começou, Ah, sim, a São Paulo: Ateliê Editorial. 2004.
quarentena, não serviu de nada. Porque diz isso,
Deixaram-nos sair, Houve um incêndio e nesse
momento percebemos que os soldados que nos Os sinais de pontuação são elementos com
vigiavam tinham desaparecido, E saíram, Sim, Os importantes funções para a progressão temática.
vossos soldados devem ter sido dos últimos a Nesse miniconto, as reticências foram utilizadas
cegar, toda a gente está cega, Toda a gente, a para indicar
cidade toda, o país, a) uma fala hesitante.
b) uma informação implícita.
SARAMAGO, J. Ensaio sobre a cegueira. São c) uma situação incoerente.
Paulo: Cia. das Letras. 1995. d) a eliminação de uma ideia.
e) a interrupção de uma ação.

A cena retrata as experiências das personagens


em um país atingido por uma epidemia. No diálogo,
a violação de determinadas regras de pontuação
a) revela uma incompatibilidade entre o sistema de
pontuação convencional e a produção do gênero
romance.
b) provoca uma leitura equivocada das frases
interrogativas e prejudica a verossimilhança.
c) singulariza o estilo do autor e auxilia na
representação do ambiente caótico.

23
daquele homem que de certo modo eu amava. Não
o amava como a mulher que eu seria um dia,
amava-o como uma criança que tenta
desastradamente proteger um adulto, com a cólera
de quem ainda não foi covarde e vê um homem
LITERATURA – Apostila 3 forte de ombros tão curvos.

Modernismo LISPECTOR, C. Os desastres de Sofia. In:A legião


estrangeira. São Paulo: Ática, 1997.
1. (Enem 2018) – Famigerado? [...]
– Famigerado é “inóxio”, é “célebre”, “notório”,
“notável” ... Entre os elementos constitutivos dos gêneros está
– Vosmecê mal não veja em minha grossaria no a sua própria estrutura composicional, que pode
não entender. Mais me diga: é desaforado? É apresentar um ou mais tipos textuais,
caçoável? É de arrenegar? Farsância? Nome de considerando-se o objetivo do autor. Nesse
ofensa? fragmento, a sequência textual que caracteriza o
– Vilta nenhuma, nenhum doesto. São expressões gênero conto é a
neutras, de outros usos ... a)expositiva, em que se apresentam as razões da
– Pois ... e o que é que é, em fala de pobre, atitude provocativa da aluna.
linguagem de em dia de semana? b)injuntiva, em que se busca demonstrar uma
– Famigerado? Bem. É: “importante”, que merece ordem dada pelo professor à aluna.
louvor, respeito ... c)descritiva, em que se constrói a imagem do
professor com base nos sentidos da narradora.
ROSA, G. Famigerado. In: Primeiras estórias. Rio d)argumentativa, em que se defende a opinião da
de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. enunciadora sobre o personagem-professor.
e)narrativa, em que se contam fatos ocorridos com
o professor e a aluna em certo tempo e lugar.
Nesse texto, a associação de vocábulos da língua
portuguesa a determinados dias da semana 3. (Enem PPL 2018) Ela parecia pedir socorro
remete ao contra o que de algum modo involuntariamente
a)local de origem dos interlocutores. dissera. E ele com os olhos miúdos quis que ela
b)estado emocional dos interlocutores. não fugisse e falou:
c)grau de coloquialidade da comunicação. — Repita o que você disse, Lóri.
d)nível de intimidade entre os interlocutores. — Não sei mais.
e)conhecimento compartilhado na comunicação. — Mas eu sei, eu vou saber sempre. Você
literalmente disse: um dia será o mundo com sua
2. (Enem PPL 2018) Qualquer que tivesse sido o impersonalidade soberba versus a minha extrema
seu trabalho anterior, ele o abandonara, mudara individualidade de pessoa, mas seremos um só.
de profissão e passara pesadamente a ensinar no — Sim.
curso primário: era tudo o que sabíamos dele. Lóri estava suavemente espantada. Então isso era
a felicidade. De início se sentiu vazia. Depois seus
O professor era gordo, grande e silencioso, de olhos ficaram úmidos: era felicidade, mas como sou
ombros contraídos. Em vez de nó na garganta, mortal, como o amor pelo mundo me transcende. O
tinha ombros contraídos. Usava paletó curto amor pela vida mortal a assassinava docemente,
demais, óculos sem aro, com um fio de ouro aos poucos. E o que é que eu faço? Que faço da
encimando o nariz grosso e romano. E eu era felicidade? Que faço dessa paz estranha e aguda,
atraída por ele. Não amor, mas atraída pelo seu que já está começando a me doer como uma
silêncio e pela controlada impaciência que ele angústia, como um grande silêncio de espaços? A
tinha em nos ensinar e que, ofendida, eu quem dou minha felicidade, que já está começando
adivinhara. Passei a me comportar mal na sala. a me rasgar um pouco e me assusta? Não, não
Falava muito alto, mexia com os colegas, quero ser feliz. Prefiro a mediocridade. Ah, milhares
interrompia a lição com piadinhas, até que ele de pessoas não têm coragem de pelo menos
dizia, vermelho: prolongar-se um pouco mais nessa coisa
desconhecida que é sentir-se feliz e preferem a
– Cale-se ou expulso a senhora da sala. mediocridade. Ela se despediu de Ulisses quase
correndo: ele era o perigo.
Ferida, triunfante, eu respondia em desafio: pode
me mandar! Ele não mandava, senão estaria me LISPECTOR, C. Uma aprendizagem ou o livro dos
obedecendo. Mas eu o exasperava tanto que se prazeres. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1990.
tornara doloroso para mim ser objeto do ódio A obra de Clarice Lispector alcança forte

24
expressividade em razão de determinadas b)utilização de formas verbais que marcam tempos
soluções narrativas. narrativos variados.
c)indeterminação dos sujeitos de ações que
No fragmento, o processo que leva a essa caracterizam os eventos narrados.
expressividade fundamenta-se no d)justaposição de frases que relacionam
a)desencontro estabelecido no diálogo do par semanticamente os acontecimentos narrados.
amoroso. e)recorrência de expressões adverbiais que
b)exercício de análise filosófica conduzido pelo organizam temporalmente a narrativa.
narrador.
c)registro do processo de autoconhecimento da 6. (Enem 2018) O trabalho não era penoso: colar
personagem. rótulos, meter vidros em caixas, etiquetá-las, selá-
d)discurso fragmentado como reflexo de traumas las, envolvê-las em papel celofane, branco, verde,
psicológicos. azul, conforme o produto, separá-las em dúzias...
e)afastamento da voz narrativa em relação aos Era fastidioso. Para passar mais rapidamente as
dramas existenciais. oito horas havia o remédio: conversar. Era proibido,
mas quem ia atrás de proibições? O patrão vinha?
4. (Enem PPL 2018) E fui mostrar ao ilustre Vinha o encarregado do serviço? Calavam o bico,
hóspede [o governador do Estado] a serraria, o aplicavam-se ao trabalho. Mal viravam as costas,
descaroçador e o estábulo. Expliquei em resumo a voltavam a taramelar. As mãos não paravam, as
prensa, o dínamo, as serras e o banheiro línguas não paravam. Nessas conversas
carrapaticida. De repente supus que a escola intermináveis, de linguagem solta e assuntos crus,
poderia trazer a benevolência do governador para Leniza se completou. Isabela, Afonsina, Idália,
certos favores que eu tencionava solicitar. Jurete, Deolinda – foram mestras. O mundo acabou
de se desvendar. Leniza perdeu o tom ingênuo que
— Pois sim senhor. Quando V. Exª. vier aqui outra ainda podia ter. Ganhou um jogar de corpo que
vez, encontrará essa gente aprendendo cartilha. convida, um quebrar de olhos que promete tudo, à
toa, gratuitamente. Modificou-se o timbre de sua
RAMOS, G. São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, voz. Ficou mais quente. A própria inteligência se
1991. transformou. Tornou-se mais aguda, mais
trepidamente.

O fragmento do romance de Graciliano Ramos REBELO, M. A estrela sobe. Rio de Janeiro: José
dialoga com o contexto da Primeira República no Olympio, 2009.
Brasil, ao focalizar o(a)
a)derrocada de práticas clientelistas.
b)declínio do antigo atraso socioeconômico. O romance, de 1939, trazer à cena tipos e
c)liberalismo desapartado de favores do Estado. situações que espelham o Rio de Janeiro daquela
d)fortalecimento de políticas públicas educacionais. década. No fragmento, o narrador delineia esse
e)aliança entre a elite agrária e os dirigentes contexto centrado no
políticos. a)julgamento da mulher fora do espaço doméstico.
b)relato sobre as condições de trabalho no Estado
5. (Enem 2018) Certa vez minha mãe surrou-me Novo.
com uma corda nodosa que me pintou as costas de c)destaque a grupos populares na condição de
manchas sangrentas. Moído, virando a cabeça com protagonistas.
dificuldade, eu distinguia nas costelas grandes d)processo de inclusão do palavrão nos hábitos de
lanhos vermelhos. Deitaram-me, enrolaram-me em linguagem.
panos molhados com água de sal – e houve uma e)vínculo entre as transformações urbanas e os
discussão na família. Minha avó, que nos visitava, papéis femininos.
condenou o procedimento da filha e esta afligiu-se.
Irritada, ferira-me à toa, sem querer. Não guardei 7. (Enem PPL 2018) Gaetaninho
ódio a minha mãe: o culpado era o nó.
Ali na Rua do Oriente a ralé quando muito andava
RAMOS, G. Infância. Rio de Janeiro: Record, 1998. de bonde. De automóvel ou de carro só mesmo em
dia de enterro. De enterro ou de casamento. Por
isso mesmo o sonho de Gaetaninho era de
Num texto narrativo, a sequência dos fatos contribui realização muito difícil. Um sonho. [...]
para a progressão temática. No fragmento, esse
processo é indicado – Traga a bola! Gaetaninho saiu correndo.
a)pela a alternância das pessoas do discurso que
determinam o foco narrativo. Antes de alcançar a bola um bonde o pegou. Pegou

25
e matou. esquecidos
de alguma coisa. Certamente falta-lhes
No bonde vinha o pai do Gaetaninho. não sei que atributo essencial, posto se
apresentem nobres
A gurizada assustada espalhou a notícia na noite. e graves, por vezes. Ah, espantosamente graves,
até sinistros. Coitados, dir-se-ia não escutam
– Sabe o Gaetaninho? nem o canto do ar nem os segredos do feno,
como também parecem não enxergar o que é
– Que é que tem? visível
e comum a cada um de nós, no espaço. E ficam
– Amassou o bonde! tristes
e no rasto da tristeza chegam à crueldade.
A vizinhança limpou com benzina suas roupas (...)
domingueiras.
Carlos Drummond de Andrade, “Um boi vê os
Às dezesseis horas do dia seguinte saiu um enterro homens”. Claro enigma.
da Rua do Oriente e Gaetaninho não ia na boleia
de nenhum dos carros do acompanhamento. Ia no
da frente dentro de um caixão fechado com flores a) Em ambos os textos, o assombro de quem vê
pobres por cima. Vestia a roupa marinheira, tinha decorre das avaliações contrastantes sobre
as ligas, mas não levava a palhetinha. quem é visto. Justifique essa afirmação com
base em cada um dos textos.
Quem na boleia de um dos carros do cortejo mirim b) O conto de Rosa e o poema de Drummond
exibia soberbo terno vermelho que feria a vista da valem-se de uma mesma figura de linguagem.
gente era o Beppino. Explicite essa figura e justifique sua resposta.

MACHADO, A. A. Brás, Bexiga e Barra Funda: notícias de São


Paulo. Belo Horizonte; Rio de Janeiro: Vila Rica, 1994. 10. (Fuvest 2019) E grita a piranha cor de palha,
irritadíssima:
Situada no contexto da modernização da cidade de – Tenho dentes de navalha, e com um pulo de ida‐
São Paulo na década de 1920, a narrativa utiliza e‐volta resolvo a questão!...
recursos expressivos inovadores, como
– Exagero... – diz a arraia – eu durmo na areia, de
a)o registro informal da linguagem e o emprego de ferrão a prumo, e sempre há um descuidoso que
frases curtas.
vem se espetar.
b)o apelo ao modelo cinematográfico com base em – Pois, amigas, – murmura o gimnoto*, mole,
imagens desconexas.
carregando a bateria – nem quero pensar no
c)a representação de elementos urbanos e a
assunto: se eu soltar três pensamentos elétricos,
prevalência do discurso direto.
bate‐poço, poço em volta, até vocês duas boiarão
d)a encenação crua da morte em contraponto ao
mortas...
tom respeitoso do discurso.
e)a percepção irônica da vida assinalada pelo uso
*peixe elétrico.
reiterado de exclamações.
Esse texto, extraído de Sagarana, de Guimarães
9. (Fuvest 2019) Leia os textos.
Rosa,
a)antecipa o destino funesto do ex‐militar Cassiano
– Eu acho que nós, bois, – Dançador diz, com baba
Gomes e do marido traído Turíbio Todo, em
– assim como os cachorros, as pedras, as árvores,
“Duelo”, ao qual serve como epígrafe.
somos pessoas soltas, com beiradas, começo e
b)assemelha‐se ao caráter existencial da disputa
fim. O homem, não: o homem pode se ajuntar com
entre Brilhante, Dansador e Rodapião na novela
as coisas, se encostar nelas, crescer, mudar de
“Conversa de Bois”.
forma e de jeito… O homem tem partes mágicas…
c)reúne as três figurações do protagonista da
São as mãos… Eu sei…
novela “A hora e vez de Augusto Matraga”, assim
denominados: Augusto Estêves, Nhô Augusto e
João Guimarães Rosa, “Conversa de bois”.
Augusto Matraga.
Sagarana.
d)representa o misticismo e a atmosfera de
feitiçaria que envolve o preto velho João
Mangalô e sua desavença com o narrador‐
Um boi vê os homens
personagem José, em “São Marcos”.
Tão delicados (mais que um arbusto) e correm
e correm de um para o outro lado, sempre

26
e)constitui uma das cantigas de “O burrinho pessoa! Por Deus, pois não fora verdadeira a
Pedrês”, em que a sagacidade da boiada se piedade que sondara no seu coração as águas
sobressai à ignorância do burrinho. mais profundas? Mas era uma piedade de leão.”

11. (Upf 2019) Quanto à moça, ela vive num limbo (Clarice Lispector, “Amor”, em Laços de família. 20ª
impessoal, sem alcançar o pior nem o melhor. Ela ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1990, p. 39.)
somente vive, inspirando e expirando, inspirando e
expirando. Na verdade – para que mais que isso?
O seu viver é ralo. Sim. Mas por que estou me Ao caracterizar a personagem Ana, a expressão
sentindo culpado? E procurando aliviar-me do peso “piedade de leão” reúne valores opostos,
de nada ter feito de concreto em benefício da moça. remetendo simultaneamente à compaixão e à
[...] ferocidade. É correto afirmar que, no conto “Amor”,
essa formulação
[...] Vou agora começar pelo meio dizendo que – a)revela um embate de natureza social, já que a
– que ela era incompetente, incompetente para a pobreza do cego causa náuseas na
vida. Faltava-lhe o jeito de se ajeitar. Só vagamente personagem.
tomava conhecimento da espécie de ausência que b)expressa o dilema cristão da alma pecadora
tinha de si em si mesma. Se fosse criatura que se diante de sua incapacidade de fazer o bem.
exprimisse diria: o mundo é fora de mim, eu sou c)indica um conflito psicológico, uma vez que a
fora de mim. (Vai ser difícil escrever esta história. personagem não se sente capaz de amar.
Apesar de eu não ter nada a ver com a moça, terei d)alude a um contraste moral e existencial que
que me escrever todo através dela por entre provoca na personagem um sentimento de
espantos meus. Os fatos são sonoros mas entre os angústia.
fatos há um sussurro. É um sussurro que me
impressiona). 13. (Ufrgs 2019) No bloco superior abaixo, estão
listados os nomes de personagens de A hora da
(LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela.) estrela, de Clarice Lispector, e de Gota d’água, de
Chico Buarque e Paulo Pontes; no inferior, trechos
relacionados a essas personagens.
Considerando o fragmento transcrito de A hora da
estrela e o romance como um todo, assinale a Associe adequadamente o bloco inferior ao
alternativa cujas informações preenchem superior.
corretamente as lacunas do enunciado a seguir.
1. Macabéa
A experiência de impessoalidade e __________ 2. Joana
que caracterizam Macabea evidenciam
__________ existentes entre a protagonista e ( ) Ninguém vai sambar na minha caveira. Vocês
aquele que conduz o relato, ao mesmo tempo em tão de prova: eu não sou mulher pra macho
que sensibilizam este último e o levam a tentar chegar e usar como quer, depois dizer tchau.
transpor __________ da moça, exprimindo a ( ) Pra não ser trapo nem lixo, nem sombra,
situação enfrentada por ela. Essa tentativa deverá objeto, nada, eu prefiro ser um bicho, ser esta
__________ da personagem, à medida que besta danada. Me arrasto, berro, me xingo,
inscrever, na história dela, os espantos que me mordo, babo, me bato, me mato, mato e
experimenta na condição de narrador e que, me vingo, me vingo, me mato e mato.
inevitavelmente, atravessarão a sua escrita. ( ) Então defendia-se da morte por intermédio de
a)a alienação / as diferenças / a incapacidade / um viver de menos, gastando pouco de sua
aproximá-lo. vida para esta não se acabar.
b)a alienação / as diferenças / a revolta / aproximá- ( ) Ela nascera com maus antecedentes e agora
lo. parecia uma filha de um não-sei-o-quê com ar
c)a alienação / as semelhanças / a revolta / de se desculpar por ocupar espaço.
aproximá-lo.
d)a alienação / as diferenças / a revolta / distanciá- A sequência correta de preenchimento dos
lo. parênteses, de cima para baixo, é
e)o conformismo / as semelhanças / a incapacidade a)2 – 2 – 1 – 1.
/ distanciá-lo. b)2 – 1 – 1 – 2.
c)2 – 1 – 2 – 1.
12. (Unicamp 2019) “Um cego me levou ao pior de d)1 – 2 – 2 – 1.
mim mesma, pensou espantada. Sentia-se banida e)1 – 1 – 2 – 2.
porque nenhum pobre beberia água nas suas mãos
ardentes. Ah! era mais fácil ser um santo que uma

27
14. (Ita 2019) Leia o poema de autoria de Cecília das estrelas, da lua,
Meireles. das nuvens e do vento,
que se desenha a tua
“Epigrama n. 04” face no firmamento.

O choro vem perto dos olhos Desenha-se tão pura


para que a dor transborde e caia. como nunca a tiveste,
O choro vem quase chorando nem nenhuma criatura.
como a onda que toca a praia. Pois é sombra celeste
da terrena aventura.
Descem dos céus ordens augustas (...)
e o mar chama a onda para o centro.
O choro foge sem vestígios, Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as
mas levando náufragos dentro. seguintes afirmações sobre os poemas.

(MEIRELES, Cecília, Viagem/Vaga música. Rio de ( ) Ambos os sujeitos líricos comparam o ser
Janeiro: Nova Fronteira, 1982.p.43) amado à perfeição divina.
( ) Ambos os sujeitos líricos veem o amor de
modo idealizado.
O texto ( ) Ambos os sujeitos líricos falam diretamente ao
ser amado.
I. aproxima metaforicamente um fenômeno ( ) Ambos os poemas citam diretamente a voz da
humano e um fenômeno natural a partir da opinião pública.
identificação de, pelo menos, um traço comum a
ambos: água em movimento. A sequência correta de preenchimento dos
II. sugere que, enquanto o movimento do choro é parênteses, de cima para baixo, é
ligado à variação das emoções, o movimento da a)V – V – V – F.
onda deve-se a forças naturais, responsáveis b)V – V – F – V.
pela circularidade marítima. c)F – F – V – V.
III. ameniza o dramatismo do choro humano, pois, d)F – V – F – V.
quando acomete o sujeito, ele passa e)V – F – V – F.
naturalmente, como a onda que volta ao mar.
IV. leva-nos a perceber que o choro contido tem um
impacto emocional que o torna desolador.

Estão corretas:
a)I e II apenas;
b)I, II e IV apenas;
c)I, III e IV apenas;
d)II e III apenas;
e)todas.

15. (Ufrgs 2019) Leia trechos dos poemas


“Fanatismo”, de Florbela Espanca, e “Imagem”, de
Cecília Meireles.

Fanatismo

(...)
“Tudo no mundo é frágil, tudo passa...”
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, digo de rastros:


“Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio e Fim!...”

Imagem

Tão brando é o movimento

28
16. (Unifesp 2019) A verve social da poesia de
João Cabral de Melo Neto mostra-se mais evidente 17. (Unifesp 2019) Os __________ haviam
nos versos: “civilizado” a imagem do índio, injetando nele os
a) A cana cortada é uma foice. padrões do cavalheirismo convencional. Os
Cortada num ângulo agudo, __________, ao contrário, procuraram nele e no
ganha o gume afiado da foice negro o primitivismo, que injetaram nos padrões da
civilização dominante como renovação e quebra
que a corta em foice, um dar-se mútuo.
das convenções acadêmicas.
Menino, o gume de uma cana
cortou-me ao quase de cegar-me, (Antonio Candido. Iniciação à literatura brasileira,
e uma cicatriz, que não guardo, 2010. Adaptado.)
soube dentro de mim guardar-se.

b) Formas primitivas fecham os olhos As lacunas do texto devem ser preenchidas,


respectivamente, por
escafandros ocultam luzes frias;
a)românticos e simbolistas.
invisíveis na superfície pálpebras b)árcades e simbolistas.
não batem. c)árcades e modernistas.
Friorentos corremos ao sol gelado d)românticos e modernistas.
de teu país de mina onde guardas e)simbolistas e modernistas.
o alimento a química o enxofre
da noite. 18. (Unifesp 2019) Para exprimir seu pensamento,
este escritor teve de forjar uma língua que é só
dele. O leitor que aborda pela primeira vez um de
c) No espaço jornal seus livros fica desconcertado com a obscuridade
a sombra come a laranja, dessa língua. Mas ao mesmo tempo é subjugado,
a laranja se atira no rio, e enfeitiçado, por essa maneira inteiramente nova
não é um rio, é o mar de dizer as coisas. E pouco a pouco tudo começa
que transborda de meu olho. a adquirir um sentido, um sentido múltiplo,
ambíguo, numa palavra, poético. Seu vocabulário é
No espaço jornal
inteiramente renovado pela prática sistemática do
nascendo do relógio neologismo. Todos os recursos da fonética são
vejo mãos, não palavras, explorados.
sonho alta noite a mulher
tenho a mulher e o peixe. (Paul Teyssier. Dicionário de literatura brasileira,
2003. Adaptado.)
d) Os sonhos cobrem-se de pó.
Um último esforço de concentração
O texto refere-se ao escritor
morre no meu peito de homem enforcado. a)Guimarães Rosa.
Tenho no meu quarto manequins b)Graciliano Ramos.
corcundas c)Euclides da Cunha.
onde me reproduzo d)Machado de Assis.
e me contemplo em silêncio. e)José de Alencar.

19. (Unesp 2019) Indo às consequências finais da


e) O mar soprava sinos
posição de José de Alencar no Romantismo, esse
os sinos secavam as flores
autor adotou como base da sua obra o esforço de
as flores eram cabeças de santos.
escrever numa língua inspirada pela fala corrente e
Minha memória cheia de palavras
os modismos populares, não hesitando em usar
meus pensamentos procurando
formas consideradas incorretas, desde que
fantasmas
legitimadas pelo uso brasileiro. Com isso, foi o
meus pesadelos atrasados de muitas
maior demolidor da “pureza vernácula” e do “culto
noites.
da forma”.

(Antonio Candido. Iniciação à literatura brasileira,


2010. Adaptado.)

29
b)por ter cometido assassinatos para tornar-se o
O texto refere-se a dono de sua propriedade, é um homem sem
a)Olavo Bilac. nenhum traço de humanidade.
b)Machado de Assis. c)ele próprio reconhece que as muitas agruras
c)Mário de Andrade. pelas quais passou até enriquecer acabaram por
d)Aluísio Azevedo. lhe dar uma alma agreste.
e)Euclides da Cunha. d)após se tornar senhor da fazenda, esquece-se do
passado e abandona, até mesmo, a sua pobre
20. (Unicamp 2019) “Parábola: s.f. Narrativa mãe de criação.
alegórica que evoca, por comparação, valores de e)mesmo com a morte trágica da esposa, não
ordem superior, encerra lições de vida e pode chega a questionar o sentido dos atos que
conter preceitos morais ou religiosos.” praticou ao longo da vida.
(Caldas Aulete, Dicionário Aulete digital. Disponível
em www.aulete.com.br/parabola. Acessado em 23. (Ufrgs 2019) Assinale a alternativa correta
12/07/2018.) sobre o romance A hora da estrela, de Clarice
Lispector.
a)Rodrigo S.M. é narrador onisciente, de modelo
a) Considera-se que a novela “A hora e vez de realista tradicional.
Augusto Matraga” tem semelhanças com o b)O diário de Macabéa ocupa parte da narrativa,
gênero parábola. Justifique essa afirmação com em que aparecem seus dilemas existenciais.
base em elementos da cena final da narrativa, c)Macabéa é modelo de personagem consciente
relacionando-os com a definição apresentada. existencial e socialmente.
b) A identidade da personagem Augusto Matraga d)Olímpico é namorado de Macabéa, dedicado e
passa por um processo de transformação ao compreensivo.
longo da narrativa. Tal processo é deflagrado por e)Glória é colega de Macabéa, estabelecendo um
um evento que divide a vida do protagonista em contraponto de mulher urbana e decidida.
duas fases. Indique o evento responsável por
esse processo de transformação da personagem 24. (Upf 2019) Considere as afirmações a seguir
e explique de que maneira ele afetou a sua em relação à obra A educação pela pedra, de João
identidade. Cabral de Melo Neto.

21. (Upf 2019) Sobre Libertinagem, de Manuel I. A coletânea, que reúne 48 poemas, já indica em
Bandeira, apenas é incorreto afirmar que seu título a depuração alcançada pela poética do
a)nos poemas aí reunidos, transparece a decisão autor.
do autor de romper com o formalismo parnasiano II. O livro apresenta poemas construídos com
e simbolista, que influenciava sua produção linguagem seca, dura, precisa e concisa.
poética anterior. III. Deixando de lado a concepção romântica, o
b)o temor da morte iminente que assombra o autor faz uso de rigor matemático na construção
sujeito lírico é uma das temáticas em evidência dos poemas que integram a coletânea.
no livro, ganhando destaque, por exemplo, no
poema intitulado “Pensão familiar”. Está correto o que se afirma em
c)o poema intitulado “Poética” traz uma síntese das a)I, II e III.
ideias do autor sobre como deveria ser a poesia, b)I e III, apenas.
e manifesta sua recusa ao lirismo que não seja c)II e III, apenas.
libertação. d)I e II, apenas.
d)“Poema tirado de uma notícia de jornal”, como e)II, apenas.
sugere o próprio título, apresenta recursos
próprios à poesia lírica, assemelhando-se em TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
alguns aspectos a uma notícia de jornal. Texto para a(s) questão(ões) a seguir.
e)o livro, publicado na primeira metade do século
XX, representa um marco da poesia modernista Sonetilho do falso Fernando Pessoa
do Brasil.
Onde nasci, morri.
22. (Ita 2019) São Bernardo, de Graciliano Ramos, Onde morri, existo.
é obra representativa da Geração de 30. Em E das peles que visto
relação ao protagonista, podemos dizer que muitas há que não vi.
a)mesmo sendo um proprietário de terras de perfil
feudal, não se envolve sexualmente com as Sem mim como sem ti
serviçais da fazenda. posso durar. Desisto
de tudo quanto é misto

30
e que odiei ou senti. João Gostoso era carregador de feira livre e
morava no morro da Babilônia num barracão sem
Nem Fausto nem Mefisto, número.
à deusa que se ri Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
deste nosso oaristo*, Bebeu
Cantou
eis‐me a dizer: assisto Dançou
além, nenhum, aqui, Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e
mas não sou eu, nem isto. morreu afogado.

Carlos Drummond de Andrade.Claro Enigma. (Libertinagem & Estrela da manhã, 1993.)

*conversa íntima entre casais.

26. (Unesp 2019) a) Cite uma característica


Ulisses distintiva da poesia lírica que não se encontra
nesse poema.
O mito é o nada que é tudo. b) Cite três elementos que evidenciam o caráter
O mesmo sol que abre os céus narrativo desse poema.
É um mito brilhante e mudo ‐
O corpo morto de Deus, 27. (Unesp 2019) a) Em que verso se verifica um
Vivo e desnudo. desvio em relação à norma-padrão da língua
escrita (mas recorrente na língua oral)?
Este, que aqui aportou, Reescreva o verso, corrigindo esse desvio.
Foi por não ser existindo. b) Cite duas características, uma de natureza
Sem existir nos bastou. temática e outra de natureza formal, que afastam
Por não ter vindo foi vindo esse poema da tradição parnasiano-simbolista.
E nos criou.
28. (Unesp 2019) a) De que modo o fato de morar
Assim a lenda se escorre “num barracão sem número” contribui para a
A entrar na realidade, caracterização de João Gostoso?
E a fecundá‐la decorre. b) Cite dois elementos da linguagem jornalística
Em baixo, a vida, metade presentes no poema.
De nada, morre.

Fernando Pessoa. Mensagem.

25. (Fuvest 2019) O oxímoro é uma “figura em que


se combinam palavras de sentido oposto que
parecem excluir‐se mutuamente, mas que, no
contexto, reforçam a expressão” (HOUAISS, 2001).

No poema “Sonetilho do falso Fernando Pessoa”, o


emprego dessa figura de linguagem ocorre em:
a)“Onde morri, existo” (v. 2).
b)“E das peles que visto / muitas há que não vi” (v.
3-4).
c)“Desisto / de tudo quanto é misto / e que odiei ou
senti” (v. 6‐8).
d)“à deusa que se ri / deste nosso oaristo” (v. 10‐
11).
e)“mas não sou eu, nem isto” (v. 14).

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES:


Leia o poema de Manuel Bandeira (1886-1968)
para responder à(s) questão(ões)a seguir.

Poema tirado de uma notícia de jornal

31

Você também pode gostar