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 Resumo da Constituição Subjetiva

- O corpo limita o sujeito, mas não o determina. Não basta que uma criança
tenha inscrição simbólica para que haja sujeito, é preciso corpo, senão
seriam almas. É preciso uma base biológica bem estruturada, onde a
palavra fará seus efeitos.

- Os sistemas (motor, perceptivo, fonatório, etc) não funcionam por si só, mas
é a dimensão psíquica que os organiza.

- Para que as funções do corpo se desenvolvam é preciso que aquele que


cria, cuida, a mãe ou outra pessoa, libidinize o órgão. É assim desde a
sucção do bebê, controle do xixi, cocô, etc. O corpo é inscrito pelo Outro,
que o toma, dá lugar as funções, sentido, significação.

- Pulsão: se funda a nível psíquico algo que passa pelo corpo (da boca,
pulsão oral, etc).

- Casos de psicóticos, autistas, inibições: tem o aparelho fonatório em


condições e não fala, tem o aparelho auditivo funcionando e não escuta, ou
não sente dor. Transtornos alimentares, excrementícios, mictórios, vômitos,
etc. Essas manifestações demonstram até que ponto a expressão psíquica
pode se contrapor à função e ao desenvolvimento do órgão.

 O que acontece nas patologias nos aponta para o que acontece no


desenvolvimento normal. Todo corpo e desenvolvimento de uma criança são
ordenados simbolicamente pelo Outro, passa pelo desejo daquele que cuida,
sua história, está inserido na cultura.

- os primeiros ditos de que é parecido com a família do pai ou da mãe, o


nome que já carrega uma história, um desejo para aquela criança.

 O bebê humano, diferente dos animais, não sabe quando nasce o que fazer
para satisfazer suas necessidades, é um deficiente instintivo. Ele não nasce
como os animais sabendo qual objeto satisfaz suas necessidades. Depende do
Outro para se constituir.
- é essa insuficiência que deixa espaço para a dimensão psíquica, o que se
dá pela forma do desejo do Outro, a erogeneização do corpo do bebê.
- É assim que a mãe toma o peito como um dom, o cocô como um presente,
o olhar como convocação, etc.

 René Spitz descreveu o que ele chamou de "hospitalismo". Bebês sem os pais,
cuidados em hospitais, recebendo alimentação adequada, sendo higienizados,
etc, começavam a apresentar uma catatonia, sem reações, podendo levar a
morte. Isso pelo fato de não terem sido tomadas pelo desejo de nenhum Outro,
haviam somente cuidadores.

 Função Materna. Nesse primeiro momento a criança ocupa o lugar do objeto


que preenche a mãe. É um momento fundamental onde a mãe erogeiniza o
corpo do seu filho. Winnicott fala de um estado doentio da mãe nesse
momento inicial. O problema é quando essa mãe faz desse filho o elemento
eterno de sua plenitude.

 Um segundo momento é de fundamental importância para uma criança. Uma


mãe que diz "eu faço tudo pelo meu filho" ou "pro meu filho não falta nada",
deixa de fazer o principal, deixar espaços, vazios, faltas, não saberes, para que
seu filho possa desejar, possa fazer algo ele também.
- Às funções da mãe delineadas por Winnicott (sustentação/holding,
manuseio/handling, apresentação do objeto ou apresentação do mundo),
Jerusalinsky acrescenta a do bebê ser um objeto transicional para a mãe.

 Função paterna, Complexo de Édipo, castração. Trata-se do momento


onde o bebê não está mais só para sua mãe, mas tanto a mãe passa seu
desejo por outro lugar que não só seu filho, como o bebê passa a partir daí
a dirigir seu desejo para esse mais além da mãe. É o que irá permitir a
criança ser curiosa, brincar, poder se aventurar no mundo sem que "caia", é
a inserção da criança na cultura propriamente dita.

- A criança não está a mercê só do pai e da mãe, ela está inserida em uma
rede de significações. Sendo assim, não se pode usar de um determinismo
linear, tal pai, tal mãe, é igual a tal filho, pois há influência de toda a rede
simbólica na qual está inserida a criança.

BIBLIOGRAFIA

BERNARDINO, L. M. F. (org.) Neurose Infantil versus neurose da criança. Salvador: Ágalma-


Psicanálise, 1997.
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