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DA SÍNCRESE À SÍNTESE: CONTRIBUIÇÕES DA PEDAGOGIA

HISTÓRICO-CRÍTICA PARA A APROPRIAÇÃO DO CONCEITO CIENTÍFICO


EM SALA DE AULA
Sandra Aparecida Pires Franco - UEL
sandrafranco26@hotmail.com
Elza Tie Fujita – UEL
elzafj@hotmail.com
Geuciane Felipe Guerim - UEL
geu_tc@hotmail.com
Marta Silene Ferreira Barros – UEL
mbarros_22@hotmail.com

Agência Financiadora: OBEDUC/CAPES

EIXO TEMÁTICO: Saberes e Práticas Docentes

RESUMO

O presente estudo tem como objetivo discutir os encaminhamentos para o


aperfeiçoamento da práxis pedagógica em sala de aula e para a construção do
conhecimento científico, por meio da metodologia proposta pela Pedagogia Histórico-
Crítica. Realizou-se um projeto de intervenção em uma sala do 9º ano do ensino
fundamental nas aulas de Educação Física, em uma escola localizada na região Sul
do município de Londrina, Estado do Paraná. A pesquisa proposta de caráter descritivo
e qualitativo tem como fundamento a Pedagogia Histórico-Crítica, o Materialismo
Histórico-Dialético e a Teoria Histórico-Cultural, em que por meio do diálogo com os
autores que tratam sobre esta temática, tais como Duarte (2008); Gasparin (2007) e
Moura; Sforni; Araújo (2011); Saviani (2011) e Vygotsky (2008). Nela, busca-se realizar
uma análise de textos produzidos pelos alunos com o intuito de investigar as
apropriações dos conceitos científicos e a influência da práxis docente neste processo.
Os resultados obtidos permitem afirmar que a construção do conhecimento científico
se realiza em um processo dinâmico e dialético, que por meio de análises e reflexões,
torna-se possível compreender a realidade como um produto histórico e o
conhecimento como produção humana.

Palavras-chaves: Pedagogia Histórico-Crítica. Práxis Pedagógica, Apropriação dos


Conceitos Científicos.

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objetivo discutir os encaminhamentos


possíveis para o aperfeiçoamento da práxis pedagógica em sala de aula

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enquanto contribuição para a formação dos conceitos científicos no contexto
escolar.
A apropriação dos conceitos científicos acontece quando conseguimos
transformá-los em instrumento simbólicos que possibilitam uma ação, ou seja,
quando estabelecemos relação entre o seu significado social e o sentido
pessoal que atribuímos ao mesmo.
Destarte, podemos afirmar “[...] que o desenvolvimento da psique
humana acontece por meio da apropriação, pelo indivíduo, dos resultados do
desenvolvimento histórico-social da humanidade” (MOURA; SFORNI; ARAÚJO,
2011, p. 45).
No aspecto geral, quando a escola consegue fazer com que o aluno se
aproprie de saber elaborado, o mesmo terá a possibilidade de ir além dos
conceitos cotidianos, reelaborando-os e os incorporando aos conceitos
científicos permitindo assim que os alunos conheçam e possam intervir na
realidade que o cerca. (DUARTE, 2008).
Desta forma, o educador tem a importante responsabilidade de orientar o
processo de apropriação do conhecimento científico na prática educacional.
Neste processo, a práxis pedagógica deve procurar se estruturar a fim de
permitir que a interação entre os sujeitos aconteça, e que mediado por um
conteúdo os significados sejam compartilhados com o objetivo de solucionar
coletivamente uma situação problema.

2. METODOLOGIA

A presente pesquisa faz parte do Programa Observatório da Educação


(OBEDUC), da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Para a efetivação
deste estudo foi realizado um processo de intervenção nas aulas de Educação
Física em uma sala do 9º ano do Ensino Fundamental de uma escola
localizada na região Sul do município de Londrina, Estado do Paraná.
Devido à constatação de dados que demonstram um crescente aumento
da obesidade e sedentarismo entre os jovens e os prejuízos que os mesmos
acarretam à saúde, elaborou-se uma proposta pedagógica pautada nos
pressupostos teóricos da Pedagogia Histórico-Crítica, com o intuito de

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investigar as contribuições da metodologia elaborada por Gasparin (2007) na
construção de conceitos científicos e na formação humana do aluno.
Importante destacar que se trata de uma pesquisa descritiva de cunho
qualitativo, no qual foram utilizados textos produzidos pelos alunos com o
intuito de investigar e apreender as apropriações dos mesmos referentes ao
conteúdo proposto.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Buscando contextualizar a Pedagogia Histórico-Crítica enquanto teoria


pertinente para sustentar a práxis desenvolvida em sala de aula, Saviani (2011)
enfatiza que esta Pedagogia visa articular uma proposta pedagógica capaz de
superar as concepções de manutenção e reprodução da sociedade,
compreendendo os condicionantes sociais que interferem sobre a educação,
porém interferindo reciprocamente, de forma a assumir o compromisso de
contribuir para a transformação da sociedade.
Com o propósito de contribuir para essa nova forma de conduzir o
processo do ensino e da aprendizagem, Gasparin (2012) por meio da
Pedagogia Histórico-Crítica buscou desenvolver um processo metodológico
que interligasse a prática social vivenciada pelo aluno com o conhecimento
teórico, retornando para uma prática social transformadora. “Deste enfoque,
defende-se o caminhar da realidade social, como um todo, para a
especificidade teórica da sala de aula e desta para a totalidade social
novamente, tornando-se possível um rico processo dialético de trabalho
pedagógico”. (GASPARIN, 2007, p. 3-4).
Assim, na etapa inicial da intervenção foi solicitado aos alunos a
elaboração de um texto no qual os mesmos deveriam discorrer sobre o que
sabiam a respeito da “diabetes”, a fim de apreendermos o conhecimento prévio
do aluno referente ao tema. Os textos analisados comprovam que no processo
inicial os alunos possuem apenas uma visão caótica e sincrética acerca do
conteúdo, no qual:

Frequentemente é uma percepção de senso comum, empírica, um


tanto confusa, em que tudo, de certa forma, aparece como natural.
Todavia, essa prática do educando é sempre uma totalidade que

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representa sua visão de mundo, sua concepção da realidade, ainda
que, muitas vezes, naturalizada. (GASPARIN, 2007, p. 18).

Assim, é perceptível a necessidade do professor ter a consciência de


que o saber elaborado deve ser contextualizado com o conhecimento cotidiano
do aluno, para que o mesmo possa se apropriar e incorporar novos saberes
que o permita compreender e transformar o meio em que vive. Para que o
processo de desenvolvimento ocorra torna-se necessário um planejamento
intencional que envolva forma e conteúdo de modo articulado. Para Vygotsky
(2008, p. 72) “[...] a formação dos conceitos é o resultado de uma atividade
complexa, em que todas as funções intelectuais básicas tomam parte”. A
atenção, a formação das imagens, o uso dos signos fazem parte do processo
que contribui para a formação dos conceitos.
O professor exerce o importante papel de mediar o processo de
apropriação do conhecimento, pois segundo a Teoria Histórico-Cultural, no
contexto escolar ocorre uma dupla mediação, a que ocorre na relação
professor e aluno e a que ocorre entre o aluno e o conteúdo escolar.
Partindo dessas considerações, a proposta de intervenção foi pautada
nos pressupostos da Pedagogia Histórica-Crítica com a finalidade de promover
o acesso ao saber elaborado e assegurar que os conteúdos científicos sejam
assimilados pelos alunos com o intuito de humanizar e instrumentalizar os
mesmos. Importante destacar que o plano de aula, procurou abordar as
múltiplas dimensões do conteúdo, pois,

[...] é necessário lembrar, na construção do conhecimento escolar,


que a ciência é um produto social, nascida de necessidades
históricas, econômicas, políticas, ideológicas, filosóficas, religiosas,
técnicas etc. Todo conteúdo, portanto, reveste-se dessas dimensões,
as quais devem ser tratadas juntamente com a dimensão dita
científica. (GASPARIN, 2007, p. 40).

É por meio do confronto entre conhecimento de senso comum trazido


pelos alunos e o conhecimento científico levado pelo professor que ocorre o
processo de ruptura e continuidade. Efetivado o processo de intervenção,
solicitamos aos alunos a elaboração de um novo texto no qual deveriam
discorrer acerca das aprendizagens sobre o tema “diabetes”. Por meio das
análises dos textos, constatamos que 69% dos alunos conseguiram demonstrar
por meio dos textos a apropriação da dimensão conceitual do conteúdo

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abordado de forma mais elaborada, sendo que somente 31% permaneceram
no conhecimento de senso comum.
Por meio da análise dos textos percebemos que a metodologia
elaborada por Gasparin (2007) auxiliou na assimilação e construção do
conhecimento científico, pois durante as aulas constatamos que os alunos se
envolveram mais com as atividades, houve maior participação, debates,
melhora na produção textual, na atenção e no comportamento dos alunos ao
longo das explicações do professor.
Assim, a formação de conceitos não ocorre por meio de atos mecânicos,
a aprendizagem inicia com a generalização elementar do conceito e a medida
que esse conceito vai sendo assimilado, passando a ser incorporado como
propriedade do sujeito, o mesmo vai gradativamente desenvolvendo a
compreensão do conteúdo culminando na formação dos conceitos científicos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A metodologia proposta por Gasparin (2007), assim como os


fundamentos da Pedagogia Histórico-Crítica e da Teoria Histórico-Cultural
propõem uma nova forma de planejar e executar as ações em sala de aula, por
meio de um processo de tomada de consciência por professores e alunos que
buscam mutuamente contextualizar o conhecimento cotidiano e apropriar-se
dele mais tarde, como uma construção social, respondendo aos problemas
colocados sobre a prática social e retornando a esta prática social com uma
nova visão de mundo.
Diante dos resultados obtidos, percebemos que a construção dos
conceitos científicos pressupõe uma práxis docente que conduza o aluno por
meio do confronto entre o conhecimento cotidiano e conhecimento científico à
incorporação de um novo saber científico, possibilitando ao aluno o
desenvolvimento das funções psicológicas superiores e a efetivação do seu
processo de humanização.

REFERÊNCIAS

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MOURA, Manoel Oriosvaldo de. SFORNI, Marta Sueli de Faria. ARAÚJO,
Elaine Sampaio. Objetivação e apropriação de conhecimentos na atividade
orientadora de ensino. Revista Teoria e Prática da Educação, v. 14, n. 1, p.
39-50, jan./abr. 2011. Disponível em:
<www.dtp.uem.br/rtpe/volumes/v14n1/04.pdf>Acesso em: 15 jan. 2014.

DUARTE, Newton. Sociedade do conhecimento ou sociedade das ilusões?


quatro ensaios crítico-dialéticos em filosofia da educação/ Newton Duarte.
-I. ed., I. reimpressão - Campinas, SP: Autores Associados, 2008. - (Coleção
polêmicas do nosso tempo, 86)

GASPARIN, João Luiz. Uma didática para a pedagogia histórico-crítica. 4


ed. rev. e ampl. Campinas, SP. Autores Associados, 2007.

SAVIANI, Dermeval. Pedagogia Histórico-Crítica: primeiras aproximações.


11. ed. Campinas: Autores Associados, 2011.

VYGOTSKY, Lev Semenovich. Pensamento e Linguagem. Tradução de


Jefferson Luiz Camargo. São Paulo. Martins Fontes, 2008. 194 p. Tradução de
Thought and Language.

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