Mulher 24 HORAS

Informativo do Sindicato dos Bancários/ES - Coordenador Geral: Jonas Freire Santana - Diretor de Imprensa: Carlos Pereira de Araújo - Editoras: Bruna Mesquita Gati - MTb 3049-ES e
Elaine Dal Gobbo MTb 2381-ES - Estagiária: Júlia Zumerle - Diagramação: Jorge Luiz (MTb 041/96) - nº 112 - Agosto/Setembro/2017 - mulher24horas@bancarios-es.org.br - Tiragem: 10.000 exemplares

Editorial
Mulheres na luta
contra as reformas
A proposta de reforma da
Previdência e a já aprovada re-
forma trabalhista são alguns dos
retrocessos do governo Michel
Temer (PMDB) que levarão à
perda de direitos conquistados
há décadas pelos trabalhadores
e trabalhadoras do Brasil.
Por mais que essas re-
formas tragam prejuízos para
toda a classe trabalhadora, em
função das diferenças de gêne-
ro vivenciadas em nossa socie-
dade, as mulheres serão ainda
mais prejudicadas. Por isso,
esta edição do Mulher 24h vai
tratar especialmente dos impac-
tos que as reformas trabalhista
e da Previdência trarão para as
trabalhadoras.
É necessário levar em
consideração que numa socie-
dade machista, na qual a desi-
gualdade de gênero se repro-
duz também no mercado de
trabalho, a retirada de direitos
contribui para o aumento des-
sas desigualdades.
As mulheres estiveram
presentes em todas as lutas
para conquistar esses direitos.
Assim como o protagonismo
delas foi essencial nesses mo-
VEJA NESTA EDIÇÃO mentos, agora elas também
estão nas ruas, nos sindicatos,
Reforma da Previdência Terceirização e reforma nos movimentos sociais, forta-
compromete trabalhista retiram direitos lecendo as mobilizações con-
aposentadoria das trabalhadoras tra as reformas. E as mulheres
bancárias se somam nessa luta.
2 4 Boa leitura.

Mulher 24 Horas - 112 - JUNHO - JULHO - 2017.indd 1 28/07/2017 14:34:09

 Reforma da Previdência compromete
qualidade de vida das trabalhadoras
As trabalhadoras
estão entre as
mais prejudicadas
pela reforma da
Previdência. Uma
das explicações
para isso está na
desigualdade entre
homens e mulheres
no mercado de
trabalho.
S
egundo a pesqui-
sadora do Institu-
to de Economia
da Universidade Fede-
ral do Rio de Janeiro
(UFRJ) Denise Gentil,
as mulheres têm mais dificuldade do
que os homens de encontrar empre-
go. A taxa de desemprego entre elas
é de 8,7% contra 5,2% deles, segun-
do a Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílio (PNAD) 2014. Quan-
do as mulheres conseguem empre-
go, essas ocupações são mais precá-
rias, geralmente na informalidade,
sem carteira de trabalho, enfrentan-
do uma rotatividade muito maior do
que o trabalho masculino.
Essa realidade já reflete nas
aposentadorias femininas. Denise
Gentil salienta que nas regras atuais
Retirada de direitos preocupa bancárias
Falta de perspectiva. Esse é
o sentimento que a diretora do Sin-
dicato dos Bancários/ES Lindalva
Firme aponta sobre a aposentado-
ria – sentimento compartilhado com
outras bancárias, que acreditam que
com a reforma da Previdência não
terão possibilidade de se aposentar.
“Esse pensamento é por cau-
sa dos obstáculos que a reforma co-
loca para a aposentadoria. Eu, por
exemplo, nas regras atuais, me apo-
2 Mulher 24 HORAS
Mulher 24 Horas - 112 - JUNHO - JULHO - 2017.indd 2
a maioria das mulheres se aposen-
tam somente por idade. “A maior
parte não consegue aposentar por
tempo de contribuição. Em 2014,
por exemplo, 64,5% das aposenta-
dorias concedidas para as mulheres
foram por idade, enquanto para os
homens foram 36%. As mulheres
não conseguem trabalhar com car-
teira assinada por muito tempo em
virtude do cuidado com os filhos,
com a escola dos filhos, com os do-
entes. Isso faz com que elas sacrifi-
quem demais as carreiras delas”,
explica.
Essa situação pode piorar com
sentaria com cerca de 45 anos. Caso
a reforma seja aprovada, só poderei
usufruir do direito à aposentadoria
com mais de 60, isso se eu contribuir
com a Previdência ininterruptamen-
te”, diz Lindalva.
A sindicalista afirma que a
reforma trabalhista também tira o
direito à aposentadoria. “A da Pre-
vidência estabelece uma meta de
idade e tempo de contribuição. A
trabalhista tira a possibilidade de
as mudanças previstas
na reforma da Previ-
dência, que prevê idade
mínima para aposenta-
doria de 62 anos e 25
de contribuição. Deni-
se Gentil enfatiza que,
por terem que conciliar
sua atuação no merca-
do de trabalho com os
afazeres domésticos,
as mulheres trabalham
muito mais do que os
homens.
“Em virtude des-
sa conciliação, se um
homem e uma mulher
entrarem no mercado
de trabalho aos 17 anos, quando
eles chegarem aos 65 anos, a mu-
lher terá trabalhado 9 anos a mais
que o homem. Ou seja, os formu-
ladores da reforma da Previdência
querem punir as mulheres por elas
trabalharem mais, por buscarem um
nível de escolaridade mais elevado a
cada ano e por viverem mais. Isso é
injusto, desigual, assimétrico. As de-
sigualdades entre homens e mulhe-
res no mercado de trabalho foram
descartadas com alto grau de discri-
minação e desprezo pelos formula-
dores da reforma”, diz.
atingir essa meta ao jogar a classe
trabalhadora para o desemprego ou
para empregos precarizados. Nós,
do Bradesco, já estamos passando
por um Plano de Desligamento Vo-
luntário Especial (PDVE), lançado
logo após a aprovação da reforma
trabalhista. Está claro que o objetivo
é abrir caminho para ampliação de
contratações precarizadas, como por
meio de terceirização, PJ e contrato
intermitente”, afirma.
28/07/2017 14:34:09
 Palavra de Mulher

Reformas do Governo Temer

legalizam a escravidão no Brasil Sérgio Cardoso

L ívia Moraes – professora do

departamento de ciências sociais e da
pós-graduação em política social da UFES­­­­
A quem beneficiam as re- criando a categoria de tra-
formas trabalhista e da Previ- balhador hipossuficiente,
dência? que não terá nenhuma ne-
Beneficiam as grandes em- gociação coletiva, toda ne-
presas. Além disso, há o imbrica- gociação vai ser direta com
mento entre as burguesias nacio- o patrão. Abrange também
nal e internacional, já que quase o trabalhador rural, que vai
todas as empresas são de capital poder receber alimentação
aberto. Tem dinheiro do exterior, como pagamento, ou seja,
tem fundo de pensão internacio- você legaliza e instituciona-
nal, então é o capitalismo como liza a escravidão no Brasil.
um todo tendo interesse na apro- O trabalho intermi-
vação dessas reformas. Não dá tente é outro problema. O
pra explorar mais com a legislação trabalhador vai ser chama-
atual, e a opção é fragilizar o direi- do em determinados horá-
to dos trabalhadores para conse- rios do dia, da semana, do
guir explorá-los ainda mais. mês, e só vai receber refe-
Você fala do grande em- rente ao que trabalhou. Se
presariado, mas a reforma ficar largos períodos sem salário, ele consegue sentir na pele
trabalhista se sustentou em trabalhar, não terá direito ao segu- e ter vontade de lutar contra.
parte no discurso do peque- ro-desemprego, pois não está de- E o impacto das reformas
no empresário, que reclama sempregado, está à disposição de para as mulheres?
dos altos impostos, que não uma empresa. Em momentos de crise os
consegue contratar suposta- A resposta para isso é a empregos ficam mais precários,
mente por causa dos encar- luta popular? e são principalmente elas que
gos trabalhistas... A pressão popular é extrema- ocupam esses cargos precários.
Ao mesmo tempo em que mente necessária nesse momento, O teletrabalho, por exemplo, vem
há esse discurso, eles estão incen- e só assim temos chances de barrar com o discurso que beneficia as
tivando que as pessoas se tornem as reformas. Inclusive, a terceiriza- mulheres porque permite que
empresárias. Uma das pautas da ção, a PEC do fim do mundo [PEC elas trabalhem de casa, conci-
reforma trabalhista é a facilida- liando o trabalho doméstico,
de do processo de “Pjotização”, “A pressão popular é extremamente mas a regulamentação do te-
quando o indivíduo se torna letrabalho não põe limite de
necessária nesse momento, e só assim
pessoa jurídica e a relação com jornada, é ilimitado, sendo
temos chances de barrar as reformas”
a empresa não é como trabalha- que há tecnologia para saber,
dor, mas como microempresá- mesmo de casa, quanto tem-
rio, perdendo direitos trabalhistas 241], a reforma do ensino médio e po a pessoa trabalhou. Não há
Podemos dimensionar o a reforma trabalhista, todas devem nenhuma obrigação do patrão
impacto dessas mudanças na ser revogadas. É o momento de sair em relação aos instrumentos de
legislação trabalhista? às ruas, trocar experiências, fazer trabalho, ao gasto com energia,
Não tem um ponto que be- um debate baseado em demandas alimentação... o trabalhador vai
neficia os trabalhadores. Incide so- concretas da população. Quando ter todo o encargo do trabalho, e
bre o trabalhador mais precário e você fala que uma reforma vai dei- geralmente são as mulheres que
até sobre o que ganha R$ 10 mil, xar o trabalhador sem almoço, sem ocupam esses postos.

Mulher 24 HORAS 3

Mulher 24 Horas - 112 - JUNHO - JULHO - 2017.indd 3 28/07/2017 14:34:10


Mulher 24 HORAS
Reforma trabalhista
e os impactos na
vida das mulheres
A
reforma trabalhista esteve
entre as prioridades do presi-
dente Michel Temer desde o
início de seu governo ilegítimo. Para
a professora do Departamento de
Serviço Social da Ufes Maria Helena
Elpídio, a reforma causa o desmon-
te de direitos que são estruturantes
na relação do trabalhador com seu
empregador, além de fragilizar e pre-
carizar ainda mais as condições de
trabalho. Diversos pontos da refor-
ma atingem as mulheres, entre elas,
as trabalhadoras gestantes.
“Antes as mulheres grávidas
tinham uma proteção no sentido de
que havia um conjunto de ativida-
des em locais insalubres e condições
inadequadas que a grávida não po-
dia estar exposta. Grande parte des-
sas atividades deixarão de ser consi-
deradas insalubres”, diz.
A professora afirma que isso-
acontecerá por causa da predomi-
nância do negociado sobre o legis-
lado. “Antes havia um conjunto de
proteções asseguradas no âmbito do
trabalho coletivo e assegurados pela
via do sindicato. Com a reforma,
cada trabalhador pode negociar in-
dividualmente com seu patrão quais
são as regras do jogo”, destaca.
Maria Helena Elpídio salienta
que a reforma trabalhista dificulta a
4 Mulher 24 HORAS
Mulher 24 Horas - 112 - JUNHO - JULHO - 2017.indd 4
inserção dos trabalhadores e traba-
lhadoras no mercado. Um exemplo
disso é a ampliação da pejotização,
fazendo com que a pessoa deixe de
ser um trabalhador formal, com car-
teira assinada.
Assim, amplia-se uma relação
por meio da qual o trabalhador vai
ter que ficar à disposição daquela
empresa e ela vai acioná-lo de tem-
pos em tempos conforme a sua de-
manda, dentro de um contrato com-
pletamente flexível.
Segundo a professora, nes-
se contexto, as mudanças também
impactam de forma diferente as
mulheres negras. “Muitas pesquisas
mostram que as mulheres e princi-
palmente as negras já ocupam os
cargos com menores remunerações,
trabalhos desprotegidos, principal-
mente as domésticas e as que tra-
balham com serviços gerais. Essas
reformas vão rebater primeiramente
nesses segmentos mais subalterni-
zados, que já têm trabalho precário,
com apelo de que essa é a forma
melhor de inserção dessas mulhe-
res no mercado de trabalho, ou
seja, através do chamado pequeno
empreendedorismo, de uma lógica
individualizante que responsabilize
essa mulher pelas suas condições de
sobrevivência”, destaca.
Mala Direta Postal
Básica
9912258789/2014-DR/ES
SINDIBANCÁRIOS-ES
... CORREIOS ...
Salários rebaixados
Em março foi sancionado o PL
4302/98, permitindo que qualquer
trabalhador, seja do serviço público
ou privado, possa ser terceirizado.
Essa mesma medida está presen-
te na reforma trabalhista e significa
uma grande retirada de direitos, por
exemplo, na questão da redução sa-
larial. Segundo a Pesquisa Terceiriza-
ção e Desenvolvimento – Uma conta
que não fecha, a remuneração dos
trabalhadores terceirizados é cerca de
24,7% menor que a dos contratados
diretos.
Esse rebaixamento dos salá-
rios afetará principalmente as mu-
lheres. Maria Helena Elpídio destaca
que, para além do mercado de traba-
lho formal ou informal, as mulheres
executam as atividades domésticas.
Com o achatamento dos salários essa
dupla jornada tende a aumentar.
“Quando o salário é menor,
maior a exploração do trabalho da
mulher dentro e fora de casa. Se
ela ganha menos, trabalha mais
para compensar o salário que dei-
xou de ganhar nas relações flexíveis
e precárias de trabalho. Se tem um
poder aquisitivo menor, vai ter que
concentrar energia no trabalho do-
méstico como um todo, pois não
vai poder pagar por determinados
serviços. Vai ter que se desdobrar
em funções que antes poderiam ser
redistribuídas, contratadas, subloca-
das ou divididas entre os membros
da família, pois a tendência geral é
ampliar a escala de exploração para
a família como um todo”, explica
Maria Helena Elpídio.
@
Mulheres
@
antenadas
Envie suas sugestões, poesias
e comentários para o e-mail
mulher24horas@bancarios-es.org.br
28/07/2017 14:34:11