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Populismo de Direita: Guerras Culturais e Antipetismo

Esther Solano Gallego

Esther Solano Gallego (Foto: Facebook)


“O Movimento Brasil Livre defende uma política neoliberal de estado mínimo. Posicionou-se
abertamente a favor da agenda de privatizações do prefeito João Doria na cidade de São
Paulo, assim como das reformas trabalhista e da previdência apresentadas pelo governo
Temer.

Aqui que emerge a raiz do problema: não existe consenso social no Brasil de aceitação das
políticas neoliberais, de ajuste fiscal e de desidratação do Estado.

Segundo pesquisa realizada por Datafolha, 71% dos brasileiros rejeita a reforma da
previdência apresentada pelo governo Temer . Também segundo Datafolha, 64% avalia que
a reforma trabalhista trará mais benefícios aos empresários do que para os trabalhadores. Da
mesma forma, pesquisa de Vox Populi indica que a PEC 241, que prevê o congelamento de
gastos públicos durante duas décadas, é rejeitada por 70% dos brasileiros. Finalmente,
pesquisa do Instituto Data Popular mostra que 81% dos brasileiros prefere ter acesso a
serviços públicos melhores a pagar menos impostos.

Levando isso em consideração, a defensa explícita de políticas neoliberais não parece ser a
melhor estratégia para o MBL dilate sua base de apoio.

Se a defesa desta agenda econômica não pode ser o foco da atuação política por ser
impopular e impedir o crescimento do grupo, mude-se a estratégia.

Quais são as pautas que podem ajudar ao MBL a estabelecer um diálogo com a população, e
expandir sua influência política?

Dois eixos fundamentais estabelecem a base deste novo populismo de


direita:
1) antipetismo, que foi o vetor indiscutível de crescimento do grupo
durante 2015 e 2016 e

2) guerras culturais, ou seja, a busca por polêmicas morais (sobre tudo


questões que envolvem sexualidade, população LGBTQ, educação…)
conduzidas desde uma posição de censura ultraconservadora, que tem sido
a estratégia de 2017.
Antipetismo e guerras culturais. Note-se que este tipo de populismo se fundamenta na
negação do “outro”, seja do PT, seja na forma de acusações de pedofilia, doutrinamento,
ideologia de gênero.

Ou seja, não é uma identidade construída afirmativamente, em base a um certo programa


político. Na ausência de propostas, é uma identidade que se fortalece no ataque ao
adversário numa dinâmica bélica, que fomenta a polêmica histérica, a censura, o
aniquilamento do outro como interlocutor.

Não se pretende dialogar, não se procura o entendimento ou o debate. Procura-se alimentar a


notoriedade em base à retórica do enfrentamento.

Na verdade, pouco importa o conteúdo do tema, o essencial é que crie controvérsia. Pouco
importa a corrupção na luta contra a mesma. Pouco importa a escola no projeto Escola sem
Partido. Pouco importa a arte no Queermuseu. Pouco importa o gênero na formulação da
“ideologia de gênero”.

O que importa é provocar temas morais para agitar a sociedade e esticar o domínio do grupo.
Este populismo, portanto, se nutre e também aprofunda a polarização social brasileira
justamente por insistir na confrontação.

Não podemos negar que esta estratégia está dando certo. Legitimou socialmente o
impeachment e continua ajudando a aumentar a popularidade do MBL no caminho eleitoral
de 2018.

Riscos óbvios derivam da mesma porque a verdadeira intenção deste grupo, que é a
implementação da agenda neoliberal, se esconde atrás de uma cortina de fumaça.

A um ano da eleição presidencial, em vez de discutir questões programáticas de importância


crucial para o Estado brasileiro, como, por exemplo, as reformas econômicas que o
Congresso está votando, a opinião pública brasileira fica capturada pela lógica infantil
imposta pelo MBL.

Além disso, o debate público fica refém de uma lógica moralista, que divide o mundo num
binômio simplório do bem contra o mal, e ultraconservadora que ameaça as liberdades mais
básicas.

E os grupos progressistas? Infelizmente, fixaram-se numa posição reativa da qual não


conseguem sair. Quem pauta o debate são os grupos de direita. O campo progressista só
reage”. (…)

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