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2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE TUTELA COLETIVA -

NÚCLEO DUQUE DE CAXIAS


Patrimônio Público e Social – Meio Ambiente – Consumidor – Cidadania

EXMO. SR. DR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE DUQUE DE


CAXIAS

Ref. Inquérito Civil 2008.2205.02

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO,


inscrito no CNPJ sob o nº 28.305.936-0001/40, com sede na Rua General Dionísio,
Quadra 115, 6º andar, Jardim 25 de Agosto, Duque de Caxias, pela Promotora de
Justiça que esta subscreve, vem, no uso de suas atribuições legais, com fundamento
nos artigos 1º e seguintes da Lei n.º 7347/85 e no artigo 82, I, da Lei nº 8078/90, com
base nas informações existentes no inquérito civil n.º 2008.2205, que a esta serve de
base, propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA CONSUMERISTA

em face da SOCIEDADE COLÉGIO ARAÚJO PETRA LTDA., inscrita no CNPJ sob o


nº 06.046.565/0001-96, situada à Rodovia Washington Luiz, Quadra 02, Lote 05,São

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Judas Tadeu, Duque de Caxias, RJ, na pessoa de seu representante legal, pelos
fundamentos adiante expostos

1. DOS FATOS

A demandada é renomada pessoa jurídica de direito privado, cujo objeto é


a prestação de serviços educacionais pertinentes ao ensino fundamental e médio, no
Município de Duque de Caxias (vide fl. 10 do inquérito civil).

Aos 06 dias do mês de março de 2009, foi instaurado nesta Promotoria


inquérito civil visando apurar notícia de que a parte ré estaria condicionando a emissão
do histórico escolar e de declaração, ao pagamento da quantia de R$ 20,00 (vinte reais)
e R$ 30,00 (trinta reais) para histórico de ensino fundamental e ensino,
respectivamente, e R$ 10,00 (dez reais) para declaração, bem como cobrando uma
“taxa” de R$ 200,00 (duzentos reais) para expedição do certificado de conclusão de
curso ou diplomas, conforme se depreende das fls.04, 05, 10, 21 a 23, 36 e 37, do
procedimento investigatório que acompanha a presente.

Com fito de instruir o citado feito foi expedido ofício a parte ré, que
esclareceu que a cobrança para expedição do diploma estaria pautada na Deliberação
n.º 115, de 24 de janeiro de 1985, e a cobrança dos históricos escolares e das
declarações, seriam para cobrir o custo da impressão( fl. 10 do inquérito civil).

Procedeu-se também à expedição de ofício ao Ministério da Educação,


que em resposta apontou a existência da Portaria Normativa n.º 40, de 12 de dezembro
de 2007, na qual o art. 32, § 4º, que considera que a expedição de diploma está
incluída nos serviços educacionais prestados pela instituição, não ensejando a
cobrança de qualquer valor (fl. 16, do inquérito civil).

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Em ato contínuo, oficiou-se à Secretaria Estadual de Educação, que


esclareceu que, segundo informações prestadas pelo Conselho Estadual de Educação,
a Deliberação CEE/RJ n.º 115/1985 foi revogada pela Lei Federal n.º 8.170/1990, que
posteriormente foi revogada pela Lei n.º 9.870/1999 ( fls. 40 a 44, do inquérito civil).

As imputações são corroboradas pela própria demandada (fls. 10, 31 e


47, do inquérito civil) e pelos representantes através da juntada dos comprovantes de
pagamento (fls. 22 e 37, do inquérito civil).

Vale ressaltar, que antes de se socorrer do Poder Judiciário, o Ministério


Público buscou a solução extrajudicial da celeuma, através da celebração de termo de
ajustamento de conduta, restando, contudo, tal tentativa frustrada, diante da recusa da
parte ré em reconhecer sua inadequação aos ditames legais e regulamentares (fl. 47).

Em suma, temos como apurada a prática de conduta lesiva ao


consumidor, a saber: a cobrança indevida para expedição de diplomas, certidões,
declarações e históricos escolares, como se pode concluir pelos fundamentos jurídicos
a seguir colacionados.

2. DO DIREITO

2.1 DA ILEGALIDADE DA COBRANÇA POR EMISSÃO DE CERTIFICADO DE


CONCLUSÃO DE CURSO, DECLARAÇÕES E HISTÓRICOS ESCOLARES

Restou patente que a parte ré compeli os seus formandos a pagar uma


“taxa” para lograrem o consectário lógico da conclusão de qualquer curso, qual seja, a

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expedição e registro do documento que, publicamente, lhes declara aprovados no


ensino fundamental e médio.

E mais, mesmo arcando as mensalidades os alunos da Instituição pagam


pelo recebimento de documento declarando que estão regularmente matriculados, bem
como pelo histórico escolar, que atesta toda sua vida discente.

Destaque-se que estes documentos são de fundamental importância para


fazer prova da qualificação profissional do aluno, viabilizando seu ingresso no Ensino
Superior, a transferência para outra instituição ou simplesmente o recebimento de
algum benefício atrelado à sua qualidade de estudante.

De certo que se trata de Instituição de Ensino Privado, cujo objetivo é


ministrar aulas e ser remunerada através das mensalidades pagas pelos alunos e por
seus pais.

Contudo, não se pode olvidar que em torno deste serviço principal, será
necessária a efetivação de outras atividades por parte da contratada, como a emissão
de históricos, declarações, certificados, inerentes ao objetivo último do aluno, qual seja,
completar o curso e estar apto para ingressar em uma Faculdade ou no mercado de
trabalho.

Desta forma, qualquer aluno que ingresse no primeiro ou segundo ciclo,


ou mesmo em um curso técnico almeja absorver os conhecimento ali ministrados e, por
conseguinte, comprovar o que foi aprendido.

Assim, entende-se como abusiva a cobrança da taxa para expedição e


registro do diploma de conclusão do curso, pois referido documento está intimamente
ligado e constitui o fim último dos cursos.

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A normatização da celeuma encontra respalda em nossa Lei Maior e na


Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei n.º 9.394/96), que dispõem:

Constituição da República

“Art. 6º - São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a


moradia,lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma
desta Constituição.

Art. 205 - A educação, direito de todos e dever do Estado e da família,


será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando
ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Art. 209 - O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as seguintes


condições:
I - cumprimento das normas gerais da educação nacional;
II - autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Público.

Art. 211 - A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios


organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino.
§ 1º - A União organizará o sistema federal de ensino e o dos Territórios,
financiará as instituições de ensino públicas federais e exercerá, em
matéria educacional, função redistributiva e supletiva, de forma a garantir
equalização de oportunidades educacionais e padrão mínimo de

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qualidade do ensino mediante assistência técnica e financeira aos


Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios.

Art. 214 - A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração


plurianual, visando à articulação e ao desenvolvimento do ensino em seus
diversos níveis e à integração das ações do Poder Público que conduzam
à:
(...)
IV - formação para o trabalho;”

Lei nº 9.394/96 - Estabelece as diretrizes e bases da educação


nacional (LDB)

Art. 1º - A educação abrange os processos formativos que se


desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas
instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações
da sociedade civil e nas manifestações culturais.

§ 1º - Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve,


predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias.

§ 2º - A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e a


prática social.

Art. 2º - A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos


princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por
finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

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Art. 3º - O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:


(...)
XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.

Art. 7º - O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as seguintes


condições:
I - cumprimento das normas gerais da educação nacional e do respectivo
sistema de ensino;

Art. 17. Os sistemas de ensino dos Estados e do Distrito Federal


compreendem:
I - as instituições de ensino mantidas, respectivamente, pelo Poder
Público estadual e pelo Distrito Federal;
II - as instituições de educação superior mantidas pelo Poder Público
municipal;
III - as instituições de ensino fundamental e médio criadas e mantidas
pela iniciativa privada;
IV - os órgãos de educação estaduais e do Distrito Federal,
respectivamente.

Parágrafo único. No Distrito Federal, as instituições de educação infantil,


criadas e mantidas pela iniciativa privada, integram seu sistema de
ensino.

Art. 22. A educação básica tem por finalidades desenvolver o educando,


assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da
cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em
estudos posteriores.

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Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e médio, será


organizada de acordo com as seguintes regras comuns:
(...)
VII - cabe a cada instituição de ensino expedir históricos escolares,
declarações de conclusão de série e diplomas ou certificados de
conclusão de cursos, com as especificações cabíveis.

Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação básica, com duração
mínima de três anos, terá como finalidades:

I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no


ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos;
II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para
continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com
flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento
posteriores;
III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a
formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do
pensamento crítico;
IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos
processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de
cada disciplina.

Art. 36-D. Os diplomas de cursos de educação profissional técnica de


nível médio, quando registrados, terão validade nacional e habilitarão ao
prosseguimento de estudos na educação superior. (Incluído pela Lei nº
11.741, de 2008)

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Parágrafo único. Os cursos de educação profissional técnica de nível


médio, nas formas articulada concomitante e subseqüente, quando
estruturados e organizados em etapas com terminalidade, possibilitarão a
obtenção de certificados de qualificação para o trabalho após a conclusão,
com aproveitamento, de cada etapa que caracterize uma qualificação para
o trabalho. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)

Como se observa a educação básica tem por fim difundir conhecimentos


inerentes a esta etapa e, sobretudo, habilitar o educando a ingressar no Ensino
Superior ou inserir-se no mercado de trabalho, não havendo possibilidade de se ignorar
que para tanto será necessário comprovar a aquisição destes conhecimentos, o que se
faz através da apresentação do correlato diploma ou certificado de conclusão de curso.

Neste diapasão o Conselho de Educação Estadual reconheceu a


exclusiva responsabilidade da Instituição de Ensino pela emissão de documentos
comprobatórios de conclusão de cursos, como se depreende da Deliberação nº
221/1997, alterada pela Deliberação nº 292/2004:

Art. 2º. A expedição de históricos escolares, declarações de conclusão de


série, certificados de conclusão de cursos ou etapas da Educação Básica
e diplomas quando couber, com as especificações cabíveis, são da
exclusiva responsabilidade da instituição de ensino, a partir da
publicação desta Deliberação.

Vale salientar que a questão já foi diversas vezes decida tomando-se


como referência a expedição de diplomas de conclusão de Curso Superior, como se
depreende dos julgados a seguir transcritos:

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“MANDADO DE SEGURANÇA. ENSINO SUPERIOR. EXPEDIÇÃO DE


DIPLOMA. CONDICIONAMENTO AO PAGAMENTO DE TAXA.
RESOLUÇÃO 03/89 DO CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO.
AUSÊNCIA DE PREVISÃO DE TAL ENCARGO PARA O ALUNADO.

1.Com o advento da Resolução 03/89 do Conselho Federal de Educação


revogou-se a Resolução 01/83,instrumento no qual constava, claramente,
que a anuidade – encargo de responsabilidade do aluno já englobava as
despesas de emissão de diploma. Ocorre que a novel Resolução 03/89
além de modificar a nomenclatura de anuidade para mensalidade, excluiu
a expressão "diploma", pelo que se conclui que a expedição de tal
documento passou a ser encargo exclusivo da Instituição de Ensino, não
mais estando embutido na mensalidade paga pelo universitário.
2.Irreparável a decisão monocrática que reconheceu aos autores o direito
de perceberem seus diplomas independentemente do pagamento de taxa;
3.Remessa Oficial improvida.” (TRF 5ª R - REO 88521-Processo:
200081000222661/CE -2ª T -J.05/10/2004 -Relator(a)
Petrucio Ferreira)

CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL.AÇÃO


CIVIL PÚBLICA. PRELIMINARES DE ILEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO
PÚBLICO FEDERAL E INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.
INACOLHIMENTO. INSTITUIÇÃO PARTICULAR DE ENSINO
SUPERIOR. COBRANÇA DE TAXA PARA EXPEDIÇÃO DE DIPLOMA.
IMPOSSIBILIDADE. INTELIGÊNCIA DA RESOLUÇÃO 03/89 DO
CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO. AUSÊNCIA DE PREVISÃO DE
TAL ENCARGO PARA O ALUNADO. ERRO MATERIAL. CORREÇÃO
PELO TRIBUNAL. POSSIBILIDADE. RECUROS IMPROVIDOS.

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1.É sabido que a Lei n.7.347/85 -Lei da Ação Civil Pública cuida apenas
da tutela de interesses transindividuais todavia, em se tratando da defesa
em juízo dos interesses transindividuais dos consumidores, a LACP e o
Código de Defesa do Consumidor devem ser aplicados em conjunto, pois
se complementam. 2. Há nítida relação de consumo entre as instituições
particulares de ensino e seu corpo discente, sendo perfeitamente aplicável
a hipótese prevista no art. 82, I do CDC, o qual legitima,
concorrentemente, o Ministério Público para a defesa dos interesses e
direitos dos consumidores coletivamente. 3.Apesar da autonomia
universitária garantida pelo art.207, da CF/88, as Universidades, mesmo
as particulares, encontram-se submetidas ao cumprimento das normas
gerais da Educação Nacional, eis que agem por delegação do poder
público, explorando atividade que originariamente caberia ao Estado
diretamente proporcionar.
4.Questionando-se na presente lide acerca da cobrança de encargo
educacional do corpo discente, matéria esta regulada por norma federal
Resolução 03/89 do Conselho Federal de Educação - resta incontesti o
interesse da União e portanto, a competência da Justiça Federal Comum
para apreciar a demanda.
5 Preliminares de ilegitimidade ativa do MPF e incompetência da Justiça
Federal rejeitadas.
6.Com o advento da Resolução 03/89 supra referida, revogou-se a
Resolução 01/83 onde constava claramente que a anuidade -encargo de
responsabilidade do aluno - já englobava as despesas de emissão de
diploma. Ocorre que a novel Resolução 03/89 além de modificar a
nomenclatura de anuidade para mensalidade, excluiu a expressão
"diploma", pelo que se conclui que a expedição de tal documento passou
a ser encargo exclusivo da Instituição de Ensino, não mais estando
embutido na mensalidade paga pelo universitário.

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7.É de reconhecer-se como erro material o fato do magistrado "a quo" ter
se referido na parte dispositiva da sentença à Resolução 03/83 e não à
Resolução 03/89, vez que todo o fundamento de sua decisão é conclusivo
pela obrigatoriedade da observância da Resolução 03/89, que se encontra
em pleno vigor.
8.Segundo entendimento do E.STJ, consubstanciado no REsp 20.865-
1/SP, tem-se por perfeitamente possível a correção de erro material de
decisão singular pelo Juízo "a quem", não implicando a mesma em
nulidade daquela. 9.Apelações e Remessa Oficial improvidas.” (TRF 5ªR -
AC 320042 -Processo: 200283000018931/PE -2ª T -J.01/06/2004 -
Relator(a) Petrucio Ferreira -v.u.)

Assim, adotando-se uma interpretação teleológica seria inaceitável admitir


que a vedação à cobrança de taxas para expedição de certificados de conclusão se
restringira apenas às Instituições de Ensino Superior, já que o sucesso na Educação
Básica (Ensino Fundamental e Médio) é imprescindível para alçar esta nova etapa de
aperfeiçoamento profissional.

Inaceitável o argumento de que a taxa se presta a cobrir custos com a


publicação do ato em Diário Oficial ou despesa de impressão, posto que se trata de
gasto ordinário, que deve estar abrangido pela receita corrente da Instituição, oriunda
do pagamento das mensalidades escolares.

Em resumo, é incompreensível que a emissão de diploma ou certificado


de conclusão de curso, histórico e declarações esteja submetida a qualquer outro
requisito ou condição que não seja a obtenção de êxito nas avaliações de aprendizado.

2.2 DA ABUSIVIDADE DA COBRANÇA

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A proteção conferida pelo Código de Defesa do Consumidor contra a


abusividade de cláusulas contratuais é suficiente para afastar em definitivo a
exigibilidade da “taxa” em comento, como estabelece o artigo 51 do referido Código:

“Art. 51 - São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais


relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
(...)
IV - estabeleçam obrigações iníquas, abusivas, que coloquem o
consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a
boa-fé ou a eqüidade;
(...)
X - permitam ao fornecedor,direta ou indiretamente, variação do preço de
maneira unilateral;
(...)
§ 1º - Presume-se exagerada, entre outros casos, a vantagem que:
(...)
II - restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do
contrato, de tal modo a ameaçar seu objeto ou o equilíbrio contratual;
(...)”

Ora, sendo a expedição e registro do diploma e histórico escolar ato


indissociável da conclusão do curso, a cobrança de uma prestação adicional, estranha
às mensalidades regularmente pagas pelo discente, restringe sobremaneira o direito
fundamental do concluinte de obter, ao final do curso e sem ônus para tanto, o
documento que atesta sua qualificação para o mercado de trabalho ou sua habilitação
para ingresso no Ensino Superior.

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Do mesmo modo, não é possível compreender que para declarar que


determinada pessoa é seu aluno a instituição seja remunerada, já que esta obrigação é
complementar ao serviço oferecido.

Cumpre ressaltar que a fixação do preço da “taxa” combatida nestes autos


se faz unilateralmente pela instituição de ensino, implicando séria ameaça ao equilíbrio
contratual, já debilitado ante a desigualdade econômica existente entre as partes,
caracterizando-se, portanto, a abusividade e ilegalidade dessa cobrança.

3. DOS REQUISITOS PARA ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DO PROVIMENTO


FINAL

Conforme exposto, é evidente a probabilidade de acolhimento da tese do


requerente, pois o Estado Democrático de Direito não se compadece com a prática da
autotutela na efetivação de direitos ou de condutas que impeçam amplo acesso à
Educação ou ao mercado de Trabalho.

Deste modo, a fumaça do bom direito emana da tese ora sustentada,


restando preenchidos os requisitos para o deferimento da medida liminar ora postulada.

A urgência da medida é inconteste.

Os estudantes matriculados na Instituição em comento, por motivos


diversos, durante o ano letivo recém-iniciado, terão a necessidade de comprovar seu
vínculo com o Colégio Petra, bem como atestar as notas recebidas durante sua vida
acadêmica, e serão compelidos a despender valores extras para adimplir com as taxas
absurdamente cobradas, posto que já abrangidas pelas mensalidades cobradas.

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E aqueles que findam o curso, caso não tenham condições de arcar com
a taxa cobrada para expedição do certificado de conclusão, estarão impossibilitados de
ingressar no mercado, exercendo a profissão para que estão habilitados ou não
poderão iniciar o Curso Superior, já que tais documentos são imprescindível para
matrícula naquelas Instituições.

Com isso, a dedicação pessoal e familiar, voltadas para o aprimoramento


intelectual e profissional e, por conseguinte, a melhoria das condições de vida de
muitos estudantes, se tornarão inócuas e imprestáveis.

Por derradeiro, importa salientar que a concessão da medida de forma


liminar se reveste de reversibilidade, já que se ao final o pleito ora veiculado não for
acolhido, basta que a parte ré cobre os valores correspondentes à taxa de emissão em
foco.

4. DO PEDIDO

Nestas condições, com fulcro no artigo 273, do Código de Processo Civil,


REQUER, inaldita et altera pars:

1. que seja determinado à Sociedade de Ensino Colégio Araújo Petra


Ltda. a suspensão da cobrança de qualquer taxa sobre a emissão
de declarações, históricos escolares e certificado de conclusão de
curso ou diploma, seja qual for a finalidade alegada, até o
julgamento final da presente demanda, seja para alunos que
concluírem o curso neste ano ou já o fizeram anteriormente e não

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retiraram ou não solicitaram o documento em razão da exigência


de pagamento da taxa. Requer, portanto, seja declarado que os
custos materiais com a devida expedição e registro deverão ser
arcados, de forma integral, pela instituição ré.

2. a cominação de multa diária, no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil


reais), para o caso de descumprimento da antecipação de tutela.

E de forma definitiva:

1. a confirmação do deferido liminarmente;

2. a condenação da parte ré a indenizar em dobro todos os valores


cobrados indevidamente de seus alunos e ex-alunos, acrescido de
correção monetária e juros legais, conforme determina o artigo 42,
do Código de Defesa do Consumidor, a ser realizada em autos de
execução coletiva ou requerida pelo Ministério Público, ou mesmo
de forma individual, estabelecendo-se também para eventual
descumprimento da decisão, multa diária a ser quantificada a
critério do Juízo.

Por derradeiro, requer ainda:

- a citação da ré, na pessoa de seu representante legal, para, querendo,


responder aos termos da presente ação;

- a condenação da ré nos ônus da sucumbência, a serem revertidos ao


Fundo do Ministério Público, nos termos da Resolução PGJ nº 801/98.

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Protesta por todos os meios de prova em direito admitidos, a serem


especificados oportunamente, apresentando com a presente petição inicial a prova
documental, consistente nos autos do Inquérito Civil nº 2008.2205.02.

Por fim, esclarece que receberá intimações na sede da 2ª Promotoria de


Tutela Coletiva – Núcleo Duque de Caxias, situada à Rua General Dionísio, Quadra
115, 6º andar, Jardim 25 de Agosto, Duque de Caxias, CEP n.º CEP. 25075-095.

Dá à causa o valor R$ 10.000,00 (dez mil reais), meramente para os fins


do art. 258, CPC, diante do conteúdo inestimável do objeto da lide.

P. Deferimento.

Duque de Caxias, 17 de março de 2010

Marcela do Amaral Barreto de Jesus Siciliano.


Promotora de Justiça
Matricula 3.476

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