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Psicologia

da Educação
Núcleo de Pós-Graduação

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MÓDULO 1

Introdução

Antes de abordarmos a Psicologia da Educação propriamente dita, precisamos entender


melhor de onde esta se origina, ampliando nossos conhecimentos e facilitando a
compreensão dos “caminhos” percorridos para chegarmos à ela.

A palavra Psicologia vem do grego psichê = alma + logos = estudo, razão. Então, esta
significa num primeiro momento, estudo da “alma”, da psique e seu objeto de estudo é o
Homem.

Citando rapidamente, pois não é nosso objetivo aqui um aprofundamento maior, a


Psicologia já existia na antiga Grécia, na época de Platão, Aristóteles, fazendo parte da
Filosofia, até que em um determinado momento evolutivo das duas áreas, a Filosofia
segue o caminho da razão e a Psicologia da emoção, havendo então uma “separação”
entre as duas, mas interligando-se sempre. À partir do estudo empírico da mesma, esta
adquiri o status de Ciência e vai se unindo a outras Ciências ,como a Linguística,
Antropologia, Sociologia, Matemática, História (da qual já é pertencente) Biologia,
Fisiologia e outras, ampliando seu campo de visão e abrangência.

A Psicologia conquista seu reconhecimento como Ciência, no final do século XIX, obteve
várias conquistas e dividiu seus conhecimentos em várias áreas, entre elas, a Psicologia
Educacional.

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Psicologia da Educação

Conceito: Ramo da Psicologia com atenção especificamente voltada para os problemas


escolares que são influenciados por diversas situações e variáveis sociais que atuam no
indivíduo que ensina e aquele que aprende, partindo do princípio que o ser humano é bio
psico social.

Frente ao exposto, há necessidade que o Psicólogo Educacional se atenha ao estudo do


desenvolvimento infantil e suas várias Teorias, o contexto social e familiar aos quais o
sujeito está inserido e suas necessidades individuais. Em que cenário a aprendizagem
ocorre, além do conhecimento das estruturas orgânicas, fisiológicas e farmacológicas que
possam influenciar na forma como a aprendizagem se dá.

É necessário também ter conhecimentos Neurológicos e de teorias cognitivas.

Torna–se impossível que a Psicologia Educacional tenha uma atuação positiva e mais
abrangente, sem que de alguma forma, acabe por “invadir” outras áreas, com o objetivo de
tornar a aprendizagem mais eficiente.

É sua função também Orientação e Aconselhamento de pais, professores, coordenadores


em sua conduta com relação aos alunos que apresentam dificuldades escolares.

Segundo Cruces e Maluf (2007), tanto a Educação quanto a Psicologia, já dividiam e


“trocavam” conhecimentos, na tentativa de explicar e buscar soluções, que de alguma
forma ajudassem a resolver o número crescente de fracassos escolares.

Em 1.903, a Psicologia, já era aplicada a educação pública segundo E. L. Thomdike que


publicou o livro Educational Psychology foi editor do Journal of Educational Psycchology

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(Maluf 1994). Na medida em que Psicologia e Educação “relacionavam – se” sempre em
busca de soluções para o baixo desempenho nas escolas Era dada à ciência psicológica, a
incumbência de buscar soluções para que os alunos tivessem um bom desempenho

escolar na medida em que era delegado a esta, o conhecimento dos seres humanos e as
diferenças entre si.

Depositaram então, a esperança de que todos os problemas estariam resolvidos através


da atuação do psicólogo escolar.

Não houve correspondência à essas expectativas, pois houve excessiva preocupação em


aprofundar os estudos na Psicometria, ou seja, a medição através de testes para avaliar a
inteligência , maturidade e prontidão para acompanhar os conteúdos escolares .

A Psicologia Escolar, passou então a ser muito criticada, sendo necessário passar por uma
grande reestruturação, pois não conseguia ajudar e muito menos resolver a incidência dos
fracassos escolares.

Quando o Brasil após a ocorrência de vinte anos de ditadura militar, nos idos anos oitenta
(século vinte) começa a se reestruturar, começam a surgir novas observações, pesquisas
sobre a forma de atuar do psicólogo educacional, chegando-se a conclusão, que sua
atuação estava fora do contexto, principalmente no que se referiam as classes sociais mais
pobres da população.

Urge então a necessidade de aprofundar conhecimentos históricos e sociais aprimorando a


compreensão da realidade a qual o profissional estava atuando, ou seja, promover uma
melhoria na Formação do Psicólogo Escolar.
Atualmente, este é um profissional de múltiplos conhecimentos em várias áreas,
promovendo assim, uma grande melhoria nos “fracassos escolares”.

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Psicologia do Desenvolvimento e Construção social do sujeito

Psicologia do Desenvolvimento, é uma ramificação da Psicologia que estuda o


desenvolvimento do ser humano sob várias óticas.

Alguns autores estudam desde o processo gestacional, o desenvolvimento do embrião, as


comorbidades que podem ocorrer durante a gestação, o parto, ou após o nascimento
propriamente dito.

Envolve não só o orgânico e suas etapas, que influenciam no processo emocional, sendo
que os dois passam por interferências do meio ambiente social mais próximo (família),
como o mais amplo (sociedade em geral).

Há não ser que se pense na estória de “Mogli”, que estando afastado de sua família, foi
criado em uma floresta, as crianças nascem fazendo parte de uma cultura, que
proporciona às mesmas contatos tanto em seu meio social mais próximo (família), quanto
em sociedade (meio social mais amplo),fazendo com que esta, a partir de seu nascimento,
comece o processo de “endoculturação junto com o leite materno”.

Além disto, seu desenvolvimento bio psico social cada vez maior advindo das estimulações
recebidas do “Outro” para que este processo ocorra.

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As relações sociais estabelecidas com o tempo e de forma contínua faz com que o sujeito
“sofra” uma série de transformações no decorrer da vida, que interferem tanto em seu
organismo quanto em sua psique.

Segundo Pichon- Rivière (1995), o indivíduo é um ser dinâmico sempre em movimento e


seu crescimento se dá como em uma “espiral dialética” introjetando conhecimentos
adquiridos em sua convivência com o meio e consequentemente se modificando e, quando
atua neste mesmo ambiente,transforma-o. Daí, o eterno movimento de modificação e

transformação até o fim da vida, sempre de acordo com a cultura a qual é inserido, pois
cada uma possui signos, significados e significantes próprios.

Psicologia da Aprendizagem

Segundo Johnson, Myklebust (1987) existe aprendizagem apenas quando o indivíduo


apresenta uma estrutura orgânica com desenvolvimento dentro do esperado e situações
em que ocorram chances para a aquisição de conhecimento. Diz o autor que três fatores
devem estar perfeitos:

 Psicodinâmicos;
 Sistema nervoso periférico e suas funções;
 Sistema nervoso central e suas funções.

Há muitos anos atrás se tinha à crença de que a aprendizagem ocorreria sem nenhum tipo
de transtorno se os órgãos da audição e da visão mais a estrutura mental estivessem em
concordância. Após várias pesquisas se validou a existência do autismo infantil, da
esquizofrenia infantil, da surdez psicogênica e deficiências psicogênicas, contrariando as
afirmadas condições para que o aprender acontecesse e fazendo com que cada vez mais,

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tanto o psicólogo quanto o educador, tivessem um desafio em suas mãos para descobrir
como ajudar na obtenção de conhecimentos dessas crianças por exemplo.

Quanto maior a necessidade da busca de técnicas e conhecimentos para proporcionar


educação a esses sujeitos, maior o tamanho do desafio e incentivo a esses profissionais.
Nesse sentido e através da interdisciplinariedade e multidisciplinariedade podemos
observar cada vez mais que todos os indivíduos apresentam condições de aprendizagem
dentro do seu “timming” independente da existência ou não de comorbidades.

É necessário também que se atente à postura do educador para estar disponível


afetivamente com o intuito de acolher, aceitar o outro na forma como este se apresenta
sem julgamentos e ideias pré-concebidas, o que possibilita uma maior e melhor
aproximação do ensinante, facilitando assim todo processo de desenvolvimento cognitivo,
afetivo, biológico e social. O ser humano deve ser visto como um todo, não apenas como
alguém que assimila conteúdos e os reproduz.

Antigamente dizia se que aprender é modificar o comportamento e isto só faz sentido,


tanto em nível formal quanto informal, se a presença do afeto mediar a aquisição dos
conhecimentos.

Após várias crises dentro da psicologia em função de cobrança de linhas de atuação do


psicólogo escolar, este “invadiu” várias outras ciências com as quais estabeleceu linhas de
atuação tanto para o indivíduo chamado “normal” quanto para os que apresentam
problemas de aprendizagem ou distúrbios de aprendizagem.

MÓDULO II

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Concepção Interacionista: Piaget, Wallon e Wigotsky

Jean Piaget

Menino prodígio interessou-se por história natural ainda em sua infância. Aos 11 (onze)
anos de idade publicou seu primeiro trabalho sobre um pardal albino. Esse estudo é
considerado o início de uma brilhante carreira científica.

Trabalhava gratuitamente aos sábados, no museu de história natural. Frequentou a


universidade de Neuchâtel, onde estudou biologia e filosofia. Recebeu seu doutorado em
biologia em 1918, aos 22 anos de idade.

Formado, foi para Zurich, atuando como psicólogo experimental. Freqüentou aulas
lecionadas por Jung e trabalhou como psiquiatra em uma clinica. Essas experiências
influenciaram em seu trabalho. Passou a utilizar psicologia experimental (estudo formal e
sistemático), e métodos informais da psicologia: - entrevistas, conversas e análises de
pacientes.

1919 - Muda se para a França, sendo convidado a trabalhar com Alfred Binet (famoso
psicólogo infantil que desenvolveu testes de inteligência padronizados para crianças).

Piaget percebeu então, que crianças francesas com a mesma idade cometiam erros
semelhantes durante a testagem e chegou a conclusão que o pensamento se desenvolve
de forma gradativa..

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No ano de 1919, começou seus estudos experimentais sobre a mente humana e iniciou
pesquisa a respeito do desenvolvimento das habilidades cognitivas.

Seu conhecimento em biologia o fez ver que o desenvolvimento cognitivo da criança tem
uma evolução gradual.

Casou-se em 1923, teve três filhos: Jacqueline (1925), Lucienne (1927) e Laurent (1931).

Suas teorias, em grande parte, tiveram como base, estudos e observações sobre seus
filhos, em conjunto com a esposa.

Dirigiu o “Centro Internacional Para Epistemologia Genética”. Escreveu mais de 75 livros e


centenas de trabalhos científicos. Quando estudamos Piaget, falamos em compreender o
desenvolvimento do ser humano. Suas teorias contribuíram fortemente com a Educação
(aprendizagem), sendo que sua intenção não era essa.

Conceitos e Fundamentos da Teoria de Jean Piaget:

Epistemologia Genética, diz respeito ao estudo do conhecimento à partir da estrutura


orgânica do sujeito.

Segundo Piaget, seria a partir da maturação e desenvolvimento do indivíduo a “ponte” que


nos leva de estágios inferiores a superiores do conhecer, ou seja, a preocupação maior
advinda de sua teoria, é o entendimento dos processos e mecanismos do pensamento do
chamado por ele “sujeito epistêmico” desde seu nascimento até a idade adulta.

Durante esta “caminhada”, é constante o equilibrar-se e desequilibrar-se, de formas que o


desequilíbrio atua, como uma forma de buscar outras formas de agir (novos esquemas),

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para novamente atingir o equilíbrio ( adaptação), visando o objeto do conhecimento (uma
nova aprendizagem).

Segundo Jean Piaget, para que ocorra uma ação, há o percurso do seguinte processo:
Frente a um desequilíbrio cognitivo, na medida em que envolve uma emoção, é também
afetiva, fará com que se desencadeie um motivo interno que o levará a buscar formas de
entendimento do que foi “apresentado”, fazendo com que este, possa chegar novamente a
um novo equilíbrio. Então, podemos dizer que o desequilíbrio e o equilíbrio são constantes
no processo diário de aprendizagem humana.

O interacionismo da teoria de Piaget refere-se à aprendizagem através da atuação do


sujeito frente ao objeto a ser apreendido e incorporado.

Para que ocorra a interação sujeito - objeto numa construção ativa do conhecimento, é
necessário que este objeto, seja estimulante o suficiente para que provoque o exercício
cognitivo e, portanto, a consequente construção do conhecimento.

Para Piaget:

A escola tradicional oferece ao aluno, uma quantidade


considerável de conhecimentos e lhe proporciona a ocasião de
aplicá-los em problemas e exercícios variados: ela “enriquece”
assim o pensamento e o submete, como se costuma dizer, a uma
“ginástica intelectual”, à qual caberia consolidá-lo e desenvolvê-lo.

No caso do esquecimento (todos nós sabemos o pouco que nos


resta dos conhecimentos adquiridos na escola, cinco, dez ou vinte
anos após o término dos estudos secundários) tem ela ao menos a

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satisfação de haver exercido a inteligência, pouco importa que se
haja esquecido por completo a definição de co seno, as regras da
quarta conjugação latina ou as datas da história militar: o essencial
é tê-las conhecido. (Piaget, 1973 p. 61-62)

De acordo com Piaget, a “troca” interpessoal, a curiosidade em relação ao mundo que nos
cerca leva o indivíduo a aquisição de novos conhecimentos exercitando a inteligência.

O educador, frente a sua perspectiva, deve ser o mediador entre o aprendente e seu objeto
de pesquisa, abrindo um “leque de possibilidades” e vias de acesso ao que se deve ou
pretende atingir, sempre respeitando fato de que cada ser humano tem um tempo e uma
forma de atuar para se adquirir os mesmos conteúdos.

Em relação à formação inicial do que constitui a mente da criança, Piaget fala a respeito de
três sentimentos.

 Precisar receber amor, demonstrando de muitas formas, desde o nascimento


até o adolescer.
 Medo referente às pessoas mais velhas, o que faz com que se seja submisso
a elas.

 Alternância entre o gostar e recear, nomeado pelos que possuem conceitos


rígidos, de respeito.
Podemos então observar que Jean Piaget leva em conta fatores sociais, o
que é altamente discutido por alguns teóricos.

Na medida em que a Psicopedagogia trabalha com dificuldades e distúrbios


de aprendizagem, sua teoria é fundamental.

Ambiente Desequilíbrio Adaptação Equilibração

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Para Piaget, os modelos de relacionamento com a realidade, são divididos em quatro
períodos:

a)Período sensório – motor (0 a 2 anos): “A criança nasce em um universo para ela


caótico, habitado por objetos que desapareceriam uma vez fora do campo da
percepção”. (La Taille).
No recém - nascido, as funções mentais limitam-se aos exercícios dos aparelhos
reflexos inatos. ANOMIA.

b) Período pré-operatório (2 a 7 anos): Para Piaget o aparecimento da função


simbólica ou semiótica é a emergência da linguagem, o que marca a passagem do
período sensório – motor para o pré-operatório. Desse modo, a linguagem é
considerada como uma condição necessária, mas não suficiente ao
desenvolvimento, pois existe um trabalho de reorganização da ação cognitiva

c) que não é dada pela linguagem. Isso implica entender que o desenvolvimento da
linguagem, depende do desenvolvimento da inteligência.

A linguagem possibilita interação interindividuais e fornece, principalmente, a


capacidade de trabalhar com representações para atribuir significados à realidade.
Embora o alcance do pensamento apresente transformações importantes, ele
caracteriza-se ainda pelo egocentrismo, uma vez que a criança não concebe uma
realidade da qual não faça parte devido à ausência de esquemas conceituais e da

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lógica. Exemplo: “o meu carro do meu pai”. A criança apresenta um entendimento da
realidade desequilibrado em função da ausência de esquemas conceituais.

HETERONOMIA

d) Período das operações concretas (7 a 11, 12 anos): Nesse período, o egocentrismo


intelectual e social, da lugar à emergência da capacidade de estabelecer relações e
coordenar pontos de vista diferentes (próprios e de outrem), de integrá-los de modo
lógico e coerente. Começa a realizar operações mentalmente e não mais apenas
através de ações físicas típicas da inteligência sensório-motora. Exemplo: qual é a
vareta maior? Entre várias, ela será capas de responder acertadamente
comparando-as mediante a ação mental sem precisar medi-las usando a ação
física. HETERONOMIA.

e) Período das operações formais (12 anos em diante): A criança já consegue


raciocinar sobre hipóteses na medida em que ela é capaz de formar esquemas
conceituais abstratos e através deles executar operações mentais dentro de
princípios da lógica formal. A criança adquire capacidade de criticar os sistemas
sociais e propor novos códigos de conduta: discute valores morais de seus pais e
constrói seus próprios. AUTONOMIA

Henri Wallon

Nasceu na França no ano de 1879, vivendo em Paris durante toda a vida, aonde também
veio a falecer no ano de 1962. Sua vida, sempre repleta de produções intelectuais obtidas
através de pesquisas e atuação nos fatos marcantes vividos em sua época (primeira e
segunda guerras mundiais). Foi perseguido pela Gestapo, pois teve participação intensa

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na Resistência Francesa (movimento agilizado por aqueles que se opunham ao nazismo).
Porém, nunca parou suas pesquisas, mesmo que de forma clandestina e dando sequência
a elas em seu laboratório, chegando a publicar durante este período o livro “Do ato ao
pensamento”.

Formou-se em Filosofia em 1902. Deu aulas no ensino secundário.

Enquanto professor, discordava dos métodos empregados para disciplinar os alunos, por
serem extremamente autoritários e também, do controle da Igreja sobre o ensino.

Sua família era de tradição universitária e republicana, sendo criado num “clima”
republicano e democrático.

Era médico, formando-se em 1908. Até 1931 atuou em instituições psiquiátricas, inclusive
em Salpetrière, onde se dedicou ao atendimento de crianças com deficiências neurológicas
e distúrbios de comportamento.

Foi também, médico do exército francês em 1914 onde clinicou vários meses em campo de
combatentes.

Voltando à Paris, dedicou-se ao atendimento de feridos de guerra e retomou suas


atividades em Salpetrière.

O contato com lesões cerebrais de ex-combatentes, fez com que revisse algumas
concepções neurológicas que havia desenvolvido no atendimento de crianças portadoras
de deficiências.

Em paralelo a sua atuação como médico e psiquiatra, reafirma seu interesse pela
psicologia da criança. Seus conhecimentos adquiridos nos campos da neurologia e da
psicopatologia, durante sua experiência clínica, tiveram importante papel na constituição
de sua teoria psicológica.

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Ao longo de sua carreira as atividades do psicólogo Henri wallon foram se aproximando
cada vez mais da educação. Se por um lado viu o estudo da criança como um recurso para
conhecer o psiquismo, por outro, interessou-se também pela infância como problema
concreto, sobre o qual se ateve com muita atenção.

Considerava que a psicologia e a pedagogia deveriam ter uma relação de contribuição


recíproca.

Segundo Wallon, o desenvolvimento se inicia à partir do relacionamento estabelecido


entre o corpo do recém- nascido( neste momento apenas apresentando movimentos
reflexos) e o meio ambiente externo que já começa a nomear as manifestações corporais
apresentadas por esse bebê.

É impossível querer simbolizar de forma mais profunda, o que neste momento só pode ser
visualizado como conforto e desconforto.

A cuidadora, normalmente a mãe, através da simbolização dos movimentos da criança, faz


com que com o tempo, este consiga entender e dar nomes ao que sente e vê.

Como num primeiro momento e sabemos disso, o ser humano é uma espécie animal que
não consegue sobreviver sem ajuda, um único ser, por menor que seja, tem a capacidade
de mobilizar todos em volta para que suas necessidades primárias sejam satisfeitas.

Segundo Wallon, o desenvolvimento motor é condição primária para o posterior


desenvolvimento afetivo.

A mobilização é humana frente aos movimentos apresentados pelo bebê (movimentos


reflexos), sua atuação é primeiro pelo afetivo e depois no mundo físico.

Podemos afirmar então que o psiquismo é formado através da interação organismo x meio
ambiente externo.

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Um indivíduo bem cuidado desde o seu nascimento e com a constituição estrutural
orgânica perfeita, em contato com o meio social mais amplo, terá seu desenvolvimento
neurológico e psicológico saudáveis.

Na medida em que se dá o crescimento do indivíduo, vai ocorrendo a maturação pela


evolução orgânica, neurológica não só apenas pelo próprio processo de desenvolvimento,
mas da ajuda do social, através dos “exercícios” que o meio proporciona.

Há a inibição dos reflexos com a maturação neurológica até que a criança possa então
através desses movimentos, entrar na fase sensório – motora, onde se estabelece a
ligação entre a percepção dos movimentos, sua reprodução e diversidade.

Existe então o movimento espontâneo, que com o passar do tempo, vai se transformando
em gesto na medida em que apresenta uma determinada intenção e esta só pode existir
quando se dá um significado para este gesto.

Portanto, o funcionamento psíquico ocorre através do desenvolvimento motor e afetivo, em


seguida a inteligência que entra em conflito com a afetividade, daí o “crescimento” e as
mudanças de fase.

"O que permite à inteligência essa transferência do plano motor


para o plano especulativo não é evidentemente explicável no
desenvolvimento do indivíduo (...) mas nele pode ser identificada [a
transferência] (...) são as aptidões da espécie que estão em jogo,
em especial as que fazem do homem um ser essencialmente
social".

(Wallon, 1975)

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O homem é um ser bio psico social basicamente, sendo que a simbolização é própria da
espécie.

Ao falarmos de conflitos entre inteligência e afeto, queremos dizer que é a partir destes
que o sujeito vai adquirindo novas informações, novas funções, pois o desenvolvimento
humano, não ocorre de forma linear, mas sim à partir de novas informações, unidas as
anteriores ocasionando o equilíbrio.

Segundo Wallon, existem três leis que tem atuação no processo de desenvolvimento
infantil:

 Lei da alternância funcional: Duas direções opostas que se alternam. Uma


centrípeta diretamente ligada à construção do „EU‟. Outra centrífuga, que atua na
elaboração da realidade.
 Lei da preponderância funcional: motora, afetiva e cognitiva.
 Lei da diferenciação e integração funcional: Integração do estágio subsequente.
A integração do motor, afetivo e cognitivo, resulta no todo. A pessoa.

Para Wallon, as emoções são de grande importância, pois segundo este, é ela que
estabelece, mesmo antes do aparecimento da linguagem, o relacionamento do indivíduo
com o meio ambiente social.

"... As emoções são a exteriorização da afetividade (...) Nelas que


assentam os exercícios gregários, que são uma forma primitiva de
comunhão e de comunidade. As relações que elas tomam
possíveis afinam os seus meios de expressão, e fazem deles
instrumentos de sociabilidade cada vez mais especializados".

(Wallon, 1995)

O projeto teórico de Wallon pode ser definido como a elaboração da psicogênese da


pessoa completa. Assim, para que compreendamos o desenvolvimento infantil não bastam
os dados fornecidos pela psicologia genética, é preciso recorrer a dados como, por
exemplo, da Neurologia, Psicopatologia, Antropologia, e Psicologia animal.

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Com Piaget, sempre levantou questões polêmicas, (uma atitude que lhe era peculiar). Para
ele, existia uma atitude permanente de Piaget em buscar a continuação e complementação
entre sua obra e a do colega.

Para Wallon, as contradições e desigualdade das obras eram grandes e a seu ver, essa
seria a melhor atitude a adotar na busca do conhecimento.

Wallon: Pretendia realizar uma psicogênese da pessoa.

Piaget: Uma psicogênese da inteligência.

Segundo a perspectiva Walloniana, o desenvolvimento infantil é “recheado” de conflitos.


De origem exógena, quando resultantes dos desencontros entre as ações da criança e o
ambiente exterior. De natureza endógena quando gerados pelos efeitos da maturação
nervosa.

Durante a primeira etapa, denominada por Wallon de Estágio Impulsivo, os atos da criança
tem o objetivo de chamar a atenção do adulto por meio de gestos gritos e expressões para
que ele satisfaça suas necessidades garantindo assim sua sobrevivência.

Estágio emocional: É a fase do desenvolvimento em que a simbiose respiratória do feto se


transforma em simbiose alimentar do recém-nascido e, por volta dos três meses, em
simbiose afetiva.

A criança aos poucos aprende a contagiar o adulto com sorrisos e sinais de


contentamento, o que caracteriza laços de caráter afetivo com aqueles que estão a sua
volta, e demonstra necessidade de manifestações afetivas que precisam ser satisfeitas
para que seu desenvolvimento seja satisfatório.

A criança primeiramente se liga a mãe e aos poucos, diferencia outras pessoas que
desempenham papéis significativos em relação a ela, como por exemplo, pai, avós, tios,
padrinhos. Sua sociabilidade rapidamente se amplia quando começa a nadar e falar.

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Andando, a criança pode interagir mais com o ambiente que a cerca. A aquisição da
linguagem a possibilita a nomear objetos e pessoas e diferencia-los.

Esta etapa é denominada por Wallon de estágio sensório-motor, aonde a criança aprende
a conhecer os outros como pessoas em oposição à sua própria existência. É o tempo dos
jogos espontâneos de alternância, do interesse por atos que unem duas pessoas ou,
principalmente, papeis diferentes, como por exemplo, de esconder e ser escondido pela
almofada, dar e receber tapinhas e etc. As relações se enriquecem e nesse período, a
criança ainda está estreitamente dependente do outro, pois seu processo de individuação
está apenas se iniciando. Ela ainda vive sua relação com o outro sem se diferenciar
claramente dele.

É somente no estágio do personalismo, (três a cinco anos), que a criança realmente se


diferencia do outro e se conscientiza de sua autonomia em relação aos demais. Percebe
relações diferentes e papéis dentro do universo familiar, percebendo-se ao mesmo tempo
como um elemento fixo, (filho, irmão e assim por diante).

Nessa idade, a criança também costuma ingressar na escola maternal, onde as relações
serão diferentes das familiares, mas ainda exigem cuidados de caráter pessoal diretos,
quase como os da mãe em relação ao professor.

Na etapa seguinte, denominada categorial, o desenvolvimento cognitivo da criança está


aguçado e sua sociabilidade ampliada. É a idade da escolaridade obrigatória. Etapa
importante para o desenvolvimento das aptidões intelectuais e sociais da criança.

A adolescência, para Wallon tem inicio aos doze anos é marcada por transformações de
ordem fisiológicas, mudanças corporais relacionadas ao amadurecimento sexual, assim
como transformações de ordem psíquica com preponderância afetiva. Nesta fase, os
sentimentos se alternam procurando buscar a consciência de si na figura do outro,
contrapondo-se a ele, além de incorporar uma nova percepção temporal.

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O meio social e cultural são muito importantes, pois nesta fase os adolescentes tornam-se
intolerantes em relação às regras e ao controle exercido pelos pais. Identificação com o
grupo.

É neste momento de vida que se torna bastante visível à forma como o meio social
condiciona a existência da pessoa. Enquanto adolescentes de classe média exteriorizam
seus sentimentos e questionam valores e padrões morais, os de classe menos favorecida
enfrentam precocemente a realidade social do adulto, a necessidade de trabalho, vivendo
esta fase de outra maneira, pois têm de contribuir para a manutenção financeira da família.

Segundo Wallon a socialização não se dá apenas no contato com o outro em diferentes


etapas de desenvolvimento, mas também através da produção do outro (música, livros,
pinturas, filmes, textos). Isto contribui para o processo de individuação e constituição do
EU. Para ele, a cultura geral aproxima os homens, a medida em que permite a
identificação de uns com os outros, enquanto a cultura especifica, o conhecimento técnico
afastam-nos ao individualizá-los.

A Cultura é para Wallon um fator de constituição da pessoa e representante das aptidões


totais do homem, dependendo da época e do lugar.

Vygotsky

Para ele, o entendimento da psique humana vem da compreensão do funcionamento


neurológico, o que despertava tanto interesse de sua parte.

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Estudioso das áreas de filosofia, psicologia, literatura e medicina.

Segundo Vigotsky, a atividade cerebral faz com que exista o funcionamento psicológico,
mas só se desenvolvem através da interação cultural.

Morreu prematuramente, talvez em função disto manteve sua obra voltada para os
processos mentais superiores, referindo –se a sua mediação entre sujeito-ambiente.

Vigotsky refere-se à interação do sujeito com o meio dando à interação um valor especial,
exatamente como Wallon apenas citando um outro tipo de mediador: o instrumento.

Este é advindo do marxismo, aonde o instrumento é aquele que faz a intermediação entre
o que trabalha e o objeto deste trabalho, podendo aumentar sua atuação.

Caracteriza então, o início do desenvolvimento cognitivo, a inteligência prática.


Segundo ele em torno de dois anos de idade, há a integração da inteligência prática e a
linguagem, aparecendo o pensamento verbal e a linguagem racional.

A atividade simbólica será organizada à partir do uso dos instrumentos e devagar, pouco a
pouco trazendo novos comportamentos.

Quando ocorre a apropriação da linguagem, o sujeito controla o ambiente que o circunda e


passa a organizar sua atuação intelectualmente.

É neste momento que a criança se apropria dos signos que fazem a mediação entre o
indivíduo e o mundo externo.

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No início, a criança apenas se relaciona com os signos, pois depende do significado
atribuído pelo outro em relação as suas ações e, então, posteriormente, após a
reconstrução das situações internamente, dará significado e poderá agir com a intenção
de.

Num outro momento, já dominará as palavras utilizadas em sua cultura e começará a


generalizar, o que também irá se modificando, passando a ter uma amplitude maior na
medida em que for organizando e conceituando o real.

MÓDULO 3

Aprendizagem formal, informal e não formal

A educação formal é a que e dá nas instituições de ensino, frente a um programa


planejado pelos professores, com o objetivo de ensinar e aprender. Sendo os conteúdos
programados de acordo com a série a qual o aluno pertence, planejados e regulamentados
pelas leis de ensino.

A educação informal acontece no ambiente social mais próximo (família), amigos, grupos
sociais, não existe um planejamento organizado e seu objetivo maior é a socialização do
indivíduo e atitudes e comportamentos frente as agruras e alegrias que a vida apresenta.

A educação não formal, é a que acontece em eventos, palestras, atividades cívicas, festas
escolares, aonde aprende-se a lidar com o outro, exercendo a liberdade, respeito,
tolerância etc...

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MÓDULO 4

O Professor , o processo Ensino Aprendizagem e o brincar.

Ensinar com paixão implica em amar o que se faz e a quem se faz.


Quando se estabelece um vínculo afetivo com os alunos, existe a aceitação deste como se
apresenta, sem cobranças, julgamentos, expectativas e direcionamentos que desrespeitem
o sujeito na construção do conhecimento, tem-se observado um melhor desempenho
escolar.

Quando nos referimos aos teóricos Mallon e Vigotsky, observamos que em linhas gerais, o
afeto, mesmo que exista um comprometimento neurológico, biológico, fisiológico, este será
um grande fator de interferência na aprendizagem, tanto positivamente quanto
negativamente.

Partindo – se do pressuposto que o Homem é um ser bio psico social, não se pode negar
que as influências externas sobre o indivíduo que aprende fará toda a diferença na
autoestima que influencia o cognitivo e consequentemente a aquisição de conhecimentos.

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Pode-se dizer também , integrando a afetividade com o lúdico, que aprender brincando,faz
com que essa seja mais prazerosa sendo que a criança enquanto brinca, elabora sua
realidade podendo resolver muitos de seus conflitos internos e externos se devidamente
“acompanhada”.

Segundo Winnicott em seu livro “O Brincar e a realidade”:

O brincar facilita o crescimento e, portanto, a saúde: o brincar


conduz aos relacionamentos grupais; o brincar pode ser uma forma
de comunicação na psicoterapia; finalmente, a psicanálise foi
desenvolvida como forma altamente especializada do brincar, a
serviço da comunicação consigo mesmo e com os outros.

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Referências:

GOHN, Maria da Glória. Educação não-formal, participação da sociedade civil e


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Vygotsky, Wallon: Teorias genéticas em discussão. São Paulo: Abril Cultural, 1978.

Apostila organizada por:

Profa. Ms. Thais Sisti De Vincenzo Schultheisz

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