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Resumo

O artigo faz uma exposição da obra Punição e Estrutura Social de Rusche e Otto
Kirchheirmer, que propõe uma análise da questão criminal, dentro de uma crítica ampla da
sociedade. A obra relaciona a punição ao contexto econômico, mostrando que castigos vaiam
conforme o meio de produção no qual uma sociedade se insere e, também, por ter um caráter
abertamente deslegitimante do sistema penal.

De acordo com Lucena, Rusche comenta que a lei apela para a racionalidade das
pessoas, que prefeririam não cometer um crime porque sofreriam uma consequência de dor e
sofrimento. E que o crime pode ser cometido por pessoas de todas as classes, mas que em sua
maioria é cometido por aquelas que não conseguem satisfazer suas necessidades mais básicas.
Sendo assim, a sanção penal para ser eficiente ela precisa ser configurada de uma maneira que
as classes que são mais propensas a cometer conduta criminal prefiram se abster de cometer
atos proibidos. Daí o princípio da menor elegibilidade que basicamente as punições devem ser
de uma maneira que coloque essas pessoas numa situação mais degradante do que elas já vivem.

As classes socias mais pobres de nossa sociedade são perseguidas pelas sanções penais
por estarem mais propensas a crimes, Rusche tenta esclarecer como as categorias econômicas
determinam o destino dessas classes. Considerando que as pessoas que vivem à margem não
têm uma quantidade de bens sobrando, mas apenas têm a habilidade de vender sua mão de obra,
o mercado de trabalho é uma categoria determinante para definir o destino dos mais pobres.
“[...] se há um mercado de trabalho escasso, os pobres não têm de onde tirar o seu sustento, a não ser recorrendo a
maneiras alternativas, e o crime é uma delas. Dessa forma, se há uma massa de desempregados que poderia por
necessidade ficar mais propensa a cometer delitos, esta apenas deixaria de cometê-los sob penalidades cruéis.”
(LUCENA, ANO, p. 76). Mas o mercado de trabalho procura por trabalhadores e quando estes estão

em falta a penalidade ganha outro significado. “Quando existem poucos trabalhadores, os salários
aumentam, então as penas servem para sugarem mão-de-obra barata dos presos, para que eles façam serviços que
os proletários livres não querem fazer, de maneira mais lucrativa e, também, ensina aos criminosos que agora
trabalham nas prisões a no futuro se contentarem apenas com o salário do trabalho honesto” (LUCENA, ANO, p.
77). Entendemos, portanto o mercado de trabalho é determinante na punição aplicada.

Fazendo um panorama histórico, inicia-se um relato dos métodos penais a partir do


início da idade média, entendo a relação com as forças econômicas e fiscais. Para Lucena,
Rusche comenta que: “[...] a história do sistema penal é mais que uma história do desenvolvimento
independente das instituições penais, como se costumava fazer, mas é a história das relações entre ricos e pobres.
Por essa razão, ele propõe estudar a relação histórica entre leis criminais e economia, que também reproduz a
história da luta de classes, e utilizar essas inter-relações para analisar o sistema prisional.” (LUCENA, ANO, pp.
77-78).

Início da análise histórica, páginas 79 a 81.

3.4 Os fundamentos teóricos de Rusche e Kirchheimer (Por David Garland)

Para complementar o entendimento das propostas teóricas dos autores sobre a punição
por Lucena, considera o Garland, que resume os fundamentos teóricos de Rusche e Kirchheimer
da seguinte maneira:

1) A punição deve ser considerada um fenômeno histórico específico que está vinculado a
formas particulares e concretas de vida.
2) A especificidade histórica da punição deve ser compreendida em relação com modos de
produção particulares, que são os principais determinantes para a escolha da introdução de
certos métodos penais em período históricos específicos.
3) Ainda que se diga que os sistemas penais estão orientados, em certa medida, ao controle
do delito, os métodos de punição específicos nunca se determinam unicamente por esse
objetivo, senão por forças sociais e determinações mais amplas.
4) Um ponto teórico que não está explícito no texto de Rusche e Kirchheimer, ainda que
seja crucial para sua análise, é que os sistemas penais devem ser entendidos em sua inter-
relação com outras instituições e com aspectos não penais da política social. Assim, a política
penal é apenas um elemento dentro de uma estratégia mais ampla para controlar os pobres, na
qual as instituições como as fábricas, as oficinas e o mercado de trabalho desempenham um
papel decisivo.
5) Do ponto anterior se deriva também a ideia de que o castigo deve ser visto não como
uma resposta social à criminalidade dos indivíduos senão, sobretudo, como um mecanismo
imbricado com a luta de classes, com a luta entre ricos e pobres, burguesia e proletariado.
6) Uma proposição básica da teoria marxista é que as relações sociais e instituições dentro
de uma sociedade de classes estão tergiversadas e distorcidas pela ideologia, de maneira que
sua fundamentação real fica oculta. Os autores consideram que essa distorção ideológica
permite perceber o castigo com uma instituição que beneficia “a sociedade em geral” quando,
de fato, sua função real é apoiar os interesses de uma classe contra a outra.

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