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HUMBERTO MATURANA
StélaPiccin1 - UNISC
Débora Paz Menezes2 - UNISC
Leandro Oliveira3 - UNISC
Resumo
Iniciar uma pesquisa, em qualquer campo do conhecimento humano, é partir para uma viagem
instigante e desafiadora. O confronto com o desconhecido, a viagem do conhecimento, o
modo como conhecemos as teorias, como pensamos, refletimos e escrevemos acerca delas,
fazem parte do processo de tornar-se pesquisador. Nesse sentido, este relato tem como
objetivo apresentar reflexões acerca dos estudos realizados durante as disciplinas da linha de
pesquisa “Aprendizagem, Tecnologias e Linguagens na Educação” do Programa de Pós-
Graduação em Educação-Mestrado da Universidade de Santa Cruz do Sul-UNISC, Rio
Grande do Sul. O referencial teórico que sustenta as discussões tem como base o paradigma
da complexidade. Dessa maneira, procuramos relatar as experiências em relação à leitura,
reflexão e debate de teorias propostas pelos autores Edgar Morin, Henri Atlan e Humberto
Maturana, as quais foram desenvolvidas ao longo das aulas e dos momentos de estudo do
primeiro e do segundo trimestre de 2015. Em função disso, o presente relato de experiência
tem caráter bibliográfico. Acerca de Edgar Morin, destacamos as proposições a respeito do
pensamento complexo e dos entendimentos de ciência. Da obra de Henri Atlan, abordamos as
compreensões verdade (s) e de como essas compreensões influenciam o conhecimento. Por
fim, abordamos as teorias propostas por Humberto Maturana, especialmente sobre a
autopoiese bem como a respeito de seus estudos sobre as emoções na educação. Nas
considerações finais, enfatizamos a importância de discutir e refletir sobre os principais
fundamentos propostos pelos autores, uma vez que são primordiais ao referencial teórico das
investigações que estão em desenvolvimento. Além disso, salientamos como o processo de
escrita se constitui como uma experiência enriquecedora no campo da pesquisa e da educação.
1
Mestranda em Educação pela UNISC, Graduada em Letras Português-Espanhol pela UNISC. Bolsista
PROSUP-CAPES. E-mail:stelapiccin@mx2.unisc.br.
2
Mestranda em Educação pela UNISC, Graduada em Comunicação Social/Jornalismo pela UNISC. E-
mail:deborapazm@hotmail.com.
3
Mestrando em Educação UNISC, Educador Musical -Licenciatura em Música pela IPA/RS - E-mail:
leoliveiraguitar@gmail.com.
ISSN 2176-1396
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Introdução
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http://www.unisc.br/portal/pt/cursos/mestrado/mestrado-em-educacao/apresentacao.html
5
http://online.unisc.br/seer/index.php/reflex/index
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compreensão de Larrosa (2002), que não pensamos através de uma suposta genialidade ou
inteligência, mas a partir de palavras.
Entre os estudos realizados, optamos por apresentar, neste texto, reflexões acerca das
teorias de Edgar Morin, Henri Atlan e Humberto Maturana, uma vez que são importantes
teóricos do paradigma da complexidade. Dessa forma, procuramos evidenciar as
contribuições que explicitem os norteadores do pensamento complexo e de suas implicações à
educação, pois a complexidade tem como chaves de compreensão
[...] um processo dinâmico de construção. Só cria aquele que constrói. Por tudo isso,
nos é proposto um paradigma da complexidade que, frente ao paradigma da
simplificação, faça outro uso da lógica. Trata-se de pensar em movimento aquilo
que a lógica clássica (conjuntista-identitária) pensa de maneira estática: a
identidade; a unidade; o objeto; a estrutura, a sociedade; o homem (ROGER,
1999, P. 90). (Grifos nossos).
Ora, trata-se de um sinal de complexidade, pois, quanto mais evoluído for um ser
vivo, mais complexo ele é e mais compreende em si desordem, ruído, erro. Os
sistemas mais complexos que conhecemos — o cérebro e a sociedade dos homens
— são os que funcionam com a maior parte de aleatoriedade, de desordens, de
"ruído" (MORIN, 2005, p.297).
De encontro com as teorias de Edgar Morin, citadas acima, Henri Atlan (1994),
destaca que as nossas atividades de conhecimento, mesmo as mais abstratas e as mais formais,
não se produzem no vazio, elas fazem parte do conjunto dos nossos comportamentos,
individuais e sociais. Quando pensamos na composição de nossas problemáticas de pesquisa,
esse conjunto de comportamentos influencia como defenderemos nossas verdades, pois, nessa
aventura do conhecimento, temos, para seguir os moldes acadêmicos, explicá-las:
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É a nossa capacidade de lidar com o vago que nos permite coexistir na ambiguidade
da metáfora e da multiplicidade dos significados. E é essa coexistência, que de facto
um vaivém permanente entre um quadro de referência e outro, que permite a
aprendizagem e a descoberta do novo (ATLAN, 1994, p. 303).
O autor salienta que não é possível responder o que é a verdade. De acordo com ele, se
procurarmos chegar mais fundo, depressa nos aperceberemos que apenas podemos reconhecer
e designar aquilo que ela não é: mentira, o erro, a ilusão, o logro. Quanto à verdade científica,
muitos dos erros fatais que são cometidos em relação a ela, advêm do fato de ela ser
frequentemente vista como caída do céu, em vez de semeada, cultivada e nascida na terra.
Além disso, Atlan (1994) afirma que para quem procura uma verdade, esta só pode parecer
única perante a multiplicidade infinita dos falsos que esta verdade torna possíveis.
Dessa forma, o autor alerta para a questão ética, visto que a questão do bem e do mal,
ou seja, de um juízo ético feito sobre todos os nossos comportamentos, aplica-se, também, às
nossas atividades de conhecimento, sendo ele fonte de bem e mal, felicidade e infelicidade,
construção e destruição (ATLAN, 1994) Não podemos esquecer, que somos pesquisadores da
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Para entender a autonomia dos seres vivos, devemos conceber a organização que o
define como unidade. Tomar consciência dos seres vivos como unidades autónomas
é o que permite mostrar como sua autonomia, geralmente vista como algo
misterioso e elusivo, se toma explícita quando indicamos que aquilo que os define
como unidades é sua organização autopoiética. É nesta que simultaneamente se
realizam e se especificam. (Grifos nossos).
Ora, considerar tal concepção nos remete a (re)pensar nossas perspectivas acerca da
educação, dado que está em contraposição com a lógica racional que estamos inseridos que
vivência seu esgotamento nas instituições de ensino. Com isso, práticas simplificantes e
deterministas não dão conta das conjecturas atuais. De encontro a isso, são pertinentes as
contribuições de Maturana (2002, p.18) em relação às emoções: “o humano se constitui no
entrelaçamento do emocional com o racional”, nesse sentido não podemos excluir a
racionalidade, mas pensar na convergência razão-emoção que o autor nos sugere. Uma
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educação que não seja pautada em um ou outro princípio, mas em uma concepção de
totalidade, uma vez que somos seres que aprendem, ou melhor, seres que aprendem tanto no
domínio emocional como racional. O propósito da educação é guiar nossos jovens para que se
tornem seres humanos que respeitem a si mesmos e aos outros, destaca Maturana (1999).
Maturana (2001, p.129) salienta, também, que “é a emoção sob a qual agimos num
instante, num domínio operacional, que define o que fazemos naquele momento como uma
ação de um tipo particular naquele domínio operacional”. Como podemos observar nas
palavras do autor, existimos no fluxo das emoções. Ao distinguir as emoções da vida diária,
do cotidiano, distinguimos diferentes domínios ou tipos de condutas. Quando mudam as
emoções, mudam os domínios de conduta e o corpo reage em uma dinâmica corporal
(MATURANA, 2001). O autor ressalta, ainda, que todas as relações humanas são relações
sociais, que a emoção que constitui as relações sociais é o amor. O amor entendido como uma
emoção essencial para convivência, e não como um sentimento que envolve um
relacionamento, mas como a emoção que permite colocar-se em comum com o outro nos
variados tipos de conduta:
Em relação ao amor, Maturana (1999, p. 56) afirma que:
Considerações Finais
Através das reflexões em relação às obras de Edgar Morin, Henri Atlan e Humberto
Maturana, explicitamos, neste relato, nosso processo de tornar-se pesquisador. A escolha da
temática do texto configura-se como um modo de conhecer melhor as teorias estudadas, dado
que ao pensar e escrever acerca delas, notamos quais as aproximações, os distanciamos e
quais as discussões que são convergentes.
Escrever, neste contexto, configura-se como uma forma de conhecer. Organizar as
palavras de maneira que possam expressar aspirações e inspirações, transparecer os devaneios
e as emoções, defender as verdades, viver em linguagem, nas palavras de Bacherlard (1990,
p.34) “quando se conhece a felicidade de escrever é preciso se integrar a ela de corpo e alma,
mão e obra”.
Além disso, quando se trata da pesquisa, escrever ocupa um lugar essencial, pois
através dela que explicitamos o percurso de investigação e seus resultados, a problemática
central da pesquisa, o referencial teórico que modula o olhar do pesquisador à realidade
investigada, as escolhas teórico-metodológicas e seus efeitos éticos-estéticos-políticos
(ZANELLA, 2012). Em outras palavras, é de suma importância, visto que apresenta o modo
como foi pensada, desenvolvida e tensionada a pesquisa. Por outro lado, Larrosa (2003)
destaca a necessidade de problematizar os modos de escrita do meio acadêmico, pois, por
vezes, configura-se como uma modalidade que impõe modos de escrita excluindo outros,
principalmente aqueles que defendem pontos de vistas e não seguem os padrões da
neutralidade.
Gostaríamos ressaltar, ainda, nestas palavras finais, que não temos a pretensão de
defender o paradigma da complexidade como a única e melhor corrente teórica, mas sim
como uma das tantas teorias relativas ao conhecimento. Assim como apoiamos nossos
argumentos nos autores da complexidade, estamos em constante diálogo com outros autores
com a finalidade de conhecer, estudar e refletir outros pontos de vista. Destacamos e
consideramos de extrema relevância esse processo, já que no campo da educação existem
muitas abordagens e perspectivas.
Além do mais, como diz Ribeiro (1999), não há pior inimigo do que a terra firme. As
interrogações remetem a abertura de novas possibilidades, a outros olhares, a novos caminhos
a serem percorridos. A narrativa deste texto, de autoria de uma professora, de uma jornalista e
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de um músico, simboliza, a nosso ver, o diálogo, a interação, as conexões que podem ser
feitas na educação.
Resgatar e apresentam esses entendimentos, caracteriza-se, também, como uma busca
de compartilhar e contribuir para as discussões do campo da educação. Nesse sentido, nossa
intenção foi convidar o leitor, os pesquisadores e demais interessados, a uma viagem pelos
conhecimentos de Edgar Morin, Henri Atlan e Humberto Maturana bem como das nossas
experiências como pesquisadores. A pretensão não seria esgotar a discussão em tão poucas
páginas, e sim recuperar os principais fundamentos de seus pensamentos.
REFERÊNCIAS
ATLAN, Henri. Com razão ou sem ela: intercrítica da ciência e do mito. Lisboa: Instituto
Piaget, 1994.
BACHELARD, Gaston. Fragmentos de uma poética do fogo. São Paulo: Brasiliense, 1990.
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do Sul. n.28, v.2, p. 101-115, jul\dez, 2003. Disponível em:
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______. Cognição, ciência e vida cotidiana. Tradução de Cristina Magro. Belo Horizonte:
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MORIN, Edgar. Por uma reforma do pensamento. In: VEJ, A. P..; NASCIMENTO, E. P. O
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21-34.
______. Ciência com consciência. Tradução de Maria de Alexandre e Maria Alice Sampaio
Dória. Rio de Janeiro: Bertrand, 2005.
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RIBEIRO, Renato Janine. Não há pior inimigo do conhecimento do que terra firme. Tempo
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2015.
ROGER, Emilio. Uma antropologia complexa para entrar no século XXI: chaves de
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crise da modernidade. São Paulo: GARAMOND, 1999. p. 89-106.