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Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental

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Sistema de Gestão e
Planejamento Ambiental

Amilcar Marcel de Souza

2017
© 2017 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do
autor e do detentor dos direitos autorais.

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO


SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
S713s Souza, Amilcar Marcel de
Sistema de gestão e planejamento ambiental / Amilcar
Marcel de Souza. - 1. ed. - Curitiba, PR: IESDE Brasil,
2017.
132 p.: il. ; 21 cm.
Inclui bibliografia
ISBN: 978-85-387-6281-2

1. Gestão ambiental. 2. Meio ambiente. I. Título.


16-38641 CDD: 363.7
CDU: 504.06

Capa: IESDE BRASIL S/A.


Imagem da capa: Shutterstock/Triff

Todos os direitos reservados.

IESDE BRASIL S/A.


Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200
Batel – Curitiba – PR
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Apresentação

Prezado(a) aluno(a),

Este livro tem o objetivo de instrumentalizá-lo para os temas do sis-


tema de gestão e planejamento ambiental que são muito importantes para
o seu curso e para sua formação acadêmica. Durante todo o processo de
industrialização em todo o mundo, os recursos naturais estão sendo ex-
plorados de forma desordenada, ocasionando efeitos negativos ao meio
ambiente e ao ser humano. Historicamente as pessoas são exploradas em
seus empregos, o que tem gerado reflexão sobre a relação da empresa
com a força de trabalho. A forma desenvolvimentista praticada atualmen-
te gera consequências negativas para a saúde e segurança do trabalhador
e para o meio ambiente. Desta forma, novos modelos de gestão estão mu-
dando de maneira significativa a relação produção e consumo através de
sistemas integrados. Assim, este livro irá apresentar uma abordagem da
teoria de sistemas, sistemas de gestão integrada e os benefícios para os
modos produtivos e para o consumidor.

A disciplina Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental é muito


importante neste contexto, pois traz a noção da teoria de sistemas e suas
aplicabilidades em processos de gestão, seja no poder público, seja no
setor privado, em processos de elaboração de políticas públicas e em ati-
vidades de produção econômica-industrial.

Este livro traz reflexões sobre a complexidade dos sistemas de ges-


tão focando os conceitos, as informações e as ideias que podem subsidiar
as tomadas de decisões dos profissionais que estão à frente dos processos
de gestão ambiental. Para isso, foca nas principais temáticas acerca dos
sistemas de planejamento com definições e conceitos relevantes e atua-
lizados, além das normatizações legais sobre os sistemas de qualidade.

Os conteúdos foram selecionados com muito cuidado e escritos com


linguagem simples para dar maior autonomia aos seus estudos.
Sobre o autor

Amilcar Marcel de Souza

Presidente e fundador do Instituto Pró-Terra, é Mestre em Recursos


Florestais pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da
Universidade de São Paulo (ESALQ/USP) e Graduado em Engenharia
Florestal pela mesma instituição. Tem atuado em projetos de extensão
rural por diversos estados brasileiros que visam à conservação ambiental
e resgate cultural de vivências de ruralidade.
Sumário

Percepção ambiental e sociedade


1 (paisagem, sociedade e ambiente) 9
1.1 Algumas questões sobre a percepção do ambiente e sociedade 10
1.2 A paisagem no contexto da percepção ambiental e sociedade 12
1.3 Percepção ambiental e paisagens educadoras 13

Sistemas de Gestão Integrada:


2 ambiental; qualidade; saúde e segurança 21
2.1 Uma abordagem de sistemas 22
2.2 Sistemas de gestão integrada 25
2.3 Benefícios e avanços para produtores e consumidores 28

Gestão Ambiental pelas


3 normas da série ISO 14000, certificação e auditoria 37
3.1 Sistema de gestão ambiental 38
3.2 Série ISO 14 000 41
3.3 Certificação e auditoria 45

4 Planejamento Urbano e Ambiental 53


4.1 Planejamento urbano 54
4.2 Planejamento ambiental 57
4.3 Planejamento x desenvolvimento x sustentabilidade 60

6 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Sumário

5 Planejamento Ambiental no Brasil 69


5.1 Crise ambiental 70
5.2 Planejamento ambiental 72
5.3 Zoneamento ambiental: instrumento de planejamento 76

Geoprocessamento
6 aplicado à Gestão Territorial e ao Planejamento Ambiental 85
6.1 Geoprocessamento 86
6.2 Geoprocessamento aplicado à gestão territorial 89
6.3 Geoprocessamento aplicado ao planejamento ambiental 92

7 Instrumentos de planejamento 99
7.1 Aspectos gerais sobre instrumentos de planejamento 100
7.2 Instrumentos de planejamento no meio urbano 102
7.3 Instrumentos de planejamento no meio rural 106

8 Planejamento urbano sustentável 115


8.1 Conceitos gerais acerca do planejamento urbano sustentável 116
8.2 Etapas para o planejamento urbano sustentável 120
8.3 Práticas de planejamento urbano sustentável 123

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 7


1
Percepção ambiental e
sociedade (paisagem,
sociedade e ambiente)

Introdução

A percepção ambiental da paisagem por meio de leituras biofísicas e socio-


culturais se processa a partir do espaço ocupado pelas pessoas, pois remete à sua
memória, à sua história, bem como à sua identificação, como espaço vivido e suas
problemáticas, evidenciando a “força do lugar”. Para uma leitura e percepção da
paisagem, cumpre-nos assinalar que também é sistêmica e é o resultado da com-
binação dos elementos naturais e materiais somados às obras humanas e grupos
culturais que viveram no espaço.

Dessa forma, em ações de gestão ambiental é imprescindível desenvolver proces-


sos cognitivos de percepção ambiental visando à integração do ser humano e natureza.
Portanto, nesta aula serão abordadas as principais questões e conceitos sobre percepção
ambiental e sociedade, seguido desta percepção com paisagens e, por último, as paisa-
gens como espaços educadores para as sociedades.

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 9


1 Percepção ambiental e sociedade
(paisagem, sociedade e ambiente)

1.1 Algumas questões sobre a percepção


do ambiente e sociedade

As questões ambientais e seus problemas têm acompanhado, em diferentes períodos


históricos, diversas sociedades que possuem por sua cultura percepções próprias da nature-
za. Esse fato traz à ciência um rico campo de estudos e pesquisas, para avaliar as percepções
e os efeitos da ação humana sobre o ambiente natural, social e cultural.
Rodaway (1995) citado por Hoeffel (2007) caracteriza percepção como um processo,
uma atividade que envolve organismo e ambiente, e que é influenciada pelos órgãos dos
sentidos – percepção como sensação –, e por concepções mentais – percepção como cogni-
ção. Dessa forma, ideias sobre o ambiente envolvem tanto respostas e reações a impressões,
estímulos e sentimentos, mediados pelos sentidos, quanto processos mentais relacionados
com experiências individuais, associações conceituais e condicionamentos culturais.
As pessoas constroem sistemas para manejar o mundo, ou seja, formulam hipóteses
segundo a sua experiência e predizem assim o futuro de acordo com estas hipóteses. Tais
construções mentais variam segundo as pessoas, que somente reagem aos estímulos que são
capazes de imaginar como atuantes, que, por sua vez, formam parte do espaço construído
e do espaço percebido.
Além disso, a atividade perceptiva enriquece continuamente a experiência individual
e por meio dela nos apegamos, cada vez mais, ao lugar e à sua paisagem, pois quando o
espaço nos é familiar torna-se lugar. De acordo com Leite (1994), a percepção do tempo, do
espaço e da natureza muda com a evolução cultural, o que exige a procura de novas formas
de organização do território que melhor expressem o universo contemporâneo, formas que
capturem o conhecimento, as crenças, os propósitos e os valores da sociedade.
É a partir da percepção do ambiente pelo ser humano que se pretende identificar como
homens e mulheres veem e classificam seus ambientes, como se colocam nos ambientes que
criam, e que referências usam para escolher tais ambientes. Nossa mente organiza e repre-
senta essa realidade percebida por meio de esquemas perceptivos e imagens mentais, com
atributos específicos (DEL RIO e OLIVEIRA, 1999) e que servem para avaliar a qualidade dos
ambientes (PILOTTO, 2003). Uma imagem é uma representação internalizada do ambiente,
por meio da experiência, e incorpora ideais, isto é, a avaliação da qualidade ambiental traz
a organização do meio ambiente como o resultado da aplicação de conjuntos de regras que
refletem de diferentes concepções de qualidade ambiental (OJEDA, 1995). Além disso, é pela
percepção que o ser humano estrutura sua representação cognitiva do ambiente.
De acordo com Del Rio e Oliveira (1999) a percepção consiste em trocas funcionais do
indivíduo com o meio exterior, as quais têm dois aspectos: cognitivo e o afetivo. O primeiro
ocorre paralelamente, quando o indivíduo conhece o mundo exterior e começa a ter senti-
mentos em relação a ele e o segundo é a energia do sistema. Para Ojeda (1995) é cada vez
mais necessário considerar os costumes cognitivos com a finalidade de entender a manei-
ra pela qual o meio ambiente é conhecido e estruturado pelos indivíduos e pela socieda-
de. As pessoas, como organismos ativos, adaptativos e procuradores de objetivos ou fins,

10 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Percepção ambiental e sociedade
(paisagem, sociedade e ambiente) 1
estruturam o mundo a partir de três fatores: o organismo, o meio ambiente e o meio cultural,
os quais se relacionam para formar representações cognitivas.
Segundo este mesmo autor, existem dois significados diferentes do termo cognição am-
biental; um é psicológico, o outro antropológico, sendo que o primeiro ressalta o conheci-
mento do meio ambiente, enquanto que o antropológico afirma que os processos cognitivos
convertem o mundo em algo significativo. Decifrar e valorizar os costumes cognitivos das
paisagens deveria ser uma ferramenta indispensável na gestão dos espaços, sejam eles pú-
blicos ou privados, a partir do momento que identifica não somente os diferentes ideários
na busca da qualidade ambiental como também os saberes e significados socioambientais
específicos das inter-relações evolutivas entre natureza e populações locais.
Dentro dessa dinâmica insere-se a questão paisagística, incluindo-se a necessidade de
investigar o significado das diversas expressões do verde dentro das diferentes culturas. O
verde existe como objeto dado no mundo e como idealização. Por exemplo, ao se projetar
áreas verdes, como nas áreas protegidas, navega-se, portanto, na semiótica de significantes e
significados, não como elementos isolados, mas como partes de um todo em que, aquele que
habita, é indissociável do espaço onde exerce sua autopoiesis1 (MATURANA e VARELLA,
1980). A paisagem está presente em cada situação da história dos seres humanos, traçando
uma relação vital para ambos, em que as pessoas necessitam da paisagem que ordena os
serviços ambientais que a natureza oferece e esta depende das ações e percepções, ideias e
ações das pessoas (DEL RIO e OLIVEIRA, 1999).
Além disso, o ser humano, assim como os organismos, impõe uma ordem espacial, social
e temporal diferentes, porém relacionadas entre si, já que têm de coexistir na trama espa-
ço-temporal de um mesmo mundo, e porque todas as ordenações se apoiam nos mesmos
processos de aprendizagem, memória, identidade, localização e orientação (PILOTTO, 1997).
Este tipo de estudo de percepção ambiental tem se tornado uma ferramenta importante
para o desenvolvimento de processos educadores e participativos, pois, segundo Pilotto
(1997, p. 30),
a percepção ambiental é, pois, a experiência sensitiva mais direta e imediata do
meio ambiente, e, ainda que afetada pela memória e cognição, é muito indepen-
dente. A percepção sempre se relaciona com a ação, pelo que tem de envolvente,
participativa e relacionada com a motivação e o significado.
Para Del Rio (1999), nosso cotidiano se conforma e se realiza por meio da percepção de
paisagens, num amálgama entre realidade e imaginário. O ser humano age e reage de acor-
do com a maneira que percebe seu entorno, e que a percepção ambiental tem se mostrado
cada vez mais útil como instrumento de análise da atuação antrópica sobre a paisagem. A
partir do paradigma de que só percebemos o que conseguimos interpretar, a legibilidade

1 Autopoiese ou autopoiesis (do grego auto “próprio”, poiesis “criação”) é um termo criado na década
de 1970 pelos biólogos e filósofos chilenos Francisco Varela e Humberto Maturana para designar a ca-
pacidade dos seres vivos de produzirem a si próprios. Segundo esta teoria, um ser vivo é um sistema
autopoiético, caracterizado como uma rede fechada de produções moleculares (processos) em que as
moléculas produzidas geram com suas interações a mesma rede de moléculas que as produziu.

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 11


1 Percepção ambiental e sociedade
(paisagem, sociedade e ambiente)
da paisagem evidencia-se quando fragmentos da realidade são retidos para a observação
atenta, permitindo a qualificação do ambiente e sua interpretação (PELLEGRINO, 1996).
Portanto, é do ponto de vista da percepção, da forma como o ser humano percebe e
interage com o meio ambiente, em função de influências históricas e culturais, que se pode
avaliar as necessidades e anseios da população e fornecer aos órgãos dirigentes orientações
mais adequadas para as decisões em nível político, socioeconômico e de desenvolvimento,
seja rural, urbano ou regional.

1.2 A paisagem no contexto da


percepção ambiental e sociedade

A paisagem é uma unidade heterogênea, composta por um complexo de unidades in-


terativas (ecossistemas, unidades de vegetação ou de uso e ocupação das terras), cuja estru-
tura pode ser definida pela área, forma e disposição espacial (por exemplo, uma paisagem
urbana de uma pequena cidade e de uma grande cidade) desta unidade. A estrutura da
paisagem interfere na dinâmica de populações, em suas culturas e representações sociais e
também as formas de como se deslocam e relacionam.
O renomado geógrafo Milton Santos (1985, p. 61), define que a paisagem é “tudo aquilo
que nós vemos, o que nossa visão alcança. Esta pode ser definida como o domínio do visível,
aquilo que a vista abarca. Não é formada apenas de volumes, mas também de cores, movi-
mentos, odores, sons etc.”.
Ainda o mesmo autor discorre que a dimensão da paisagem vai até onde as pessoas
conseguem perceber com seus ouvidos, seu cheiro, sua visão, e sensações, sendo, portanto,
até onde as sensações conseguem chegar e desenhar os limites da paisagem. Assim, a com-
preensão cognitiva possui relevância na formatação e definição dos limites da paisagem e
o que é a paisagem para o indivíduo conforme sua percepção. Desta forma, a história de
vida das pessoas, que são em grande parte formatadas pelos processos educativos, formais
e informais podem e devem gerar heterogeneidade entre si sob a visão para o mesmo fato.
Uma pessoa que mora no campo desde pequena e sua paisagem é diversificada com la-
vouras agrícolas, florestas, rios e outras pessoas também morando no campo e se relacionan-
do tanto em atividades de produção agrícola como de lazer, tem uma percepção diferente
de outra pessoa que mora na cidade desde pequena e tem a paisagem urbana como referen-
cial. Se pedirmos para a pessoa do campo andar pelo ambiente urbano e descrever as suas
percepções, ela vai apontar situações diferentes da pessoa que vive na cidade. Da mesma
forma, o contrário é verdadeiro. Talvez essa pessoa da cidade que observa o campo não verá
detalhes que o morador do campo verá como, por exemplo, uma revoada de andorinhas,
uma árvore frutífera em flores e que logo dará frutos, um pequeno riacho ou nascente etc.
A percepção é sempre um processo seletivo de apreensão. A realidade é uma só, mas
as pessoas de acordo com sua formação, ou seja, seu aprendizado na sua história de vida,
enxergam uma paisagem de diferentes formas.

12 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Percepção ambiental e sociedade
(paisagem, sociedade e ambiente) 1
Inúmeros estudos e pesquisas sobre percepção ambiental revelam que as sociedades
estão compreendendo menos o meio ambiente, enquanto interação complexa de configura-
ções sociais, biofísicas, políticas, filosóficas e culturais. Neste sentido, conforme destacado
por Milton Santos (1985) existem múltiplas maneiras de representar o meio ambiente na
paisagem, e suas percepções, quando muito pequenas ou superficiais sobre algum fator que
ali ocorre ou mesmo o conjunto de fatores, podem gerar conflitos entre grupos sociais com
interesses e visões de mundo distintos.
A percepção ambiental da paisagem pelas sociedades tem tido grande importância
como estratégia de conservação e recuperação ambiental.
Hoeffel (2008), mencionando Hannigan (2006), aponta que o meio ambiente é um lugar
de interfaces e competição entre diferentes atores sociais e culturais. Segundo este autor, o
que está em disputa são os espaços naturais gerando graves ameaças ambientais, podendo
comprometer as suas dinâmicas. Ocorre uma prioridade de uma questão sobre a outra e as
formas adequadas para melhor gerir a paisagem estão vinculadas aos tomadores de deci-
sões, que de maneira geral são os legisladores e representantes do poder executivo, em se
conscientizarem sobre a diversidade de uma paisagem, além de realmente se responsabili-
zarem pela implementação de soluções de interesses coletivos.
Em uma sociedade que enfrenta dificuldades nos processos de formação e educação, a
construção cognitiva crítica de uma percepção ambiental será de grande importância para bus-
car o equilíbrio nas nações. Ressalta-se que a construção cognitiva crítica deve respeitar todas as
diversidades culturais, sabendo que o que unifica as sociedades mesmo com percepções diferen-
tes das paisagens é o interesse difuso da melhoria da qualidade de vida do coletivo.

1.3 Percepção ambiental e paisagens educadoras

Percepção é o ato de conhecer, pela inteligência ou entendimento, independentemente


dos sentidos. No caso da percepção ambiental, é conhecer e ter preocupação com os proble-
mas ambientais (DICIONÁRIO DE LÍNGUA PORTUGUESA, 2016).
Processos perceptivos devem estar sempre inseridos dentro de processos participativos
e educadores para não se tornarem meros diagnósticos que têm apenas o objetivo de facilitar
a gestão centralizada dos dirigentes a partir do fornecimento passivo de dados sobre os ato-
res socioambientais envolvidos. Educar e participar para uma maior percepção ambiental
da paisagem tem sido um desafio mundial.
Por um lado, está ocorrendo uma verdadeira alienação de sensibilidades e percepções
ambientais e culturais por conta das facilidades tecnológicas, e, por outro, com a crescente
crise ambiental, há a necessidade do envolvimento de diferentes atores viventes na paisa-
gem a participarem e colaborarem com a resolução dos problemas socioambientais.
O que se percebe é que não tem sido uma tarefa fácil para as diferentes partes da so-
ciedade e que as pesquisas e projetos nessa área têm sido fundamentais para tornar essas
experiências cada vez mais adequadas às características ambientais e sociais específicas de
cada paisagem.

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 13


1 Percepção ambiental e sociedade
(paisagem, sociedade e ambiente)
Para que a preocupação ambiental chegue a um processo de sensibilização e percepção
ambiental, faz-se necessário que processos educativos estejam presentes dentro do ensino
formal e informal. A sensibilização e estímulo do cognitivo para a diversidade das paisa-
gens, não só dos educadores, mas de toda a comunidade de diferentes níveis econômicos,
são imprescindíveis para o processo, pois permitem a consolidação das responsabilidades
socioambientais, promovendo, quando necessário, mudanças de hábitos, ações e comporta-
mentos diários que impactam tanto o meio ambiente (GAZZONI et al., 2015).
A crise civilizatória enfrentada atualmente tem origem no paradigma da globalização
predatória, que coloca os interesses particulares e os ganhos financeiros acima da vida. Por
isso, não faria mais sentido restringir a noção de cidadania a um país. A construção de no-
vos paradigmas que visam o respeito à diversidade cultural, étnica, ambiental, entre outras,
f­ az-se necessário para a mudança dos padrões atuais de desenvolvimento e relações huma-
nas (CARVALHO, 2015).
Desta forma, o grande educador Paulo Freire (1996) argumenta sobre a necessidade de
uma educação libertadora que traz a conscientização da cidadania e da necessidade das pes-
soas participarem de processos de promoção de qualidade de vida em suas comunidades.
Neste sentido, o estímulo da percepção da paisagem pode ser um importante instrumento
de transformação social e construção de sociedades sustentáveis. Uma vez que o indivíduo
percebe mais o seu ambiente, que vão desde detalhes como um beija-flor fazendo a polini-
zação de uma planta até o planejamento territorial por meio de um plano diretor, podem
estar sendo construídos de forma cognitiva valores e sentimentos de pertencimento àquela
realidade/paisagem, fazendo com que ela seja melhor cuidada e respeitada.
É neste contexto que a Educação Ambiental se faz necessária como tema central para a
discussão de uma educação não subordinada à lógica e às práticas feitas a manutenção da
sociedade global, proporcionando criticidade e empoderamento das pessoas. Assim, deve
ser pensada uma construção coletiva das realidades das comunidades com pessoas engaja-
das e conscientes da necessidade de uma sociedade de caráter planetário, em que todos são
corresponsáveis pela qualidade de vida do presente e do futuro (CARVALHO, 2015).
A Educação Ambiental promovida de forma democrática é um valor estratégico perma-
nente para a conquista e consolidação de uma sociedade equilibrada. A pluralidade dos su-
jeitos políticos, a autonomia dos movimentos de massa, a liberdade de organização e tantas
outras conquistas das sociedades democráticas devem ter pleno valor na sociedade.
A mobilização e a articulação em torno de ações práticas de educação ambiental têm
possibilitado a população o acesso às informações sobre as questões socioambientais, e con-
sequentemente o aumento da sensibilização.
Inúmeras ações de educação ambiental têm contribuído para que os governantes te-
nham uma melhor percepção ambiental se posicionem com políticas públicas, e de maneira
efetiva, no sentido de fiscalizar e combater os crimes socioambientais.
O desenvolvimento de ações de educação ambiental que despertem a percepção do ser
humano em relação à dependência que o mesmo tem dos recursos naturais se faz urgente,
tanto para a sua sobrevivência, quanto para de seus descendentes, uma vez que os recursos

14 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Percepção ambiental e sociedade
(paisagem, sociedade e ambiente) 1
naturais estão escassos como, por exemplo, a água, evidenciada por inúmeras crises hídricas
de abastecimento pública e em todas as regiões do Brasil.
A educação ambiental parte de princípios que se amarram a fins. Um deles é a for-
mação para a cidadania, ou seja, para a participação ativa na sociedade (FREIRE, 1979).
A educação para a participação é condição permanentemente conquistada por meio da
consciência crítica, que implica ação-reflexão sobre a realidade, baseada em referências
éticas e sociais que promovam mais vida em suas diversas dimensões. Neste sentido, a
educação ambiental compreende o meio ambiente em sua totalidade, ou seja, todos que
estão no mesmo espaço e na paisagem, vivenciando suas realidades sociais, econômicas,
culturais, políticas e ecológicas.
Uma questão importante é que, ao lidar com pessoas, os processos formativos devem
contar com uma equipe interdisciplinar buscando contemplar profissionais tanto das áreas
ambientais quanto humanas, visando assim à integração dos saberes biofísicos com os sabe-
res socioculturais, o que é de extrema relevância para a construção de processos cognitivos
de percepção ambiental de forma complexa e profunda.
O enfoque da percepção ambiental da paisagem é uma ótima oportunidade dos edu-
cadores se aprofundarem no tipo de bioma que ali ocorre, por exemplo, se é uma região de
Cerrado ou Mata Atlântica, quais são as espécies que vivem por ali, quais os rios que estão
presentes, qual a história do lugar e das pessoas que por ali moram ou passam etc.
Desta forma, é possível correlacionar todo um conhecimento presente em uma paisagem e
trazer para o dia a dia das pessoas de maneira educativa no sentido de sensibilizar e conscien-
tizar sobre a importância da diversidade biológica e cultural para a qualidade de vida das pes-
soas, seja na oferta de água, alimento, equilíbrio climático, lazer, espiritualidade etc.
Segundo Milton Santos (1985), o primeiro passo a ser quebrado é a concepção de “espa-
ço físico banalizado como mera concreção pragmática, algo sem alma e sem história, restrito
à unidade de medida física geometricamente definível, quando se sabe que os espaços con-
tam a história da civilização humana, são objetos informativos e formativos extrapolando
a mera materialidade”. A paisagem é percebida pela apreensão da sua relação com a so-
ciedade por meio das categorias analíticas: forma, função, processo e estrutura, sendo elas
socioambientais, históricas e culturais.
Esta percepção ambiental da paisagem teve ter o planejamento e a gestão ambiental
de maneira participativa, nos quais os diferentes grupos da sociedade se envolvem para o
planejamento das ações na paisagem. Neste sentido, a educação ambiental emerge como
instrumento de efetivação do resgate de saberes e construção de novas perspectivas de me-
lhoria da qualidade de vida do presente e futuro.
A educação ambiental que se deseja no fomento do planejamento e gestão participativa,
seja em diversas escalas como em seu bairro, sua escola, seu município, estado ou nação,
deve promover o entendimento, por meio da sensibilização socioambiental, de que nas pai-
sagens e espaços existe a diversidade e é deveras importante o respeito às diferentes formas
de pensamento, sabendo das complexidades das comunidades que são entrelaçadas em
suas culturas, por meio de um pensamento amplo e interdisciplinar.

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 15


1 Percepção ambiental e sociedade
(paisagem, sociedade e ambiente)

Ampliando seus conhecimentos

As teorias de análise da paisagem e


percepção do meio ambiente e seus recursos
de aplicação
(PIPPI, 2008)

Baseados em teorias de análise visual e percepção do meio ambiente,


vamos buscar os recursos mais adequados para a representação da paisa-
gem, como forma de registro para posterior análise e compreensão. Dessa
forma estaremos garantindo que cada ambiente tenha suas características
levantadas e analisadas, servindo como base para propostas de projeto e
planejamento estratégico.

No que concerne ao urbanismo, em documentos do plano diretor, pla-


nejamento urbano ou projetos de revitalização urbanística, o diagnóstico
da paisagem deve ser um instrumento de ajuda para a intervenção e pla-
nejamento do território, fornecendo bases concretas para justificar suas
funções e negociar as intervenções das diversas partes envolvidas. Esse
diagnóstico da paisagem e do espaço urbano como um conjunto consiste
em evidenciar suas principais características, seus pontos fortes e seus
desequilíbrios. Trata-se de conhecer o potencial paisagístico do território
e compreender seu funcionamento.

Felippe (2003) demonstrou um método de análise da paisagem para ela-


boração de plano diretor dividido nas etapas de conhecer, compreender,
avaliar e propor. Conhecer a paisagem significa restituir a cidade em sua
paisagem natural, identificar suas características fundamentais, caracteri-
zar o conjunto do território da cidade e identificar as unidades paisagís-
ticas. A interação entre os enfoques subjetivos e objetivos, complemen-
tados pelo estudo da evolução da paisagem, permite a identificação de
unidades paisagísticas distintas no território de uma determinada região.
Compreender o funcionamento de cada unidade paisagística de maneira
objetiva e subjetiva, em que a caracterização das paisagens (ou unidades
paisagísticas) pode ser feita por texto escrito, fotos e croquis, permitindo
estudar a necessidade de conscientização da sociedade em relação à apa-
rição de componentes a serem preservados, revitalizados ou mesmo eli-
minados. Avaliar é colocar em evidência os fatores de evolução da paisa-
gem e identificar os pontos fortes e fracos. Propor é identificar os bairros,
ruas, monumentos, sítios e setores a serem protegidos ou valorizados

16 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Percepção ambiental e sociedade
(paisagem, sociedade e ambiente) 1
por motivos de ordem estética, histórica ou ecológica e definir, eventual-
mente, as prescrições naturais para assegurar sua proteção.

“Quando se estuda a Paisagem e seus valores ambientais, precisa-se ade-


quar a abordagem conceitual e metodológica de análise das mesmas para
a realidade do local a ser analisado.” (MACEDO, 1993, p. 14; PIPPI, 2004).
O Brasil, pela grande dimensão territorial, apresenta as mais variadas pai-
sagens e ecossistemas constituintes, e é por isso que, para cada um deles,
existem diferentes formas de abordagem. A paisagem litorânea é geral-
mente composta por diversas unidades de paisagem, como, por exemplo:
os morros, as praias, as dunas, as lagoas, os rios, os manguezais e as ocu-
pações urbanas.

“Um Sistema de Paisagem pode, então, ser ordenado tanto por predomi-
nâncias físicas sob forma cristalizada ou por fluxos, presentes na natu-
reza e criados pela ação antrópica, tais como: conjuntos de serras, morros,
colinas; correntes climáticas; correntes hídricas de superfície, doces ou
salgadas (bacias e mares), ou subterrâneas (lençóis); metrópoles, cidades
e vilas, articuladas por vias, redes de infraestrutura e comunicações, auto-
estradas e obras de engenharia como pontes, barragens, etc. A Unidade
de Paisagem é, portanto, uma subdivisão do sistema de paisagem e está
muito mais ligada à escala de percepção humana comum. (...) o conceito
de Unidade de Paisagem já facilita em muito a criação de cenários no pro-
cesso de Planejamento e Desenho Ambiental.” (FRANCO, 1997, p. 137)
São atribuídos valores às unidades de paisagem pela comunidade e seus
visitantes. Esses locais justificam sua classificação como unidades de pai-
sagens devido ao seu marco paisagístico e ambiental, expresso nos valo-
res: naturais, sociais, simbólicos, históricos e culturais.

Essas são delimitadas conforme o tipo de organização do uso do solo


urbano, sendo importante relacionar-se o valor ecológico como estratégia
de ação para organizar, de maneira integrada, o uso do solo, levando-se
em consideração os aspectos ambientais e paisagísticos no planejamento
urbano. No topo dos morros ou pelos voos aéreos podemos obter uma
visão abrangente das diferentes paisagens e sua dinâmica, em que pode-
mos perceber os elementos físicos, as intervenções antrópicas sobre os ele-
mentos naturais e, assim, identificar um sistema de paisagem composto
por diversas unidades de paisagens (PIPPI, 2004).

As Unidades de Paisagem – UPs, divisões morfológicas definidas de acordo


com as características físicas de uma determinada região, são analisadas
conforme o uso do solo e pelos valores paisagísticos e ambientais. A partir

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 17


1 Percepção ambiental e sociedade
(paisagem, sociedade e ambiente)

dessas análises é possível identificar as áreas mais significativas da paisa-


gem, bem como as áreas mais sensíveis, visando estabelecer todas as dire-
trizes ambientais e paisagísticas para o planejamento urbano (PIPPI, 2004).

A partir do diagnóstico paisagístico e da proposta de planejamento ou


intervenção, uma série de objetivos são traçados, identificados e repre-
sentados por plantas ou mapas de zoneamentos com espaços definidos:
a manter, a urbanizar ou a requalificar, por exemplo, determinando as
orientações principais por tipos de espaço e localização.

A proposta também deve ser explicitada com relatório de apresentação


(texto) contendo a descrição e a análise da estrutura paisagística da cidade
(do espaço, do ambiente), englobando os espaços naturais e os construídos.

Atividades
1. Esta atividade de percepção ambiental se chama mapa mental e envolverá as três
partes desta aula. Para começar é necessário escolher o tema principal no centro de
uma folha grande. O tema pode ser, por exemplo, arborização urbana, saneamento
básico, paisagem rural etc.

– Elaboração de ramos e representações da paisagem

Depois de definir o elemento principal você puxa elementos que se ligam direta-
mente com ele através de perguntas norteadoras (A cidade coleta esgoto? Onde?
Como é feito o tratamento?) sobre o tema, e cria os ramos principais do seu mapa
mental. Depois de criar um ramo principal, você liga outro ramo a ele, que se torna
o subtópico do ramo principal e com isso você vai aprofundando cada vez mais sua
percepção. Nos ramos é sugerido que se faça desenho também e utilize diferentes
cores para fazer representações.

Como apoio, é interessante que se tenha materiais diversos de desenhos como, por
exemplo, papeis de diferentes tamanhos e cores e lápis de cor ou giz de cera, além de ou-
tros objetos que possam ser representativos da percepção ambiental dos participantes.

Referências
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Freire. 2015. 211 p. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação da Universidade de
São Paulo, São Paulo, 2015. Disponível em: <teses.usp.br/teses/disponiveis/48/...11052015.../JACIARA_
CARVALHO_rev.pdf>. Acesso em: 15 out. 2016.

18 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Percepção ambiental e sociedade
(paisagem, sociedade e ambiente) 1
DEL RIO, V, OLIVEIRA, L. de. Percepção ambiental: a experiência brasileira. São Carlos, SP: Nobel,
ed. 2, 1999.
DICIONÁRIO DE LÍNGUA PORTUGUESA, (2016). Porto Editora, 2003-2016. Disponível em: <www.
infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/percep%C3%A7%C3%A3o>. Acesso em: 15 nov. 2016.
FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e pratica da libertação. São Paulo: Cortez, 1979.
______. Pedagogia do oprimido. Saberes necessários para a prática educativa, 25. Ed. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1996.
HHANNIGAN, J. A. Environmental sociology. New York: Routledge, 2006. 194 p.
HOEFFEL, João Luis; FADINI, Almerinda. Percepção ambiental. In: FERRARO Jr., Luiz Antonio
(Org.). Encontros e caminhos: formação de educadoras(es) ambientais e coletivos educadores. Brasília:
MMA, Departamento de Educação Ambiental, 2007. Disponível em: <www.mma.gov.br/estruturas/
educamb/_publicacao/20_publicacao13012009094643.pdf>. Acesso em: 5 out. 2016.
HOEFFEL João Luiz; BARBOSA, Almerinda Antonia. Trajetórias do Jaguary – unidades de conser-
vação, percepção ambiental e turismo: um estudo na APA do Sistema Cantareira, São Paulo. Revista
Ambiente & Sociedade, Campinas, v. XI, n. 1, p. 131-148, jan./jun. 2008. Disponível em: <www.scielo.
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LEITE, M. A. F. P. Destruição ou desconstrução? São Paulo: Hucitec, 1994. 117 p.
MATURANA, Humberto; VARELA, Francisco. Autopoiésis and Cognition. Dordrecht, Ho: D. Reidel,
1980.
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como participante do processo relativo ao projeto de utilização do espaço. Florianópolis. Dissertação
de mestrado - programa de pós-graduação em Engenharia de Produção, UFSC, 1995.
PELLEGRINO, P. R. M. A ecologia da paisagem e ambiente. Ensaios, São Paulo, USP/FAU, 9: 47-81, 1996.
PILOTTO, Jane. Áreas verdes para a qualidade do ambiente de trabalho: Uma questão ecoergonômi-
ca. Dissertação de mestrado, UFSC, 1997.
______. Rede verde urbana: um instrumento de gestão ecológica. Tese de doutorado em Engenharia
de Produção, UFSC, 2003.
SANTOS, Milton. Metamorfose do espaço habitado. 5° ed. São Paulo: Editora HUCITEC, 1997.

Resolução
1. Aqui segue um exemplo de ramos e representações que pode ser produzido pelo
aluno.

Ao final é possível comparar os mapas mentais a fim de correlacionar as percepções


sobre a paisagem e as comunidades viventes nela, enfocando a troca de saberes que
vão desde as questões ambientais até as representações culturais e históricas da pai-
sagem mentalizada/percebida.

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 19


2
Sistemas de Gestão
Integrada: ambiental;
qualidade; saúde e segurança

Introdução

Durante todo o processo de industrialização em todo o mundo, os recursos natu-


rais foram explorados de forma desordenada, ocasionando efeitos negativos ao meio
ambiente e ao ser humano. Historicamente as pessoas são exploradas em seu ofício de
trabalho, o que tem gerado reflexão sobre a relação da empresa com a força de traba-
lho, da política econômica praticada atualmente, e suas consequências negativas para
a saúde e segurança do trabalhador e para o meio ambiente. Desta forma, novos mode-
los de gestão estão mudando de maneira significativa a relação produção e consumo
por meio de sistemas integrados. Assim, este capítulo irá apresentar uma abordagem
da teoria de sistemas, sistemas de gestão integrada e os benefícios para os modos pro-
dutivos e para o consumidor.

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 21


2 Sistemas de Gestão Integrada: ambiental;
qualidade; saúde e segurança

2.1 Uma abordagem de sistemas

A noção de sistema sempre foi usada intuitivamente. Mesmo o homem selvagem depen-
de da noção de sistema quando cria referenciais de ordenamento para compor seus mitos ou
para estabelecer a ocupação de seus espaços. O pensamento moderno e contemporâneo fez
uso continuado desse conceito, como mostrou na medicina Claude Bernard (1813-1878), ao
distinguir o “ambiente externo e interno” do corpo humano.
O avanço tecnológico, especialmente no pós Segunda Guerra Mundial, é notório e evi-
dente em todas as áreas do conhecimento. Um dos resultados deste avanço é o aumento
da complexidade dos processos produtivos e também as relações de produção e consumo,
formando uma cadeia sistêmica de autocontrole. Desde este momento, o termo sistemas
vem sendo mais conhecido e popularizado na sociedade moderna. As novas demandas e
a necessidade de se buscar novos caminhos para realizar tarefas nas empresas fazem sur-
gir novas profissões voltadas ao “enfoque sistêmico”, com o objetivo de realizar a função
estabelecida com o máximo de eficiência e menores custos possíveis, melhorando assim os
fluxos financeiros das empresas (NEGRI, 2016).
Um sistema pode ser representado por um complexo de elementos em interação, e pode
ser definido de várias maneiras, como por exemplo, um sistema de equações diferenciais
simultâneas. Para Negri (2016), podem-se diferenciar complexos de acordo com o seu nú-
mero, espécie, ou de acordo com suas relações nas organizações. Ocorrem as características
somativas e as características constitutivas, sendo as somativas, por exemplo, a representa-
ção da massa molecular e o calor, enquanto as constitutivas não são explicáveis a partir de
características de alguma parte isolada, seguindo o pensamento de que “o todo é mais do
que a soma das partes”.
Sistema é, portanto, uma forma lógica de apreensão da realidade vivenciada em seu
tempo e espaço. Quando se constrói sistemas, não se faz com o objetivo da busca de um
“reflexo” do mundo real, mas sim a descrição ou destaque daqueles “traços” da realidade,
cujo conjunto permite a percepção de uma condição de ordem e a proposição de uma forma
operativa voltada para um dado objetivo.
Churchman (1971) é um importante autor que abordou de forma clara e objetiva a apli-
cabilidade e praticidade da teoria sistêmica na área da gestão e administração, organizando
e descrevendo considerações básicas como o objetivo central do sistema, o seu ambiente, os
recursos e os componentes dos sistemas e suas respectivas medidas de rendimento.
Dentre as definições sugeridas pelo autor, destacam-se algumas que têm grande utili-
dade no auxílio da aplicação prática dessa teoria.
a) Sistemas: Conjunto estruturado visando a um fim, no qual existem relações
complexas e não triviais entre os elementos constitutivos, de modo que o todo
seja mais do que a soma das partes. Exemplo: sistema econômico.
b) Sistema operacional: Conjunto de atividades estruturadas, visando a um obje-
tivo estabelecido, especialmente à produção de bens e serviços econômicos ou
socialmente valiosos. Exemplos: empresa, hospital, escola.

22 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Sistemas de Gestão Integrada: ambiental;
qualidade; saúde e segurança 2
c) Sistema administrativo: Conjunto de recursos estruturados, constituídos de
pessoas, equipamentos, materiais e procedimentos, destinados a processar uma
tarefa administrativa específica. Exemplos: rotina de seleção e controle de pro-
dução e materiais, controle de desempenho.
d) Sistema de informação: Subsistema do sistema administrativo, destinado a
processar o fluxo de informação. Exemplos: sistema contábil, sistema de controle
de qualidade.
Churchman (1971), também destacou alguns elementos dos sistemas.
1 – Diretrizes, objetivos, planos, projetos, metas;
2 – Entrada (input), saída (output), processamento, meio externo, variáveis endó-
genas, interface, ambiente externo, variáveis exógenas;
3 – Laços positivos (amplificadores) e laços negativos (estabilizadores);
4 – Sensor, medidor, controle, correção, retroação, homeostase, regulador, servo-
mecanismo, cibernética de segunda ordem;
5 – Ruído, entropia, antissistema, redundância.
Todo sistema compõe-se de sistemas de ordem inferior, ou subsistemas, que, por sua
vez, fazem parte de um sistema de ordem superior. Desse modo, há uma hierarquia entre os
componentes do sistema. A noção de hierarquia não está apenas relacionada aos níveis de
subsistemas, fundamentando-se na necessidade de um abarcamento mais amplo ou de um
conjunto de subsistemas que componha um sistema mais amplo, visando à coordenação das
atividades e processos.
Além disso, os sistemas classificam-se também conforme gêneros. Podem-se pressupor
duas condições extremas, os sistemas naturais (relativos à natureza) e os sistemas sintéticos
(relativos ao homem). Os sistemas, em relação à sua interação com o meio ambiente, têm
sido classificados como fechados ou abertos, embora na realidade nenhum deles se apresen-
te sob essas formas extremas, cabendo uma interface de fronteira e condições.
Uma distinção importante para a teoria da organização sistêmica é a classificação das
organizações em sistemas fechados ou abertos.

2.1.1 Sistema fechado


Um sistema fechado é aquele que não realiza intercâmbio com o seu meio externo, ten-
dendo necessariamente para um progressivo caos interno, desintegração e morte.
Nos sistemas produtivos arcaicos e antigos, a organização era considerada suficien-
temente independente para que seus problemas fossem analisados em torno de estrutu-
ra, tarefas e relações internas formais, sem referência alguma ao ambiente externo, pois as
atenções estavam concentradas apenas nas operações internas da organização, adotando-se,
para isso, enfoques racionalistas.
Os sistemas fechados, de acordo com o segundo princípio da termodinâmica, devem
alcançar um estado de equilíbrio em que o sistema permanece constante no tempo e os

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 23


2 Sistemas de Gestão Integrada: ambiental;
qualidade; saúde e segurança
processos param. O estado de equilíbrio eventualmente alcançado nos sistemas fechados é
determinado pelas condições iniciais, significando que a característica principal do sistema
fechado é a tendência inerente à movimentação para um equilíbrio estático e à entropia, isto
é, o grau de desordem do sistema Churchman (1971).
Percebe-se que uma empresa cujo objetivo é permanecer funcional, dificilmente se en-
caixará neste tipo de sistema, especialmente pelas múltiplas e heterogêneas relações que ela
deve ter para suportar as oscilações do mercado.

2.1.2 Sistema aberto


Todo sistema que troca matéria e energia com o seu meio externo é denominado
aberto. Nos modelos de produção da atualidade, a empresa é um sistema aberto, pois
possui um sistema mantido em importação e exportação de produtos e relações, em
construção e destruição de componentes materiais, com total troca de matéria com o
meio (MALHADAS JUNIOR, 2010).
O mesmo autor discorre que, em um sistema aberto, são característicos quatro elemen-
tos básicos:
a) Objetivos: são partes ou elementos do conjunto. Dependendo da natureza do
sistema, os objetivos podem ser físicos ou abstratos.
b) Atributos: são qualidades ou propriedades do sistema e de seus objetos.
c) Relações de interdependência: um sistema deve possuir relações internas com
seus objetos. Essa é uma qualidade definidora crucial dos sistemas. Uma relação
entre objetos implica um efeito mútuo ou interdependência.
d) Meio ambiente: os sistemas não existem no vácuo; são afetados pelo seu meio
circundante (MALHADAS JUNIOR, 2010, p. 9, 10, 13).
Os sistemas abertos podem, uma vez pressupostas algumas condições, alcançar um
estado constante de equilíbrio, de modo que os processos e o sistema como um todo não
chegue a um repouso estático. Ou seja: se em um sistema aberto é alcançado em um estado
constante independentemente do tempo, esse estado é independente das condições iniciais
e depende apenas das condições atuais do sistema.

2.1.3 Integração conceitual e gestão


A teoria geral dos sistemas tem como função integrar as ciências. Essa integração não
tem como objetivo de reduzir tudo ao nível da física, mas sim na elaboração de leis que sir-
vam para todas as áreas.
A concepção humana de desenvolvimento está muito ligada ao desenvolvimento de
novas tecnologias e inventos, que inclusive levaram a grandes catástrofes da atualidade
como, por exemplo, desastres ambientais inimagináveis, como o caso do rompimento das
barragens de Mariana em Minas Gerais, no ano de 2015, ou mesmo as mudanças climáti-
cas que têm alterado de maneira significativa os ambientes em diversas regiões do mundo.

24 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Sistemas de Gestão Integrada: ambiental;
qualidade; saúde e segurança 2
É possível que, se tratarmos o mundo como uma grande organização, daremos mais impor-
tância aos seres vivos, pois eles são fundamentais para o equilíbrio dos ecossistemas, que
por sua vez são fundamentais para fornecerem recursos naturais para a manutenção dos
padrões de desenvolvimento e de consumo da atualidade.
Neste cenário, um instrumento que pode ser útil para o direcionamento e solução de
diversos tipos de problemas de insustentabilidades socioambientais, econômicas, históricas
ou culturais é a implementação dos denominados sistemas de gestão.
Segundo Viterbo Júnior (1998, p. 15):
Os objetivos básicos do sistema de gestão são o de aumentar constantemente o
valor percebido pelo cliente nos produtos ou serviços oferecidos, o sucesso no
segmento de mercado ocupado (através da melhoria contínua dos resultados
operacionais), a satisfação dos funcionários com a organização e da própria so-
ciedade com a contribuição social da empresa e o respeito ao meio ambiente.
O sistema de gestão, quando bem organizado e implantado, pode gerar, por exem-
plo, o controle sobre a utilização de matérias-primas e insumos advindos da natureza,
bem como a definição de objetivos e metas, o que implica muitas vezes na otimização de
processos produtivos e podem trazer redução do desperdício e da geração de resíduos
sólidos, efluentes líquidos e emissões atmosféricas, além de gerar um ambiente de traba-
lho favorável ao trabalhador, seja em sua segurança, seja em sua satisfação, além é claro
do maior respeito com os consumidores e/ou moradores situados nas áreas de influência
direta dos processos produtivos.

2.2 Sistemas de gestão integrada

As mudanças sociais, políticas, econômicas e ambientais são evidentes na atualidade. A


propagação da internacionalização de mercados, a chamada globalização, tem sido um dos
impulsionadores desse processo. Os países têm criado mecanismos de defesa de seus inte-
resses econômicos, e em conjunto com o setor empresarial, seja com confederações, sindica-
tos, associações etc., o fortalecimento de sua economia, levando em consideração, portanto,
essas mudanças na sociedade (MORAES, 2013).
A partir do início da década de 1980 começou a ficar evidente que as crescentes exigên-
cias do mercado, os aspectos custo e qualidade, aliados a uma maior consciência ecológica,
geraram um novo conceito de qualidade, holística e orientada, também, para a qualidade
de vida.
O “meio ambiente” adquire neste contexto uma nova dimensão: passa de uma conota-
ção essencialmente local para uma concepção global, é reconhecido como bem econômico e
sujeito a mecanismos de mercado, é incorporado nas estratégias individuais e coletivas dos
diferentes agentes sociais.
Somado a isto, os direitos trabalhistas e sociais também fizeram parte das exigências dos
modos de produção pressionados por mercados consumidores, especialmente o europeu

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 25


2 Sistemas de Gestão Integrada: ambiental;
qualidade; saúde e segurança
que, por meio das transações de mercado e comércio, começam a impor medidas de respeito
às formas de produção, sejam elas ao meio ambiente e ao trabalhador.
Desta forma, o sistema de gestão integrado (SGI) que busca correlacionar inúmeras prá-
ticas de qualidade, segurança e saúde ocupacional, meio ambiente, responsabilidade social,
segurança de alimentos, entre outros, conforme especificidades de cada empresa, quando
adotado e implantado nos sistemas de gestão das empresas, tem como características a bus-
ca da melhoria contínua de seus processos, produtos e serviços, melhorando assim a qua-
lidade dos seus produtos, seus mercados de negócios e imagem perante os consumidores.
De acordo com Bio 3 Meio Ambiente e Sustentabilidade (2016), uma empresa de con-
sultoria em sustentabilidade empresarial, entre as ações de um sistema de gestão ambiental
estão a busca contínua pela excelência em qualidade em todos os seus serviços e a satisfação
dos clientes, a capacitação profissional, o incentivo ao comportamento ético e responsável,
o atendimento às legislações aplicáveis e a preservação do meio ambiente e da integridade
física de seus colaboradores.
Uma das empresas mais complexas em sistemas de gestão atualmente no Brasil, pela
sua característica de produção, é a Petrobras, que mantém relações comerciais internacio-
nais de grande fluxo econômico com inúmeros países de todos os continentes. Em seu portal
on-line (2016), aborda que o Sistema de Gestão Integral é um conjunto de práticas inter-rela-
cionadas que atendem aos requisitos das seguintes normas vigentes no Brasil:
• NBR ISO 9001:2008 – Sistema de gestão da qualidade
Objetivo: Sistema de gestão com abordagem por processos para atendimento a requisi-
tos dos clientes.
• NBR ISO 14001:2004 – Sistema de gestão ambiental
Objetivo: Sistema de gestão ambiental que leva em conta requisitos legais, requisitos
próprios, aspectos e impactos ambientais significativos, permitindo controlar os riscos de
acidentes ambientais.
• OHSAS 18001:2007 – Sistema de gestão de segurança e saúde ocupacional
Objetivo: Sistema de gestão de segurança e saúde ocupacional que leva em conta requi-
sitos legais, requisitos próprios, perigos e danos, permitindo controlar os riscos de acidentes
e doenças ocupacionais.
O cumprimento de tais normas dá o direito da aquisição da certificação do SGI e de-
monstra o comprometimento da empresa, seja ela na industrialização, comercialização, dis-
tribuição de produtos e prestação de serviços com qualidade, respeitando o meio ambiente
e zelando pela saúde e segurança da sua força de trabalho e parceiros.
O início do processo da implantação de um SGI, seja para empresas do setor público ou
privado, ocorre nas tomadas de decisões de seus dirigentes por meio do comprometimento
e entendimento de que este processo trará benefícios a curto, médio e longo prazo. Para isso,
será necessário ocorrer um aporte financeiro, que não deve ser entendido como custos, mas
sim como investimento, e que será compensado ao longo do tempo com o aprimoramento
dos processos produtivos, por meio de uma metodologia de melhoria contínua.

26 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Sistemas de Gestão Integrada: ambiental;
qualidade; saúde e segurança 2
Ao optar pela adoção deste conjunto de normas citadas, a empresa irá estabelecer uma
política de gestão diferenciada que, dependendo do mercado com quem faz negócio, poderá
fazer toda a diferença para fechar novos contratos ou mesmo manter os já existentes. Esta
política de SGI deverá englobar a busca pela melhoria contínua e o respeito pelo meio am-
biente e por seus colaboradores, bem como outros aspectos relacionados ao negócio.
Uma característica marcante dos SGI é almejar a melhoria contínua dos processos pro-
dutivos e estabelecer indicadores de avaliação para a qualidade, para o meio ambiente e
para a saúde e segurança do trabalhador. Estes indicadores medirão o desempenho de cada
atividade e são personalizados para cada negócio e tipo de atividade produtiva.
Os indicadores devem abranger a totalidade de possíveis situações que possam gerar
impactos negativos pelos processos produtivos. No quadro 1, estão apresentados alguns
exemplos de indicadores de monitoramento da qualidade.

Quadro 1 – Exemplos de indicadores de monitoramento da qualidade.

Fator analítico Indicadores


- número de produtos com defeitos;
- insatisfação do consumidor;
Qualidade
- horas de produção paralisadas;
- controles de estoques.
- consumo de água nos processos de produção;
- quantidade de resíduos gera-
Meio ambiente dos por quantidade produzida;
- emissão de poluentes por falta de ma-
nutenção de mecanismos de controle.
- número de acidentes de trabalho;
- número de dias sem ocorrência de acidentes;
Saúde e segurança operacional - número de horas de treinamento;
- uso adequados de equipamen-
tos de proteção individual.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Um dos benefícios da implantação de um sistema de gestão integrada para uma empre-


sa que adota esta metodologia é a melhoraria de seus processos internos de forma competi-
tiva, garantindo o atendimento de padrões internacionais.
Uma vez com a adoção do SGI, a organização pode atender a todas as exigências das
regras certificadoras de uma só vez e obter um único sistema de gestão documentado por
organismos certificadores.
Os organismos certificadores fazem auditorias periódicas após a certificação inicial,
afim da fiscalização do cumprimento das regras visando à manutenção dos certificados,
por meio de renovações que são feitas por períodos que variam para cada setor produtivo.

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 27


2 Sistemas de Gestão Integrada: ambiental;
qualidade; saúde e segurança
As auditorias podem ser internas ou externas e abrangem as três esferas do SGI (quali-
dade, meio ambiente e saúde e segurança no trabalho) e reduzem os custos das auditorias
individuais que seriam feitas de forma individualizada, caso a empresa optasse por um
sistema de certificação que não seja integrado, significando, assim, menos interrupções nos
negócios com maior racionalidade.
Logo, os benefícios do sistema de gestão integrada podem ser listados no quadro 2 e
que abrangem as múltiplas dimensões dos sistemas produtivos.

Quadro 2 – Exemplos de benefícios do sistema de gestão integrada.

Dimensão Benefícios
Melhoria de qualidade e aumento da pro-
dutividade em produtos e serviços.
Produtividade
Economia de tempo e custos por meio da oti-
mização dos processos de trabalho.
Transparência dos processos internos e redução da
burocracia por meio da gestão documental.
Fortalecimento da imagem da empresa e au-
Comunicação mento na participação no mercado.
Melhoria do relacionamento com todas as par-
tes interessadas (clientes, colaboradores, fornece-
dores, sociedade, meio ambiente e acionistas).
Satisfação dos critérios dos investidores estra-
Econômicos tégicos e melhoria do acesso ao capital.
Possibilita a redução dos custos de seguros.
Oportunidades para conservação de re-
cursos ambientais e energia.
Permite a consideração de custos ambientais e de se-
gurança em paralelo com os custos da qualidade.
Prevenção de reclamações, redução dos riscos
Gestão ambiental
e impactos ambientais, além dos riscos de aci-
dentes com os colaboradores por meio da ado-
ção e priorização de práticas de prevenção.
Demonstrar, para reguladores e governo, um compro-
metimento em obter conformidade legal e regulatória.
Fonte: Elaborado pelo autor.

2.3 Benefícios e avanços para


produtores e consumidores

Para Antunes, (2013) e Bio 3 Meio Ambiente e Sustentabilidade (2016), o sistema de


gestão integrada, quando adotado, traz benefícios significativos nos processos produtivos
em relação aos próprios produtores e os seus consumidores.

28 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Sistemas de Gestão Integrada: ambiental;
qualidade; saúde e segurança 2
No quadro 3 estão relacionados alguns benefícios na relação produção e consumo.

Quadro 3 – Alguns benefícios na relação produção e consumo.

Cadeia produtiva Benefícios


Melhoria da imagem da organização no âm-
bito nacional e internacional.
Redução dos recursos internos e infraestru-
tura necessária para a manutenção e melho-
Produção
ria contínua dos sistemas de gestão.
Melhoria do treinamento, conscientiza-
ção e competência da força de trabalho.
Redução da complexidade do sistema de gestão.

Cadeia produtiva Benefícios


Aumento da confiabilidade e disponibilidade dos
processos, atividades, produtos e serviços.
Melhoria do desempenho organizacional competitivo.
Redução de custos e investimentos de implantação, certi-
ficação, manutenção e auditoria dos sistemas de gestão.
Formação de uma equipe integrada na empresa, va-
lorizando desde os cargos de alta cúpula da dire-
toria até servidores e prestadores de serviços.
Melhoria da satisfação dos trabalhadores da empresa.

Produção Redução nos custos com treinamento.


Eliminação da manutenção dos múltiplos sistemas.
Redução do retrabalho e inconsistências.
Maior controle sobre a operação da empresa.
Eliminação de interfaces entre sistemas isolados.
Melhoria da qualidade da informação.
Otimização global dos processos da empresa.
Padronização de informações e conceitos.
Eliminação de discrepâncias entre informa-
ções de diferentes departamentos.
Melhoria da satisfação e da confiança das partes in-
teressadas (acionistas, clientes, força de trabalho; for-
necedores, comunidade, das ONGs e governo).
Melhoria das comunidades viventes nas áreas de in-
Consumidor fluência direta da atividade produtiva.
Transparência das práticas produtivas.
Melhoria do produto em si.
Garantia de qualidade ambiental nas fontes de matérias-primas.
Justiça socioambiental.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 29


2 Sistemas de Gestão Integrada: ambiental;
qualidade; saúde e segurança
Os benefícios gerados pelo sistema de gestão integrada vão além de práticas e lógi-
cas mercadológicas. Uma vez implantados, eles podem despertar a cidadania libertária de
crianças, jovens e adultos. A noção de direitos e deveres proporcionados pelas práticas do
SGI transcendem meros interesses individuais ou empresariais e traduzem uma nova visão
de mundo, que reflete a responsabilidade de cada pessoa na construção de valores coletivos
plenos, plurais e democráticos que assegurem o bem-estar humano e o respeito a todas as
formas de vida em suas mais variadas manifestações.
Neste contexto, aflora o tema consumo sustentável que incorpora nas cadeias produti-
vas a consciência crítica do impasse em que nos encontramos, no que tange à crise ambiental
mundial, seja pela escassez de água, redução da biodiversidade, mudanças climáticas ou
mesmo escassez de alimentos. Promove-se a reflexão da necessidade de alteramos os pa-
drões de consumo afim da manutenção do mesmo, conservando os recursos, para garantir
o direito das pessoas a uma vida saudável.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente do Brasil (2005), o consumo sustentável não
está limitado a mudanças comportamentais de consumidores individuais ou a mudanças
nos processos produtivos e de serviços para atender estes consumidores, que possuem como
característica ser mais críticos. No entanto, não se deixa de enfatizar o papel dos consumi-
dores, porém priorizando suas ações, individuais ou coletivas, enquanto práticas políticas
de cidadania e somado a isto o conceito de que “consumir é um ato político”, capaz de gerar
mudanças de interesse da coletividade.
Os sistemas de gestão integrada devem atender às legislações aplicadas para cada setor
produtivo e estas podem ser aprimoradas por sugestões dos consumidores, gerando um
ciclo sistêmico aberto, em que as práticas produtivas são constantemente aprimoradas pelos
padrões de consumo.
Exemplos desta prática estão acontecendo por todo o mundo e no Brasil podemos des-
tacar as regras legais da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), aplicáveis
em inúmeros processos produtivos, que são frequentemente revisadas. Citamos também
a melhoria dos processos de produção agrícola que, pela agroecologia, tem aprimorado de
maneira significativa a qualidade dos alimentos associados com inclusão social, geração de
trabalho e renda e conservação da natureza. Isto tem sido fomentado por um tipo de consu-
midor crítico e preocupado com a coletividade que cresce ano a ano.
Portanto, um sistema de gestão em determinado processo, corretamente certificado,
pode induzir:
• à adoção de tecnologias cada vez mais limpas e à melhoria do produto final;
• à responsabilidade civil da organização por danos causados ao meio ambiente e
defeitos nos produtos, que também passa a ser mais conhecida;
• à detecção, no caso de algum problema, que se torna mais fácil, e à rastreabilidade
no processo, que permite que este seja corrigido com mais rapidez e agilidade.
Um certificado de gestão sempre será elemento muito importante na defesa da organização
em caso de disputa judicial, funcionando como atenuador, já que a organização pode demons-
trar preocupação de práticas com a prevenção e consequentemente com o meio ambiente.

30 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Sistemas de Gestão Integrada: ambiental;
qualidade; saúde e segurança 2
Desta forma, após o diagnóstico para as principais necessidades da empresa, o siste-
ma de gestão integrada irá organizar a implantação de métodos específicos para cada área
da empresa, para promover mudanças como, por exemplo, cortes que precisam ser feitos,
métricas e indicadores que precisam mudar, como o trabalho precisa ser reorganizado etc.
Assim, o sistema começará a dar resultados para o crescimento desejado da empresa.
Mesmo que o sistema de gestão integrada seja implantado com efetividade, é necessá-
rio que todos da empresa participem dos processos de gestão. Isto eleva a autoestima dos
funcionários, que terão clareza sobre sua importância na empresa, melhorando seus rendi-
mentos e, como consequência, a produtividade.
Neste sentido, quando um sistema de gestão integrada entra em operação, há mais in-
formação com protocolos padronizados e, desta forma, um setor trabalha em prol do outro;
há, portanto, um melhor processo de participação nas decisões dentro da empresa. Como
resultado, ocorre um maior controle da qualidade do trabalho, os funcionários possuem
mais tempo para desenvolverem outras atividades e mais agilidade para que a empresa
possa crescer e se tornar resiliente nos mercados competitivos.

Ampliando seus conhecimentos

Metodologia para gestão integrada da


qualidade, meio ambiente, saúde e segurança
no trabalho
(SOUZA, 2000)

Existe um processo de mudança nos valores e crenças, que servem de


paradigma à vida em sociedade, ocorrendo atualmente. Os novos valores
em construção, bases do paradigma em formação, estão sendo delineados
a partir de certos limites que o mundo presente está impondo sobre o
futuro. Entre estes limites estão a preservação do meio ambiente, a “fini-
tude” da energia sob forma de baixa entropia, o declínio do crescimento
econômico e a questão da unidimensionalidade do ser humano.

Nos últimos anos, alguns valores e crenças que darão forma ao novo para-
digma estão se construindo. O primeiro valor a ser incorporado é a inte-
gração entre homem e natureza.

Também aparece o confinamento das organizações ao seu espaço, que


associado ao uso da tecnologia possibilita a libertação do homem das
atividades mais operativas. Com isto novas formas de lazer e ocupação
podem ser desenvolvidas. Ressurgem também os valores comunitários,

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 31


2 Sistemas de Gestão Integrada: ambiental;
qualidade; saúde e segurança

a convivência e a solidariedade que são básicos para o novo paradigma.


Todos estes valores privilegiam o ser humano, sua participação na cons-
trução do bem comum e a possibilidade objetiva de se estruturar uma
nova sociedade, com valores novos onde o homem possa voltar a viver
sua multidimensionalidade (SALM, 1996).

No ambiente empresarial o principal reflexo da rapidez das mudanças é


a acentuada competitividade. Adicionada à esta, os diferentes ambientes
apresentam também diferentes limitações, a escassez de recursos como
mão-de-obra qualificada, matéria prima, infraestrutura, entre outros,
é sentida em todos os setores. Como consequência, empresas de todo o
mundo percebem a necessidade de utilizarem seus recursos de maneira
eficiente, para que possam manter ou ganhar novos mercados, assegu-
rando sua sobrevivência.

Dentro deste prisma, algumas organizações preocupadas em acompanhar


a evolução natural de seus ambientes externos, estão empenhando-se em
alcançar o máximo com o mínimo. Para tanto utilizam todos os seus recur-
sos, humanos e tecnológicos, ao máximo de cada um. Para que isto possa
ser obtido, muitas mudanças na realidade organizacional ocorreram,
podendo estas ter ocorrido em nível de cultura organizacional, estrutura
organizacional, tecnologia, recursos humanos, entre outros.

Muitas destas mudanças, porém, não tem alcançado o resultado espe-


rado, apesar de apresentarem altos custos envolvidos tanto para as pes-
soas quanto para as organizações.

Devido a isto, surge a necessidade de abordar a interface homem-organi-


zação de maneira inovadora, o que desencadeou o surgimento de novas
teorias e conceitos. Muitas das teorias sobre gerenciamento, comporta-
mento humano, sistemas, e organizações que emergiram neste século,
tentam explicar comportamentos e características peculiares aos seus
objetos de estudo.

O conceito da Teoria Geral dos Sistemas desenvolvido por Von Bertalanffy


em 1968 (apud MORO, 1997) serviu como base teórica para o surgimento
de muitas das novas teorias, e ainda hoje influencia novas correntes de
pensamento tendo grande importância para a melhor compreensão das
organizações e sua inserção na sociedade.

O enfoque da Teoria Geral dos Sistemas ou enfoque sistêmico, tem


possibilitado a investigação de diversos mecanismos e ferramentas

32 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Sistemas de Gestão Integrada: ambiental;
qualidade; saúde e segurança 2
desenvolvidos para otimizar o desempenho organizacional. Intrínseca a
maioria destas ferramentas, encontra-se a preocupação com os colabora-
dores. Qualquer sistema gerencial que tenha como objetivo primordial a
melhoria da qualidade e da produtividade de suas ações deve ter o meio
ambiente, a saúde e segurança, e a qualificação do pessoal como fatores
constantes. No entanto, estas condicionantes têm sido negligenciadas e
tomam-se, em muitos casos, as principais responsáveis pelo fracasso nas
tentativas de implementação de novas filosofias gerenciais e operacionais
nas organizações.

Empregar recursos na melhoria das condições de trabalho dos colabora-


dores somente era considerado como um investimento pelos empresários
de alguns setores industriais mais desenvolvidos. Considerando porém,
que estes recursos resultam no crescimento qualitativo e quantitativo da
produção e na consequente elevação dos benefícios para a empresa, cabe-
ria a organização como um todo, desde a alta direção até os escalões mais
baixos buscar a formação e implementação de políticas de gerenciamento
da qualidade, meio ambiente e saúde e segurança que tornem as mesmas
competitiva no mercado.

Adicionado a este fator, as novas metodologias de abordagem sistêmica


têm possibilitado uma mais ampla compreensão das repercussões que a
qualidade, o meio ambiente e a saúde e segurança dos colaboradores da
organização podem gerar para o alcance de um desempenho organizacio-
nal satisfatório.

No campo social também existe um processo de conscientização e evolu-


ção dos conceitos de qualidade. A busca pela melhoria da qualidade de
vida dos seres humanos inclui as melhorias das condições de trabalho, no
enfoque mais básico destas necessidades encontra-se o meio ambiente e
a saúde e segurança no trabalho. Este processo de conscientização gera
novas exigências da sociedade, as quais são refletidas atualmente através
das crescentes exigências de legislação e pressão dos sindicatos.

Milhares de empresas em todo o mundo estão descobrindo que os seus


sistemas da qualidade também podem ser utilizados como base para o
tratamento eficaz das questões relativas ao meio ambiente e a saúde e
segurança no trabalho. Afinal, com a publicação das normas internacio-
nais da série ISO 9000, sobre sistemas de garantia da qualidade, da série
ISO 14000, sobre sistemas de gestão ambiental, e do guia britânico BS
8800, sobre sistemas de gestão da saúde e segurança no trabalho, essa uti-
lização do sistema de gestão integrada está bastante facilitada. Múltiplos

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 33


2 Sistemas de Gestão Integrada: ambiental;
qualidade; saúde e segurança

sistemas de gestão, onde somente um bastaria, são ineficientes, difíceis


de administrar e difíceis de obter o efetivo envolvimento das pessoas. É
muito mais simples obter a cooperação dos funcionários para um único
sistema do que para três sistemas separados.

Além do mais, a sinergia gerada pelo sistema de gestão integrada tem


levado as organizações a atingir melhores níveis de desempenho, a um
custo global muito menor.

Atividades
1. Escolha um tipo de sistema (sistemas, sistema operacional, sistema administrati-
vo e sistema de informação) e faça um organograma de algum meio a sua esco-
lha (gestão domiciliar (de sua casa), de sua escola, trabalho, etc.) na aplicação prá-
tica da teoria de sistemas. Correlacione as entradas e saídas de fluxos presentes no
sistema escolhido.

2. Identifique em sua cidade ou região uma ou duas empresas que possuem o Siste-
ma de gestão integrada (SGI) e faça uma análise contrastando com outra(s) que não
possuem o SGI. Por meio de uma matriz, correlacione os principais aspectos de um
SGI como, por exemplo, licenças ambientais, relação com a comunidade, projetos
desenvolvidos pela empresa etc. Faça uma coluna de avaliação em que fique de livre
escolha a forma de pontuar (bom-ruim, escala numérica de 0-10 etc.)

3. Com as mesmas empresas pesquisadas no exercício 2, faça uma correlação quanto


aos benefícios tanto para a parte produtiva como para os consumidores em se ter
um sistema de gestão integrada. Esta correlação pode ser feita por meio de tabelas,
gráficos ou de forma descritiva.

Referências
ANTUNES, Mariana do Amaral. Quais as vantagens de um sistema de gestão integrada? Artigo
publicado em 2013. Disponível em: <www.geminisistemas.com.br/quais-as-vantagens-de-um-
sistema-de-gestao-integrada/>. Acesso em: 15 out. 2016.
BIO 3 MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE. Sistema de gestão integrado. Disponível em:
<http://www.bio3consultoria.com.br/sistema-de-gestao-integrado/>. Acesso em: 12 out. 2016.
CHURCHMAN, CN. Introdução à teoria de sistemas. Rio de Janeiro: Ed. Vozes, 1971.
DARTMOUTH COLLEGE. The PDCA Cycle. Dartmouth Medical School, Hanover (USA), 2000.
MALHADAS JUNIOR, M.J.O. Conflitos organizacionais à luz da teoria geral dos sistemas. In:
V!RUS. n. 3. São Carlos: Nomads.usp, 2010. Disponível em: <http://www.nomads.usp.br/virus/
virus03/submitted/layout.php?item=6&lang=pt>. Acesso em: 16 out. 2016.

34 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Sistemas de Gestão Integrada: ambiental;
qualidade; saúde e segurança 2
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Manual de educação para o consumo sustentável. Disponível
em: <http://www.mma.gov.br/estruturas/educamb/_arquivos/consumo_sustentavel.pdf>. Acesso em:
15 out. 2016.
MORAES, Clauciana Schmidt Bueno de; DO VALE, Natasha Paganelli; ARAÚJO, José Alencastro.
Sistema de gestão integrado (SGI) e os benefícios para o setor siderúrgico. Revista Metropolitana de
Sustentabilidade – RMS, São Paulo, v. 3, n. 3, p. 29-48, set./dez. 2013. 30. Disponível em: <http://www.
revistaseletronicas.fmu.br/index.php/rms/article/view/214>. Acesso em: 13 out. 2016.
NEGRI, Lucas Hermann. Teoria geral dos sistemas. Udesc – Ciência da Computação. Disponível em:
<http://www.infoescola.com/filosofia/sintese-teoria-geral-dos-sistemas/. Acesso em: 15 out. 2016.
PORTAL ON-LINE PETROBRAS. Sistemas de gestão integrada. Disponível em: <http://www.br.com.
br/wps/portal/portalconteudo/acompanhia/sistemadegestaointegrada>. Acesso em: 14 out. 2016.
SOUZA, Joel Medeiros. Metodologia para gestão integrada da qualidade, meio ambiente, saúde
e segurança no trabalho. Dissertação de mestrado, submetida ao programa de pós-graduação em
Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina, na área de Gestão da Qualidade
e Produtividade, como requisito parcial para obtenção do título de mestre em Engenharia de
Produção, 2000. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/78301/171304.
pdf?sequence=1>. Acesso em: out. 2016.
VITERBO JR., Ênio. Sistema integrado de gestão ambiental, 2. ed., São Paulo: Editora Aquariana, 224
p. 1998.

Resolução
1. Como resultado desta análise se terá uma visão geral por um organograma sistê-
mico das entradas e saídas de ações. Na correlação é possível observar as neces-
sidades de ajustes para o equilíbrio do sistema.

Fonte: Elaborado pelo autor.

2. Pela matriz analítica construída com os indicadores identificados, será possível ve-
rificar o perfil de uma empresa que possui um sistema de gestão integrada, compa-
rando com uma empresa que não possui.

3. Pela matriz de correlação, será possível verificar os benefícios de um sistema de ges-


tão integrada de uma empresa, comparando com outra que não tem. Os indicadores
sinalizados servirão para ratificar que uma empresa com um sistema de gestão in-
tegrada implantado possui mais eficiência, produtividade e aceitação no mercado.

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 35


3
Gestão Ambiental pelas
normas da série ISO 14 000,
certificação e auditoria

Introdução

As políticas econômicas do pós Segunda Guerra Mundial trouxeram uma men-


talidade para as empresas de uma visão estritamente econômica. Como consequên-
cia desta maneira de visualizar os mercados e de produzir, tem-se gerado grandes
impactos ambientais, tornando os recursos naturais escassos, inclusive muitas fontes
de matérias primas para a própria indústria. Estes modos de produção têm gerado
discussões e geraram reflexões e mudanças na sociedade com o surgimento de novos
conceitos em relação à segurança no trabalho, proteção e defesa do consumidor, qua-
lidade dos produtos e agravamento da degradação ambiental. Para abordar esta temá-
tica, este capítulo irá discorrer sobre o sistema de gestão ambiental nas empresas, a
série ISO 14 000 e as características dos processos de certificação e auditoria.

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 37


3 Gestão Ambiental pelas normas da
série ISO 14 000, certificação e auditoria

3.1 Sistema de gestão ambiental

O meio ambiente é um bem de interesse difuso e da coletividade, pois os recursos na-


turais como água, solo, biodiversidade são vitais para a sobrevivência de todas as formas
de vida. Sendo assim, a discussão sobre como devem ser geridos os aspectos ambientais é
fundamental na atualidade com uma demanda prioritária da integração entre o ambiente,
economia e sociedade.
A gestão ambiental tem uma ligação direta com o termo Ökologie (Ecologia) que provém
do antigo vocábulo grego oikos que significa casa, lugar onde se habita. Os termos oikopoióse
e oikonomos expressavam a ação de fazer habitável a casa ou a gestão da casa.
O oikos na época da cultura clássica era a unidade básica de produção e satisfação das
necessidades vitais do cotidiano, e o oikonomos (economia) estava vinculado com as regras
de gestão dos bens ou rendimentos domésticos. Nas sociedades modernas, fazer gestão de-
fine-se como a ação de dirigir, regular, governar, administrar.
Neste contexto, gestão ambiental pode ser entendida como a ação de gerir o ambiente,
sendo este compreendido pelos recursos naturais e pelas relações sociais. Estas relações po-
dem se originar no trabalho ou em casa, ou ainda, serem ampliadas no âmbito dos bairros,
cidades e regiões. Podem, ainda, envolver diferentes países, continentes, oceanos ou o pla-
neta como um todo. Como exemplo de uma gestão global, é possível citar a Organização das
Nações Unidas – ONU, que realiza diversas conferências de gestão ambiental, abordando as
mudanças climáticas, biodiversidade, recursos genéticos etc.
Um passo importante que a sociedade global deu no sentido da integração das questões
econômicas, ambientais e sociais foi o documento produzido pela ONU em 1987 chamado
“Nosso Futuro Comum” ou “Relatório de Brundtland”. Esse documento foi o alerta sobre
os recursos naturais serem limitados e, portanto, termos que buscar meios de proporcionar
o bem-estar das gerações futuras, mas sem ignorar as necessidades da geração atual que já
sofre por causa das disparidades sociais. Este documento trouxe pela primeira vez o con-
ceito de desenvolvimento sustentável que tem como objetivo integrar e compatibilizar o
desenvolvimento econômico e social e a qualidade ambiental (CAVALCANTI, 2012).
Depois da divulgação do Relatório de Brundtland, amplamente debatido na Conferência
Internacional para o Desenvolvimento e Meio Ambiente, realizada no Rio de Janeiro em
1992, a chamada RIO 92, os sistemas de gestão ambiental como, por exemplo, as normas
da série ISO 14 000, Certificação FSC, Global Reporting Initiative – GRI; ISE – Índice de
Sustentabilidade Empresarial; Análise dos Indicadores Ethos e o CDP – Carbon Disclosure
Project começaram a se desenvolver e têm crescido consideravelmente como uma opção de
gestão das organizações produtivas para equilibrarem suas necessidades de recursos natu-
rais, padronizando seus processos produtivos, visando reduzir custos de produção e melhor
imagem perante os seus consumidores.
O processo de implantação de um sistema de gestão ambiental em indústrias gera mu-
danças significativas na cultura e estrutura destas empresas, transformando os modos ope-
rantes e a mentalidade dos seus trabalhadores, gestores e consultores.

38 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Gestão Ambiental pelas normas da
série ISO 14 000, certificação e auditoria 3
Diante de um cenário competitivo e com consumidores mais críticos e exigentes com re-
lação à qualidade dos produtos desde sua fase inicial de sua cadeia produtiva até o consumo
final, as empresas têm a necessidade de reduzir os custos e adequar os produtos e processos
de produção às necessidades do mercado, respeitando as questões ambientais. Como exem-
plo, as empresas devem priorizar o manejo sustentável de recursos naturais, que são fontes
de matérias primas, e também ter cuidados com a emissão de resíduos, sejam eles líquidos,
sólidos ou gasosos.
Desta forma, o consumo responsável se tornou um ato político que tem pressionado as
empresas a modernizarem seus sistemas de gestão para que proporcionem maior qualidade
de produtos, viabilizem e suportem inovações tecnológicas, contribuam com o desenvolvi-
mento sustentável, garantam o aumento da competitividade e, consequentemente, da sua
própria lucratividade.
Na busca de atender o consumo mais criterioso e para o cumprimento de legislações
específicas sobre meio ambiente, os sistemas de gestão ambiental têm sido uma das alterna-
tivas amplamente implantadas nas empresas para alcançarem estes objetivos.
Em função desta pressão para administrar melhor a questão ambiental, as empresas
que implantam um sistema de gestão ambiental têm que mudar sua cultura com a formali-
zação e padronização de novos procedimentos operacionais, além do incentivo ao monito-
ramento e à melhoria contínua, possibilitando a redução da emissão de resíduos e o menor
consumo de recursos naturais.
Vale ressaltar que a melhoria contínua é uma estratégia de gestão aplicada com a utili-
zação de métodos sistemáticos a serem incorporados por equipes multifuncionais e interdis-
ciplinares de todos os setores da empresa. Permite uma avaliação rigorosa e criteriosa sobre
os problemas crônicos que afetam os resultados, observando suas causas de origem e per-
mitindo o desenvolvimento de planos de ação para a solução e adequação dos problemas.
Gonzales (2011), citando Jager et al. (2004), sugerem um modelo para a prática da me-
lhoria contínua que busca integrar entendimento, competências, habilidades e comprome-
timento das pessoas no sistema de produção da empresa. Uma vez que o mercado está
ficando mais competitivo, fazer inovações para o atendimento de novas tecnologias se faz
importante para a sobrevivência de uma empresa, principalmente para atender os limites
dos recursos naturais e necessidades humanas.

Quadro 1 – Modelo para a prática da melhoria contínua nas empresas.

Melhoria da organização

Entendimento Competências Habilidades Comprometimento

Buscar Qual método Potencialidades Pró atividade


Requisitos para
O que melhorar? Como melhorar? Prontidão para melhorar?
melhorar?
Fonte: Elaborado pelo autor.

Os sistemas de gestão ambiental podem ser sintetizados como uma possibilidade de


desenvolver, implementar, organizar, coordenar e monitorar as atividades organizacionais

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 39


3 Gestão Ambiental pelas normas da
série ISO 14 000, certificação e auditoria
relacionadas ao meio ambiente, visando ao cumprimento de instrumentos legais como
leis, decretos, portarias e normas emitidas pelos órgãos federais, estaduais e municipais
(SANCHES, 2013).
A incorporação desta cultura de gestão de empresas busca, além de contribuir com a
responsabilidade social e com o cumprimento da legislação, identificar oportunidades de re-
dução do uso de materiais e energia, melhor destino de resíduos e melhorar a eficiência dos
processos, reduzindo as pressões na demanda dos recursos naturais. Em alguns casos como,
por exemplo, indústrias que usam água para arrefecer seus processos produtivos, situadas
em polos industriais que possuem como características os recursos hídricos bem degrada-
dos como Cubatão/SP e Vale dos Sinos no Rio Grande do Sul, o tratamento de efluentes na
própria indústria tem um resultado satisfatório na melhora da qualidade do resíduo líqui-
do, que em muitas vezes possui condições bioquímicas melhores do que o captado no curso
d’água antes da entrada no processo.
Um sistema de gestão ambiental tem como objetivo fornecer às empresas instrumentos
administrativos que permitem reduzir os danos ao meio ambiente, mas de modo que seus
benefícios econômicos excedam aos custos de sua implantação.
O sistema de gestão ambiental deverá ser baseado em uma política ambiental docu-
mentada e conter os seguintes planos executivos.

Quadro 2 – Planos executivos de um sistema de gestão ambiental (SGA).

Indicador Ação
Objetivos, métodos e um cronograma para aten-
der aos requisitos ambientais e compromis-
Atendimento à le- sos assumidos de forma voluntária.
gislação e processos Procedimentos para manter a documentação adequada.
administrativos Responsabilidades para cada tarefa e dis-
ponibilidade de recursos.
Ações corretivas, preventivas e procedimentos de emergência.
Capacitação e Plano de treinamento de funcionários com atualizações perió-
Comunicação dicas para definir metas do SGA, responsabilidades e riscos.
Plano de auditoria periódica do desempenho da organi-
Monitoramento do SGA
zação e como o SGA ajudou a atingir esses objetivos
Fonte: Elaborado pelo autor.

Em um sistema de gestão ambiental é importante priorizar alguns fatores ambientais


que normalmente são comuns a todos os empreendimentos e também possuem normas
legais especificas de proteção. São eles.
• Dejetos banais e perigosos;
• Poluições do ar, da água, sonora e visual;
• Consumo e economia de energia;
• Conhecimento das fontes de matérias-primas;
• Fauna e flora associadas à empresa.

40 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Gestão Ambiental pelas normas da
série ISO 14 000, certificação e auditoria 3
Dentro disto é possível estabelecer os principais objetivos de um sistema de gestão am-
biental a ser buscado pela empresa, que estão apresentados no quadro 3.

Quadro 3 – Principais objetivos de um sistema de gestão ambiental.

Objetivos de um sistema de gestão ambiental


Respeitar o direito ambiental;
Controlar os riscos para a área;
Controlar os custos dos dejetos;
Melhorar o desempenho do sistema de gestão com
a introdução de um novo ângulo crítico;
Se diferenciar em relação à concorrência;
Valorizar a imagem da empresa.
Fonte: TEMPLUM. Adaptado.

3.2 Série ISO 14 000

A sigla ISO significa Organização Internacional para Normalização (International


Organization for Standardization). Tem sua sede localizada em Genebra, Suíça, e foi fundada
em 1947, após a Segunda Guerra Mundial, com uma estratégia de reorganização e recons-
trução econômica e produtiva dos países afetados pelas consequências desta guerra.
O principal objetivo da ISO é desenvolver e promover, por meio de sistemas de ges-
tão, normas e padrões que possam ser inseridos nas redes mundiais do setor econômico e
produtivo e que busquem alinhar o consenso dos diferentes países do mundo de forma a
fomentar e potencializar as relações comerciais internacionais.
Na atualidade, 119 países são membros da ISO, e a representante do Brasil é a Associação
Brasileira de Normas Técnicas – ABNT que trabalha com 180 comitês técnicos (CT) e cente-
nas de subcomitês e grupos de trabalho nos aprimoramentos e validações das normas.
Passados quase 50 anos das primeiras iniciativas sobre a implantação de normas de ges-
tão ambiental – que teve sua primeira discussão na conferência das Nações Unidas realizada
em Estocolmo (Suécia) no ano de 1972, em que se discutiu os limites do desenvolvimento
com críticas severas aos modos desenvolvimentistas adotados e que vem sendo aplicados
até a atualidade, percebeu-se que a implantação de um sistema de gestão ambiental não é
algo simples e envolve critérios multifacetados dentro do campo econômico, social, ambien-
tal, político, cultura e educacional.
Foi a partir da Conferência das Nações Unidas, realizada no Rio de Janeiro em 1992, a cha-
mada “Rio 92” ou “Eco 92”, que a ONU priorizou o fomento a esta prática de gestão por todos
os países, lançando a norma ISO 14 000 como uma meta a ser alcançada pelas empresas.
A série ISO possui uma estrutura sistêmica e é regida por procedimentos e critérios,
podendo destacar os seguintes:
• Política ambiental sustentada pela diretoria executiva e por acionistas da empresa;

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 41


3 Gestão Ambiental pelas normas da
série ISO 14 000, certificação e auditoria
• Diagnóstico e mapeamento dos aspectos socioambientais e dos impactos significa-
tivos relativos à atividade da empresa;
• Levantamento de legislação aplicável e cumprimento das mesmas;
• Planejamento de objetivos e metas que sustentarão a cultura da certificação ambiental;
• Estabelecimento de um programa de gestão ambiental na empresa;
• Constante capacitação dos atores sociais envolvidos nos processos produtivos da
empresa, visando ao conhecimento dos procedimentos e protocolos de gestão;
• Execução de um plano de comunicação do sistema de gestão ambiental para todos
os atores sociais envolvidos nos processos produtivos da empresa;
• Elaboração de protocolos padronizados de monitoramento e controle operacional;
• Elaboração de um plano de contingenciamento de emergências;
• Diagnóstico e monitoramento dos significativos impactos ambientais gerados
pela empresa;
• Elaboração de protocolos padronizados para corrigir não conformidade;
• Elaboração de protocolos padronizados para gerenciamento dos registros e
ocorrências;
• Estabelecimento de cronograma de auditorias e eventuais correções de procedimentos;
• Monitoramento e replanejamento do sistema de gestão ambiental da empresa.
Por fim, a ISO 14 000 traz para dentro da empresa um processo de gerenciamento ba-
seado na melhoria contínua, garantindo redução ou mitigação dos impactos negativos re-
lativos ao meio ambiente com ações executivas de comando e controle no âmbito da gestão
ambiental da empresa.
As normas ISO 14 000 tiveram sua elaboração por um comitê técnico da organização
(ISO), que era constituído por inúmeros representantes dos países membros, e foram orga-
nizados e elaborados na década de 90, entre 1993 e 1996. Todas as normas de certificação,
sejam elas para qualquer área, passam por um processo de aquisição de experiências, em
que são revistas as falhas em seus diferentes estágios de desenvolvimento.
No Brasil elas foram traduzidas e adequadas para a legislação vigente pela Associação
Brasileira de Normas Técnicas – ABNT e têm em média uma revisão sugerida pela ISO a
cada cinco anos.
Pressionado pelo incremento de sensibilização e conscientização ambiental do público
após a Rio 92, ressaltando que este incremento pode ser verificado em quase todos os paí-
ses por todos os continentes, o consumo se tornou um ato de cidadania e político exigindo
melhoria na qualidade dos produtos associados com a redução dos impactos ambientais
negativos gerados pelos processos produtivos.
Neste contexto, a ISO 14 000 tem feito toda a diferença nos negócios de empresas que
especialmente possuem mercados internacionais, deixando-as mais competitivas e em am-
pla expansão de negócios.

42 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Gestão Ambiental pelas normas da
série ISO 14 000, certificação e auditoria 3
O consumidor começou a selecionar o que leva para sua casa, dando prioridade
para os produtos que possuem certificados de qualidade, garantindo transparência nos
processos produtivos com a proteção ambiental e busca da equabilidade social. Somado
a isto, têm surgido inúmeros instrumentos legais nos âmbitos federais, estaduais e
municipais que são pressionados por órgãos de financiamento internacionais, como o
Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID com restrição a processos produtivos
com potencial de degradação ambiental.
Desta forma, um sistema como a ISO 14 000 que permite à empresa apresentar planos
e executar ações em conformidade com a preservação dos recursos naturais, é fortalecido e
amplamente apropriado por diversas empresas por todo o mundo.
Em uma profunda revisão bibliográfica, Rieksti (2012) fez uma sistematização das nor-
mas que fazem parte da ISO 14 000, orientando às empresas estabelecerem procedimentos
administrativos de redução dos impactos ambientais em suas atividades produtivas. No
quadro 4, está listado a relação das normas pertencente à família ISO 14 000 e seus objetivos.

Quadro 4 – Relação das normas pertencente à família ISO 14 000 e seus objetivos.

Norma Objetivo
Trata dos principais requisitos para as empresas identifi-
ISO 14 001 carem, controlarem e monitorarem seus aspectos ambien-
tais, por meio de um sistema de gestão ambiental.
Complementa a ISO 14001 provendo diretrizes adicionais
ISO 14 004
para implantação de um sistema de gestão ambiental.
Guia para a implementação em fases de um sistema de gestão am-
ISO 14 005
biental para facilitar sua adoção por pequenas e médias empresas.
ISO 14 006 Norma para ecodesign.
ISO 14 020 Conjunto de normas que tratam de selos ambientais.
ISO 14 031 Guia para avaliação de desempenho ambiental.
Diretrizes e exemplos para compilar e comuni-
ISO 14 033
car informações ambientais quantitativas.
Conjunto de normas para conduzir análises de ci-
ISO 14 040
clo de vida de produtos e serviços.
ISO 14 045 Requisitos para análises de eco-eficiência.
Norma para MFCA – Material Flow Cost Accounting, ou em tradução
literal, contabilidade de custos dos fluxos de materiais, uma ferra-
ISO 14 051
menta de gerenciamento que busca maximizar a utilização de recur-
sos, principalmente em manufatura e processos de distribuição.
ISO 14 063 Trata de comunicação ambiental por parte das empresas.
Contabilização e verificação de emissões de gases de efeito es-
ISO 14 064
tufa para suportar projetos de redução de emissões.
Complementa a ISO 14064 especificando os requisitos para cer-
ISO 14 065 tificar ou reconhecer instituições que farão validação ou verifica-
ção da norma ISO 14064 ou outras especificações importantes.

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 43


3 Gestão Ambiental pelas normas da
série ISO 14 000, certificação e auditoria

Norma Objetivo
Requisitos para as empresas que farão a validação e a ve-
ISO 14 066
rificação de emissões de gases de efeito estufa.

Norma para pegada de carbono em produtos, tratan-


ISO 14 067 do de requisitos para contabilização e comunicação de emis-
sões de gases de efeito estufa associados a produtos.

Guia para as empresas calcularem a pegada de carbono em


ISO 14 069
seus produtos, serviços e cadeia de fornecimento.
Fonte: Elaborado pelo autor.

3.2.1 ISO 14 001


Dentro da série ISO 14 000, está a norma ISO 14 001, que é uma importante ferra-
menta de gerenciamento das atividades das empresas que têm potencial de impactar os
recursos naturais.
Entre as características presentes na ISO 14 001 pode-se destacar o espírito compreen-
sivo, da proatividade, do desenvolvimento do conceito de sistema e da aplicabilidade e
proteção do meio ambiente.

Quadro 5 – Principais características presentes na ISO 14 001.

Característica Descrição
Todos os membros da organização participam
na proteção ambiental, envolvendo todos os
Compreensiva
atores sociais (os clientes, os funcionários, os
acionistas, os fornecedores e a sociedade).
Foca na ação e no pensamento pró-ati-
Pro-atividade vo, em lugar de reação a comandos de co-
mando e controle dos superiores.
Desenvolve Adota um único sistema de gerenciamen-
o conceito to permeando todas as funções da organiza-
de sistema ção atingindo todos os seus departamentos.
São utilizados processos técnicos e de ges-
Proteção do
tão para identificar todos os impactos am-
meio ambiente
bientais e propor soluções sistêmicas.
É aplicável por diferentes áreas produtivas a qual-
Aplicabilidade quer tipo de organização, industrial ou de serviço,
de qualquer porte e de qualquer ramo de atividade.
Fonte: Elaborado pelo autor.

44 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Gestão Ambiental pelas normas da
série ISO 14 000, certificação e auditoria 3
3.3 Certificação e auditoria

3.3.1 Auditoria Ambiental


A auditoria ambiental, segundo o Conselho Nacional do Meio Ambiente – Conama,
através da Resolução 381 de 2006, consiste em um “processo sistemático de inspeção, análise
e avaliação das condições gerais ou específicas de uma determinada empresa em relação a
fontes de poluição, eficiência dos sistemas de controle de poluentes, riscos ambientais, le-
gislação ambiental, relacionamento da empresa com a comunidade e órgão de controle, ou
ainda do desempenho ambiental da empresa”.
Dada a importância do tema, a referida resolução do Conama traz diretrizes aos pro-
cedimentos de auditoria e padronização para as empresas que fazem este tipo de trabalho.
Para os gestores das empresas, vale a atenção no processo de auditoria, pois ela não é
uma simples avaliação em que se analisam diversos indicadores. Possui como característica
a isonomia e independência dos profissionais que executam a auditoria na empresa, sendo
rigorosamente analisados os itens de cada setor da empresa com a verificação de eventuais
ocorrências de desacordo com as normas pré-estabelecidas no processo de certificação. O
objetivo da auditoria ambiental, conforme a Resolução Conama 381/2006, deve conter um
mínimo de conteúdo para ter a legitimidade que as normas de certificação impõem.
No quadro 6, estão destacadas algumas delas.

Quadro 6 – Principais objetivos da auditoria ambiental conforme a Resolução do Conama número


381 de 2006.

Objetivo Descrição
Verifica se está sendo cumprida a legislação vi-
Conformidade legal
gente em seus processos de produção.
Verifica se a empresa está em conformidade com as normas
Desempenho ambiental legais e regras específicas do setor produtivo quanto ao de-
sempenho ambiental setorial, aplicáveis à unidade produtiva.
Verifica por meio de indicadores se a empresa está com o
Sistema de ges-
sistema de gestão ambiental implantado e sua conformi-
tão ambiental
dade com as regras e normas do objeto de certificação.
Verifica se uma empresa já desativada está provocan-
Desativação
do danos ao meio ambiente e à população do entorno.
Responsabilidade Verifica se a empresa possui passivos ambientais e as
ambiental suas responsabilidades de mitigação e compensação.
Verifica o nível de contaminação de um determinado local na
Locais contaminados
área de influência direta das atividades produtivas da empresa.
Verifica se a gestão dos recursos está sendo eficiente para
Gestão geral o processo produtivo, para minimização da geração de
resíduos, para o uso de energia e demais insumos.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 45


3 Gestão Ambiental pelas normas da
série ISO 14 000, certificação e auditoria
A auditoria também possui algumas características específicas: pode ser do tipo inter-
na, quando é efetuada para uso interno da empresa por membros da mesma ou mesmo por
outra empresa contratada para avaliar os resultados do sistema; e também pode ser feita de
forma externa, quando é efetuada por empresa externa de auditoria independente e que os
resultados serão avaliados por terceiros.

3.3.2 Certificação no processo do ISO 14 000


A certificação é um processo em que uma empresa terceira de auditoria certifica que a
empresa verificada está cumprindo as conformidades referenciadas das normas para deter-
minado setor produtivo.
Este procedimento deve ter o reconhecimento por um mecanismo chamado “acredita-
ção”, que é deferido pelo poder público na esfera federal, em que atualmente o órgão acre-
ditador é o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia – Inmetro.
O processo de certificação é iniciado no momento em que a empresa declara estar apta
por já desenvolver de maneira voluntária inúmeras ações de proteção ao meio ambiente,
ou também quando for iniciar um novo projeto em que já é possível incorporar o sistema
de gestão ambiental no processo. O tempo de duração de uma certificação é de 3 anos, sen-
do que a cada 6 meses a empresa deve ser auditada para verificar o seu sistema de gestão
ambiental, observando se ele está cumprindo aos requisitos da norma. No caso de existir
alguma não conformidade com a norma, o certificado poderá não ser revalidado.
É importante ressaltar que a certificação ambiental se tornou para a empresa uma im-
portante ferramenta na busca de novos mercados consumidores a nível internacional, além
de poder ser beneficiária de linhas de créditos monetários especiais pelas entidades finan-
ceiras como os bancos que, com taxas de juros reduzidas para empresas certificadas, fomen-
tam ainda mais este tipo de gestão.
Somado a isto, está a legitimidade do produto junto ao consumidor que o diferencia e
potencializa sua divulgação entre seus pares. Isto traz benefícios econômicos a curto, médio
e longo prazo para as empresas, que, além de terem a possibilidade de aumento nas vendas,
reduzirão o consumo de recursos naturais em seus processos produtivos, tornando a sua
atividade socioambientalmente responsável.
A obtenção da certificação ambiental está ligada diretamente com a definição de forma
clara, objetiva e simples da política ambiental da empresa e o que deve ser atingido em ter-
mos de meio-ambiente no resultado do trabalho de todos os seus funcionários.
Uma vez implantado, o sistema de gestão ambiental, que contém uma série de regras e
procedimentos, a obtenção ou mesmo a manutenção de uma certificação ambiental se dará
pelas auditorias que vão monitorar por meio da verificação interna dos cumprimentos dos
requisitos pré-estabelecidos e a cada seis meses via auditoria externa será oficializado e co-
municado ao Inmetro das conformidades ou não.

46 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Gestão Ambiental pelas normas da
série ISO 14 000, certificação e auditoria 3
O selo de certificação poderá ser utilizado e vinculado nos programas de comunicação
institucional abrangendo a produção de vídeos de divulgação de produtos ou da empresa,
slogans de marketing e outras formas de comunicação com o consumidor.
Além dos benefícios para a própria empresa, a incorporação de políticas de certificação am-
biental tem possibilitado um grande avanço na conservação de recursos naturais como florestas,
águas, solo, ar, isto associado com geração de trabalho, renda e respeito ao trabalhador.
Na área florestal, por exemplo, a certificação está associada a um plano de manejo da paisa-
gem produtiva, seja ela com florestas nativas ou plantadas de pinus ou eucalipto. Nas florestas
nativas, o plano de manejo determina um limite de exploração sem comprometer os processos
naturais de regeneração natural, o que tem fomentado uma floresta “em pé” gerar lucro. Na
floresta plantada, é necessário que se recupere os cursos d’água, além de uma série de medidas
de conservação do solo. Estas práticas têm causado impactos positivos na paisagem com maior
proteção dos recursos naturais como a biodiversidade e a água (FSC, 2015).
Nas áreas industriais, várias medidas que são obrigatórias para a obtenção da certifica-
ção têm proporcionado uma significativa redução de resíduos para aterros, pelas práticas de
redução, reuso e reciclagem, além do menor consumo de recursos hídricos que são reusados
nos processos industriais e, quando descartados, atendem todos os padrões que são deter-
minados pela Agencia Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa. Estas medidas têm levado
à melhoria da qualidade das águas das microbacias onde estão instaladas as empresas – es-
pecialmente as que têm potencial para causar impactos ambientais negativos.

Ampliando seus conhecimentos

Certificação e sustentabilidade ambiental:


uma análise crítica
(MARCOVITCH, 2012)

As políticas ambientais ainda são apresentadas com um viés predomi-


nantemente qualitativo, omitindo indicadores que quantifiquem a reali-
dade a ser transformada e metas para alcançar objetivos. Vem se tornando
quase uma conduta padrão nas declarações das Conferências das Partes o
recurso às subjetividades do fraseado, em prejuízo de compromissos ou
formas para cumpri-los.

A Rio+20 saiu das manchetes para entrar na história. Deixou talvez um


exemplo de mobilização dado pela sociedade civil e seus múltiplos
grupos de representação. Do lado governamental, a herança foi menos
exemplar. Chefes de Estado, apoiando-se na competência de seus diplo-
matas, preferiram a busca de consenso, um novo nome para adiamento.

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 47


3 Gestão Ambiental pelas normas da
série ISO 14 000, certificação e auditoria

Em lugar das métricas de sustentabilidade, a retórica inspirou na Cúpula


do Rio a declaração final, sofridamente redigida. É sempre difícil aplacar
as frustrações.

Neste embate entre métricas verificáveis e jogos de palavras, a sociedade


organizada vem escolhendo sempre o caminho da quantificação nas pro-
postas. Orienta-se por indicadores, não por exortações. Os procedimentos
que gera são muitas vezes imperfeitos, carecem de revisão ou novas meto-
dologias, mas inegavelmente produzem eficácia maior que os discursos
repetitivos.

Uma leitura crítica e objetiva de informações dispersas em relatórios,


livros, sítios digitais e outros meios de comunicação, revelou um cenário
com as mais diversas métricas geradas em organizações sociais e adotadas
por empresas em vários países. Todas relacionadas com o ambientalismo,
um dos maiores legados éticos do século XX. Aqui, nos limites de uma
introdução, busca-se atestar a consistência visível em tais indicadores,
mas igualmente contribuir para o seu aperfeiçoamento, pois há notórias
falhas a corrigir.

Em contraponto ao apego da governança de Estado pelo artifício da elo-


quência nas questões ambientais, a sociedade civil vem tentando for-
mas verificáveis de controle nesta área. O leitor encontrará, nas páginas
que se seguem, seis estudos numa direção de concretude, elaborados
por pós-graduandos na disciplina Estratégias Empresariais e Mudanças
Climáticas, ministradas pela FEA/USP durante o ano letivo de 2012.1 Aqui
se comenta os conteúdos que foram escolhidos para esta publicação: “A
Certificação FSC”; “ISO 14001 e a Sustentabilidade”; “Global Reporting
Initiative – GRI”; “ISE – Índice de Sustentabilidade Empresarial”; “Análise
dos Indicadores Ethos” e o “CDP –Carbon Disclosure Project”.

O FSC, selo garantidor da origem florestal de madeiras nos mercados


interno e externo, é administrado pela Forest Stewardship Council, uma
organização não governamental focada na correta gestão das florestas do
planeta, as quais, infelizmente, já ocupam o terceiro lugar entre os emis-
sores mundiais de efeito estufa. Em tese, esta certificação garante que os
produtos florestais à venda originaram-se de fontes responsavelmente
geridas e que a checagem dos antecedentes foi feita em todas as respecti-
vas cadeias de produção.

A inabilidade governamental, em todos os países, para lidar com quei-


madas e desmatamentos, provocou a criação desta poderosa ONG nos

48 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Gestão Ambiental pelas normas da
série ISO 14 000, certificação e auditoria 3
Estados Unidos, em 1993. Foi uma consequência indireta das repercussões
de matéria sobre degradação florestal publicada no The New York Times.
A reportagem ocasionou a estruturação da Rainforest Alliance, que arre-
gimentou milhares de associados e contribuiu, decisivamente, para o lan-
çamento do FSC anos depois, vindo a ser a primeira certificadora acredi-
tada pela nova organização. Vê-se, neste detalhe histórico, como se podem
articular a imprensa livre e os movimentos sociais para suprir falhas da
conduta dos Estados no enfrentamento dos danos ambientais.

Não quer isto dizer, evidentemente, que as medidas da gestão privada


sejam infalíveis ou acima de quaisquer ressalvas, pontos levantados mais
adiante, com o destaque necessário. Antes, porém, fixemos as dimensões
do mercado potencial do FSC e de outras organizações de perfil asseme-
lhado, e também não governamentais.

Somente o Brasil tem 477 milhões de hectares de floresta natural e 5,98


milhões de hectares em florestas plantadas, empregando em sua cadeia
produtiva cerca de 9 milhões de pessoas. Para lidar com esta imensa
fonte de produtos, o FSC é o segundo maior sistema de certificação do
mundo, secundando o Programa para Reconhecimento dos Estoques de
Certificação Florestal (PEFC, na sigla em inglês), que se volta para o apoio
e melhoria de sistemas nacionais de certificação, como é o caso do Cerflor
do Inmetro no Brasil. Mundialmente, o FSC contabiliza 152 milhões de
hectares certificados contra 243 milhões com PEFC. Além destes dois, o
ISO 14 001 também opera na área florestal.

Outro importante aferidor da eficiência na gestão ambiental das empresas,


o ISO 14 001, é objeto de análise no trabalho de Ana Carolina Riekstein.
A norma vem sendo crescentemente adotada pelo setor privado. Já foram
expedidos, em todo o mundo, cerca de 250 mil certificados, atestando
que as empresas estudadas conseguiram montar um sistema de gestão
ambiental conforme as suas prescrições. São benefícios principais das fer-
ramentas previstas no ISO 14 001 a redução do uso de energia, matérias
primas e lixos.

A origem deste certificado ISO está na Rio 92, quando se formou um grupo
voltado para fundamentação de procedimentos de gestão ambiental nas
indústrias. O respectivo comitê surgiu no ano seguinte. Em 1993, esta
norma ISO foi anunciada e publicada. Seis passos precedem a obtenção do
certificado: desenvolver uma política ambiental; identificar as atividades
que possuam interação com o meio ambiente; verificar requisitos legais
e regulatórios; demonstrar prioridades da empresa e seus objetivos para

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 49


3 Gestão Ambiental pelas normas da
série ISO 14 000, certificação e auditoria

redução de impacto ambiental; ajustar a estrutura organizacional para tais


objetivos, realizando treinamentos, devidamente comunicados e documen-
tados; e checar, para eventual correção, o sistema de gestão ambiental.

A certificação é obtida após a auditoria realizada por agências credencia-


das no Inmetro e o primeiro prazo de validade estende-se por três anos,
renovada mediante verificação. O ISO 14 001 pode ser decisivo para tra-
zer vantagens competitivas, principalmente no caso de concorrências no
exterior. No Brasil, esta certificação vem ampliando consideravelmente
o seu espaço. Em 2010 o nosso país destacava-se entre os dez com maior
aumento na obtenção destes instrumentos, chegando ao número de qua-
tro mil, um recorde na América Latina.

Atividades
1. Identifique na instituição em que estuda ou trabalha as seguintes questões do qua-
dro abaixo, visando à implantação de um sistema de gestão ambiental.

Melhoria da organização
Entendimento Competências Habilidades Comprometimento
Buscar Qual método Potencialidades Pró atividade
O que Como Requisitos para
Prontidão para melhorar?
melhorar? melhorar? melhorar?

Por meio de uma listagem, relacione as respostas, elabore um diagnóstico e apresen-


te para os gestores do espaço estudado.

2. Identifique na instituição em que estuda ou trabalha se a instituição tem potencial de


ser certificada pela norma ISO 14 001. Por meio do quadro abaixo descreva como são
as características do local diagnosticado.

Quadro: Principais características presentes na ISO 14 001.

Característica Descrição Pontos a melhorar


Compreensiva
Pro-atividade
Desenvolve o conceito de sistema
Proteção do meio ambiente
Aplicabilidade

50 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Gestão Ambiental pelas normas da
série ISO 14 000, certificação e auditoria 3
Discuta os resultados focando a importância para o desenvolvimento sustentável
das sociedades, melhoria da qualidade dos produtos oferecidos e competitividade
de mercado.

3. Com os resultados das atividades 1 e 2, faça uma checagem simulando uma audito-
ria se o local diagnosticado está desenvolvendo boas práticas previstas em um siste-
ma de gestão ambiental, por meio de processos de capacitação de seus funcionários,
cumprimento das normas legais etc.

Discuta se o ambiente verificado está apto para receber uma certificação ambiental.

Referências
CAVALCANTI, Clovis. Sustentabilidade: Mantra ou escolha moral? Uma abordagem ecológico-eco-
nomica. Revista Estudos Avançados 26 (74), 2012.
FSC, Forest Stewardship Council. Padrão de certificação do FSC para manejo florestal em terra firme
na Amazônia brasileira. Revisão em junho de 2015.
GONZALEZ, Rodrigo Valio Dominguez; MARTINS, Manoel Fernando. Melhoria contínua e
aprendizagem organizacional: múltiplos casos em empresas do setor automobilístico. Departamento
de Engenharia de Produção, Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. Revista Gestão e
Produção. vol. 18, n. 3. São Carlos, 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0104-530X2011000300003>. Acesso em: 14 out. 2016.
MARCOVITCH, Jacques. Certificação e sustentabilidade ambiental: Uma análise crítica. São Paulo,
2012. 148 p. Departamento de Administração da FEA-USP. Disponível em: <http://www.usp.br/mu-
darfuturo/2012/Certificacao_e_Sustentabilidade_Ambiental_Trabalho%20Final_261012.pdf>. Acesso
em: 18 out. 2016.
Ministério do Meio Ambiente. Resolução 381 de 2006 do Conselho Nacional do Meio Ambiente.
Dispõe sobre os requisitos mínimos para a realização de auditoria ambiental. Disponível em: <http://
www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=516>. Acesso em: 20 out. 2016.
SÁNCHEZ, Luis Enrique. Avaliação de impacto ambiental: conceitos e métodos. São Paulo: Oficina
de textos, 2013.

Resolução
1. Após a elaboração da lista correlacionada com as perguntas do quadro, terá feito
um diagnóstico e poderá ter uma visão geral do sistema de gestão onde foi feito o
estudo. Sugere-se, com os resultados organizados, fazer uma apresentação para os
gestores do local diagnosticado.

2. Com o quadro preenchido com as características assinaladas e verificadas na or-


ganização onde estuda ou trabalha, será possível sinalizar se esta instituição tem
potencial para obter uma certificação ambiental e também seus possíveis pontos de
inconformidades.

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 51


3 Gestão Ambiental pelas normas da
série ISO 14 000, certificação e auditoria
3. A checagem simulando uma auditoria fornecerá informações que servirão de base
para discutir se o ambiente verificado está apto para receber uma certificação am-
biental, além de praticar um ato de auditar que deve ter muita seriedade e rigorosi-
dade na coleta de informações.

Assim, terá contato com inúmeras informações que muitas vezes passam desperce-
bidas no dia a dia, mas que fazem toda a diferença para um sistema de gestão e desta
forma será ampliada a visão sobre o funcionamento de um sistema.

52 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


4
Planejamento
Urbano e Ambiental

Introdução

As cidades vêm crescendo de maneira extremamente desordenada, gerando


grandes consequências para o desenvolvimento humano e, como resultado, a redu-
ção ou perda da qualidade de vida. Essas consequências são evidências da falta de
ações isoladas de planejamentos equivocados e vão transformando os espaços urba-
nos em projetos isolados e fragmentados do todo. Na atualidade, as tecnologias de
planejamento urbano e ambiental estão bem avançadas e amplamente divulgadas
tanto pelo poder público como pelas entidades de classe do setor. No entanto os
interesses econômicos e políticos, geralmente locais, se sobrepõem às boas práticas
de planejamento que buscam ser inclusivas socialmente e de pensar na coletividade,
e prevalecem os acordos de especulação imobiliária, prioridades de gestão pública
e planejamentos questionáveis. Assim sendo, abordaremos nesse capítulo os princi-
pais pontos do planejamento urbano e ambiental e os desafios do planejamento que
visa ao desenvolvimento e que, por sua vez, busca a sustentabilidade.

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 53


4 Planejamento Urbano e Ambiental

4.1 Planejamento urbano

No século XX houve um grande crescimento do conhecimento humano por meio das


tecnologias de informação e comunicação, proporcionando um amplo desenvolvimento das
ciências, da tecnologia e o surgimento da industrialização. Como reflexo, ocorreram e atual-
mente ocorrem mudanças nos valores e modos de vida da sociedade.
Uma dessas mudanças é o crescimento desordenado das cidades que tem trazido gran-
de preocupação no Brasil e no mundo, pois junto a esse crescimento há um enorme aumento
de problemas sociais e ambientais. Diante deste cenário, o que se constata é a ineficiência
e em diversos casos a inexistência de um planejamento urbano, ou seja, de infraestrutura
e de serviços públicos e básicos, que incluem o abastecimento de água potável, a coleta e
tratamento de esgoto sanitário, a estrutura para a drenagem urbana e o sistema de gestão e
manejo dos resíduos sólidos.
Tanto a ausência como a ineficiência desses serviços causam impactos diretos sobre
os recursos naturais como a água, solo, ar, fauna e flora desses locais, que por sua vez pro-
porcionam desordem e caos como, por exemplo, no surgimento de epidemias e surtos de
doenças, pressionando ainda mais os sistemas de saúde.
Vale destacar que o planejamento urbano no Brasil tem sua origem no período
colonial e que só recentemente após a promulgação da carta Magna do Brasil, isto é,
a Constituição Federal de 1988, incorporou as ideias de desenvolvimento sustentável
e que tinha sido apresentada pela Organização das Nações Unidas um ano antes no
“Relatório de Brutland” em 1987.
Segundo o Programa Nacional de Capacitação das Cidades, pelo Ministério das Cidades
(2016) citando Villaça (1999), o processo de construção do pensamento urbanístico no Brasil
é dividido em cinco períodos desde as últimas décadas do século XIX e que refletem direta-
mente na cultura do planejamento urbano atual.
O primeiro deles vai de 1880 – 1930, em que o predomínio da classe ruralista defen-
dia a ideia que a nação deveria se formar a partir de sua essência rural. Naquele contex-
to histórico dos grandes fazendeiros, a herança escravista dominava o pensamento social.
Alberto Torres, que era um abolicionista e influente na classe política, trouxe ideias vindas
da Europa em atribuir ao Estado o papel de estabelecer uma nova estrutura fundiária, basea-
da na pequena propriedade e no respeito à natureza, em contraponto ao praticado na época
que a terra estava sendo “mal tratada” com sucessivos desmatamentos e queimadas para
dar lugar a pecuária e cafezais.
Naquela época a cidade era vista como lugar do artificialismo, da corrupção, da desor-
dem social e política, da improdutividade econômica e consumidora de recursos que teriam
melhor destinação na zona rural. A cidade ocupava papel secundário nas preocupações dos
reformadores sociais.
Em consequência desta visão, as intervenções urbanísticas eram apenas pontuais, sem
nenhum planejamento e não consideravam a totalidade das estruturas urbanas. Tinham

54 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Planejamento Urbano e Ambiental 4
como objeto atuar nas áreas centrais, inspirando-se na remodelação de Paris e Viena no sé-
culo XIX, que eram amplamente elogiadas e um modelo a seguir.
Em função da abertura do mercado para a Europa, era dado enfoque para a moderniza-
ção dos portos e dos sistemas de circulação viária, adaptando estruturas urbanas de feição
colonial às necessidades dos novos meios de transporte como, por exemplo, o trem e o bon-
de. Juntamente com essas intervenções estavam as obras de saneamento que completavam o
conjunto de intervenções urbanísticas que caracterizavam este primeiro período.
Dentre as obras de saneamento vale destacar o engenheiro Saturnino de Brito em seus
projetos de sistemas de esgotamento sanitário e abastecimento de água para mais de 20 ci-
dades brasileiras. Em 1896, projetou a cidade de Vitória definindo, além do traçado das vias,
os quarteirões, lotes e tipos de casa, e as áreas destinadas a um hospital, jardins, bosques,
cemitério e capela, além de detalhar uma sofisticada proposta para os sistemas de elimina-
ção de esgotos e abastecimento de água.
O segundo período, entre 1930 – 1950, foi caracterizado pelos planos abrangentes que
consideram a cidade como um todo. A partir de 1930 surgem as primeiras legislações urba-
nísticas, dotadas de zoneamento, racionalizando a ocupação da terra, regulando a presença
dos diferentes usos e controlando a intensidade de ocupação do solo.
Cabe destacar que os ruralistas ainda exerciam forte influência política e diversas nor-
mas propostas pelos ordenamentos jurídicos não foram aceitos, tanto pelos gestores, como
pela população, gerando uma série de inconformidades e descumprimentos legais em pro-
jetos e ações de intervenções urbanísticas.
Um marco importante é a criação da disciplina de urbanismo que vinha com um mode-
lo europeu de planejamento urbano, passando a ser ministrada nas principais universidades
do país. As prefeituras das maiores cidades na época, especialmente São Paulo e Rio de
Janeiro, criaram com o apoio do Governo Federal estruturas administrativas para organizar
e controlar a ocupação territorial, fazendo com que a atividade de planejamento passasse a
ser permanente nas ações da gestão pública, ordenando ocupações e melhorando as infraes-
truturas de mobilidade e saneamento.
No terceiro período, entre 1950 – 1964, surgiram os primeiros planejamentos regionais,
visando amenizar o crescimento populacional das cidades que, a partir do pós Segunda
Guerra Mundial, com o advento da industrialização, começaram a receber as pessoas que
migravam do campo na busca de novas oportunidades de emprego.
Com a aceleração da urbanização e o crescimento de grandes manchas urbanizadas, que
ocupavam desde vales fluviais até encostas íngremes, surgiram – pela necessidade da com-
plexificação das cidades em aspectos sociais, ambientais e econômicos, além das concepções
arquitetônicas – as primeiras equipes interdisciplinares. Nelas os tradicionais engenheiros
e arquitetos urbanistas começam a dialogar e dividir responsabilidades técnicas e de gestão
com outros profissionais como os geógrafos, economistas, sociólogos e administradores.
Neste período houve um avanço extraordinário no desenvolvimento dos estudos urba-
nísticos, com pesquisas em universidades por todo o país, que trouxeram novas temáticas e

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 55


4 Planejamento Urbano e Ambiental

metodologias com o diálogo e corresponsabilidade técnica de profissionais que costumeira-


mente não se envolviam com as questões do desenvolvimento urbano.
O Governo Federal, na busca de centralizar as discussões e formas de desenvolvimento,
cria em 1964 o Serviço Federal de Habitação e Urbanismo (SERFHAU), com a atribuição de
normatizar e desenvolver ações no planejamento urbano, estabelecendo diretrizes, padrões
e protocolos. Este órgão também atuou na assessoria técnica e financiamento para os muni-
cípios na elaboração de planos diretores.
Destaca-se que nessa época o Brasil estava sob o regime da ditadura militar, que possuía
uma visão tecnocrática com orientações predominantemente desenvolvimentista, não se im-
portando para os temas de inclusão social em espaços públicos e promoção da cidadania,
dando início a inúmeros problemas de ordem social, ambiental e de infraestrutura sanitária.
Durante o quarto período, que foi entre 1964 – 1988, são estabelecidos os marcos con-
ceituais das hierarquias e sistemas de cidades. Neste cenário político vivido na época sob o
comando da ditadura militar, os planejamentos urbanos estavam centralizados e conectados
com o sistema nacional de planejamento, que era executado e administrado pelo SERFHAU.
Também vinculado ao SERFHAU, estava o Banco Nacional da Habitação, que foi criado
em 1966 e tem a missão de administrar a Política Nacional de Habitação. Na década de 1980,
profundas mudanças começaram a acontecer, especialmente sob pressão internacional dos
órgãos financeiros, como o Banco Mundial, que começavam a vincular seus financiamentos,
aos países em desenvolvimento, à inclusão dos temas ambientais e sociais em contraponto
da visão estritamente econômica das cidades.
Assim, os movimentos sociais e de ambientalistas ganharam importância nos meios
da gestão pública, embora ainda com muita repressão, fato que fomentou a sociedade ci-
vil a pressionar os movimentos políticos a construir as bases conceituais do capítulo da
Constituição Federal de 1988, que trata das questões urbanas.
A partir da Constituição Federal de 1988, os temas do planejamento urbano e da gestão
das cidades no Brasil começam definitivamente a ter importância nas políticas públicas das
três esferas administrativas (federal, estadual e municipal), em especial nas municipalida-
des, que passaram a ter maior autonomia política, administrativa e financeira.
A partir de 1988, com a promulgação da nova Constituição brasileira, inicia-se um novo
período no planejamento urbanístico nacional, especialmente anotado nos artigos 182 e 183, que
trouxeram e definiram as diretrizes básicas para a política urbana brasileira, assim como a obri-
gatoriedade de algumas cidades em aprovar um documento chamado de “Plano Diretor”.
No ano de 2001, esses artigos foram regulamentados por meio do sancionamento da Lei
Federal n. 10.257, conhecida como “Estatuto da Cidade” (BRASIL, 2001), que trouxe grande
destaque para as políticas habitacionais, pois um dos grandes desafios para a sociedade
brasileira é ter a casa própria, passando desta forma uma grande responsabilidade aos mu-
nicípios em elaborar políticas públicas de incentivo a esta demanda.
Com este advento, a municipalidade tornou-se estratégica na regulação da atuação do
mercado imobiliário e o processo de ocupação do território, baseados em seu Plano Diretor
ou zoneamento em consonância com a política nacional de desenvolvimento urbano e com

56 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Planejamento Urbano e Ambiental 4
suas diretrizes, que vão ao encontro dos objetivos da função social da cidade, que foi refe-
rendada no Estatuto da Cidade em 2001. Juntamente com esta característica, conforme o
Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001) em seu artigo 2°, soma-se a responsabilidade e preocu-
pação com a qualidade de vida, conservação do meio ambiente, e conservação da memória
e patrimônios culturais e históricos.
Uma das características da Constituição de 1988 foi a inclusão da participação popular
em processos de tomadas de decisões. O principal mecanismo dessa conquista popular é
o Plano Diretor, em que as pessoas têm a oportunidade de opinar nas audiências públicas
sobre as propostas de planejamento urbano.
A elaboração do Plano Diretor tornou-se obrigatória para as cidades com mais de 20.000
habitantes, além de ser estabelecido o conceito de função social da propriedade que se so-
brepõe ao direito de propriedade.
Apesar desses avanços nas ações do planejamento urbano, ainda há muito que se me-
lhorar, pois os interesses do mercado imobiliário ainda estão se sobrepondo aos interesses
da coletividade, na articulação ilegal via câmara dos vereadores ou mesmo no poder execu-
tivo municipal, com a ocorrência de privilégios a determinados grupos, em desacordo com
os princípios da isonomia e legalidade.
É perceptível que o planejamento das cidades ainda é excludente para as classes sociais
com menor poder econômico como, por exemplo, os péssimos serviços públicos de sanea-
mento, asfaltamento, arborização urbana e áreas verdes, postos de saúde e escolas que são
encontrados nas zonas periféricas.

4.2 Planejamento ambiental


As questões do meio ambiente entraram definitivamente na pauta das grandes
Conferências Internacionais da Organização das Nações Unidas – ONU, a partir de 1972 em
Estocolmo, na Suécia, e especialmente em 1992, no Rio de Janeiro.
O conceito de desenvolvimento sustentável apresentado pela ONU em 1987 no
“Relatório de Brutland” foi ratificado no documento elaborado durante a Rio-92 chamado
“Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento”, e traz a premissa que o de-
senvolvimento deve estar planejado dentro do limite de sustentabilidade que se baseia em
diversos princípios, sendo aqui destacados três deles:
• Princípio 3 – O direito ao desenvolvimento deve ser exercido de modo a permitir
que sejam atendidas equitativamente as necessidades de desenvolvimento e de
meio ambiente das gerações presentes e futuras.
• Princípio 4 – Para alcançar o desenvolvimento sustentável, a proteção ambiental
constituirá parte integrante do processo de desenvolvimento e não pode ser con-
siderada isoladamente deste.
• Princípio 5 – Para todos os Estados e todos os indivíduos, como requisito indis-
pensável para o desenvolvimento sustentável, irão cooperar na tarefa essencial de
erradicar a pobreza, a fim de reduzir as disparidades de padrões de vida e melhor
atender às necessidades da maioria da população do mundo.

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 57


4 Planejamento Urbano e Ambiental

Com o advento do conceito de desenvolvimento sustentável, as ideias de planejamento


ambiental começaram a surgir com bastante divulgação a partir desta época e, conforme
menciona Canepa (2007), o equilíbrio ambiental está diretamente relacionado à qualidade
de vida das pessoas. Assim, é necessário que o planejamento urbano incorpore as temáticas
ambientais nas práticas desenvolvimentistas.
Desta forma, o planejamento ambiental surge em um contexto de necessidades diante
de tantos danos ambientais amplamente visíveis nas cidades e como bem divulgado nos
meios de comunicação, por exemplo, rios poluídos, poluição atmosférica, desmatamentos,
deposição inadequada de lixo etc. Estas formas de degradação ambiental estão ligadas dire-
tamente com a perda da qualidade de vida, com consequências evidentes na saúde. Assim,
o planejamento ambiental deve ser multifacetado e abranger diversos níveis de atividades
humanas nas cidades.
O planejamento ambiental, segundo Albano (2013), deve ser fundamental para o de-
senvolvimento do setor econômico das cidades, protegendo com sustentabilidade os recur-
sos naturais como, por exemplo, a segurança hídrica e produtividade agrícola por meio da
conservação dos solos, e também social, pela gestão de inclusão para os espaços públicos,
fornecendo serviços gratuitos e de qualidade para a população.
Os principais instrumentos de planejamento ambiental que um município pode utilizar
são os:

- Zoneamentos ecológicos-econômicos;
- Estudos de impactos ambientais (EIA-RIMA) que foram realizados;
- Planos de bacias hidrográficas que são comumente realizados pelos comi-
tês de bacias hidrográficas;
- Planos de manejo de unidades de conservação existentes na região do
município;
- Agenda 21.

Aqui vale destacar a Agenda 21, que é um importante instrumento idealizado na


Conferência Internacional para o Desenvolvimento e Meio Ambiente em 1992, no Rio de
Janeiro, que visa ao planejamento participativo rumo ao desenvolvimento sustentável, por
meio de inúmeras consultas públicas, conferências e debates, a fim de incorporar nos pro-
jetos de planejamento e desenvolvimento os desejos das comunidades (MINISTÉRIO DO
MEIO AMBIENTE, 2016).
A Agenda 21 tornou-se uma importante estratégia da promoção da transparência dos
processos públicos e do envolvimento da comunidade na participação da resolução de pro-
blemas locais, proporcionando o espírito de cidadania e criticidade diante aos problemas
ambientais, que são consequentes de maus planejamentos e manejos dos recursos naturais.
Isto tem incentivado as pessoas a formarem grupos, associações ou organizações não gover-
namentais para desenvolverem ações de solução de problemas e também a cobrar e fiscali-
zar os serviços públicos, tanto na esfera executiva, como legislativa.

58 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Planejamento Urbano e Ambiental 4
Os instrumentos de planejamento ambiental citados podem ser apresentados de dife-
rentes formas, de acordo com o objeto que for utilizado. Os gestores públicos e conselhos de
meio ambiente devem escolher o instrumento conforme o objetivo que seja enfocado. Por
exemplo, um planejamento de redução de enchentes deve levar em consideração os planos
de bacias hidrográficas, realizados pelos comitês de bacias hidrográficas, somados de dados
específicos da área de intervenção.
O planejamento ambiental deve estar em consonância com o Plano Diretor municipal,
que deverá englobar diretrizes para a zona urbana e rural no planejamento e zoneamento,
abordando o controle do uso, ocupação de manchas urbanas, parcelamento e expansão da
ocupação do solo.
Na sistematização das ações de planejamento ambiental, podem-se destacar as seguin-
tes fases descritas no quadro 1.

Quadro 1 – Fases de um planejamento ambiental.

Fases Característica
Implementação, metodo- Define qual instrumento de planeja-
logia e operativa. mento ambiental irá ser utilizado.
Analise e sistematização de in-
Define os indicadores a serem diagnosticados.
dicadores ambientais.
Diagnóstico do meio com identificação Realiza diagnósticos formando um ban-
dos impactos, riscos e eficiência de uso. co de dados sólido para análise.
Elaboração de um modelo de Define por meio de consultas pú-
organização territorial. blicas o zoneamento de ações.
Proposição de medidas e instru-
Executa ações definidas nas fases anteriores.
mentos e mecanismos de gestão.
Fonte: Elaborado pelo autor.

O planejamento das cidades no Brasil deve abranger todos os planos setoriais ligados
à qualidade de vida no processo de urbanização, como, por exemplo, o saneamento básico,
moradia, transporte e mobilidade. No quadro 2 estão apresentados os principais planos
por setor, que devem estar sistematizados e incorporados nas ações de gestão prevista no
planejamento ambiental.

Quadro 2 – Principais planos setorizados a serem contemplados em um planejamento ambiental.

Planos Setorizados Característica


Drenagem urbana Tem o objetivo de reduzir enchentes.
Arborização urbana Tem o objetivo da manutenção e incremento da
área de cobertura verde nas ruas e praças.
Educação ambiental Tem o objetivo de sensibilizar as pes-
soas com as questões socioambientais.

Resíduos sólidos Atender a Política Nacional de Resíduos


Sólidos restabelecida na lei 12.305/2010.

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 59


4 Planejamento Urbano e Ambiental

Planos Setorizados Característica


Coleta de lixo nas residências Melhorar o serviço público e Atender a Política Nacional
de Resíduos Sólidos restabelecida na lei 12.305/2010.
Manejo e manuten- Tem o objetivo de dar manutenção e criar novas
ção de parques, bosques áreas de acordo com a necessidade da população.
e jardins públicos
Mobilidade Fomentar a diversidade de transporte como
ciclovias, e transporte coletivo mais eficien-
te e incentivo à mobilidade do pedestre.
Ocupação de áreas de manan- Tem o objetivo de fiscalizar e regulamen-
ciais de abastecimento publico tar as importantes áreas produtoras de
água para o abastecimento público.

Recuperação de áreas Tem o objetivo de recuperar as áreas degradas públi-


degradadas cas municipais como nascentes, matas ciliares, encos-
tas e/ou outras áreas de relevância difusa e coletiva.
Saneamento básico Tem o objetivo de implantar a coleta de esgoto e
distribuição de água em 100% das residências.
Inclusão socioambiental Tem o objetivo de permitir que todas as classes sociais,
especialmente as mais desfavorecidas, tenham acesso à
informação e à políticas públicas de caráter socioambiental.
Moradias sustentáveis Tem o objetivo de fomentar o acesso à moradias
com projetos sustentáveis, como coleta de água da
chuva, cisternas, energia solar, reuso da água etc.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Vale ressaltar que cada município possui sua especificidade, podendo surgir novas pro-
postas de planos setorizados. O importante é que esses instrumentos sejam compostos por
ações preventivas e normativas, sugeridas pelo poder público e referendadas pela sociedade
civil e que possibilitem o controle dos impactos ambientais negativos provindos de ações de
gestão e investimentos público-privados. Em resultado, almeja-se que os espaços públicos e
toda sua infraestrutura sejam efetivos na conservação dos patrimônios ambientais promoven-
do maior qualidade de vida para seus habitantes (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2016).

4.3 Planejamento x desenvolvimento


x sustentabilidade

A partir da Revolução Industrial, ocorrida na Inglaterra no século XVIII, mudanças


profundas começaram a acontecer no modo de vida dos seres humanos. Passamos a ex-
plorar os recursos naturais de uma maneira mais intensa e, em especial, a madeira para
queima e também os combustíveis fósseis por meio do carvão mineral (PÁDUA, 2002). Isto
trouxe algumas consequências ambientais desastrosas como, por exemplo, a poluição do ar
pelas fumaças das fábricas, deixando as cidades com muitas partículas em suspensão, como
Liverpool na Inglaterra e Boston nos Estados Unidos.

60 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Planejamento Urbano e Ambiental 4
Dentre tantas consequências dessas formas de desenvolvimento, que inclusive são pra-
ticados até hoje como uma forma de herança cultural do Brasil colonial, tanto nas cidades
como no meio rural, podemos destacar:
• Destruição das florestas de uma maneira muito rápida e com métodos dizimado-
res como campanhas de corte de madeiras e o fogo.
• Poluição dos rios com esgotos jogados a céu aberto.
• Poluição do ar atmosférico pelas indústrias e o fogo das queimadas.
• Destinação do lixo de maneira inadequada poluindo inúmeros mananciais
de água.
Os impactos nos recursos naturais são complexos e tem caráter global como, por exemplo,
as mudanças climáticas com consequências sociais e econômicos locais, onde, por exemplo, no
meio rural agricultores perdem a capacidade de produção agrícola pela desertificação; ou povos
tradicionais como indígenas são expulsos de suas terras pela inviabilidade da manutenção de
seu modo de vida. No ambiente urbano não é diferente, sendo comumente relatados grandes
problemas de ordem de defesa civil como enchentes, secas, terremotos induzidos pela explora-
ção mineraria do subsolo e incêndios florestais sob o efeito da atividade humana.
Agravando os problemas dos temas ambientais está a questão social, que também vem
se degradando pela concentração de capital por minorias, exclusão e desigualdade social e
descontrole no crescimento demográfico, gerando altos impactos nos recursos naturais.
Os problemas ambientais são inúmeros e estão presentes em qualquer meio urbano, seja ele
grande ou pequeno, e é somente por meio do planejamento ambiente que a mitigação, redução
ou eliminação desses problemas vai ter efetividade na implementação de ações prioritárias.
Desde os anos 60, especialistas ao redor do mundo vem se reunindo para debater acerca
dos modelos de desenvolvimento adotados, que geram altos impactos nos recursos natu-
rais. A Conferência Internacional sobre o Desenvolvimento e Meio Ambiente em Estocolmo,
em 1972, deu início a uma grande reflexão global e encaminhamento técnico para a elabora-
ção de políticas públicas.
Além dessa conferência, em 1983, a Assembleia Geral da ONU criou a Comissão
Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, presidida por Gro Harlem Brundtland.
Desse encontro foi gerado um relatório, o “Nosso Futuro Comum”, que determinou metas
para a viabilização de um novo conceito de desenvolvimento chamado sustentável.
Um ponto importante trazido pelo relatório “Nosso Futuro Comum” foi o alerta
sobre os recursos naturais serem limitados, e, portanto, termos que buscar meios de
proporcionar o bem-estar das gerações futuras, mas sem ignorar as necessidades da
geração atual que já sofre por causa das disparidades sociais. Assim, o desenvolvimento
sustentável tem como objetivos integrar e compatibilizar o desenvolvimento econômico
e social e a qualidade ambiental.
Ressalta-se e alerta-se que o termo desenvolvimento, como bem lembrado por Cavalcanti
(2012), não significa expansão ou aumento, mas sim mudança, evolução, progresso, e que
este conceito deve estar presente na elaboração de políticas públicas em que prevaleça a

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 61


4 Planejamento Urbano e Ambiental

qualidade das ações e serviços e não somente a quantidade, trazendo melhorias significati-
vas para a qualidade de vida das pessoas
De acordo com Guimarães (2007), as práticas do cotidiano – que estão longe de ser
sustentáveis, pois a cultura hegemônica é do acumulo em quantidade e não em qualidade,
mesmo que o alto consumo seja legitimado por certificações de qualidade dos processos e
produtos – deixam claro que há um erro na interpretação do conceito de desenvolvimento
sustentável. Destaca-se que o conceito de desenvolvimento sustentável é diverso, e a co-
munidade pode ter interpretações diferenciadas pelas suas vivências e cotidianos de suas
realidades. No entanto, a ideia da mudança, evolução e progresso deve ser ponto comum
entre as práticas, no que tange a conservação dos patrimônios ambientais e culturais de uma
região ou de um país.
Dessa forma, os resultados do planejamento, quando adotados os princípios descritos
anteriormente, devem estar atrelados aos rumos do desenvolvimento, sejam eles locais, re-
gionais ou nacionais, tendo como paradigma o desafio de ser ambientalmente sustentável
no acesso, uso e preservação da biodiversidade e recursos naturais; socialmente sustentável
na redução da pobreza e das desigualdades sociais e que promova justiça e equidade; cul-
turalmente sustentável na preservação de valores, práticas, símbolos que definem a identi-
dade nacional através dos tempos e politicamente sustentável ao aprofundar a democracia
e garantir o acesso à participação de todos nas tomadas de decisões.
Portanto, um grande desafio a ser enfrentado no planejamento urbano e ambiental
é superar nas dimensões da sustentabilidade elencadas anteriormente (sustentabilidade
ecológica, econômica ou social) os interesses das minorias que detém o poder, e expandir
para o bem difuso e de interesses da coletividade, trazendo para a paisagem urbana ideias
de inclusão socioambiental nos espaços e serviços públicos. Desta forma, uma cidade mais
justa, humana e sustentável é possível, e toda a comunidade tem a ganhar com melhoria
na qualidade de vida, um espaço urbano mais humano, mais saúde, biodiversidade, paz e
melhor relação entre as pessoas.

Ampliando seus conhecimentos

A importância do estatuto da cidade na busca


por cidades mais justas
(MLADANER, 2015)

Urbanismo

Tem sido uma tarefa muito difícil conceituar o termo urbanismo, foram
vários estudiosos que o trabalharam. Sabe-se que ele evoluiu do “esté-
tico para o social”, pois nos primórdios fora considerado apenas como

62 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Planejamento Urbano e Ambiental 4
a arte de embelezar a cidade. Entretanto, seu real significado vai muito
além disso, como qualifica de forma clássica Hely Lopes Meirelles (2008,
p. 522), que denota: “Urbanismo é o conjunto de medidas estatais destina-
das a organizar os espaços habitáveis, de modo a propiciar melhores con-
dições de vida ao homem na comunidade”. Lembrando que os espaços
habitáveis são as áreas em que o homem pode exercer de forma coletiva a
habitação, o trabalho, a circulação ou recreação. Além do mais, Meirelles
(2008, p. 521) defende que o urbanismo não é responsável apenas por esse
“embelezamento da cidade”, e Carvalho Filho (2013, p. 5) complementa
que ele corresponde também ao desenvolvimento de suas funções sociais
e à garantia do bem-estar aos cidadãos.

Atualmente o urbanismo no Brasil é marcado por uma diversidade de


acontecimentos. É cada vez maior o número de jovens que migram para
os grandes centros, enquanto que as outras cidades sofrem com o esva-
ziamento demográfico, sendo povoadas pela população mais velha. Nas
áreas de grande movimentação e oportunidades de emprego, crescem e
surgem novas cidades, assim como os loteamentos irregulares, as favelas
e periferias. Em vista disso, faz-se necessário, claramente, o uso de normas
para controlar o uso do solo, as áreas livres e tudo o que se relacione com a
ordenação espacial e a organização comunitária. Eis então a relação entre
o Direito e o Urbanismo, sob a premissa do Direito Urbanístico, pois não
pode haver atuação urbanística sem uma imposição legal.

Lei 10.257/2001

Todos os setores da sociedade são regulamentados por leis. Em relação às


políticas urbanas podemos destacar a Lei 10.257 de 10 de julho de 2001,
denominada Estatuto da Cidade.

Esta lei constitui um dos maiores avanços legislativos, após um vagaroso


processo de tramitação ela foi aprovada e hoje é sem dúvida um símbolo de
inovação e progresso, no que tange a construção de cidades sustentáveis.

Conforme estudo técnico do Instituto Pólis, organização não governa-


mental do estado de São Paulo, foram poucas leis na história que foram
feitas com um trabalho coletivo tão minucioso e o Instituto ainda explica:

A aprovação do Estatuto da Cidade é uma conquista dos movimen-


tos populares, que se mobilizaram por mais de uma década na luta
por sua aprovação. Esta luta foi conduzida a partir da ativa participa-
ção de entidades civis e de movimentos sociais em defesa do direito

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 63


4 Planejamento Urbano e Ambiental

à cidade e à habitação e de lutas cotidianas por melhores serviços


públicos e oportunidades de uma vida digna (PÓLIS, 2002, p. 15).

Assim sendo, percebe-se que a luta por essa aprovação foi muito além
do desejo de um espaço para habitar, esta também foi uma luta contra a
intensa desigualdade e a exclusão social. A busca por cidades sustentá-
veis é um desejo de todos aqueles que se encontram em um espaço que
representa não só um risco à saúde, mas também um risco à própria vida.
Uma vez que todos esses espaços inabitáveis acabaram sendo ocupados
de forma desordenada, surgiram em decorrência da ausência de um pla-
nejamento concreto para a criação e o desenvolvimento das cidades.

Os princípios básicos desse estatuto são o planejamento participativo e a


função social da propriedade, visando o bem coletivo que engloba não só a
proteção ambiental, mas também o bem-estar e a segurança de todos os cida-
dãos. Mas por se tratar de uma lei geral, para ser plenamente aplicável aos
municípios, necessita-se que estes editem seus Planos Diretores Municipais,
pois são eles que vão concretizar em âmbito municipal todas as diretrizes e
instrumentos de política urbana dispostos no Estatuto da Cidade.

A partir do que se entende por justiça e a partir do conceito de cidade


justa podemos analisar este Estatuto, e assim, compreender os fatores que
levam a minimização da exclusão social e as condições, que por outro
lado, ampliem as estratégias de inclusão para, desta forma, promover um
desenvolvimento sustentável e contínuo da cidade.

O Estatuto da Cidade surge como uma tentativa de minimizar os graves


problemas observados, que são decorrentes da rápida e desordenada ocu-
pação do espaço, como por exemplo, a formação de periferias, e também
é uma tentativa de democratizar a gestão das cidades brasileiras. Esse
Estatuto é a esperança de mudança do cenário urbano brasileiro, pois
através de seus instrumentos, ele reforça a atuação do poder público na
busca de cidades mais democráticas, equitativas e sustentáveis.

A lei 10.257/2001 criou a garantia ao direito a cidades sustentáveis. É


imprescindível que, para a execução de seus objetivos, tanto a popula-
ção, quanto os municípios através de seus Planos Diretores, tornem-se
responsáveis pela garantia da aplicação desta lei, para assim acabar com
o crescimento globalizado descontrolado, que favorece os interesses de
uma minoria capitalista, enquanto que a maioria da população vive mal e
em locais precários.

64 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Planejamento Urbano e Ambiental 4
As funções sociais da cidade têm por objetivo proporcionar o bem-
-estar de seus habitantes, no entanto, essas funções não são definidas
pela Constituição Federal. Jorge Luiz Bernardi em seu estudo define
os três importantes grupos de funções sociais da cidade, destacando as
funções urbanísticas:

[...] funções de habitação, trabalho, lazer e mobilidade; as funções


sociais de cidadania responsáveis pela educação, saúde, segurança
e proteção; e as funções sociais de gestão, como a prestação de ser-
viços, planejamento, preservação do patrimônio cultural e natural e
sustentabilidade urbana [...] (BERNARDI, 2006, p. 10).

Como foi acentuado pelo autor, estes são três importantes grupos de fun-
ções sociais da cidade, o que não significa que sejam os únicos. Logo, a
cidade cumpre sua função social quando disponibiliza a todos os seus
habitantes e às futuras gerações os serviços acima identificados, levando
em consideração o princípio de desenvolvimento sustentável.

No entanto, não há que se falar em cumprimento da função social da


cidade quando os Municípios deixarem de realizar corretamente o seu
planejamento, que deve ser baseado em regras gerais estabelecidas pela
Lei Federal e também pelas diretrizes gerais de política urbana previstas
no Estatuto da Cidade.

Atividades
1. Escolhaum ou mais espaços urbanos e visite-os observando os problemas en-
contrados, por exemplo, de mobilidade, saneamento, arborização urbana, etc.
Relacione-os em uma tabela e aponte as possíveis soluções que devam constar no
planejamento urbano.

2. Escolha um ou mais espaços urbanos e visite-os observando os problemas encon-


trados relacionados ao planejamento ambiental como, por exemplo, parques mal
cuidados, ausência de arborização urbana etc. Relacione-os em uma tabela e aponte
as possíveis soluções que devam constar no planejamento ambiental.

3. Por meio de análise de artigos, planos e projetos que podem ser acessados via inter-
net, ou mesmo nos órgãos ambientais e nas prefeituras, identificar a estrutura or-
ganizacional, as fases, os métodos e técnicas utilizados nos diferentes instrumentos
de planejamento ambiental: zoneamentos, estudos de impacto ambiental, planos de
manejo, planos de bacias hidrográficas, planos diretores ambientais, entre outros.

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 65


4 Planejamento Urbano e Ambiental

Questão para debater e refletir:


O plano, projeto ou zoneamento aponta caminhos consistentes para a sustentabilidade
dos recursos naturais e das comunidades locais?

Referências
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Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LEIS_2001/L10257.htm>. Acesso em: 25
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66 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Planejamento Urbano e Ambiental 4
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escravista (1786-1888). Jorge Zahar Editor, 2002.
SANTOS, Milton. Metamorfose do espaço habitado. 5° Ed. São Paulo: Editora HUCITEC, 1997.
VIEIRA, L. Cidadania e globalização. 8° Ed. – Rio de Janeiro: Record, 2005.
VILLAÇA, Flávio. Uma contribuição para a história do planejamento urbano. In: O processo de urba-
nização no Brasil. DEAK, Csaba; SCHIFFER, Sueli Ramos. Editora Edusp, 1999.

Resolução
1. A observação in loco proporcionará uma visão crítica dos problemas de planejamento
urbano, podendo se verificar que a falta ou planejamentos superficiais podem gerar
caos urbano e consequentemente a redução da qualidade de vida. O apontamento de
soluções fomentará a reflexão sobre a complexidade e importância do planejamento.

2. Da mesma forma que na atividade 1, agora com outro ponto de análise, a observação
in loco proporcionará ao aluno uma visão crítica dos problemas de planejamento
ambiental, podendo verificar que a falta ou o planejamento superficial podem ge-
rar caos urbano/ambiental e consequentemente a redução da qualidade de vida. O
apontamento de soluções fomentará a reflexão sobre a complexidade e importância
do planejamento.

3. A análise de um documento de planejamento irá proporcionar as dimensões e im-


portância que este documento tem. Cada item analisado irá apontar se o plano está
cumprindo as premissas do desenvolvimento sustentável equilibrando as questões
sociais, ambientais e econômicas.

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 67


5
Planejamento Ambiental
no Brasil

Introdução

Os efeitos da intensa degradação ambiental gerada pelo modelo desenvolvimen-


tista adotado pelos seres humanos já são possíveis de serem notados. São claras as
evidências das mudanças climáticas, desertificação, crise hídrica, extinção de espé-
cies entre outros resultados de degradação, gerando grandes impactos ambientais
nos recursos naturais. O planejamento ambiental no Brasil surge em um momento
de escassez de recursos naturais, que são a base da população e, ao mesmo tempo,
em um período de aumento da competitividade das empresas por novos negócios.
Para abordar estas questões, neste capítulo iremos apresentar os aspectos da crise
ambiental, do planejamento ambiental e dos tipos de zoneamento como instrumen-
tos de planejamento.

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 69


5 Planejamento Ambiental no Brasil

5.1 Crise ambiental

O planejamento ambiental no Brasil e no mundo vem sendo alicerçado pela tomada


de consciência da importância dos recursos naturais, sejam eles bióticos ou abióticos, pela
manutenção da vida no planeta e também pela manutenção da lógica desenvolvimentis-
ta. A humanidade está passando por um momento de crise ambiental que, diferentemente
de outras crises, como, por exemplo, políticas e econômicas, leva ao comprometimento da
vida, pois dinâmicas e fenômenos complexos como os climáticos, hídricos, interações da
biodiversidade, fluxo gênico etc. quando afetados de maneira significativa, geram danos
irreversíveis.
A crise ambiental provocada por ações humanas teve seu início a partir da Revolução
Industrial, ocorrida na Inglaterra no século XVIII, quando os sistemas produtivos adotados pro-
vocaram alterações no modo de vida das pessoas, dando início a um período que terminava
o feudalismo e iniciava o mercantilismo. Uma das mudanças bem evidentes foi o aumento da
exploração dos recursos naturais, sobretudo os combustíveis fósseis e da queima da madeira em
indústrias, e nas recentes criadas ferrovias (PÁDUA, 2002).
No meio rural, não foi diferente neste período do século XVIII, pois as colônias dos paí-
ses europeus já estabelecidos por diversas partes do mundo foram verdadeiros celeiros de
produção agrícola. No Brasil, podemos destacar os cultivos de cana de açúcar no Nordeste,
café no Sudeste, erva mate e pecuária no Sul. O problema que devemos destacar aqui não é
a produção agrícola que, aliás, traz muitos benefícios para as pessoas e para um país, mas os
modos de produção adotados que eram e são até hoje agressivos, desrespeitando os ciclos
naturais como, por exemplo, a conservação do solo e o ciclo da água (HOLANDA, 1995;
CANDIDO, 1967).
Dentre tantas consequências dessas formas de desenvolvimento, que inclusive são pra-
ticados até hoje como uma forma de herança cultural do Brasil colonial, tanto nas cidades
como no meio rural, podemos destacar:
• Destruição das florestas de uma maneira muito rápida e com métodos dizimado-
res como campanhas de corte de madeiras e o fogo (HOLANDA, 1995).
• Poluição dos rios com esgotos lançados no meio ambiente sem tratamento prévio.
• Poluição do ar atmosférico pelas emissões de poluentes industriais e o fogo das
queimadas.
• Destinação do lixo de maneira inadequada poluindo inúmeros mananciais de água.
A partir do século XX, mais especialmente no pós Segunda Guerra Mundial, signifi-
cativas mudanças ocorrem na sociedade ocidental. A globalização rompe as barreiras dos
mercados mundiais, estimulando a competitividade e pressionando a produção. As infor-
mações, antes limitadas a pequenos grupos, tornaram-se acessíveis e amplamente disse-
minadas, com o espaço e o tempo deixando de serem obstáculos (SANTOS, 1997) e com
isso oportunidades se abriram para novos negócios e novos mercados. Ao mesmo tempo, a

70 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Planejamento Ambiental no Brasil 5
população tomou conhecimento de uma iminente crise ambiental e dos efeitos que ela pode
provocar na sustentação da espécie humana na Terra.
Os transtornos na natureza vão além das mudanças climáticas; elas possuem efeitos
econômicos locais, como, por exemplo, pesqueiros que perdem seu meio de sobrevivência
e deixam de distribuir o seu produto para a população; terras agrícolas que deixam de ser
férteis; e florestas repletas de matéria-prima que desaparecem. Catástrofes naturais como
enchentes, secas, terremotos e incêndios florestais aumentam a cada dia sob o efeito da ati-
vidade humana (BROWN, 2003), sendo diariamente relatadas nos jornais por todo o Brasil.
Somado a isto, temos que os problemas ambientais não são apenas de ordem biológica
ou física, eles também são sociais, como o crescimento da população mundial ocasionan-
do mais pressões nos recursos naturais, o lucro como objetivo da produção, produção em
massa e alienação do trabalho, grande desemprego, e significativa distribuição desigual da
riqueza pelo mundo, gerando exclusão social.
Desta forma, podemos afirmar, conforme Cavalcanti (2012) aborda, que vivemos atual-
mente uma crise ambiental e este é um assunto que envolve todos os setores sociais, não
havendo como negar que esta crise representa um somatório das ações humanas, sendo,
portanto, um produto das formas de cultura que o ser humano criou ao longo do processo
civilizatório pela desenfreada busca do desenvolvimento.
São tantos os problemas ambientais que se torna difícil definir qual é o mais grave,
sendo que um interfere no outro de forma direta e indireta. E é no seio dessa crise ambien-
tal mundial que repousa outra crise: a crise existencial, em que os indivíduos perdem seus
referenciais e suas identidades com suas origens e princípios; e a crise social, também sem
precedentes na história da humanidade.
Segundo comenta Adams (2014), está emergindo em todas as classes sociais sequelas
consequentes do modo de vida praticado como, por exemplo, a violência presente no coti-
diano, a falta de escrúpulos, as diferenças sociais que revelam verdadeiros abismos entre
classes, a educação e a saúde precárias, o desperdício de um lado e a fome do outro, os altos
índices de stress e doenças associadas com a depressão, como a síndrome do pânico.
O primeiro encontro internacional para discutir a crise ambiental e as necessidades
de outro modelo de desenvolvimento foi a Conferência sobre Mudanças Climáticas, em
Estocolmo, no ano de 1972. A partir dessa conferência iniciou-se a uma intensa discussão
global, com destaque para a Rio 92 (1992), o Protocolo de Kyoto (1997), a Rio+10 (2002) e,
mais recentemente, a Rio+20 (2012), além de inúmeras convenções da ONU que debateram
sobre os temas-chave da crise socioambiental como, por exemplo, mudanças climáticas, bio-
diversidade, energias etc.
Neste contexto de definições de conceitos e debates, vale ressaltar o que aborda
Cavalcanti (2012), apontando que desenvolvimento significa mudança, evolução, progres-
so, e não crescimento no sentido de expansão ou aumento. Citando Daly (1990), Cavalcanti
(2012) aborda que crescimento é “aumento quantitativo de escala física, enquanto desenvol-
vimento significa melhoria da qualidade de vida ou afloramento de oportunidades”.

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 71


5 Planejamento Ambiental no Brasil

Segundo Pierri (2001), o conceito sobre sustentabilidade mais difundido enfoca apenas
a manutenção dos “recursos” através do tempo. Historicamente, em relação à natureza ou
seus recursos, este conceito teve diferentes níveis de abordagem, com fins e critérios dife-
rentes. Primeiramente, este conceito esteve associado aos recursos naturais renováveis com
sustentabilidade ecológica em função do atendimento das demandas de produção e econô-
micas. Em um segundo momento, como um conjunto de recursos ou ecossistemas a serem
conservados visando a sustentabilidade ecológica. Por fim, o terceiro nível inclui a socie-
dade e o conjunto de seus recursos apontando para uma sustentabilidade socioambiental,
enfocando o equilíbrio ecológico e social em função da economia.
Para Guimarães (2007), a presente crise de sustentabilidade se dá abundantemente pelo
debate ambiental que tem se caracterizado pela disputa entre diferentes interpretações de
desenvolvimento sustentável. Aqui vale destacar que o conceito de desenvolvimento sus-
tentável é diverso e que depende do ponto de vista do ator social que esteja analisando ou
simplesmente vivenciado situações do dia a dia. O conceito mais difundido é o da ONU que,
desde o início da discussão ambiental, ganhou hegemonia no cenário mundial, a partir de
Brundtland (1987).
Claramente, a ordem dominante é do capital neoliberal, que privilegia as questões
econômicas com finalidade de alcançar propósitos de progresso material ilimitado e
simplificam o debate que formas sustentáveis praticadas não comprometem a base dos
recursos naturais. Sabe-se que isto não é verdade e que apenas soluções generalistas de
conservação e recuperação ambiental que atendam às dimensões biofísicas dos ecossis-
temas podem gerar redução na qualidade de vida. E como bem diz Leonardo Boff (2011)
“é de bom tom falar de sustentabilidade” numa sociedade dominada pelos pensamen-
tos neoliberais em que estes discursos ganham mercado e prestígio. Boff (2011) ainda
pondera que “a sustentabilidade como substantivo exige uma mudança de relação com
a natureza, a vida e a Terra”, numa forte alusão que o conceito estabelecido pela ONU a
partir de Brundtland (1987) deve ser ampliado.

5.2 Planejamento ambiental

O planejamento ambiental que vem surgindo com uma prática cotidiana de empresas
e governo se consolidou após a Rio 92, Conferência Internacional das Nações Unidas para o
Desenvolvimento e Meio Ambiente, realizada no Rio de Janeiro em 1992. Ele busca organi-
zar as ações com o objetivo de recuperar, preservar, controlar e conservar o meio ambiente
natural de determinada região e também reduzir os impactos negativos advindos de ativi-
dades produtivas.
Este tipo de planejamento pode e deve ser aplicado para inúmeras situações como,
por exemplo, para a exploração madeireira e não madeireira, qualquer atividade industrial,
gestão de unidades de conservação, comitês de bacias hidrográficas, espaços públicos como
parques, praças, escolas, centros de saúde etc.

72 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Planejamento Ambiental no Brasil 5
Para se fazer um planejamento ambiental é necessário a utilização de inúmeras ferra-
mentas de geração de dados que irão subsidiar as tomadas de decisões. Conforme a escala
do planejamento, as informações a serem geradas para a análise são locais ou regionais e
envolvem estudos detalhados dos meios físico, biótico e socioeconômico.
As tomadas de decisões para os gestores, sejam eles do setor público ou privado, terão
sua origem no planejamento ambiental e terão informações integradas vindas de diagnós-
ticos que subsidiarão a previsão de ações, organização e normatização de regras, e procedi-
mentos fomentando o desenvolvimento sustentável do objeto de planejamento.
É importante ressaltar que um planejamento ambiental deve conter um conjunto
de metas, estudos analíticos, correlações e interdisciplinaridade dos meios físico, biótico
e socioeconômico, além do envolvimento dos atores sociais na elaboração e execução do
planejamento.
Segundo Silva (2003), os envolvidos na elaboração de um planejamento ambiental de-
vem atentar para a complexidade e diversidade de temas que se apresentam nas situações
de implantação de um sistema de planejamento ambiental e que se apresentam de maneira
transversal dentro de três eixos, descritos no quadro 1.

Quadro 1 – Eixos temáticos de um planejamento ambiental.

Eixos temáticos de um planejamento ambiental


1) Planos direcionados à prevenção e/ou correção de problemas
ambientais de caráter setorial como, por exemplo, contami-
nação do ar ou da água, erosão do solo, desmatamento etc.
2) Planos direcionados à gestão de recursos ambien-
tais como, por exemplo, água, solo, ecossistemas.
3) Prevenção e/ou conservação ambiental em seu conjunto.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Um dos principais instrumentos de análise visando ao planejamento ambiental são os


estudos multicritérios, que observam e analisam diversas variáveis envolvidas dentro do
universo do objeto a ser verificado. A análise multicritério é uma técnica que pode ser con-
siderada quali-quantitativa, pois considera abordagens puramente exploratórias e pouco
estruturadas de tomada de decisão, como audiências públicas e grupos de trabalho, jun-
tamente com informações geradas por modelos matemáticos quantitativos da pesquisa
operacional.
Segundo o mesmo autor, a análise multicritério tem como meta alcançar o consenso dos
participantes envolvidos neste processo que, através de matrizes correlacionais, mapas e
gráficos que são gerados, facilita e auxilia de maneira eficaz e prática as tomadas de decisões
que são pautadas por critérios relevantes e prioritários.
Em um estudo de análise multicritério, inúmeras variáveis são observadas, sendo que
cada uma, conforme a sua prioridade nas ações de gestão ambiental do objeto de estudo e
planejamento, recebem pesos de relevância com o auxílio de programas computacionais es-
pecíficos que fazem esta análise, aplicando-se as regras de decisão que vão da ação ou tema
mais relevante ao menos relevante.

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 73


5 Planejamento Ambiental no Brasil

As principais variáveis que são analisadas em um planejamento ambiental estão dis-


tribuídas pelos meios físico, biótico e socioeconômico e podem variar conforme o estudo
quanto a sua relevância (peso) ou mesmo a sua presença na análise. No quadro 2 estão apre-
sentadas as principais variáveis que são analisadas em um planejamento ambiental.

Quadro 2 – Principais variáveis que são analisadas em um planejamento ambiental.

Variáveis Característica e aplicabilidade


Verifica o tipo de solo e identifica caracte-
Solos rísticas para recompor florestas ciliares em
áreas com menor potencial agrícola.
Declividade Verifica encostas e áreas não mecanizáveis.
Susceptibilidade à erosão Verifica a necessidade da conservação do solo e da água.
Verifica os tipos fitofisionômicos visando à re-
Vegetação remanescente
cuperação de paisagens degradadas.
Verifica a existência de unidades de conservação e suas
Unidades de conservação
zonas de amortecimento e corredores ecológicos
Mananciais públicos Verifica a conservação e produção de
de abastecimento água para consumo humano.
Verifica as bacias hidrográficas com suas ma-
Bacias hidrográficas
lhas hídricas e características.
Verifica a diversidade biológica da fauna e flora iden-
Biodiversidade da área tificando se há espécies ameaçadas de extinção e/
ou importantes para o equilíbrio ecológico.
Verifica os usos do solo e suas caracte-
Uso e ocupação do solo
rísticas urbanas e rurais.
Dinâmicas populacionais Verifica as dinâmicas populações da zona urbana e rural.
Coleta e destino do Verifica a coleta e destino do resíduo sóli-
resíduo sólido do identificando problemas e soluções.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Todas essas variáveis de análise vão ter seus pesos (medida de valor da variável) a fim
de determinar as prioridades de ações a serem incorporadas pelo planejamento ambiental.
Um dos resultados que será gerado é o zoneamento, que servirá de instrumento de gestão
ambiental para uma empresa tanto pública como privada e também para a elaboração de
políticas públicas ambientais, ou mesmo somar com outras políticas públicas como os pla-
nos diretores das cidades, programas de saúde, prevenção e combate à doenças, programas
de educação e cultura etc.
O zoneamento é o resultado de um grande diagnóstico socioambiental e contribuirá
de maneira significativa para o planejamento ambiental ser mais eficaz e eficiente, uma vez
que estabelece quais os usos mais adequados para cada localidade, de acordo com suas ca-
racterísticas e capacidade de suporte, assim deixando os processos de gestão mais claros e
controláveis. Podendo, assim, uma empresa aumentar sua eficiência e, consequentemente,

74 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Planejamento Ambiental no Brasil 5
sua produtividade e lucratividade; e para o serviço público, otimizar os recursos públicos
gerando melhores serviços oferecidos para a população.
O planejamento ambiental possui algumas etapas que podem variar, mas de forma ge-
ral um processo deve conter os seguintes momentos, apresentados na figura 1.

Figura 1 – Etapas de um processo de planejamento ambiental.

Fonte: SILVA, 2004. Adaptado.

Como mencionado, os estudos envolvem os meios físico, biótico e socioeconômico e


as análises devem ser integradas de maneira interdisciplinar, sabendo que a realidade é a
inter-relação de diferentes áreas. Desta forma, o conhecimento do funcionamento dos sis-
temas naturais e sociais é fundamental para o processo de um planejamento ambiental e
todos os profissionais envolvidos devem fazer um esforço de interação com os colegas de
outras áreas do conhecimento, a fim de trocar saberes, aprendendo e ensinado os membros
da equipe.
Ressalta-se para os planejadores ambientais que a interdisciplinaridade se caracteriza
pelo grau mais avançado de relação entre disciplinas, se considerarmos o critério de real
entrosamento entre elas. São estabelecidas relações menos verticais entre diferentes discipli-
nas, que passariam, também, a operar sob conceitos em comum.
Deve-se perceber que, aqui, não há simples justaposição ou complementaridade entre
os elementos disciplinares, mas uma nova combinação de elementos internos e o estabele-
cimento de canais de trocas entre os campos em torno de uma tarefa a ser desempenhada
conjuntamente.
As ações de um planejamento ambiental devem atuar não somente como integradora e
mediadora da circulação dos discursos disciplinares, mas principalmente como coordena-
dora do campo disciplinar. Assim, os moderadores/condutores deste processo devem per-
mitir o constante diálogo e potencializar o surgimento de novos conhecimentos e posturas
dos atores envolvidos para a elaboração e implementação do planejamento ambiental.
A organização das ações entre os membros da equipe envolvida na elaboração do pla-
nejamento ambiental deve estar pautada pela circulação das informações de todas as áreas
do conhecimento de forma cooperativa, evitando as barreiras intelectuais e de poder que são
comumente observadas nas instituições, sejam elas públicas ou privadas.

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 75


5 Planejamento Ambiental no Brasil

5.3 Zoneamento ambiental:


instrumento de planejamento

Um dos principais instrumentos para o planejamento ambiental é o zoneamento, que


está inclusive instituído como um ordenamento jurídico na legislação brasileira pela Lei
Federal 6.938, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente e cria o zoneamen-
to ambiental como instrumento desta lei. Através do Decreto n. 4.297 de julho de 2002, o
zoneamento ambiental é regulamentado como zoneamento ecológico-econômico, com os
seguintes objetivos e princípios:
Art. 2. O ZEE, instrumento de organização do território a ser obrigatoriamen-
te seguido na implantação de planos, obras e atividades públicas e privadas,
estabelece medidas e padrões de proteção ambiental destinados a assegurar a
qualidade ambiental, dos recursos hídricos e do solo e a conservação da biodi-
versidade, garantindo o desenvolvimento sustentável e a melhoria das condi-
ções de vida da população.
Art. 3. O ZEE tem por objetivo geral organizar, de forma vinculada, as decisões
dos agentes públicos e privados quanto a planos, programas, projetos e atividades
que, direta ou indiretamente, utilizem recursos naturais, assegurando a plena ma-
nutenção do capital e dos serviços ambientais dos ecossistemas . (BRASIL, 2002)
Nas esferas do poder público, o zoneamento ambiental visa subsidiar os governos mu-
nicipais, estaduais e federal em processos de planejamento e de ordenação do uso do solo e
da ocupação do território, bem como da utilização dos recursos ambientais. Esse instrumen-
to normalmente está presente nos planos diretores municipais, planos de desenvolvimento
regional e também nos planos de manejo das unidades de conservação.
Para o setor privado, o zoneamento ambiental é um importante instrumento de gestão
ambiental, tanto dentro dos pátios industriais, organizando zonas, rotas e logísticas de pro-
dução, como também no campo onde são extraídas as matérias-primas para os processos
industriais como, por exemplo, em cultivos agrícolas, ações de mineração, extração de recur-
sos naturais como produtos madeireiros e não madeireiros e também pesqueiros.
No quadro 3, estão apresentadas algumas aplicabilidades do zoneamento ambiental
com instrumento de planejamento no setor produtivo.

76 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Planejamento Ambiental no Brasil 5
Quadro 3 – Aplicabilidades do zoneamento ambiental com instrumento de planejamento no setor
produtivo.

Setor produtivo Característica Aplicabilidade


Produção Por meio de um mapa de zoneamento é Indústrias de ali-
agrícola feita a delimitação para a adequação am- mentos, ração animal
biental da produção agrícola, cumprindo e farmacêuticas.
os ordenamentos legais quanto ao uso
de agroquímicos, proteção de nascentes
e cursos d’água e conservação do solo.
Extrativismo Por meio de planos de manejo que devem ser Indústrias de mó-
madeireiro aprovados pelo Ibama é feito o zoneamento veis, construção
da retirada da madeira, em que é determi- civil e naval.
nado o volume de madeira a ser retirado
por /ha, rotas de escoamento, proteção de
nascentes e cursos d’água e conservação
do solo e ações de recuperação da área.
Extrativismo Por meio de planos de manejo que devem Indústrias farmacêu-
não madeireiro ser aprovados pelo Ibama, é feito o zonea- ticas, cosméticos, arte-
mento da retirada dos produtos não ma- sanato e paisagismo.
deireiros, como por exemplo, sementes,
cipós, folhagens etc., em que é determina-
do o volume de exploração a ser retirado
por /ha, rotas de escoamento, proteção de
nascentes e cursos d’água, conservação
do solo e ações de recuperação da área.
Mineração Por meio dos planos de mineração que devem Indústrias de produ-
ser aprovados por órgão regulatórios do ção de ferro, minerais
setor, é feito o zoneamento das jazidas de preciosos, construção
exploração, determinando a quantidade e civil, paisagismo.
tipo de minério a ser explorado, bem como a
elaboração de rotas de escoamento, proteção
de nascentes e cursos d’água, conservação
do solo e ações de recuperação da área.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Um dos resultados do zoneamento ambiental é a divisão da área explorada, nas quais


as atividades são controladas, ou seja, algumas atividades são permitidas enquanto outras
não. Assim, o principal objetivo do zoneamento ambiental é organizar e delimitar geografi-
camente as áreas a serem utilizadas e protegidas/conservadas, com a finalidade de estabele-
cer ordenamentos de uso da propriedade e dos recursos naturais.
Os profissionais que atuam com o zoneamento, utilizam-no como um instrumento de
manejo e controle das características físicas, biológicas e socioeconômicas de zonas urbanas,
rurais e também de áreas naturais como unidades de conservação, por meio da imposição
de restrições a variáveis. Por exemplo, em zonas urbanas em desenvolvimento deverão ser
definidas a altura máxima e a densidade das edificações, o percentual de área do terreno
que deve permanecer impermeável ou livre de construções, e os tipos de uso do solo e

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 77


5 Planejamento Ambiental no Brasil

atividades; em áreas naturais, por sua vez, serão necessárias a permissão do acesso de uso
público em algumas áreas como mirantes e cachoeiras e a restrição a outras como em áreas
de refúgio de fauna, susceptibilidade à erosão etc.
O Decreto n. 4.297 de julho de 2002, define que o zoneamento ambiental é regulamen-
tado como zoneamento ecológico-econômico e tem como objetivo viabilizar o desenvolvi-
mento sustentável a partir da compatibilização do desenvolvimento socioeconômico com
a conservação ambiental. Este mecanismo de gestão ambiental consiste na delimitação de
zonas ambientais e atribuição de usos e atividades compatíveis segundo as características
(potencialidades e restrições) de cada uma delas. O objetivo é o uso sustentável dos recursos
naturais e o equilíbrio dos ecossistemas existentes.
Desta forma, o zoneamento ecológico-econômico tem como atribuição desenvolver análises
técnicas dos meios físico, biótico e socioeconômico de forma integradora para a região objeto do
planejamento, apontando, por exemplo, os impactos advindos da ação humana e a capacidade
de suporte do meio ambiente em relação ao padrão de desenvolvimento em curso.
Uma vez detalhadas essas informações e análises, é possível a proposição de ações direcionadas
para cada zona geográfica estabelecida no zoneamento, estabelecendo, inclusive, ações voltadas à
compensação, mitigação e recuperação ambiental dos impactos ambientais identificados.
Sabendo que as zonas estabelecidas no planejamento ambiental possuem caracterís-
ticas específicas ambientais, sociais, econômicas e vulnerabilidades e potencialidades por
si só, consequentemente ao analisar o território do zoneamento como um todo, observa-se
que existe uma heterogeneidade das zonas e que servirá para apontar para a administra-
ção da área alternativas de uso e gestão que potencializem e fomentem o desenvolvimento
sustentável.
O tema do zoneamento ambiental inserido no planejamento territorial ganhou força e
relevância recentemente como o novo Código Florestal (Lei Federal n. 12.651/2012) que esta-
beleceu um prazo de cinco anos (Art. 13, §2.) para que todos os estados elaborem e aprovem
seus zoneamentos ecológicos econômicos, seguindo metodologia unificada estabelecida em
norma federal.
Além do zoneamento ecológico-econômico, segundo Soares (2015), existem outros que
também são importantes para o planejamento ambiental rumo ao desenvolvimento sus-
tentável e que devem ser utilizados tanto pelo poder público na elaboração e aplicação de
políticas públicas como pelo setor privado em suas atividades produtivas.
No quadro 4 estão apresentados os principais zoneamentos utilizados no Brasil e suas
aplicabilidades.

78 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Planejamento Ambiental no Brasil 5
Quadro 4 – Principais zoneamentos utilizados no Brasil e suas aplicabilidades.

Tipo de Zoneamento Aplicabilidade


Zoneamento ambiental Instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente
(Lei Federal n. 6.938/1981) que visa à implementação
dos zoneamentos ecológicos-econômicos pelo Brasil.
Zoneamento agroecológico Estabelece critérios para o ordenamento da ocupação es-
pacial pelas diversas atividades produtivas agropecuária,
estando condicionada para a aprovação de crédito rural.
Zoneamento agríco- É um instrumento da Política Agrícola Nacional e é
la de risco climático elaborado com o objetivo de minimizar os riscos re-
lacionados aos fenômenos climáticos, permitindo a
identificação da melhor época de plantio das culturas,
nos diferentes tipos de solo e ciclos de cultivares.
Zoneamento industrial Instrumento da Lei Federal n. 6.803/1980, tem como
objetivo zonear áreas críticas de poluição, com a identi-
ficação das zonas destinadas à instalação de indústrias.
Zoneamento urbano Instrumento utilizado nos planos diretores dos mu-
nicípios, dividindo a cidade em áreas sobre as quais
incidem diretrizes diferenciadas para o uso e a ocupa-
ção do solo, especialmente os índices urbanísticos.
Etnozoneamento Instrumento da Política Nacional de Gestão Territorial
e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI), des-
tinado ao planejamento participativo e à catego-
rização de áreas de relevância ambiental, socio-
cultural e produtiva para os povos indígenas.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Ampliando seus conhecimentos

Planejamento ambiental
(SOARES, 2015)

O final do século XVIII foi um período no qual muito contribuiu a escola


francesa, com suas propostas de planejamento de recursos hídricos e
saneamento, que enfatizavam a relação entre disponibilidade de água e
preservação de mananciais. Já no final do século passado, foram traba-
lhados vários tipos de planejamento setorial, cuja discussão central ainda
estava voltada aos terrenos urbanos e às múltiplas funções de uma cidade,
porém, com maior desenvolvimento teórico de planejamentos setoriais da
área econômica e de recursos hídricos (SANTOS, 2004).

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 79


5 Planejamento Ambiental no Brasil

Assim, ainda de acordo com a autora, o planejamento pode ser visto como
teoria, processo, sistema ou como instrumento aplicável a vários tipos e
níveis de atividade humana, com objetivos variados que vão desde a alte-
ração estrutural da sociedade até a simples composição de programas.
Pode, também, ser considerado como uma ação contínua que serve de ins-
trumento dirigido para racionalizar a tomada de decisões individuais ou
coletivas em relação à evolução de um determinado objeto: pode-se afirmar
que o planejamento é a aplicação racional do conhecimento do homem ao
processo e tomada de decisões para conseguir uma ótima utilização dos
recursos, a fim de se obter o máximo de benefícios para a sociedade.

Almeida et al. (1999) consideram a definição de planejamento ambiental


imprecisa, pois ora se confunde com o próprio planejamento territorial,
ora é uma extensão de outros planejamentos setoriais mais conhecidos
(urbano, institucional e administrativo), que foram acrescidos da conside-
ração ambiental. Portanto, para os autores, o planejamento ambiental não
pode ser desvinculado das políticas de desenvolvimento e da distribuição
dos benefícios sociais por ele gerados. Tampouco essas políticas podem
continuar orientadas pelos tradicionais modelos normativos e técnico-
-econômicos de planejamento, estratégia compreensiva racional que não
reconhecem as especificidades das inter-relações dos fatores naturais e
culturais de uma dada realidade planejada.

O alcance desse reconhecimento requer o fortalecimento de metodologias


interdisciplinares de planejamento, capazes de articular as especificida-
des das relações entre os ambientes naturais e humanos em dada reali-
dade, como também de ter a capacidade de responder às exigências de
viabilização política dos planos, programas e projetos ambientais.

De qualquer modo, as definições que tentam ser mais abrangentes con-


sideram: planejamento ambiental consiste em um grupo de metodolo-
gias e procedimentos para avaliar as consequências ambientais de uma
ação proposta e identificar possíveis alternativas a esta ação (linha de
demanda); ou um conjunto de metodologias e procedimentos que avalia
as contraposições entre as aptidões e usos dos territórios a serem planeja-
dos (linha de oferta) (ALMEIDA, 1993, p. 14).

Para Ross (1997) as informações e os métodos de análise fornecidos pela


geografia têm o papel de permitir a adoção das práticas de planejamento e
gestão ambiental de base territorial com elevado grau de eficiência, o que
se torna possível pela condução com qualidade técnica e bases conceituais
sólidas. O processo de planejamento e gestão ambiental aplicável para

80 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Planejamento Ambiental no Brasil 5
o País, Estados, municípios, bacias hidrográficas, assentamentos rurais,
grandes fazendas, cidades, distritos industriais ou rede viária, deve
apoiar-se participação social e no binômio: base teórico-metodológica e
nas tecnologias da informação e comunicação.

A base teórico-metodológica deve estar calcada nos princípios da análise


sistêmica e no tratamento das informações referentes à natureza e à socie-
dade no contexto da integração de dados, combinados e inter-relaciona-
dos, de forma que possibilitem alcançar a concepção ambiental de um
determinado lugar, propiciando uma perspectiva holística da interação
sociedade-natureza. Segundo Ross (1997), é um tratamento de informa-
ções que contempla as relações da sociedade com a natureza, valorizando
os aspectos das fisionomias, arranjos estruturais e funcionalidades socio-
ambientais de uma determinada sociedade e como esta se apropria dos
bens naturais e cuida da natureza.

Diante da prática de planejamento, deve-se entender que o planejamento


não deve ser neutro e os profissionais (aqui entendemos que principal-
mente os geógrafos) das equipes interdisciplinares devem perceber que
“a possibilidade de um planejamento e de uma gestão que, mesmo ope-
rando dentro de uma sociedade injusta, contribua, para a superação das
injustiças sociais, por mais raro e difícil que isso possa ser” (SOUZA e
RODRIGUES, 2004, p. 52). O planejamento pode se tornar algo arriscado
se não trabalhado de acordo com as verdadeiras necessidades da socie-
dade e do ambiente.

É importante diferenciar planejamento e gestão, pois ambos não são sinô-


nimos, porém se complementam. Souza (2002) define os dois conceitos:

Planejar significa tentar prever a evolução de um fenômeno ou,


para dizê-lo de modo menos comprometido com o pensamento
convencional, tentar simular os desdobramentos de um processo,
com o objetivo de melhor precaver-se contra prováveis problemas
ou, inversamente, com o fito de melhor tirar partido de prováveis
benefícios. De sua parte, gestão remete ao presente: gerir significa
administrar uma situação dentro dos marcos dos recursos presen-
temente disponíveis e tendo em vista as necessidades imediatas.

O planejamento é a preparação para a gestão futura, buscando


evitar ou amenizar problemas e ampliar margens de manobra; e
a gestão é a efetivação, ao menos em parte (pois o imprevisível e o
indeterminado estão sempre presentes, o que torna a capacidade de

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 81


5 Planejamento Ambiental no Brasil

improvisação e a flexibilidade sempre imprescindíveis), das condi-


ções que o planejamento feito no passado ajudou a construir. Longe
de serem concorrentes ou intercambiáveis, planejamento e gestão
são distintos e complementares (SOUZA, 2002, p. 46).

Os usos das práticas de planejamento se intensificaram no pós Segunda


Guerra Mundial e vieram carregadas de intenções de modernização das
instituições públicas (sejam elas administrativas, de planejamento, gestão,
saúde, educação, tecnologia, militar e outras), bem como da vida social (cul-
tura, urbanização, política, educação, trabalho, etc.). Porém, o que se viu nas
décadas de 1970 e 1980 no Brasil foram práticas de modernização conserva-
dora. “Planejar pode significar burocratizar [...], entretanto, planejamento
pode estimular resultados opostos aos descritos” (HISSA, 1998, p. 34).

No sentido de melhorar a qualidade ambiental e a qualidade de vida,


surge o planejamento ambiental, associado às questões sociais. A grande
mudança provocada pelo avanço urbano nas cidades causou problemas
ambientais e sociais das mais diversas ordens. A discussão entre o ambien-
tal e o social das áreas urbanas nos instiga a pensar em questões de melho-
ria e a se criar ações de progresso para a qualidade de vida nas cidades.
Surge a necessidade de se pensar em algo que contemple o ambiental e o
urbano, mesmo que a administração pública esteja preparada em apenas
direcionar ações aonde há grandes capitais vigentes ou nos casos mais
graves de degradação ambiental.

Atividades
1. As atividades das 3 partes serão feitas em conjunto, integrando os conceitos apresen-
tados. Primeiramente faça um diagnóstico dos principais problemas ambientais de
sua cidade e liste-os correlacionando com problemas ambientais globais que servem
de base para a crise ambiental.

Após relacionar os problemas, liste ações/projetos para cada item diagnosticado


para compor um planejamento ambiental.

Por fim, simule um zoneamento ambiental com as informações geradas e faça uma
proposta de intervenção utilizando o mapa da cidade diagnosticada que pode ser
acessada nos sites das prefeituras municipais.

82 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Planejamento Ambiental no Brasil 5
Referências
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Paulo/Brasil. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 83


5 Planejamento Ambiental no Brasil

Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Tecnologia, campus de Presidente Prudente, para obtenção
do título de mestre em Geografia. Disponível em: <http://www2.fct.unesp.br/pos/geo/dis_teses/15/ms/
fernanda_soares.pdf>. Acesso em: 01 de nov. 2016.

Resolução
1. Os resultados poderão ser organizados em uma tabela como segue o modelo.

Problemas Ambientais Ações e projetos

Desta forma, poderá ter uma visão geral de problemas ambientais e relacioná-los
com planejamento ambiental visando à redução, amenização ou até mesmo a resolu-
ção de determinados problemas.

84 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


6
Geoprocessamento aplicado
à Gestão Territorial e ao
Planejamento Ambiental

Introdução

No momento em que o Brasil discute e adota estratégias para o desenvolvimento


sustentável e se associa aos organismos internacionais na busca de contribuir com
informações para o mapeamento global das alterações da ocupação do solo, os traba-
lhos de geoprocessamento representam importante aporte para esse fim. Os produtos
resultantes, desenvolvidos no âmbito dessa atividade, fornecem informações sobre as
características e dinâmicas espaciais das regiões estudadas. Assim, nesta aula apre-
sentaremos os conceitos gerais sobre geoprocessamento e sua aplicabilidade à gestão
territorial e ao planejamento ambiental.

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 85


6 Geoprocessamento aplicado à Gestão Territorial
e ao Planejamento Ambiental

6.1 Geoprocessamento
Com o crescimento das cidades e consequentemente da demanda de uso de recursos
naturais, a gestão territorial e o planejamento ambiental se tornam uma das principais ferra-
mentas para a administração do espaço. Segundo o geógrafo Milton Santos (1997), “espaço
é o conjunto de objetos e relações que se realizam sobre estes objetos”, ou seja, é a complexi-
dade das interações culturais das comunidades humanas nos meios urbanos e rurais.
Desta forma, o espaço das zonas urbanas e rurais deve ser bem administrado, visando
minimizar conflitos e fomentar interações positivas entre as populações e o meio. Com o
desenvolvimento de tecnologias no campo da gestão e em especial na área da cartografia,
surge uma ferramenta importante para a gestão territorial e o planejamento ambiental cha-
mada de geoprocessamento.
O geoprocessamento, segundo Worboys (1995), é composto por inúmeros métodos de
coleta e análise de informações georreferenciadas, isto é, ele processa informações de da-
dos que estão interpolados em referências geográficas ocorrentes orientadas pelas ondas
enviadas pelos satélites e que produzirão informações geográficas. Esses métodos se apro-
priam de tecnologias de análises espaciais e que estão presentes a cada dia no cotidiano das
pessoas como, por exemplo, o GPS (Sistema de Posicionamento Global) que é amplamente
utilizado para traçar destinos geográficos.
O Brasil tem investido de forma considerável nestas tecnologias e compõe um grupo
restrito de países que investem na pesquisa e desenvolvimento de produtos técnicos espa-
ciais. Como resultado desses investimentos, o Brasil tem a parceria com a China, que em
1999 lançou o primeiro satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS), o CBERS-1, e
em 2003 o CBERS-2, tendo alcançado grande êxito para as finalidades do geoprocessamento.
As imagens geradas por esses satélites podem ser adquiridas gratuitamente no site do INPE.
As principais tecnologias que são bem difundidas e utilizadas na gestão territorial e
planejamento ambiental estão apresentadas no quadro 1.
Quadro 1 – Principais tecnologias utilizadas na gestão territorial e planejamento ambiental.

Tecnologias Sigla
Sensoriamento Remoto SR
Sistema de Informação Geográfica SIG
Sistema de Posicionamento Global GPS
Fonte: Elaborado pelo autor.

• Sensoriamento remoto
O sensoriamento remoto é a tecnologia que é capaz de obter imagens com a onda na
banda infravermelha, onde os sensores ópticos capturam e registram a luz emitida e/ou
refletida pelo objeto em análise da superfície terrestre. Os satélites são os principais instru-
mentos para geração dessas imagens e os mais conhecidos e difundidos são:

86 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Geoprocessamento aplicado à Gestão Territorial
e ao Planejamento Ambiental 6
• CBERS (Chinese – Brazilian Earth Resources Satellite), com 1.450 kg. Satélite nacional
em parceria com a China, lançado em 1999 e administrado pelo INPE (Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais).
• Landsat 7 (Earth Resources Technology Satellite), com aproximadamente 2.100 kg.
• SPOT (Sistéme Probatoire de L’Observation De La Terre France), com 2.700 kg.
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) desenvolveu o programa de acesso
gratuito que executa atividades de processamento digital de imagens (SPRING). Outra fonte
gratuita amplamente divulgada é o Google Earth.
Uma vez captada, a imagem é, em seguida, analisada e por fim poderá ser transformada em
mapas ou constituir um banco de dados georreferenciados, compondo assim o geoprocessamento.
• Sistema de informação geográfica
O sistema de informação geográfica é comumente confundido com geoprocessamento,
no entanto ele é uma das tecnologias que fazem parte do conceito de geoprocessamento, o
qual possui especificidades e um conceito maior e que processa dados georreferenciados. O
sistema de informação geográfica processa e analisa informações gráficas como, por exem-
plo, mapas e tabelas com o objetivo de executar análises geoespaciais e desenvolver modelos
da superfície terrestre. Assim como para o sensoriamento remoto, o INPE disponibiliza gra-
tuitamente programas desenvolvidos para o SIG, como o sistema de análise geo-ambiental
(SAGA), além do próprio SPRING.
• Sistema de posicionamento global
O sistema de posicionamento global, mais conhecido pela sigla GPS, é um sistema de po-
sicionamento por satélites utilizado para a determinação de localizações na superfície terres-
tre. Na história da humanidade, sempre foram desenvolvidas técnicas de localização como, por
exemplo, o posicionamento das estrelas, do sol, formações rochosas etc. No entanto, com o au-
xílio de satélites, é possível posicionar geograficamente o objeto por um aparelho receptor da
emissão das ondas dos satélites de maneira precisa quanto à longitude, latitude e altitude.
O GPS é um programa desenvolvido pelos Estados Unidos para o uso em guerras, no
entanto, outros países também estão desenvolvendo esta tecnologia como a Rússia com o
programa GLONASS; a Europa com o programa GALILEO, e mais recentemente, a China
com o programa COMPASS.

6.1.1 Características do geoprocessamento

6.1.1.1  Configurações metodológicas


Um conjunto de parâmetros e variáveis define o roteiro operacional do geoprocessa-
mento, desde a identificação da ocupação do solo, passando pelas informações que auxiliam
a compreensão dos processos de desenvolvimento das atividades, até a definição dos prin-
cipais padrões de uso da terra.
Através da análise e inter-relação desse conjunto de informações é possível distinguir e carto-
grafar unidades espaciais homogêneas e conhecer as diferentes formas de apropriação do espaço.

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 87


6 Geoprocessamento aplicado à Gestão Territorial
e ao Planejamento Ambiental
6.1.1.2 Informações gráficas
Este conjunto de informações apresenta e discute conceitos associados à geração, pro-
cessamento e armazenamento de imagens digitais de satélites, bases cartográficas oficiais
digitalizadas, mapas regionais, fotografias aéreas e de campo, relativos à área objeto de es-
tudo. O processamento, tratamento e supervisão dessas informações a partir de softwares
de aplicação específica possibilitam representações gráficas que buscam refletir a cobertura
e padrões de utilização da terra.

6.1.1.3 Informações textuais


Este conjunto de informações encerra o material selecionado a partir de literatura técni-
ca e científica, documentos, anotações e informações geográficas de caráter estatístico, rela-
tivos à área objeto de estudo. As informações na forma textual possibilitam análises e inter-
pretações no intuito de subsidiar os produtos gráficos e o relatório final, buscando integrar
um conjunto de informações que reflita a realidade observada e possibilite a interpretação
dos processos de uso e ocupação do solo.

6.1.1.4 Legenda adotada e feições mapeadas


Segundo o IBGE (2013), as informações de uso e ocupação do solo em um georrefen-
ciamento devem ser apresentadas em mapeamentos separados. Contudo, de um ponto de
vista prático, é corriqueiro e mais eficiente a união de ambos os sistemas de classificação de
dados de sensores remotos em uma única fonte de atividades de mapeamento. Desse modo,
as classes de mapeamento para a elaboração do uso e ocupação do solo da área de estudo
devem ser conceitualmente definidas com base no sistema de classificação para o uso e ocu-
pação do solo segundo IBGE.
Os procedimentos metodológicos poderão seguir o organograma apresentado na figura 1.

Figura 1 – Procedimentos metodológicos.

Fonte: Elaborado pelo autor.

88 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Geoprocessamento aplicado à Gestão Territorial
e ao Planejamento Ambiental 6
6.2 Geoprocessamento aplicado à gestão territorial

O geoprocessamento é uma ferramenta fundamental e de importante aplicação à gestão


territorial para os gestores municipais, tanto da esfera executiva como legislativa. Além dis-
so, o setor público pode encontrar nas geotecnologias subsídios para elaboração do planeja-
mento territorial e políticas públicas para os espaços rural e urbano, e também monitorar a
sua implementação, fazendo ajustes necessários caso haja necessidade.
Para tanto, os municípios devem se organizar e planejar para oferecer aos gestores as
condições técnicas, considerando que para sua utilização é necessário criar a cultura da im-
plantação e uso do geoprocessamento, o qual propicia a coleta e o processamento de dados
informatizados sobre informações biofísicas e sociais.
As informações obtidas irão compor um banco de dados e subsidiar as tomadas de de-
cisões para o planejamento de soluções espaciais que vão do diagnóstico do problema à sua
resolução, otimizando assim recursos financeiros e maior chance de sucesso na intervenção.
Os espaços, segundo Milton Santos (1997), são dinâmicos com contínuas mudanças ao lon-
go do tempo, que pode ser curto, médio ou longo e pode ser monitorado pelo geoprocessamento
que, enquanto tecnologia, associado aos sistemas de informações geográficas oferece toda a base
de dados úteis para os planejamentos e tomada de decisões pelos órgãos públicos.
Ressalta-se que a coleta de dados e manipulação dos mesmos na elaboração de sistemas
analíticos do geoprocessamento, que irão subsidiar as tomadas de decisões que irão impac-
tar diretamente as populações, devem ser desenvolvidas por um conjunto de profissionais
interdisciplinares que estarão envolvidos com o conhecimento de suas respectivas áreas de
atuação e contribuirão nas escolhas das metodologias de análise, ajustando eventualidades
e inconformidades, tornando a decisão final mais transparente, consistente, exata e precisa.
A gestão territorial é multidisciplinar e, portanto, complexa. Assim, primeiramente
qualquer aplicação do geoprocessamento neste tema deve levar em consideração que seja
uma proposta de análise integrada da estrutura e dos elementos da superfície terrestre, in-
cluindo os meios bióticos, físicos e socioeconômicos.
Neste sentido, o geoprocessamento é um instrumento geotecnológico que pode ser uti-
lizado como mediador e facilitador na análise integrada de informações que compõem o
banco de dados, e gerar mapas de auxílio na gestão territorial, integrando o volume de da-
dos espaciais provenientes de diferentes fontes (POLIDORO e BARROS, 2010). Como resul-
tados, tem-se uma rápida e efetiva visualização e fácil entendimento para as comunidades
que participam da definição do uso do território, que deve ser compreendido como espaços
biofísicos, culturais e sociais.
Um ponto relevante da aplicabilidade do geoprocessamento à gestão territorial está
na legislação brasileira. Após a promulgação da Constituição Federal em 1988, a reforma
urbana ganhou destaque e em 2001 foi elaborado o Estatuto das Cidades, ordenado juridica-
mente pela lei 10.257, de 10 de julho. Nesta lei, um instrumento de gestão foi criado. Trata-se
do Plano Diretor, que passa a ser obrigatório para cidades com mais de 20 mil habitantes, e
referência para o cumprimento da função social da propriedade.

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 89


6 Geoprocessamento aplicado à Gestão Territorial
e ao Planejamento Ambiental
Somado ao Estatuto das Cidades, o geoprocessamento ganha mais relevância nos pro-
cessos de gestão pública quando da criação e sancionamento da lei 11.445/2007, que esta-
belece as diretrizes nacionais do saneamento básico e passa a englobar, dentro da política,
a obrigatoriedade dos municípios de elaborarem o Plano Municipal de Saneamento Básico.
Este tem entre suas bases o uso de geotecnologias como o geoprocessamento e engloba os
quatro setores do saneamento, que são o abastecimento de água, esgotamento sanitário,
resíduos sólidos e limpeza pública e drenagem, devendo conter o diagnóstico e a elaboração
de banco de dados e mapas temáticos das situações de saneamento.
O geoprocessamento tem ampla aplicação na gestão territorial em inúmeras áreas da
administração como saúde, meio ambiente, educação, trânsito etc. Uma das maiores aplica-
bilidades é no auxílio de elaboração e execução de políticas públicas, sendo um importante
instrumento de análise e monitoramento dos resultados.
No quadro 3 estão listadas as principais aplicabilidades do geoprocessamento na gestão
territorial.

Quadro 3 – Aplicabilidades do geoprocessamento na gestão territorial.

Área Temática Aplicabilidade


Elaboração de planos de macrodrenagem.
Monitoramento da rede de drenagem.
Elaboração de planos de manuten-
Saneamento Drenagem
ção da rede de drenagem.
Elaboração de mapas de áreas de ris-
co de inundação e enchente.
Diagnóstico e relatórios de situa-
Abastecimento
ção do abastecimento público.
de água
Elaboração de planos de preservação de mananciais.
Diagnóstico e relatórios de situa-
Esgotamento ção da emissão do esgoto.
sanitário Elaboração de planos de esgotamento sanitário.
Monitoramento da rede de esgotamento sanitário.
Saneamento
Diagnóstico e relatórios de situa-
Resíduos sólidos ção dos resíduos sólidos.
Elaboração de planos municipais para resíduos sólidos.
Diagnóstico e relatórios de situação da limpeza pública.
Elaboração de planos municipais para limpeza pública.
Limpeza pública
Monitoramento do funcionamento e qua-
lidade da limpeza pública.

90 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Geoprocessamento aplicado à Gestão Territorial
e ao Planejamento Ambiental 6
Área Temática Aplicabilidade
Elaboração de campanhas educativas para
combate à doenças, com a elaboração de ban-
co de dados e mapas de focos de doenças.
Campanhas Plano de combate à doenças.
Elaboração de campanhas de vacinação com
o banco de dados elaborado sobre vulnera-
Saúde
bilidades, densidade populacional etc.
Controle de estoques de remé-
dios por unidades de saúde.
Administração Compra de remédios baseado no controle de estoques.
Elaboração de rotas de distribuição de me-
dicamentos conforme demanda.
Identificação de pontos de tráfego.
Avaliação de fluxos de trânsito.
Controle de semáforos interligados.
Manejo de sentidos de direção de acordo com o trânsito
Administração ou inconformidades como acidentes, manifestações etc.
Elaboração de planos de manutenção viária.
Identificação e zoneamento de áreas proble-
mas como trânsito, depredação de sinaliza-
Trânsito ção, manutenção de equipamentos etc.
Identificação e zoneamento de pon-
tos de mobilidade urbana.
Elaboração, monitoramento e manuten-
ção de rotas para o transporte público.
Mobilidade
Elaboração, monitoramento e ma-
nutenção de ciclofaixas.
Elaboração, monitoramento e manuten-
ção de faixas de circulação de pedestres.
Identificação por tipo de serviço de ba-
res, restaurantes, bistrôs etc.
Elaboração de mapas e rotas gastronômicas.
Elaboração de banco de dados impresso e
Cultura e ­on-line de acesso aos serviços gastronômicos.
Administração
turismo
Identificação de pontos de interesse cultural como
museus, monumentos, marcos históricos.
Elaboração de mapas e rotas de visitação cultural.
Elaboração de planos integrados de cultura e turismo.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 91


6 Geoprocessamento aplicado à Gestão Territorial
e ao Planejamento Ambiental

6.3 Geoprocessamento aplicado


ao planejamento ambiental
O Brasil tem utilizado amplamente o geoprocessamento visando ao monitoramento
ambiental, uma vez que muitas regiões estão submetidas a pressões das ações predatórias
antrópicas, onde se observa grandes desmatamentos de florestas nativas, minerações irregu-
lares, entre outras que comprometem o patrimônio ambiental brasileiro.
O Ibama – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis,
em conjunto com o INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, possui ações de moni-
toramento ambiental como, por exemplo, na Amazônia, o programa Amazônia (ALOS), na
Bacia do Rio São Francisco e também em outros Biomas Brasileiros (PMDBBS), tendo como
base as informações geradas pelo Programa China‐Brazil Earth Resources Satellite (CBERS),
que foi desenvolvido para construção de importantes satélites de utilização binacional.
O satélite CBERS vem sendo aplicado, por exemplo, em inúmeros projetos como o
Canasat, Deter, Geoma, Prodes, Projeto Educa SeRe, SOS Mata Atlântica e zoneamento eco-
lógico‐econômico no Brasil (INPE, 2011).
Por todo território nacional existem pressões aos recursos naturais, seja pela perspecti-
va socioeconômica de determinada população que necessita dos recursos naturais para so-
breviver, seja por ocupações e invasões exploratórias de ecossistemas naturais. Também de
forma relevante está a pressão das políticas econômicas, que incentivam a produtividade
com a execução de muitas obras e ocupação do solo e que não possuem planejamento ade-
quado, ou mesmo não possuem nenhum instrumento de planejamento e gestão.
Como consequências, ocorrem consideráveis danos aos recursos naturais, como polui-
ção de bacias hidrográficas, comprometendo o abastecimento tanto para humanos como
para animais, extinção de espécies da fauna, fragmentação de ecossistemas, causando pro-
blemas em seu equilíbrio e funcionamento e até desastres de grande relevância. Por exem-
plo, o caso do rompimento da barragem de Fundão em Mariana/MG, em 2015, deixando um
rastro de impactos ambientais negativos e ocasionando até a morte de pessoas.
Desta forma, o planejamento e a gestão ambiental têm se tornado imprescindíveis para
a segurança nacional, com a proteção dos recursos naturais como base e fontes de matéria-
-prima para o funcionamento da sociedade.
Assim, o geoprocessamento tem se apresentado como uma ferramenta extremamen-
te importante para garantir bons planejamentos e implantação de projetos que seguem os
princípios da sustentabilidade, seja no setor público ou privado, servindo de base para ela-
boração, monitoramento e verificação ao cumprimento da legislação ambiental brasileira.
Na área do planejamento ambiental, o geoprocessamento tem ampla aplicabilidade e
tem proporcionado avanços na proteção dos recursos naturais brasileiros e ajudado a me-
lhorar os processos produtivos do setor industrial e agrícola, atuando na redução da emis-
são de poluentes, otimização do uso de recursos naturais, melhoria na saúde humana etc.
Visando exemplificar a aplicabilidade do geoprocessamento no planejamento ambiental no
Brasil, no quadro 4, em que estão apresentadas as principais aplicabilidades desta ferramenta.

92 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Geoprocessamento aplicado à Gestão Territorial
e ao Planejamento Ambiental 6
Quadro 4 – Aplicabilidades do geoprocessamento no planejamento ambiental.

Área Temática Aplicabilidade


Gestão de mananciais de água para
abastecimento público.
Recuperação de bacias hidrográficas.
Bacias hidrográficas Tipos de canais fluviais.
Padrões de drenagem.
Meio
Propriedades de drenagem
ambiente
Elaboração de planos de drenagem urbana e rural.
Identificação de processos erosivos.
Natureza da erosão.
Conservação do solo
Formas de erosão.
Gestão para controlar e recuperar erosão.
Identificação em metro quadrado da co-
bertura verde por habitante.
Identificação dos problemas da arborização ur-
bana (fiação, calçamento, doenças, cupins etc.).
Elaboração de planos de manutenção.
Arborização urbana
Inventários de arborização urbana.
Elaboração de políticas públicas para
a gestão da arborização urbana.
Identificação de zonas com bai-
xos índices de arborização.
Coleta seletiva de resíduos.
Coleta de resíduo comum.
Tratamento do esgoto.
Resíduos domésticos
Meio Gestão do lodo do esgoto.
ambiente Elaboração de políticas públicas para a
gestão dos resíduos domésticos.
Geomorfologia.
Climatologia.
Vulnerabilidade ambiental.
Pedologia.
Estudos ambientais
Declividade.
Altitude.
Ecossistemas.
Monitoramento de áreas de risco.
Monitoramento de desmatamentos.
Cumprimento da Monitoramento de uso e ocupação do solo.
legislação ambiental Monitoramento de ocupação de áreas de risco.
Averbação de reserva legal.
Recuperação de áreas degradadas.
Meio Cumprimento da
ambiente legislação ambiental Cadastro ambiental rural.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 93


6 Geoprocessamento aplicado à Gestão Territorial
e ao Planejamento Ambiental

Ampliando seus conhecimentos

Geoprocessamento no planejamento urbano


(DUARTE, 2010)

O Brasil tem mais de 5 mil municípios, de diversas extensões territoriais.


Administrá-los é uma tarefa complexa, pois se deve suprir ao máximo
as necessidades da população, seja em educação, seja em saúde, seja em
transporte etc.

Para Kohlsdorf (1985), o planejamento urbano possui dois fatores cruciais


no modo de pensar e agir sobre a cidade. O primeiro é assumir a cidade
como um processo contínuo. O planejamento, dentro dessa concepção, é
entendido como um processo-subsídio a tomadas de decisões que têm a
função de transformar a cidade de acordo com objetivos pré-estabeleci-
dos. O segundo é a entrada em cena de contribuições vindas de outras dis-
ciplinas, tais como a sociologia, a geografia e a economia. Assim o planeja-
mento urbano assumiu característica multidisciplinar ao longo do tempo.

O planejamento da intervenção estatal nas aglomerações urbanas através


de órgãos de governo locais é chamado planejamento urbano, como abor-
dado no site da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.

As principais áreas de atuação do Estado nessas aglomerações urbanas


são a provisão de infraestrutura e a regulação do uso do espaço, visando
o atendimento das necessidades dos cidadãos quanto à qualidade de vida,
à injustiça social e ao desenvolvimento das atividades econômicas, con-
forme o Estatuto da Cidade.

O Estatuto da Cidade (Lei Federal 10.257, em 10 de julho de 2001) é a lei


que regulamenta a política urbana nacional, expressa nos artigos 182 e 183
da Constituição Federal. Ele é fruto de 12 anos de discussões e seu prin-
cipal objetivo é garantir o direito de todos à cidade, ou seja, às riquezas
naturais, aos serviços, à infraestrutura e à qualidade de vida.

O estatuto descreve uma série de instrumentos para corrigir distorções


do crescimento urbano, sendo o mais importante deles o Plano Diretor
Urbano (PDU), que é o instrumento básico da política de desenvolvimento
e expansão urbana, sendo obrigatório para municípios com mais de vinte
mil habitantes, integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações

94 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Geoprocessamento aplicado à Gestão Territorial
e ao Planejamento Ambiental 6
urbanas, com áreas de especial interesse turístico ou com significativo
impacto ambiental ou em áreas nas quais o poder público pretenda reali-
zar parcelamento ou edificação compulsórios, impor imposto sobre pro-
priedade predial e territorial urbano progressivo no tempo ou realizar
desapropriação.

No site da Prefeitura de Vitória-ES é possível encontrar informações perti-


nentes sobre o Plano Diretor Urbano (PDU), que é um dos principais ins-
trumentos de implementação das políticas urbanas no âmbito municipal,
sendo a lei aprovada pela Câmara dos Vereadores. Ele tem por finalidade
organizar o crescimento e o funcionamento da cidade e garantir a quali-
dade de vida. Para tal define áreas de proteção ambiental e de patrimônio
histórico, delimita as regiões e os critérios para instalação de atividades
econômicas ou grandes obras e ainda ordena o trânsito e a expansão da
área edificada.

Espera-se da administração pública que garanta direitos básicos e quali-


dade de vida à população. Pontes, estradas pavimentadas, escolas, hos-
pitais, serviços de transporte coletivo, coleta de lixo, tratamento e dis-
tribuição de água, entre outros, são realizações esperadas de qualquer
prefeitura. De comum entre essas informações é que todas estão geogra-
ficamente distribuídas pelo território. Ter profundo conhecimento deste é
vital para que se atinjam as metas de cada governo.

Nesse contexto, o uso de Sistemas de Informações Geográficos (SIG) tem


se apresentado bastante eficaz para possibilitar aos gestores uma visão
mais completa sobre os municípios e auxiliando nas tomadas de decisões.

O Geoprocessamento, popularizado com o Google Earth, os automóveis e


celulares com receptores GNSS (Global Navigation Satelite System) e as ima-
gens de satélite, consiste em uma tecnologia que vem sendo largamente
utilizada no apoio às decisões em políticas públicas.

Cada setor de uma prefeitura, auxiliado por técnicas de geoprocessa-


mento, consegue melhor planejar suas tarefas e também melhor atender
aos usuários internos e externos. Setores de cadastro têm facilidade em
gerir os registros imobiliários e também em passar as informações aos
cidadãos através de mapas e memoriais descritivos que podem ser rapi-
damente visualizados via SIG. O Imposto Territorial Urbano (IPTU) pode
ser corrigido de forma mais equilibrada. Serviços de distribuição de água,
luz e gás podem ter um melhor planejamento de manutenção e mais

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 95


6 Geoprocessamento aplicado à Gestão Territorial
e ao Planejamento Ambiental

facilidade de acesso em reparos. Cidadãos podem, via mapas interativos


na Internet, verificar rotas das linhas de ônibus, horários de coleta sele-
tiva de lixo em determinados pontos da cidade ou mesmo procurar uma
escola ou posto de saúde mais próximo de sua casa.

Cavenaghi e Lima (2006) afirmam que para a construção do plano diretor é


fundamental conhecer a realidade de todo município, o que inclui a infra-
estrutura da cidade, o cadastro das áreas construídas, as redes de trans-
porte, água e esgoto, os serviços públicos, os pontos turísticos, as áreas de
preservação, dentre outras variáveis consideradas na gestão de uma prefei-
tura. Artigo publicado na versão on-line da revista InfoGeo traz exemplos
de como o uso de SIG e de imagens de satélite vai além de gerar os sub-
sídios para a formação do plano diretor: auxilia vários departamentos da
prefeitura a planejar suas ações e ainda disponibiliza estas informações via
Internet, o que melhora e agiliza o atendimento ao cidadão.

As possibilidades de aplicações são: mapeamento do uso do solo urbano


em classes detalhadas; estimativa populacional por bairro, pela contagem
de unidades residenciais; identificação, mapeamento, análise de lotea-
mentos clandestinos e a elaboração de propostas preliminares de regula-
rização urbanística desses loteamentos; mapeamento da segregação resi-
dencial; estimativa de áreas impermeabilizadas; mapeamento dos vazios
urbanos; discriminação de densidades construtivas, entre outras. Deste
modo, o grande conjunto de informações exigidas para o plano diretor,
que permite identificar as zonas onde se pretende incentivar, coibir ou
qualificar a ocupação; induzir ou restringir determinados usos do solo;
regiões que se queira povoar ou repovoar; com vazios urbanos que se
queiram ocupar; áreas de interesse ambiental ou paisagístico; áreas que
deverão ser submetidas à regularização fundiária e urbanística; áreas em
que excepcionalmente a população residente será removida, têm nas ima-
gens orbitais atualmente disponíveis uma fonte de dados imprescindível.

A possibilidade de acesso aos dados geográficos pela população consolida


o geoprocessamento enquanto instrumento útil ao processo de argumen-
tação coletiva que caracteriza o planejamento participativo. A visualização
mais incisiva da realidade sócio-espacial de cada região permite a identifi-
cação dos anseios imediatos da população, o que facilita o diálogo entre os
diferentes atores urbanos (KURKDJIAN e PEREIRA, 2006).

96 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Geoprocessamento aplicado à Gestão Territorial
e ao Planejamento Ambiental 6
Atividades
1. Segundo o geógrafo Milton Santos (1997), “espaço é o conjunto de objetos e relações
que se realizam sobre estes objetos”, ou seja, é a complexidade das interações culturais
das comunidades humanas nos meios urbanos e rurais. Com base neste conceito, bus-
que uma imagem do Google Earth, disponível gratuitamente na internet, e faça uma
fotointerpretação, localizando, demarcando e descrevendo os objetos na paisagem.

2. Busque na internet uma imagem de sua escolha, do Google Earth, disponível gra-
tuitamente, e faça uma fotointerpretação da mesma imagem sobre a dinâmica do
espaço observado em diferentes tempos. Por exemplo, busque uma imagem de 5 ou
10 anos atrás e atual. No programa Google Earth há uma ferramenta que permite
este acesso das imagens mais antigas. Observe os pontos de alteração na imagem e
descreva-os.

3. Busque na internet uma imagem de sua escolha do Google Earth, disponível gra-
tuitamente, e faça uma fotointerpretação de áreas verdes (parques, bosques, praças)
na zona urbana e de fragmentos florestais na zona rural. Busque na literatura que
tipo de bioma e ecossistemas que ocorrem na região da imagem analisada e comente
sobre o tamanho das áreas analisadas e se há necessidade de algum tipo de manejo
visando a sua manutenção/conservação.

Referências
BRASIL. Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001. Regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal,
estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LEIS_2001/L10257.htm>. Acesso em: 13 nov. 2016.
______. Lei n. 11.445, de 5 de janeiro de 2007. Estabelece diretrizes nacionais para o saneamento bá-
sico. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11445.htm>.
Acesso em: 13 nov. 2016.
DUARTE, Romero Meyrelles. Geoprocessamento no planejamento urbano. Disponível em: <http://
mundogeo.com/blog/2010/12/15/geoprocessamento-no-planejamento-urbano/>. Acesso em: 7 nov. 2016.
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INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Base sistemática: 1:250.000.
Brasília, 2015. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/download/arquivos/index1.
shtm>. Acesso em: 14 nov. 2016.
POLIDORO, Maurício; BARROS, Mirian Vizintim Fernandes. Utilização de geotecnologias no suporte
a gestão de políticas públicas municipais. Revista eletrônica da associação dos geógrafos brasileiros

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 97


6 Geoprocessamento aplicado à Gestão Territorial
e ao Planejamento Ambiental
– Seção Três Lagoas/MS – n. 11 – Ano 7, maio 2010. Disponível em: <http://www.uel.br/projetos/
atlasrml/publicacoes/periodicos/4.pdf>. Acesso em: 14 nov. 2016.
WORBOYS, M.F. GIS: A Computing Perspective. London, Taylor and Francis, 1995. Disponível em:
<www.cambridge.org/core/journals/geological-magazine/article/worboysm-f-1995-gis-a-computing-
perspective-xiv-376-pp-london-bristol-pa-taylor-and-francis-price-3995-hard-covers-1995-paperback-
isbn-0-7484-0064-8-07484-0065-6-pb/B4ED3A532A44C3BCA71B6D6CBD7609EC>. Acesso em: 8 nov.
2016.

Resolução
1. Esse será um exercício de análise espacial com uma ferramenta de geoprocessamen-
to com uma imagem real. Nesta imagem, será possível localizar bacias hidrográficas
e identificar pontos de degradação como erosões e ocupações irregulares. Também
poderá verificar pontos de interesse turístico e verificar as distâncias entre eles e
também sugerir rotas de visitação. A cada ponto de observação é possível explorar as
possibilidades do georreferenciamento na aplicação da gestão territorial e ambiental.

2. A análise comparativa permitirá uma verificação das alterações da paisagem e obser-


var se foram negativas ou positivas no que tange à proteção e conservação do meio
ambiente, dinâmicas sociais e até mesmo crescimento desordenado de uma zona
urbana. Servirá de base para uma reflexão da importância do planejamento pelos
gestores públicos.

3. A análise das áreas verdes na zona urbana e de fragmentos florestais na zona rural per-
mitirá uma verificação qualitativa das áreas, estimulando a pesquisa em outros docu-
mentos a respeito dos biomas e ecossistemas e o raciocínio sobre formas de manejo de
conservação dessas áreas, que pode ser interpolado de maneira multicriterial.

98 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


7
Instrumentos de
planejamento

Introdução

A importância das questões ambientais já é um consenso em todos os meios de


produção do setor privado e também nas esferas públicas de gestão. Pouco a pouco, as
evidências da degradação ambiental por atividades humanas geram reflexões acerca
da sustentabilidade dos recursos naturais, comprometendo o bem-estar e a qualidade
de vida no planeta.

Assim, há a necessidade de uma melhor gestão e planejamento ambiental. Ao


longo das últimas quatro décadas, desenvolveu-se inúmeros instrumentos de pla-
nejamento visando à otimização dos recursos naturais associados a uma equilibrada
produtividade. Para abordar este tema, nesta aula estão apresentados aspectos gerais
sobre os instrumentos de planejamento seguido de instrumentos específicos que são
comumente utilizados no meio urbano e rural.

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 99


7 Instrumentos de planejamento

7.1 Aspectos gerais sobre


instrumentos de planejamento

Os instrumentos de planejamento estão ligados com os ordenamentos, isto é um pro-


cesso integrado de organização do espaço biofísico, tendo como objetivo o uso e a transfor-
mação do território, de acordo com as suas capacidades e vocações e a permanência dos
valores de equilíbrio biológico e de estabilidade geológica, numa perspectiva de aumento
da sua capacidade de vida, seja no setor público nas esferas municipais, estaduais e federais,
seja no setor privado dentro das organizações, e se trata de um elemento de organização das
relações seres humanos – ambiente natural (fonte de matéria-prima e serviços ambientais)
– modos de produção.
O ordenamento está vinculado com a prática das atividades dentro e fora das instituições
e deve conter objetivos claros sobre o desenvolvimento sustentável, organizando ações que irão
proporcionar o equilíbrio econômico, social e ambiental. Neste sentido, o ordenamento das
ações de uma empresa, por exemplo, deve desenvolver um diagnóstico visando subsidiar a
elaboração de zonas de trabalho em que é priorizado o aproveitamento da infraestrutura para
obtenção da máxima produtividade com redução de custos, melhoria das condições de trabalho
e uso racional dos recursos naturais.
A determinação e escolha de um instrumento de planejamento a ser aplicado deve con-
ter 3 informações importantes de subsídio que estão apresentadas no quadro 1.

Quadro 1 – Informações para a escolha do instrumento de planejamento.

- Objetivos: Irão dar o foco e delinear o campo de atuação.


Ex. 1. Determinada empresa decide buscar a certi-
ficação de qualidade para seus produtos.
Ex. 2. Determinado governo decide fazer um plane-
jamento de recuperação de recursos hídricos.
- Objeto/área: Irão determinar de maneira objetiva qual será
o objeto ou área que será contemplada no planejamento.
Ex. 1. Determinada empresa decide buscar a certificação de quali-
dade para produtos alimentícios em determinada certificadora.
Ex. 2. Determinado governo decide fazer um planejamento de recupe-
ração de seus mananciais de abastecimento público de sua governança.
- Tema central enfocado: Irá eleger um tema cen-
tral que englobará outros dentro da organização.
Ex. 1. A certificação ambiental de determinada empresa.
Ex. 2. Os recursos hídricos serão o tema centralizador de um pro-
grama de educação ambiental de um município englobando to-
das as áreas correlatas como saúde, cultura, agricultura etc.
Fonte: Elaborado pelo autor.

100 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Instrumentos de planejamento 7
Na escolha do tipo de instrumento de planejamento a ser aplicado na atividade, é im-
portante fazer o delineamento do campo de ação como, por exemplo, o espaço político ter-
ritorial, os mercados a serem abrangidos etc.
Uma vez escolhido o instrumento, o tema a ser abordado deve ser detalhado de manei-
ra ampla e multidisciplinar, visando dar subsídios para os tomadores de decisões envolvi-
dos no processo. Isto é, deverão ser fornecidas informações claras e precisas, facilitando as
negociações e aumento das chances de sucesso da operação.
Os profissionais envolvidos na escolha e utilização do instrumento de planejamento
escolhido devem estar preparados e conhecer todo o conteúdo relacionado aos objetivos,
objeto/ação e tema central enfocado. Também deverá ter especial atenção se o objetivo do
planejamento tem correlação com as características e metodologias praticadas pelo instru-
mento escolhido.
Outro ponto importante na aplicação dos instrumentos de planejamento é a elaboração
do cronograma executivo realista. O cronograma demonstra o quanto o projeto/ação em
planejamento é exequível, apresentando para as organizações envolvidas cada atividade
a ser realizada, distribuídas ao longo do tempo. Estas informações quando sistematizadas
servirão de base para o monitoramento do cumprimento dos objetivos e metas estabelecidas
no planejamento, permitindo a visualização da duração do processo. Como exemplo, será
possível saber quanto tempo será necessário para o diagnóstico e para a elaboração do banco
de dados, ordenamentos de ações, tomadas de decisões, evitando assim possíveis atrasos,
imprevistos ou inconformidades. E mesmo quando presentes, estas inconformidades pode-
rão ser corrigidas sem prejudicar o cronograma executivo final.
No cronograma deverão ser organizadas e sistematizadas todas as atividades do proje-
to que serão desenvolvidas no futuro, após a finalização da fase do planejamento. Ressalta-
se que as atividades que já foram realizadas na fase de elaboração do projeto não deverão
ser incluídas neste cronograma.
Os instrumentos de planejamento surgem em um contexto de estado democrático que
exige do poder público um serviço à população por meio da transparência e interesse da
coletividade e dos interesses difusos. O governo deve propiciar políticas públicas voltadas
à equidade social e econômica e relacionada com a proteção dos patrimônios ambientais
nacionais como as bacias hidrográficas, biodiversidade, sociodiversidade etc.
Os instrumentos de planejamento devem ter em sua essência o estreitamento das re-
lações entre o Poder Público e sociedade civil, visando ao cumprimento da Constituição
Federal brasileira, que, em seu artigo 225, afirma que todo cidadão tem o direito e o dever
de proteger o meio ambiente. Assim, as tomadas de decisão devem ser feitas de forma par-
ticipativa, cabendo ao poder público criar situações para tal desafio.
Esta prática é o exercício da democracia e da cidadania e em muitos setores como, por
exemplo, a gestão das bacias hidrográficas no Brasil tem tido considerável avanço, em que
a sociedade civil tem espaço garantido de participação, além de inúmeros conselhos con-
sultivos ou deliberativos presentes em diversas áreas como educação, saúde, patrimônio
histórico, segurança, entre outros.

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 101


7 Instrumentos de planejamento

Assim, é importante para o sucesso do trabalho que os profissionais que atuam no cam-
po do planejamento utilizem os instrumentos adequados para cada situação e tenham como
base o preceito da Constituição Federal de 1988 que estabelece como cláusula pétrea “todo
o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente”.

7.2 Instrumentos de planejamento


no meio urbano

No Brasil, a Constituição Federal de 1988 determinou que as cidades devem ter ações de
planejamento, e que o município tem o dever de implementar políticas públicas, tendo como
base o planejamento urbano como, por exemplo, o zoneamento da zona urbana, rural e demais
áreas em que as políticas públicas atinjam, tendo o planejamento ambiental como instrumento.
Para o planejamento urbano os instrumentos que são mais utilizados para o planeja-
mento ambiental e que possuem regras e ordenamentos jurídicos embasadores são:

Quadro 2 – Principais instrumentos para o planejamento ambiental.

1) Zoneamento ecológico-econômico – ZEE;


2) Plano diretor municipal;
3) Plano de Bacia Hidrográfica;
4) Plano ambiental municipal;
5) Agenda 21 local;
6) Plano municipal de resíduos sólidos;
7) Plano de gestão integrada da orla;
8) Plano de educação ambiental.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Vale ressaltar que os instrumentos citados são os principais, mas outros instrumentos
de planejamento ambiental também são importantes e devem ser utilizados conforme a ne-
cessidade do município ou região. São eles:

Quadro 3 – Instrumentos para o planejamento ambiental.

Planos setoriais ligados à qualidade de vida


no processo de urbanização.
1) Saneamento básico;
2) Moradia;
3) Transporte;
4) Mobilidade;
5) Arborização urbana.
Fonte: Elaborado pelo autor.

102 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Instrumentos de planejamento 7
Na execução do planejamento ambiental é importante que os instrumentos escolhidos e im-
plementados contenham ações que atendam o princípio da precaução (Conferência das Nações
Unidas, RIO 92) e estabeleçam, por meio de ordenamentos técnicos e legais, a padronização de
procedimentos a fim de reduzir, minimizar e eliminar os impactos ambientais e territoriais das
políticas públicas e investimento público-privado no desenvolvimento das cidades.
Dessa forma, busca-se otimizar o uso dos espaços públicos e suas infraestruturas de
maneira eficiente, reduzindo a deterioração e degradação dos recursos naturais e dos apa-
relhos de serviços públicos valorizando e conservando os patrimônios socioambientais, his-
tóricos, culturais etc.
Dentro do escopo deste capítulo, daremos enfoque aos instrumentos de planejamento
relacionados no quadro 2.
• Zoneamento ecológico-econômico (ZEE): A lei número 6.938 de 1981 que instituiu
a Política Nacional de Meio Ambiente, traz para o ordenamento jurídico o conceito
de zoneamento ambiental, que no final da década de 1980 começa a ser chama-
do de zoneamento ecológico-econômico. Este instrumento de planejamento tem
a finalidade de correlacionar e articular com outros instrumentos desta mesma
lei ações de preservação e conservação dos recursos naturais, promoção do desen-
volvimento socioeconômico, segurança nacional no que tange a proteção de seus
patrimônios ambientais e da dignidade da vida humana. Entretanto, a demora em
regulamentar este instrumento deixou em aberto alguns pontos fundamentais em
relação à sua elaboração.
De acordo com Santos (2013), as interpretações e formas metodológicas desenvolvidas
na elaboração de um zoneamento ecológico-econômico, que também possui outras nomen-
claturas, embora não oficiais, mas comumente usadas como zoneamento ecológico e geoam-
biental, variam de acordo com os profissionais ou regiões de localização das instituições
envolvidas em sua elaboração. As principais distinções estão relacionadas, principalmente,
ao recorte territorial, às escalas de mapeamento e análise de dados, legendas, métodos, obje-
tivos, entre outros. No entanto, o mais importante é a identificação dos aspectos ambientais
como, por exemplo, ecossistemas, bacias hidrográficas, tipos de solos etc. e estes são aborda-
dos de maneiras semelhantes na elaboração das zonas de uso e conservação.
De forma geral, o zoneamento ecológico-econômico está vinculado à elaboração de políti-
cas públicas que promovam o desenvolvimento sustentável e que, através de uma análise inte-
grada de multicritérios ambientais, sociais e econômicos, gerem mapas de fácil visualização pela
população e gestores públicos, definindo áreas com aptidões para determinados e diferentes
usos e de vulnerabilidades e susceptibilidade para a conservação dos recursos naturais.
• Plano Diretor Municipal: Somado com a Política Nacional de Meio Ambiente,
outro instrumento jurídico relacionado à gestão que surge no Brasil é o Estatuto
da Cidade, criado pela Lei Federal n. 10.257, de 10 de julho de 2001, que obje-
tiva a formulação de políticas locais de desenvolvimento urbano sustentável a
partir da fixação de diretrizes e instrumentos gerais e participativos de plane-
jamento urbano.

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 103


7 Instrumentos de planejamento

A busca do desenvolvimento sustentável sugerido pela ONU em seu relatório chamado


“Relatório de Bruntland” trouxe inúmeros desafios para as cidades no sentido da reorgani-
zação de seus planejamentos de políticas de ordenamento territorial, que estavam baseadas
principalmente nas questões econômicas.
No contexto do século XXI, em que há escassez de recursos naturais como, por exemplo,
crise hídrica, mudanças climáticas, extinção em massa da biodiversidade, desertificação etc.,
a adoção de novas práticas de desenvolvimento tem sido obrigatória para a manutenção e
melhoria da qualidade de vida das pessoas.
O Estatuto da Cidade, em seu artigo 40, determinou que deverá ser por meio do
Plano Diretor a definição do ordenamento e zoneamento territorial do município em
projeções temporais de curto espaço de tempo, mas principalmente para longo prazo e
com a participação da população em audiências públicas para tomadas de decisões de
interesse da coletividade.
• Plano de bacia hidrográfica: A Lei n. 9.433 de 08 de janeiro de 1997, também conhe-
cida como a “Lei das Águas” foi um marco muito relevante para o ordenamento
jurídico visando à conservação das águas brasileiras.
Esta lei estabeleceu a Política Nacional dos Recursos Hídricos que tem, por meio dos
Planos de Recursos Hídricos, um dos instrumentos mais importantes para o planejamento
ambiental desta questão (ANA, 2016).
Os Planos de Recursos Hídricos estão sendo elaborados por bacia hidrográfica, seja em
domínio federal ou estadual. No caso das bacias hidrográficas estaduais, cada estado deve
elaborar o seu próprio ordenamento legal tendo como diretriz e base a lei 9.433/1997, esta-
belecendo comitês de bacias hidrográficas com seus respectivos planos.
Para as bacias hidrográficas federais (rios que ocupam a área de mais um estado, como,
por exemplo, o Rio São Francisco; Rio Amazonas; Rio Paraná etc.), cabe à Agencia Nacional
das Águas – ANA atuar no âmbito do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos (SINGREH) na elaboração e implementação de planos de recursos hídricos em
bacias hidrográficas.
Os Planos de Bacias são documentos orientadores definindo metas, objetivos, priori-
dades de conservação ambiental, estabelecendo projetos estratégicos de conservação, pre-
servação e recuperação dos recursos hídricos. Os Planos de Bacias Hidrográficas devem ser
elaborados em conjunto com a sociedade dentro dos comitês de bacias hidrográficas que,
por meio de seus mecanismos de gestão, estabelecem as áreas prioritárias de atuação por
um determinado tempo. As áreas de saneamento, recuperação de matas ciliares e educação
ambiental são as mais comumente trabalhadas nas ações dos planos, uma vez que o Brasil
possui grandes áreas degradadas, baixas porcentagens de pessoas beneficiadas com sanea-
mento e falta de sensibilização ambiental.
• Plano ambiental municipal: O plano ambiental municipal é um instrumento de
planejamento que visa integrar as ações dos municípios através de programas e
ações em áreas interdisciplinares como o meio ambiente, agricultura, saúde, cul-
tura, saneamento e desenvolvimento urbano e rural.

104 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Instrumentos de planejamento 7
Este instrumento integrador busca o envolvimento dos profissionais de diferentes áreas
em ações conjuntas que são de interesse da coletividade na conservação e recuperação de
bens difusos como, por exemplo, a boa adequação e correta destinação dos resíduos sólidos,
os mananciais de abastecimento de água, os patrimônios históricos e culturais etc.
• Agenda 21 Local: A Agenda 21 foi apresentada pela primeira vez como um ins-
trumento metodológico de planejamento de políticas públicas com a participa-
ção popular, envolvendo de maneira integrada a sociedade civil e os governos na
Conferência Internacional de Desenvolvimento e Meio Ambiente da ONU em 1992
no Rio de Janeiro, também conhecida como Eco 92 ou Rio 92.
A Agenda 21 é um método de organização e planejamento visando ao diagnóstico par-
ticipativo dos problemas ambientais, sociais e econômicos locais e o amplo debate público
sobre as possíveis soluções para esses problemas e, por meio da ação conjunta da comuni-
dade e poder público, definir uma agenda de ações reais visando à melhoria da qualidade
de vida no rumo do desenvolvimento sustentável local.
• Plano municipal de resíduos sólidos: Este é um instrumento de planejamento que
faz parte do plano municipal ambiental. No entanto pelo grande potencial polui-
dor associado à geração e disposição inadequada de resíduos, em 2010 foi san-
cionada a lei 12.305, que dispõe sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos,
abordando as diretrizes que os municípios devem ter relativos à gestão integrada
e o gerenciamento dos resíduos sólidos.
• Plano de gestão integrada da orla: Com mais de 8 000 km de orla marítima no
Brasil, com seus múltiplos usos, é necessário que o poder público na esfera federal
defina políticas públicas que visem à segurança nacional, à proteção dos recursos
naturais e ao bem viver das populações.
Neste sentido, sob a coordenação do Ministério do Meio Ambiente, foi criado o “Projeto
de Gestão Integrada da Orla Marítima (Projeto ORLA)” que, somado com diversos instru-
mentos legais, planos, projetos, instrumentos de gestão municipal e órgãos públicos (minis-
térios, secretarias estadual e municipal, comitê gestor e outros) visa ao ordenamento terri-
torial da zona costeira.
Segundo o “Projeto Orla”, esta é uma ação inovadora no âmbito do Governo Federal,
conduzida pelo Ministério do Meio Ambiente, por meio da Secretaria de Qualidade
Ambiental nos Assentamentos Humanos (MMA/SQA), e pela Secretaria do Patrimônio da
União do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MP/SPU). Este projeto busca
implementar uma política nacional que harmonize e articule as práticas patrimoniais e am-
bientais com o planejamento de uso e ocupação desse espaço, que constitui a sustentação
natural e econômica da zona costeira (PROJETO ORLA-GI, 2005, p. 5).
• Plano de educação ambiental: O plano de educação ambiental é um instrumento
de planejamento que visa definir uma série de ações integradas de uma instituição
privada, seja ela escolar, industrial ou comercial e também do poder público nas
três esferas da federação (união, estados e municípios) visando à sensibilização am-
biental. Neste plano são definidos os principais temas de interesse e organizados

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 105


7 Instrumentos de planejamento

dentro de um cronograma de ações de atividades teóricas e práticas. Nas empre-


sas, este tipo de plano é comumente utilizado na obtenção e manutenção dos selos
de qualidade, e no poder público é uma obrigação do Estado definido pela Política
Nacional de Educação Ambiental através da lei 9795/1999 articular nos processos
formativos da educação formal e não formal a educação ambiental, visando ao
desenvolvimento sustentável do país.

7.3 Instrumentos de planejamento no meio rural

Os instrumentos de planejamento no meio urbano podem ser aplicados no meio rural,


uma vez que os problemas socioambientais não são delimitados e podem ocorrer em ambos
os meios. Vale ressaltar que os instrumentos utilizados no planejamento urbano, quando
escolhidos para o meio rural, devem conter devidas adequações para a temática do desen-
volvimento rural.
Os principais instrumentos de planejamento no meio rural estão ordenados juridica-
mente e dispõem de uma série de diretrizes e normas previstas na legislação ambiental
brasileira. Possuem como principal objetivo o manejo sustentável dos recursos naturais,
reduzindo ou mesmo eliminando os impactos que são gerados dentro dos processos de
desenvolvimento.
Um marco importante na elaboração de instrumentos de planejamento que são uti-
lizados no meio rural foi a reforma do Código Florestal pela lei 12.651 de 25 de maio de
2012, que trouxe novas diretrizes para o planejamento e gestão do uso do solo e de seus
ecossistemas associados numa visão de otimização da produtividade agrícola e conser-
vação ambiental.
Os três principais instrumentos de planejamento e gestão ambiental no meio rural estão
apresentados no quadro 4, e vale destacar que estão ordenados juridicamente pela lei da
reforma do Código Florestal.

Quadro 4 – Instrumentos para o planejamento ambiental no meio rural.

1) Zoneamento ecológico-econômico (ZEE);


2) Cadastro ambiental rural (CAR);
3) Programas de regularização ambiental (PRA).

Fonte: Elaborado pelo autor.


Desta forma, qualquer atividade agrícola de manejo e uso do solo deve se adequar à
legislação ambiental, adotando medidas e normas de conservação ambiental e produção
econômica. Embora a aplicação da lei tenha gerado inúmeras dúvidas e remodelagem de
sistemas, o cumprimento das normas traz maior segurança jurídica, trazendo benefícios
para o produtor rural ou empreendedor e também para as comunidades humanas, que terão
os recursos naturais conservados.

106 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Instrumentos de planejamento 7
7.3.1 Zoneamento ecológico-econômico (ZEE)
Como já discorrido na parte 2 desta aula, o zoneamento ecológico-econômico tem como
base legal a Política Nacional do Meio Ambiente e a Constituição Federal, que traça as dire-
trizes e princípios da função socioambiental da propriedade, da prevenção, da precaução e
do poluidor-pagador, entre outros.
A utilização deste instrumento nos meios urbano e rural deve estar correlacionada às
realidades do território que são apontadas pelos diagnósticos socioambientais e que pos-
suem como meta final a busca preventiva de impactos ambientais nos espaços territoriais.
Neste contexto, este instrumento de planejamento é amplamente utilizado em proces-
sos de regularização ambiental de propriedades rurais, organizando uma série de ações de
adequação que permitem avaliar qual é o passivo ambiental da propriedade, fornecendo
informações relevantes para investidores na análise da viabilidade de investimento em um
empreendimento agrícola, além de melhorar as condições socioambientais das proprieda-
des rurais que efetivam as adequações necessárias.
O diagnóstico socioambiental que gera informações biofísicas, socioeconômicas e cul-
turais irá resultar em mapas temáticos na identificação de áreas prioritárias para a recupe-
ração, conservação e preservação da biodiversidade, áreas com aptidão agrícola, manejo
sustentável florestal e pecuária, considerando as características da paisagem, das bacias hi-
drográficas, dos tipos de solos, bioma de ocorrência e ausência de áreas protegidas, entre
outros fatores ambientais.
Desta forma, o zoneamento ecológico-econômico terá a principal atribuição de subsidiar a
elaboração de políticas públicas que levem em consideração toda a base técnica e legal, além do
envolvimento dos interessados em um processo de tomadas de decisões de forma participativa.
Além disso, também deverá fomentar a redução e controle do desmatamento, o licenciamento
ambiental, o uso do solo e de recursos hídricos e a conservação dos recursos naturais.
Levando em consideração que o zoneamento ecológico-econômico está embasado e
correlacionado com instrumentos legais brasileiros como leis, decretos, portarias e normas,
observam-se por todo o Brasil, tanto no âmbito do poder público como no privado, que está
ocorrendo uma crescente consulta a este instrumento nos processos de tomadas de decisões,
seja para ações de conservação ambiental, seja para empreendedores embasarem seus inves-
timentos, levando a situações de conservação dos recursos naturais e significativa redução e
prevenção de impactos ambientais.

7.3.2 Cadastro ambiental rural (CAR)


O cadastro ambiental rural (CAR) é um dos mais novos instrumentos de planejamento
que está sendo utilizado no meio rural. Ele tornou-se obrigatório quando estabelecida a
reforma do Código Florestal Brasileiro, instituída em 2012 pela Lei Federal n. 12.651/12, e re-
gulamentação em 05/05/2014, sendo tratada como instrumento de controle, monitoramento,
planejamento ambiental e combate ao desmatamento em todos os biomas brasileiros.

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 107


7 Instrumentos de planejamento

O CAR tem como principal atribuição levantar informações sobre a situação am-
biental das propriedades rurais no Brasil e registrar em um cadastro. Após este registro,
cada estado tem o dever de sistematizar e informar para o Ministério do Meio Ambiente
através do Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA), que organizará o processo
de regularização ambiental de propriedades rurais, caso houver necessidade, garantin-
do o cumprimento do dever de defender e preservar o meio ambiente conforme estabe-
lece a Constituição Federal.
O registro do imóvel rural no cadastro ambiental rural é público, eletrônico, de abran-
gência nacional e de caráter obrigatório no cumprimento da Lei Federal n. 12.651/12 e é
realizado na plataforma on-line do Sistema de Cadastro Ambiental Rural (SICAR) com inú-
meras informações da planta do imóvel rural (quadro 5).

Quadro 5 – Principais informações a serem cadastradas no SICAR.

• Delimitação das áreas de preservação permanente;


• Delimitação das áreas de reserva legal;
• Delimitação das áreas produtivas;
• Delimitação das áreas degradadas;
• Delimitação do perímetro da propriedade.
Fonte: Elaborado pelo autor.

O cadastro ambiental rural para as pequenas propriedades rurais, que é classificado


quanto ao seu tamanho pelo número de módulo fiscal conforme a localização do município
em que a propriedade pertence, deve ser oferecido pelos órgãos ambientais estaduais em
parceria com o município. Para as propriedades médias e grandes, o cadastro é de respon-
sabilidade do proprietário que poderá fazer ele próprio ou solicitar serviços de consultorias
de profissionais habilitados.
Uma das aplicabilidades deste instrumento de planejamento, além da elaboração de
projetos de regularização ambiental que será abordada no tópico seguinte, é a captação de
investimentos para a propriedade rural. Atualmente as instituições financeiras de crédito
rural incluíram em sua avaliação o Cadastro Ambiental Rural como um item obrigatório a
ser analisado para a obtenção de recursos de investimento, obrigando o proprietário rural a
fazer o mais rápido possível o cadastro, que tem um cronograma cumprido conforme deter-
minação do Ministério do Meio Ambiente.
Nos primeiros resultados do cadastro ambiental rural, que é de acesso público, é pos-
sível identificar que grande parte das propriedades rurais no Brasil possui alguma irregu-
laridade ambiental. Os primeiros números apontam que o Brasil tem um passivo ambiental
de 12 milhões de hectares de áreas de preservação permanente a serem recuperadas, ou

108 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Instrumentos de planejamento 7
seja, um potencial enorme para geração de trabalho e renda nas diversas regiões brasileiras
e também uma oportunidade de estocagem de carbono pelas florestas a serem recuperadas
incluindo, assim, como uma ação de desenvolvimento limpo, além do cumprimento dos
tratados internacionais sobre mudanças climáticas.

7.3.3 Programas de regularização ambiental (PRA)


O programa de regularização ambiental é um instrumento que também está ordenado
juridicamente pela Lei Federal n. 12.651/12, e regulamentado em 05/05/2014 e tem como
principal atribuição subsidiar as propriedades rurais que fizeram o cadastramento ambien-
tal rural e que apresentaram irregularidades ambientais relativas às áreas de preservação
permanente, de reserva legal e de uso restrito.
Essas propriedades rurais terão que se adequar legalmente fazendo a adesão ao progra-
ma de regularização ambiental (PRA) no seu Estado, deixando a propriedade, mesmo que
ainda não tenha feito a totalidade da regularização amparada legalmente para receber, por
exemplo, créditos rurais, certificações etc.
O proprietário rural que fizer a adesão ao PRA irá assinar um termo de compromisso,
que conterá os termos de regularização ambiental conforme as condições específicas da sua
propriedade que indicará o local e as metodologias que serão utilizadas no processo de
regularização, além de um cronograma de execução de ações associado a um cronograma
contendo prazos e metas. Neste mesmo termo é deixado claro que o não cumprimento das
cláusulas de regularização pode gerar multas e sanções à propriedade e ao proprietário.
Ressalta-se que o programa de regularização ambiental possui diferenças em seus pro-
cessos para pequenos, médios e grandes proprietários rurais, especialmente quanto aos pra-
zos e metodologias de regularização.
Uma vez assinado o termo de compromisso do PRA e as adequações cumpridas, even-
tuais multas incidentes na propriedade em questão podem ser convertidas em serviços de
preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente.
Observa-se que este instrumento de planejamento tem fomentado inúmeras ações de
conservação ambiental resolvendo passivos ambientais das propriedades rurais que eram
quase impossíveis de se resolverem. Como exemplo pode-se citar a recuperação de áreas de
preservação permanente e reserva legal, que são atividades de alto custo. Uma vez aderido
ao programa, as instituições financeiras oferecem créditos especiais para esta situação.
Exemplos de regularização ambiental têm se multiplicado pelo Brasil, em vista dos be-
nefícios que trazem para a propriedade, buscando o atendimento à legislação e a adequação
ambiental vigente, além da mudança e conscientização sobre a relevância do meio ambiente
na manutenção dos processos produtivos e da qualidade de vida.

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 109


7 Instrumentos de planejamento

Ampliando seus conhecimentos

Evolução dos instrumentos de planejamento


na gestão pública
(CARVALHO, 2015)

Até atingir sua atual configuração o Brasil passou por diversas mudan-
ças, sobretudo no âmbito do Estado e da sociedade. Dentre os principais
aspectos cabe ressaltar a evolução da administração pública, que perpas-
sou pela experiência de administração patrimonialista, burocrática, até
finalmente adotar a gerencial. Para tal, a trajetória do desenvolvimento
brasileiro teve sua busca baseada nas Constituições até então promulga-
das, a saber: 1824 — da Independência, 1891 — da República, 1934 — da
Revolução de 30, 1937 — do Estado Novo, 1946 — Liberal, 1967 — do
golpe de 1964, 1969 — do terror, 1979 — da abertura, e em 1988 — demo-
crática que rege nossa sociedade atualmente (BRESSER-PEREIRA, 2001).

O período conhecido como República Velha (1889 a 1930) foi caracterizado


pelo modelo de administração patrimonialista, onde as elites rurais exer-
ciam forte influência sob o Estado, enxergando o espaço público como
continuidade de suas propriedades e provocando com isso a exclusão dos
demais. Entretanto, o então crescente desenvolvimento do capitalismo
exigia da Administração Pública uma nova postura e melhoria qualita-
tiva, o que ocasionou em uma quebra de paradigma. É a partir da Era
Vargas, período que deu início ao Estado Novo, que começaram a surgir
os primeiros esforços de profissionalização do funcionalismo público, a
criação do Departamento de Administração do Serviço Público (Dasp) em
1936, por exemplo, foi fundamental nesse processo.

A modernização vivenciada na Era Vargas foi impulsionada pela bur-


guesia do País que precisava atrair a industrialização e urbanização. Isso
provocou mudanças significativas tanto no contexto social quanto pro-
dutivo. Para tanto, o governo optou por fazer uso de um regime autoritá-
rio e instaurou princípios weberianos, utilizando como instrumento para
manutenção de uma ditadura. Apesar da utilização do modelo burocrá-
tico existia ainda o viés patrimonialista. Entre a Era Vargas e o Regime
Militar houve breve período democrático (1945-1964) de poucas ações
que visavam à modernização da administração pública, esse período

110 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Instrumentos de planejamento 7
ficou marcado pela abertura comercial do Brasil, forte entrada de capital
estrangeiro e pelos esforços de planejar estrategicamente a gestão pública
através do Plano de Metas de Juscelino Kubitschek.

Durante o Regime Militar, assim como a Era Vargas, o país enfrentou


grandes mudanças e reformas políticas, que provavelmente tenham sido
facilitadas diante das características autoritárias. Nesse momento o Estado
voltou a assumir um papel de maior intervenção com reestruturação na
administração pública, desenvolvimento capitalista e das relações de
mercado, ampliando a participação do Brasil no contexto internacional.
Apesar de esse período ter vivenciado o chamado “Milagre Econômico”,
o caráter excludente e a existência das desigualdades apenas foram refor-
çados. Com o fim do Regime Militar dá-se início à Nova República.

Os principais progressos recentes no âmbito da gestão pública foram


impulsionados pela promulgação da CF de 1988, que possibilitou novo
desenho institucional visando a eficiência do funcionalismo público e a
promoção de uma sociedade mais justa. A partir desse marco, o planeja-
mento iniciou o processo de cumprimento de etapas de uma nação, que
necessitava se desenvolver em prazo mínimo; e a gestão assumia postura
de gerenciamento de funções como orçamentação, implementação, moni-
toramento, avaliação e controle das ações de governo, a fim de alcançar a
eficácia e a efetividade.

A partir da redemocratização do estado brasileiro ocorrida através da


promulgação da Carta Magna há três décadas, ampliaram-se e institucio-
nalizaram-se os espaços públicos para o exercício do controle no âmbito
político, bem como os instrumentos de planejamento público (TEIXEIRA,
2003). Alguns instrumentos de controle são ao mesmo tempo instrumento
de planejamentos, como é o caso do plano plurianual, lei de diretrizes
orçamentárias, lei de orçamento anual.

O planejamento apresenta-se como fator necessário em qualquer que seja


a organização, seja pública ou privada, pois trata-se de um processo que
guia a tomada de decisão e traça de forma sistemática as ações a serem
desenvolvidas por ela, com objetivos e metas bem definidos, prevendo
também possíveis mudanças durante percurso organizacional.

Os benefícios relacionados ao planejamento podem estar associados à


sistematização organizacional, interações entre os executivos; definição

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 111


7 Instrumentos de planejamento

dos objetivos e políticas organizacionais; aplicação eficiente dos recursos


no alcance dos objetivos traçados; realização de atividades consistentes;
padrões de desempenho mais fáceis de controlar; e adoção de ações corre-
tivas caso o resultado de sua ação não seja satisfatório.

Planejar na administração pública é uma ação que o Estado tem compar-


tilhado com a sociedade, tal estreitamento nessa relação pode ocasionar
melhorias significativas, tanto para as instituições públicas como para a
própria sociedade.

Um fator marcante que condiz com os fundamentos do Estado democrá-


tico de direito é o dever e direito de participação social na gestão pública.
Nesse sentido, a participação cidadã é um direito e componente essencial
no exercício da cidadania ativa. Entretanto, sua atuação deve ser de forma
organizada, pois tão importante quanto à quantidade de envolvidos em
ações de participação cidadã é a qualidade da participação, para que se
efetive o poder de articulação e mobilização, e com isso que a participação
social seja cada vez mais influente na gestão pública brasileira.

Portanto, o consentimento dos grupos que são direta ou indiretamente


afetados aparece como elemento crucial do sucesso e eficácia das políticas
públicas. A participação da sociedade passou a ser associada ao fortale-
cimento de práticas democráticas, considerando que a ênfase da necessi-
dade de novas formas de gestão foi desenvolvida devido à incapacidade
do Estado de implantar eficazmente suas políticas sem cooperação.

As condições de eficácia governamental passaram a ser entendida como


uma flexibilização do Estado, que descentralizou funções e transferiu res-
ponsabilidades, mantendo os instrumentos de supervisão e controle.

Atividades
1. A determinação e escolha de um instrumento de planejamento a ser aplicado deve
conter três informações importantes de subsídio que são: objetivos, objeto/área, tema
central enfocado.

Exemplifique com algum tema de sua escolha como seria a aplicabilidade do instrumen-
to de planejamento, levando em consideração as informações referenciadas acima.

112 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Instrumentos de planejamento 7
2. Escolha um dos instrumentos apresentados na parte 2 desta aula e verifique se em
sua cidade ou empresa que trabalha é aplicado com estratégia de planejamento.

3. Escolha um dos instrumentos apresentados na parte 3 desta aula e verifique se em


sua cidade ou empresa que trabalha é aplicado com estratégia de planejamento.

Referências
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<http://www2.ana.gov.br/Paginas/institucional/SobreaAna/planejamentoRH.aspx>. Acesso em: 21
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de 2006; revoga as Leis n. 4.771, de 15 set. 1965, e 7.754, de 14 de abril de 1989, e a Medida Provisória
n. 2.166-67, de 24 de agosto de 2001. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2012/lei/l12651.htm>. Acesso em: 21 nov. 2016.
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CARVALHO, Ícaro Célio Santos de; BARBOSA Camilla Rusciolelli; ALVES, Adrielle Victoria Soares.
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GOHN, Maria da Glória. Paulo Freire e a formação de sujeitos sociopolíticos. Disponível
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Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 113


7 Instrumentos de planejamento

SANTOS, Mariana Rodrigues Ribeiro dos; RANIERI, Victor Eduardo Lima. Critérios para análise
do zoneamento ambiental como instrumento de planejamento e ordenamento territorial. Revista
Ambiente e Sociedade, v. 16 n. 4 São Paulo: out./dez. 2013. Disponível em: <http://www.scielo.br/
scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-753X2013000400004>. Acesso em: 21 nov. 2016.

Resolução
1. Tendo como base os conceitos apresentados na parte 1 desta aula, pode-se escolher
um exemplo e discorrer e refletir sobre a aplicação dos instrumentos de planejamen-
to em projetos e ações de governos identificando, por exemplo, se os projetos estão
ordenados e organizados em objetivos, objeto/área, tema central enfocado e se eles
estão atendo os princípios da participação nas tomadas de decisões.

2. Pode-se verificar e analisar a aplicação dos instrumentos na parte 2 desta aula e dis-
cutir sobre as suas funcionalidades e efetiva conservação dos recursos naturais e
melhoria da qualidade de vida no meio urbano.

3. Pode-se verificar e analisar a aplicação dos instrumentos na parte 3 desta aula e dis-
cutir sobre as suas funcionalidades e efetiva conservação dos recursos naturais e
melhoria da qualidade de vida no meio rural.

114 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


8
Planejamento
urbano sustentável

Introdução

As ideias acerca do desenvolvimento sustentável na atualidade têm sido utilizadas


amplamente, mesmo que ainda sejam imprecisas e não tão claras para o público em
geral. Com evidentes problemas socioambientais nas cidades, a apropriação do termo
sustentabilidade na busca de melhorias para os espaços urbanos tem se tornado comum.

Desta forma, é importante que os gestores ambientais se aprofundem nas dis-


cussões e reflexões sobre o planejamento urbano sustentável e, para tanto, nesta aula
apresentaremos alguns conceitos gerais, princípios e práticas que se aplicam no desen-
volvimento urbano.

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 115


8 Planejamento urbano sustentável

8.1 Conceitos gerais acerca do


planejamento urbano sustentável

Um marco importante para os processos de urbanização em praticamente todas as par-


tes do mundo foi a retomada do crescimento econômico do pós Segunda Guerra Mundial,
quando um intenso crescimento das zonas urbanas advindo do êxodo rural foi evidente.
Com as industrializações de processos produtivos, o setor industrial demandou mão
de obra vinda do campo e rapidamente as cidades sem estruturas e planejamento apresen-
taram sérios problemas de ordem ambiental, saúde pública, mobilidade, habitação como,
por exemplo, sistemas de saneamento básico precários, ocupações de áreas com fragilidade
ambiental, poluição atmosférica, adensamento populacional, aumento da violência, trânsi-
to, epidemias etc.
Assim, a necessidade da elaboração de planejamentos urbanos logo começou a fazer
parte das principais grandes cidades mundiais e logo com os primeiros diagnósticos, co-
meçam a surgir as primeiras soluções, ainda que paliativas e imediatas. A ideia de cida-
des sustentáveis começa a ser debatida no começo da década de 1970 e após a Conferência
Internacional da ONU para o Desenvolvimento e Meio Ambiente, realizada em 1992 no Rio
de Janeiro, começa a se falar em planejamento sustentável para cidades sustentáveis.
A importância do planejamento sustentável está pautada na possibilidade da otimiza-
ção de recursos financeiros e energéticos, reduzindo ou eliminando problemas sociais e am-
bientais crônicos presentes no meio urbano, deixando as cidades mais agradáveis de viver e
com maior e melhor qualidade de vida.
O meio urbano tem que ser pensado e planejado de maneira complexa e profunda e com
embasamento técnico, pois nele são acolhidas culturas e situações e relações sociais diversas,
em que a concentração de pessoas se dá por compartilharem espaço coletivos públicos e
de interesses difusos com atividades individuais e privadas diversas como, por exemplo, a
administração, o comércio, transporte, serviços em geral e produção industrial.
De acordo com Acselrad (1999), quando há concentração e densidade de pessoas em
um mesmo espaço urbano ocorre uma grande demanda de energia para fazer funcionar os
processos, e para um planejamento sustentável, há de se considerar as cidades como um
ecossistema onde ocorrem fluxos de energias e que o manejo desta energia dentro do siste-
ma irá conduzir para a sustentabilidade ou não. Caso contrário, o meio urbano irá subtrair
essa energia de outro ecossistema, aumentando consideravelmente a pressão pelos recursos
naturais.
Neste sentido, segundo Odum (2007), vale observar que ocorrem quatro diferentes mo-
delos de ecossistemas, descritos no quadro 1.

116 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Planejamento urbano sustentável 8
Quadro 1 – Modelos de ecossistemas.

1) Ecossistemas naturais que são aqueles que depen-


dem da energia solar para produção de sua energia e pos-
suem funções primordiais para a manutenção da vida;
2) Ecossistemas com subsídios naturais que são aqueles que também depen-
dem de energia solar, porém recebem também outras fontes de energias;
3) Ecossistemas com subsídios antropogênios que são aqueles que re-
cebem energia solar e entradas de energias de origem fóssil;
4) Ecossistemas urbano-industriais são aqueles ecossiste-
mas dependentes dos outros três ecossistemas anteriores e que
são movidos principalmente por combustíveis fósseis.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Com esse conceito, as características e formas de desenvolvimento atuais do ecossiste-


ma urbano necessitam de outras fontes de entrada de energia para a sua manutenção, ge-
rando consumo energético advindo de recursos naturais presentes em outros ecossistemas
como florestas, solos, rios e oceanos, pois este ambiente não está sendo capaz de produzir
sua própria energia.
A forma como o meio urbano está organizado é totalmente insustentável, pois está ge-
rando um consumo acelerado dos recursos não renováveis como petróleo e carvão mineral
e uso irracional de recursos renováveis, levando ao seu esgotamento. Isto tem ocorrido por-
que as formas de consumo não respeitam a capacidade de suporte e os processos biogeo-
químicos de ciclagem energética dos recursos naturais que são limitados dentro de seus
ecossistemas.
O uso inadequado e sem planejamentos dos fluxos energéticos que abastecem as cida-
des geram quantidades enormes de resíduos, pois a quantidade captada nos ecossistemas é
muito maior que a demanda, gerando perda e descarte energético. Eles são levados princi-
palmente pela água e ar, ocasionando processos de poluição de ambos como, por exemplo,
os altos índices de enxofre na atmosfera e rios altamente poluídos por elementos químicos
em alta concentração.
A forma como as cidades estão organizadas também afetam seriamente a qualidade de
vida das pessoas, pois as utilizações dos espaços são de adensamentos e aglomerados com
alta impermeabilização do solo e com poucas áreas verdes. Como resultado, os problemas
sociais e ambientais ficam evidentes como, por exemplo, a ocorrência frequente de enchen-
tes e inundações, acúmulo de resíduos sólidos, conflitos sociais, desenraizamento cultural,
ocupação irregular de áreas de proteção ambiental como os mananciais de água etc.
Diante disso, para manter o estilo e modo de vida atual nos centros urbanos, sejam
eles grandes ou pequenos, inevitavelmente haverá uma demanda energética de outros

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 117


8 Planejamento urbano sustentável

ambientes especialmente dos naturais, pressionando cada vez mais os recursos naturais pre-
sentes nos ecossistemas. Também por falta de planejamentos inclusivos, que levam em conta
os interesses difusos da coletividade, os problemas gerados pela urbanização desordenada
terão como consequências altas densidades populacionais, escassez de habitação, redução
da biodiversidade, poluição das águas e do ar, formação de ilhas de calor, etc.
O que percebemos é que o meio urbano é insustentável e há a necessidade urgente da
busca por soluções de eliminação e/ou redução dos impactos nos ecossistemas e na própria
estrutura urbana. Não há dúvidas que este processo tem início na tomada de consciência da
importância de se fazer planejamentos urbanos que vão de encontro com a sustentabilida-
de. Assim, a partir do comprometimento com políticas públicas planejadas das instituições
legisladoras e gestoras públicas, e também da sociedade civil, as soluções e resoluções co-
meçam a aparecer.
A ideia do planejamento urbano sustentável deve ter como base incorporar os princí-
pios da ecologia como, por exemplo, fluxo energético e ciclagem de nutrientes nos espaços
urbanos. A vida nas cidades trouxe de certo modo um conforto para as pessoas com relação
aos acessos aos serviços de saúde, alimentação entre tantos, no entanto o planejamento é
algo fundamental para a manutenção desse conforto na busca da redução dos impactos
ambientais negativos nos recursos naturais que a sustentam como água, solo, florestas etc.
Para o planejamento urbano que visa à sustentabilidade, de acordo com Hussain (2015),
é importante levar em consideração quatro funções estruturais, apresentadas no quadro 2.

Quadro 2 – Funções estruturais presente no planejamento para a sustentabilidade.

1) Proteger a biodiversidade: projetar o espaço ur-


bano integrado com a flora e fauna nativa;
2) Proteger os processos hidrológicos: projetar ações de saneamento
visando à eliminação da poluição dos recursos hídricos, projetar ações
de macrodrenagem e recuperação/naturalização dos corpos d’água;
3) Promover a estabilidade climática: projetar ações sustentáveis, como
o aumento da mobilidade com ciclovias e transporte público, políti-
cas públicas de incentivo à redução de emissões de poluentes etc.;
4) Verificar a utilidade correta dos mecanismos e mate-
riais destinados para aquele fim: projetar ações mais efi-
cazes para os aparelhos de serviços públicos.

Fonte: Elaborado pelo autor.

A mesma autora enfatiza que para o planejamento sustentável deve-se priorizar a pro-
jeção de espaços livres urbanos, os quais possuem funções essenciais para o equilíbrio am-
biental como o acolhimento à biodiversidade, permeabilidade adequada de água de chuva,
regulação do microclima etc. Esses espaços livres urbanos devem ser ricos em bosques e
praças, canteiros centrais e ruas arborizadas, possuir amplos espaços de lazer e prioridades
na mobilidade sustentável como ciclofaixas e múltiplos transportes coletivos públicos.

118 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Planejamento urbano sustentável 8
Para implantar os espaços livres urbanos é necessário um amplo processo de educação
ambiental junto à comunidade impactada/beneficiada, pois as heranças culturais das formas
como as cidades foram concebidas e vividas pelas pessoas são bem diferentes da proposta
do planejamento urbano sustentável. Esta prerrogativa remete a processos de legitimação/
deslegitimação de práticas cotidianas das pessoas, portanto para se chegar a um consenso
em como realizar a sensibilização ambiental por meio de processos educativos, torna-se
fundamental o reconhecimento da relevância da sustentabilidade.
Para o cumprimento de tal desafio, os processos de educação ambiental devem ser
intensos e contínuos, sendo monitorados a fim de verificar os avanços na tomada de
consciência das pessoas envolvidas e na eficiência da aplicabilidade do planejamento
urbano sustentável.
A relação e inserção de práticas de sustentabilidade ao meio urbano tem origem em
debates políticos e técnicos especialmente na Conferência da ONU para o Desenvolvimento
e Meio Ambiente no Rio de Janeiro em 1992, que estabeleceu os princípios da Agenda 21.
Evidencia-se a necessidade da compatibilidade do bem viver das pessoas com a durabi-
lidade do desenvolvimento ao longo do tempo, fechando um ciclo equilibrado de fluxos
energéticos que se interagem com ecossistemas fora das áreas urbanas, fornecendo de forma
sustentável as matérias-primas necessárias para a sobrevivência humana.
No entanto, como estamos em uma fase de transição de um modelo antigo de desen-
volvimento urbano que gera grande pressão aos recursos naturais para um novo, que tem a
sustentabilidade como base, verifica-se constantemente grande resistência no debate sobre
políticas urbanas, com contínuos movimentos de sentido oposto ao planejamento urbano
sustentável. Tal fato é bem compreendido quando se verifica que os interesses individuais
ou de grandes e fortes grupos econômicos e políticos são ameaçados pelas ideias de inte-
resse difuso e bem da coletividade com menos concentração de renda e maior equidade
socioambiental.
Na sustentabilidade urbana, além das práticas inclusivas de todas as classes sociais para
receberem bons serviços públicos, salientam-se as estratégias de implementação do conceito
de cidades como fomentadoras de negócios, também denominadas de “cidades-empresa”.
Como a sustentabilidade é uma discussão mundial e em muitos países tem sido um desa-
fio buscar tal forma de desenvolvimento, as cidades que estão promovendo planejamentos
que focam a sustentabilidade têm atraído investimentos, tornando-se referências regionais
e nacionais, como é o caso de Curitiba/PR e recentemente Belo Horizonte/MG, melhorando
significativamente a vida de milhares de pessoas quanto à mobilidade, geração de trabalho
e renda, saneamento etc.
Guiar as cidades para a sustentabilidade significa maior interação e melhor produtivi-
dade no uso dos recursos ambientais, fortalecendo as vantagens competitivas de maneira
justa e com interação e elaboração conjunta dos planejamentos econômicos, emergindo as-
sim uma nova cultura de cidades sustentáveis.

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 119


8 Planejamento urbano sustentável

8.2 Etapas para o planejamento


urbano sustentável

Para o planejamento urbano sustentável há a necessidade da definição de quais serão


os temas específicos de cada localidade, que serão incorporados nas correlações do planeja-
mento para a implementação do processo.
São três etapas estruturantes que servirão como base para a implementação de projetos
e ações de sustentabilidade no meio urbano (quadro 3).

Quadro 3 – Etapas estruturantes para o planejamento urbano sustentável.

1) Descrição.
2) Proposição.
3) Prescrição.
Fonte: Elaborado pelo autor.

8.2.3 Descrição
A etapa da descrição é a primeira a ser desenvolvida, pois ela faz o delineamento de
uma base descritiva composta por diagnósticos, levantamentos e inventários de dados pri-
mários e secundários que irão compor o banco de dados.
Uma vez sistematizado o banco de dados, tem início o momento analítico das informa-
ções visando à compreensão e a correlações interdisciplinares dos setores, como a mobilida-
de, lazer, arborização urbana, saneamento, saúde etc.
Com o auxílio de diversas metodologias e instrumentos analíticos é gerado o planeja-
mento urbano voltado para a sustentabilidade, devendo ficar claro, tanto para os gestores
como para a população, as inter-relações das áreas, bem como as propostas de ações.
Nesta etapa, o envolvimento e participação da comunidade é muito importante e pode
ocorrer de várias maneiras como conferências municipais, audiências públicas ou ­workshops.
A participação proporciona legitimidade e identidade com as propostas, facilitando bastan-
te o sucesso da implementação. Quando ocorre a participação em processos de tomadas de
decisões de interesses da coletividade, ocorre o exercício da cidadania por parte dos indiví-
duos e o fortalecimento democrático das instituições.
Quando o processo de planejamento é feito com a participação da sociedade e se tor-
na transparente, também ocorre a qualificação das questões diagnosticadas e planejadas,
levando ao maior esclarecimento da efetividade da resolução dos problemas levantados,
apontando as principais condicionantes, deficiências, potencialidades e as ações necessárias
de enfretamento das fragilidades.

120 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Planejamento urbano sustentável 8
8.2.4 Proposição
Nesta segunda etapa, chamada de propositiva, organiza-se e propõem-se inúmeras e
complexas propostas de resolução dos problemas diagnosticados.
Neste momento, as propostas e busca de alternativas para o modelo de desenvolvimen-
to urbano em curso deve valorizar os casos de sucesso diagnosticados e toda sua potenciali-
dade e somar com novas ações, considerando os fatores como recursos humanos, materiais,
financeiros, técnicos, tecnológicos, temporais, políticos etc., presentes na localidade.
O conceito de desenvolvimento sustentável, que considera a capacidade de uso e re-
siliência dos ambientes envolvidos e a manutenção do equilíbrio energético dos sistemas,
deve estar presente em todas as propostas sugeridas, sendo materializado em metas claras e
objetivas para o cumprimento de tal finalidade.

8.2.5 Prescrição
Esta terceira etapa é o momento da consolidação do planejamento urbano sustentável.
Tendo as informações estudadas e analisadas – que são a base para as proposições que acon-
tecem em momentos de ampla discussão pública e que são apontadas situações para cada
setor envolvido das potencialidades e identificação das fragilidades, chega a hora definitiva
da aprovação das propostas.
Nesta etapa são descritas todas as ações definitivas a serem implantadas com um crono-
grama físico e se possível financeiro bem claro. Uma vez definidas as ações, vinculam-se as
condicionantes de aplicabilidade, que têm como os principais indicadores:
• os conflitos e aspectos políticos da localidade;
• aspectos financeiros e técnicos;
• aspectos estruturais;
• outros (identificados nas etapas anteriores).
Desta forma, é possível definir as situações reais de implantação do planejamento urba-
no sustentável, definindo as metas alcançáveis e as desejáveis.

8.2.6 Implementação
A implementação é a realização do planejamento executado tendo as 3 etapas descritas
acima como estruturantes. São ações e projetos que viabilizam as propostas consolidadas.
Para a implementação é necessário que se organize uma estrutura de comando e contro-
le, a fim de monitorar e avaliar a sua efetividade e real aplicabilidade.
Os indicadores que compõem a estrutura de implementação estão detalhados no quadro 4.

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 121


8 Planejamento urbano sustentável

Quadro 4 – Indicadores da estrutura de implementação.

Indicadores Descrição
Resolutiva Verifica a viabilidade executiva através das ações
físico-territoriais, sociais, econômicas e/ou insti-
tucionais e também os conteúdos das propostas
condicionadas ao grau de governabilidade dos
grupos políticos vigentes, condições sociopo-
líticas e nível de participação comunitária;
Monitoramento Verifica a manutenção e/ou manejo das áreas de
intervenção com coleta, tratamento, arquivamento,
manutenção e operação de indicadores de quali-
dade, que podem servir para a revisão de ações;
Controle Desenvolve a fiscalização das ações propostas,
promove ações educativas visando à conscienti-
zação para melhor viabilização do planejamen-
to e avaliação global do processo de gestão;
Revisão Com base nas informações geradas pelos in-
dicadores descritos acima, envolve a adoção
das medidas necessárias à atualização constan-
te, total ou parcial, das diretrizes adotadas.
Fonte: Elaborado pelo autor.

A constante revisão do processo é fundamental para a manutenção do processo e sua


legitimidade, fomentando o alcance real das metas estabelecidas. Uma vez que qualquer
processo de gestão deve ser dinâmico, é importante a constante retroalimentação de in-
formações com tratamento e análise sistêmica, a fim de elaborar os ajustes que se fazem
necessário.
A gestão deve ter como base o planejamento e atuar em vários setores do meio urbano
como, por exemplo, o setor ambiental, territorial, social, econômico, institucional. Além dis-
so, a gestão também deverá atuar de forma dimensional, que pode ser:
• Unidimensional: busca especificar as dependências das diversas etapas do proces-
so entre si e com os objetivos e metas pretendidas, estabelecendo correlações com
o processo global do planejamento.
• Multidimensional: o planejamento e gestão devem ter caráter multi, inter e trans-
disciplinar dos procedimentos, uma vez que todas as áreas do conhecimento exer-
cem influência e atuam nos territórios.
Por fim, ressalta-se que a sustentabilidade urbana não está circunscrita no seu próprio
espaço e como mencionado anteriormente ela está vinculada a uma noção de sistema e é
dependente dos recursos naturais dos ecossistemas que estão presentes nos espaços rurais.
Dessa forma, o desenvolvimento urbano sustentável deve estar diretamente relaciona-
do com o desenvolvimento rural sustentável, uma vez que as cidades são consumidoras de
recursos naturais e de espaço para a deposição de rejeitos.

122 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Planejamento urbano sustentável 8
Assim, qualquer planejamento que vise à sustentabilidade deve ter bem claro em suas
propostas a integração do meio urbano e rural em uma visão sistêmica e de fluxo de energia.
Havendo esta visão geral, as inúmeras práticas de ações de desenvolvimento sustentável
vão ficar mais facilitadas para sua criação, desenvolvimento e consequente sucesso.

8.3 Práticas de planejamento urbano sustentável


O espaço a ser considerado, numa classificação em relação a seus recursos, é constituído
por um capital ambiental, que inclui os elementos a seguir (quadro 5).

Quadro 5 – Elementos constituintes do capital ambiental.

• Naturais: representados pelos recursos naturais;


• Humano: representado pelo conhecimento elaborado por pessoas;
• Tecnológico: representado pela infraestrutura artificial;
• Moral: representado pela cultura e relações éticas.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Para alcançar a sustentabilidade, a manutenção e equilíbrio de todos os elementos do


capital ambiental devem ser preconizados e mantidos ao longo do tempo. Deve-se também,
proporcionar múltiplas trocas entre eles, sabendo que um planejamento urbano sustentável
é inter, multi e pluridisciplinar.
A noção de desenvolvimento urbano sustentável traz consigo conflitos teóricos de
questionamento da efetividade das ações, uma vez que o sistema capitalista hegemônico
tem muitas dificuldades de dialogar com os princípios da sustentabilidade. No entanto, por
todos os cantos do mundo existem inúmeras correntes compostas por grupos de profissio-
nais heterogêneos e interdisciplinares que estão mobilizando e fomentando grande esforço
no sentido de implementar projetos de desenvolvimento urbano sustentável.
Para identificarmos se uma cidade está no caminho da sustentabilidade, é necessário
observar se o espaço urbano está integrado de forma equilibrada com o meio rural, no senti-
do do consumo de recursos naturais, e se estão desenvolvendo, em suas múltiplas áreas de
gestão, práticas voltadas para a melhoria da qualidade de vida da população, desenvolvi-
mento econômico e preservação/conservação/recuperação do meio ambiente.
Para quem visita uma cidade com este perfil de planejamento, é facilmente observável,
quando se desloca por ela, sentir seus resultados pelas inúmeras opções de mobilidade, espaços
públicos oferecendo serviços de qualidade e inclusivos, limpeza, boa arborização urbana etc.
Ainda não é possível verificar uma cidade que seja totalmente sustentável, mas sim que pratica
ações de sustentabilidade e que essas são transitórias e potencializadoras no desenvolvimento
de novas tecnologias e grande sensibilizadora da população, que, uma vez habituada a viver
com este tipo de cidade, torna-se crítica e corresponsável em suas ações individuais.
As práticas mais comuns e que já estão bem estabelecidas em diversas cidades tanto no
Brasil como no mundo estão organizadas no quadro 6.

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 123


8 Planejamento urbano sustentável

Quadro 6 – Principais ações de sustentabilidade urbana praticadas atualmente.

Descrição Ações Resultados


Combate às - incentivo ao consumo e - contribuição para a mitiga-
mudanças desenvolvimento limpo. ção das mudanças climáticas.
climáticas
- aumento e conservação - contribuição para o aumento
de áreas verdes para es- de outras fontes de energia.
tocagem de carbono.
- redução da poluição ao nível local.
- incentivo a fontes de
- contribuição para o equilí-
energia renováveis e
brio dos ecossistemas natu-
limpas como, por exem-
rais e sua biodiversidade.
plo, a energia solar.

Conservação dos - incentivo à proteção e - conservação e equilíbrio dos


recursos naturais usos racionais dos recursos ecossistemas naturais.
naturais como, por exemplo,
- conservação da biodiversidade.
compra de madeira de ori-
gem legal e manejo susten- - conservação e respei-
tável, consumo de produtos to de povos tradicionais.
de origem agroecológica. - redução da poluição dos recursos
hídricos, solo e ar por agroquímicos.
- manutenção da ofer-
ta de recursos naturais .
Planejamento - melhoria e amplia- - redução de veículos nas ruas.
do transpor- ção da mobilidade.
- melhoria para a saúde pública.
te público
- incentivo ao uso de trans-
- melhoria nas relações humanas.
portes alternativos, como bi-
cicleta, caronas solidárias etc. - redução da poluição atmosférica.

Promoção - respeito às comunidades - conservação da biodiversidade.


da justiça tradicionais e grupos étnicos.
- conservação de saberes tradicionais.
socioambiental
- redução da pobre-
za e injustiça social.

Destinação - implantação de aterros - redução de doenças


adequada para sanitários com uso múltiplo
- redução da contaminação do
o resíduo sólido energético como, por exem-
solo e recursos hídricos.
plo, o metano como fonte na
produção de energia elétrica. - melhoria no sistema energético.

- cumprimento da legisla- - redução da pressão nos


ção vigente sobre o tema. recursos naturais.

124 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Planejamento urbano sustentável 8
Descrição Ações Resultados
Destinação - implantação de sistema de - redução de doenças.
adequada para coleta e tratamento do esgo-
- redução da contaminação do
o esgotamen- to doméstico e industrial.
solo e recursos hídricos.
to sanitário
- aumento do espaço de lazer.
- aumento de fontes de alimentação.
- aumento de fonte de gera-
ção de trabalho e renda.
Execução de - elaboração de programas - aumento da sensibili-
ações de educa- para o ensino formal e não zação ambiental.
ção ambiental formal de educação ambien-
- aumento da criticidade das pes-
tal para cidades sustentáveis.
soas acerca de assuntos coletivos.
- aumento da participação na
resolução de problemas.
Fortalecimento - destinação adequada de - aumento da criticidade das pes-
do sistema recursos financeiros e estí- soas acerca de assuntos coletivos.
educacional mulo a uma escola forma-
- aumento da participação na
dora de alunos críticos.
resolução de problemas.
Incentivo à - organização de fei- - melhoria das condições de
economia local ras de trocas. vida de pessoas economica-
mente menos favorecidas e
- organização de feiras de
com menos oportunidades.
artesanatos, produtos agroe-
cológicos, arte e cultura. - valorização de conhecimentos.
Incentivo - sensibilização sobre o - redução da pressão e impactos
ao consumo consumo de produtos negativos aos recursos naturais.
responsável socioambientais justos.
Conservação dos - recuperação de ma- - incremento na biodiversidade.
recursos hídricos tas ciliares.
- equilíbrio dos ecossistemas.
- elaboração de planos de
- segurança hídrica para o abasteci-
recuperação e usos das
mento público, produção industrial.
microbacias hidrográficas.
- segurança energética.
- cumprimento da le-
gislação ambiental e
de saúde vigente.
Criação e va- - implementação de no- - equilíbrio para o microclima.
lorização dos vos espaços como bos-
- aumento de inter-relações sociais.
espaços verdes ques, praças e parques.
- incremento na biodiversidade.
- manutenção adequada.
- aumento dos espa-
- inclusão social em
ços de cultura e lazer.
espaços verdes.

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 125


8 Planejamento urbano sustentável

Descrição Ações Resultados


Implantação de - elaboração de planejamen- - redução da poluição atmosférica.
programa de ar- to através de inventários.
- proteção dos recursos hídricos.
borização urbana
- elaboração de legis-
- melhoria do microclima.
lação para o tema.
- melhoria da qualida-
de de vida das pessoas.
- abrigo para a fauna.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Ampliando seus conhecimentos

Cinco princípios de planejamento urbano


para tornar as cidades sustentáveis.
(GAETE, 2015)
A urbanização na América Latina e China é um processo que tem se
desenvolvido de forma muito similar, em decorrência do êxodo rural, mas
que apresenta uma radical diferença: a velocidade.

Este fator se reflete, por exemplo, no fato de que nos últimos 35 anos
as cidades chinesas receberam mais de 560 milhões de habitantes pro-
venientes das áreas rurais, quantidade equivalente a população total
da América Latina, segundo o informativo “Urbanización Rápida y
Desarrollo: Cumbre de América Latina y China”, elaborado pelo Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Utilizando os dados deste documento como referência, a arquiteta Nora


Libertun – PhD em Desenvolvimento Urbano no MIT e mestre em urba-
nismo na Universidade de Harvard – acaba de elaborar cinco princípios
para que a urbanização e os desafios colocados por ela possam ser abor-
dados através de um enfoque sustentável, evitando, assim, a exagerada
expansão urbana e o desequilíbrio do meio ambiente.

Veja, a seguir, os cinco princípios colocados por Nora Libertun:

1. Entender os serviços urbanos como partes de um circuito


integrado.

Os serviços urbanos, como a água potável, luz elétrica e transporte público,


entre outros, devem ser concebidos como um circuito único e não como a
soma das suas partes através da infraestrutura de cada um.

126 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Planejamento urbano sustentável 8
Desta forma, a arquiteta Libertun considera que o circuito composto pelos
serviços urbanos que deve ser otimizado na sua totalidade. Também apre-
senta um exemplo a respeito do zoneamento urbano quando se amplia a
rede de transporte, entendendo que “uma melhor comunicação aumenta
a demanda de espaço comercial e residencial”.

2. Alinhar os incentivos econômicos com os benefícios


ambientais.

Nas cidades, é bastante comum encontrar locais urbanizados, mas em


desuso. Por este motivo, a arquiteta considera que se são desenhados pro-
jetos que tornam possível reutilizar estes espaços, esta prática deve ser
recompensada e não proibida.

Para isso, propõe que os incentivos possam ser documentados em políti-


cas que promovam a ocupação em áreas urbanas, o que evitaria a constru-
ção de novos lugares nos subúrbios.

3. Compreender que a sustentabilidade é inclusiva

A chegada de novos habitantes nas cidades traz consigo uma maior demanda
de serviços urbanos. Contudo, se os governos não os proporcionam, abrem-
-se caminhos para a criação de serviços que abastecem os bairros informais,
que na América Latina acolhem um terço da sua população urbana, ou seja,
160 milhões de pessoas segundo o informativo do BID. Na China, a porcenta-
gem é a mesma, representando 234 milhões de habitantes.

Diante disso, Libertun apresenta a ideia que é necessário ampliar a cober-


tura dos serviços urbanos, considerando o fato de que a sustentabilidade não
pode ser alcançada se parte da população continua excluída destes serviços.

4. Incluir a sociedade civil na proteção do meio ambiente.

Casos como a recuperação e conservação do rio Erren (Taiwan) por parte dos
seus habitantes e a revitalização de um espaço subutilizado na área de jogos
sustentável para as crianças de Uraycamuy (Bolívia), são alguns dos exem-
plos do que pode acontecer quando diversas organizações trabalham junto
com os habitantes, fazendo com eles valorizem e reconheçam seu entorno.

Por este motivo, a arquiteta acredita que é importante favorecer a partici-


pação das comunidades, já que é assim que “os residentes valorizam seu
entorno, utilizando e cuidando”.

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 127


8 Planejamento urbano sustentável

5. Fomentar o intercâmbio de conhecimento entre as cidades.

A medida em que as cidades se desenvolvem, surgem novos desafios que


podem ser ambientais, culturais, de desenho, gestão, etc. Por este motivo,
Nora Libertun vê como uma oportunidade que as cidades compartilhem
suas experiências e aprendizagens, para superar os desafios que podem
ter pontos em comum.

Neste sentido, há alguns meses, Santiago integra uma rede que procura
cumprir com o intercambio de conhecimento, focada em desenvolver
estratégias para que as cidades saibam como se recuperar de uma crise
que pode ser econômica, física e social.

Trata-se da organização 100 Cidades Resilentes, dependente da Fundação


Rockefeller, que em 2014 avaliou as propostas das cidades interessadas
em fazer parte desta rede e que finalmente lhe permitiu eleger 35 cida-
des, sendo uma delas Santiago, que foi representada pela proposta da
Organização Resiliência Sul.

Atividades
1. Relacione possíveis ações de um planejamento ambiental relativos a:
• Proteção da biodiversidade.
• Proteção dos processos hidrológicos.
• Promoção da estabilidade climática.

2. Verifique, em uma cidade de sua escolha, se existem ações de planejamento ambien-


tal e se elas estão organizadas a partir da etapa da prescrição.

3. Liste ações de sustentabilidade em espaços urbanos promovidos pelo poder público


e privado.

Referências
ACSELRAD, Henri. Discursos da sustentabilidade urbana. Revista Brasileira de Estudos Urbanos
e Regionais. Disponível em: <http://unuhospedagem.com.br/revista/rbeur/index.php/rbeur/article/
view/27>. Acesso em: 29 nov. 2016.
BRASIL. Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001. Regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal,
estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LEIS_2001/L10257.htm>. Acesso em: 13 nov. 2016.

128 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental


Planejamento urbano sustentável 8
GAETE, Constanza Martínez. Cinco princípios de planejamento urbano para tornar as cidades
sustentáveis. Plataforma Urbana, 2015. Disponível em: <http://www.archdaily.com.br/br/770702/
cinco-chaves-do-planejamento-urbano-para-criar-cidades-sustentaveis>. Acesso em: 24 nov. 2016.
HUSSAIN, Mohd Ramzi Mohd; MALEK, Nurhayati Abdul; TUKIMAN, Izawati. Open Spaces, Parks
and the Environment. In: ZAKARIYA, Khalilah et al (Orgs.). The Life of Places: Spaces Places and
Narratives. 1. ed. Gombak: IIUM Press, 2015. p. 3; 19. Disponível em: <http://irep.iium.edu.my/42344/1/
Parks_as_People_Places.pdf>. Acesso em: 29 nov. 2016.
ODUM, Eugene Pleasants; BARRET, Gary W. Fundamentos de ecologia. 6°ed. São Paulo: Thomson
Pioneira, 2007.

Resolução
1. Por um levantamento de possíveis projetos e ações de um planejamento urbano que
foca a sustentabilidade, será possível relacioná-los em uma tabela e visualizar a com-
plexidade das ações, e, ao mesmo tempo, despertar a observação no cotidiano da
existência ou não destes projetos nas cidades.

2. A pesquisa acerca da etapa da prescrição apresentará as deficiências das cidades


brasileiras em desenvolver este momento que é importante para o planejamento
ambiental e, também, irá verificar as multidimensões interdisciplinares que devem
estar presentes nos diagnósticos.

3. Através de uma tabela ou um organograma, poderão ser identificadas inúmeras


ações desenvolvidas nas cidades, tanto pelo poder público como pela sociedade ci-
vil, inclusive poderão ser identificadas ações que não foram listadas nesta aula.

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 129


Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental
Código Logístico

55778

Hwpfcèçq"Dkdnkqvgec"Pcekqpcn
KUDP";9:/:7/5:9/84:3/4

9 788538 762812

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