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Como se dá a evolução social na perspectiva da teoria dos sistemas de Luhmann?

Quais as formas de
diferenciação social por ele indicadas e suas principais características? Em que medida a evolução da
sociedade se relaciona com o direito? Por fim, analise a especificidade do direito no contexto da sociedade
moderna.

A Teoria da Evolução Social de Luhmann tem como base a diferenciação social, que usa como base a sua
Teoria dos Sistemas. Segundo a Teoria dos Sistemas, a sociedade é autorreferencial e autopoiética, com
subsistemas que se relacionam com ela através da comunicação.
Primeiramente, cabe definir que "evolução" não necessariamente significa progresso, tampouco existe
causalidade. Ela é um processo gerado a partir dos ruídos, sendo esses ruídos criados pelo aumento de
complexidade do sistema. Esses ruídos geram perturbações nos subsistemas, gerando variações através de
um elemento desviante. Esse novo elemento pode ser aceito ou rejeitado pelo sistema, e caso seja aceito,
pode ser adaptado às estruturas preexistentes, gerando uma reestabilização.
A Teoria da Evolução Social portanto possui três mecanismos ou etapas, a variação, a seleção e a
reestabilização. Tal processo se assemelha à Teoria da Evolução de Darwin, usada no campo da biologia
para explicar evoluções de seres vivos para se adaptarem melhor ao meio (aqui no sentido de meio
ambiente geográfico) onde vivem, cabe portanto essa analogia, pois ao ocorrer a Evolução Social dessa
teoria, o sistema afetado também está se adaptando ao meio (no sentido de ambiente onde se localiza a
sociedade).
Luhmann então separa a sociedade em quatro momentos históricos de diferenciação social, relacionados
ao nível de complexidade e estruturas existentes. No primeiro período a sociedade era diferenciada de
forma segmentaria, através de critérios naturais como gênero, idade ou família. Posteriormente, com o
aumento da complexidade, foram sendo adotados critérios baseados em espaços geográficos ou
territoriais, criando a distinção entre centro e periferia. Em um terceiro período, ocorre a estratificação
através de classes sociais, existindo o nobre e o servo, ou aqueles de classe superior e inferior. No último
momento, o único considerado no período moderno, a sociedade se diferencia por critérios funcionais,
sendo necessário que essas funções realmente sejam distintas e autorreferenciais, criando os subsistemas
sociais.
Essa evolução da sociedade foi feita através da comunicação, e coube ao direito acompanhá-la. Como
vimos anteriormente, essa evolução não é causal, portanto se emprega da contingência (caracterização do
mundo através da realidade ou do possível). Cabe ao direito então diminuir essa complexidade existente,
através de uma modelagem (com sentido físico-matemático de achar uma simplificação do que ocorre no
mundo real) para depois aumentar sua complexidade novamente, gerando uma reestabilização. Luhmann
também descreve quatro períodos da evolução do direito, acompanhando seus quatro momentos da
sociedade. No primeiro o direito ocorre através de ritos (uma mistura de moral, direito, costumes e
convenções sociais), depois acompanha a moral religiosa (portanto é imutável), passa pelo "direito
natural" e positivismo (sendo mutável ou imutável dependendo da situação) até chegar na positivação
moderna, sendo o direito mutável e fundamentado por decisões (que são redundâncias do sistema para
garantir sua característica autorreferencial).
Luhmann então critica outras abordagens sociológicas por não terem dado a devida contextualização do
direito. Para alguns autores, a Sociologia do Direito estaria ligada à Sociologia Geral (visão empregada
pelos autores considerados clássicos), enquanto outra visão a liga à Teoria Geral do Direito (utilizada
principalmente por juristas). Para ele, o Direito deve estar ligado às duas abordagens sociológicas, sendo
apenas um subsistema dentro do sistema da sociedade (e daí o título do seu livro, Direito da Sociedade)
como também responsável pela estabilização das expectativas normativas (nas dimensões temporal, social
e material).
Discorra sobre as características da autopoiese dos sistemas sociais, indicando qual seu elemento
fundamental. Em seguida, contraste a autopoiese dos sistemas sociais com a dos sistemas psíquicos. Feito
isso, analise onde se situa o direito, qual a função por ele exercida e como ele pode se relacionar (ou não)
com os sistemas psíquicos e com os demais subsistemas sociais. Em meio a essa análise, discorra sobre a
questão da justiça e da validade do direito e sobre a posição dos tribunais no sistema jurídico a partir da
perspectiva de Luhmann.

A autopoiese é um termo criado pelos biólogos Maturana e Varella para especificar seres vivos que
conseguem produzir a si próprios, esse termo foi adotado por Luhmann ao se referir para seus sistemas
sociais. Sendo assim, um sistema social autopoiético é fechado e capaz de gerar seus próprios elementos.
Para que isso ocorra, como o sistema social está entre os "não-vivos", ele precisa utilizar-se dos sentidos,
no caso específico, ele usa o processamento da comunicação. Para Luhmann, a comunicação não se
confunde com a consciência (elemento fundamental do sistema psíquico), apenas existe um acoplamento
estrutural entre elas através da linguagem.
O direito é um subsistema dentro do sistema sociedade, sendo portanto autopoiético e autorreferencial. Ele
se diferencia dos outros pois tem como função a estabilização das expectativas normativas. A expectativa
pode existir no campo da consciência (ou seja, no sistema psíquico) ou como comunicação (no sistema
social). Para se estabilizar, o direito passa pelas três dimensões de sentido, temporal, social e material.
Na dimensão temporal, as frustrações continuam ocorrendo até virarem normas, criando mecanismos de
imputação de condutas e sanção, mas nesse momento ainda está no sistema psíquico. Na dimensão social,
ocorre a institucionalização da expectativa, através do consenso de terceiros. Na dimensão material, são
utilizados quatro pontos abstratos para estabelecer a expectativa, são as pessoas (endereço da
comunicação), papéis (características dos atores), programas decisórios (regras fixadas por instituições) e
valores (generalizadas, grau mais alto de abstração). Quando essas três dimensões estiverem satisfeitas,
essa trama de expectativas gera uma norma, capaz de preparar a comunicação (sistema social) e
consciência (sistema psíquico) para um futuro incerto.
Como vimos, o direito possui relação com o sistema psíquico embora esteja no sistema social. Por se
tratar de um subsistema, ele é capaz de gerar perturbações na sociedade, que podem gerar irritações nos
outros subsistemas. Quando essa irritação é tamanha, pode surgir um acoplamento estrutural, uma
situação, objeto, instituição que pertence simultaneamente a dois subsistemas. Um exemplo disso é a
Constituição, que pertence aos subsistemas Direito e Política (podendo ser lida pelo chaveamento
lícito/ilícito do direito ou poder/sem poder). Cabe salientar que isso não afeta o fechamento operacional,
mas é compatível com ele pois utiliza sua programação binária.
O Direito também possui símbolos internos, como a Justiça. A função dela é expressar as generalizações
das expectativas normativas, ajudando o Direito a lidar com a contingência do ambiente. Sendo assim, a
Justiça é uma construção interna desse subsistema, separando quais operações obedecem às operações
internas do sistema para manter sua consistência (ou seja, um programa justo é aquele que pode ser lido
através do código lícito/ilícito). A validade também é um símbolo autopoiético, ligado à diferenciação
interna de comunicação, sem relação com moral ou política.
Já os tribunais aparecem como estruturas internas do subsistema Direito. Para Luhmann, todo subsistema
possui uma organização que articula o fluxo de comunicação e separa o subsistema entre centro e
periferia. Os tribunais estão portanto no centro do subsistema Direito, precisando adotar apenas o código
lícito/ilícito para suas decisões, e têm a pressão de adotarem decisões consistentes. Cabe aos contratos e às
leis filtrar a comunicação do ambiente para que uma comunicação chegue "pura" aos tribunais.

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