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Política, Direito e reforma do Estado: uma

visão funcional-sistêmica

Benjamin Zymler

Sumário
1. Uma primeira abordagem da autopoiesis
social. 2. A diferenciação funcional da socieda-
de. 3. O Direito como sistema autopoiético. 4. A
Política como sistema autopoiético. 5. A inter-
relação entre Direito e Política. 6. Direito e Polí-
tica: um diagnóstico funcional-sistêmico. 6.1. A
sobrecarga do Direito. 6.2. A sobrecarga da Po-
lítica. 6.3. O Direito reflexivo. 7. A regulação ju-
rídica a partir da reforma do Estado brasileiro.
8. Considerações finais.

1. Uma primeira abordagem da


autopoiesis social
O presente trabalho trata do Direito, da
Política e da reforma do Estado brasileiro, a
partir de uma perspectiva funcional-sistê-
mica, que se vale do arcabouço teórico de-
senvolvido por Niklas Luhmann acerca da
sociedade moderna. Não é tarefa fácil, por-
que exige postura cognitiva diferenciada e
desvinculada dos pressupostos epistemo-
lógicos adotados pela tradição cultural do
Ocidente, associados à tradicional dicoto-
mia sujeito/objeto existente na teoria do co-
nhecimento1. A partir de uma ótica constru-
tivista, parte do pressuposto de que o co-
nhecimento não se baseia no descobrimen-
Benjamin Zymler é Ministro substituto do to de uma realidade preestabelecida, mas
Tribunal de Contas da União desde fevereiro de
sim nas construções de um observador que
1998, mestre em Direito e Estado pela Universi-
dade de Brasília, formado em Engenharia Elé- inventa uma realidade2.
trica pelo Instituto Militar de Engenharia – IME A teoria autopoiética das ciências soci-
e em Direito pela Universidade de Brasília – UnB ais, proposta por Luhmann3, nasceu de uma
e ex-Analista de finanças e controle externo do tentativa de resposta das ciências biológi-
TCU. cas para o problema da definição dos or-
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ganismos vivos. O termo autopoiesis combi- manifestação de sentido encobre uma dis-
na o prefixo grego auto (si mesmo) e o radi- tinção específica: realidade e possibilidade
cal poiesis (criação, produção). Humberto ou atualidade e potencialidade. É a forma
Maturana e Francisco Varela4, consoante nos que ordena o experimentar, determinando a
explica José Engrácia Antunes, desenvolve- referência a possibilidades posteriores.
ram uma revolucionária idéia – a autopoie- No que diz respeito aos sistemas que se
sis –, assim sintetizada: valem do sentido, devem ser segregados os
“o que define um organismo vivo in- sistemas psíquicos dos sistemas sociais. En-
dividual é a autonomia e constância quanto os primeiros utilizam a consciência
de uma determinada organização das como meio de reprodução do sentido, os úl-
relações entre os organismos consti- timos valem-se da comunicação6.
tutivos desse mesmo sistema, organi- Busca o autor, portanto, criar uma teoria
zação esta que é auto-referencial no geral de sistemas autopoiéticos, que, em ní-
sentido de que a ordem interna é gera- vel mais concreto, segrega os sistemas vivos
da a partir da interação dos seus pró- (células, nervos, organismos etc.), os siste-
prios elementos e auto-reprodutiva no mas psíquicos e os sistemas sociais (intera-
sentido de que tais elementos são pro- ções, organizações e sociedades) como dife-
duzidos a partir dessa mesma rede de rentes tipos de sistemas autopoiéticos 7.
interação circular e recursiva”5. Esses são capazes de reproduzir os seus
A teoria criada pelos biólogos chilenos próprios elementos, definindo, dessa forma,
buscou também responder questões até a sua diferença em relação ao ambiente.
àquela época englobadas nos estudos da Mais ainda, todos os processos e estruturas
“cognição” e/ou “percepção”. Entretanto, seu que compõem o sistema são também produ-
escopo não permaneceu limitado a esses pon- zidos em seu interior. O fechamento opera-
tos. Repercutiu em outras searas do conheci- cional implica que a produção de novos ele-
mento humano, como a epistemologia, a mentos é dependente, tão-só, das operações
comunicação e a teoria dos sistemas sociais, precedentes do sistema. Por sua vez, essa
que eram tratadas pela filosofia, pela lingüís- produção servirá de base para as operações
tica e pela sociologia, respectivamente. futuras do sistema.
Nesse contexto, a partir da década de 80, Com base nesse arcabouço, o autor ger-
surgiram as primeiras tentativas de trans- mânico prioriza a construção de uma “su-
plantar a teoria autopoiética para as ciênci- perteoria” de caráter universal que preten-
as sociais. Para Niklas Luhmann, principal de explicar satisfatoriamente os fenômenos
agente dessa mudança, a “auto-referência” sociais, a partir de uma distinção original
e a circularidade constituiriam o princípio entre sistema e entorno. Nesse contexto, todo
vital, não apenas de células, sistemas ner- observador produz atos comunicativos no
vosos ou organismos biológicos vegetais ou interior de um sistema, que constrói sua re-
animais, mas igualmente dos sistemas soci- alidade interna tomando por base um crité-
ais. Isso não implica dizer que os sistemas rio distintivo que o diferencia do meio am-
sociais constituem sistemas viventes, ou seja, biente. Luhmann cria, portanto, o modelo
que seus elementos sejam seres vivos. de sistema social autopoiético formado por
Luhmann busca demonstrar que a orga- atos comunicativos, que, a partir da lingua-
nização autopoiética pode existir não só em gem e de um código binário (sim/não), cons-
sistemas que se materializam como vida (or- troem o sistema global da sociedade. O dog-
ganismos viventes), mas também em siste- ma autopoiético estabelece que a rede de
mas que operam com base no sentido. O sen- comunicações assim formada constitui um
tido é o meio que permite a criação seletiva sistema operativamente fechado, mas cog-
de todas as formas sociais e psíquicas. Toda nitivamente aberto8.

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É de ver que os sistemas diferem de seus característica intrínseca a possibilidade de
entornos por um gradiente de complexida- se “auto-observar” e de se “autodescrever”.
de. Chega-se a outro conceito fundamental De igual forma, a abertura cognitiva permi-
de Luhmann: a complexidade, que significa te a “heterobservação”, que viabiliza a ob-
a impossibilidade de conexão contemporâ- servação do entorno. Portanto, por meio da
nea de todos os elementos sistêmicos entre distinção entre “auto-observação” e “hete-
si. Para reduzir a complexidade, devem os robservação”, o sistema autopoiético, a par-
sistemas autopoiéticos criar estruturas, que tir de suas operações, vai definindo conti-
delimitam o âmbito de relações de suas ope- nuamente os lindes do sistema e do entor-
rações 9. Nos sistemas sociais autopoiéticos, no. O sistema inventa a si mesmo a partir da
as estruturas assumem a forma de expecta- diferenciação sistema/entorno.
tivas sobre expectativas. Mencione-se que a “autodescrição” e, im-
Afirma o autor que somente comunica- plicitamente, a “auto-observação” implicam
ções estabelecem novas comunicações e, por a análise da possibilidade de o sistema ob-
meio de uma operação indutiva, formam servar a si mesmo. Como observar significa
uma rede “recursiva” de operações, que não distinguir entre o sujeito observador e o ob-
se relaciona com o entorno por meio de inputs jeto observado, observar-se a si mesmo im-
ou outputs. plica estabelecer uma distinção entre o sis-
Que entorno é esse? Exsurge a pretensão tema e o próprio sistema 12. Algo como o pa-
de universalidade da teoria quando Luh- radoxo do barbeiro – o do terceiro excluído.
mann afirma que o meio ambiente que cir- Quem barbeia o barbeiro que barbeia a to-
cunda o sistema social de comunicações é dos que não barbeiam a si mesmo?
composto igualmente por sistemas autopoi- É inconteste que a teoria da hierarquia
éticos: os sistemas vivos ou seres viventes e das fontes do Direito encobre um paradoxo
os pensamentos ou sistemas psíquicos. O evidente, resultante da impossibilidade ló-
universo luhmanniano compõe-se, portan- gica de se estabelecer uma fonte inicial do
to, de comunicações, seres vivos e pensa- Direito. O Direito natural – de cunho religi-
mentos. Nesse sentido, a justificativa para o oso ou racionalista – e a norma fundamen-
surgimento dos sistemas comunicativos in- tal pressuposta de Kelsen 13 são formas de
dica a superação evolutiva, por meio de uma lidar com os paradoxos do Direito. Alguns
autocatálise, do problema da dupla contin- deles podem ser assim enunciados: a circu-
gência, que impedia os sistemas psíquicos laridade argumentativa que deriva do fato
de se observarem mutuamente. Sem o sur- de que decisões jurídicas dependem de nor-
gimento da comunicação, os pensamentos mas jurídicas, que, por sua vez, dependem
formulados pelas pessoas eram caixas pre- de decisões jurídicas que as estabeleçam; a
tas, insuscetíveis de serem apreendidos 10. contradição resultante do fato de que o Di-
Entre os sistemas pensantes e os sistemas reito impõe condutas condicionadas em
sociais, estabelece-se, por meio da abertura normas positivadas, mas nasce da atuação
cognitiva, o que Luhmann denomina acopla- de uma conduta incondicionada – o poder
mento estrutural. Esses dois tipos de sistemas constituinte originário14.
produzem, respectivamente, pensamentos e Como afirma Teubner,
comunicações, que não são operativamente “sob uma forma elementar mas já in-
intercambiáveis, mas que produzem “ruí- quietante para o direito, o fenômeno
dos”, “irritações”. Uma vez percebidos e in- da auto-referência emerge sempre que
ternalizados pelo respectivo sistema, servem se trate de apreender e aferir situações
para reorientar suas operações internas11. do mundo real a partir da simples dis-
Os sistemas sociais autopoiéticos são tinção ‘legal/ilegal’ (‘Recht/Unrecht’).
todos “auto-referenciais”, ou seja, têm como Sempre que a distinção é aplicada, não

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apenas casuisticamente, mas com pre- etc. À rede geral de comunicações, que se
tensões de validade para todo um vale do meio linguagem, foram acrescidos
universo de situações, então, mais tar- códigos binários específicos ligados a cada
de ou mais cedo, essa mesma preten- um desses subsistemas sociais (lícito/ilíci-
são de validade universal acabará por to, situação/oposição, verdadeiro/falso).
conduzir a própria distinção à tenta- Esses subsistemas, ditos de segundo grau,
ção de valer igualmente para si mes- por serem também autopoiéticos, atuam em
ma. É precisamente neste ponto que clausura operativa, mas com possibilidade
surgem os paradoxos de auto-referên- de se observarem mutuamente a partir da
cia” 15. abertura cognitiva 17.
Niklas Luhmann propõe uma reflexão Tais sistemas utilizam os chamados mei-
radical que busca ultrapassar as limitações os de comunicação simbolicamente generaliza-
da circularidade argumentativa e ao mes- dos, que são mecanismos delegados pela so-
mo tempo esclarecer o modo pelo qual as ciedade aos subsistemas sociais como códi-
sociedades modernas diferenciadas funci- gos simbólicos especializados que facilitam
onalmente lidam com os paradoxos existen- a seleção dos subsistemas sociais. Os meios
tes nos diversos subsistemas sociais. de comunicação simbolicamente generali-
O impulso vital dos sistemas sociais au- zados aumentam a motivação dos recepto-
topoiéticos reside no rompimento do para- res para aceitar a seleção efetivada pelos
doxo da circularidade argumentativa e no emissores 18.
abandono da alternativa axiomática de ex- Os meios de comunicação em referência
plicação lógica e apodíctica da vida social. – o dinheiro, o direito, o poder, a verdade
O ato de conhecimento deixa de relacionar científica, o amor, os valores e a arte – são
agente-objeto para transformar-se em even- simbólicos 19, porque não têm um valor in-
to comunicativo no interior de um sistema trínseco, apenas valor de câmbio. Facilitam
autopoiético. Por meio de distinções, o sis- o processo de comunicação interno dos sub-
tema confronta a práxis com os modelos sistemas sociais, ao motivarem ulteriores co-
“auto-referenciais”, evita paradoxos, que municações. Tome-se o exemplo do dinhei-
significariam a morte do sistema, e permite ro, utilizado como meio de comunicação no
aos elementos componentes do subsistema subsistema econômico. Os pagamentos em
jurídico constituírem a si mesmos de forma dinheiro são reproduzidos pelos operado-
circular e “recursiva”. res da Economia, que se sentem inclinados
a usá-lo repetidas vezes. Daí resultam as vas-
2. A diferenciação funcional da tas redes formadas a partir da utilização do
sociedade dinheiro como meio de comunicação.

Luhmann busca caracterizar as socieda-


3. O Direito como sistema autopoiético
des como produto da evolução das formas
de diferenciação societária16. Particularmen- Serão enfocados no presente trabalho
te, analisa a transição do modelo de socie- dois dos específicos subsistemas sociais di-
dade estratificada para o modelo de socie- ferenciados funcionalmente: o Direito, que
dade diferenciada funcionalmente. Explica tem a função de estabilizar congruentemen-
o autor que, em face da crescente complexi- te as expectativas das pessoas20, por meio
dade e contingência do mundo moderno, as do estabelecimento de normas jurídicas, e a
funções maiores da sociedade passaram a Política, que possui a função de produzir
ser exercidas por meio de subsistemas co- decisões coletivamente vinculantes 21. Inici-
municativos específicos, também autopoié- almente, serão tecidas considerações acer-
ticos, como o Direito, a Política, a Ciência ca do subsistema jurídico.

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Niklas Luhmann, antes de sua virada damentação metafísica, ontológica ou axio-
autopoiética22, delineou a função específica lógica. Dá um sentido processual ao concei-
do Direito. Diferenciou as expectativas cog- to ao expressá-lo como legitimação, entendi-
nitivas das normativas. Sempre que um fato do como o mecanismo por meio do qual as
contraria uma expectativa cognitiva, o de- pessoas se mostram inclinadas a acatar e
sapontamento pode ser assimilado pelo respeitar as decisões jurídicas. Em suas pa-
aprendizado ou pela indiferença do ator23. lavras, “legítimas são as decisões nas quais
Em um mundo complexo e contingente, a pode-se supor que qualquer terceiro espere
capacidade de assimilação de frustrações normativamente que os atingidos se ajus-
derivadas desse tipo de experiência parece tem cognitivamente às expectativas norma-
limitada. tivas transmitidas por aqueles que deci-
Dessa forma, a evolução social, por meio dem” 26.
de processos de neutralização simbólica, Luhmann, como visto, entende a legiti-
concebeu a expectativa normativa, associa- midade de forma empírica, como uma pro-
da à expectativa de que algo ocorra de acor- pensão das pessoas a acatar os comandos
do com o que prevê uma norma. Essa expec- jurídicos, mesmo os que contrariem as ex-
tativa está estabilizada em termos contrafá- pectativas dos atingidos pelas decisões. Para
ticos, ou seja, a ocorrência de um fato em o mesmo autor, a legitimidade do subsiste-
desacordo com a norma não induz a perda ma jurídico pode ser incrementada a partir
de validade desta. Conclui o autor: de dois mecanismos: “utilização da eficá-
“O direito não é primariamente um cia simbólica generalizante da força física e
ordenamento coativo, mas sim um alí- a participação em processos”27.
vio para as expectativas. O alívio con- No primeiro caso, a força física assume
siste na disponibilidade de caminhos o papel de símbolo simbiótico, irritando con-
congruentemente generalizados para tinuamente o subsistema jurídico e induzin-
as expectativas, significando uma efi- do a aceitação das decisões jurídicas pelas
ciente indiferença inofensiva contra pessoas. Essa estratégia, no entanto, tem um
outras possibilidades, que reduz con- âmbito de utilização limitada, porque sua
sideravelmente o risco da expectativa implantação exclusiva significaria a cons-
contrafática. (...) tituição de um regime de terror que sobre-
Podemos agora definir o direito carregaria a estrutura estatal. Na hipótese,
como estrutura de um sistema social o Estado deveria ser capaz de providenciar
que se baseia na generalização con- os meios necessários para a utilização da
gruente de expectativas comporta- força física nos inúmeros casos em que as
mentais normativas”24. decisões jurídicas possam ser potencialmen-
O Direito é produzido pela seleção e ge- te desacatadas28.
neralização dessas expectativas normativas. O subsistema jurídico evoluiu no senti-
A congruência e a generalização decorrem do de implantar um mecanismo filtrante,
de sua aceitação pela maioria das pessoas, cuja função é, em conjunto com os ruídos
por sua utilização continuada no tempo e produzidos pelo símbolo simbiótico força
pela repetição de seu uso em diversos outros física, evitar a formação de expectativas cog-
casos, independentemente do contexto25. nitivas contrárias às decisões jurídicas. Esse
Um dos pontos marcantes da teoria de- mecanismo é a implantação de processos re-
senvolvida por Luhmann refere-se à ques- gulamentados juridicamente antecedentes
tão da legitimidade do Direito. Para o soció- às decisões jurídicas. Como afirma Luh-
logo alemão, legitimidade não seria um mann,
dado ou um valor apriorístico. Propõe uma “os processos têm, assim, por objeti-
noção de legitimidade dissociada de fun- vo especificar os temas conflitantes,

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antes do desencadeamento da força física, x sociedade civil, a partir de uma perspecti-
no sentido de isolar e despolitizar o va que enfatiza a comunicação política que
relutante, enquanto indivíduo. Junta- ocorre em seu interior. Parte, como sempre,
mente com a força física, eles repre- de uma correlação entre a evolução da so-
sentam uma combinação de mecanis- ciedade como um todo e o desenvolvimento
mos generalizantes e especificantes da Política.
que sustenta a legitimação da decisão Nesse sentido, mencione-se que a esta-
jurídica”29. bilização das estruturas sociais ocorreu, no
O contraponto à uniformidade metodo- passado, prioritariamente, por meio do me-
lógica proposta no presente trabalho pode canismo da estratificação social. A noção
ser extraído dos posicionamentos assumi- aristotélica de parte dominante e dominada
dos por Jürgen Habermas contrários à apli- foi transplantada para o sistema político por
cação da teoria funcional-sistêmica nas ci- meio da reprodução sistemática da distin-
ências sociais. O ponto fulcral do debate ção monarca/súdito e a conseqüente cons-
Luhmann x Habermas30 diz respeito à legi- tituição das burocracias estatais estrutura-
timidade do Direito. Discute-se a função le- das hierarquicamente33.
gitimadora da “processualização” do Direi- Se ainda hoje são percebidas no sistema
to. Enquanto Luhmann defende a legitima- político as marcas desse período, a transi-
ção da atuação da Administração por meio ção evolutiva que impôs à sociedade o pro-
da utilização de processos tendentes a des- cesso de diferenciação funcional dotou o
pertar um sentimento generalizado de pro- sistema político de uma característica tridi-
pensão à assimilação de frustrações, Ha- mensional em oposição à diferenciação bi-
bermas, calcado na primazia da “razão dimensional acima/abaixo, superior/infe-
comunicativa”, entende que essa “procedi- rior34.
mentalização” deve ser dotada de atributos O sistema político dos Estados moder-
que permitam a atuação administrativa num nos funda-se, portanto, em três espaços co-
contexto de plena participação comunicati- municativos distintos, que Luhmann desig-
va dos cidadãos e imune à intervenção dos na simplificadamente como Política, Admi-
subsistemas que, munidos de uma raciona- nistração e Público 35. As comunicações sur-
lidade estratégica, colonizam os espaços gidas no âmbito do subsistema político das
comunicativos pela utilização de meios não- sociedades estratificadas começaram a se
lingüísticos, como o poder e o dinheiro31. diferenciar gradualmente, dando azo ao
surgimento da mencionada partição.
Deve-se observar, de imediato, que essa
4. A Política como sistema autopoiético
repartição tridimensional não implica a for-
Dentro da perspectiva autopoiética, que mação de novos subsistemas autopoiéti-
concebe a evolução social como um proces- cos 36. Nenhum dos espaços mencionados –
so de crescente autonomização dos subsis- Política, Administração e Público – passa a
temas sociais32, o subsistema político tor- ter, por si só, função específica para a soci-
nou-se um subsistema social autopoiético edade em geral. Ao contrário, contribuem, a
de segundo grau, formado a partir de um partir de características próprias, para a
processo de diferenciação funcional ocorri- produção de decisões coletivamente vincu-
do na sociedade, sistema social autopoiéti- lantes, função do subsistema político. Não
co de primeiro grau. Sua função específica é possuem, ademais, a necessária clausura
produzir decisões de caráter vinculante para operativa que caracteriza os sistemas auto-
toda a população. poiéticos, porque é pressuposto o livre flu-
A descrição luhmanniana do subsiste- xo comunicativo entre os diversos setores
ma político busca superar o dilema Estado que compõem o subsistema político.

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A segregação interna entre a Política e a duz a uma reestruturação da comunicação
Administração ocorre no interior do apare- orientada pelo poder de uma conformação
lho do Estado, com a disseminação do prin- assimétrica a outra circular. Percebe-se, em
cípio da separação dos poderes, e entre a conseqüência, um equilíbrio entre o poder
Política e o Público, a partir da democrati- formal e o informal, ou seja, entre a circula-
zação do sistema político37. ridade oficial e a “contracircularidade”. E,
Começa a ser formado um espaço de co- como constata Luhmann, o crescente aumen-
municação diferenciada em que os cidadãos to temático das discussões políticas impõe
passam a participar das decisões coletiva- uma evidente prevalência do fluxo informal
mente vinculantes, principalmente por meio de poder40.
das eleições. A atuação dos partidos políti- Raffaele de Giorgi explica que a demo-
cos como meios de direcionamento da von- cracia moderna permite manter alta a com-
tade da sociedade fez surgir um canal de plexidade, isto é, a “possibilidade de se
comunicação essencialmente político, que manter elevado o nível das alternativas de-
se assenta entre o Público e a Política e serve cisórias no âmbito do sistema político41.
de mediador entre eles. Dessa forma, os con- Logo, o aumento da complexidade do
tornos da Política e do Público começam a subsistema político, a partir da adoção de
ficar bastante evidenciados 38. um paradigma circular de comunicação –
O movimento circular da comunicação que traduz um modelo de política democrá-
política segue os padrões do modelo de Es- tica –, permite a redução da complexidade
tado Democrático de Direito. Os políticos do ambiente, o que resulta na incorporação,
eleitos pelo povo, por meio do exercício do pela Política, de uma multiplicidade de te-
direito de sufrágio, formulam as políticas mas.
públicas, mediante a edição de atos políti-
cos, que devem ser concretizadas em benefí- 5. A inter-relação entre Direito e
cio do Público pela Administração, por meio Política
dos atos administrativos.
Os subsistemas jurídico e político, utili-
A sobrecarga de complexidade das soci-
zando os chamados meios de comunicação
edades modernas fez surgir uma comuni-
simbolicamente generalizados poder e di-
cação “contracircular”, que passou a con-
reito, vêem-se diante de problemas deriva-
viver com o fluxo comunicativo institucio-
nalizado, caracterizado pelas eleições, atos dos da complexidade das sociedades mo-
políticos e atos administrativos. Dessa for- dernas, que devem ser superados a partir
ma, a Política, por meio de pautas partidári- de suas operações comunicativas autopoié-
as preestabelecidas, sugere ao público o quê ticas. Dessa forma, observa-se a sobrecarga
(o programa partidário) e quem (os candi- do subsistema jurídico, motivada pelo ex-
datos) devem ser eleitos. O Público exerce cesso de “juridificação” dos conflitos soci-
sua influência sobre a Administração, me- ais, e a igual sobrecarga do subsistema
diante exercício do direito de petição e pela político, o qual, em função da deficiência de
participação em processos administrativos seu código interno, que privilegia a “auto-
de formação da vontade estatal. Finalmen- obsevação” à “heterobservação”, apresen-
te, a Administração, por intermédio de seus ta tendências ao que Luhmann denomina
especializados corpos técnicos de assesso- “curto circuito”, ou seja, a não decidir ou a
ria e direção, produz e influencia a seleção produzir múltiplas decisões impossíveis de
de projetos para a Política39. serem implementadas42.
Pode-se então afirmar que o desenvolvi- A partir de uma estrita visão autopoiéti-
mento do Estado Social, ao recrudescer a in- ca, as possibilidades de interação entre os
clusão de temas e interesses políticos, con- subsistemas autopoiéticos e, particularmen-

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te, entre os subsistemas jurídico e político mas autopoiéticos de segundo grau,
resumem-se aos mecanismos de “observa- como o sistema jurídico, o sistema eco-
ção intersistêmica”, de “interferência inter- nômico ou o sistema político, caracte-
sistêmica” e de “comunicação pela organi- rística até hoje algo negligenciada: a
zação”, elencados por Teubner43. interferência de sistemas autopoiéticos
A primeira espécie de intervenção inter- homogêneos, nascidos ou resultantes
sistêmica – a “observação intersistêmica” – do processo interno de diferenciação de
resulta das observações recíprocas entre os sistema autopoiético mais abrangente.
sistemas, possíveis em função da abertura A tese que sustentamos é a de que esta
cognitiva. No caso específico do direito, uti- interferência possibilita o contacto di-
lizando o exemplo de Teubner44, o legisla- reto recíproco entre os sistemas sociais
dor, quando edita ato normativo no sentido para além da mera observação. Deve-
de estabelecer um congelamento de preços, mos chamar a atenção, porém, e desde
na busca da regulação da Economia pelo já, para uma limitação a esta tese: as
Direito, observa o subsistema econômico e o vantagens do contacto real com o meio
reproduz internamente por meio de opera- envolvente são aqui ganhas à custa das
ções jurídicas. De igual forma, o subsistema desvantagens decorrentes de proble-
político atua no sentido de produzir deci- mas de informação e motivação” 46.
são vinculante a respeito do congelamento A terceira espécie de intervenção inter-
de preços, munido de uma imagem recons- sistêmica é a “comunicação pela organiza-
truída da Economia a partir das operações ção” 47. É, em verdade, caso específico de in-
internas do subsistema político. Tudo em terferência intersistêmica, em que um único
conformidade com o construtivismo episte- evento comunicativo é compartilhado pela
mológico, que afasta a possibilidade de des- organização, por subsistemas autopoiéticos
crição ontológica de uma realidade45. Esta de segundo grau e pela sociedade. Dentro
decorre sempre de uma observação efetiva- da concepção luhmanniana, a organização
da por um sistema autopoiético, que mode- é um sistema social autopoiético, cujas co-
la internamente o meio ambiente a partir das municações tomam a forma de decisão. As
distinções estabelecidas pelo código adota- estruturas organizacionais são estabeleci-
do em suas operações. No caso do Direito, a das por meio de regras que estatuem o modo
realidade do entorno é construída median- de seleção dos partícipes da organização e
te a utilização do código lícito/ilícito. as competências atribuídas aos seus mem-
A segunda espécie de intervenção inter- bros. A organização opera a partir de pre-
sistêmica é a “interferência intersistêmica”. missas decisionais, ou seja, as comunica-
Está associada ao compartilhamento de um ções estabelecidas em seu interior, que vi-
mesmo evento comunicativo por mais de um sam ao final a tomada de decisões, partem
subsistema autopoiético de segundo grau e do estabelecimento de programas – metas,
pela sociedade, sistema comunicativo geral diretrizes e planos de ação –, de vias de co-
de primeiro grau. Deixemos que Teubner municação institucionais – que, nas orga-
desenvolva os contornos fundamentais do nizações formais, decorrem de uma estrutu-
instituto: ração hierárquica – e de pessoas – os mem-
“Quer dizer que não há saída des- bros da organização. Os programas, as vias
tes circuitos fechados de (auto-) obser- de comunicação e as pessoas constituem
vação? Cremos que sim e que é possí- estruturas de expectativas no interior da
vel romper esta circularidade por ou- organização e permitem reduzir a comple-
tro modo que não internamente. A xidade do sistema, viabilizando a continui-
chave para isto reside numa caracte- dade autopoiética de suas operações comu-
rística peculiar da natureza dos siste- nicativas48.

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“En la sociedad diferenciada funcio- decorrentes da função do Direito – a de es-
nalmente, las organizaciones asumen una tabilizar congruentemente expectativas nor-
importancia que no se había registrado mativas.
precedentemente. Lo cual no vale sólo para O novo Direito, para ainda manter uma
el sistema económico, en el que la impor- perspectiva funcional, deve abrir mão de sua
tancia de las organizaciones es conocida y coerência interna e combinar uma regula-
estudiada desde hace tiempo. También los ção substantiva a partir de cláusulas gerais
otros sistemas de función basan siempre e de uma regulação processual, que permi-
más las propias operaciones sobre siste- tam aos demais subsistemas sociais ajusta-
mas organizados, como las escuelas en el rem-se a partir dos conflitos surgidos em
sistema educativo, las iglesias en el reli- suas respectivas searas.
gioso, los institutos de investigación y las Uma “política de opções”51, em que o Di-
universidades en la ciencia, etcétera”49. reito oferece modelos jurídicos facultativos
Para Teubner, a importância das organi- aos demais subsistemas sociais, como os
zações formais na sociedade diferenciada institutos do “contrato” e do “direito subje-
funcionalmente decorre fundamentalmen- tivo”, pode apresentar uma eficácia regula-
te de sua possibilidade de atuar nas frontei- tória acentuada, desde que aliada a uma re-
ras dos subsistemas sociais, por meio de gulamentação de caráter principiológico.
uma específica espécie de interferência in- Esta deve estar despida da pretensão de efe-
tersistêmica50. Na hipótese de uma organi- tuar prescrições extensivas e detalhadas da
zação constituída na fronteira do Direito e conduta humana, sem, contudo, abrir mão
da Economia, por exemplo, poderiam ser do caráter normativo do Direito.
estabelecidos, a partir de um único evento 6.2. A sobrecarga da Política
comunicativo, laços operativos nos seguin-
tes sistemas autopoiéticos: na sociedade glo- A denominada sobrecarga do subsiste-
bal, no subsistema jurídico, no subsistema ma político dos Estados de Bem-Estar Soci-
econômico e na organização. al deriva, para Luhmann, de sua propen-
são ao “curto-circuito”, que resulta na utili-
zação expansiva dos meios de comunica-
6. Direito e Política: um diagnóstico ção simbolicamente generalizados dinhei-
funcional-sistêmico ro e Direito. Isso ocorre a partir dos excessos
De posse do ferramental disponibiliza- gerados pelas prestações da Política aos di-
do pela teoria funcional-sistêmica de Luh- versos subsistemas sociais, particularmen-
mann acerca da sociedade, buscar-se-á ano- te aos subsistemas jurídico e econômico. Tal
tar alguns pontos relevantes que afetam o fato implica a “hiperjuridificação” da soci-
Direito e a Política nos Estados modernos edade civil e a produção de déficits fiscais
contemporâneos. decorrentes da expansão dos orçamentos
públicos 52.
6.1. A sobrecarga do Direito Sugere o autor que uma reflexão teórica
A perda contínua da normatividade do sobre os condicionamentos e limites do sub-
sistema jurídico deriva da sobrecarga a que sistema político poderia alterar essa situa-
vem sendo submetido o Direito, caracteri- ção. Para tanto, menciona a possibilidade
zada por um descompasso entre a vigorosa de implantação de uma política restritiva,
produção legislativa e a lenta e complexa de caráter reflexivo, que partiria da hipóte-
assimilação dessa pela doutrina e jurispru- se fundamental de que o subsistema políti-
dência. co exerce uma função social, assim como os
A profusão de normas parece implicar demais subsistemas. A efetividade das ações
o abandono progressivo dos imperativos políticas dependeria da internalização da

Brasília a. 37 n. 147 jul./set. 2000 43


descrição autopoiética da Política, com as Estado as responsabilidades de implemen-
limitações que daí derivam. tação de ações tendentes a alcançar os bens
públicos confiados originalmente ao Estado
6.3. O Direito reflexivo e que é formado por um vastíssimo conjunto
Os mecanismos intersistêmicos da obser- de organizações públicas não-estatais54.
vação e da interferência estabelecidos entre Busca-se avaliar o potencial regulatório
o subsistema jurídico e os demais subsiste- do novo Direito Administrativo que vem sen-
mas tendem a produzir efeitos regulatórios do criado pelas alterações normativas deri-
mais eficientes, a partir da incorporação de vadas do Plano de Reforma do Estado bra-
um maior grau de reflexividade ao direito. sileiro.
Dessa forma, a reflexão jurídica deve tomar Nesse contexto, a “comunicação pela or-
em conta o fato de que o direito constitui um ganização”, como forma de relacionamento
subsistema autopoiético de segundo grau intersistêmico, tem papel preponderante
diferenciado funcionalmente e que interage para viabilizar a regulação jurídica na Polí-
limitadamente com outros subsistemas au- tica e em outros subsistemas sociais alcan-
topoiéticos de segundo grau também dife- çados pela referida prestação de serviços
renciados funcionalmente. Para isso, indis- públicos pelas organizações sociais e pelas
pensável que doutrina jurídica passe a for- organizações da sociedade civil de interes-
mular modelos de interação intersistêmicos se público55. É no âmbito dessas entidades
mais apropriados e a promover gradativa- que o Direito poderá, de forma indireta, re-
mente os ajustes necessários à otimização gular a Política (particularmente, a relação
da regulação social pelo Direito. Administração/Público) e outros subsiste-
mas sociais. Para isso, no entanto, deve o
7. A regulação jurídica a partir da Direito tornar-se reflexivo, ponderando as
reforma do Estado brasileiro limitações decorrentes de sua inserção, como
subsistema social autopoiético, num univer-
A nova concepção de Estado que resulta
so de sistemas autopoiéticos funcionalmen-
da reforma que vem sendo implantada no
te diferenciados e, particularmente, levan-
Brasil53 decorre da tentativa de adaptar a
do em conta o aumento da complexidade
Administração Pública ao novo cenário glo-
do subsistema político. Este último, com a
balizado e à conseqüente crise do modelo
incorporação das comunicações emanadas
de Estado Social, cujos custos crescentes do setor público não-estatal, passa a deter
denotariam a incapacidade de o Poder Pú- estrutura quadridimensional (Política/Ad-
blico responder às demandas igualmente ministração/Setor Público não-estatal/Pú-
crescentes da população. Os déficits fiscais blico) e não mais a clássica tridimensional.
do Estado têm ensejado um movimento de A utilização dos contratos de gestão56 ,
enxugamento das máquinas administrati- do ponto de vista autopoiético, parece ter
vas estatais, por meio da desestatização de derivado de pressões evolutivas que impu-
empresas estatais, descentralização e des- seram ao Direito, e particularmente ao Di-
concentração administrativa e da concessão reito Administrativo, formas mais adequa-
de serviços públicos para particulares. das de regulação de conflitos intersistêmi-
Em especial, destaca-se a atração de en- cos ocorridos nos sistemas internos da Polí-
tidades civis para ocuparem um espaço tica, particularmente na comunicação Ad-
público não-estatal, por meio da prestação ministração/Público e nos demais subsis-
de serviços públicos não-exclusivos do Es- temas sociais atingidos pela prestação de
tado. serviços públicos. O “contrato de gestão”
Constata-se a emergência do chamado parte de um modelo estruturado de forma
“Terceiro Setor”, que passa a dividir com o tênue, ou seja, a partir de princípios gerais,

44 Revista de Informação Legislativa


o que o torna particularmente apto a instru- trabalho – e de outros que venham a desen-
mentalizar o Direito na resolução dos con- volver cientificamente modelos da política
flitos que venham a surgir nas diversas es- e do direito – fica reduzida à possibilidade
feras sociais. Reconheça-se que a criação do de oferecer material à observação do Direito
contrato de gestão e do termo de parceria57 e da Política.
aponta apenas o início de um lento proces- A perturbação causada pela teoria auto-
so que se avizinha. Dessa forma, não se pode poiética talvez só possa ser superada por
honestamente prever o ritmo das mudan- um estudo desassombrado e crítico de suas
ças a que será submetido o Direito Admi- linhas diretivas. É, por enquanto, deve-se
nistrativo, nem mesmo se este conseguirá reconhecer, um conjunto de idéias que im-
impedir os avanços mencionados. pressiona pela pretensão, abstração, gene-
ralidade e abrangência. Tem, no entanto,
8. Considerações finais amplo caminho a percorrer até que o seu
valor possa ultrapassar o plano estético e
Uma teoria autopoiética não pode ter
passe a repercutir eficazmente no plano ci-
como desiderato a formulação de prescri-
entífico. Como afirma Raffaele de Giorgi,
ções. O presente trabalho é também uma
“O pensamento autopoiético foi
“heterodescrição” do Direito e da Política a
elaborado há pouco mais de vinte
partir de uma ótica específica da sociologia
anos. Um período, a um só tempo,
jurídica, considerada como ramo da ciên-
muito curto para que se possa chegar
cia. A análise efetuada deve ser tida como
a conclusões fundamentadas e por
um conjunto de comunicações que levam em
demais longo para que se pudesse
conta o código verdadeiro/falso e um pro-
considerá-lo um modismo. É por isso
grama previamente escolhido: a teoria au-
que nos maravilha o fato de que ain-
topoiética de Luhmann e, em conseqüência,
da hoje o pensar autopoiético seja ca-
os critérios de distinção sistema/entorno,
paz de despertar a um só tempo enor-
abertura/fechamento etc.
mes interesses e inarredáveis aver-
Logo, do ponto de vista construtivista,
sões, paixões inflamadas e resistênci-
elaborou-se, tão-só, uma entre as inúmeras
possíveis reconstruções científicas do Direi- as inexplicáveis”58.
to e da Política. Ciente dessa limitação – a Por fim, não há como deixar de indagar
de que a realidade estudada é “autoprodu- a respeito da posição do ser humano na so-
zida”–, queda impossível prognosticar os ciedade luhmanniana. Como devem ser con-
caminhos abertos ao Direito e à Política. duzidos os destinos humanos em um mun-
Esses dependem da rota evolutiva a ser tra- do de comunicações, pensamentos e vida,
çada pela própria reprodução dos subsiste- sem lugar para a razão? A evolução passa a
mas sociais autopoiéticos. As eventuais cor- ser o único motor cego desse universo sem
reções de rumo só poderão ser feitas por espírito, em que não há espaço para o ho-
meio do acionamento dos mecanismos de mem como unidade fundamental da socie-
conexão intersistêmicos, os quais, limitados dade. As rédeas do destino parecem ter sido
pelo radical fechamento operacional dos definitivamente retiradas do ser humano e
sistemas autopoiéticos, devem partir da colocadas na mão de sistemas sem alma.
construção de um direito reflexivo e de uma Essa construção teórica seria conseqüência
política reflexiva. Essa, no entanto, é tarefa de um desencantamento de Luhmann com
interna à Política e ao Direito, que poderá a espécie humana? Ou, ao contrário, a auto-
ser auxiliada pela observação de novas teo- poiesis representaria a redenção do homem,
rias sociológicas formuladas pela Ciência e liberto das racionalidades, ontologias e axi-
por sua reconstrução no seio dos subsiste- ologias? A última reflexão é deixada aos lei-
mas político e jurídico. A utilidade deste tores.

Brasília a. 37 n. 147 jul./set. 2000 45


Notas 6
Niklas Luhman explica a transposição do
modelo autopoiético para os sistemas psíquicos e
1
DOBARRO, Ángel Nogueira. Niklas Luhmann: sociais, criticando a opção de Maturana de esten-
la sociedad como teoría de sistemas autorreferenci- der a concepção de sistemas biológicos para o nível
ales y autopoiéticos de comunicación: nuevos social. O trecho seguinte esclare esse importante
presupuestos críticos, nuevos conceptos e hipóte- ponto: “The text that follows uses this kind of multile-
sis en la investigación sociológica de la sociedad vel approach. It distinguishes a general theory of self-
contemporánea. Revista Anthropos - Huellas del Co- referencial autopoietic systems and a more concrete le-
nocimiento. Barcelona : Proyecto A Ediciones, n. 173/ vel at which we may distinguish living systems (cells,
174, julio-octobre 1997. p. 4-5. brains, organisms, etc.), psychic systems, and social sys-
2
CORSI, Giancarlo, ESPOSITO, Elena, BARAL- tems (societies, organizations, interactions) as different
DI, Claudio. Glosario sobre la teoría social de Niklas kinds of autopoietic systems. (...)
Luhmann. Tradução por Miguel Romero Pérez e This kind of approach is acceptable only if we are
Carlos Villalobos México : Universidad Iberoameri- prepared to accept its anti-Aristotelian premise: that
cana, 1996. p. 51. social systems and even psychic systems are not living
3
Uma interessante biografia intelectual, além systems. The concept of autopoietic closure itself requi-
de uma cronologia científica e bibliográfica de Ni- res this theoretical decision. It leads to a sharp distinc-
klas Luhmann, elaborada por Alejandro Navas, tion between meaning and life as different kinds of au-
pode ser obtida na revista Anthropos - Huellas del topoietic organization, and meaning-using systems
Conocimiento. Barcelona : Proyecto A Ediciones, n. again have to be distinguished according to whether
173/174, julio-octobre 1997. p. 58. De forma sinté- they use consciousness or communication as a mode of
tica, registre-se que Luhmann nasceu em 1927 na meaning-based reproduction. (...)
cidade de Lüneburg, Alemanha. De 1946 a 1949, To use ipsissima verba: autopoietic systems ‘are
cursou Direito na Universidade de Freiburg/Breis- systems that are defined as unities as networks of pro-
grau. Depois de atuar na Administração Pública ductions of components that recursively, through their
da Alemanha, cursou Administração e Sociologia interaction, generate and realize the network that pro-
em Harvard, nos anos de 1960-1961. Em 1966, ob- duces them and constitute, in the space in which they
teve o título de Doutor em Ciências Sociais e Habi- exist, the boundaries of the network as components that
litação em Sociologia na Faculdade de Direito da participate in the realization of the network.’ (...)
Universidade de Münster. Atuou na Universidade Social systems use communication as their particu-
de Bielefeld, a partir de 1968. Faleceu em 1998. lar mode of autopoietic reproduction. Their elements
4
O biólogo chileno Humberto R. Maturana, des- are communications that are recursively produced and
de a década de 60, buscou conceituar os sistemas reproduced by a network of communications and cannot
vivos, a partir da redefinição da fenomenologia do exist outside of such a network. Communications are
que é vivo em termos do próprio organismo. Já em not ´living´units, they are not ´conscious’ units, they
1970, em conjunto com Francisco J. Varela, aluno e are not ‘actions’.” (LUHMANN, Niklas. Essays on
colega de Maturana, conceberam uma nova teoria - self-reference. New York : Columbia University Press,
a autopoiesis -, que enfatizava a característica 1990. p. 1-3).
fundamental dos seres vivos: comporem um siste- 7
LUHMANN, Niklas. Essays on self-reference.
ma dotado do atributo da “autoprodução” dos New York : Columbia University Press, 1990. p. 2.
seus próprios componentes. Um sistema vivo era 8
CORSI, Giancarlo, ESPOSITO, Elena, BARAL-
concebido então como qualquer sistema que exibis-
DI, Claudio. Tradução por Miguel Romero Pérez e
se autopoiesis no espaço físico. Durante os primei-
Carlos Villalobos. Glosario sobre la teoría social de
ros anos da década de 70, Maturana e Varela ex-
Niklas Luhmann. México : Universidad Iberoameri-
pandiram e refinaram sua teoria numa série de ar-
cana, 1996. p. 32.
tigos. Dois desses artigos-chave, “Biology of Cog- 9
Op. cit., p. 73.
nition” (Maturana, 1970) e “Autopoiesis: The Or- 10
Op. cit., p. 68.
ganization of the Living” (Maturana & Varela, 1973),
foram reimpressos em um só volume, em 1980,
11
Op. cit., p. 20.
chamado Autopoiesis and Cognition: the realization
12
TORRE RAMOS, Ramón. Dios Epiménides y
of the living. (WHITAKER, Randall. Tutorial intro- Tristram Shandy: destinos de la paradojas en la
dutório: autopoiese e atuação. Tradução e adapta- sociologia de N. Luhmann. RevistaAnthropos - Hue-
ção por Cristina Magro e Antônio Marcos Pereira. llas del Conocimiento. Barcelona : Proyecto A Edicio-
Disponível na Internet no site “http://www. nes, n. 173/174, julio-octobre 1997. p. 140.
Icc.ufmg.br/autopoiese/ tutorial.htm”.)
13
Kelsen denomina norma fundamental pres-
5
TEUBNER, Günther. O direito como sistema suposta “a norma cuja validade não pode ser deri-
autopoiético. Tradução por José Engrácia Antunes. vada de uma norma superior. (...) Se perguntarmos
Lisboa : Fundação Calouste Gulbenkian, 1989. p. por que a constituição é válida, talvez cheguemos a
3. Prefácio. uma constituição mais velha. Por fim, alcançare-

46 Revista de Informação Legislativa


mos alguma constituição que é historicamente a Teoría de la sociedad. 2. ed. Tradução por Miguel
primeira e que foi estabelecida por um usurpador Romero Pérez. México : Triana Editores e Universi-
individual ou por algum tipo de assembléia. A va- dad Iberoamericana, 1998. p. 130.
lidade dessa primeira constituição é a pressuposi- 20
LUHMANN, Niklas. Sociologia do direito I.
ção última, o postulado final, do qual depende a Tradução por Gustavo Bayer. Rio de Janeiro : Tem-
validade de todas as normas de nossa ordem jurí- po Brasileiro, 1985. p. 115 e 121.
dica. É postulado que devemos nos conduzir como 21
CORSI, Giancarlo; ESPOSITO, Elena, BA-
o indivíduo ou os indivíduos que estabeleceram a RALDI, Claudio. Tradução por Miguel Romero
primeira constituição prescreveram. Esta é a nor- Pérez e Carlos Villalobos. Glosario sobre la teoría
ma fundamental da ordem jurídica em considera- social de Niklas Luhmann. México : Universidad Ibe-
ção. (...) A norma fundamental não é criada em um roamericana, 1996. p. 128.
procedimento jurídico por um órgão criador do 22
A expressão “virada autopoiética” não pode
Direito. Ela não é - como a norma jurídica positiva ser entendida como uma brusca alteração do con-
- válida por ser criada de certa maneira por um ato teúdo dos escritos de Luhmann. Refere-se, tão-só,
jurídico, mas é válida por ser pressuposta como à incorporação, pelo autor, dos termos utilizados
válida; e ela é pressuposta como válida porque sem pela então nascente teoria autopoiética.
essa pressuposição nenhum ato humano poderia 23
LUHMANN, Niklas. La ciencia de la sociedad.
ser interpretado como um ato jurídico e, especial- Tradução por Silvia Pappe, Brunhilde Erker e Luis
mente, como um ato criador de Direito”. (KEL- Felipe Segura, coordenados por Javier Torres Na-
SEN, Hans. Teoria geral do direito e do Estado. 2. ed. farrate. México : Universidad Iberoamericana, 1996.
Tradução por Luís Carlos Borges. São Paulo : Mar- p. 103-104.
tins Fontes, 1992. p. 116-121). 24
LUHMANN, Niklas. Sociologia do direito I.
14
Paulo Bonavides esclarece que “a teoria do Tradução por Gustavo Bayer. Rio de Janeiro : Tem-
poder constituinte é basicamente uma teoria da le- po Brasileiro, 1985. p. 115 e 121.
gitimidade do poder. Surge quando uma nova for- 25
A generalização congruente das expectativas
ma de poder, contida nos conceitos de soberania normativas dá-se nas três dimensões de sentido:
nacional e soberania popular, faz a sua aparição dimensão objetiva ou material – que abarca os te-
histórica e revolucionária em fins do século XVIII. mas da comunicação –, dimensão social - que en-
Esse poder novo, oposto ao poder decadente e ab- globa os horizontes de possibilidades dos interlo-
soluto das monarquias de direito divino, invoca a cutores da comunicação – e dimensão temporal –
razão humana ao mesmo tempo em que substitui que articula os horizontes do passado e do futuro.
Deus pela Nação como titular da soberania. Nasce (CORSI, Giancarlo; ESPOSITO, Elena e BARALDI,
assim a teoria do poder constituinte, legitimando Claudio. Tradução por Miguel Romero Pérez e Car-
uma nova titularidade do poder soberano e confe- los Villalobos. Glosario sobre la teoría social de Niklas
rindo expressão jurídica aos conceitos de soberania Luhmann. México : Universidad Iberoamericana,
nacional e soberania popular. (...) Costuma-se dis- 1996. p. 63-65).
tinguir o poder constituinte originário do poder cons- 26 LUHMANN, Niklas. Sociologia do direito II.
tituinte constituído ou derivado. O primeiro faz a Tradução por Gustavo Bayer. Rio de Janeiro : Tem-
Constituição e não se prende a limites formais: é po Brasileiro, 1985. p. 64.
essencialmente político ou, se quiserem, extrajurí- 27
Op. cit., p. 64.
dico”. (BONAVIDES, Paulo. Curso de direito consti- 28
Op. cit., p. 65.
tucional. 7. ed. São Paulo : Malheiros, 1997. p. 120- 29
Op. cit., p. 61.
125). 30
O debate Luhmann x Habermas referenciado
15
TEUBNER, Günther. O direito como sistema diz respeito ao choque de idéias registrado nos di-
autopoiético. Tradução por José Engrácia Antunes. versos trabalhos dos autores. Os livros de Haber-
Lisboa : Fundação Calouste Gulbenkian, 1989. p. mas, em que ele contradita Luhmann e que foram
6-8. utilizados no presente trabalho, são os seguintes:
16
LUHMANN, Niklas, DE GIORGI, Raffaele. HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia: entre fac-
Teoría de la sociedad. 2. ed. Tradução por Miguel ticidade validade. Tradução por Flávio Beno Siebe-
Romero Pérez. México : Triana Editores e Universi- neichler. Rio de Janeiro : Tempo Brasileiro, v. 2, 1997,
dad Iberoamericana, 1998. p. 288. p. 170-190, 319-325; HABERMAS, Jürgen. A crise
17
CORSI, Giancarlo, ESPOSITO, Elena, BA- de legitimação no capitalismo tardio. Tradução por
RALDI, Claudio. Tradução por Miguel Romero Manireh Chacon. Rio de Janeiro : Tempo Brasileiro,
Pérez e Carlos Villalobos. Glosario sobre la teoría 1994. p. 163-176; HABERAMS, Jürgen. La logica de
social de Niklas Luhmann. México : Universidad Ibe- las ciencias sociales. Tradução por Manuel Jiménez
roamericana, 1996. p. 54-56 e 128-131. Redondo. Madrid : Tecnos, 1996. p. 309-419.
18
Op. cit., p. 106. 31
HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia: en-
19
LUHMANN, Niklas, DE GIORGI, Raffaele. tre facticidade e validade. Tradução por Flávio Beno

Brasília a. 37 n. 147 jul./set. 2000 47


Siebeneichler. Rio de Janeiro : Tempo Brasileiro, v. 2, cidadão-cliente dos serviços públicos prestados pelo
1997. p. 323-324. Estado. Assim, o denominado Programa Nacional
32
LUHMANN, Niklas. Teoría política en el Esta- de Publicização possibilita a qualificação de pes-
do de Bienestar. Tradução para o espanhol por Fer- soas jurídicas de direito privado sem fins lucrati-
nando Vallespín. Madrid : Alianza Editorial, 1994. vos como organizações sociais (OS), por meio da
p. 48. assinatura de um “contrato de gestão”, cujas ati-
33
Op. cit., p. 61. vidades sejam dirigidas ao ensino, à pesquisa cien-
34
Op. cit., p. 62. tífica, ao desenvolvimento tecnológico, à proteção e
35
Op. cit., p. 62. preservação do meio ambiente, à cultura e à saúde.
36
CORSI, Giancarlo, ESPOSITO, Elena e BA- Também a qualificação de pessoas jurídicas de pes-
RALDI, Claudio. Tradução por Miguel Romero soas privadas como organizações da sociedade ci-
Pérez e Carlos Villalobos. Glosario sobre la teoría vil de interesse público está inserida nesse contexto,
social de Niklas Luhmann. México : Universidad Ibe- porquanto viabiliza a assinatura de “termos de
roamericana, 1996. p. 130. parceria” entre o Poder Público e as entidades pri-
37
LUHMANN, Niklas. Teoría política en el Esta- vadas que tenham por escopo um largo espectro de
do de Bienestar. Tradução para o espanhol por Fer- atividades de cunho social.
nando Vallespín. Madrid : Alianza Editorial, 1994. 54
SANTOS, Boaventura de Souza. A reivenção
p. 63. solidária e participativa do Estado. Coimbra : Oficina
38
Op. cit., p. 63. do Centro de Estudos Sociais, n. 234, Janeiro 1999.
39
Op. cit., p. 64-65. p.14.
40
Op. cit., p. 66. 55
A Lei nº 9.637/98 criou as chamadas organi-
41
DE GIORGI, Raffaele. Direito, democracia e zações sociais e regulamentou os contratos de ges-
risco: vínculos com o futuro. Porto Alegre : Sergio tão estabelecidos entre essas entidades e o Poder
Antonio Fabris Editor, 1998. p. 12. Público. A Lei nº 9.790/99 estabeleceu os contor-
42
LUHMANN, Niklas. Teoría política en el Esta- nos das entidades da sociedade civil de interesse
do de Bienestar. Tradução para o espanhol por Fer- público e dos termos de parceria que deverão ser
nando Vallespín. Madrid : Alianza Editorial, 1994. firmados entre estas últimas e o Estado. Ver Capí-
p. 57. tulo III, item 5.
43
TEUBNER, Günther. O direito como sistema 56
Contrato de gestão é o meio pelo qual o Esta-
autopoiético. Tradução por José Engrácia Antunes. do e as entidades que executam as atividades e os
Lisboa : Fundação Calouste Gulbenkian, 1989. p. serviços não-exclusivos do Estado estabelecerão as
155-181. metas, quantitativas e qualitativas, e os meios de
44
Op. cit., p. 155-156. atingimento destas. É instrumento de educação,
45
Op. cit., p. 157. controle e sanção dos entes descentralizados e au-
46
Op. cit., p. 172-173. xiliares do Estado.
47
Op. cit., p. 191. 57
Termo de parceria é o instrumento passível
48
CORSI, Giancarlo, ESPOSITO, Elena, BA- de ser firmado entre o Poder Público e as socieda-
RALDI, Claudio. Tradução por Miguel Romero des qualificadas como Organizações da Sociedade
Pérez e Carlos Villalobos. Glosario sobre la teoría Civil de Interesse Público, destinado à formação de
social de Niklas Luhmann. México : Universidad Ibe- vínculo de cooperação entre as partes e a execução
roamericana, 1996. p. 121-122. de atividades de interesse público. Deve conter a
49
Op. cit., p. 123. descrição do objeto, a estipulação das metas e dos
50
TEUBNER, Günther. O direito como sistema resultados a serem atingidos e os critérios de avali-
autopoiético. Tradução por José Engrácia Antunes. ação de desempenho.
Lisboa : Fundação Calouste Gulbenkian, 1989. p. 58
DE GIORGI, Raffaele. Direito, democracia e
192. risco: vínculos com o futuro. Porto Alegre : Sergio
51
Op. cit., p. 186. Antonio Fabris Editor, 1998. p. 19.
52
LUHMANN, Niklas. Teoría política en el Esta-
do de Bienestar. Tradução para o espanhol por Fer-
nando Vallespín. Madrid : Alianza Editorial, 1994.
Bibliografia
p. 57.
53
A reforma do aparelho estatal vem sendo BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional.
introduzida de acordo com o Plano Diretor da Re- 7. ed. São Paulo : Malheiros, 1997.
forma do Estado, elaborado pelo extinto Ministério CORSI, Giancarlo, ESPOSITO, Elena, BARALDI,
da Administração e Reforma do Estado – MARE. Claudio. Tradução por Miguel Romero Pérez e
Busca criar condições para o desenvolvimento de Carlos Villalobos. Glosario sobre la teoría social de
uma Administração Pública orientada para o con- Niklas Luhmann. México : Universidad Iberoa-
trole de resultados e que dirija suas atenções ao mericana, 1996.

48 Revista de Informação Legislativa


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Brasília a. 37 n. 147 jul./set. 2000 49

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