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Supremo Tribunal Federal

RECLAMAÇÃO 26.064 RIO GRANDE DO SUL

RELATOR : MIN. EDSON FACHIN


RECLTE.(S) : UNIÃO
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO
RECLDO.(A/S) : TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 4ª
REGIÃO
PROC.(A/S)(ES) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS
INTDO.(A/S) : LUZINETE NUNES
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS
INTDO.(A/S) : LUIZ BEDATTI
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS
INTDO.(A/S) : LAUDEMIRO DE ALCANTARA
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS
INTDO.(A/S) : LUIZ CARLOS DOS SANTOS
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS
INTDO.(A/S) : LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS
INTDO.(A/S) : FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL FEDERAL

DECISÃO: Trata-se de reclamação, com pedido de liminar, contra


acórdão prolatado pelo Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, que
assentou a competência da Justiça do Trabalho para processar e julgar
reclamação trabalhista, cuja ementa transcrevo:
TRANSMUDAÇÃO DO REGIME JURÍDICO DE
CELETISTA PARA ESTATUTÁRIO. COMPETÊNCIA DA
JUSTIÇA DO TRABALHO EM RELAÇÃO AO PERÍODO EM
QUE O CONTRATO DE TRABALHO FOI REGIDO PELA CLT.
INTELIGÊNCIA DA OJ N. 138 DA SBDI-I DO TST. Consoante
jurisprudência pacífica do TST, uniformizada pela SBDI-l,
mediante a edição da Orientação Jurisprudencial n. 138, ainda
que haja transmudação do regime jurídico de celetista para o
estatutário, subsiste a competência da Justiça do Trabalho para
apreciar demanda envolvendo sen'idor contratado sob o regime
celetista, sendo tal competência restrita ao período em que o
pacto laboral foi regido pela CLT. 'In caso', a pretensão dos
autores dirige-se ao cumprimento de decisão judicial que

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condenou as reclamadas à incorporação de percentuais nos


vencimentos dos substituídos referentes a planos econômicos
do período em que eram regidos pela CLT. Dessa forma, é
competente esta Especializada. PLANOS ECONÔMICOS.
INCORPORAÇÃO. DECISÃO JUDICIAL TRANSITADA EM
JULGADO. DESCUMPRIMENTO. INSTAURAÇÃO DE NOVA
AÇÃO. A incorporação de reajustes decorrentes do plano
econômico IPC de março 11990, reconhecida por decisão
judicial transitada em julgado, não pode, por essa razão, ser
descumprida pela Administração, ainda que mediante a
implantação de novo regime remuneratório ou reestruturação
de cargos e salários, em respeito à soberania da coisa julgada,
ao Pacto Federativo e à autonomia dos Poderes. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. ASSISTÊNCIA DOS EMPREGADOS PELO
SINDICATO DE SUA CATEGORIA PROFISSIONAL. Estando
os reclamantes assistidos por seu sindicato' representativo e
preenchidos os demais requisitos descritos no art. 14 da Lei n.
5.58411970, é procedente o pedido de pagamento dos
honorários assistenciais, os quais são arbitrados em 15%
(quinze por cento) sobre o valor da condenação, na forma do
art. 16 do mesmo diploma legal. Inteligência das Súmulas n. 219
e 329 do C. TST.

Sustenta-se, em síntese, ser a Justiça Comum competente para o


julgamento da demanda, pois ela foi proposta por servidor público
estatutário, com vínculo de caráter jurídico-administrativo, a partir da
vigência da Lei 8.112/1990.
Dispenso as informações, assim como a remessa à Procuradoria-
Geral da República (art. 52, parágrafo único, do RISTF), por entender que
o processo está suficientemente instruído e em condições de julgamento
É o relatório. Decido.
A relação de pertinência estrita entre o ato reclamado e o parâmetro
de controle é requisito indispensável para o cabimento de reclamação,
não sendo possível a sua utilização como sucedâneo recursal. Nesse
sentido: Rcl 7.082 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, Primeira Turma, DJe

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de 11/12/2014; Rcl 11.463 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, DJe
de 13/02/2015; Rcl 15.956 ED, Rel. Min. Teori Zavascki, Segunda Turma,
DJe de 05/03/2015; Rcl 12.851 AgR-segundo, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira
Turma, DJe de 26/03/2015, entre outros.
O Supremo Tribunal Federal, ao apreciar a Medida Cautelar na ADI
3.395, referendou liminar anteriormente deferida pelo Ministro Nelson
Jobim, a qual suspendeu toda e qualquer interpretação atribuída ao inciso
I do art. 114 da CF/88, na redação dada pela EC 45/2004, que inclua na
competência da Justiça do Trabalho a apreciação de causas as quais sejam
instauradas entre o Poder Público e seus servidores, a ele vinculados por
típica relação de ordem estatutária ou de caráter jurídico-administrativo,
em acórdão assim ementado:

INCONSTITUCIONALIDADE. Ação direta. Competência.


Justiça do Trabalho. Incompetência reconhecida. Causas entre o
Poder Público e seus servidores estatutários. Ações que não se
reputam oriundas de relação de trabalho. Conceito estrito desta
relação. Feitos da competência da Justiça Comum. Interpretação
do art. 114, inc. I, da CF, introduzido pela EC 45/2004.
Precedentes. Liminar deferida para excluir outra interpretação.
O disposto no art. 114, I, da Constituição da República, não
abrange as causas instauradas entre o Poder Público e servidor
que lhe seja vinculado por relação jurídico-estatutária. (ADI
3.395 MC, Rel. Min. Cezar Peluso, Tribunal Pleno, DJ de
10/11/2006)

Examinando detidamente os autos, verifico que o ato reclamado


considerou a Justiça do Trabalho competente para o julgamento de
reclamação trabalhista, cuja pretensão dirige-se ao cumprimento de
decisão judicial que condenou a reclamante à incorporação de
percentuais nos vencimentos dos ora reclamados referentes a planos
econômicos do período em que eram regidos pela CLT, no qual se
discutia a ocorrência, ou não, da transmudação desse regime para o
estatutário, a partir da vigência da Lei 8.112/1990, que instituiu o Regime
Jurídico Único.

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Trata-se de situação específica, em nenhum momento analisada no


julgamento da ADI 3.395 MC, razão pela qual ela não guarda relação de
estrita pertinência com o ato reclamado, necessária ao cabimento da
reclamação. Nesse sentido é a jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal:

AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO. CAUSAS


INSTAURADAS ENTRE O PODER PÚBLICO E SERVIDOR
CONTRATADO SEM CONCURSO PÚBLICO, ANTES DA
CONSTITUIÇÃO 1988, SOB A ÉGIDE DA CLT. AFRONTA À
ADI 3.395 MC/DF. INEXISTÊNCIA. DEBATE ACERCA DA
NATUREZA DO VÍNCULO LABORAL DO SERVIDOR.
INVIABILIDADE NESTA VIA PROCESSUAL. AGRAVO
REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. A reclamação ajuizada por alegado desrespeito à ADI
3.395-MC não comporta discussão acerca da natureza do
vínculo estabelecido entre o Poder Público e o servidor.
2. A situação veiculada nestes autos não se insere no
âmbito de abrangência do comando liminar proferido na ADI
nº 3.395. Tal decisão só impede que a Justiça do Trabalho julgue
demandas fundadas em relações estatutárias ou jurídico-
administrativas entre o poder público e seus servidores. In casu,
no entanto, o servidor foi contratado sem concurso público,
antes da CRFB/88, sob o regime celetista.
3. Agravo regimental a que se nega provimento. (Rcl
15.211 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, DJe de
15.10.2014)

Confiram-se ainda, os seguintes precedentes: Rcl 7.415-AgR, Rel.


Min. Cezar Peluso, Tribunal Pleno, DJe de 9.4.2010; Rcl 18.396 AgR, Rel.
Min. Luiz Fux, Primeira Turma, DJe de 12.11.2014; Rcl 15.863 AgR, Rel.
Min. Luiz Fux, Primeira Turma, DJe de 24.11.2014; Rcl 15.719 AgR, Rel.
Min. Dias Toffoli, Tribunal Pleno, DJe de 12.11.2013; Rcl 10.919 AgR, Rel.
Min. Dias Toffoli, Tribunal Pleno, DJe de 11.09.2013; 19.543, Rel. Min.
Celso de Mello, DJe de 02.06.2015.

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Ademais, ainda que fosse possível ultrapassar o óbice processual já


apontado, a pretensão do reclamante não teria melhor sorte. Veja-se:

CONSTITUCIONAL, TRABALHISTA E PROCESSUAL


CIVIL. SERVIDOR PÚBLICO QUE INGRESSOU NOS
QUADROS DO ESTADO DO PIAUÍ, SEM CONCURSO,
ANTES DO ADVENTO DA CONSTITUIÇÃO DE 1988.
RELAÇÃO CELETISTA. COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR
E JULGAR A CAUSA. JUSTIÇA DO TRABALHO. ART. 114, I,
DA CF/88, NA REDAÇÃO DA EC 45/04. PRECEDENTES.
INAPLICABILIDADE DO DECIDIDO NA ADI 3.395-MC (REL.
MIN. CEZAR PELUSO, PLENÁRIO, DJ DE 10/11/2006) E NO
RE 573.202 (REL. MIN. RICARDO LEWANDOWSKI, DJE DE
5/12/2008). RECOLHIMENTO DO FGTS.
CONSTITUCIONALIDADE DO ART. 19-A DA LEI 8.036/90.
FUNDAMENTAÇÃO RECURSAL DEFICIENTE. INCIDÊNCIA
DO ÓBICE DA SÚMULA 284/STF.
1. O Plenário do Supremo Tribunal Federal, na ADI 3.395-
MC (Rel. Min. CEZAR PELUSO, DJ de 10/11/2006) referendou
decisão que concedera medida liminar para, conferindo
interpretação conforme a Constituição, suspender qualquer
interpretação dada ao art. 114, I, da CF/88, na redação da EC
45/04, que incluísse na competência da Justiça Trabalhista
demandas instauradas entre o Poder Público e os servidores a
ele vinculados por relação jurídica de natureza estatutária.
2. Posteriormente, com base nesse precedente e em
diversos julgados do Tribunal, o Pleno, ao apreciar o RE 573.202
(Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, DJe de 5/12/2008, Tema
43), submetido ao regime do art. 543-B do CPC, explicitou
estarem excluídas da Justiça do Trabalho as causas instauradas
entre o Poder Público e seus servidores submetidos a regime
especial disciplinado por lei local.
3. O caso dos autos não se subsume a nenhuma das
hipóteses enfrentadas nesses precedentes. Não se trata de
vínculo subordinado a relação estatutária e nem de trabalho
temporário submetido a lei especial. Trata-se, sim, de contrato

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de trabalho celebrado em 1972, em época em que se admitia a


vinculação, à Administração Pública, de servidores sob regime
da CLT. A competência, portanto, é da Justiça do Trabalho.
4. Agravo regimental a que se nega provimento. (ARE
834.964 AgR, Rel. Min. Teori Zavascki, Segunda Turma, DJe de
06.04.2015)

Ante o exposto, com base no art. 161, parágrafo único, do RISTF,


julgo improcedente a reclamação, prejudicado o pedido de liminar.

Publique-se.
Brasília, 3 de fevereiro de 2017.

Ministro EDSON FACHIN


Relator
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