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Dois terços da superfície terrestre são ocupados pelo mar.

A zona de transição entre o


domínio continental e o domínio marinho é uma faixa complexa, dinâmica, mutável e que
está sujeita a variados processos geológicos – a faixa litoral ou costeira.

A ação mecânica das ondas, das correntes e das marés são importantes fatores
modeladores destas áreas, cujos resultados são formas de erosão ou formas de
deposição.

As formas de erosão resultam do desgaste provocado pelo impacto do movimento das


ondas sobre a costa – abrasão marinha –, sendo mais notórias nas arribas.

As formas de deposição resultam da acumulação dos materiais arrancados pelo mar ou


transportados pelos rios, quando as condições ambientais são propícias. Resultam praias
ou ilhas-barreiras.

Arribas:

Tipo de costa constituído, geralmente, por material rochoso consolidado, com inclinação
acentuada (variando entre os 15º e os 90º), com pouca ou nenhuma cobertura vegetal.

Devido às forças erosivas predominantes – os fenómenos de abrasão marinha – formam-


se estruturas características como a plataforma de abrasão, as cavernas, os leixões e os
arcos litorais.
Formas características de uma costa em arriba

As plataformas de abrasão são superfícies aplanadas e irregulares muito próximas do


nível do mar. Resultam do desmoronamento das arribas, pelo que são constituídas por
blocos e sedimentos de grandes dimensões.

Formação de uma plataforma de abrasão


Podem ser consideradas mortas ou vivas:

– as arribas mortas ou fósseis já não são trabalhadas pela ação do mar;

– as arribas vivas ainda estão a sofrer a ação modeladora da água do mar.

Os fenómenos de abrasão são acelerados quando as ondas do mar transportam


sedimentos, que chocam de

Praias:

São estruturas onde ocorre a deposição de sedimentos de variados tamanhos e


formas.

São locais muito frágeis, tanto do ponto de vista ecológico, como geológico.

Em algumas, podem observar-se estruturas características, como as dunas:

– são estruturas muito importantes porque impedem naturalmente o avanço das águas
do mar para o interior dos continentes;

– são ecossistemas únicos onde há elevada biodiversidade.


Praia com dunas

Praias altas ou arribas baixas:

Conceito utilizado por alguns autores para classificar os locais com


características intermédias entre as arribas e as praias.

Evolução do litoral

As zonas litorais são:

espaços privilegiados para atividades culturais, desportivas, económicas,


turísticas e de lazer, sendo reconhecidos pela sua importância paisagística,
patrimonial e ecológica;

locais de grande concentração populacional;

valiosos recursos naturais, insubstituíveis e não renováveis;


zonas extremamente dinâmicas, estando constantemente a sofrer evolução:
algumas formas modificam-se, mudam de posição, umas desaparecem e outras
aparecem;

sistemas que se encontram em equilíbrio dinâmico e que resultam da


interferência de inúmeros fatores, quer naturais quer antrópicos.

Fenómenos naturais que interferem com a dinâmica da faixa litoral:

a alternância entre regressões e transgressões marinhas, com as respetivas


subidas e descidas do nível médio da água do mar;

a alternância entre períodos de glaciação e interglaciação, que provoca


variações no nível médio das águas do mar;

a deformação das margens dos continentes, que resulta de movimentos


tectónicos que podem provocar a elevação ou o afundamento das zonas litorais.

Fenómenos antrópicos que interferem com a dinâmica da faixa litoral:

o agravamento do efeito de estufa, que induz um aumento da frequência e


intensidade dos temporais, um aumento da temperatura do planeta e a
consequente fusão das massas geladas, que leva à expansão térmica da água
dos oceanos;

a ocupação, por vezes excessiva, da faixa de litoral com estruturas de lazer e de


recreio, com a implementação de estruturas pesadas de engenharia;
a diminuição da quantidade de sedimentos que chegam ao litoral, devido à
construção de barragens nos grandes rios;

a destruição das defesas naturais, em consequência do pisoteio das dunas, da


construção desordenada, do arranque da cobertura vegetal e da extração de
inertes para a construção civil.

Como consequência dos fenómenos naturais e antrópicos, os litorais do globo terrestre


estão a sofrer um processo de erosão acelerado, que está a provocar:

– a ameaça de muitos locais pelo avanço das águas do mar, pondo em risco vidas e
bens públicos e privados;

– a destruição de zonas de habitação e turismo e também a destruição de zonas de


grande importância ecológica, com a devastação de habitats e a alteração de rotas
migratórias;

– diminuição dos locais onde ocorre sedimentação;

– maior exposição das arribas e das praias à ação abrasiva do mar.

Medidas de prevenção:

Para promover a proteção e defesa destas áreas, são efetuadas intervenções como
os paredões, os enrocamentos, os quebra-mares, os molhes e os esporões.
Paredão

Enrocamento
Quebra-mar

Esporão

Estas medidas apresentam diversos inconvenientes:

são obras de custos elevados, tanto na construção como na manutenção;

provocam impactos negativos no litoral, como a alteração da estética da


paisagem, e, a longo prazo, podem tornar-se estruturas de risco;

apenas oferecem proteção local e reduzida no tempo.

Outra medida utilizada é a alimentação artificial de sedimentos em determinadas praias


sem criar perturbações na dinâmica local. Apresenta as seguintes características:

– é menos agressiva para a paisagem;


– é dispendiosa mas é mais económica do que as obras de engenharia;

– em litorais muito energéticos este processo pressupõe uma contínua e sistemática


alimentação de sedimentos.

Porque o litoral português é uma área de grande fragilidade e sensibilidade, para inverter a
erosão e combater a artificialização procedeu-se à elaboração de planos específicos de
atuação – os POOC: Planos de Ordenamento da Orla Costeira. Os objetivos principais
destes planos são:

– identificar as áreas de risco potencial;

– promover a reabilitação das áreas afetadas;

– requalificar as praias balneares;

– equacionar as medidas a tomar nas áreas afetadas;

– estabelecer regras para a reutilização da orla costeira.

Recentemente foi elaborado o programa FINISTERRA – Programa de intervenção na Orla


Costeira Continental. Com o objetivo primeiro de requalificar e reordenar o litoral
português, o plano inclui as seguintes medidas:

– recuperação das dunas;


– alimentação artificial das praias;

– estabilização das arribas;

– manutenção e construção de esporões e muros de proteção e, também, demolição


e remoção de estruturas localizadas em áreas de risco.

Para se proceder a um ordenamento sustentável de todas as zonas costeiras, é


necessário uma compreensão profunda dos diversos processos geológicos que
condicionam a evolução do litoral.

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