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artigo sobre o mercado.

Por outro lado, economistas, advoga-


dos antitrustes, e outros especialistas sobre o comporta-
mento do mercado conhecem pouco sobre o impacto do
mercado sobre a admínístração das empresas" (grifos
1. Introdução; nossos). 1
2. Padrões de competição e estrutura de mercado;
3. Estratégia empresarial e estrutura organizacional; A efetivação de uma análise com essa ótica pressu-
4. Conclusão. põe, em primeiro lugar, o estabelecimento de um cons-
tructo teórico, objeto do presente ensaio, que, traduzido
num esquema conceitual básico, sirva de referência para
futuras pesquisas aplicadas.

Estratégia empresarial e Chandler, ao perceber que em resposta a mudanças


na tecnologia, renda, população (. .. ), as empresas ado-

estrutura organizadonal tam diferentes padrões de crescimento (estratégias)


expansão de volume, dispersão geográfica, integração

sob a ótica mercadológica* vertical e díversífícação - seguidos de alterações na ma-


neira de organizarem-se (estrutura) - posto administrati-
vo, escritório central, estrutura funcional e estrutura
multidivisional - como meio de enfrentar os novos pro-
blemas administrativos, formula a seguinte hipótese:

Luis Eduardo Potscn de Carvalho e Silva nA estrutura organizacional segue a estratégia de cresci-
Professor assistente no Departamento de Administração da
mento da firma, sendo os tipos mais complexos de estru-
FEA/USP, da Escola Superior de Propaganda e Marketing e tura resultado da concatenação de diversas estratégias bá-
das Faculdades Integradas Alcântara Machado. Consultor na sicas. ,,2
ârea de estratégia empresarial.
No enfoque téorico adotado neste estudo, essa cres-
cente complexidade nas estratégias e estruturas das em-
presas é fenômeno inserido no contexto do processo de
acumulação - concentração e centralização - de capi-
tais, traduzindo-se em diferentes dinâmicas de crescimen-
to por parte das firmas em particular, e dos setores in-
dustriais em geral, bem como na constituição de estrutu-
ras de mercado com padrões competitivos específicos.
A evolução 'desse processo trouxe significativas
transformações ao modus operandi da economia capita-
Iísta." surgimento da grande empresa; liderança do capi-
"A falta de inclusão (. . .) do moto real tal fmanceiro; profissionalização (Impessoalidade) na ges-
da evolução dos mercados - o progresso tão das empresas; crescimento de uma nova classe média;
técnico e a acumulação de capital - é a olígopolízação dos mercados; mudança nos padrões com-
principal falha da análise tradicional. " petitivos - diferenciação de produto assumindo o lugar
da concorrência por preço etc.
[Jacob Frenkel] O moderno conceito de marketing, a despeito de Ser
apresentado tradicionalmente a partir de uma perspecti-
va externa - adoção de uma filosofia administrativa vol-
1. INTRODUÇÃO tada para satisfazer as necessidades do consumidor" - é
um reflexo, ao nível do mercado, da alteração dos pa-
O presente estudo é uma análise da relação entre estra- drões competitivos citados, conseqüência intrínseca da
tégia empresarial e estrutura organizacional, sob a ótica dinâmica de acumulação capitalista.
mercadológica, não do ângulo da teoria das organizações Cumpre destacar que o conceito de concorrência
e planejamento empresarial, como é usual. adotado neste trabalho não se define a nível de mercado
- número e tamanho das empresas - mas sim como con-
Alfred Chandler, ao fmal de seu clássico trabalho, corrência entre capitais - exigência de livre mobilidade
Strategy and strueture, afirmava: - como destaca Semmler:

"Maiores pesquisas sobre o crescimento e administração "Competição é um conceito derivado da auto-expansão


das indústrias e negócios americanos devem considerar a do capital, que na esfera da produção exige um aumento
importância do mercado. Que a expansão e administra- contínuo de produtividade, através da incorporação do
ção de empresas industriais, numa economia de mercado, progresso técnico; na esfera da realização, crescente
deve estar diretamente relacionada à natureza das mu- market-share; e na esfera da repartição, equalização da
danças do mercado é bastante óbvio. No entanto, muitos taxa de juros."!
autores, trabalhando com os princípios de administração
de empresas, muitas vezes discutem liderança, comunica- Ao con trário da tradição neoclássica, que atribui ao
ção e estrutura, com apenas uma passagem de referência crescimento do tamanho das empresas e conseqüente ali-
Rev. Adm. Empr. Rio de Janeiro, 25 (1); 35-51
jan./mar. 1985
gopolização dos mercados uma diminuição do nível de objetiva, ao invés de decisões voluntaristas, expressas pe-
competição no capitalismo atual, trabalhos recentes, la verbalização dos agentes (executivos).
como é o caso de Clifton, têm contestado essa conclu- Segundo Joan Robínson,? a escola neoclássica ba-
são:
seou-se na substituição da preocupação central da escola
clássica, que fora a acumulação de riqueza (capital), por
"A exigência de livre mobilidade de capital na teoria da uma análise do equílíbrío de oferta e procura num esta-
competição encontra sua mais fidedigna aproximação no do estacionário.
mundo real na estrutura corporativa e na estratégia com- Um dos motivos do declínio da escola clássica, a
petitiva das modernas corporaíões, ao invés da firma oti- partir do fmal do século passado, foi a de não ter conse-
mística da teoria neoclássíca."
guido oferecer soluções para uma série de problemas pu-
ramente teóricos, especialmente da exposição de uma
Certos economistas, como Oliver Williamson,7 têm teoria geral da repartição - lucros e salários - e dos pre-
destacado o papel da estrutura multidivisional das gran- ços, que requeria a determinação prévia de uma medida
des corporações como um "mercado de capital em mi- de valor perfeita - uma mercadoria que encerre, em si,
niatura", que possibilita a contínua transferência de um valor e que esse valor seja, ele pr6prio, invariável.
fundos em direção aos setores mais rentáveis.
David Ricardo morreu em 1772 sem conseguir encontrar
Em síntese, a crescente complexidade da estrutura essa mercadoria, que só foi estabelecida com a publica-
organizacional das empresas é um substituto extrema- ção de Produção de mercadorias por meio de mercado-
mente eficaz para as "imperfeições" do mercado, no pro- rias, de Piero Sraffa, em 1960.10
cesso de alocação de recursos,
Com isso reacendeu-se o interesse pela escola clássi-
ca, em termos de explicar a dinâmica da economia não
Infere-se diretamente dessas colocações a importân- através das decisões voluntárias de produtores e consu-
cia fundamental, para uma análise atualizada das relações midores, mas em termos de um sistema cuja lógica inter-
entre "estratégia empresarial e estrutura organizacional", na é a reprodução ampliada - produção de mercadorias
da inserção dessa discussão no contexto da dinâmica de por meio de mercadorias. Um exemplo desse renascimen-
acumulação do capital mencionada anteriormente, espe- to da abordagem clássica é encontrado no crescente in-
cialmente em termos dos padrões de competição adota- teresse despertado pelas escolas denominadas post-key-
dos.
nesianas e neomarxistas, onde se situam, num contexto
A despeito de a nossa concepção de competição, amplo, nomes como M. Kalecky, J. Steindl, P. S. Labini,
enquanto mobilidade de capital, não refletir um proble- P. Sraffa, J.S. Bain, J. Robinson, J.A. Clifton, N. Shapí-
ma de mercado em si, é ao nível do mercado, momento ro, N.P. Ong, W. Semmler, E. Penrose, O.P. Levine, P.
da realização (venda), que o processo de acumulação se Sweezy, P. Baran.
consuma, dando ao mercadólogo uma ótica ímpar para
captar a dinâmica global do mesmo.
Essa abordagem implica uma nova concepção da fir-
O conceito de marketing, situado no contexto das ma como um "locus de acumulação de capital" ou "uma
diferentes orientações administrativas' - produção, fi- unidade de valor em expansão", no lugar do enfoque
nanças, vendas, mercado, concorrência etc. - adotadas neoclássico de "uma. unidade técnica de produção". 11
pelas firmas ao longo da evolução do capitalismo, ao en-
fatizar o papel crucial dos problemas de mercado, em A alteração da concepção de. firma implica direta-
função das mudanças nos padrões competitivos - dife- mente uma reconcepção das teorias estabelecidas de
renciação de produto e esforço de vendas, no lugar da administração de empresas em geral e da administração
competição por preços - derivadas da própria dinâmica mercadológica em particular, especialmente em termos
da acumulação de capitais, é a tradução mais efetiva de estratégia empresarial, à luz dos pressupostos da teo-
da estratégia básica das empresas. ria econômica clássica ou post-keynesíanas, ao invés da
A teoria mercadológica estabelecida surgiu como escola neoclássica.
um desdobramento da economia neoclássica.. represen- Em termos metodológicos, é dentro deste contexto
tando um grande avanço em relação ao irrealismo dos teórico que se posiciona o nosso estudo: análise das rela-
modelos de concorrência perfeita, racionalidade do con- ções entre estratégia empresarial e estrutura organizacio-
sumidor, maximização da utilidade etc. nal, inserida no contexto do processo de acumulação,
A despeito desse inegável avanço, a mercadologia sob a ótica dos reflexos do processo competitivo a nível
não se libertou dos pressupostos básicos da escola neo- de mercado.
clássica, voltada para conceber o capitalismo não em ter- Somente após a análise do processo de acumulação
mos de uma dinâmica inexorável de acumulação, mas co- - concentração e centralização - de capitais do setor, a
mo um sistema de troca, baseada nas decisões de agentes partir da dinâmica de crescimento das firmas e da indús-
voluntários, tirando daí o seu caráter estático e atempo- tria, dos padrões de competição adotados e da resultante
ralo
estrutura de mercado, se estará em condições de discutir
Evidentemente essa concepção de mercadologia não as relações entre a direção desse crescimento (estratégia)
atende aos objetivos deste estudo, pois não nos interessa e as formas de organização empregadas (estrutura).
saber a priori qual orientação administrativa básica _ Portanto, conforme a proposta de Chandler, citado
produção, finanças, vendas, mercado, concorrência _ no início desse tópico, as características organizacionais
traduz a estratégia de crescimento da empresa, na medi- em si - estrutura divisional, processo de alocação de re-
da em que se concebem essas alternativas como momen- cursos, sistemas de avaliação e recompensa, personalida-
tos necessários do processo de acumulação de capital e, des e carreiras, mecanismos de coordenação etc. não in-
enquanto tal, passíveis de serem captadas como realidade teressam diretamente aos objetivos do nosso estudo _
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Revista de Administração de Empresal
discussão da relação entre estratégia e estrutura sob a óti- versas unidades, estabelece as decisões estratégicas _
ca mercadológica - mas sim a sua relação com a dínâmí- planejamento, avaliação, controle, pesquisa e desenvolvi-
ca do processo de acumulação. mento, investimento e alocação de recursos.
~ nesse contexto que deve ser vista a colocação de
Clifton de que a verdadeira concorrência não se dá a ní-
2. PADRÕES DE COMPETIÇÃO E ESTRUTURA DE vel de mercado em si, mas sim de mobilidade de capital,
MERCADO 12
onde a grande corporação, atuando com diferentes pro-
dutos/mercados, transferindo continuamente capitais
A principal questão colocada pela concepção da fuma dos setores menos para os mais lucrativos, possuindo so-
como um locus de acumulação de capital está na discus- fisticada organização de vendas/pesquisa e desenvolvi-
são das alternativas existentes para a aplicação desses re- mento, dispõe de máxima flexibilidade/intensidade com-
cursos acumulados.
petitiva. Ao contrário, a firma atomrstíca da teoria neo-
Na medida da impossibilidade de contar-se com re- clássica, atuando com um único produto, num único
cursos externos ilimitados, os lucros surgem como a
mercado, por dispor de baixíssima flexibilidade e mobili-
fonte de fmanciamento por excelência da empresa, defi-
dade de capital, caracteriza-se como muito menos com-
nindo o seu potencial de crescimento: lucros retidos, de- petítíva.l"
preciação e empréstimo.
A abordagem neoclássica de que a empresa estabele- Infere-se do exposto que a direção a ser seguida pela
ce em primeiro lugar as necessidades de fundos para fi- empresa, na busca de altemativas para superar o limite
nanciar seus investimentos, distribuindo o restante dos de crescimento da sua demanda atual, dependerá, além
lucros sob a forma de dividendos, é incompatível com a das suas características atuais, do padrão competitivo
concepção de iocus de acumulação. Ao contrário, em existente nos diferentes mercados: competição por preço
função da própria dinâmica da competição capitalista, - indústrias competitivas e indústrias oligopolistas _
a empresa estabelece uma política de dividendos mais ou e/ou competição por diferenciação de produto - indús-
menos exógena, acumulando a diferença. 13 trias diferenciadas e indústrias homogêneas. 17
Ao comparar o seu potencial de crescimento - re- Essa classificação difere da. adotada pela economia
cursos acumulados - com o crescimento da demanda de neoclássica - concorrência perfeita (ou pura), concor-
seu mercado corrente - união de todos os mercados da rência imperfeita ou monopolística, monopólio e oligo-
sua linha de produto - não é difícil surgirem situações pólio (puro e diferenciado) - onde a tipologia das estru-
onde o primeiro supera o segundo, fazendo-se necessária turas é baseada principalmente nas características do
a identificaçâo de outras altemativas de investimento. produto e no número de produtores, enfocando as deci-
Quando o potencial de crescimento interno supera sões individuais dos agentes envolvidos, aceito o princí-
a taxa de evolução de demanda, surgindo esta como um pio de que estas decisões não afetam a estrutura de mer-
limite ao investimento de expansão possível, a empresa cado definida inicialmente.
pode adotar uma das seguintes alternativas: acelerar o
ritmo de crescimento de demanda corrente, aumentar Dentro da concepção de competição discutida ante-
sua participação nos mercados atuais ou modificar a li- riormente, E.A. Guimarães propõe a seguinte taxiono-
nha de produtos atuais ( diversificar). 14 mía."
No âmbito da economia como um todo, a longo pra-
zo, não existem alternativas à empresa senão investir pro- Mercado: demanda por um grupo de mercadorias substi-
dutivamente seus recursos, razão pela qual as análises de tutas próximas entre si.
retomo sobre o investimento se colocam num plano rela-
tivamente secundário - escolha da melhor alternativa em Indústria: grupo de firmas engajadas na produção de
nível similar de prioridade -, sendo superada pelos aspec-
mercadorias substitutas próximas entre si, isto é, forneci-
tos estratégicos na escolha da prioridade em si. das ao mesmo mercado.
A escolha das alternativas para as empresas encon-
trarem aplicação - escoamento - para o excedente, que Indústria competitiva: há competição por preço. Caracte-
supera o crescimento da demanda corrente, não é aleató- rísticas:
ria, fruto de decisões voluntaristas de seus executivos, - não há barreiras à entrada de pequenos produtores;
mas parece obedecer a uma lógica intrínseca, definida - firmas marginais (custo mais elevado) têm taxa de lu-
pelas características da empresa, estrutura dos diversos cro quase nula;
mercados e padrões competitivos' vigentes.
- firmas marginais respondem por parcela significativa
do mercado.
O conceito de firma aqui utilizado não se caracteri-
za pelos seus aspectos jurídicos, mas enquanto "ação de Indústria oligopolista: nao há competição por preço. Ca-
um capital sob comando unificado", quelS pressupõe racterísticas:
controle das decisões estratégicas - objetivo básico a
- existência de significativas barreiras à entrada;
longo prazo e decisões de alocação de recursos. A con-
- existência de significativos diferenciais de custo (eco-
cepção mais desenvolvida da mesma é a estrutura multi- nomias de escala);
divisional, onde divisões operacionais estanques - quase - firmas marginais possuem taxa de lucro significativa e
fumas - especializadas funcionalmente, cuidam da roti- resistência financeira,
na de produção e comercialização - preços, promoção
de vendas, engenharia, pesquisa, necessidades de investi- Indústria diferenciada: há competição por diferenCiação
mento - enquanto a gerência central, coordenando as di- de produto.
Estrat~giaemprellll'Ílll
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Indústria homogênea: não há competição por diferencia- A despeito de inúmeros trabalhos da adequação da
ção de produto. indústria para competirem propaganda, os estudos de
organização industrial têm analisado pouco as condi-
Combinando-se as duas estratégias competitivas - ções20 que respondem pela vocação de uma indústria di-
preço e diferenciação de produto - tem-se uma classifi- ferenciar produto, enquanto fluxo contínuo de inova-
cação mais geral: ções.
Entre essas condições, que estão diretamente rela-
Indústria competitiva homogênea: só competição por cionadas ao conceito moderno de marketing, onde pro-
preço. duto diferente é definido em função de como os consu-
midores o percebem, situam-se em primeiro lugar os pró-
Indústria competitiva diferenciada: competição por pre- prios critérios usados na avaliação desses compradores
ço e por diferenciação de produto. potenciais: número - produtos uni ou multídímensío-
nais, possibilitando ênfase nas diferentes dimensões e pe-
Indústria oligopohstica diferenciada: só competição por sosatríbuídos, com conseqüente segmentação de merca-
diferenciação de produto. do; natureza - objetivo versus subjetivo; capacidade de
avaliar - aspectos técnicos versus senso comum; estabili-
Indústria oligopolistica homogênea: não há competição dade avaliação - duradoura versus efêmera (moda). 21
por preço, nem diferenciação do produto. Em síntese, a competição por diferenciação de pro-
duto, que não deve ser vista como uma questão de opção
o aspecto sui generis da classificação proposta por ou capacidade inovadora das firmas, mas sim função dos
E.A. Guimarães é não partir das características da estru- propósitos específicos de aquisição dos produtos, das
tura de mercado - visão estática - para inferir o com- características tecnológicas e da natureza dos comprado-
portamento das empresas aí atuantes, mas sim o contrá- res, possibilita às empresas aumentarem sua taxa de cres-
rio: classificar as indústrias a partir de um padrão de cimento, além da expansão natural do seu mercado cor-
comportamento defínído a priori e identificar, a poste- rente.
riori, as implicações do mesmo sobre as estruturas de
mercado. 19
o oligopólio diferenciado tem na própria diferencia-
Dentro desse raciocínio, os padrões de competição ção de produto, traduzida na lealdade do consumidor,
devem ser analisados no contexto da sua efetividade para uma forte fonte de barreiras à entrada, que se somam
possibilitar às empresas superarem o limite do crescimento àquelas típicas do oligopólio homogêneo: economias de
imposto pela taxa de expansão da demanda dos seus escala de produção e distribuição, possibilitando vanta-
mercados correntes. gens absolutas de custo.
Assim, as indústrias competitivas, os cortes de preço
são eficazes para "queimar" o excesso de capital, através A competição por diferenciação de produto, mesmo
da expulsão dos concorrentes marginais - produzem a em situações de oligopólio, é difícil de imitar, pelo me-
custos mais altos --, possíbílítando ajustar o potencial. de nos de maneira imediata, trazendo vantagens à empresa
crescimento da indústria - conjunto de todas as empre- inovadora, que não.seriam possíveis através da competi-
sas aí atuantes - à taxa de expansão da demanda. Por ção por preço; devido à rápida resposta da concorrência.
outro lado, essa mesma estratégia de competição por pre- Acrescente-se a isso que, devido ao caráter diferenciado
ço, no caso da indústria oligopolística, em função do ta- dos produtos, traduzido numa baixa elasticidade cruza-
manho e resistência das empresas marginais, perde sua da da demanda, os cortes de preço perdem parte da sua
efetividade como elemento de ajuste - "queima" - do efetividade, em termos de neutralizar os efeitos desse ti-
capital excedente. po de estratégia.
No primeiro caso, tem-se uma queda momentânea
de lucros, compensada pelo aumento de demanda e ex- Os padrões competitivos, característicos de cada
pulsão do capital em excesso; no segundo caso, uma uma das quatro indústrias citadas, são estabelecidos a
eventual guerra de preços - não confundir com decisões partir da comparação entre o potencial de crescimento
estratégicas de cortar preços em conjunto para estimular das empresas e a taxa de expansão da demanda do mer-
demanda - só ocasionaria a queda na taxa de lucro da cado.
indústria como um todo, pois dificilmente seria levada às
últimas conseqüências para expulsar as firmas marginais. 2.1 Indústrias competitivas homogêneas
A competição por esforço de venda genérico, isto é,
que não se relacione com uma política mais ampla de di- N o caso de a demanda crescer acima ou igual à acumula-
ferenciação de produto, tem uma natureza similar à de ção das firmas, o aumento dos preços e conseqüentemen-
um "corte" de preços, a despeito de não provocar rea- te dos lucros, estimula a entrada de novas empresas, bem
ções tão imediatas. como a maior expansão das firmas mais eficientes, ten-
A efetividade da competição por diferenciação de dendo a concentrar o mercado; no caso oposto - poten-
produto não deve ser buscada nem nas características in- cial de crescimento superior à expansão do mercado - a
ternas das firmas - mais ou menos inovadoras - nem na competição por preços expulsa as firmas menores, con-
estrutura de mercado em si - competitivo ou olígopolis- centrando o capital, impedindo que esse tipo de indús-
ta - mas intrinsecamente nos aspectos tecnológicos, fun- tria tenha um excedente crônico de capital. Essa tendên-
ções básicas do produto e natureza do comprador, defi- cia de concentração é obtida através da redução de cus-
nindo uma "vocação da indústria para diferenciação de tos, devido à constante aplicação do progresso técnico
produto" por parte das grandes empresas.ê'
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Revista de Administração de Emprelills
2.2 Oligopólio homogêneo tuações cíclicas e sazonais, bem como de poder ser even-
tualmente empreendida por indústrias competitivas, deve
Mesmo no caso de a demanda superar o potencial de ser entendida em última instância como o resultado dos
crescimento interno das firmas, a existência de barreiras seus (indústrias oligopolísticas) esforços para superar os
significativas toma difícil a entrada de novas empresas. limites impostos à sua expansão pelo ritmo de crescimen-
As empresas diversificadas reagiriam transferindo recur- to do seu mercado corrente.
sos de outros mercados para não perder sua posição. A Ao contrário das indústrias competitivas, que não
situação oposta - potencial de crescimento superior à são. compelidas a diversificar - ir além do seu mercado
expansão do mercado - é mais problemática, não dis- para poder 'crescer -, fazendo-o eventualmente" por uma
pondo os oligopólios homogêneos de nenhum instrumen- questão de maior lucro - retomo sobre o investimento
to interno, como seria a competição por preço, para -, os oligopólios o fazem como uma política constante,
"queimar" o excesso de capital, caracterizando-se por- cujo direcionamento estabelece-se em função dos seguin-
tanto por um excedente crônico de recursos que não en- tes elementos, que vão definir seu horizonte de diversifi-
contram aplicação na própria indústria, exigindo serem cação:
transferidos para outros mercados."
1.Base tecnológica: "cada tipo de atividade produtiva
2.3 Oligopólio diferenciado que emprega máquinas, processos, capacitações e maté-
rias-primas complementares e estreitamente associadas
A existência de um esforço contínuo de P&D - pesqui- no processo de produção.,,26
sa e desenvolvimento - ao representar uma fonte de apli-
cação de recursos, bem como contribuir para expandir a 2. Área de comercialização: "cada grupo de clientes que
demanda corrente, atuaria no sentido de provocar um a firma espera influenciar através de um mesmo progra-
crescimento desse, superior ao potencial de acumulação. ma de vendas ." 27
A entrada de novas firmas para preencher esse hiato
dependeria de superarem as barreiras de economia de es- N a medida em que o sucesso no novo empreendi-
cala e/ou esforço de venda, o que é possível no caso de mento depende da capacidade de a empresa utilizar nova
introduzir-se um produto inovador. Normalmente as tecnologia - custos competitivos, adquirir insumos,
grandes empresas diversificadas impedirão que isso know-how técnico, atrair novos clientes, superar prefe-
ocorra, transferindo recursos de outros mercados e au- rências, competir em padrões adequados, bem como pre-
mentando os investimentos em P&D. ~ curioso notar ver a intensidade e reação dos concorrentes, evitar a que-
que mesmo nas condições de um excesso e conseqüente da na taxa de lucro da empresa como um todo -,adiver-
segmentação de mercado, a ação de um novo entrante sificaçãonão se realiza aleatoriamente, mas possui uma
pode ser feita à custa de uma empresa marginal, com lógica intrínseca que a direciona no sentido de indústrias
conseqüente concentração do setor. A situação clássica situadas próximas "à base tecnológica e/ou área de comer-
do oligopólio diferenciada, no entanto, é a oposta, onde cialização da empresa."
o esforço contínuo de P & D possibilita a obtenção de
lucros de monopólio nas fases iniciais do ciclo de vida de Nesse sentido, diverge completamente o padrão de
um novo produto. A adoção de uma política contínua diversificação dos dois tipos de oligopólio.
de P & O possibilita às empresas mais eficientes tanto es-
timular o aumento temporário da demanda, como roubar 1. Oligopólio diferenciado: A própria política de dife-
participação da concorrência; no entanto, não resolve o renciação de produto, baseada em grandes investimentos
problema global, de um excesso crônico de excedente tí- em P&O, gera como subproduto familiaridade com no-
pico do capitalismo maduro, que só encontra aplicação vas tecnologias e produto, bem como a experiência em
fora da índüstría." comrtir em esforços de venda, especialmente propagan-
da,2 ao invés de somente preço, abrindo um- horizonte
2.4 Indústria competitiva diferenciada de diversificação para essa indústria na direção de outras
indústrias diferenciadas: competitivas e oligopolizadas; as
No caso de a demanda superar o potencial de crescimen- primeiras com menores barreiras à entrada, e as segundas
to, surgem as possibilidades anteriormente analisadas de com maiores taxas de lucro.30
novas entradas, que venham a concentrar o setor, poden-
do até expulsar algumas firmas marginais, em função de 2. Oligopólio homogêneo: A baixa experiência em com-
traduzir, em maior escala de operação, o crescimento petição por diferenciação de produto direciona a diversi-
acumulado de anos anteriores, ocupado por pequenas ficação dessas indústrias em direção à verticalização, bem
empresas. No caso oposto, onde o potencial de cresci- como à retrointegração, possibilitando controle de insu-
mento supera a demanda corrente, a competição por pre- mos estratégicos - redução de custos, melhoria de quali-
ço expulsa as empresas marginais, restabelecendo o equi- dade, diminuição de incertezas nos fluxos e condições de
líbrio. No caso específico dessa indústria, devido à dife- suprimento - que atuam como fortes barreiras à entra-
renciação de produto e conseqüente diminuição da elas- da, como pró-integração, levando a economias de escala
ticidade cruzada da demanda, fazem-se necessários cortes e maior eficiência na dístríbuíção."
maiores de preço do que em relação à indústria competi- Cumpre destacar que a estratégia competitiva ado-
~iva.25 tada, quer interna a um tipo de indústria, quer de diver-
A necessidade de diversificar-se continuamente, em sificação, pode realizar-se, ao invés de diretamente, atra-
termos de ingressar em novos mercados, a despeito de vés de fusões e incorporações, interna ou dtversifican-
contribuir para diminuir riscos e incertezas, atenuar flu- te 32 respectivamente, possibilitando à empresa, no íntuí-
I
Elllrat~gúJ empre8IITÜJI 39
to de melhorar sua posição nos mercados atuais ou in- excedente econômico e, conseqüentemente, sua própria
gressar em novos, adquirir quadros técnicos e gerenciais taxa de expansão, vis-à-vis outras firmas, que é o critério
especializados, alargar a base tecnológica e/ou área de co- de competítívídade,"??
mercialização, evitar excesso de capacidade, superar bar-
reiras - patentes, controle de matérias-primas.
, Como enfatiza Penrose, a fusão não exime a empre- 3. ESTRATÉGIA EMPRESARIAL E ESTRUTURA
sa de possuir quadros administrativos capacitados para ORGANIZACIONAL 38
lidar com os "problemas gerenciais de regular a relação
entre a firma matriz e a sua nova aquisição".33 3.1 Trabalho pioneiro de Chandler
Um caso especial de fusão é o ioint-venture.õ que,
dependendo das cláusulas contratuais, poderá ter liberda- A análise da relação entre estratégia empresarial e estru-
de de atuar como uma empresa em si, com problemas tura organizacional que se intenta realizar deve ser vista
de reinvestimento dos lucros similares aos discutidos, ou, no contexto da afirmação de Clifton anteriormente dis-
inversamente, limitar-se a atuar como divisão operacio- cutida:
nal, cujas decisões estratégicas situam-se no âmbito dos
respectivos acionistas, OCAexigência da livre mobilidade de capital na teoria da
Por mais diversificado que seja um conglomerado, competição acha sua mais fidedigna aproximação no
o capitalismo moderno coloca a questão de superar o mundo real na estrutura corporativa e estratégia compe-
limite imposto ao crescimento, pelo ritmo da expansão titiva da moderna corporação do que na firma atomística
do mercado, que não pode ser resolvido a longo prazo da teoria neoclássica."39
pela simples transferência de recursos entre mercados
oligopolizados, exigindo um movimento diversificante Essa afirmação coloca diretamente a influência das
contínuo em direção a indústrias competitivas ou a aber- condições competitivas - aspectos mercadológicos - na
tura de novas indústrias, provocando sucessivas mudan- relação entre estratégia empresarial e estrutura organiza-
ças na estrutura desses mercados, em direção à concen- cional, ao longo da evolução histórica do modo capitalis-
tração e centralização de capitais. ta de produção.40

É curioso perceber, ao contrário da visão neoclãssica Alfred Chandler,"! analisando a evolução histórica
de alocação ótima de recursos escassos baseada na análise do capitalismo americano, constatou que inicialmente as
do retomo sobre o investimento - eficiência marginal do firmas eram unidades com plantas de produção, escritó-
capital - que as empresas, na prática, tendem a crescer a rios de venda, armazéns, atuando num único ramo de ne-
capacidade' instalada na frente da demanda, e mesmo gócio, num único local e realizando uma única função -
transferir recursos de outros mercados, quando a acumu- fabricação, venda por atacado, venda a varejo.
lação interna é insuficiente como meio de garantir posi- O primeiro tipo de estratégia de crescimento tradu-
ção contra a ação de concorrentes, demonstrando a con- ziu-se numa simples expansão do volume de operações,
cepção da firma como um "locus de expansão de capi- mas sem mudança na natureza das mesmas, mas que
tal",35 que traduz melhor a realidade do que as aborda- criou a necessidade de uma alteração estrutural: criação
gens do tipo "adaptação a um ambiente externo". de um posto admínístratívo.
O movimento de diversificação leva a um reposicio- Em seguida; a estratégiá de crescimento baseou-se na
riamento do conceito de concorrêncía'" entre conglo- expansão geográfica, através da criação de várias filiais,
merados, pois, na medida em que esse movimento não é no mesmo ramo de negócio e função, ocasionando um
aleatório, empresas de um mesmo mercado seguirão ca- aumento nos problemas administrativos, que exigiu nova
minhos similares em direção a novos mercados, e as em- alteração estrutural: coordenação centralizada e estabele-
presas desses, caminhos inversos em direção àqueles, le- cimento de padrões,
vando a um confronto e rivalidade que transcendem in- A próxima estratégia de crescimento baseia-se na in-
dústrias e mercados específicos. tegração vertical de outras funções - as fábricas criaram
Na medida em que essa competição transindustrial seus próprios armazéns, operações de atacado, força de
tende a afetar as estratégias competitivas em indústrias vendas -, mantendo-se no mesmo ramo de negócio, acar-
individuais, como é o caso de políticas de preços basea- retando novos problemas administrativos, tais como o ba-
das em subsídios cruzados e discriminação predatória, lanceamento seqüencial de funções interdependentes, le-
ou os subprodutos dos esforços de P&D e propaganda, vando a nova mudança estrutural: surgimento de organi-
não basta às empresas posição dominante em uma indús- zação funcional, voltada para gerenciar as diferentes ati-
tria isolada, mas sim num grupo de indústrias mais am- vidades, através do desenvolvimento de previsões, planos
plo, ou mesmo no contexto da economia como um todo, e técnicas de balanceamento.
em função de os caminhos diversificantes de diferentes
empresas nunca serem exatamente iguais. A última estratégia de crescimento constatada por
Essa idéia de competitividade entre firmas diversifi- Chandler foi a diversificaçlo de produto, quando as em-
cadas é bem traduzida na seguinte colocação de Clifton: presas ingressaram em novas indústrias, visando empregar
os recursos existentes quando os mercados primários de-
"Não é tanto a capacidade da firma em manter as partici- clinavam, provocando uma série de novos problemas
pações de determinadas mercadorias em determinadas in- administrativos - avaliação e acompanhamento das ope-
dústrias que é fundamental para sua competítívídade rações a curto prazo dos diversos produtos, concomitan-
vis-à-vis outras firmas altamente desenvolvidas. Antes, é te com a análise das decisões de alocação de recursos a
sua capacidade para manter sua participação no valor do longo prazo - exigindo nova mudança estrutural: criação
40
Revista de A.dmiltutraç6o de Empl'f!9IlI
da estrutura multidivisional, baseada na divisão de traba- 3.2 Modelo ampliado de Chandler
lho em relação à dimensão tempo - decisões estratégicas
(longo prazo) e decisões operacionais (curto prazo) - Após o trabalho pioneiro de Chandler, surgiram diversas
onde o escritório central, composto de gerentes gerais - pesquisas procurando estudar a relação entre estrutura e
usualmente grupos de executivos - cuidava do planeja- estratégia, apresentando diversas extensões e refínamen-
mento das decisões estratégicas da corporação como um tos às conclusões iniciais, de modo especial adicionando
todo e do controle intemo de desempenho das divisões as variáveis competição e performance econômica, como
operacionais; mas sem envolvimento nas atividades do mostra a figura 1.
dia-a-dia que eram delegadas aos executivos dessas díví-
soes. Em síntese, controle centralizado e operações des-
Figura 1
centralizadas, diferindo tanto das estruturas funcionais,
Modelo ampliado de Chandler
onde não há especialização em relação ao tipo de decisão
- estratégica ou operacional - como em relação às
holdings ou conglomerados, onde diversas empresas de
propriedade comum atuam de maneira estanque.
- Constatou-se ainda que somente as empresas que di-
versificaram seu ramo de negócio passaram a adotar a es-
trutura multidivisional, enquanto que as demais, que per-
maneceram e cresceram numa única indústria, mantive-
ram a mesma estrutura funcional.

Com base nessas constatações, obtidas através de es-


tudo empírico de 70 corporações americanas, Chandler
formulou as seguintes proposições: Fonte: Reproduzido de Galbraith, 1. R. & Nathanson , D. A. The role of organízational structure
_and process in strategy implementation. In: Schendel, D. E. et alii. Strategy management. Líttle,
Brown, 1979. p. 251.
1. A estrutura organizacional segue a estratégia de cresci-
mento da firma, sendo os tipos mais complexos da estru- OUver Williamson,43 analisando a relação entre mer-
tura resultado da concatenação de diversas estratégias bá- cado e hierarquia, sob uma perspectiva econômica, con-
sicas, especialmente quando as empresas alteram sua es- clui que com o crescente tamanho e complexidade das
tratégia de crescimento visando empregar seus recursos empresas, a estrutura funcional toma-se inábil para alo-
mais lucrativamente em face de mudanças na tecnologia, cação ótima de recursos, concebendo a estrutura multidi-
renda, população, e essas novas estratégias trazem novos visional realizando o papel de um mercado de capitais
problemas admínístratívos.P em miniatura.
O sociólogo James D. Thompson'" sugere que as
2. A relação entre estratégia e estrutura, no caso das em- organizações delimitam domínios em relação ao seu am-
presas americanas, obedeceu à seqüência constante do biente externo que se tomam estáveis quando há consen-
quadro 1. so por parte dos elementos envolvidos: mudanças na tec-
nologia, população e competição colocam em risco essa
Quadro 1 estabilidade, exigindo das organizações mudanças estru-
Estratégia versus estrutura - seqüência de estágios turais para incorporar sob seu ampliado domínio essas
variáveis críticas.
Estratégia Estrutura Atividades Ambas as análises, a despeito da linguagem especí-
fica da economia e da sociologia, traduzem a mesma
Expansão de volume Posto Coordenação idéia básica de Chandler: a estrutura segue a estratégia.
administrativo
Expansão geográfica Escritório Centralização e Nos EUA surgiu um grupo de trabalho que viria a
central padronização
ser conhecido como "The Harvard Studies", voltado pa-
Integração vertical Estrutura Previsões, planos e
funcional balanceamento ra estudar aquela relação nas mais diferentes situações:
Diversificação Estrutura Decisões estratégicas
multidivisional versus operacionais a) maior detalhamento da estratégia de diversificação, vi-
sando distinguir formas mais específicas - produto úni-
co, negócio dominante, negócio relacionado e negócio
3. Os problemas administrativos provocados pela nova não-relacionado."
estratégia só serão resolvidos com a remodelação da es-
trutura organizacional, visando adequá-la à nova estraté- b) estudo de estruturas organizacionais híbridas, situadas
gia. Em caso contrário, a nova estratégia não será total- entre a estrutura funcional e a estrutura multidivi-
mente eficaz, resultando em ineficiência econômica, le- sional;46
vando Chandlera postular a seqüência: criação da nova
estratégia, emergência de novos problemas administrati- c) extensão da pesquisa para englobar países europeus -
vos, declínio na performance econômica, invenção de Reino Unido, França, Alemanha e Itália;47
uma nova estrutura adequada e subseqüente recuperação
dos níveis de lucratividade. Um dos motivos desta demo- d) análise de estratégias internacionais das empresas ame-
ra é que o formulador de estratégia é raramente o criador ricanas e européias, dentro de um grupo de estudos co-
de organizações. nhecido como "Harvard International Project".48

Estrat~giIl empresarial 41
A conclusão geral desses trabalhos era de que quan- encontra-se na chamada teoria da contingência: a despei-
to mais diversificada a estratégia, mais comum o apare- to de a forma de organizar afetar a performance econô-
cimento da estrutura multidivisional, enquanto que para mica, não pode ser determinada a priori, mas somente
empresas de um único negócio mantinha-se a estrutura em função de cada situação.
funcional, colocando-se para situações intermediárias - Neste contexto estão os estudos dos sociólogos .bri-
empresas relativamente diversificadas, mas mantendo um tânicos enfatizando o papel da tecnologia industrial 54 e
negócio dominante - a adoção de estruturas híbridas. da taxa de mudança ambíental" enquanto determinan-
No caso da Europa, notou-se que a estratégia de di- tes da forma organizacional, que, combinados com tra-
versificação era adotada mais rapidamente do que a es- balhos de teoria contingencial da líderança/" processos
trutura multidivisional - empresas com diversificada li- de pequenos grupos,57 sociedades pre-índustríaís'" e do
nha de produtos ainda adotavam estruturas funcionais próprio Chandler, levavam a uma reorientação da proble-
ou holdings - sugerindo a rejeição da proposição de mática de como organizar, cuja formulação mais geral foi
Chandler. feita com a publicação de Organizatton and environ-
ment. S9
A explicação dada, no entanto, foi de que os merca- Na medida em que a principal variável independen-
dos em muitos países europeus eram menos competiti- te usada pelos estudos da teoria da organização - a in-
vos, havendo, portanto, menos necessidade de alocação certeza - para analisar as mudanças da estrutura organi-
eficiente de recursos através da adequação entre estru- zacional, varia no mesmo sentido da diversificação, as
tura e estratégia. Pranko'" notou que nas situações mais conclusões relativas aos aspectos contingenciais da orga-
competitivas, como era o caso do Reino Unido - pouco nização representam outra forma de expressar a proposi-
planejamento governamental, maior penetração de em- ção de Chandler de que a "estrutura segue a estratégia".
presas não-européias e muita ação antitrustre, especial- O trabalho de Lawrence e Lorschestabelecia que as
mente nas indústrias química e farmacêutica - quando firmas mais efetivas levavam a diferenciação funcional ao
comparadas com a França, maior era a adoção de estru- nível das necessidades dos subambientes funcionais e ao
turas multidivisionais. Constatou-se ainda que a estrutura mesmo tempo encontravam mecanismos para integrar es-
organizacional típica das multinacionais européias em sas funções diferenciadas, visando ajustar-se adequada-
1961, denominada por Franko de "mãe-filha" - holding mente ao ambiente global. Essa integração era feita atra-
internacional/funcional doméstica - passou a ser rapida- vés de mecanismos de coordenação, ordenados na dire-
mente substituída por estruturas multidivisionais, a par- ção de complexidade e custo, em função das necessida-
tir de 196~, quando cresce a competição capitalista in- des de situações caracterizadas por maior íncerteza.f'
ternacional.
Stopford constatou.ê? no seu estudo das multína- - hierarquia;
cionais americanas, que para diversificação de produto e - regras;
vendas no exterior inferiores a respectivamente 10% e - estabelecimento de objetivos (planejamento);
50%, as empresas adotam dívisão internacional, com es- - contato direto;
trutura funcional ou multidivisional no mercado interno; - regras de ligação interdepartamental;
fora desses limites, mas com baixa diversificação de pro- - forças-tarefa temporárias;
duto - abaixo de 5%-,divisãoporárea. (geogrâfica);e, - times permanentes;
nas demais situações, divisão de produto mundial. - regras de integração;
Uma extensão natural dos estudos sobre a tese de - departamento de integração.
Chandler foi a incorporação de outras dimensões da es-
trutura organizacional, além do aspecto divisional Quanto maior a atividade de novos produtos, mais
(departamentalização), tais como: grau de centralização, alto o nível de tecnologia e incerteza, maior é a necessi-
processo de alocação de recursos, sistemas de recompen- dade de suprir a estrutura hierárquica com mecanismos
sa. de coordenação interdepartamentais. Portanto, as organi-
Galbraíth," estudando as mudanças estruturais ado- zações cuja estratégia caracteriza-se por atividade inter-
tadas pela Divisão de Aviação Comercial da Boeing Com- departamental, alta incerteza e alta diversificação, irão
PanY, em função de mudanças na estratégia e mercado, selecionar mecanismos de cooidenação mais abaixo da
conclui que a diversidade parece ser melhor gerenciada lista, em relação àquelas cuja estratégia caracteriza-se por
através da estrutura divisional. baixa certeza e diversidade. Em síntese, organizações
O problema da centralização foi estudado por Berg criaram mecanismos de integração visando lidar com pro-
(1965),52 onde a maior descentralização encontrada no blemas de coordenação interdepartamental causados por
caso dos conglomerados foi justificada pela necessidade diversidade de produto e mercado.
de gerenciar maior diversidade, e por Lorsch e Allen,53 A evolução natural desses mecanismos de coordena-
cuja conclusão é de que estratégias caracterizadas por ção traduziu-se no aparecimento de estruturas matriciais
diversidade e incerteza requerem maior descentralização ou simultâneas, que são estruturas onde a organização é
e auto-suficiência das divisões, provocando baixa perfor- simultaneamente por produto e função, ou qualquer ou-
mance, se autonomia não for dada. Estratégias relaciona- tra combinação.
das a interdependência das divisões, tais como integração
vertical, requerem maior esforço de integração corpora- Chandler, ao analisar o caso da General Motors,
tiva, provocando baixa performance, se este esforço de mostrou que a criação da estrutura multidivisional, ne-
integração não for dado. cessária para o gerenciamento da diversificação de ativi-
A grande contribuição dada pela teoria das organiza- dades, fez-se concomitantemente com o desenvolvimen-
ções ao estudo dos problemas de estratégia e estrutura to de diversas práticas contábeis, tais como medidas de
42 Revista de .A.dministraçiio de EmpreSlls
Figura 2 risco que se deseja encorajar, o grau de cooperação com
Organização funcional, matricial, por produto outros gerentes requerido e a diferença entre objetivos
corporativos e divisionais. Ambos esses autores sugerem
que o sistema de recompensa se inicie com a análise das
estratégias organizacionais, visando determinar o com-
Amplitude das alternativas
portamento necessário na implementação dessa estraté-
Influência gia.
do produto na
Influência
tomada de
A comparação entre os sistemas de avaliação de per-
Influência da função
decisão formance entre emfresas diversificadas e integradas foi
I
relativa na tomada
de decisão realizada por Berg" - conglomerados motivados atuam
Orianização funcional .Organização Organização por produto melhor do que os simplesmente coordenados, pois a per-
matricial formance fmanceira é mais importante do que a necessi-
Estrutura autoridade Autoridade Estrutura autoridade dade de cooperação entre divisões - e Lorsch e Allen 6a
A.
funcional
X d al
u X por produto
_ companhias diversificadas recompensam gerentes divi-
sionais contra explícitos objetivos a priori, enquanto que
Força-tarefa de produto Força-tarefa funcional firmas integradas avaliam performance divisional de ma-
B+-------------~*--------------- neira mais informal e menos explicitamente relacionada
a lucro.
.. x
Times de produ to Times funcí on ais
O estudo original de Chandler enfocou a diferença
entre personalidades do formulado r de estratégia e do
Gerentes de produto Gerentes funcionais criador de estrutura, claramente exemplificados, respec-
tivamente, por Billy Durant e Alfred P. Sloan, da Gene-
Depto. de produto Depto. funcional ral Motors.69

Sistema de Basicamente, três grandes linhas de pesquisa têm es-


informação Sistemas relatórios por
Sistema de relatórios de
tado relacionadas com este tema:
C.
funcionais X e relatório X produto •
duais
1. Estudos relacionando variações na personalidade a va-
Fonte: Reproduzido de Galbraith,J. R.& Nathanson,D.A. The role of organízatíonal ... op. cito
riações na tarefa e estrutura.Y mostrando que há alguma
performance, custo-padrão, sistema de relatório, a imple- evidência de relação sistemática entre tipos de pessoas,
mentação de comitês interdivisionais, a criação de novas tipos de estrutura e o grau de incerteza da tarefa. Ou
funções, tais como os grupos executivos, e a ênfase no analisando as conseqüências da falta de adequação en tre
desenvolvimento das habilidades de personalidades dis- esses elementos" oride se presume que essa congruência
tintas: aquelas que inventam estratégia e aquelas que provoca maior performance e satisfação nas pessoas. Os
criam estrutura. resultados, no entanto, não são conclusivos.
Dentro dessa linha de raciocínio, os estudos sobre
estratégia e estrutura têm-se dirigido no sentido de anali- 2. Estudos sobre carreiras, desenvolvimento de gerentes e
sar os processos de alocação de recursos, sistema de ava- desenvolvimentos de carreiras.P mas explorando pouco
liação e recompensa e os padrões de personalidade e car- como as variações na estratégia e estrutura estão relacio-
reira no contexto daquela relação. nadas com variações no desenvolvimento gerencial. Eds-
Ackerman'" notou que as empresas integradas verti- trom e Galbraith 73 sugerem que o maior número de
calmente adotavam um padrão de alocação de recursos, transferências de diferentes nacionalidades relaciona-se
onde não só a aprovação, como os estágios de definição com estrutura subsidiária descentralizada, enquanto
e impulso inicial, eram mais centralizados. Berg62 consta- Pitts 74 destaca que a maioria das organizações que ope-
tou que os conglomerados, por possuírem normalmente ram estruturas matriciais encorajam experiências multidi-
uma estratégia mais diversificada do que as empresas visionais e multifuncionais.
multidivisionais, adotam um sistema de alocação de re-
cursos mais descentralizado, usando poucos sofisticados 3. Uma terceira abordagem é a adotada pelas empresas
sistemas de planejamento financeiro e controle de infor- de consultoria, que comercializam pacotes estratégicos
mações. Pitts63 enfatiza que as empresas que se diversifi- para empresas multidivisionais, cuja ênfase é adequar o
caram intemamente são caracterizadas por grandes staffs gerente da divisão de produto com o estágio no ciclo de
corporativos, maior número de transferências interdivi- vida ou sua classificação como "estrela" ou "vaquinha
sionais, mais subjetiva avaliação de performance; em sín- leiteira", a partir de uma classificação indefinida das pes-
tese, maior participação interdivisional dos recursos, ao soas como empreendedor, gerente sofisticado, "leiteiro"
contrário da diversificação por aquisição, onde se man- oportunista. 75
tém alta autonomia divisional, suporte financeiro, capa- Ao contrário das abordagens que analisam o impac-
citação em gerência geral e objetivos de performance. to das estratégias de produto e mercado, isoladamente,
Lawler'" constatou que quando o pagamento de re- em relação a cada uma das dimensões da estrutura orga-
compensas é relacionado a resultados, ele motiva al- nizacional, tem-se desenvolvido recentemente o conceito
ta performance, conclusão contestada por Meyer.65 de congruência, que enfatiza a consistência daquelas vá-
Salter'" sugere que as políticas de gratificação estejam rias dimensões - estrutura departamental, sistema de
relacionadas com o horizonte de tempo de tomada de avaliação e recompensa, processo de alocação de recur-
decisão - curto versus. longo prazo -, a quantidade de sos, personalidades, carreiras - levando Scott 76 a carac-

EstratégiIJ empresarial 43
terízá-lo como um "conjunto de características geren- mance econômica, ou que as empresas que adequam es-
ciais", um "estilo de gerência" ou mesmo um "estilo tratégia e estrutura têm melhor performance que as que
de vida", em função do estágio de desenvolvimento or- não o fazem. De modo especial, é preciso cuidado em
ganizacional. analisar a direção da causação; o problema estrutural po-
Além da incorporação do conceito de processo or- de ser tanto causa como conseqüência da performance
ganizacional às dimensões estáticas da estrutura, e da dis- econômica.
cussão sobre congruência, a proposição de Chandler tem A hipótese de que a estrutura organizacional deve
sido ampliada com a inclusão das variáveis competição ajustar-se ao ambiente no qual a firma está operando -
e performance econômica. teoria da contingência - como meio de atingir eficiência,
tem sido constatada em diversas situações; Lorsch e
De maneira geral, diversos estudos realizados, anali- Allen,88 estudando relações corporatívas-dívisionais, de-
sando o comportamento de firmas americanas," euro- monstraram que baixa performance desviava-se de ótima
péias em geral,78 indianas.P mexicanas e italianas,ao adequação, e alta performance não; Lorsch e Allen acha-
com ênfase na influência da tecnología'" ou da amplitu- ram que alta performance em tarefas de rotina tem es-
de de controle adotada,1I2 têm convergido no sentido de trutura mecanicista, e em tarefas não rotineiras estrutura
que competitividade afeta estrutura e processo organiza- orgânica; Childll~ estabeleceu que firmas de alta perfor-
cional, na direção de maior descentralização e formali- mance delegam autoridade mais rapidamente quando
zação, levando à melhor performance econômica. crescem do que as de baixa performance; Negandhi e
Negandhi e Reímann'" e Simonetti e Boseman'" Reimann e Simonetti e Bosemanõ' encontraram que, em
testaram a relação entre estrutura, competição e perfor- ambientes competitivos, descentralização conduz à alta
mance, baseados na hipótese de que as firmas mais des- performance, presumindo que as necessidades operacio-
centralizadas eram mais efetivas nos mercados competi- nais necessitam ser descentralizadas em situações compe-
tivos e as centralizadas nos mercados pouco competiti- titivas mais dinâmicas para adequar-se ao ambiente.
vos. Somente no primeiro caso - condições competi- A despeito dessas conclusões que sustentam a hipó-
tivas .: a relação foi constatada; baixa competítívidade tese de contingência, existem diversos problemas: em
não se relacionou diretamente com eficiência, apenas primeiro lugar, não é clara a direção da causação, pois
com performance econômica, concordando com os es- tanto baixa performance pode provocar centralização,
tudos sobre barreiras à entrada.85 comovíce-versa; em segundo, a importãncia da estrutura
Diversos estudos têm examinado as relações entre as não é clara, a relação da estrutura com performance eco-
variáveis estratégia, estrutura e performance, comparan- nômica tem sido achada fraca ou forte, como mostrado
do-as duas a duas, ou mesmo as três em conjunto, mas por Poensgen (1974) e Cable e Steer;?' em terceiro, há
sem realizar uma análise de variância, que permite isolar dois estudos que não suportam a hipótese de que organi-
os efeitos individuais dos efeitos produzidos pela intera- zações descentralizadas operam melhor em ambientes in-
ção. certos (Mohr, 1971;Pennings, 1975).92
Rumelt'" testou a relação entre estratégia - estru-
tura e performance econômica, completando as conclu- Recentemente, a congruência entre estrutura orga-
sões das pesquisas de Harvard que mostram a diversifi- nizacional, processos e sistemas tem sido considerada fa-
cação das grandes firmas do mundo ocidental e a adoção tor mais im~ortante do que adequação com o ambiente.
contínua da forma multidivisional para gerir a diversida- Khandwalla 3 achou que as firmas mais eficientes eram
de, suportando a tese de que estrutura segue estratégia, aquelas que adotavam redutores de incerteza, estrutura
mas falhando em comprovar que alta performance está interna diferenciada, procedimentos formalizados e deci-
associada com adequação entre estratégia e estrutura, su- sões descentralizadas, tudo em proporção equilibrada,
gerindo duas alternativas: ou performance econômica sugerindo que o global (gesta/t) era mais importante do
não está relacionada com a congruência estratégia-es- que os fatores isolados; Child94 constatou que duas li-
trutura ou faz-se necessário o controle da variável estágio nhas aéreas internacionais, possuindo rotas, tamanhos e
no ciclo de vida em pesquisas futuras. enfrentando problemas similares, adotavam práticas e es-
Cable e Steer87 estudaram a performance econômica truturas administrativas completamente distintas, a des-
de 82 empresas inglesas, usando como variável indepen- peito de serem igualmente lucrativas.
dente os imprecisos conceitos de forma organizacional A despeito de estudos que sustentam as hipóteses de
ótima - estrutura multidivisional, com separação das ati- contingência e congruência estrutural, fazem-se necessá-
vidades corporativas e divisionais baseada no horizonte rios outros estudos para conclusões mais defmitivas.
de tempo, e organização funcional em um üníco negócio
- e de forma organizacional não-ótíma - holdings, mul- 3.3 Modelos de crescimento
tidivisional com pessoal corporativo muito envolvido nas
atividades divisionais, e formas funcionais diversificadas As conclusões desses estudos empíricos têm sido utiliza-
- concluindo que a forma organizacional pode explicar das na construção de modelos que tentam explicar e pre-
entre 7 e 9% o retorno financiero. Cumpre destacar, na ver a sucessão de estágio, em termos de relação entre es-
entanto, que o envolvimento do pessoal corporativo po- tratégia e estrutura, seguidos por empresas no seu pro-
de ser a conseqüência, não a causa, da baixa performance, cesso de crescimento.
Em síntese, os estudos realizados sustentam a hipó-
tese de que estratégia e estrutura estão relacionadas _ 3.3.1 Modelo de Chandler'"
diversificação conduz à estrutura multidivisional, desde
que se controle a variável competição - mas não foi ain- A firma inicia-se com um único produto, uma única fun-
da demonstrado que estrutura contribui para perfor- ção, em uma única região; em seguida a adoção de mül-
44
Revista de Administração de Empresas
Figura 3 multidivisional (por produto, mercado ou região) - que
Estratégia e estrutura teoricamente podem aparecer tanto na forma doméstica
como global (internacional).
Os estudos de Stopford e Wells e Pranko," que ana-
lisaram as estratégias internacionais das empresas ameri-
Estágio III Firma multidivisional
canas e européias respectivamente, sustentam esse mode-
lo, em termos da sucessão de etapas seguidas em direção
.--. +-- -,---, Diversificação
à estrutura global: as empresas americanas, devido à com-
petição no mercado interno, primeiro adotaram estrutu-
ra divisional interna, integrando em seguida as suas sub-
Organização funcional
sidiárias externas numa divisão internacional, antes de
Estágio 11
atingir uma estrutura global; as empresas européias, devi-
do à baixa competição interna, partiram de uma holding
.--.-------t-------,--, Integração (mãe-filha) externa acoplada a uma estrutura funcional
vertical doméstica, diretamente para uma estrutura global, ao
mesmo tempo que se divisionalizaram internamente.
Estágio I Firma individual
3.3.4 Modelo de Oalbraíth/Nathanson'"

.----.------\--------,----, Expansão A empresa inicia com um único produto, função e loca-


geográfica lização, adotando uma estrutura simples; com o cresci-
mento do tamanho, levando à divisão do trabalho, surge
Unidade de campo uma organização funcional simples; a partir daí, existem
três alternativas de crescimento - integração vertical, le-
Fonte: Reproduzido de Oalbraith , J .R. & Natbanson, D.A. The role of organízatíonal ... op, cito vando à estrutura centralizada funcional; crescimento in-
p.250. terno, através da diversificação relacionada, ocasionando
tiplas regiões (estágio I), depois múltiplas funções (está- adoção de estrutura multidivisional; ou diversificação
gio 11) e,porúltimo,múltiplos produtos (estágio I1I). não-relacionada, através de crescimento da aquisição,
A característica do modelo de Chandler é que a adi- acarretando a constituição de uma holding ou conglome-
ção de novas fontes de diversidade resulta em maior rado; a adoção de estratégia da diversificação relaciona-
complexidade, exigindo metamorfoses de organização ao da, a partir de uma estrutura centralizada funcional, de-
longo de estágios. vido à dificuldade da mesma em lidar com a diversidade,
Figura 4
3.3.2 Modelo de Salter'" Sumário do modelo de estágio de Galbraith/Nathanson

A diferença deste modelo para o de Chandler situa-se na


subdivisão do estágio III - diversificação ou adição de
distintos centros de lucro - em dois outros: estágio 3 -
centro de lucro regional - e estágio 4 - centro de lucro
por produto.
A passagem de um centro de lucro regional para ou-
tro baseado em produto não parece justificar um novo
estágio, que se caracteriza por uma mudança no "estilo
de vida" - estrutura, processo, recompensa, pessoas -
da organização.

3.3.3 Modelo de Stopford?"

Como analisado no início deste item, Stopford concebe


as seguintes alternativas para a organização da operação
das multinacionais: estágio 11 ou estágio Ill, com divisão
internacional - diversidade de produto e vendas externas Expansão
internacional
inferiores a respectivamente 10% e 50%; estágio I1I, com
divisão de área - diversidade de produto abaixo de 5%;
estágio Ill, com organízação mundial de produto, nos de-
mais casos.

Esse modelo considera a organização mundial -


por produto ou por área - no mesmo nível da divisão
internacional, em termos de estágio (III), a despeito de
introduzir uma nova problemática na vida da organiza- ---_ Estratégias conduzindo a nova estrutura
ção. Por isso, ao invés de falar-se em estágio, é mais con- ___+ Modelo de crescimento dominante nas firmas americanas

veniente estabelecer quatro diferentes tipos de organiza-


Fonte: Reproduzido. de Galbraíthç J. R.a Nathanson,D.A. The role oforganizational .. op. cito
rão - simples, funcional, holding (ou conglomerado) e

Estrat~gia empresarilll 45
acarreta a adoção de uma estrutura multidivisional (caso forma mais simples, leva a uma nova forma. Apesar dis-
da Du Pont), que também pode ser atingida a partir da so, existem seqüências dominantes, pois as condições
consolidação do crescimento interno de uma holding ambientais - populacionais, econômicas, tecnológicas,
(caso da General Motors); inversamente, é possível que políticas, guerras - tendem a levar oganizações distintas
uma multidivisional, para explorar economia de escala, a adotar caminhos similares. Corno infere-se das carac-
adote uma estrutura centralizada funcional, ou, adqui- terísticas do modelo, a estrutura de qualquer seqüência
rindo um negócio não-relacionado, transforme-se numa é a concatenação de vários passos - áreas, produ to, mer-
holding (conglomerado); a estrutural global, conseqüên- cado, função - fazendo de cada nível hierárquico um
cia da expansão internacional, pode assumir as formas mecanismo para lidar com urna fonte específica de diver-
multidivisional, funcional ou holding; a passagem da se- sidade. Finalmente, o modelo distingue formas organiza-
gunda para a primeira pode ocorrer devido a uma diver- cionais de estágio, podendo urna determinada forma ser
sificação relacionada, e, no sentido inverso, visando ex- alcançada a partir de estágios distintos.
plorar economia de escala, enquanto que da terceira para Cada um dos tipos de organização - a simples, fun-
a primeira, com intuito de consolidar o crescimento in- cional, holding, multidivisional e global - em relação às
terno, e, no sentido contrário, adquirindo negócios não variáveis - estratégia, relações interunidades e com mer-
relacionados (figura 4). cado, estrutura organizacional, pesquisa e desenvolvi-
A característica desse modelo é a sua flexibilidade, mento, medidas de desempenho, recompensas, carreiras,
não havendo seqüências fixas, pois a adição de qualquer estilo de liderança e controle, escolhas estratégicas - têm
fonte de diversidade - função, área e produto - a urna as características mostradas no quadro 2.

Quadro 2
Modelo ilustrativo de cinco tipos de organização

Tipo S F H M G
Característica Simples Funcional Holding Multidivisional Global M

Estratégia Único produto Único produto e Crescimento pela aquisição Diversificação relacionada Múltiplos produtos
integração vertical de diversificação de linhas de produto - em múltiplos países
não-relacionada. crescimento interno,
alguma aquisição.

~o--. +

9
Relações interunidades
e com mercado

IMKTI ~~ ~~~
~ ~~~ IMKTI IMKTI IMKTI
Estrutura Funcional Funcional central Centros de lucro Centros de lucro por área Centros de lucro
organizacional simples descentralizados em tomo divisional, ou produtos descentralizados em tomo
de divisões de produto, descentralizados de produtos ou áreas
pequenas sedes. dívísíonaís mundiais.

Pesquisa e Pesquisa aleatória Crescentemente Pesquisa institucionalizada Pesquisa ínstítucíonalízada Pesquisa ínstitucionalízada
desenvolvimento nâo-institucionalizada institucionalizada sobre para novos produtos e para novos produtos e para novos produtos que
melhorias de produto melhorias - descentralizada e melhorias - orientação é centralizada e
e processo. por divisões. centralizada descentralizada em centros
de especialização.

Medida de Por contato Crescentemente impessoal Impessoal, baseada Impessoal, baseada em Impessoal com múltiplas
desempenho pessoal subjetivo baseada em custo, em retorno sobre retorno sobre investimento, metas como ROI, lucro
produtividade, mas investimento e lucratividade, com alguma ajustado a produto
ainda subjetiva. lucratividade contribuição subjetiva e país.
para o todo.

Recompensas Não-sistemática, Crescentemente relacionada Bônus baseado em ROI Bônus baseado em lucro Bônus baseado em múltiplas
paternalista baseada com performance em ou lucratividade mas mais subjetivo do metas planejadas. Maior
em lealdade. torno de produtividade igualdade de que a holding - prêmios discrição. Prêmios
e volume. recompensas. em dinheiro. em dinheire.

Carreiras Especialistas em Especialistas funcionais Função cruzada mas Ações funcionais-cruzadas, Interdivisional
função única com algumas ações intradivisional. interdivisionais e intersubsidiárias ações
generalistas interfuncionais divisionais - corporativas. subsidlãrtajcorporação.

Estilo de liderança Controle pessoal de Controle de cúpula de Quase completa delegação Delegação de operações Delegação de operações
e controle decisões estratégicas decisões estratégicas. de operações e estratégia com controle indireto com controle indireto
e operacionais pela Alguma delegação de dentro dos negócios através de resultados. através de resultados
gerência de cúpula operações através de existentes. Controle Alguma descentralização de acordo com o
planos e procedimentos. indireto através de de estratégia dentro plano. Alguma delegação
resultados e seleção de dos negócios existentes. de estratégia dentro de
gerência e fundos países e negócios existentes,
de capital. alguma delegação política.

Escolhas Necessidade do Grau de integração. Grau de diversificação. Alocação de recursos Alocação de recursos
estratégicas proprietário versus Participação de Tipos de negócios. Alvos por negócios. Entrada e através de negócios e países.
necessidades da mercado. Amplitude de de aquisição. Entrada e saída de negócios. Entrada e saída de negócios
firma linha de produto. saída de negócios. Taxa de crescimento. e países, grau de propriedade
e tipo de país envolvido.

Fonte: Reproduzido de Galbraith, J. R. &. Nethanson, D. A. The role of organi:zationaI. .. op. cito

46 Revista de Administração de Empresas


3.4 Estratégia e estrutura: visão atual dler, restaurando a performance e o equilíbrio entre es-
tratégia e estrutura neste estágio (N + 1); ou recuando,
A despeito de as diversas pesquisas empíricas, discutidas voltando à estratégia do nível N, que recupera a perfor-
anteriormente, terem sustentado em diversos casos a hi- mance, e equilibra estratégia e estrutura agora no estágio
pótese de que a estrutura segue a estratégia, a relação N; ou ainda, procurando controlar o ambiente, para re-
não parece ser tão linear como a estabelecida por Chan- cuperar a performance, a despeito do desequilíbrio entre
dler100 - criação de nova estratégia, emergência de no- estratégia - estágio N + 1 e estrutura-estágio N. 102
vos problemas administrativos, declínio na performance
econômica, invenção de uma nova estrutura adequada, e Neste contexto, existem situações em que a estrutu-
subseqüente recuperação dos níveis adequados de lucra- ra segue a estratégia, como ocorre o inverso, isto é, situa-
tividade - da mesma maneira como o modelo de cresci- ções onde a estratégia segue a estrutura. Uma queda de
mento de Galbraith e Nathsnson,'?' adicionaram grande performance, devido a um desajuste entre estratégia e
flexibilidade à rígida seqüência dos estágios I, 11 e III estrutura, poderá tanto ocasionar a mudança da primei-
propostos por Chandler. ra, como da segunda, em função da distribuição de poder
Essas pesquisas adicionaram novas variáveis - com- entre os altos executivos. Por outro lado, não havendo
petição, performance econômica, adequação, congruên- problemas de lucratividade nas atividades atuais, os exe- -,
cia, processo político - que moderam a relação entre es- cutivos nem sempre estarão dispostos a alterar sua estra-
tratégia e estrutura, bem como permitem novas interpre- tégia para empregar mais lucrativamente os recursos da
tações. empresa, em resposta a mudanças ambientais, dependen-
Assim, estabelece-se novo tipo de seqüência sem o do sobretudo das respectivas personalidades - prospec-
caráter rígido da proposta por Chandler, a saber: partin- tor, adaptador ou defensor - que, como estudos recen-
do de uma situação onde estratégia e estrutura estão tes têm demonstrado.l'" podem ser igualmente bem-
equilibradas a um nível N, a empresa, ao adotar uma es- sucedidos, desde que obtenham consistência entre a
tratégia de nível N + 1, para empregar recursos mais lu- estratégia e todos os pontos de estrutura. A direção de
crativamente em função de mudanças ambientais - po- causação real entre esses elementos só poderá ser estabe-
pulação, tecnologia etc. - pode chegar a uma situação - lecida a partir da análise das condições de mercado, per-
caso de monopólio ou controle do ambiente - onde, a fonnance, estrutura de poder, história e perspectiva da
despeito do desequilíbrio, a lucratividade é mantida; ou fírma.'?'
ter uma queda de lucratividade - condições competitivas Em síntese, não é importante discutir a relação de
- que pode ser contornada de três modos - alterando a causação entre estratégia e estrutura, pois em alguns ca-
estrutura para o estágio N + 1, como sugerido por Chan- sos a queda de performance que se segue à adoção de no-
va estratégia exige mudança estrutural, como em outros,
Figura 5 é necessário primeiro uma alteração estrutural - sistema
Esquema de possíveis relações entre estratégia, estrutura e de poder - para criar-se condições de implementar nova
performance estratégia. Tendo em vista a existência de múltiplas solu-
ções para cada situação, o importante é a congruência: a
fírma deve adequar sua estratégia e estrutura, todos os
componentes da estrutura entre si, e a estratégia ao am-
Estágio N Estratégia
Estágio N Estrutura biente.

Adota estágio N+I 4. CONCLUSÕES

Uma vez analisado o processo de acumulação - concen-


EstAgio N+ I Estratégia tração e centralização - de capitais do setor, a partir da
EstágioN Estrutura
dinâmica de crescimento das firmas e da indústria, dos
padrões de competição adotados e da resultante estrutu-
Condições Monopólio ou ambiente ra de mercado, está-se em condições de discutir a relação
competitivas controlável entre a direção desse crescimento (estratégia) e as formas
de organização empregadas (estrutura).
Declínio de I Desequil íbrio I
performance ImantidO - performance
adequada I Portanto, à discussão de relação entre estratégia e
estrutura, sob a ótica mercadologia, não interessam tanto
as características organizacionais em si - estrutura divi-
Muda para
sional, processo de alocação de recursos, sistemas de ava-
N+I Estrutura liação e recompensa, personalidades e carreiras, meca-
nismos de coordenação - mas sim a sua relação com a
dinâmica do processo de acumulação.
Performance Performance Performance
" ••taurada - equilíbrio restaurada - equilíbrio restaurada Como foi discutido anteriormente, a concepção de
atingido no estágio reatingido - desequilíbrio competição que se adota não se situa na estrutura dos
N+l no estãgío N mantido
mercados em si, mas sim em termos de mobilidade de
capital, onde a grande corporação, atuando com dife-
rentes produtos/mercados, transferindo continuamente
Fonte: Reproduzido de GaIbraith J. R. &. Nathanson, D. A. The role oforganizational ... op.cit.
capitais dos setores menos para os mais lucrativos, pos-
Egtratquz emprellllrial 47
suindo sofisticada organização de vendas/pesquisa e de- 4 Kotler, Philip. Administração de marketing - análise, planeja-
senvolvimento, dispõe de máxima flexibilidade/intensi- mento e controle. São Paulo, Atlas, 1975. p. 43.
dade competitiva.
Ao contrário, a firma atomístíca+" da teoria neo- S Semmler, Willi. Competition, monopoly and differentials of
clássica, atuando com um uníco produto, num nníco profit rates: theoretical considerations and ernpirical evidence.
The Review of Radical Potitical Economics, Ann Arbor, 13(4):
mercado, por dispor de baixíssima flexibilidade e mobi- 41, Winter 1982.
lidade de capital, caracteriza-se como muito menos com-
petitiva. 6 Clifton, J. A. Competition and the evolution of capitalism
Em síntese, competição é um conceito derivado da mode of production. Cambridge Joumal of Economics, 1 (2): 138,
June 1977.
auto-expansão do capital,106 que na esfera da produção
exige um aumento contínuo de produtividade, através da 7 Williamson, Oliver. Markets and hierarchies. New York, The
incorporação do progresso técnico; na esfera da realiza- Free Press, 1975.
ção crescente market-share; e na esfera da distribuição
8 Ver Jotler, P. op, cito p. 40 e 41; Kelley , Eugene J. Mercado-
(repartição), equalização da taxa de lucro.
logia: estratégia e [unções. Rio de Janeiro, Zahar, 1974. p. 114
Infere-se, do exposto, o papel desempenhado pela e 115; a orientação para concorrência tem sido formulada em
crescente complexidade da estrutura organizacional ado- Oxenfeldt, Alfred R. & Moere, William L. Customer or compe-
tada pelas grandes corporações, como meio de lidar com tition: which guideline for marketing? Management Review, p.
essa diversidade de produtos e mercados, garantindo a 43-48. Aug. 1978; Sachs, William S. & Benson, George. Is it
time to discard the marketing concept? Business Horizons,
competitividade entre os capítaís.'"?
21 (4): 68-74, Aug. 1978; Trout,Jack & Ries, AI. Posítíonning:
É exatamente dentro deste contexto que concebe- ten years later .Industria Marketing, p. 32-44, July 1979.
mos analisar as relações entre estratégia empresarial e es-
trutura organizacional, sob a ótica mercadológica.
A despeito de a nossa concepção de competição não
9 Robinson, Joan & EatwelI, John. Introdução à economia.
se traduzir num problema de mercado em si, enquanto Rio de Janeiro, Livros Técnicos e Científicos, 1979. p. 40 e 41.
mobilidade de capital, é ao nível do mercado, momento
da realização, que o processo de acumulação se consu- lO Id, ibid. p. 26 e 27 e 220-4.
ma, dando ao mercadólogo uma ótica ímpar para captar
li A .crítica da concepção neoclássica da firma é feita, entre
a dinâmica global do mesmo.
outros, por Shapiro, Nina. The neoclassical theory of the firmo
Daí não nos interessar saber a priori qual orientação Review of Radical Political Economias, winter 1976; e Neli, E.
administrativa básica - produção, finanças, vendas, mer- J. Capital and the firm in neoclassical theory. Joumal of Post
cado, concorrência - traduz a estratégia de crescimento Keynesian Economics, 2(4), Summer 1980; a formulação deta-
da empresa, na medida em que se entende essas alternati- lhada da firma como um locus de acumulação de capital enten-
dida como uma unidade individual de negócios baseada na rela-
vas como momentos necessários do processo de acumula- ção trabalho-capital, em termos de movimento simultâneo de
ção de capital, e enquanto tal passíveis de serem capta- quatro fases - procura, consumo produtivo, realização e acumu-
das como realidade objetiva, ao invés de decisões volun- lação - em quatro relações - seqüência, determinação, condi-
taristas, expressas pela verbalização de executivos. lOS cionamento e contradição - caracterizando o movimento cir-
cular de reprodução do ciclo - acumulação de capital - e de
Metodologicamente, como explicado anteriormente, interdependência das quatro fases, é feito por Barr, Kenneth. On
busca-se entender a estratégia empresarial em geral e os the capitalist enterprise. The. Review of Radical Political Econo.
fenômenos mercadológicos em particular, não como mies, 12 (4), WiÍlter 1981.
fait-accompli a partir de uma visão externa, mas sim cap-
12 Este item está baseado no excelente trabalho de Guimarães,
tando-se a sua própria dinâmica intrínseca.
Eduardo Augusto. Acumulaçá"o e crescimento da firma - um
estudo de organização industrial. Rio de Janeiro, Zahar, 1982,
versão modificada da tese de doutoramento submetida à Univer-
sidade de Londres em 1980. Neste trabalho, Guimarães apre-
"Este artigo é uma adaptação do capo 2 da tese Estratégia empre- senta um modelo recorrente para a análise da dinâmica de cres-
sarial e estrutura organizacional nas emissoras de TV brasileiras cimento das empresas individuais e das respectivas indústrias:
(1950-82), apresentada para a obtenção do tftulo de Mestre inicia analisando a firma como uma entidade isolada; em segui-
à EAESP/FGV em fevereiro de 1983, sob a orientação do Prof, da, examina seu crescimento (condicionado) no contexto da in-
Orlando Figueiredo. O autor agradece aos Profs. Gerald Dinu dústria e do mercado; e, finalmente, volta à firma, agora focali-
Reiss e Yoshiaki Nakano, cujos cursos muito contribuíram para zada como uma entidade diversificada e diversificante, e exami-
sua reflexão sobre o tema. na como ela transcende os limites e os padrões de crescimento de
indústrias individuais (p. 14). Para os objetivos do nosso traba-
lho, interessa particularmente a parte I - Indústria, mercado e
crescimento da fírma em uma economia fechada - constituída
dos seguintes capítulos: 2. O crescimento da firma; 3. Os padrões
de competição em diferentes indústrias; 4. Os padrões de cresci-
mento das diferentes indústrias; 5. A firma diversificada e o
processo de diversificação.

13 Guimarães,E. A. op. cito p. 27.

I Chandler Jr., Alfred O. Strategy and structure, chapters in the 14 Id. ibid. p. 32.
history of industrial enterprise. Cambridge, Mass., The MIT Press,
1966. p. 396. IS Scott, John. Corporation, classes and capitalismo London,
Hutchinson, 1979. p. 35.
2 Id. Ibid. p. 14.
16 Clifton, J. A. op. cito p. 150.
3Ver Chandler Jr., A. O. O Advento da grande empresa. PAE/
EAESP/FGV. mimeogr. 17 Guimarães, E. A. op, cito p. 40.

48 Revista de Administração de Empresas


18 Id. ibid. p. 33-5. 40 O aspecto mercadológico desta relação foi realçado por
Chandler no final do seu primeiro trabalho, ao afirmar: "Maiores
19 Id, ibid. p. 40. pesquisas sobre o crescimento e administração das indústrias e
negócios americanos devem considerar a importância do merca-
20 Id. ibid. p. 39. do. Que a expansão e administração de empresas industriais,
numca economia de mercado, deve estar diretamente relaciona-
21 Id. ibid. p. 38. da à natureza das mudanças do mercado é bastante óbvio. No
entanto, muitos autores, trabalhando com os princípios de admi-
22 Id. ibid. p. 47. nistração de empresas, muitas vezes discutem liderança, comuni-
cação e estrutura, com apenas uma passagem de referência sobre
23 Id. ibid. p. 49. o mercado. Por outro lado, economistas, advogados antitrustes e
e outros especialistas sobre o comportamento do mercado conhe-
24 Id. ibid. p. 52. cem pouco sobre o impacto do mercado sobre a administração
das empresas" (Chandler Jr., A.O. Strategy and ... op. cito p. 396).
2S Id. ibíd. p. 56.
41 ChandlerJr., A. O. Strategy and ... op. cit. p. 7 a 17.
26Penrose, Edith T. The Theory of the growth of the firmo
Oxford, BasiJ Dlackwell, 1972. p. 109. 42 Textualmente: "A tese que se infere dessas diversas propor-
sições é então que estrutura segue estratégias e que os mais com-
27 Id, ibid. p. 110. plexos tipos de estrutura são o resultado da concentração de di-
versas estratégias básicas (p. 14). ( ...) A tese de que diferentes
28 Guimarães, E. A. op. cito p. 63. formas de organização resultam de diferentes tipos de crescimen-
to pode ser mais precisamente estabelecida se o planejamento e
29 Penrose enfatizá que a competição por preço "é uma resposta implementação de tal crescimento é considerado uma estratégia,
impessoal do mercado, não tendo a identidade do vendedor ne- e a organização projetada para administrar estas atividades e
nhum significado para os compradores", enquanto a competição recursos ampliados, uma estrutura. Estratégia pode ser definida
por esforço de venda (propaganda) "está quase necessariamente como a determinação das metas e objetivos a longo prazo de uma
vinculada não apenas com o produto, mas também com o nome empresa, a adoção dos caminhos de ação e a alocação de recursos
ou a marca comercial do vendedor e a identidade da firma emer- necessários para atingir esses objetivos (p. 13). ( ...) Estrutura
ge como um fator significativo de competição". Ver Penrose, pode ser definida como o desenho da organização através do qual
E. T. op. cito p. 116 e 117. a empresa é administrada. Este desenho, seja formal ou informal-
mente definido, tem dois aspectos. Ele inclui, primeiro, as linhas
de autoridade e comunicação entre os diferentes cargos e funcio-
30 Guimarães, E. A. op, cito p. 64. nários administrativos e, segundo, as informações e dados que
fluem através dessas linhas de comunicação e autoridades (p. 14).
31 Id. ibid. p. 65 e 66. ( ...) A estratégia da companhia determinou, em cada momento,
sua estrutura, e o denominador comum das estrutura e da estra-
32 Id. ibid. p. 66. tégia tem sido a aplicação dos recursos da empresa à demanda do
mercado. Estrutura tem sido o projeto (design) que integra os
33 Penrose,E. T.op.cit.p.190. recursos existentes da empresa à demanda corrente; estratégia
tem sido o plano de alocação de recursos para a demanda anteci-
34 Guimarães, E.A. op. cit. p. 67. pada (p. 383). Chandler concebe neste texto quatro tipos básicos
de estratégia: expansão de volume, dispersão geográfica, integra-
3S Ao encontro da ênfase no aspecto acumulação - potencial de ção vertical e diversificação. Ver Chandler Jr., A.O. Strategy
crescimento e evolução da demanda - a teoria de crescimento da and ... op. cito
firma, para Penrose , baseia-se na "capacidade da equipe gerencial
existente na firma (que) impõe necessariamente um limite à 43Williamson, Oliver. Corporate control and business behavior.
expansão dessa firma em um dado período de tempo". Ver Englewood Cliffs, N. J., Prentice-Hall, 1970, e ------
Penrose, E.T. op. cit. p. 45 e 46. Markets ando .. op, cito

36 Guimarães,E.A. op. cit.p.68 e 69. 44 Ver Thompson, James D. 1967. capo 3 a 6 in: Galbraith, J.
R. & Nathanson, D. A. (1979) op, cito p. 252.
37 Clifton, J.A. op. cit. p.149.
4S Wrigley, Leonnard. Transactions in technology, Internai me-
38 Este item estará baseado fundamentalmente no excelente ar- morandum. University of Western Ontaris, 1974; RumeIt, Ri-
tigo de Galbraith , Jay R. & Nathanson, Daniel A. The role of chard P. Strategy, structure, and economic performance. Boston,
organizational structure and process in strategy implementation, Graduate School of Business Administration, Harvard University,
publicado em Schendel, D.E. et alii. Strategy management , Little , 1974.
Brown, 1979, onde os autores, partindo das proposições estabe-
lecidas por Chanler (1962) em Strategy and structure (op. cit.), 46 Wrigleu, L. op. cit.; e RumeIt, R. P. op , cito
fazem uma revisão geral de inúmeras pesquisas empíricas realiza-
das sobre esse tema, com o intuito de redefmir e ampliar as 47 Channon, Derek. F. The Strategy and structure of Britisn en-
conclusões de Chandler, especialmente em relação a um novo terprise. Tese de doutoramento, Harvard University , 1971;
modelo de crescimento das firmas - Seqüências de estágios per- Pooley-Dias, Goreth. Strategy and structure of French enter-
corridos - bem como a uma abordagem essencialmente dialética prise. Tese de doutoramento, Harvard University , 1972; Thanhei-
- não mecanicista e linear - sobre a relação estratégia e estru- ser, Heing. Strategy and strucure of German firms. Tese de dou-
tura. Particularmente importante é a discussão, a partir de sínte- toramento, Harvard University, 1972.
ses realizadas por Scott, dos chamados Harvard Studies, que
contribuíram com diversos refinamentos e extensões para as 48 Stopford, John & Louis Wells.Managing the multidimensional
teses de Chandler. Nesse trabalho, por facilidade, adotaremos enterprise. London, Lorigmans, 1972; Franko , Lawrence. The
idêntico posicionamento, citando diretamente os autores de cada move toward a multi-dívisional structure in European organiza-
estudo, apesar de havermos tomado contato com os mesmos tions. Administrative Science Quarterly, Dec. 1974; -----
através deste artigo. Para uma análise mais detalhada, veja o The European multinattonals, Stanford, Conn., Greylock, 1976;
livro de onde o artigo foi adaptado: Galbraith, Jay R. & Nathan- Formaker, Lawrence E. & Stopford, J. M. Orgatizational struc-
son, Daniel A. Strategy imptementation: the role of structure ture and multinational strategy. Aâministrative Science Quar-
and process, St. Paul, West, 1978. terly, June 1968; Stopford, John. Growth and organizational
change inthe multinational field. Tese de doutoramento, Har-
3!1 Clifton, J.A. op. cito p. 146 e 147. vard University , 1968.

Estratégia empreSllrilll 49
49 Franko , L. The move toward ... op. cit.; -----. The 71 Id, ibid.
European ... op. cito
5 72 Campbel, John P.; Dunnette, Marvin O.; Lawler, Edward E.
50 Stopford, J. op. cito & Weick, Karl E. Manageria/ behavior, performance, and effecti-
veness. New York, McGraw-Hill, 1970; Hall, Douglas T. Careers
SI Galbraíth, Jay R. Matrix organization designs. Business Hori- in orgtmizations. Santa Monica, Calif., Goodyear, 1976; V~
zons, Feb. 1971. Maanen, John & Schein, Edgar. Career development, In: Ha-
ckman, J. R. & Suttle, J. L.lmproving lige... op, cito
52 Berg, Norman A. Strategic planning in conglomerate Compa-
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a coordinatíon and control strategy in multinational organiza-
53 Lorsch, Jay W. & AlIen, Stephen A. Managing diversity and tions. Administrative Science Quarter/y, June 1977.
inter-dependence: an organizational study of multidivisional
firms. Boston, Graduate School of Business Administrative, 74 Pitts, R. A. op. cito
Harvard Uníversity , 1973.
75 Galbraith, J. R. & Nathanson, D. A. The role of organiza-
54 Woodward, J oan. Industrial organization: theory and practice. tion ... op. cito p. 265.
london, Oxford University Press, 1965.
76 Scott, Bruce , R. An Open systems model of the firmo Tese
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77 Khandwalla, Pradip N. Effect of competition on the structure
55Fiedler, Fred E. A Theory of leadership effectiveness. New of top management controI. Academy of Management Joumal,
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57 Leavitt, Harold J. Unhuman organizations. Harvard Business 78 Franko, L. The move toward ... op. cito 1976.
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79 Negandhi, Anant R. & Reimann, Bernard C. A. contingency
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ofwork. New Haven, Conn., Human theory of organizatíon reexamined in the context of a develo-
Resources Area Files Press, 1959. ping country , Academy of Management Joumal, June 1972.
59 Lawrence, Paul R. & Lorsch, Jay W. Organization and envi-
ronnment: managing âifferentiation and integration. Boston, 80 Simonetti, Jack & Boseman, F. Glenn. The impact ofmarket
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63 Pitts, Robert A. Strategies and structures for diversification. analysis. In: Kilmanç L;Pondy, L. & Slevin, D. P. op. cito
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84 Simonetti, J. & Boseman, F. G. op. cito
64 Lawler, Edward E. Pay and organizational Effectiveness; a
psycological view. New York, McGraw-HilI, 1'971; ----- 85 Bain, Joe. Industrial organization. New York, Wiley, 1958.
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ving lige at work, Santa Monica, Calif., Goodyear, 1977. 86 Rumelt, R. P. op. cito

6S Meyer, H. The pay-for-performance dilemma. Organization 87 Cable, John & Steer, Peter. On the industrial organízation and
Dynamics. Winter, 1975. profitability of large UK companíes, Documento de trabalho não
publicado. Liverpool Polytechnic, fev. 1977.
66 Salter, Malcom. The tailor incentive compensation to strategy .
Harvard Business Review, Mar-Apr, 1973. 88 lorsch,J. W. & AlIen, S. A. op. cito
67 Berg, N. A. op. cito 89 Child, John, Managerial and organizational factors associate
with company performance - part I. Joumal of Management
68 lorsch, J. W. & AlIen, S.A. op. cito Studies. Oct. 1974; e . Managerial and organizational
factors associated with company performance - part 11. A con-
69 Galbraith, J. R. & Nathanson, D. A. The role of organiza- tingency analysis. Joumal of Management Studies. Feb. 1975.
tion ... op, cito p. 264.
90 Negandhi, A. R. & Reimann, B. C. op. cit.; e Simonetti, J.
70 Morse, John & Young, Darroch. Personality development and & Boseman, F. G. op. cito
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approach to the design and analysis of organizations trough 92 Mohr, L. B. Organization technology and organization struc-
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their members: a contingency approach, New York, Harper and for organizational effeetiveness. Administrative Science Quar.
Row, 1974. terly, Sept., 1975.

50 Revista de Administração de Empresas


93 Khandwa1la, P. N. op. cito

94 Child, J. op. cito

95 Galbraith J. R. & Nathanson,D. A. The roleoforganization ...


op. cit., p. 274.

96 Id , ibid.

97 Id. ibid.

98 Stopford, J. & Wells, L. op. cit.;Franko, L. The move toward ...


op. cit.; ----o The European ... op. cito

99 Galbraith, J. R. & Nathanson, DA. The role of organízstíon ...


op. cito p. 277.

11)0 Chandler Jr., A. O. Strategy and structure ... op. cito p. 16.

101 Galbraith, J. R.& Nathanson DA. The role of organization ...


op. cito p. 280.

102 Id ibid. p. 282 e 283.

103 Miles, Raymond E. & Snow, Charles. Bnvtronmental strategy


and organization structure. New York, McGraw-Hill, 1978.

104 Galbraith , J. R. & Nathanson, D. A. The role of organiza-


tion ... op. cit. p. 283.

105 Clifton, J. A. op. cit. p. 138.

106 Semmler, Willi. Competition, monopoly ando .. op. cit. p. 41.

107 Clifton, J. A. op. cito p. 146 e 147.

108 A dinâmica de acumulação, concentrando e centralizando ca-


pitais, provoca contínuas mudanças nos mercados e tecnologia,
constituindo um ambiente externo essencialmente incerto para
as empresas, acarretando uma diversificação constante de ativi-
dades - introdução de produto, com tecnologias cada vez mais
sofisticadas - que por sua vez exige uma estrutura organizacional
adequada ao nível da incerteza - "mecanicista", centralizada,
papéis bem definidos, comunicação através de cadeia de coman-
do, no caso de mercado e linhas de produto estáveis; "orgânica",
descentralizada com papéis ambíguos e grande nível de comuni-
cação lateral, no caso de altas taxas de mudança de mercado e
tecnologia, daí a grande descentralização do conglomerado de-
ver-se à necessidade de gerir maior diversidade; em síntese, maior
a atividade de novos produtos, mais alto o nível de tecnologia e
incerteza, mas as necessidades hierárquicas necessitam ser suple-
mentadas com mecanismos de coordenação interdepartamental
(ver Galbraith, J. R. & Nathanson D. A. The role of organiza-
tion ... op. cit., p. 256-8. Interessante que essa idéia de estraté-
gia caracterizada por diversidade e incerteza, conseqüência, como
afirma Jacob Frenkel, do moto real da evolução dos mercados -
o progresso técnico e a acumulação de capital - nada mais é do
que o conceito de marketing, como filosofia administrativa bá-
sica (ver Frenkel, Jacob . In: Labini, P. S. Oligopólio e progresso
tecnico. São Paulo, Forense/Edusp, 1980. p. 26).

Estrat~gio empresarial 51

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