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Hamartiologia Bentes PDF
Hamartiologia Bentes PDF
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Pr. A. Carlos G. Bentes
DOUTOR EM TEOLOGIA
PhD em Teologia Sistemática
HARMATIOLOGIA
DOUTRINA DO PECADO
I. A NATUREZA DO PECADO 3
1.1. TERMINOLOGIA 3
1.2. DEFINIÇÃO 4
Hamartiologia 22
E. O CASTIGO DO PECADO 37
BIBLIOGRAFIA 38
2
HAMARTIOLOGIA – A DOUTRINA DO PECADO 1
I. A NATUREZA DO PECADO
1.1. TERMINOLOGIA
Há vários termos que são utilizados na bíblia para referir-se à idéia do pecado.
Estes termos podem nos fornecer aspectos do conceito bíblico do assunto.
No Antigo Testamento, os principais termos hebraicos para pecado são:
a) ‘ābar - raBfa(
i (Êx 38.26; Dt 2.14; Jó 13.13) transgredir.
b) ’āsham - {f$f) (Lv 5.5-8; Jz 21.22; Sl 34.21-23; Os 10.2; 13.1; Is 24.6; Jl 1.18)
de Deus.
e
g) P raq – qar:P (Despedaçar, romper, pecados. A palavra é usada mais no sentido
literal).
1
SEVERA, de A. Zacarias. Manual de Teologia Sistemática, 1ª ed. Curitiba: A. D. SANTO EDITORA, 1999.
Hamartiologia
3
e
h) Sh gāgâh - hfgfg:$ Pecado (Lv 4.13; Nm 15.24). Shāgag - gaGf$. Desviar-se,
desviar.
b) Adikia - a)diki/a (Rm 1.18; 3.5; 1Co 6.8). Indicando injustiça, falta de retidão,
prejuízo.
c) Parábasis - para/basij (Rm 2.23,25; 5.14). Transgressão, quebra da lei,
violação, falta.
d) Anomia - a)nomi/a (Rm 4.7; 6.19; 1Jo 3.4). Desobediência, desrespeito à lei,
ilegalidade, iniqüidade.
e) Parakoē - parakoh/, Paráptōma – para/ptwma (Rm 5.15,19). Desobediência,
h) Hamartia - a(marti/a (Mt 1.21; Rm 3.23; 1Jo 1.8, etc.). Significa errar o alvo,
ofensa, enfermidade.
1.2. DEFINIÇÃO
Para Langston, o pecado, no sentido mais lato do termo, é um estado da alma ou
da personalidade.2 Ele acrescenta, dizendo que “incluímos nessa definição os resultados
deste estado, isto é, os atos pecaminosos”. Para ele, então, pecado é um estado mau da
alma e suas manifestações. Este conceito falha ao deixar de mencionar Deus na
definição, contra quem o pecado é cometido.
2
LANGSTON, A. B. Esboço de teologia sistemática, 5ª ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1977, P. 150.
4
Ryrie define o pecado como qualquer coisa contrária ao caráter de Deus. Ele não
deixa claro em que plano essa contrariedade pode ocorrer, se apenas em atos ou
também no estado da alma.
Strong afirma: “Pecado é a falta de conformidade com a Lei moral de Deus quer
em ato, disposição ou estado”.
W. T. Conner diz que pecado é rebelião contra a vontade de Deus.3
Berkhof tem uma definição mais completa. Diz ele que pecado é falta de
conformidade com a lei moral de Deus, seja em ato, disposição ou estado.4
Pecado é um mal moral que consiste em ação, omissão ou estado contrário a
qualquer lei de Deus dada às suas criaturas racionais.
O pecado é sempre algo contra Deus e à sua vontade manifesta. Mesmo quando
ele tem referência direta às pessoas, é contra Deus que ele está sendo praticado, e só
por isto é chamado de pecado. Deus tem dado aos homens normas de vida para serem
observadas. Essas normas são leis, pois têm uma sanção para os transgressores. Essas
leis foram reveladas na criação (Rm 1.20,21), na consciência moral do homem (Rm
2.14,15) e principalmente nas Escrituras (Rm 2.17,18).
Quando se fala da “lei moral de Deus”, violada pelo pecado, quer se referir a
todo esse conjunto de normas para a vida, cuja exigência central é o amor incondicional
a Deus, com reflexo na relação com próximo (Dt 6.5; Mc 12.30). É o oposto amor a
Deus que leva o indivíduo a transgredir, desobedecer e a proceder erradamente em
relação à vontade de Deus, rebelamo-nos contra o seu próprio caráter.
3
CONNER, W. T. Doctrina cristiana. El Paso: CBP, s.d, p. 157.
4
BERKHOF, L. Teologia Sistemática. 2ª ed. Campinas: Luz Para o Caminho, 1992, p. 235.
5
o conceito de lei for estendido de modo a abranger todo o caráter de Deus. Em última
análise, é contra Deus que o pecado é cometido.
1.3.2. PECADO É UM ESTADO RUIM DA PERSONALIDADE E SUAS
MANIFESTAÇÕES
Pecado não é apenas o que fazemos ou deixamos de fazer, mas ele ocorre
também em disposição de vontade ou estado. A natureza humana tem uma propensão
para o mal. Essa propensão reflete um estado mau da alma, que a Bíblia também chama
de pecado (Rm 1.24,26,28; 8.5-8; Gl 5.17). Langston denomina isto de “estado mau da
personalidade”. A natureza do homem é pecaminosa. “A natureza pecaminosa é a
capacidade e a inclinação humana para fazer tudo aquilo que nos torna reprováveis aos
olhos de Deus” (Ryrie).
“O pecado não é um simples ato – algo estranho ao ser. É uma qualidade do ser.
Não existe essa coisa de pecado separado do pecador, ou de um ato separado do agente.
Deus pune pecadores, não pecados. Pecado é um modo de ser; ele não existe como
entidade em si mesma. Deus pune o pecado como um estado, não como um ato” (E. G.
Robinson).5
Neste estado de corrupção moral, o homem tem indisposição para com a lei de
Deus e está propenso à prática do pecado (Mt 5.22,28). A palavra “coração” é usada
com freqüência na Bíblia para designar o centro da vida, envolvendo a alma. Aí está a
sede do pecado. O coração é perverso e essa perversidade se manifesta em atos de
perversidade (Jr 17.9; Mt 13.15). No começo da história do homem já se diz que o
coração do homem é mau (Gn 6.5) e vê-lo-emos assim em todo o Velho Testamento (Jr
5.23, 24; 17.9, 10; Ez 11.19).
5
STRONG, A. H. Teologia Sistemática. 1ª ed. São Paulo: Editora Hagnos, 2003. p.140. 2 v.
6
encontramos nas Escrituras (revelação especial), quer diretamente na própria
consciência moral de cada um (revelação geral, Rm 2.14,15). Sem revelação, mesmo
que algo contrário a Deus tenha havido, não poderia haver culpa. Como declara o
apóstolo, “onde não há lei o pecado não é levado em conta” (Rm 5.13).
Sem revelação especial, o conhecimento da vontade e do caráter de Deus seria
muito precário. Muitas coisas vieram a ser consideradas pecado pelo homem só depois
que as leis foram dadas (Rm 7.7). Uma vez dada a lei, cabe ao homem a
responsabilidade de procurar conhecer e cumprir as determinações divinas (Dt 29.29).
Se o indivíduo não procurar conhecer a vontade de Deus, sua ignorância não o isenta de
culpa. E se sabia a vontade de Deus e não a cumpriu, sua culpa será maior do que a
daquele que não sabia e por isto pecou (Lc 12.47,48).
2.1.2 A TENTAÇÃO
O Diabo, que já havia se rebelado contra Deus, transformou-se numa criatura
astuta, ou usou como instrumento uma dessas criaturas, e chegou-se à mulher com a
intenção de levá-la à desobediência a Deus. Nessa tentação, ele deu vários passos.
Começou por tentar confundir a mulher no tocante ao que Deus dissera: “É assim que
Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?” (Gn 3.1). O Diabo, aqui, alterou a
palavra de Deus, acrescentando-lhe algo, tornando, dessa forma, o mandamento muito
pesado, restringindo excessivamente a liberdade do homem, e negando a bondade de
Deus. Além disto, quis valer-se de uma possível ignorância da mulher quanto ao que
Deus de fato tinha dito. Mas ela estava bem consciente do mandamento divino.
Como não conseguiu confundir a mulher nos exatos termos e alcance do
mandamento, o inimigo prosseguiu na tentação, agora negando a veracidade da palavra
de Deus, dizendo: “Certamente não morrereis” (Gn 3.4). Para justificar a sua afirmação
contrária a de Deus, o Diabo deu uma interpretação errada da intenção do mandamento:
“Porque Deus sabe que no dia em que comerdes deste fruto, vossos olhos se abrirão, e
sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal” (Gn 3.5). Agindo assim, Satanás estava
lançando dúvida no coração da mulher quanto à bondade e a fidelidade de Deus, e, por
extensão, depondo contra o caráter do Criador. Com o seu coração já incrédulo, a
mulher deixou de considerar a Deus e a Sua Palavra, e passou a pensar numa vida
6
MILNE, Bruce. Op. Cit., p. 106.
8
independente de Deus. Deste ponto em diante, era só consumar o ato transgressor. Foi
o que ela fez. Ela comeu e enganou o seu marido para que ele comesse também. Aí se
consumou o primeiro pecado da humanidade, pois foi Adão que recebeu o mandamento
de Deus.
Como se percebe, o pecado consumou-se num ato transgressor do mandamento
num ato transgressor do mandamento divino. Mas ele teve sua raiz na incredulidade do
coração (da mulher) no tocante a Deus e à Sua palavra. Da incredulidade veio a
disposição de desobedecer, impulsionado também pelo sentimento de egoísmo e
orgulho. Podemos dizer que a raiz fundamental do pecado, do ponto de vista teológico,
é a incredulidade, mas do ponto psicológico, é o egoísmo e o orgulho, sentimentos
contrários ao amor a Deus, que é a súmula de todos os mandamentos.
9
O PROBLEMA DO MAL 7
7
SROUL, R. C. FILOSOFIA PARA INICIANTE. 1ª ed. São Paulo. Editora Vida Nova, 2002, p. 63-65.
10
escolher, uma vontade livre de coerção, mas agora está livre apenas para pecar,
porque seus desejos se inclinam para o pecado e o desviam de Deus. Agora, posse
non peccare, “a capacidade de não pecar”, se perdeu, e em seu lugar está non posse
non peccare, “a incapacidade de não pecar”. Com essa definição Agostinho
combateu o herege Pelágio, que negava o pecado original. Pelágio afirmava que o
pecado de Adão afetara apenas Adão, e que todas as pessoas têm a possibilidade de
viver de modo perfeito.
Agostinho é até hoje um santo da Igreja Católica Romana, mas os líderes da
doutrina protestante, Martinho Lutero e João Calvino, também o consideravam seu
principal mentor teológico.
A humanidade criada e decaída
A Termo latino
A humanidade
humanidade
criada
decaída
sim liberum
Livre-arbítrio sim
arbitrium
Liberdade sim não libertas
Para uma análise mais detalhada das conseqüências do pecado de Adão na vida
dele mesmo e da humanidade, destacamos os seguintes aspectos.
13
O Espírito também peca, ou somente a alma e o corpo cometem pecados? 10
Quando Paulo encoraja os coríntios a se purificarem “de toda impureza, tanto da
carne como do espírito” (2 Co 7.1), ele sugere nitidamente que pode haver impureza
(ou pecado) no espírito. Do mesmo, fala da mulher solteira que se preocupa em ser
santa “assim no corpo como no espírito” (1 Co 7.34). Outros versículos falam de modo
semelhante. Por exemplo, o Senhor endureceu o “espírito” de Seom, rei de Hebrom (Dt
2.30). O salmo 78 fala do povo rebelde de Israel, “cujo espírito não foi fiel a Deus” (Sl
78.8). A “altivez do espírito” precede a queda (Pv 16.18), e é possível pessoas que
pecadoras sejam “orgulhosas em espírito” (Ec 7.8). Isaías fala daqueles “que erram de
espírito” (Is 29.24). Em Daniel 5.20, lemos que “o seu espírito [de Nabucodonosor] se
tornou soberbo e arrogante”. O fato de que “todos os caminhos do homem são puros
aos seus olhos, mas o Senhor pesa o espírito” (Pv 16.2) implica a possibilidade de que
nosso espírito esteja errado aos olhos de Deus. Outros versículos implicam a
possibilidade da existência do pecado no nosso espírito (Sl 32.2; 51.10). Finalmente, o
fato de as Escrituras aprovarem aquele “que domina o seu espírito” (Pv 16.32) implica
que nosso espírito não é simplesmente a parte espiritualmente pura da nossa vida, que
deve ser acatada sempre, mas que também pode ter inclinações ou desejos
pecaminosos.
10
BENTES, A. Carlos G. Apostila de Antropologia. P.26,27.
14
sanção penal da lei. Ela é a autocondenação do homem, baseada na desaprovação de
Deus pelos seus atos.
A culpa não tem o mesmo grau para todos os pecadores e pessoas. Há um grau
de culpa para os pecados das crianças e outro para os pecados praticados pelos líderes
religiosos à plena luz da revelação (Mt 19.14; 23.32,33). Há uma culpa pelos pecados
cometidos na ignorância e outra pelos pecados feitos quando se tem conhecimento da
vontade de Deus (Mt 10.15; Lc 12.47,48; 23. 34; Rm 2.12).
2.2.4. DISTÚRBIOS SOCIAIS
A queda logo manifestou sua conseqüência na relação do homem com o próximo.
A relação do homem com a mulher foi alterada. Ao invés de amor e ajuda mútua, agora
vemos o homem acusando a mulher (Gn 3.12) e doravante viverão em conflito,
marcados por um desejo de domínio (Gn 3.16). Só pelo poder do evangelho de Cristo
esse espírito de conflito pode ser transformado e substituído por um espírito de
submissão e de liderança amorosa (Ef 5.22-28).
Esse conflito com o próximo também logo se manifestou entre os irmãos,
chegando ao ponto do fratricídio (Gn 4.6ss). Mais adiante, Lameque canta suas proezas
maldosas, matando pessoas por quase nada (Gn 4.23). A história mostra como que o
pecado afetou a relação do homem com o seu próximo. Surgem as guerras, as nações
dominadoras, as injustiças sociais, exploração do próximo, tudo como fruto do pecado
na natureza humana. A solução está em Cristo, que reconcilia os homens com Deus e
uns com os outros (Ef 2.14-17).
2.2.5. SOFRIMENTO
O mundo passou a ser um palco de sofrimentos. O ser humano sofre pela falta de
unidade em si mesmo, carência de significado e amor; sofre pelos conflitos sociais. No
caso da mulher, sofre com a gravidez (Gn 3.16). A relação da mulher com o marido,
como já vimos, não é pacífica. A terra se tomou maldita (Gn 3.17; Rm 8.20). O
trabalho agora é muito mais difícil, pois a terra vai apresentar dificuldades para que o
homem tire dela o seu sustento (Gn 3.17-19). O homem não pode mais viver no
paraíso, mas fora dele, lavrando a terra de onde fora tomado.
15
2.2.6. MORTE
A conseqüência mais drástica do pecado é a morte (Gn 2.17; Ez 18.20; Rm
6.23). O pecado trouxe uma morte tríplice: morte espiritual (Ef 2.1,4; Cl 2.13; Jo 3.36;
1 Jo 5.11,12), morte física (Gn 3.19; Rm 5.12-14; Hb 2.14,15) e morte eterna (2 Ts
1.9; Ap20.11-15). De um estado de posso não morrer o homem desceu a uma condição
de não posso não morrer. Ele fora condenado a voltar ao pó de onde fora tomado.
16
Os três principais eventos da Redenção seguem os três elementos implicados na
perda:
1) A Conversão: Redenção da alma (Gl 3.13).
2) A Ressurreição: Redenção do corpo (Rm 8.23).
3) A Segunda Vinda de Cristo: Redenção da Terra (Rm 8.21; At 3.21; Mt 19.28).
17
3.2. RELAÇÃO DO PECADO DE ADÃO COM A RAÇA HUMANA
Como que o pecado atingiu toda a humanidade?
Há alguma ligação da raça com o pecado original de Adão ou cada indivíduo tem
o seu momento de queda? Há algumas teorias que procuram explicar esta questão,
algumas negando qualquer relação do pecado de Adão com a humanidade, outras
afirmando essa relação.
3.2.1. INTERPRETAÇÕES QUE NEGAM A RELAÇÃO DO PECADO DE
ADÃO COM A RAÇA.
18
3.2.1.3. INTERPRETAÇÃO NEO-ORTODOXA
Alguns teólogos neo-ortodoxos consideram o relato da queda como lenda, mito,
que embora aponte para uma verdade espiritual, contudo não se refere a fato histórico.
Reinhold Niebuhr, Emil Brunner, A. Richardson, Oscar Culmann e alguns outros
dizem que Adão é um símbolo de todo o homem, e que a queda é um ato universal:
todos têm a sua queda.
Como negar a relação do pecado de Adão com a raça à luz de Romanos 5.12-19
e 1 Coríntios 15.21,22? Estes textos indicam: (1) que todos pecaram em Adão; (2) que
mesmo aqueles que não pecaram no sentido de quebrar a lei de Deus, eles morreram
por causa do pecado de Adão; (3) que há uma comparação e um contraste entre Cristo e
Adão: em cada caso, a ação de uma só pessoa é decisiva, e tem implicações para todos.
19
um de prova e outro de recompensa ou punição. Na representação, Adão estaria
representando toda a humanidade, um representante federal. Sem a aliança, Adão e
seus descendentes estariam constantemente sujeitos a provas e sempre com a
possibilidade de pecar, mas com a aliança, a perseverança persistente por um certo
tempo de prova seria recompensada com o estabelecimento do homem num estado de
santidade, de onde não poderia cair jamais.
Se Adão cumprisse os termos da aliança, obteria o direito de vida eterna para si e
para os seus descendentes. Por outro lado, o descumprimento da aliança traria sobre si
e sobre toda a humanidade a morte. Como Adão não cumpriu a aliança, Deus lançou
sobre todos os que estavam ligados a Adão, pelo pacto, a culpa e a pena do primeiro
pecado. Só Jesus ficou livre dessa imputação porque ele não estava ligado ao cabeça
federal. A maior dificuldade desta teoria é que a Bíblia não fala desse pacto de obras,
com exceção, talvez, de Oséias 6.7.
3.2.2.3. INTERPRETAÇÃO REALISTA
Outra maneira de explicar a relação do pecado de Adão com a humanidade é a
que vê Adão não apenas como um indivíduo, mas como o cabeça natural da
humanidade. Do ponto de vista orgânico e vital, todas as pessoas estavam presentes na
natureza de Adão quando ele pecou. Uma possível base bíblica para esta interpretação
é Hebreus 7,9,10, onde se diz que Levi estava em Abraão quando este pagou dízimo a
Melquisedeque, embora Abraão tivesse vivido há mais de quatrocentos anos antes de
Levi.
Nesta perspectiva, na geração dos filhos, a natureza corrompida e culpada de
Adão é transmitida de geração em geração, e assim todos são herdeiros do pecado.
Agostinho, Anselmo, Boaventura e alguns outros teólogos defenderam esta idéia; antes
deles, Tertuliano. Calvino descreve Adão como a raiz da raça humana. Somos todos
ramos e participamos da mesma natureza na raiz. Jesus ficou fora dessa herança
pecaminosa porque não veio do mesmo tronco, mas foi gerado diretamente pelo
Espírito de Deus. “O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é
espírito” (Jo 3.6).
20
3.2.3. CONSIDERÇÃOS FINAIS
Creio que o que não se pode negar é que o pecado de Adão afetou toda a raça
humana, fazendo-a culpada e digna de condenação (Rm 5.12-19; 1Co 15.21,22). Do
mesmo modo, a obra de justiça de Cristo, como o “segundo Adão”, alcança os que se
unem a Ele pela fé. Na raça humana somos solidários. Ninguém vive isoladamente. A
solidariedade é para a morte, mas também é para a vida. A base dessa justiça não é
ainda bem compreendida por nós, tão marcados que somos pela ênfase no indivíduo e
na responsabilidade individual. Precisamos pensar mais sobre a unidade e a
solidariedade da raça humana. Mesmo porque sem isto não podemos entender nossa
participação com Cristo. Se o pecado foi abundante em Adão, em Cristo a graça foi
superabundante (Rm 5.20).
21
Teologia Sistemática de Wayne Grudem
Hamartiologia
popular mestre cristão que pregou em Roma por volta de 383-410 d.C., e mais tarde
(até 424 d.C.) na Palestina, ensinava que Deus responsabiliza o homem só pelas coisas
que este é capaz de fazer. Logo, como Deus nos exorta a fazer o bem, temos
necessariamente a capacidade de fazer o bem que Deus exige. A posição pelagiana
rejeita a doutrina do “pecado herdado” (ou “pecado original”) e sustenta que o pecado
consiste somente em atos pecaminosos isolados.
11
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. Editora Vida Nova. P. 410-421.
22
Contudo, essa idéia de que somos responsáveis perante Deus somente por aquilo
que podemos fazer contraria o testemunho bíblico, que afirma tanto que estávamos
“mortos nos [...] delitos e pecados” nos quais andávamos antes (Ef 2.l) quanto que
somos incapazes de fazer qualquer bem espiritual, e também que somos todos culpados
diante de Deus. Além do mais, se nossa responsabilidade perante Deus se limitasse à
nossa capacidade, então pecadores extremamente empedernidos, sob pesado jugo do
pecado, poderiam ser menos culpados diante de Deus do que cristãos maduros que se
esforçam diariamente por obedecer-lhe. E o próprio Satanás, que eternamente só é
capaz de fazer o mal, estaria completamente livre de culpa - sem dúvida nenhuma uma
conclusão equivocada.
A verdadeira medida da nossa responsabilidade e da nossa culpa não é a nossa
capacidade de obedecer a Deus, mas antes a perfeição absoluta da lei moral de Deus e a
sua própria santidade (que se reflete nessa lei). “Portanto, sede vós perfeitos como
perfeito é o vosso Pai celeste” (Mt 5.48).
12
Nota dos editores {É muito difícil aceitar que todos os casos em que alguém está ou é cheio do Espírito Santo nas
Escrituras impliquem necessariamente que tal pessoa tenha sido espiritualmente regenerada (veja o caso de Saul em 1Sm
19.23,24)}.
24
sensato fazer declarações taxativas. No entanto, devemos reconhecer que Deus, nas
Escrituras, freqüentemente salva os filhos daqueles que crêem nele (ver Gn 7.1; cf. Hb
11.7; Js 2.18; Sl 103.17; Jo 4.53; At 2.39; 11.14(?); 16.31; 18.8; 1Co 1.16; 7.14; Tt
1.6). Essas passagens não mostram que Deus automaticamente salva os filhos de todos
os crentes (pois conhecemos filhos de pais piedosos que, crescendo, rejeitam ao
Senhor, e as Escrituras nos dão exemplos, como Esaú e Absalão), mas indicam
realmente que a conduta habitual de Deus, seu modo “normal” ou esperado de agir, é
aproximar de si os filhos dos crentes. Com respeito aos filhos dos crentes que morrem
muito novos, não temos razão para pensar de outra maneira.
Especialmente relevante aqui é o caso do primeiro filho que Bate-Seba deu ao rei
Davi. Depois da morte da criança, disse Davi: “Eu irei a ela, porém ela não voltará
para mim” (2Sm 12.23). Davi, que ao longo da sua vida exibiu grande confiança de
que viveria para sempre na presença do Senhor (ver Sl 23.6 e muitos outros salmos de
Davi), também acreditaria que voltaria a ver seu filho depois de morrer. Isso só pode
implicar que ele estaria com o seu filho na presença do Senhor para sempre. Essa
passagem, ao lado outras mencionadas acima, deve servir igualmente como garantia,
para todos os crentes que perderam filhos pequenos, de que um dia os verão novamente
na glória do reino celeste.
Com respeito aos filhos dos descrentes que morrem em idade muito tenra, as
Escrituras se calam. Simplesmente devemos deixar a questão nas mãos de Deus,
confiando na sua justiça e misericórdia. Se forem salvos, não será com base em algum
mérito próprio, nem na inocência que lhes possamos atribuir. Se forem salvos, será
com base na obra redentora de Cristo; e sua regeneração, como a de João Batista antes
do nascimento (físico), será pela misericórdia e graça de Deus. A salvação sempre vem
em virtude da misericórdia divina, e não por causa dos nossos méritos (ver Rm 9.14-
18). As Escrituras não nos permitem dizer nada além disso.
4. Existem graus de pecado? Serão alguns pecados piores do que outros? A
25
mesmo aquilo que nos pareça um pecado leve, torna-nos legalmente culpados perante
Deus e, portanto, dignos de castigo eterno. Adão e Eva aprenderam isso no jardim do
Éden, onde Deus lhes disse que um só ato de desobediência resultaria na pena de morte
(Gn 2.17). E Paulo afirma que “o julgamento derivou de uma só ofensa, para a
condenação” (Rm 5.16). Esse único pecado tornou Adão e Eva pecadores perante
Deus, já incapazes de permanecer na santa presença divina.
Essa verdade permanece válida durante toda a história da raça humana. Paulo
(citando Dt 27.26) a confirma: “Maldito todo aquele que não permanece em todas as
coisas escritas no Livro da Lei, para praticá-las” (GI3.10). E Tiago declara: “Qualquer
que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos.
Porquanto, aquele que disse: Não adulterarás também ordenou: Não matarás. Ora, se
não adulteras, porém matas, vens a ser transgressor da lei” (Tg 2.10-11).
Portanto, em termos de culpa legal, todos os pecados são igualmente maus, pois
nos fazem legalmente culpados perante Deus e nos constituem pecadores.
b. Conseqüências na vida e no relacionamento com Deus. Por outro lado,
alguns pecados são piores do que outros, pois trazem conseqüências mais danosas para
nós e para os outros e, no tocante ao nosso relacionamento pessoal com Deus Pai,
provocam-lhe desprazer e geram ruptura mais grave na nossa comunhão com ele.
As Escrituras às vezes falam de níveis de gravidade do pecado. Estando Jesus
diante de Pôncio Pilatos, disse ele: “Quem me entrega a ti maior pecado tem” (Jo
19.11). A referência é aparentemente a Judas, que convivera com Jesus durante três
anos e, no entanto, deliberadamente o traia entregando-o à morte. Embora Pilatos
tivesse autoridade sobre Jesus em virtude do seu cargo no governo, mesmo sendo
errado permitir que um homem inocente fosse condenado à morte, o pecado de Judas
era bem “maior”, provavelmente por causa do conhecimento bem maior e da malícia
associada e esse conhecimento.
Quando Deus revelou a Ezequiel visões de pecados no templo de Jerusalém,
disse-lhes o seguinte depois de mostrar algumas coisas ao profeta: “Pois verás ainda
maiores abominações” (Ez 8.6). A seguir mostrou a Ezequiel os pecados secretos de
alguns dos anciãos de Israel, dizendo-lhe: “Tornarás a ver maiores abominações que
26
eles estão fazendo” (Ez 8.13). Então o Senhor revelou a Ezequiel a imagem de
mulheres chorando diante de uma divindade babilônia, e disse: “Vês isto, filho do
homem? Verás ainda abominações maiores do que estas” (Ez 8.15). Finalmente,
mostrou a Ezequiel vinte e cinco homens no templo, que, de costas para o Senhor,
adoravam o sol. Aqui claramente temos graus crescentes de pecado e odiosidade
perante Deus.
No Sermão do Monte, ao dizer: “Aquele, pois, que violar um destes
mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado
mínimo no reino dos céus” (Mt 5.19), Jesus sugere que há mandamentos menores e
maiores. Do mesmo modo, embora admita que é correto dar o dízimo mesmo sobre os
condimentos usados em casa, profere condenações contra os fariseus por eles
negligenciarem “os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé”
(Mt 23.23). Nos dois casos, Jesus distingue os mandamentos menores dos maiores,
sugerindo assim que alguns pecados são piores do que outros no tocante à própria
avaliação divina da sua importância.
Em geral, podemos dizer que certos pecados trazem conseqüências mais danosas
do que outros se desonram mais a Deus, ou se geram mais dano a nós mesmos, aos
outros ou à igreja. Além disso, os pecados cometidos deliberada, repetida e
conscientemente, de coração empedernido, desagradam mais a Deus do que aqueles
que se cometem por ignorância e que não são repetidos, ou cometidos com uma
combinação de motivos bons e impuros e seguidos por remorso e arrependimento.
Assim as leis que Deus transmitiu a Moisés em Levítico tratam de casos em que as
pessoas pecam “por ignorância” (Lv 4.2,13,22). Pecado não intencional é assim
mesmo pecado: “Se alguma pessoa pecar e fizer contra algum de todos os
mandamentos do SENHOR aquilo que se não deve fazer, ainda que o não soubesse,
contudo, será culpada e levará a sua iniqüidade” (Lv 5.17). Porém, as penalidades
impostas e o grau de desagrado de Deus resultante do pecado são menores do que no
caso do pecado intencional.
Por outro lado, os pecados cometidos “atrevidamente”, isto é, com arrogância e
desdém pelos mandamentos de Deus, eram encarados com muita gravidade: “Mas a
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pessoa que fizer alguma coisa atrevidamente, quer seja dos naturais quer dos
estrangeiros, injuria ao SENHOR; tal pessoa será eliminada do meio do seu povo” (Nm
15.30; cf. vv. 27-29).
É fácil perceber que alguns pecados trazem conseqüências muito mais
desastrosas para nós, para os outros e para o nosso relacionamento com Deus. Se eu
cobiçasse o carro do vizinho, isso seria pecado perante Deus. Mas se essa cobiça me
levasse de fato a roubarlhe o carro, o pecado então seria mais grave. Se no ato do roubo
eu lutasse contra o meu vizinho e o ferisse, ou descuidadamente ferisse outra pessoa
dirigindo o carro, o pecado seria ainda mais grave.
Do mesmo modo, se um recém-convertido, anteriormente afligido por uma
tendência de perder a cabeça e meter-se em brigas, passa a testemunhar aos seus
amigos descrentes e, um dia, recebe tanta provocação que perde a calma e acerta
alguém, sem dúvida isso será pecado aos olhos de Deus. Mas se um pastor maduro, ou
outro eminente líder cristão, perde a cabeça em público e bate em alguém, isso é ainda
mais grave aos olhos de Deus, por causa do dano causado à reputação do evangelho e
porque os homens que ocupam cargos de liderança são tidos por Deus num patamar
mais elevado de responsabilidade: “Havemos [os mestres] de receber maior juízo” (Tg
3.1; cf. Lc 12.48). Nossa conclusão, então, é que em termos de conseqüências e em
termos do grau do desprazer de Deus, alguns pecados são certamente piores que outros.
a. Nossa posição legal perante Deus fica inalterada. Embora esse assunto
pudesse ser abordado adiante, juntamente com a adoção ou a santificação dentro da
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vida cristã, convém certamente abordá-lo aqui.
Quando o cristão peca, sua posição legal perante Deus permanece inalterada. Ele
ainda assim é perdoado, pois “já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo
Jesus” (Rm 8.1). A salvação não se baseia nos nossos méritos, mas é dádiva gratuita de
Deus (Rm 6.23), e a morte de Cristo sem dúvida nenhuma expiou todos os nossos
pecados - passados, presentes e futuros; Cristo morreu “pelos nossos pecados” (1Co
15.3), sem distinção. Em termos teológicos, conservamos assim nossa Justificação”.
Além do mais, permanecemos filhos de Deus e preservamos nossa condição de
membros da família de Deus. Na mesma epístola em que diz “Se dissermos que não
temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós”
(1Jo 1.8), João também lembra aos seus leitores: ''Amados, agora, somos filhos de
Deus” (1Jo 3.2). O fato de o pecado permanecer em nossa vida não significa que
perdemos nossa condição de filhos de Deus. Em termos teológicos, conservamos a
nossa “adoção”.
Embora eles nunca possam cair do estado de justificação, poderão, contudo, por seus
pecados, incorrer no desagrado paternal de Deus, e ficar privados da luz de sua graça, até
que se humilhem, confessem os seus pecados, peçam perdão e renovem a sua fé e o seu
arrependimento (cap. 11, seção 5).
Por isso, vos declaro: todo pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens; mas a
blasfêmia contra o Espírito não será perdoada. Se alguém proferir alguma palavra contra
o Filho do Homem, ser-lhe-á isso perdoado; mas, se alguém falar contra o Espírito Santo,
não lhe será isso perdoado, nem neste mundo nem no porvir (Mt 12.31-32).
Declaração semelhante aparece em Marcos 3.29-30, onde Jesus diz que “aquele
que blasfemar contra o Espírito Santo não tem perdão para sempre” (Mc 3.29;cf.12.10).
Igualmente, Hebreus 6 diz: “É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram
iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, e
provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é
impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que, de novo, estão
crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-o à ignomínia” (Hb 6.4-6; cf.
10.26-27; também a discussão do pecado “que leva à morte” [NVI] em 1Jo 5.16-17).
enquanto Cristo estava na terra. Mas a declaração de Jesus de que “todo pecado e
blasfêmia serão perdoados aos homens” (Mt 12.31) é tão geral que parece arriscado
dizer que só se refere a algo que poderia ocorrer apenas durante a sua vida - os textos
em questão não especificam tal restrição. Além disso, Hebreus 6.4-6 fala da apostasia
que aconteceu vários anos após Jesus ter voltado ao céu.
2. Alguns sustentam que o pecado é a incredulidade que persiste até a hora da
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morte; portanto, todos os que morrem na incredulidade (ou pelos menos todos os que
ouvem falar de Cristo e morrem na incredulidade) cometem esse pecado. É verdade,
claro, que aqueles que persistem na incredulidade até a morte não serão perdoados, mas
importa saber se é esse fato que se discute nesses versículos. Numa leitura mais detida
dos versículos, essa explicação não parece se ajustar à linguagem empregada, pois não
se fala de incredulidade em geral, mas especificamente de alguém que fala “contra o
Espírito Santo” (Mt 12.32), blasfema “contra o Espírito Santo” (Mc 3.29) ou comete
apostasia (Hb 6.6). Esses versículos enfocam um pecado específico - a rejeição
deliberada da obra do Espírito Santo e a difamação dela, ou a rejeição deliberada da
verdade de Cristo e sua exposição à “ignomínia” (Hb 6.6). Além disso, a idéia de que
esse pecado é a incredulidade que persiste até a morte não se encaixa bem no contexto
da censura aos fariseus pelo que eles dizem em Mateus e Marcos (ver abaixo a análise
do contexto).
3. Alguns defendem que esse pecado é a grave apostasia dos crentes sinceros, e que
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muitas vezes os próprios fariseus haviam visto claras demonstrações do impressionante
poder do Espírito Santo agindo por intermédio de Jesus para dar vida e saúde a muitas
pessoas. Mas os fariseus, apesar de ver bem diante do seu nariz as claras demonstrações
da obra do Espírito Santo, deliberadamente rejeitavam a autoridade e o ensinamento de
Jesus, atribuindo-os ao Diabo. Jesus então lhes disse com muita clareza que “toda
cidade ou casa dividida contra si mesma não subsistirá. Se Satanás expele a Satanás,
dividido está contra si mesmo; como, pois, subsistirá o seu reino?” (Mt 12.25-26). Por
isso era irracional e insensato que os fariseus atribuíssem os exorcismos de Jesus ao
poder de Satanás - uma mentira clássica, deliberada, maliciosa.
Depois de explicar que “Se, porém, eu expulso demônios pelo Espírito de Deus,
certamente é chegado o reino de Deus sobre vós” (Mt 12.28),Jesus profere o seguinte
alerta: “Quem não é por mim é contra mim; e quem comigo não ajunta espalha” (Mt
12.30). Ele avisa que não existe neutralidade, e certamente aqueles que, como os
fariseus, se opõem à sua mensagem são contra ele. A seguir acrescenta: “Por isso, vos
declaro: todo pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens; mas a blasfêmia contra
o Espírito Santo não será perdoada” (Mt 12.31). A calúnia deliberada e maliciosa
contra a obra do Espírito Santo em Jesus, calúnia pela qual os fariseus atribuíam tal
obra a Satanás, não seria perdoada.
O contexto indica que Jesus fala de um pecado que não é simplesmente
incredulidade ou rejeição de Cristo, mas que inclui: (1) o claro conhecimento de quem
é Cristo e do poder do Espírito Santo que age por meio dele, (2) a rejeição deliberada
dos fatos sobre Cristo que seus oponentes sabiam ser verdadeiros e (3) a caluniosa
atribuição da obra do Espírito Santo em Cristo ao poder de Satanás. Nesse caso a
dureza do coração seria tão grande que todos os meios normais de levar o pecador ao
arrependimento já teriam sido rejeitados. A persuasão da verdade não funcionará, pois
essa gente já conhece a verdade e deliberadamente já a rejeitou. A demonstração do
poder do Espírito Santo para curar e dar vida não funcionará, pois eles já a viram e já a
rejeitaram. Nesse caso, não que o pecado em si seja tão terrível que não possa ser
expiado pela obra redentora de Cristo, mas a dureza de coração do pecador o coloca
fora do alcance dos meios normais que Deus utiliza para conceder o perdão por
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intermédio do arrependimento e da fé na salvação de Cristo. O pecado é imperdoável
porque afasta o pecador do arrependimento e da fé salvífica pelo crédito à verdade.
E. O CASTIGO DO PECADO
Embora o castigo divino do pecado funcione realmente como elemento inibidor
contra novos pecados e como alerta àqueles que o testemunham, não é essa a razão
principal pela qual Deus pune o pecado. A razão primeira é que a justiça de Deus o
exige, para que ele seja Glorificado no universo que criou. Ele é o Senhor que pratica
“misericórdia, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o
SENHOR” (Jr 9.24).
Paulo discorre sobre Cristo Jesus, “a quem Deus propôs como propiciação pelo
seu sangue, mediante a fé” (Rm 3.25, tradução do autor). Depois o apóstolo explica por
que Deus propôs Jesus como “propiciação” (ou seja, sacrifício que carrega a ira de
Deus contra o pecado e portanto transforma a ira divina em graça): “para manifestar a
sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente
cometidos” (Rm 3.25). Paulo entende que, não houvesse Cristo vindo para sofrer a
penalidade dos pecados, não se poderia provar que Deus é justo. Como ele deixara os
pecados do passado sem castigo, as pessoas poderiam, com toda a razão, acusar a Deus
de injustiça, pois um Deus que não pune os pecados não é um Deus justo. Portanto,
quando Deus enviou Cristo para morrer e sofrer a penalidade dos nossos pecados,
demonstrou que era de fato justo - acumulou o castigo devido aos pecados anteriores
(os dos santos do Antigo Testamento) e depois, com perfeita justiça, impôs a Jesus esse
castigo na cruz. A propiciação do Calvário, portanto, demonstrou claramente que Deus
é perfeitamente justo, pois tinha “em vista a manifestação da sua justiça no tempo
presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus” (Rm
3.26).
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Logo, na cruz temos uma clara demonstração da razão pela qual Deus castiga o
pecado: se ele não castigasse o pecado, não seria um Deus justo, e não haveria justiça
suprema no universo. Mas, castigando o pecado, Deus se revela justo juiz de tudo, e
faz-se justiça no universo.
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Biografia do autor
O pastor Antônio Carlos Gonçalves Bentes é capitão do Comando da Aeronáutica,
Doutor em Teologia, conferencista, filiado à ORMIBAN – Ordem dos Ministros
Batistas Nacionais, cuja matrícula é 745, professor dos seminários batistas: STEB,
SEBEMGE e Escola Teológica Koinonia e também das instituições: Seminário
Teológico Hosana, UNITHEO, Escola Bíblica Central do Brasil e JAMI (Junta
Administrativa de Missões da CBN) atuando nas áreas de Teologia Sistemática,
Teologia Contemporânea, Apologética, Escatologia, Pneumatologia, Teologia Bíblica
do Velho e Novo Testamento, Hermenêutica, e Homilética. Reside atualmente em
Lagoa Santa, Minas Gerais. Exerce o ministério pastoral na Igreja Batista Getsêmani
em Belo Horizonte - Minas Gerais. É casado com a pastora Rute Guimarães de
Andrade Bentes, tem três filhos: Joelma, Telma e Charles Reuel, e duas netas: Eliza
Bentes Zier e Ana Clara Bentes Rodrigues.
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