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Mercadologia

ETNOMARKETING:
antropologia, cultura e consumo

Pedro Jaime Júnior


Mestre em Antropologia Social pela Unicamp,
Pesquisador do Centro Educacional de Tecnologia em Administração (Cetead)
e Professor da Universidade Salvador.
E-mail: pedrojaime@uol.com.br

RESUMO
Neste artigo, pretende-se, inicialmente, ressaltar a presença de dimensões culturais e simbólicas no universo do
consumo e evidenciar o recurso ao aporte antropológico na gestão de marketing, mediante a apresentação de
alguns casos extraídos da literatura de difusão sobre o universo empresarial. Em seguida, com base no método
biográfico, são descritas as trajetórias profissionais de dois antropólogos que têm empreendido trabalhos
práticos situados no campo da Administração Mercadológica. O propósito final é contribuir para a discussão
sobre a fronteira interdisciplinar que envolve a Antropologia do Consumo e a Mercadologia.

ABSTRACT
At first the article attempts to point the cultural and symbolic aspects of the consumption and the use of an
anthropological approach on the marketing management. Therefore, the text focuses on real situations that
have been occured in the business world. Afterwards, using the biographic method, it describes the
professional trajectories of two anthropologists who have been acting in the marketing field for many years.
Furthermore, there is a goal to contribute to discussions about the interdisciplinary boundary that envolves
Anthropology of Consumption and Marketing Management.

PALAVRAS-CHAVE
Marketing, comportamento do consumidor, antropologia, antropologia do consumo, cultura.

KEY WORDS
Marketing, consumer behavior, anthropology, anthropology of consumption, culture.

68 RAE - Revista de Administração de Empresas • Out./Dez. 2001 RAESão


• Paulo,
v. 41 •v. n.
414 • • n.Out./Dez.
4 • p. 68-77
2001
Etnomarketing: antropologia, cultura e consumo

INTRODUÇÃO quais se sustenta a própria Antropologia, destacando-se pon-


tos de concordância entre os antropólogos, independente
O atual contexto sócio-histórico, já qualificado por de seus pertencimentos a diferentes correntes teóricas.
muitos como pós-moderno, caracteriza-se por uma rees- A Antropologia construiu-se, historicamente, como o
truturação na organização da atividade econômica. Entre estudo do outro, entendido como outra sociedade, outra cul-
outros aspectos, nota-se uma passagem do consumo de tura, outro grupo social, enfim, aquele que se comporta de
massa para uma cultura do consumo marcada pela exis- forma diferente de mim. Em outras palavras, a Antropolo-
tência de diversos estilos de vida que refletem a explosão gia configurou-se como uma tentativa de compreender a di-
de microidentidades1. Essa mudança obriga as empresas versidade cultural, em um encontro radical com a alteridade.
a pensarem outras estratégias de segmentação de merca-
do, para além das tradicionais classificações por região
geográfica e renda. A ANTROPOLOGIA SE CONSTRUIU
Fatos que evidenciam essa alteração podem ser per-

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cebidos na literatura brasileira de difusão sobre o mundo HISTORICAMENTE COMO ESTUDO
dos negócios. Esta tem enfatizado, nos últimos anos, a
presença de dimensões simbólicas informando o compor- DO OUTRO, ENTENDIDO COMO
tamento do consumidor. Diversas reportagens de publi-
OUTRA SOCIEDADE, OUTRA
cações como Exame e Gazeta Mercantil apresentam ca-
sos que apontam a necessidade de as empresas atentarem CULTURA, OUTRO GRUPO SOCIAL.
para a variável cultural na elaboração de suas estratégias
de marketing, sob pena de incorrerem em grandes fracas-
sos mercadológicos. Todavia, questionando-se os resultados extraídos desse
À medida que as dimensões culturais e simbólicas encontro com a alteridade, nota-se que há discordâncias.
foram ganhando importância cada vez maior na explica- A descoberta de universais humanos, a descrição de uma
ção do comportamento do consumidor, os departamentos cultura em sua totalidade e a experiência fragmentária de
de marketing das empresas, os institutos de pesquisa de diálogo intercultural seriam algumas das respostas dadas
mercado e as agências de publicidade passaram a recor- pelos antropólogos. De toda forma, a imagem da Antro-
rer ao aporte antropológico, recrutando muitas vezes pro- pologia como um encontro com o outro parece represen-
fissionais com formação em Antropologia – disciplina tar um consenso para a comunidade antropológica.
voltada à análise dos fenômenos socioculturais. Talvez também possa denotar uma concordância a de-
Neste artigo, pretende-se ressaltar a presença de di- fesa da etnografia como o método de pesquisa por exce-
mensões culturais e simbólicas no universo do consumo lência da Antropologia. No final do século XIX, quando
e evidenciar o recurso ao aporte antropológico na gestão ela estava-se institucionalizando como campo científico,
de marketing, mediante a apresentação de algumas situa- os trabalhos de investigação eram realizados pelo que se
ções concretas extraídas da literatura de difusão sobre o convencionou chamar de “antropólogos de gabinete”. Es-
universo empresarial. Em seguida, com base no método tes não chegavam a conhecer face a face os membros dos
biográfico (Bertaux, 1980; Becker, 1999), descrevem-se grupos sociais estudados pela disciplina. Para construir uma
as trajetórias profissionais de dois antropólogos que têm explicação sobre os “estranhos” comportamentos dos po-
empreendido trabalhos práticos no campo da Adminis- vos “primitivos”, eles utilizavam dados recolhidos por via-
tração Mercadológica. Antes, porém, será apresentada, jantes, missionários e funcionários do governo colonial2.
na próxima seção, uma breve discussão sobre a disciplina Essa situação modificou-se no início do século XX, e
antropológica e um dos seus subcampos: a Antropologia costumam-se atribuir à Bronislaw Malinowski, um polo-
do Consumo. O propósito final é contribuir para a discus- nês naturalizado britânico, os créditos pelo surgimento
são sobre a fronteira interdisciplinar que envolve a An- do método etnográfico, que caracterizou a moderna An-
tropologia do Consumo e a Mercadologia. tropologia Social e que marca a disciplina até hoje.
Malinowski julgava que o recurso a missionários, admi-
nistradores coloniais ou viajantes derivava em uma série
A DISCIPLINA ANTROPOLÓGICA E O de dados distorcidos, uma vez que a percepção desses
SUBCAMPO DA ANTROPOLOGIA DO CONSUMO indivíduos não estava imune ao preconceito.
O próprio antropólogo deveria ir a campo. Seria in-
Neste texto, parte-se do pressuposto de que o leitor já dispensável o recurso ao “olhar antropológico”, aquele
possui alguns conhecimentos sobre a Antropologia. Por- supostamente desprovido de preconceito, capaz de
tanto, não será desenvolvida uma apresentação extensa relativizar, escapando da postura etnocêntrica, isto é, ca-
dessa disciplina. Antes de tratar da Antropologia do Con- paz de entender a outra sociedade a partir das razões que
sumo, serão apresentadas algumas bases gerais sobre as seus próprios membros constroem para justificar seus

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2001, v. 41- Revista
• n. 4de •Administração
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comportamentos. Durante a segunda década do século européias: organizavam-se politicamente a partir de um


XX, Malinowski passou uma longa temporada entre os Estado-Nação, estavam em vias de industrialização, etc.
nativos das ilhas Trobriand, na Oceania, desenvolvendo Não se trata aqui de retomar o raciocínio do mestre
um estudo etnográfico que resultou no livro Argonautas francês em sua íntegra, apenas frisar a constatação que
do Pacífico Ocidental, um clássico da Antropologia ele faz ao finalizar o artigo: “ora, enquanto as maneiras
(Malinowski, 1984). de ser e de agir de certos homens forem problemas para
Isso não significa, evidentemente, que todos os antro- outros homens, haverá lugar para uma reflexão sobre es-
pólogos sejam etnógrafos. Alguns profissionais dessa dis- sas diferenças, que, de forma sempre renovada, continua-
ciplina parecem mais afeitos a contribuir com o avanço da rá a ser o domínio da Antropologia” (Lévi-Strauss, 1962).
teoria antropológica sem realizar o fieldwork, e não seria Cerca de 20 anos mais tarde, um outro antropólogo, o
equivocado relatar que Marcel Mauss, certamente um dos norte-americano Clifford Geertz (1983), vaticinou: “ago-
mais célebres antropólogos do século XX, nunca desen- ra somos todos nativos.”
volveu trabalhos de terreno, ainda que tenha escrito um Assim, dentro do vasto espectro do que se conven-
Manual de etnografia (Mauss, 1993). De toda forma, es- cionou chamar de Antropologia das Sociedades Com-
ses antropólogos atribuem um valor central aos dados plexas4, muitos novos temas foram-se incorporando à
etnográficos, isto é, eles partem das etnografias escritas por disciplina, dentre eles, a Antropologia do Consumo, so-
outros antropólogos. Esse foi o caso de Mauss no também bre a qual serão tecidos breves comentários.
clássico Essai sur le don, quando partiu dos trabalhos O propósito aqui não é reconstruir a genealogia desse
etnográficos de, dentre outros, Franz Boas e Malinowski subcampo dos estudos antropológicos. Ao leitor interes-
para construir uma teoria sobre a troca nas sociedades sado, sugere-se seguir as pistas deixadas pelos franceses
“primitivas” (Mauss, 1974). Sem cair num raciocínio Philippe Laburthe-Tolra e Jean-Pierre Warnier. No texto
excludente, a Antropologia fez uma síntese, assumindo a Produção social e consumo de objetos (1997), esses au-
etnografia como sua marca distintiva no âmbito das Ciên- tores consideram a publicação do trabalho A dimensão
cias Sociais e, conseqüentemente, valorizando o trabalho oculta, de Edward T. Hall, o marco fundador da Antropo-
de campo etnográfico na construção de sua teoria. logia do Consumo. Segundo eles, os trabalhos de Hall
Enfim, mesmo duvidando das possibilidades de esta- inauguram uma abordagem antropológica dos domíni-
belecer consensos em questões relacionadas à Antropo- os do consumo relativos ao espaço: a arquitetura, o
logia3, se se quiser arriscar uma definição sintética para a mobiliário, a decoração interior, as cores, a iluminação, a
disciplina, pode-se apontar a compreensão do outro pos- climatização, as vestimentas, os transportes coletivos, os
sibilitada pela prática etnográfica. Em outras palavras, a lugares de trabalho, os espaços de lazer, as vias públicas,
Antropologia seria o encontro etnográfico com o outro. etc. No artigo, Laburthe-Tolra e Warnier resenham tam-
Vale lembrar que, originariamente, esse “outro”, ob- bém diversos outros textos que consideram inseridos no
jeto dos estudos antropológicos, eram as sociedades tra- campo da Antropologia do Consumo, dentre os quais
dicionais. Assim, a Antropologia ficou conhecida, du- destaca-se o já clássico trabalho de Douglas e Isherwood
rante muito tempo, como a ciência das sociedades “pri- (1978). Além disso, apresentam os contornos desse
mitivas”. Porém, ao longo da sua história, ela foi subcampo da disciplina antropológica, retomando suas
redefinida. Essa redefinição pode ser resumida numa raízes mais remotas, nos trabalhos de antropólogos clás-
ressalva feita pelo filósofo francês Maurice Merleau- sicos como Marcel Mauss e André Leroi-Gourhan, e apon-
Ponty (1980). Ele afirmava que a Antropologia não é tando os seus limites porosos com a Sociologia, seja tam-
uma especialidade definida por um objeto particular – bém em sua tradição clássica – por meio das obras deixa-
as sociedades “primitivas” –, mas uma maneira de pen- das por Marx, Weber, Simmel, Veblen e Nobert Elias –,
sar caracterizada pelo estranhamento que se impõe quan- seja na produção contemporânea de autores como Pierre
do o objeto é o outro. Trata-se de definir a Antropologia Bourdieu e Jean Baudrillard.
não em relação a um objeto empírico, mas a um objeto O trabalho dos antropólogos franceses representa um
intelectual (Augé, 1994, 1999). excelente mapeamento introdutório. Não se pode, contu-
O antropólogo francês Claude Lévi-Strauss analisou do, deixar de destacar uma ausência importante no texto.
muito bem essa transformação. Em artigo publicado nos Trata-se da referência ao antropólogo norte-americano
anos 60, denominado A crise moderna da Antropologia, Marshall Sahlins, cujas idéias parecem oportunas para
Lévi-Strauss (1962) questionou a possibilidade de a An- compreenderem-se as evidências empíricas da presença
tropologia tornar-se uma ciência sem objeto, fadada, por- de dimensões simbólicas informando o comportamento
tanto, a desaparecer. Essa preocupação estava ancorada na do consumidor e as trajetórias profissionais de antropó-
evidência do genocídio cultural que o Ocidente promoveu logos no campo da Administração Mercadológica, apre-
com diversas sociedades tribais e na constatação de que a sentadas nas próximas seções deste artigo.
maior parte daquelas que subsistiam estavam-se transfor- Na sua interpretação da sociedade capitalista ociden-
mando em sociedades muito parecidas com as metrópoles tal, Sahlins (1979) demonstrou que essa sociedade, que

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se auto-representa como regida exclusivamente pela percebida logo de início pelo nome dos artigos: “Colônia
racionalidade econômica, sendo desprovida de dimensões Cordeirinho” e “Condicionador Promessa”. A composição
culturais e do simbólico, na verdade, é, ela mesma, uma do produto não conta com ingredientes de origem animal
forma específica de ordem cultural. Para ele, o sistema de como o colágeno, uma vez que, segundo a empresa, os
representações simbólicas informa a própria organização evangélicos não são favoráveis ao sacrifício de animais para
da atividade econômica na sociedade capitalista, ou seja, fins industriais. É dada atenção também à embalagem e à
as esferas da produção e do consumo são espaços privile- publicidade, que não contam com modelos apresentando
giados de produção simbólica nesta sociedade. Assim, sua um visual provocante, em vista da reticência dos membros
especificidade não reside no fato de o sistema econômi- desse grupo a apelos de ordem sexual. Ao contrário, os
co escapar à determinação simbólica, mas antes na rótulos dos produtos trazem versículos bíblicos como: “lem-
constatação de que nela o simbolismo econômico é estru- bra-te do teu criador nos dias de tua mocidade”. A eficácia
turalmente determinante. simbólica dessas estratégias pode ser percebida nos resul-
Partindo dessa interpretação da sociedade capitalista, tados financeiros da empresa. Competindo com multina-

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o autor entende que o significado social de um objeto, o cionais como a Revlon e a L’Oréal, a Embeleze, que tam-
que o torna útil a certa categoria de pessoas, é menos vi- bém possui produtos voltados para os afro-brasileiros, pas-
sível por suas propriedades físicas do que pelo valor que sou de um faturamento de 36 milhões de reais em 1994
ele assume na troca. A utilidade, destaca Sahlins, não é para 85 milhões de reais em 1998.
uma qualidade intrínseca do objeto, mas um significado
construído pelos sujeitos. Neste sentido, nenhum objeto
é ou tem movimento na sociedade humana, exceto pela O FENÔMENO DO CONSUMO NÃO
significação que os homens lhe atribuem. Suas análises
dos sistemas alimentar e de vestuário nos EUA, lastreadas
PODE SER ENTENDIDO LEVANDO-SE
na abordagem estruturalista, são bastante interessantes. EM CONSIDERAÇÃO APENAS
Para ele, o papel do antropólogo é descobrir a ordem
cultural escondida na sociedade; ele estabelece, então, uma VARIÁVEIS DE NATUREZA ECONÔMICA.
analogia entre o trabalho desse profissional e aquele de-
sempenhado pelos pesquisadores de mercado e agentes
publicitários. Estes últimos procuram responder às cons- Em 25 de fevereiro de 1998, a mesma revista havia
tantes reformulações das relações simbólicas dentro da vida publicado uma reportagem denominada Prova de obstá-
social, a fim de tornar um “produto-símbolo” um sucesso culos. O artigo trazia a seguinte chamada: “Empresas bra-
mercantil5. Pode-se resumir sua análise do simbolismo eco- sileiras aprendem a competir ao superar hábitos e exigên-
nômico nas sociedades capitalistas pelo seguinte argumento: cias diferentes no Mercosul”. Dentre os exemplos forne-
o fenômeno do consumo não pode ser compreendido le- cidos, o caso da inserção da Brahma no Mercosul chama
vando-se em consideração apenas variáveis de natureza a atenção. A empresa gastou 150 milhões de dólares para
econômica, isto é, as mudanças na estrutura de produção e produzir a cerveja em garrafas de 1 litro. Pesquisas de
seus impactos em termos de distribuição de renda. Deve- mercado teriam apontado que o consumidor argentino
se atentar também para variáveis socioculturais. consome cerveja com os amigos, mas no espaço privado,
A seguir, apresentam-se exemplos empíricos que cor- isto é, em casa, ao passo que o consumidor brasileiro pre-
roboram a posição de Sahlins, uma vez que demonstram fere o consumo da cerveja no espaço público, ou seja, na
o papel que joga a dimensão simbólica no universo do rua6. A companhia optou, então, por alterar a embalagem.
consumo. Com isso, o consumidor argentino passou a levar mais
líquido para casa em menos recipiente. No que tange ao
mercado de refrigerantes, a matéria informava também
DIMENSÕES SIMBÓLICAS DO CONSUMO E RECURSO que, somente na Argentina, a Brahma comercializa um
AO APORTE ANTROPOLÓGICO NA GESTÃO DE produto à base de pomelo, fruta parecida com a laranja.
MARKETING: ALGUNS EXEMPLOS EMPÍRICOS Na revista Veja de 30 de junho de 1999, consta o arti-
go Ao gosto do freguês, com o seguinte subtítulo: “Em-
A revista Exame de 10 de fevereiro de 1999 traz uma presas adaptam as fórmulas de seus produtos para con-
matéria que trata da nova linha de produtos da Embeleze, quistar o emergente mercado nordestino”. Segundo a
empresa de cosméticos situada no Rio de Janeiro, lançada reportagem, nos últimos dois anos, a produção de riquezas
para o segmento de mercado evangélico. De acordo com o no Nordeste havia aumentado dez vezes mais que a média
texto, tal linha de produtos, denominada “Beleza Cristã”, nacional. Com isso, a região ganhou a atenção dos fabri-
procura passar uma imagem mais próxima dos valores dos cantes de produtos de consumo. O ponto central do texto
evangélicos. A adaptação da estratégia de marketing da pode ser resumido da seguinte forma: este é um excelente
empresa ao universo simbólico dos consumidores pode ser mercado emergente para as empresas. Todavia, suas parti-

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cularidades devem ser observadas. Não se pode apenas cêntricos. As empresas têm obtido resultados concretos com
colocar no Nordeste produtos que fazem sucesso em ou- esse recurso. A revista Exame de 10 de fevereiro de 1999 traz
tras regiões, devem-se adaptá-los ao gosto e aos costumes um artigo que aborda, explicitamente, a utilização do método
locais. Os exemplos descritos são curiosos e ilustrativos. etnográfico por algumas empresas. A matéria intitulada Tire
A margarina “Delícia”, da Unilever, recebeu mais sal e mais o traseiro da cadeira expõe exemplos bem ilustrativos.
corante amarelo para parecer com a manteiga de garrafa, Na Gatorade do Brasil, os funcionários foram estimu-
tradicional no Nordeste. A Pizza Hut, uma das maiores lados a visitar academias de ginástica para observar e con-
cadeias americanas de fast-food, alterou seu cardápio- versar com os consumidores. Durante uma dessas visitas
padrão internacional para incorporar na Bahia e em de campo, surgiu uma idéia inovadora, ainda que pareça
Pernambuco a “pizza baiana”, com temperos picantes que demasiado óbvia. Descobriu-se que os consumidores só
a aproximam da apimentada culinária regional. A Kibon tomavam a bebida depois que retornavam para casa, uma
produz exclusivamente na região sorvetes fabricados com vez que não a levavam para a academia com medo que a
frutas típicas como cajá, mangaba, graviola e acerola. Tais garrafa de vidro se quebrasse nem consumiam na canti-
sorvetes são os mais vendidos pela empresa no Nordeste. na por causa do preço elevado. Essa informação, obtida
Os exemplos poderiam multiplicar-se. Assim como no trabalho de campo, foi a gênese do lançamento do
evangélicos, argentinos e nordestinos, podem-se apontar Gatorade em garrafa plástica.
diversos outros casos de produtos criados ou adaptados A Black & Decker passava por maus momentos no seg-
atentando-se para identidades culturais construídas a par- mento “faça você mesmo”, perdendo espaço no mercado
tir de elementos religiosos, nacionais, regionais ou quais- para concorrentes como a Sears. A empresa decidiu, então,
quer outras formas de identificação que se refletem nos estudar em profundidade os hábitos de 50 consumidores,
comportamentos de consumo dos seus membros. A esses com o propósito de desvendar por que eles preferiam algu-
grupos os antropólogos costumam denominar “comuni- mas ferramentas em detrimento de outras. Com isso, a
dades simbólicas”. Na linguagem do marketing, eles são empresa descobriu que seus clientes queriam potentes
considerados “segmentos ou nichos de mercado”. furadeiras sem fio e serras circulares que não levantassem
A observação desses exemplos leva à seguinte poeira. A Black & Decker redesenhou sua linha de produ-
constatação: se, por um lado, profissionais de marketing tos e, como resultado, retomou a liderança do mercado.
e publicitários jogam cada vez mais com as dimensões O jornal Gazeta Mercantil de 18 de março de 1992 tam-
simbólicas do consumo em suas práticas profissionais, bém apresenta uma matéria com exemplos ilustrativos.
por outro lado, eles não trabalham com as elaborações Traduzida da Advertising Age e denominada Antropólogos
mais recentes de cultura e identidade da Antropologia. na Madison Avenue, a reportagem descreve experiências
Há muito de essencialismo na visão de cultura expressa de recurso à pesquisa etnográfica com o objetivo de levan-
nos exemplos acima, a construção das identidades cultu- tar subsídios para orientar ou reorientar o plano de marketing
rais parece ser atribuída a núcleos centrais supostamente das empresas. Dentre os diversos casos apresentados
irredutíveis. O que é ser evangélico? Possuir cabelos lon- no texto está o dos serviços de correio na zona rural e o da
gos, vestir saia comprida e andar com a bíblia debaixo do General Wills, multinacional fabricante de biscoitos.
braço? O que é ser nordestino? Comer carne-de-sol com Sobre os correios, os antropólogos descobriram que,
manteiga de garrafa? O que é ser baiano? Comer acarajé em áreas rurais, eles são vistos como “um contato com a
quente, isto é, com pimenta? Não se pretende tratar des- sociedade, um antídoto para a solidão”. Isso redirecionou
sas questões aqui, elas não são a motivação deste artigo. os anúncios veiculados na mídia eletrônica, que passaram
Destaca-se, todavia, que o jogo com as identidades cultu- a apresentar o carteiro como um indivíduo comum, enfati-
rais expresso nas estratégias mercadológicas descritas zando a dimensão humana dos serviços postais. “Nós en-
parece estar excessivamente preso ao estereótipo. tregamos para você” passou a ser o slogan da campanha.
O que interessa reter desses casos é que demonstram a Quanto à General Wills, a matéria aponta o seguin-
presença de dimensões culturais e simbólicas informando te: mães entrevistadas na pesquisa de marketing afirma-
o comportamento do consumidor. Pode-se, então, pergun- ram que a decisão de compra da marca resultava da sua
tar se, conseqüentemente, houve uma ampliação do recur- integridade. A pesquisa etnográfica, contudo, revelou
so ao aporte antropológico na gestão de marketing. Quan- que o comportamento de compra era bem diferente. Uma
to a esse aspecto, nos últimos anos, a literatura de difusão criança pedia para comprar biscoitos e, para a mãe, a
sobre o mundo dos negócios também é rica em exemplos. marca era quase irrelevante. A vice-presidente associa-
A busca pelo aporte antropológico tem valorizado da e diretora de pesquisa e planejamento estratégico da
bastante o método de pesquisa característico da Antro- DDB Needham, agência que trabalhava a conta da Ge-
pologia: a etnografia, à qual já fizemos alusão na seção neral Wills, ressaltou que o dado que a pesquisa tradici-
precedente. A julgar pelas informações apresentadas na onal fornecia dizia respeito a uma motivação de catego-
literatura, a utilização do método etnográfico na gestão ria, ou seja, apontava o que incentivou o consumidor a
de marketing não constitui um delírio de executivos ex- comprar um produto, mas não uma marca específica.

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Quanto à marca, na maioria das vezes, eram as crianças dução de pesquisas. Esse empréstimo coloca difíceis ques-
que definiam a compra. tões, que não se pretende tratar aqui.
De todos os exemplos encontrados na literatura de De toda forma, parece inútil que, em um cenário de
difusão, um chama bastante a atenção. Transcreve-se abai- revisões, renegociações e redemarcações das fronteiras
xo a passagem da reportagem publicada na Exame de 10 disciplinares, a Antropologia apresente-se no papel de
de fevereiro de 1999, dada a eloqüência do caso referente guardiã da etnografia. Levando-se em conta os devidos
ao recurso ao aporte antropológico nas práticas de rigores, o método etnográfico pode ser bem utilizado em
marketing da Gessy Lever: outros campos do saber, permitindo a outras disciplinas o
“Gerentes engravatados da Gessy Lever sobem o confronto dos seus próprios conceitos com contextos
morro para entrevistar ao vivo e em cores clientes até então empíricos específicos. Ainda assim, não parece correto
reduzidos a percentagens em impessoais relatórios de denominar pesquisa etnográfica práticas que, na verdade,
pesquisa. (...) Travestidos de garçons ou de telefonistas, são trabalho de campo, observação, mas não etnografia.
os administradores da cadeia Westin de hotéis atendem Apesar de toda a complexidade envolvida nessa questão,

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hóspedes. Ufa! Que canseira. Nada a ver com os bons utilizam-se aqui os termos “pesquisa etnográfica” e “mé-
tempos em que, para desenvolver e lançar novos produ- todo etnográfico” com o objetivo de chamar a atenção
tos (ou aperfeiçoar outros já existentes), bastava identifi- para o fato de que a etnografia é acionada como um im-
car o público-alvo, fixar o preço e aprovar a campanha de portante “capital simbólico” (Thompson, 1995) pelos an-
propaganda. Tudo isso sem abandonar o conforto e a pri- tropólogos que vêm construindo uma inserção no mundo
vacidade de um escritório refrigerado (...) Isso é passado. do marketing.
Pelo menos nas empresas que hoje melhor se aplicam na
prática de entender a cadeia de valores considerados im-
portantes pelos clientes na avaliação de produtos e servi- A ETNOGRAFIA DE GRUPOS DE
ços (...) Existem companhias que levam ao extremo a pre-
ocupação de fazer com que seus executivos saiam a cam- CONSUMIDORES BUSCA MAPEAR AS
po para investigar as necessidades dos consumidores. No
Brasil, o principal expoente dessa corrente é a filial da MOTIVAÇÕES DE COMPRA A PARTIR
anglo-holandesa Unilever (...) Essas práticas começaram
DA TRÍADE INDIVÍDUOS-GRUPOS
a ser adotadas há cerca de cinco anos, quando a Gessy
Lever transformou seus gerentes em aprendizes de antro- DE REFERÊNCIA-PRODUTOS.
pólogos. Com gravadores a tiracolo, eles passaram a via-
jar pelo Brasil para conhecer como vivem e se expressam
os consumidores de baixa renda. Por trás do programa Tendo ressaltado o substrato cultural e simbólico do
havia a intenção de desenvolver o mercado de produtos consumo e o recurso ao aporte antropológico no âmbito
para essa faixa da população. Como o público-alvo da do marketing, serão discutidas, a seguir, com base no mé-
Gessy Lever sempre foi a classe média, aquele era um todo biográfico (Bertaux, 1980; Becker, 1999), as traje-
universo pouco conhecido (...) As grandes companhias tórias profissionais de dois antropólogos no campo da Ad-
finalmente descobriram que seus gerentes e diretores es- ministração Mercadológica7.
tavam muito distantes do consumidor.” O método biográfico, também denominado de “histó-
Do que foi exposto até aqui, pode-se questionar a res- ria de vida”, ficou notabilizado entre as metodologias
peito da natureza dessas pesquisas realizadas, seja por qualitativas desde a sua extensa utilização pela Escola de
antropólogos, seja por pesquisadores de mercado. Trata- Chicago em estudos sobre imigrantes, jovens delinqüen-
se, realmente, de exemplos de utilização do método tes, prostitutas e outros grupos de desviantes. Segundo
etnográfico? A centralidade da prática etnográfica na pro- Becker, tal método atribui grande importância às inter-
dução do conhecimento antropológico leva a uma res- pretações que as pessoas fazem de sua própria experiên-
posta negativa a essa questão. Fazer etnografia implica cia, representando, assim, importante via de acesso ao
colocar em diálogo as categorias nativas com os concei- vivido subjetivo. Dada a sua riqueza, o método biográfi-
tos antropológicos. Por essa razão, a etnografia tem sido co aplica-se a propósitos como a verificação de pressu-
apontada como uma fonte de renovação teórica para a posições (Becker, 1999) e a construção de hipóteses
Antropologia (Geertz, 1983; Peirano, 1995). Todavia, a (Bertaux, 1980). Assim, ele parece bem adequado ao in-
partir dos anos 80, quando a Antropologia ganhou maior teresse deste estudo, que pretende verificar o pressuposto
visibilidade tanto no interior quanto no exterior das Ciên- de que tem ocorrido um recurso ao aporte antropológico
cias Sociais (Durham, 1986), a “perspectiva antropológi- na Administração Mercadológica.
ca” e o “olhar antropológico” passaram a ser recursos rei- Vale ressaltar, entretanto, uma limitação na utilização
vindicados por diversas disciplinas, do campo da Saúde à desse método na presente pesquisa. O interesse esteve
área da Educação, passando pela Administração, na con- voltado apenas para a biografia ocupacional dos infor-

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mantes, ao passo que Bertaux (1980) destaca que, com a comportamento do consumidor. Entender mais a fundo
separação domicílio–trabalho promovida pelo advento da porque as pessoas compram, de que forma consomem,
sociedade capitalista, muitas pessoas passaram a viver como é que os grupos se classificam vis-à-vis outros gru-
vidas paralelas: uma no trabalho, outra na família, uma pos a partir do uso de determinados objetos, esses são
terceira correspondente a algum projeto pessoal. De toda espaços que podem ser ocupados pelos antropólogos.”
forma, esse mesmo autor ressalta que nem todas as pes- O profissional A vem atuando como consultor de
quisas que fazem uso desse método precisam obrigato- empresas nessa fronteira entre a Antropologia do Consu-
riamente abranger a totalidade da existência dos sujeitos mo e a gestão de marketing. Ele vem desenvolvendo tra-
sociais. É preciso destacar ainda que as histórias de vida balhos em basicamente três direções.
profissional apresentadas aqui foram recolhidas median- A primeira delas refere-se à orientação para elabora-
te entrevistas semi-estruturadas, ou seja, entrevistas apli- ção do planejamento de marketing das empresas e defini-
cadas a partir de um pequeno número de perguntas aber- ção de ações estratégicas. As metodologias de elabora-
tas (Thiollent, 1981). ção do planejamento empresarial tradicionalmente cru-
zam, numa estrutura matricial, uma análise do ambiente
externo – em termos de ameaças e oportunidades – com
TRAJETÓRIAS PROFISSIONAIS DE um exame do ambiente interno – que procura identificar
ANTROPÓLOGOS NO CAMPO DA os pontos fortes e os pontos fracos da organização. As
ADMINISTRAÇÃO MERCADOLÓGICA informações resultantes desse cruzamento embasam a
definição das ações que serão desenvolvidas na condu-
Antropologia e consultoria em ção dos negócios. Para auxiliar na análise do ambiente
marketing: a trajetória do profissional A externo, geralmente, as empresas contratam economis-
Vindo de graduação e de mestrado em Comunicação tas, que empreendem os chamados “estudos de cenário”.
– ocasião em que analisou a representação social da pro- O profissional A argumenta que o recurso ao saber
fissão de publicitário –, o profissional A ingressou, inici- antropológico é importante tanto na análise externa quanto
almente, no mestrado e, em seguida, no doutorado em na interna. No que tange à análise externa, a leitura da
Antropologia Social de uma conceituada instituição do cultura brasileira e a percepção das diferenças culturais
eixo Rio–São Paulo. Suas pesquisas em Antropologia em um mundo globalizado podem ajudar a empresa a
possuem uma solução de continuidade com sua forma- antecipar-se às ameaças e/ou oportunidades ambientais.
ção na área de Comunicação. Publicidade, comunicação Seguindo a linha de Sahlins (1979), ressaltou que as ame-
de massa e consumo foram temáticas privilegiadas, rela- aças e oportunidades não dizem respeito apenas à dimen-
cionadas com a questão cultural. são econômica. Assim, a análise sociocultural do ambi-
Até a defesa da dissertação de mestrado em Antropo- ente externo também deve direcionar a formulação do
logia, ele não havia vislumbrado a possibilidade de apli- planejamento de marketing. Quanto à análise interna, a
car os conhecimentos produzidos na trajetória acadêmica leitura das dimensões culturais da empresa representa
em trabalhos de consultoria. Entretanto, quando cursava importante contribuição à análise organizacional. O pro-
o doutorado, recebeu um convite para ministrar um pe- fissional A já foi contratado por um grande banco brasi-
queno curso em um programa de pós-graduação em Ad- leiro para fazer um estudo da sua cultura organizacional.
ministração do Sudeste brasileiro. A “etnografia de grupos de consumidores” foi outra
Os professores de marketing do programa tiveram prática apontada pelo profissional A. Partindo também
acesso à sua dissertação de mestrado, que fora transfor- da abordagem desenvolvida por Sahlins (1979)8, para
mada em livro, e entenderam que havia possibilidades de quem o consumo atua nas sociedades capitalistas como
convertê-la numa linha de pesquisa. Assim, de um pe- uma espécie de “operador totêmico” capaz de classificar
queno curso inicial, ele foi convidado, após a conclusão os indivíduos em grupos, ele destacou que a “etnografia
do doutoramento, também transformado em livro, para de grupos de consumidores” busca mapear as motivações
atuar como professor associado, ministrando duas cadei- de compra a partir da tríade indivíduos–grupos de refe-
ras: Antropologia Social, como disciplina obrigatória para rência–produtos. O profissional A informou que já foi
mestrandos e doutorandos, e Antropologia do Consumo, contratado por grandes empresas para realizar pesquisas
como seminário especial para o doutorado. qualitativas, etnográficas, com grupos específicos de con-
No decorrer do seu trabalho nessa instituição, o pro- sumidores (donas de casa, representantes das camadas
fissional A começou a perceber a utilidade prática da in- médias da sociedade, etc.). O seu papel era o de interpre-
terpretação antropológica na consultoria em Administra- tar os significados que os membros desses grupos atribu-
ção Mercadológica. Para ele, a Antropologia pode pres- em a determinados produtos e a seus concorrentes e des-
tar excelente auxílio às empresas na formulação dos seus vendar a forma como esses produtos são utilizados.
planos de marketing: “A Antropologia pode dar uma con- Há, ainda, uma terceira via de atuação do profissional
tribuição enorme ao que se denomina em marketing de A: o apoio às empresas na relação com as agências de

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Etnomarketing: antropologia, cultura e consumo

publicidade. Seu trabalho consiste em propor estratégias a familiaridade com a linguagem própria desse métier, o
de posicionamento dos produtos no mercado em virtude domínio da terminologia consagrada no universo do
dos valores e da visão de mundo específicos do público- marketing, foi um importante “capital cultural” (Bourdieu,
alvo. Trata-se de identificar features a serem fixadas à 1987) adquirido com a pós-graduação. Ao findar o curso,
imagem dos produtos nas campanhas de comunicação. ela foi contratada para lecionar na mesma instituição.
Com sólida formação em Antropologia, o profissional Sua experiência de trabalho nas duas pontas do proces-
A conseguiu articular sua inserção na consultoria em so de pesquisa de marketing, como pesquisadora e como
marketing. Todavia, a atividade de consultoria é algo com- contratante, terminou levando-a a abrir sua própria empre-
plementar na sua prática profissional. Ele afirma que a pes- sa de pesquisa mercadológica. Sua decisão é explicada da
quisa acadêmica e a docência são suas ocupações principais. seguinte forma: “Eu sabia fazer pesquisa, então comecei a
Tal não é o caso da personagem cuja biografia ocupacional pensar nos elementos que sentia falta nos fornecedores que
apresenta-se a seguir. Sua trajetória foi construída privilegi- me entregavam os trabalhos que encomendava. Sentia fal-
ando mais as atividades práticas do que as acadêmicas, e ta de um aprofundamento maior das análises que eram fei-

Mercadologia
hoje ela atua full-time como profissional de marketing. tas a partir dos dados levantados. Havia possibilidade de
fundamentar de forma mais consistente a observação do
Uma antropóloga na pesquisa de comportamento do consumidor. Então achei que esse pode-
marketing: a trajetória da profissional B ria ser o diferencial do meu produto, da minha pesquisa”.
A profissional B concluiu a graduação em Ciências
Sociais e o mestrado em Antropologia Social em institui-
ções renomadas do Sudeste brasileiro. A aproximação com A GESSY LEVER TRANSFORMOU
o universo do marketing iniciou-se na década de 70, com
a decisão de procurar uma empresa que financiasse os SEUS GERENTES EM APRENDIZES DE
trabalhos de pesquisa da sua dissertação de mestrado, cujo
tema era a publicidade. A empresa-parceira terminou con-
ANTROPÓLOGOS: ELES VIAJARAM PELO
tratando-a, após a defesa da dissertação, para desenvol-
ver dois projetos: o primeiro na área de comunicação so-
BRASIL PARA CONHECER COMO VIVEM
cial, investigando a imagem da empresa perante a opi- OS CONSUMIDORES DE BAIXA RENDA.
nião pública, e o segundo no campo do endomarketing,
utilizando técnicas de dinâmica de grupo no treinamento
de pessoal para o lançamento de novos produtos. A empresa não teve muitas dificuldades para conquis-
Ao desligar-se dessa companhia, ela assumiu, por cir- tar espaço no mercado, uma vez que ela possuía um “ca-
cunstâncias particulares, a administração geral de uma pital de relacionamento” fundamental para alavancar o
empresa de médio porte de seu grupo familiar. A experiên- negócio. Os diversos alunos que passaram pelas discipli-
cia durou cerca de dois anos, sendo fundamental, segundo nas que ela ministrava no programa de pós-graduação em
ela, para reforçar o seu interesse pela atividade gerencial. Administração Mercadológica estavam posicionados em
Posteriormente, a profissional B passou a trabalhar cargos de gerência de marketing ou gerência de produto
em um instituto que realizava pesquisas de marketing para em grandes empresas.
diversas empresas. Devido à rede de relações com “ho- Uma interpretação apressada da biografia ocupacional
mens de negócios” construída nesse período, foi contra- da profissional B poderia levar a supor que ela não é mais
tada para atuar no departamento de marketing de uma uma antropóloga ou que fizera uma escolha profissional
empresa multinacional. A partir daí, teve sucessivas ex- errada, tendo oportunidade de corrigir o rumo no desdo-
periências de Administração Mercadológica em empre- bramento da sua trajetória. As coisas, entretanto, não se
sas de diferentes setores da economia, ocasião em que se passam de maneira tão simples assim. A construção das
encontrava numa situação inversa àquela vivenciada no identidades sociais é um jogo complexo que envolve a
instituto: passara a contratar pesquisas de marketing. “auto-identificação” e a “identificação pelos outros” (Car-
Durante esse tempo, complementou sua formação doso de Oliveira, 1976; Ruben, 1988, 1992). Embora a
acadêmica e profissional com uma pós-graduação em profissional reconheça que teve dificuldades no relacio-
marketing. Dessa forma, pôde incorporar à sensibilidade namento com os pares antropólogos em decorrência de
que a Antropologia lhe fornecera para o trabalho no cam- sua aproximação com o mundo empresarial, o que a fez
po da gestão mercadológica outros conhecimentos que se sentir um “caso desviante” na instituição onde cursou
não haviam sido adquiridos nos estudos de Ciências So- o mestrado – ainda que acredite que hoje seus ex-profes-
ciais, a exemplo de distribuição física dos produtos, ad- sores e ex-colegas de Antropologia não a consideram uma
ministração de vendas e política e formação de preços. A profissional da área –, ela fez questão de frisar em diver-
aprendizagem dessas habilidades não era motivada ape- sos momentos que se auto-atribui a identidade de antro-
nas por uma razão prática. A profissional B ressaltou que póloga: “Eu me vejo como antropóloga, no sentido do

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Mercadologia

exercício do saber antropológico, mas numa outra instân- universo do consumo, os departamentos de marketing das
cia. Me vejo assim porque depois que você adquire a for- empresas, os institutos de pesquisa de mercado e as agên-
ma de pensar o mundo da Antropologia, você não conse- cias de publicidade têm recorrido ao aporte antropológi-
gue viver sem ela (...) As ferramentas que a gente adquire co. Os personagens das trajetórias apresentadas neste ar-
nos cursos de Sociologia e especialmente de Antropolo- tigo perceberam esse movimento e, então, orientaram ou
gia são muito valiosas para a realização da pesquisa de reorientaram suas práticas profissionais, aproveitando esse
marketing. Em que sentido? No sentido que a pesquisa espaço aberto aos antropólogos no mercado de trabalho.
de mercado busca descobrir estruturas de raciocínio que
embasam processos decisórios que levam as pessoas a
adotar determinados produtos e rejeitar outros, a se en- CONSIDERAÇÕES FINAIS
cantar com mensagens publicitárias (...) Quando estou
pesquisando um produto, tenho que ter uma sensibilidade Pretendeu-se, neste artigo, contribuir para a discussão
para entender o comportamento do outro, senão acabo sobre a fronteira interdisciplinar que envolve a Antropo-
colocando o que eu acho, e o que eu acho não é o que o logia do Consumo e a Administração Mercadológica. Para
consumidor acha. Então esse distanciamento que sou obri- tanto, a estratégia narrativa adotada no texto privilegiou
gada a construir reforça minha condição de antropóloga”. dois aspectos: a) a apresentação de situações concretas
A ambigüidade de sua identidade evidencia-se também que evidenciam o importante papel que jogam as dimen-
na percepção que as empresas contratantes têm do seu tra- sões culturais e simbólicas no universo do consumo e b)
balho. Ao ser perguntada se essas empresas a identificam a discussão sobre o recurso ao aporte antropológico na
como antropóloga e se visualizam e valorizam a contribui- gestão de marketing, mediante a apresentação de alguns
ção que a Antropologia pode oferecer ao campo da Admi- casos extraídos da literatura de difusão sobre o universo
nistração Mercadológica, a profissional B respondeu que empresarial e a descrição, apoiada no método biográfico,
em alguns casos sim, mas em muitos outros não. Ela acre- da trajetória profissional de dois antropólogos no campo
dita que, na maior parte das vezes, o universo empresarial da Administração Mercadológica.
ainda percebe a Antropologia como um campo exótico. Acredita-se que os casos e experiências apresentados
Exótico, mas não necessariamente negativo, ao contrário, no texto demonstram que o saber antropológico muito pode
despertando interesse, suscitando curiosidade. A identifi- contribuir para o avanço da gestão de marketing. Não pa-
cação “Antropóloga” abre seu curriculum, utilizado como rece ser por outra razão que um número crescente de em-
carta de apresentação da empresa. Na verdade, ela não tem presas venha demandando os serviços desses profissionais.
certeza se as empresas contratantes possuem a consciência Entretanto, devemos fazer algumas observações a respeito
de que estão comprando um serviço que agrega conheci- desse recurso ao aporte antropológico. O antropólogo que
mentos de Antropologia. Se omitisse essa informação, tal- atua no campo do marketing torna-se um auxiliar da or-
vez não fizesse falta, ressaltou. De toda forma, prefere dem estabelecida? Estariam esses profissionais transfor-
não tomar essa atitude, por acreditar que a Antropologia, mando-se, eles mesmos, naquilo que Sahlins (1979) deno-
mesmo sendo uma disciplina que “não faz o seu próprio minou de “mercenários do símbolo”? Quais as conseqüên-
marketing”, “não divulga as contribuições que pode ofere- cias de tal transformação? O conhecimento antropológico
cer às empresas”, vem ganhando, nos últimos anos, maior passa a ser uma sofisticada arma para a dominação simbó-
visibilidade no universo empresarial. lica do consumidor? Ao construírem estratégias de marketing
Dois aspectos tornam a experiência da profissional B lastreadas em interpretações antropológicas cada vez mais
singular. Em primeiro lugar, o fato de ter conquistado um refinadas, não estariam as empresas ludibriando os indiví-
novo espaço no mercado de trabalho. Não se trata de uma duos? Até que ponto estes estão capacitados (ou dispostos) a
profissional situada no universo acadêmico, prestando exercer a cidadania, se contrapondo a tais condutas?
serviços eventuais de consultoria em marketing, mas de Recomenda-se ao leitor retornar à terceira seção des-
alguém que se pretende antropóloga prática, tendo mon- te texto e reler as considerações sobre a presença de di-
tado uma empresa para interagir full-time com o universo mensões culturais e simbólicas informando o comporta-
empresarial. Em seguida, o seu pioneirismo. Sua trajetó- mento do consumidor. No que se refere, por exemplo, ao
ria no mundo do marketing iniciou-se ainda na primeira caso da margarina “Delícia”, da Unilever, que recebeu
metade dos anos 70. A julgar pelos dados etnográficos mais sal e mais corante amarelo para parecer-se com a
levantados durante uma dissertação de mestrado (Jaime manteiga de garrafa tradicional no Nordeste, cabe per-
Júnior, 1997), ela foi a primeira antropóloga brasileira a guntar quais são os limites éticos dessa manipulação das
tornar-se uma profissional de marketing. dimensões antropológicas do consumo.
A essas biografias ocupacionais certamente poderiam Responder a essas questões não é uma tarefa simples.
se juntar outras. De toda forma, as duas experiências des- Elas exigem um debate acurado. Portanto, não se preten-
critas parecem comprovar que, motivados pelo importante de discuti-las nem resolvê-las aqui. Talvez devam ser
papel que jogam as dimensões culturais e simbólicas no objeto de um outro artigo. De toda sorte, se o risco de o

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Etnomarketing: antropologia, cultura e consumo

conhecimento antropológico ser apropriado de forma es- numa perspectiva crítica e política. Nessa última direção,
púria no universo do marketing existe, e isso parece ine- a disciplina certamente pode prestar excelente contribui-
gável, é preferível que os antropólogos corram esse risco ção à compreensão do fenômeno do consumo a partir de
e entrem nesse complexo jogo de interesses. uma de suas facetas, muito debatida, mas ainda pouco
Ao lançarem-se no jogo, eles devem adotar uma es- estudada com um aporte antropológico: o não-consumo.
tratégia de dupla entrada. Trata-se de conciliar a inserção No intuito de provocar o leitor a pensar sobre essa possi-
de antropólogos práticos em organizações empresariais, bilidade, encerra-se este artigo com uma frase do soció-
institutos de pesquisa de mercado e agências de publici- logo português Boaventura de Sousa Santos: “Pior que
dade, com a construção, no ambiente acadêmico, nas uni- reduzir o desejo ao consumo é reduzir o consumo ao de-
versidades, de uma Antropologia do Consumo lastreada sejo do consumo” (Santos, 1994, p. 270). 

NOTAS

Mercadologia
O autor agradece aos professores Maurício Serva, Cloves são compostas por um menor contigente populacional, são história da disciplina antropológica. Não se tem pretensões
Oliveira e Francisco Vieira e ao antropólogo Alcides Gussi mais homogêneas e mais holistas, já que nelas os grupos nem condições de refazer essa viagem aqui. Destaca-se,
pelas críticas à primeira versão deste artigo. Contudo, sociais são mais importantes que os indivíduos. O termo é porém, o seguinte: Lévi-Strauss (1986, 1989) recolocou
a versão final aqui apresentada é de exclusiva problemático, mas não há espaço aqui para desenvolver uma as bases dos estudos sobre totemismo no âmbito da
responsabilidade do autor. discussão a esse respeito. Antropologia. Para ele, os trabalhos precedentes,
inclusive os de Radcliffe-Brown (1989) e os de Freud
1. Para uma discussão sobre a cultura de consumo em um 5. Vale ressaltar que Sahlins (1979) não vê com bons olhos (1924), cometeram um erro quando tentaram analisar
contexto pós-moderno, ver Featherstone (1995). essa apropriação do conhecimento antropológico pelos o totemismo a partir da relação dos grupos sociais
profissionais de marketing, tidos por ele como “mercenários diretamente com os totens. Bem dentro da sua abordagem
2. A expressão “povos primitivos” – ou “sociedades do símbolo”. É evidente que não se trata apenas de uma estruturalista, ele tentou demonstrar que o centro da
primitivas” – é marcada pela perspectiva evolucionista, idiossincrasia do antropólogo norte-americano. O que está discussão deve ser alterado da relação entre o grupo social
que concebia os povos tribais como fósseis vivos dos nossos e o totem para a relação dos grupos sociais entre si, por
por trás de sua posição é a preocupação com a dimensão
antepassados. Ainda que essa corrente paradigmática intermédio dos totens. Do seu ponto de vista, as
ética: estariam em jogo os limites da aplicação do saber
esteja superada no âmbito da teoria antropológica sociedades “primitivas” empreendem uma operação
antropológico e a responsabilidade social do antropólogo, totêmica quando elegem séries de opostos na natureza –
contemporânea, tal expressão permaneceu, sendo o questões que preocupam a disciplina desde a sua origem, por exemplo, animais noturnos por oposição a animais
vocábulo primitivo grafado entre aspas para denotar o seu no contexto da dominação colonial. diurnos ou aves por contraste a rastejadores – para realçar
substrato etnocêntrico. as oposições que informam a estrutura social. Nesse
6. Para uma discussão das categorias “público” e “privado” sentido, o alvo da explicação antropológica seria a
3. Uma afirmação do antropólogo norte-americano Vicent na cultura brasileira, ver os trabalhos do antropólogo Roberto correspondência entre uma série de oposições na natureza
Crapanzano (1980, p. xiv) parece resumir bem o que está- DaMatta, sobretudo seu livro A casa e a rua (DaMatta, 1991). e uma série de oposições na estrutura da sociedade.
se tentando ressaltar:“Anthropology should, I believe, lead Segundo Lévi-Strauss, o totemismo teria desaparecido nas
us to question, not to confirm, our own presumptions.” 7. Essas biografias ocupacionais foram recolhidas durante o sociedades ocidentais. É justamente aí que entra o ponto
trabalho de campo referente à dissertação de mestrado, na de Sahlins. Para ele, o totemismo não desapareceu nas
4. A expressão “sociedades complexas”, construída por qual, partindo do marco teórico-metodológico da etnografia sociedades capitalistas ocidentais. O que ocorre é que a
oposição ao termo “sociedades primitivas”, designa as do saber, foram analisados os encontros entre os saberes da operação totêmica é realizada não mais pela mediação
sociedades industriais (ou pós-industriais) que possuem Antropologia e da Administração (Jaime Júnior, 1997). de uma série de oposições na natureza, mas buscando-se
as seguintes características: são formações de larga escala, essas oposições nos objetos de consumo. Os grupos sociais
possuem grande heterogeneidade interna e são marcadas 8. Sahlins está tomando emprestado um termo clássico da iriam diferenciar-se uns vis-à-vis os outros por meio das
pelo individualismo. As sociedades tribais, por contraste, Antropologia. Falar das práticas totêmicas é retomar a própria relações que estabelecem com esses objetos.

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