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A Lei
20 de Arbitragem
20.1 – Introdução
Noções Gerais
Noções Iniciais:
A arbitragem é o instituto através do qual as partes confiam a um ou mais árbitros, livremente
designados, a missão de solucionar conflitos relativos a direitos patrimoniais. É um mecanismo
amplamente difundido em diversos países, pois permite às partes envolvidas resolver suas disputas
sem a necessidade de se recorrer aos meios jurisdicionais tradicionais, resultando em maior rapidez e
eficácia. Observamos atualmente que aqueles que procuram resolver suas controvérsias através da
via judicial têm enfrentado um sistema judiciário lento, burocrático e com quantidade excessiva de
recursos. Diante disso, a arbitragem tornou-se uma alternativa atraente como meio alternativo de
solução de litígios. Vale ressaltar que na arbitragem, o litígio é resolvido sem a intervenção do Poder
Judiciário, salvo se for necessária a adoção de medidas cautelares ou de urgência. A sentença arbitral,
ademais, constitui título executivo judicial, tal qual a sentença proferida pelo juízo estatal, e pode ser
executada judicialmente, em caso de resistência da parte vencida em cumpri-la espontaneamente.
Legislação:
A lei que dispõe sobre arbitragem é a Lei nº 9.307, de 23 de setembro de 1996, conhecida como Lei
de Arbitragem. Esta Lei autorizou a utilização da arbitragem para o julgamento de litígios
envolvendo bens patrimoniais disponíveis
Histórico:
No Brasil, o instituto da arbitragem já foi previsto na Constituição Imperial de 1824. Também esteve
presente no Código Comercial de 1850 e no Código Civil de 1916. Contudo, foi pouco utilizado, pois
não oferecia garantias jurídicas e apresentava-se de maneira burocratizada para resolver os litígios.
Com a Lei nº 9.307/96, houve uma maior aceitação do instituto, uma vez que conferiu efetividade à
cláusula arbitral, agora dotada de execução específica. A arbitragem, se prevista em contrato ou em
documento em separado, tornou-se obrigatória às partes, que só poderão evitá-la de comum acordo.
E, se um deles ingressar com ação no Poder Judiciário, nos termos da lei em vigor, o processo deverá
Espécies de Arbitragem:
Há duas formas de se operacionalizar o procedimento arbitral: através de arbitragem institucional ou
por meio de arbitragem avulsa, também conhecida como ad hoc.
Cabimento da Arbitragem:
LEI Nº 9.307,
DE 23.09.1996
Art. 1º - As pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para dirimir litígios
relativos a direitos patrimoniais disponíveis.
Conforme o art. 1º da Lei de Arbitragem, somente as pessoas capazes de contratar poderão adotar a
arbitragem e só podem ser submetidos à arbitragem litígios relativos a direitos patrimoniais
disponíveis. Direitos patrimoniais são aqueles que podem ser avaliados monetariamente e direitos
disponíveis, por sua vez, são aqueles dos quais as partes podem livremente dispor, e que podem ser
objeto de transação, renúncia ou cessão. Certas matérias, por envolverem direito indisponível, não
podem ser submetidas à arbitragem, como exemplo, questões de direito penal ou direito pessoal de
família.
Regras Aplicáveis:
As partes podem escolher livremente as regras aplicáveis à arbitragem, desde que de comum acordo.
É comum inclusive, em arbitragens versando sobre questões de comércio internacional, a escolha de
lei estrangeira. As partes podem estabelecer, igualmente, que o procedimento arbitral deverá ser
regido com base em princípios gerais de direito, em usos e costumes, em regras internacionais de
comércio (Lex Mercatoria), ou mesmo em equidade. Contudo, não poderão ser aplicadas regras que
afrontem os bons costumes ou a ordem pública nacional.
§ 2º - Poderão, também, as partes convencionar que a arbitragem se realize com base nos princípios
gerais de direito, nos usos e costumes e nas regras internacionais de comércio.
Este princípio pode parecer demonstrar que não deva ser adotada qualquer outra forma de
solução de litígios que não seja através do Judiciário, mas não é esse o seu intuito. O objetivo
é prevenir que existam abusos por parte do Estado, na hipótese deste não permitir que exista a
plena atuação do Judiciário. A escolha de um juízo arbitral pelas partes não configura
nenhum abuso, sendo perfeitamente possível diante do preceito constitucional. Vale lembrar
que o nosso sistema jurídico admite outras formas de composição de conflitos fora da
jurisdição estatal como, por exemplo, a transação, figura jurídica próxima do juízo arbitral
como meio legal posto à disposição dos contendores para a solução de suas pendências, a
qual produz o efeito de coisa julgada.
Existe também a idéia de que a arbitragem atentaria contra o princípio do juiz natural, que se
encontra alojado no art. 5º, inciso LIII da Constituição Federal, mas esta também não se
justifica. Quando alguém opta por requerer a tutela jurisdicional conferida pelo Estado, o
poder de julgar é exercido em nome dele, como expressão de sua soberania. No
desenvolvimento da atividade estatal, a ninguém é dada a faculdade de exercer funções
cometidas com exclusividade ao órgão competente segundo as normas de ordem pública.
Entretanto, quando as partes optam por resolver a demanda em juízo arbitral, a solução não
requer a atuação do corpo estatal, ou seja, a jurisdição estatal não é provocada para dar uma
solução ao caso resolvendo, seus interesses, sem se falar em ajustamento ao princípio do juiz
natural. A solvência, ao contrário, resulta da livre autonomia das partes, por meio da escolha
de um intermediário que resolve a contenda.
LEI Nº 9.307,
DE 23.09.1996
Art. 3º - As partes interessadas podem submeter a solução de seus litígios ao juízo arbitral mediante
convenção de arbitragem, assim entendida a cláusula compromissória e o compromisso arbitral.
Cláusula Compromissória:
Pode uma das partes se recusar a instituir a arbitragem, mesmo quando houver
celebrado cláusula arbitral?
Não, a arbitragem é obrigatória se as partes firmaram cláusula arbitral. Se uma das partes
recusar-se a participar da arbitragem, a outra parte poderá requerer, em juízo, a execução
específica da cláusula arbitral, e a sentença judicial valerá como compromisso arbitral.
Compromisso Arbitral:
Embora a Lei de Arbitragem não exija que o árbitro possua formação jurídica, é sempre
recomendável que seja desta forma. É comum, porém, quando a pendência versa sobre
questão técnica que se nomeie como árbitro, profissionais de outras áreas, como engenheiros
ou contabilistas.
Número de Árbitros:
As partes poderão nomear mais de um árbitro, constituindo-se neste caso, um tribunal arbitral. A
composição deverá ser sempre em número ímpar, para evitar empate nas decisões. Quando as partes
nomearem árbitros em número par, os próprios árbitros poderão nomear, de comum acordo, mais um
integrante do tribunal arbitral. Não havendo acordo entre os árbitros indicados pelas partes sobre o
árbitro adicional, as partes deverão requerer ao Poder Judiciário a nomeação do membro suplementar
do tribunal arbitral. Sendo nomeados vários árbitros, estes, por maioria, elegerão o presidente do
tribunal arbitral. Não havendo consenso, será designado presidente mais idoso. O árbitro ou o
presidente do tribunal designará, se julgar conveniente, um secretário para lhe ajudar, que poderá ser
um dos árbitros.
Poderes do Árbitro:
O árbitro age, no âmbito do procedimento arbitral, como juiz de fato e do direito (art. 18). Esclareça-
se, entretanto, que o árbitro, apesar de exercer função pública, não possui as prerrogativas atribuídas
por lei aos membros do Poder Judiciário.
Os árbitros, quando no exercício de suas funções ou em razão delas, ficam equiparados aos
funcionários públicos, para os efeitos da legislação penal. Ressalte-se, entretanto, que os
árbitros não são considerados funcionários públicos, nem a eles equiparados, para qualquer
outro fim.
Impedimentos:
Estão impedidos de funcionar como árbitros as pessoas que tenham, com as partes ou com o litígio
que lhes for submetido, algumas das relações que caracterizam os casos de impedimento ou
suspeição de juízes, nos termos do Código de Processo Civil. O árbitro deve revelar às partes, antes
de aceitar a função, qualquer fato que possa ensejar dúvida quanto a sua capacidade de cumprir com
esses deveres. Por exemplo, o árbitro deve revelar se alguma vez advogou para uma das partes.
Os árbitros sofrem as mesmas limitações que os juízes togados no que diz respeito às
possibilidades de impedimento ou suspeição previstas pelo Código de Processo Civil.
Recusa do Árbitro:
O árbitro somente poderá ser recusado por motivo ocorrido após sua nomeação. Poderá, entretanto,
ser recusado por motivo anterior à sua nomeação, quando não for nomeado, diretamente pela parte;
ou o motivo para a recusa do árbitro for conhecido posteriormente à sua nomeação. A parte
interessada em arguir a recusa do árbitro apresentará, nos termos do artigo 20, a respectiva exceção,
diretamente ao árbitro, suspeito ou impedido, que será substituído.
Substituição:
Se o árbitro escusar-se antes da aceitação da nomeação, ou, após a aceitação, vier a falecer, tornar-se
impossibilitado para o exercício da função, ou for recusado, assumirá seu lugar o substituto indicado
no compromisso, se houver. Não havendo substituto indicado para o árbitro, aplicar-se-ão as regras
do órgão arbitral institucional ou entidade especializada, se as partes as tiverem invocado na
convenção de arbitragem. Nada dispondo a convenção de arbitragem e não chegando as partes a um
acordo sobre a nomeação do árbitro a ser substituído, a parte interessada recorrerá ao Judiciário para
realizar a substituição, a menos que as partes tenham declarado, expressamente, na convenção de
arbitragem, não aceitar substituto.
Despesas da Arbitragem:
A Lei de Arbitragem não estabelece como as partes devem arcar com os honorários e despesas
relacionadas ao procedimento arbitral. Isso pode ser estabelecido na cláusula compromissória, no
compromisso arbitral ou no regulamento da instituição de arbitragem. Se não o for, a sentença
arbitral deverá decidir a questão. Contudo, poderá o árbitro ou o tribunal arbitral determinar às partes
o adiantamento de verbas para despesas e diligências que julgar necessárias.
Regras Gerais
Noções Iniciais:
A arbitragem segue os critérios e os trâmites estabelecidos pelas partes, com o suprimento das regras
processuais comuns, entretanto, o procedimento arbitral deverá observar certos princípios
processuais. Se forem necessárias, poderá haver diligências, perícias, depoimentos pessoais e oitiva
de testemunhas, se preciso for. No curso do processo, as partes têm a opção de postular por
intermédio de advogado ou não. A revelia, inclusive, não impede que seja proferida a sentença
arbitral.
Regras Procedimentais:
O procedimento arbitral é bem mais flexível do
que o processo judicial. A arbitragem obedecerá IMPORTANTE:
ao procedimento estabelecido pelas partes na
O procedimento arbitral deverá
cláusula compromissória ou no compromisso observar, obrigatoriamente,
arbitral, e não precisa seguir fielmente as regras os seguintes princípios processuais,
do Código de Processo Civil. As partes sob pena de nulidade:
poderão adotar, como normas procedimentais, • contraditório;
as regras de um órgão arbitral institucional ou • igualdade das partes;
entidade especializada. Caso não haja • imparcialidade do árbitro; e
estipulação expressa sobre o procedimento, • livre convencimento do árbitro.
caberá ao árbitro ou ao tribunal arbitral
discipliná-lo.
Produção de Provas:
Poderá o árbitro ou o tribunal arbitral tomar o depoimento das partes, ouvir testemunhas e determinar
a realização de perícias ou outras provas que julgar necessárias, mediante requerimento das partes ou
de ofício. O depoimento das partes e das testemunhas será tomado em local, dia e hora previamente
comunicados, por escrito, e reduzido a termo, assinado pelo depoente, ou a seu rogo, e pelos árbitros.
Em caso de desatendimento, sem justa causa, da convocação para prestar depoimento pessoal, o
árbitro ou o tribunal arbitral levará em consideração o comportamento da parte faltosa, ao proferir
sua sentença. Se a ausência for de testemunha, nas mesmas circunstâncias, poderá o árbitro ou o
presidente do tribunal arbitral requerer à autoridade judiciária que ordene a condução da testemunha
para prestar depoimento. Se, durante o procedimento arbitral, um árbitro vier a ser substituído, fica a
critério do substituto repetir as provas já produzidas.
Questão Prejudicial:
Sobrevindo no curso da arbitragem controvérsia acerca de direitos indisponíveis e verificando-se que
de sua existência, ou não, dependerá o julgamento, o árbitro ou o tribunal arbitral remeterá as partes à
autoridade competente do Poder Judiciário, suspendendo o procedimento arbitral (Lei 9.307/96, art.
25). Resolvida a questão prejudicial e juntada aos autos a sentença ou acórdão transitados em
julgado, a arbitragem terá seguimento normal.
A Sentença Arbitral
Noções Iniciais:
A sentença arbitral é o ato decisório emanado dos árbitros. Deve ela sempre ser por escrito e
produzirá entre as partes e seus sucessores os mesmos efeitos da sentença judicial. As partes podem
estipular um prazo para que seja proferida a sentença, sendo que esta deverá ser sempre por escrito.
Quando não houver prazo convencionado, a sentença deverá ser apresentada dentro de 6 meses,
contados da instituição da arbitragem, mas as partes e os árbitros, de comum acordo, poderão
prorrogar os prazos aplicáveis.
A sentença arbitral constitui título executivo judicial (CPC, art. 475-N, inciso IV).
Requisitos:
São requisitos obrigatórios da sentença arbitral (Lei 9.307/96, art. 26):
o relatório, que conterá os nomes das partes e um resumo do litígio;
os fundamentos da decisão , onde serão analisadas as questões de fato e de direito,
mencionando-se, expressamente, se os árbitros julgaram por equidade;
o dispositivos, em que os árbitros resolverão as questões que lhes forem submetidas e
estabelecerão o prazo o cumprimento da decisão , se for o caso;
a data e o lugar em que foi proferida.
A sentença arbitral será assinada pelo árbitro ou todos os árbitros. Caberá ao presidente do
tribunal arbitral, na hipótese de um ou alguns dos árbitros não poder ou não querer assinar a
sentença, certificar tal fato (art. 26, parágrafo único).
Comunicação:
Proferida a sentença arbitral, dá-se por finda a arbitragem, devendo o árbitro, ou o presidente do
tribunal arbitral, enviar cópia da decisão às partes, por via postal ou por outro meio qualquer de
comunicação, mediante comprovação de recebimento, ou, ainda, entregando-a diretamente às partes,
mediante recibo (Lei 9.307/96, art. 29).
Aditando a Sentença:
No prazo de 5 dias, a contar do recebimento da notificação ou da ciência pessoal da sentença arbitral,
a parte interessada, mediante comunicação à outra parte, poderá solicitar ao árbitro ou ao tribunal
arbitral que (Lei 9.307/96, art. 30):
corrija qualquer erro material da sentença arbitral;
esclareça alguma obscuridade, dúvida ou contradição da sentença arbitral .ou se pronuncie
sobre ponto omitido a respeito do qual devia manifestar-se a decisão.
A sentença proferida pelo árbitro não fica sujeita a recurso e não pode ser modificada
pela Poder Judiciário. Se a sentença tiver sido proferida no Brasil, não necessita de
homologação pelo Poder Judiciário (Lei 9.607/96, art. 18).
Pedidos de Esclarecimento:
O árbitro ou presidente do tribunal arbitral deve enviar cópia da sentença arbitral às partes. Elas então
terão 5 dias para reclamar de qualquer erro material, pedir esclarecimento sobre alguma obscuridade,
dúvida ou contradição, ou requerer que o árbitro se pronuncie sobre ponto omitido a respeito do qual
deveria manifestar-se a decisão. Dentro de 10 dias, o árbitro ou tribunal arbitral deverá esclarecer
esses pedidos formulados pelas partes.
Pedido de Nulidade:
Não cabe recurso contra sentença arbitral, mas a parte prejudicada, entretanto, poderá requerer,
perante o Poder Judiciário, a declaração de nulidade da sentença arbitral. A parte que entender que a
sentença arbitral é nula, terá o prazo de 90 dias, após a notificação da decisão, para propor ação no
Poder Judiciário, requerendo a declaração de nulidade. Certos autores entendem que a parte
prejudicada poderá também alegar a nulidade em sua defesa, se a parte vencedora executar
judicialmente a sentença arbitral. Por outro lado, parte da doutrina sustenta que, transcorrido o prazo
de 90 dias para se requerer a nulidade da sentença arbitral, haveria a preclusão desse direito, e esse
vício não poderia ser invocado nos embargos de devedor.
Homologação:
Para ser reconhecida ou executada no Brasil, a sentença arbitral estrangeira está sujeita, unicamente,
à homologação do Supremo Tribunal Federal. Aplica-se à homologação para reconhecimento ou
execução de sentença arbitral estrangeira, no que couber, o disposto nos artigos 483 e 484 do Código
de Processo Civil. O STF só poderá denegar a homologação de sentença arbitral estrangeira se o réu
comprovar que:
as partes na convenção de arbitragem eram incapazes;
a convenção de arbitragem não era válida segundo a lei à qual as partes a submeteram;
não foi notificado da designação do árbitro ou do procedimento de arbitragem, ou tenha sido
violado o princípio do contraditório, impossibilitando a ampla defesa;
a sentença arbitral foi proferida fora dos limites da convenção de arbitragem;
a instituição da arbitragem não está de acordo com o compromisso arbitral ou cláusula
compromissória;
Bibliografia
Atualizada em 10.12.2011