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Seminário Batista Teológico de Jundiaí

Aluno: Jeiel da Silva França

Prof. Daniel Disciplina: Hermenêutica

OS PERIGOS DA INTERPRETAÇÃO BÍBLICA

As palavras estão entre os instrumentos básicos de qualquer orador,


seja ele um palestrante, um político, um professor, um pregador, etc. Elas
também têm o poder de externar ou evocar emoções, transmitir informações,
alegrar ou aborrecer, abençoar ou maldizer. As palavras louvam e blasfemam.
Por essa razão, o uso impróprio da língua e a interpretação errônea das
palavras, escritas ou faladas, devem ser evitados a todo custo, mais ainda
quando tratamos da interpretação dos textos bíblicos, pois estamos lidando
com exposição dos pensamentos do próprio Deus.
D. A. Carson inicia seu estudo sobre “Os Perigos da Interpretação
Bíblica” alertando com relação a erros (“falácias”) comuns cometidos por
pregadores bíblicos e estudiosos quando envoltos na tarefa de realizar a
exegese (exposição do significado) de textos das Sagradas Escrituras. Esse
bloco inicial de estudo trata das chamadas “Falácias vocabulares”.
O primeiro erro citado refere-se à “Falácia do radical”, tido com um dos
enganos mais persistentes. Esse pressupõe que toda palavra realmente tem
um sentido ligado à sua forma ou a seus componentes, isto é, à sua raiz ou
raízes originárias. Um dos erros clássicos consequentes dessa suposição está
na tradução do substantivo apóstolo do grego. A palavra original grega é
cognata de outra palavra grega que significa “eu envio”. Dessa forma, algumas
interpretações para apóstolo trazem o sentido de “aquele que foi enviado”. No
entanto, no Novo Testamento, o substantivo apóstolo quer ressaltar não aquele
que foi enviado, mas sim a mensagem que ele leva, e a quem ele representa
com essa mensagem. Portanto, o verdadeiro uso da palavra não advém de sua
raiz etimológica, mas sim do significado que ela carregava de “representante
ou mensageiro especial”.
Outro exemplo histórico dessa falácia é a tradução do adjetivo unigênito
do grego. A palavra grega é originária de duas raízes que significam “único” e
“gerar”, respectivamente. No Novo Testamento, esse adjetivo grego muitas
vezes se refere ao relacionamento entre um filho e um pai. Tanto que é usado
em Hebreus 11.17 para falar da relação entre Isaque e Abraão, o que
claramente depõe contra a tradução como “unigênito”, uma vez que Abraão
teve mais filhos com suas duas concubinas, Agar e Quetura. Na verdade,
contrariamente às raízes etimológicas de seus componentes, a palavra grega

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comumente traduzida por unigênito traz um sentido mais voltado para filho
“singular”, “especial”, “amado”. Esse erro se assemelha a tentar traduzir
primavera a partir dos seus componentes, “prima” e “Vera” para chegar-se ao
sentido linguístico real e atual dessa palavra na língua portuguesa.
Outra falácia recorrente é o “Anacronismo semântico”, que ocorre
quando um significado mais recente de certa palavra é transportado para a
literatura antiga, tentando impor seu significado atual ao sentido linguístico
original. Caso típico é o substantivo grego que origina a palavra dinamite. Paulo
utiliza esse substantivo em Romanos 1.16 para designar “poder”, e não faz
sentido tentar traduzi-lo como dinamite, apesar do seu uso atual. Além disso, o
texto fala de poder para salvação, e não para destruição, o que faz com que
mesmo a analogia com dinamite seja também imprópria.
Outro exemplo dessa falácia é o uso atual da expressão “o sangue de
Jesus”. Apesar da beleza poética derivada de 1 João 1.7 de que “o sangue de
Jesus nos purifica de todo pecado”, João não atribuia nenhum poder purificador
ao sangue de Cristo propriamente dito, mas sim à sua morte violenta e
sacrificial. O que nos faz andar na luz (ou seja, sermos purificados do pecado)
é a aceitação verdadeira do sacrifício de Jesus na cruz em nosso lugar.
Outro erro destacado pelo autor é a “Obsolescência semântica”, em que
o intérprete atribui a uma palavra um significado que ela teve no passado, mas
que já não mais faz parte do campo semântico da mesma, ou seja, utiliza um
sentido obsoleto para a palavra em questão. Dentro desse caso, existem tanto
palavras que deixaram de existir por desuso, quanto outras que sofreram
mudança de significado com o tempo. Um exemplo bem conhecido é o do
substantivo grego que origina o nosso termo mártir. Esse substantivo passou
pelo processo de desenvolvimento descrito abaixo até chegar ao significado
que lhe damos atualmente:
a. Alguém que fornece provas, em um julgamento ou não;
b. Alguém que dá testemunho ou faz afirmação solenes (de sua fé ou
crença, por exemplo);
c. Alguém que testemunha sua fé pessoal, mesmo sob ameaças de morte;
d. Alguém que testemunha sua fé pessoal aceitando a morte;
e. Alguém que morre pela causa em que acredita;
f. Alguém digno de pena (evolução adicional na língua portuguesa).

É bem possível que, em determinado período, esse substantivo grego


possa ter sido usado por uma pessoa com um significado, e por outra pessoa
com outro significado; ou mesmo uma mesma pessoa possa tê-lo usado com
significados diferentes em uma mesma época em função do contexto. O
importante é que seja levado em conta que as palavras mudam de sentido com
o passar do tempo, e isso precisa ser estudado e considerado no processo de
interpretação dos textos bíblicos.

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A quarta falácia é a que Carson chama de “Reivindicação de significados
desconhecidos ou improváveis”. Tomando como exemplo o termo “cabeça” de
1 Cor. 11.2-16, argumenta sobre o uso do substantivo original grego que, para
alguns estudiosos, significa “fonte” ou “origem” ao invés de “cabeça”. No
entanto, tanto estudos linguísticos quanto a exegese do texto levam o termo
grego à conotação de “autoridade” ou “liderança”. Assumir outra interpretação
para a palavra grega é forçar um significado improvável.
A falácia seguinte é a “Negligência no uso de material de apoio”. Em um
dos exemplos citados, o autor relembra que ele mesmo havia cometido tal
falácia ao comparar os textos de Mateus 5.1 e Lucas 6.17, referentes ao
Sermão do Monte, em que parece haver uma discrepância entre “subiu ao
monte” de Mateus, e “parou num lugar plano” do versículo de Lucas (traduções
NVI). Em uma primeira exposição sobre o Sermão do Monte, Carson tenta
explicar a contradição dizendo que mesmo um monte possui lugares planos.
No entanto, anos mais tarde, em um exaustivo estudo que realizou sobre o
evangelho de Mateus, o autor se retrata, pois descobriu em uma pesquisa mais
aprofundada em outros materiais que a expressão original em Mateus 5.1 pode
significar “foi para uma terra montanhosa”. Isso encerra a discussão, pois o
termo de Lucas tem uso conhecido significando “planalto”, encontrado em
regiões montanhosas.
A próxima falácia, chamada de “Paralelomania verbal”, denomina a
tendência de estudiosos bíblicos de citar “paralelismos” de valor questionável,
atribuindo a eles a comprovação de elos conceituais ou dependência. Carson
cita um estudo que examinou o uso de paralelismos na análise de João 1.1-18
(prólogo joanino) feita por dois autores diferentes (C.H. Dodd e Rudolf
Bultmann), onde de cerca de trezentos paralelismos apresentados por cada um
dos autores, a coincidência encontrada foi de apenas de cerca de 20 citações
(7% de intersecção apenas). Isso demonstra que nenhum dos autores fez um
pesquisa realmente aprofundada do “pano de fundo” do texto em questão.
A sétima falácia é a “Associação entre língua e mentalidade”, a qual tem
como essência a pressuposição de que qualquer língua confina os processos
mentais de seus falantes, forçando-os a ter certos padrões de pensamento em
oposição a outros. Em outras palavras, segundo essa falácia, os conceitos de
língua e mentalidade se confundem, ou seja, a forma pela qual falamos define
a forma como pensamos. Um dos exemplos mais ilustrativos do erro dessa
forma de interpretação está na comparação entre as línguas hebraica e grega.
O grego é um idioma que apresenta os tempos passado, presente e futuro em
suas conjugações verbais, trazendo um grande clareza na localização temporal
dos seus escritos. O hebraico, ao contrário, só apresenta duas conjugações
verbais, as quais não trazem claramente a noção de localização temporal. No
entanto, será que é razoável admitir que os judeus da Antiguidade (incluindo os
escritores bíblicos do Antigo Testamento) eram incapazes de distinguir

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passado, presente e futuro porque sua língua tem somente duas flexões?
Parece lógico que não.
O erro de interpretação seguinte são as “Falsas pressuposições sobre
significados técnicos”. Nesta falácia, o intérprete supõe que uma palavra
sempre ou quase sempre tem um determinado significado técnico, um sentido
invariável, o que conduz a intermináveis discussões com relação ao sentido de
termos tais como “santificação” (processo progressivo, ou separação realizada
por Deus?), “revelação” (revelação especial profética, ou esclarecimento,
ensino, “iluminação”, conforme Fp. 3.15b?), “batismo do Espírito”
(derramamento especial do Espírito pós-conversão, ou derramamento do
Espírito que todos os cristãos recebem no ato da conversão?), entre muitos
outros. O grande problema está no fato de se pensar que estamos lidando com
um termo técnico, que tem sempre o mesmo significado independentemente da
ocasião ou contexto. Normalmente as evidências são insuficientes para
suportar essa invariabilidade, e ainda existe o perigo de se reduzir uma
doutrina inteira a apenas uma palavra que acreditam ser um termo técnico
A falácia relativa a “Problemas envolvendo sinônimos e análise de
componentes” se apresenta em duas situações. A primeira se relaciona com o
uso impróprio dos termos sinonímia e equivalência. Na análise feita por J.T.
Sander para Filipenses 2.6-11, o mesmo afirma que termos em versos distintos
explicam “sinonimicamente” ou são “equivalentes” um ao outro, citando
“semelhança” = “forma”, ‘de homens” = “humana”, e “se humilhou” equivalente
a “se esvaziou”. Gibson critica essas afirmativas ao argumentar que sinônimos
não se explicam mutuamente pois tem o mesmo valor semântico. Além disso,
complementa afirmando que as igualdades apresentadas teoricamente seriam
melhor relacionadas não pela sinonímia, mas sim como relações de hiponímia,
isto é, os pares não tem os mesmos valores semânticos mas tem os mesmos
referentes (referem-se à mesma realidade, embora com sentidos diferentes).
Portanto, o erro aqui é admitir injustificadamente a identidade (sinonímia) de
certos termos indo além do que a evidência permite.
A situação seguinte à chamada análise de componentes, que tenta isolar
os componentes de significado (semânticos) das palavras. A figura 1
reproduzida abaixo ilustra um exemplo dessa análise:

Figura 1 – Análise de componentes de palavras

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Nesse exemplo, os componentes de significado de “Homem” foram
isolados em “Humano”, “Adulto” e “Macho”. No entanto, esses componentes
não esgotam os possíveis elementos de significado cabíveis para a palavra,
ainda mais se levando em consideração as mais diversas variações de
contexto, o que pode fazer com que a “lista de componentes” se torne muito
extensa e complexa. Dessa forma, em geral, a análise de componentes aplica-
se apenas ao significado referencial, dentro de um determinado contexto. Por
essa razão, fica evidente que praticamente nunca dois termos são sinônimos
estritos, com exatamente o mesmo significado em qualquer lugar, nos sentidos
denotativos e conotativos, em todos os seus componentes semânticos, e em
toda informação cognitiva e carga emocional que transmitem. Mas eles podem
ser estritamente sinônimos em um contexto particular no qual possuem uma
coincidência semântica.
A partir dessa explicação, pode-se tratar um exemplo referente ao texto
de João 21.15-17. Nesse diálogo entre Jesus e Pedro, duas palavras gregas
para “amar” são utilizadas. Jesus pergunta as duas primeiras vezes com o
verbo amar “ágape”, e Pedro responde com o verbo amar “philos”. Na terceira
pergunta e resposta, ambos usam o verbo “philos”. A discussão nesse caso é
se a troca dos dois verbos por João tinha realmente a intenção de transmitir
diferença de significado, ou somente de apresentar sobreposição semântica,
ou seja, sinonímia. Um dos fundamentos a favor dessa distinção dos verbos
argumenta que os escritores do Novo Testamento investiram os termos amor e
amar “ágape” de um significado especial para expressar o amor de Deus.
Entretanto, estudos recentes comprovaram que os termos em questão já
vinham ganhando relevância de uso no século IV a.C., para distingui-los de
“philos”, que vinha ganhando também o sentido de beijar, o que desqualifica
essa primeira teoria.
Outro fundamento para a distinção dos verbos está baseado no
comentário de Willian Hendriksen, o qual argumenta que, embora haja
considerável coincidência semântica entre os dois verbos, pode-se verificar
evidências claras de distinção. Como exemplo para esse argumento, cita o uso
de “filos” quando Judas beija a Jesus em Lc. 22.47, enquanto que “ágape”
nunca é usado nesse contexto, comprovando que os verbos não são sinônimos
estritos. No entanto, como foi visto anteriormente pela análise de componentes,
a falácia aqui seria afirmar que esses verbos, mesmo não sendo sinônimos
estritos, não possam apresentar sinonímia em alguns contextos, o que tira a
sustentação dessa segunda teoria.
A décima falácia, intitulada “Uso seletivo e preconceituoso das
evidências”, é uma das falácias mais perigosas, pois pode erroneamente
“capacitar” o intérprete a dizer o que quiser baseado em evidências seletivas.
Infelizmente, é também a falácia mais comum e numerosa. Carson cita um
caso desse erro em que um intérprete bíblico comete seriamente a sétima

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falácia, confundindo língua e mentalidade, quando tenta argumentar que o
modo hebraico de aquisição de conhecimento não é intelectual, mas sim
experimental, ou seja, baseado no levantamento de dados. Contudo, o modo
grego, segundo ele, é diferente, muito mais intelectual. Seguramente, a crença
e o conhecimento cristãos não são exclusivamente intelectuais; mas, ao
selecionar as evidências tais como textos de João que de alguma forma
relacionam crença e conhecimento de Deus com o ato de guardar Seus
mandamentos e amar o próximo (1 João 2.3-5; 3.6, por exemplo), o estudioso
chegou à conclusão de que a crença e o conhecimento cristãos são
exclusivamente experimentais e não-intelectuais. Para tanto, ignora
completamente qualquer outro texto que afirme, por exemplo, que não basta
apenas cumprir os mandamentos, mas também crer no que Ele diz; não é
apenas obediência, é também entendimento e aceitação (ambos na esfera
intelectual; exemplos estão em João 4.50, 5.47, 13.19, entre outros).
A falácia das “Disjunções e restrições semânticas injustificadas”,
também presente no exemplo anterior, é aquela que apresenta ao leitor mais
de uma opção e força sua decisão por apenas um delas. É o que se chama de
disjunção semântica, contrária à complementação semântica, duas alternativas
que possam coexistir e se complementar. Um exemplo citado fala de uma obra
escrita em que se argumenta que a liderança de Jesus Cristo na Igreja (Ele é o
cabeça vivo da Igreja) não tem nenhuma relação com autoridade. Isto é, Cristo
é o cabeça, mas está junto à Igreja somente para servi-la. O que as Escrituras
de fato mostram em todo o Novo Testamento é que Cristo de fato se humilhou,
mas mesmo assim tem toda a autoridade nos céus e na terra (Mt. 28.18), e a
Ele devemos total obediência. Não há disjunção nesse caso.
A próxima falácia, a décima-segunda, trata da “Restrição injustificada do
campo semântico”. Carson afirma que, às vezes, deixamos de notar o quanto é
amplo todo o campo semântico de uma palavra, restringindo inadvertidamente
suas possibilidades de significado. Um exemplo interessante na língua
portuguesa é o da palavra corpo, que assume os significados mais variados,
tais como: a estrutura física de cada homem ou animal; a parte central de uma
construção; o ser humano morto; um grupo de pessoas que trabalham ou
atuam juntas; entre outros. Além disso, existem ainda os sentidos metafóricos.
No grego, uma das palavras que geram mais dificuldades interpretativas é o
verbo de ligação “ser”. Alguns empregos do verbo “ser” no grego:
- Identidade: "É a lei pecado?" (Rm 7.7);
- Atributo: "Ninguém é bom senão um só, que é Deus" (Mc 10.18);
- Causa: "O desejo da carne é morte" (Rm 8.6);
- Semelhança: "Ora, a língua é fogo" (Tg 3.6).
Conhecer esses empregos é muito útil, por exemplo, para discutir a
interpretação, segundo o autor, das quatro palavras mais debatidas da Bíblia,
“Isto é o meu corpo”, que para diversas facções da cristandade apresenta o

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emprego do verbo ser como identidade. Cairds argumenta que, como Jesus
não “tornou idênticos” o pão em suas mãos, e o corpo de que suas mãos
faziam parte, não podemos pressupor o sentido de identidade para o verbo
nesse caso. E como existe, pelo menos, uma mínima diferenciação entre o
“corpo” (pão) e o corpo cujas mãos o seguravam, o sentido do verbo “ser”
nesse caso tem que necessariamente ser metafórico, tipificando seu emprego
como semelhança. Nesse entendimento, o pão apenas “representa” ou
“simboliza” o corpo de Cristo, o que é a interpretação mais sustentável.
Além desses, Carson propõe um quinto emprego para o verbo “ser” no
grego:
- Cumprimento: “Mas o que ocorre é o que foi dito por intermédio do profeta
Joel” (At 2.16).
Nota-se que, tanto no texto de Atos, quanto no texto de Mateus 7.12 (a
chamada “regra áurea”), o sentido de identidade não funciona tão bem quanto
a ideia de cumprimento: “Mas o que ocorre cumpre o que foi dito por intermédio
do profeta Joel”. O Pentecostes não é a profecia em si, mas sim o seu
cumprimento.
Para concluir a apresentação dessa falácia, o que Carson defende é que
“restringir de forma injustificada e precipitada o campo semântico de uma
palavra é um erro metodológico”, e que por muitas vezes, por esse motivo, a
interpretação correta de uma passagem não é possível.
Mas existe também o oposto, que é a falácia da “Adoção injustificada de
um campo semântico expandido”, algumas vezes chamada também de
“transferência ilegítima da totalidade”, cujo erro consiste em supor que o
significado de uma palavra em determinado contexto é muito mais amplo do
que o texto em si permite aferir. O exemplo apresentado é muito interessante, e
trata do uso da palavra grega “ekklesia” no texto de Atos 7.38, que no contexto
em questão, não traz nenhum sentido de “igreja” como conhecemos, mas sim
de “congregação”. Ampliar o campo semântico da palavra aqui seria um grande
erro, obscurecendo sua função específica no texto.
A décima-quarta falácia trata de “Problemas relativos ao contexto
semítico do Novo Testamento grego”, que procura responder, entre outras, a
seguinte questão: Até que ponto o campo semântico normal das palavras do
Novo Testamento grego é alterado pelo impacto dos antecedentes semíticos
pessoais de algum escritor do Novo Testamento, por sua leitura e influências
do Antigo Testamento hebraico? Em outras palavras, questiona-se o método
de Edwin Hatch, que procurou estabelecer o significado de certas palavras
gregas usando apenas seus equivalentes hebraicos, classificando-o como
metodologicamente irresponsável caso seja aplicado sem nenhuma pesquisa
profunda. Logo de início, afirma o autor, deve-se questionar o nível em que
tanto a Septuaginta (tradução do Antigo Testamento do hebraico para o grego

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realizada entre os séculos III e II a.C.), quanto o próprio Novo Testamento,
investiu as palavras gregas de significados hebraicos.
A falácia da “Negligência injustificada de particularidades distintivas de
um grupo de palavras” será explicado por meio de um exemplo. Pelo fato de
Paulo aplicar um determinado verbo grego para "justificar", e o substantivo
correlato para "justificação", muitos estudiosos têm conferido este mesmo
significado ao termo quando empregado por outros escritores. No entanto, em
Mateus 5.20, o mesmo substantivo é utilizado, porém sem o mesmo sentido de
“justiça forense atribuída a uma pessoa” conferido pelo apóstolo Paulo, mas
sim com o significado de “conduta individual de vida justa”. Neste caso, a
falácia está na falsa suposição de que o sentido predominante de qualquer
palavra em um dos escritores do Novo Testamento é exatamente o mesmo em
todos os outros, o que raramente é verdade.
A última falácia vocabular, a décima-sexta, é designada de “Associação
injustificada de sentido e referência”. Referência ou denotação é a
representação de alguma entidade não-lingüística por meio de um símbolo
linguístico, isto é, por uma palavra. Isto é quase sempre verdadeiro para
substantivos próprios (nomes, que referem-se a indivíduos ou seres vivos;
como exemplo, “Moisés”) e substantivos comuns (que denotam coisas, objetos,
sentimentos, atributos, etc; como exemplo, “graça”), mas não para adjetivos
abstratos (por exemplo, “belo”), que tem significado mas nenhum referente.
Portanto, o sentido ou significado de uma palavra não é o seu referente, mas
sim o conteúdo mental com o qual esse termo está associado. Isto leva à
noção errônea de que uma palavra tem um "significado básico" por se
pressupor que ela necessariamente denomine entidades concretas. Entretanto,
a verdade é que uma oração não pode ser analisada pelas coisas que cada
palavra que a compõe "nomeia", pois o significado de palavras em uma
sequência gramaticalmente coerente difere do referente teórico de cada
palavra separadamente.
Partindo para outro grupo de falácias, as falácias gramaticais, Dr.
Carson afirma que estas são bem menos frequentes que as primeiras por três
razões principais. Em primeiro lugar, devido ao pouco conhecimento,
principalmente da língua grega, dos pastores formados em seminários. Em
segundo lugar, porque a análise gramatical não tem sido popular nas últimas
décadas de estudo bíblico, sendo muito mais tempo e esforços consagrados à
semântica do que à gramática. E por último, devido à grande complexidade de
algumas falácias gramaticais, sendo alguns exemplos examinados a seguir.
Entretanto, um comentário importante é que as línguas tem, naturalmente, a
tendência de se tornarem mais simples com seu tempo de uso: a sintaxe torna-
se menos estruturada, o número de exceções aumenta, a morfologia é
simplificada, e assim por diante, o que faz com que os gramáticos com
formação em grego clássico (mais antigo e, portanto, mais estruturado)

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necessitem de novas orientações relativas ao grego helenístico (usado nos
dias de Jesus e dos apóstolos), se quiserem evitar certos erros na leitura do
Novo Testamento.
O primeiro grupo de Falácias Gramaticais apresentado é o das “Falácias
relacionadas a tempos e modos verbais diversos”, que se dividem em cinco
tipos. O primeiro tipo, chamado de Tempo aoristo (sem lugar, indefinido), é um
tempo verbal grego pontilear, o que não significa que possa ser usado apenas
para ações pontuais. Gramáticos explicam que ele refere-se à ação em si, sem
especificar se é única, repetida, ingressiva, instantânea, passada ou completa.
No entanto, muitos estudiosos vem deduzindo que a ação referida no tempo
aoristo tem sentido de “definitiva” ou “completa”. Seguem alguns exemplos
contrários a essa interpretação:
- "Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes..." (Fp 2.12) —
claramente, não é uma ação definitiva ou uma ação temporalmente pontilear,
pois dá ideia de continuidade ou repetição;
- "Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto..." (Mt 6.6) — mais uma vez a
ideia de repetição está subentendida;
- "todos estes morreram na fé..." (Hb 11.13) — mas certamente não de forma
instantânea, todos ao mesmo tempo; entre outros exemplos.
A conclusão que tem se chegado é que não se pode afirmar que todo
aoristo é usado de uma determinada maneira, ou que nenhum aoristo é
empregado de outra dada forma. Um aoristo enfatiza, nada mais; é o "tempo"
usado quando o autor não quer usar algum outro tempo verbal mais
especificativo. É o tempo verbal mais maleável, e com estrutura semântica
menos definida.
Uma outra falácia ainda relativa ao Tempo aoristo afirma que este não
pode carregar nenhum peso semântico além do valor semântico não-marcado
do aoristo, mesmo quando está em um contexto muito específico. Essa falácia
é rejeitada baseada na linguística elementar, usando como exemplo a oração
este aluno é uma fera. Isoladamente, o substantivo fera e o contexto este aluno
é não conseguem transmitir a manifestação de admiração que somente a
interação entre eles consegue claramente fazê-lo. Portanto, o contexto
influencia no peso semântico, contradizendo essa falácia.
O tempo verbal seguinte é a primeira pessoa do aoristo do subjuntivo.
Tradicionalmente, o subjuntivo deliberativo é o emprego da primeira pessoa
(singular ou plural) do subjuntivo em orações interrogativas que tratam do que
é necessário, desejável, possível ou duvidoso, sendo a pergunta, às vezes,
retórica; em outras vezes, no entanto, espera-se uma resposta. O que Carson
discute é que esse tempo verbal, na verdade, abrange três categorias bastante
distintas. A primeira delas, o verdadeiro deliberativo, como o subjuntivo
hortativo, é intramural — isto é, a primeira pessoa (singular ou plural) indicada

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pelo sujeito do verbo faz uma pergunta que deve ser respondida por ela
mesma, como por exemplo o dono da vinha que pergunta a si próprio: "Que
farei?" (Lc 20.13), ele mesmo respondendo da decisão de enviar seu filho.
A segunda e terceira categorias são pseudodeliberações, onde o sujeito
na primeira pessoa do subjuntivo não faz a pergunta para si mesmo: ou ele fala
com um interlocutor, esperando uma resposta direta (subjuntivo
pseudodeliberativo de pergunta direta), ou faz a pergunta como recurso para
introduzir uma declaração, sem fazer sugestão de deliberação (pergunta para
si mesmo) ou sugestão de busca de uma resposta de outrem (subjuntivo
pseudodeliberativo retórico). Alguns exemplos dessas categorias:
- "Devemos ou não devemos pagar?" (Mc 12.14), perguntam os fariseus e os
herodianos a Jesus. A forma é "deliberativa", mas fica claro que não é um
verdadeiro deliberativo (pergunta para si mesmo), mas sim um subjuntivo
pseudodeliberativo de pergunta direta, ao forçar Jesus a fazer uma declaração;
- "Havemos de pecar porque não estamos debaixo da lei...” (Romanos 6.15),
confirma-se o subjuntivo porque a pergunta é formalmente aberta, deliberativa,
porém não é um verdadeiro deliberativo, pois Paulo não faz a pergunta como
um reflexo de sua incerteza. Também não é um pseudodeliberativo de
pergunta direta, pois o apóstolo não está pedindo as opiniões dos cristãos
romanos. Trata-se, na verdade, de um recurso retórico para atrair os leitores
para seu argumento, gerando expectativa para sua impactante afirmativa “de
modo algum”. Nesse caso, está-se empregando subjuntivo pseudodeliberativo
retórico.
A próxima falácia gramatical é a “Falácia da voz média”, cujo erro mais
comum está em supor que praticamente toda situação em que ela ocorre é
reflexiva ou sugere que o sujeito age por si só. Um caso clássico está em 1Cor.
13.8: “mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão;
havendo ciência, passará”. O verbo grego para “cessar” nesse texto está na
voz média, e alguns autores argumentam que ele aqui é reflexivo, ou seja,
diferentemente das profecias e da ciência (que serão destruídas por alguém ou
algo, pois seus verbos estão na voz passiva), as línguas cessarão por si só,
devido a algo intrínseco a elas. Com base nisso, tais autores atribuem o
significado exegético de que o dom de línguas perdeu sua utilidade com a
conclusão do cânon bíblico, não sendo mais um dom válido na atualidade.
Carson argumenta que apoiar-se tanto nesse verbo médio para tal
interpretação é um erro, pois a voz média apresenta uma variedade de
implicações, como por exemplo, em Marcos 10.38 (“... o que pedis...”), onde
tem sentido de ação do sujeito para si (pedem para si mesmos), ou em Lucas.
2.5 ("... a fim de alistar-se com Maria...”), onde o verbo sugere permissão do
sujeito para que algo seja feito. Além disso, o verbo “cessar” na voz média
aparece outras vezes no NT com sentidos não-reflexivos. Alguns exemplos são
Lucas 8.24 (Jesus repreendeu os ventos e tudo “cessou” – mas não por si

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próprio) e Atos 21.34 (os amotinadores “cessaram” de espancar Paulo, mas
porque viram os soldados somente, e não por algo intrínseco a eles).
A última falácia gramatical abordada trata-se do “Perfeito perífrástico em
Mateus 16.19”. O problema que existe nesse texto é se ele deveria ter sido
traduzido como: (a) "o que ligares na terra, será ligado nos céus; e o que
desligares na terra, será desligado nos céus" (força de futuro); ou (b) "o que
ligares na terra, terá sido ligado nos céus; e o que desligares na terra, terá sido
desligado nos céus" (força de futuro perfeito). A discussão se desenvolve em
torno do fato de se utilizar somente perguntas sintagmáticas (considerações
relativas à maneira como uma palavra é usada em relação a outras) para se
resolver essa questão, o que é a falácia apresentada. Usando também
perguntas paragmáticas (equivalência ou associação entre palavras),
consegue-se avançar na análise, e chega-se à conclusão de que se Mateus
desejasse dizer precisamente (a), ele teria à sua disposição as formas
morfológicas específicas dos verbos “ligar” e “desligar” adequadas para tal
tarefa, ficando a questão do por que ele escolheria essas formas de futuro
perfeito perifrástico. Neste caso, as questões paradigmáticas fazem a evidência
decididamente pender para a tradução (b).
Um outro grupo de falácias gramaticais são as “Falácias ligadas a várias
unidades sintáticas”, apresentadas em cinco casos distintos. No primeiro caso,
o das orações condicionais, destacam-se três falácias. A primeira delas é em
condicionais de primeira classe, geralmente chamadas condicionais "reais",
onde com frequência acredita-se que a prótase (a coisa suposta) é considerada
verdadeira, “real”. Isto é uma falácia, pois nesse caso a prótase é considerada
verdadeira por causa do argumento, mas a coisa realmente suposta pode ser
ou não verdadeira. Um exemplo está em Mateus 12.7, na pergunta de Jesus:
"E, se eu expulso os demônios por Belzebu, por quem os expulsam vossos
filhos?". A realidade da suposição de que Jesus expulsa os demônios por
Belzebu é real, porém a prótase (a coisa suposta) não é verdadeira, pois não
era em nome de Belzebu que os expulsava.
A segunda falácia das orações condicionais é sustentar que condicionais
de terceira classe têm alguma expectativa implícita de cumprimento, seja ela
duvidosa ou não, ao invés de indicar apenas futuridade.
Por fim, a terceira falácia está no argumento de que não há uma
"referência temporal" evidente na apódose de condicionais de terceira classe,
sendo toda apódose futura em seu significado. Segundo Dr, Carson, isto está
correto somente no caso de a estrutura temporal estar estabelecida com
referência ao falante ou escritor, sendo nessa situação sempre futura
efetivamente.
O segundo caso das “Falácias ligadas a várias unidades sintáticas”
refere-se à difícil classificação do artigo definido em grego. Apesar de seus
usos parecerem não apontar para princípios seguramente estabelecidos,

11
Carson afirma que há alguns princípios orientadores de uso que não podem ser
ignorados. Ao contrário do português, o grego não tem artigo indefinido, e
frequentemente seu artigo definido tem funções muito diferentes do uso em
português. Esses usos são apresentados resumidamente na Figura 2 a seguir.

Figura 2 – Usos fundamentais do artigo grego

O primeiro uso geral do artigo o classifica como definido ou indefinido.


Como artigo definido (emprego articular) especifica ou define o substantivo,
enquanto que como indefinido (emprego anartro), torna-o mais “qualitativo”. O
segundo uso geral do artigo é o utilizado em Lc. 10.7: "digno é o trabalhador do
seu salário" (uso genérico); o seu emprego anartro, por sua vez, sugere
substantivo não-genérico, ou seja, “um [certo] trabalhador”. O autor comenta,
adicionalmente, que há uma grande relação conceitual cruzada entre o
emprego articular sob o uso 1 com o emprego anartro sob o uso 2, enquanto
que o emprego articular sob o uso 2 tem afinidades conceituais com o emprego
anartro sob o uso 1. Esse fato deve ser cuidadosamente considerado nas
conclusões exegéticas relativas à presença ou ausência de uma artigo.
A próxima falácia, ainda relativa ao uso do artigo no grego, trata da
chamada regra de Granville Sharp. Esta regra diz, de forma simplificada, que
se dois substantivos gregos são ligados por kαί e ambos tem o artigo, eles se
referem a pessoas ou coisas diferentes, enquanto que se somente o primeiro
tem artigo, ele se refere à mesma pessoa ou coisa que o primeiro substantivo.
Carson explica que a falácia está em considerar essa regra em termos
absolutos pois, por exemplo, dois substantivos ligados por kαί regidos por um
artigo pode significar apenas que estes estão agrupados para funcionar de
certa forma como uma entidade única. Dessa forma, os dois substantivos
gregos ligados por kαί regidos por um artigo em 1 Ts. 2.12 (“reino e glória”) não
são conceitos idênticos como preveria a regra de Granville, mas sim conceitos
para serem considerados em conjunto, nesse caso dentro da benção de vida
eterna com Deus.
A regra de Colwell para o uso do artigo diz, entre outras coisas, que se
um substantivo definido precede um verbo de ligação, normalmente ele é
anartro; se sucede, é articular. Aplicada essa regra a João 1.1, temos que em
“e o Verbo era Deus”, “Deus” é anartro, e portanto definido, e não “um deus”,
indefinido. No entanto, essa regra não é absoluta pois Colwell apenas afirma
ter examinado substantivos anartros definidos, sendo que Carson, ao levantar
todos os substantivos anartros que precedem verbos de ligação no NT grego,

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verificou que praticamente a metade deles são de outros tipos (indefinidos,
qualitativos e próprios). Portanto, essa regra deve ser usada com cuidado.
Por fim, a última falácia gramatical trata de erros exegéticos e teológicos
decorrentes de falta de devida atenção a “Relações entre tempos verbais” das
orações. O exemplo apresentado compara Hebreus 3.6b ("...a qual casa somos
nós, se guardamos firme até ao fim a ousadia e a exultação da esperança") e
Hebreus 3.14 ("porque nos temos tornado participantes de Cristo, se de fato
guardarmos firme até ao fim a confiança que desde o princípio tivemos").
Alguns estudiosos interpretam que ambos os textos expressam a mesma ideia
de que "o fato de sermos membros da família de Deus está condicionado à
perseverança" (ordenança de perseverar). Em verdade, o primeiro texto diz
isso, enquanto que o segundo texto não. Em Hebreus 3.14, “nos temos
tornado” está no passado, significando “tornamo-nos”, ou seja, por termos nos
tornado família de Deus no passado, a nossa perseverança é visível no
presente. Em outras palavras, esse texto diz, na verdade, que a perseverança
é evidência do que significa ser cristão. Não se atentar para os tempos verbais
em orações relacionadas pode levar a esses equívocos de interpretação.
Uma citação importante no final desse capítulo é o lançamento do
programa GRAMCORD (conCORDância GRAMatical), que possibilita ao
usuário a buscar no Novo Testamento grego qualquer construção gramatical de
qualquer extensão e complexidade, facilitando enormemente o levantamento
de dados para estudos.
Iniciando a discussão sobre as falácias lógicas, Dr. Carson apresenta
quatro sentidos em que a palavra “lógica” é usada: (1) em nível teórico e
simbólico, "lógica" é um termo abrangente que se refere a séries de relações
axiomáticas, uso da evidência para tirar conclusões corretas; (2) no uso
comum, não técnico, "lógica" é um sinônimo de palavras como "praticável",
"razoável" ou algo semelhante; (3) "lógica" às vezes significa uma
apresentação formal de argumentos chamados de "argumentos lógicos",
havendo ou não falácias nos passos dados em sua construção; e, por fim, (4)
no uso popular, "lógica" pode referir-se a uma série de proposições ou mesmo
a uma probabilidade que pode ou não ser "lógica" no primeiro sentido.
Exemplos são falarmos de "lógica ocidental", "lógica japonesa", "a lógica do
mercado" ou "a lógica da ecologia"; nesse sentido, uma lógica pode fazer
oposição à outra. A lógica no primeiro sentido é universal, e será o sentido
adotado por Carson na discussão de dezoito falácias lógicas.
A falácia das “Falsas disjunções: uso inadequado da lei do termo médio
excluído” trata de falsas reivindicações e/ou quando a complementaridade de
argumentos pode ser aceitável, e é uma falácia extremamente comum e
perigosa à exegese. Um exemplo é a conclusão de H. J. Held quando descobre
que, nos pontos onde o Evangelho de Mateus segue o Evangelho de Marcos,
os relatos de Mateus sobre milagres reais são bem mais curtos, enquanto as

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reflexões teológicas sobre os milagres são mantidas muito mais completas: "Os
milagres não são importantes em si mesmos, mas sim pela mensagem que
transmitem". É uma conclusão disjuntiva, que separa o interesse em “milagres”
do interessa nas “reflexões teológicas”. No entanto, a pergunta aqui deve ser
se algum dos autores evangélicos estava realmente interessado nos milagres
em si...
Em outros casos, as disjunções formais são apenas recursos estilísticos
e retóricos, e não verdadeiras disjunções, o que é muito comum na poesia
hebraica: "Pois misericórdia quero, e não sacrifício" (Os 6.6). Essa disjunção é
um recurso de impacto utilizado para fazer as pessoas pensarem sobre a
incompatibilidade de oferecer sacrifícios, de um lado, enquanto pelo outro
nutre-se hostilidade sem misericórdia.
“Deixar de reconhecer distinções” também é uma falácia lógica que
argumenta que, por serem x e y semelhantes em certos aspectos, eles são
semelhantes em todos os aspectos. Um exemplo é citar Gl 3.28 (a justificação
pela fé para todas as pessoas), e considerar que essa “indistinção” entre
homens e mulheres citadas por Paulo é valida para qualquer situação. Sem
entrar no mérito do verdadeiro sentido das passagens, Carson cita que o
próprio Paulo apresentou certas distinções entre as funções de homens e
mulheres na igreja (1 Co 14.33b-36; 1 Tm 2.11-15).
Outra falácia é o “Uso de evidência seletiva” para sustentar argumentos,
enquanto que evidências contrárias são ilegitimamente excluídas. Carson
afirma que “é preciso imparcialidade, juntamente com um desejo maior de
fidelidade do que de originalidade na interpretação das Escrituras”. Citando um
exemplo dessa falácia, temos o uso de 1 Coríntios 14.33-36 para argumentar
que as mulheres devem sempre manter silêncio na igreja, sem levar em
consideração 1 Co 11.2-15 (três capítulos antes), onde o próprio Paulo permite
que, sob certas condições, as mulheres orem e profetizem na igreja. Usar o
primeiro texto e desconsiderar o segundo é tratamento seletivo da questão.
A quarta falácia do “Uso inadequado de silogismos” consiste em achar
que certos argumentos são bons, quando uma breve reflexão mostra que eles
não têm nenhum valor. Um parte da complexa análise de 1 Timóteo 2.11-15
(ainda tratando da autoridade das mulheres na igreja) pode ser apresentada
como exemplo. Philip B. Payne afirma que esse texto aplica-se a um mau
comportamento na igreja local e que, portanto, seus ensinamentos não devem
ser aplicados universalmente. O raciocínio, apresentado de forma silogística,
fica assim:
a. Um ensino ocasionado por uma situação local não é universalmente
aplicável;
b. O ensino em questão é ocasionado por uma situação local;
c. Conclui-se que o ensino em questão não é universalmente aplicável.

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Carson então comenta que a forma de argumentação lógica é válida, porém a
primeira premissa é muito genérica (qualquer ensino vindo de situação local;
obviamente, muitos podem ser universalmente aplicáveis). Além disso, tem-se
que ter o cuidado de não imaginar que todos os ensinos do NT sejam
ocasionados por situações locais, o que levaria à conclusão de que nada no NT
possa ser considerado obrigatório para o cristão de hoje.
Em parte, o que se está tratando é a distinção entre condição necessária
e condição suficiente, as quais tem imensa relevância na formulação de
declarações doutrinárias. Por exemplo, a declaração "Jesus é o Cristo que veio
em carne" é tanto necessária quanto suficiente na oposição aos proto-
gnósticos em 1 João 2.22 e 4.2), porém em outros debates, embora
necessária, essa declaração pode não ser suficiente. Se tais questões lógicas
não foram observadas, corre-se o risco de declarações doutrinárias serem
reduzidas a meros chavões.
No caso da “Confusão de cosmovisões”, a falácia consiste em acreditar-
se que a experiência e a interpretação da realidade individuais de uma pessoa
são a estrutura adequada para se interpretar o texto bíblico. No entanto, esse
raciocínio pode gerar grandes erros de interpretação. Temos o caso de
pessoas envolvidas no misticismo religioso ocidental que interpretam de
maneira completamente errônea o que algum texto bíblico quer dizer, como por
exemplo a passagem: "Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a
Deus" (Mt 5.8) como significando: "Bem-aventurados os que purificam suas
consciências, porque verão a si próprios como Deus". É visível que há
transferência de panteísmo para o texto, de forma que o Deus da Bíblia não é
só despersonalizado, mas também igualado ao homem (que pode se tornar um
deus). A falácia em questão apresenta a necessidade mais evidente de
distanciamento por parte do intérprete, de forma a não transferirmos
involuntariamente nossa própria carga mental para o texto, evitando assim a
confusão de nossa própria cosmovisão com as dos escritores bíblicos.
Uma subdivisão da falácia anterior, denominada de “Falácia de estrutura
interrogativa”, ocorre quando induzimos uma resposta devido à forma em que
estruturamos as questões, eliminando a possibilidade de outras interpretações.
Isso ocorre, por exemplo, quando discutindo 1 Tessalonicenses 4.13-18,
pressupomos: “Paulo aqui fala de um arrebatamento pré-tribulacionista ou pós-
tribulacionista?”. À primeira vista, no entanto, o interesse de Paulo nessa
perícope não está focando nessas questões.
Algumas vezes, a veracidade das Escrituras é questionada devido a
alguma demonstrável imprecisão. Contudo, é um erro confundir imprecisão
com inverdade (falácia da “Confusão injustificada entre verdade e precisão”).
Segue um exercício interessante proposto por Wayne A. Grudem através de
três orações:
a. Minha casa não fica longe de meu escritório.

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b. Minha casa fica a cerca de um quilômetro e meio de meu escritório.
c. Minha casa fica a 1,6 quilômetros de meu escritório.
Há uma diferenciação clara de precisão entre as três orações mas,
mesmo assim, as três são verdadeiras!
A oitava falácia lógica aborda os “Apelos puramente emotivos” usados
como substitutos da verdade. Apelos emotivos baseados na verdade não são
condenáveis, e devem refletir sinceridade e convicção; mas às vezes estes
mascaram ou escondem as falhas do argumento racional em questão,
querendo fazer-nos crer que a emoção pode substituir a razão ou tem algum
valor lógico.
A próxima falácia (“Generalização e demasiada especificação
injustificadas”) consiste na crença de que uma proposição particular pode ser
generalizada apenas porque se adapta ao que queremos que o texto diga, ou
na crença de que um texto diz mais do que na verdade diz. Um dos aspectos
mais notáveis do ministério de Jesus é a sua fantástica flexibilidade e
adaptabilidade de abordagens, ajustando a sua argumentação em função do
ouvinte. Vemos isso nas diferentes abordagens de Jesus sobre o tema
“salvação” para o jovem rico e para Nicodemos. Algumas semelhanças podem
ser encontradas, mas não há uma generalização na forma de abordagem de
Jesus Cristo.
Carson argumenta sobre trabalho realizado por Stephen B. Clark
defendendo, baseado em apenas dois textos bíblicos (Gl 5.3; 1 Co 7.18), que
Paulo provavelmente sustentava a ideia de que, se alguém havia se
circuncidado, esse deveria continuar obedecendo à lei do Pentateuco (uma
generalização insuficientemente justificada).
No outro extremo, a especificação exagerada também é uma falácia.
Quando se interpreta que, baseando-se na passagem "e lhes enxugará dos
olhos toda lágrima" (Ap 21.4), no juízo final haverá uma exposição de nossos
pecados gerando grande choro, antes que esses sejam eliminados para
sempre é, com certeza, especificar demais o texto com elementos que ele não
contém. Apoiar-se na Palavra de Deus deve nos levar não somente a crer em
tudo o que a Bíblia diz, mas também a evitar “ultrapassar o que está escrito”
(conforme 1 Co 4.6).
A décima falácia lógica fala de “Inferências negativas”, demonstrando
que, se uma proposição é verdadeira, isto não significa necessariamente que
uma inferência negativa a partir dessa proposição também seja verdadeira. No
silogismo a seguir vemos uma ilustração dessa ideia:
a. Todos os judeus ortodoxos crêem em Moisés.
b. O Sr. Smith não é um judeu ortodoxo.
c. Portanto, o Sr. Smith não crê em Moisés
Conclusões dependentes de inferência negativa a partir da premissa maior não
são silogismos válidos. Além disso, fica óbvio que o argumento não se

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sustenta: o Sr. Smith pode ser um judeu não-ortodoxo que crê em Moisés ou
então um não-judeu que crê em Moisés. No silogismo seguinte, vemos que a
conclusão é verdadeira baseada no NT, mas o silogismo é inválido pelo mesmo
motivo anterior.
a. Todos os que têm fé em Jesus estão salvos.
b. O Sr. Jones não tem fé em Jesus.
c. Portanto, o Sr. Jones não está salvo.

Observação: O silogismo anterior poderia ser válido se ao invés de “todos”


tivéssemos “somente” na premissa maior. Dessa forma, a premissa menor
deixaria de ser inferência negativa da primeira, validando o silogismo.

“Inferências injustificadas” são uma subdivisão da falácia “Confusão de


cosmovisões”, e ocorrem quando uma palavra ou expressão de um texto
desencadeia uma ideia ou conceito que não tem nenhuma relação direta com
esse texto, mas que mesmo assim são usados para interpretá-lo. O exemplo
clássico de Filipenses 4.13 ("... tudo posso naquele que me fortalece”) ilustra
essa falácia, pois associa o termo tudo aqui com outras ideias não relacionadas
ao que o texto discorre dos versos 10 a 12.
As “Falsas declarações” são falácias que fazem com que até eruditos
cometam erros, pelas razões mais variadas. Um exemplo apresentado está na
comparação de Hebreus 3.1 (”... considerai atentamente o Apóstolo e Sumo
Sacerdote da nossa confissão, Jesus”) com João 20.21 (“ 'Assim como o Pai
me enviou, eu também vos envio' “). Conforme já comentado, apóstolo é um
“representante ou mensageiro especial”, enviado por alguém com autoridade
para tal. Portanto, Jesus é o Apóstolo de Deus, conforme Hebreus 3.1. No
entanto, em João 20.21, apesar do primeiro verbo “enviou” (referente a Jesus)
ter a mesma raiz etimológica da palavra grega para Apóstolo, o segundo verbo
“vos envio” (referente aos discípulos) não tem a mesma raiz. Portanto, é bem
pouco provável que João tenha pensado nesse chamado como um chamado
de apóstolos.
A décima-terceira falácia lógica diz respeito a conclusões que não
advém (“non sequitur” = não seguem) da evidência e dos argumentos
apresentados, parecendo ser resultados de pensamentos confusos ou falsas
premissas. Um caso simples é a conclusão a que chega Thomas H. Groome
em relação ao verso "Aquele que não ama não conhece a Deus" (1 Jo 4.8), a
partir do qual conclui que "o único modo verdadeiro de conhecer a Deus é
através de uma relação de amor". Baseado somente no texto em questão, essa
não é uma conclusão válida.
A falácia da “Rejeição arrogante” consiste em tratar um argumento
oposto como já discutido, quando na verdade ele foi apenas colocado de lado.
Carson cita o exemplo de um texto de Hans Conzelmann no que apresenta

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uma possível interpretação de 1 Coríntios 11.4-6, para apenas para descartá-
la, sem nenhuma argumentação válida, acrescentando as palavras: "Isto é
fantasia". Isto significa que a opinião oposta surge de uma matriz de
pensamentos tão diferente daquela do estudioso que a analisam que este a
rejeita simplesmente por considerá-la estranha, fantástica e inaceitável.
Nas “Falácias baseadas em argumentações equívocas”, Dr. Carson
refere-se a argumentos que não podem ser considerados errados, mas que
mesmo assim são imperfeitos, equívocos, insatisfatórios ou ambíguos. Cita
exemplos em que a ambiguidade na argumentação é usada, de forma quase
desonesta, visando assegurar a mais ampla concordância. Em outros casos,
aponta para comentaristas que, consciente ou inconscientemente, expressam
sua explanação de forma tal que deixam duas ou mais opções abertas, seja
por não saber a resposta, seja por preferir deixar o assunto mascarado ou sem
solução.
Na falácia das “Analogias inadequadas” o erro está em supor que
determinada analogia esclarece um tema bíblico quando, na verdade, ela é
comprovadamente inadequada. Isto ocorre, na maioria das vezes, quando não
se formula analogias incluindo elementos tanto de continuidade quanto de
descontinuidade junto com o que querem explicar, levando em conta que os
elementos de continuidade devem predominar no momento da explicação para
que a analogia seja válida.
Na penúltima falácia lógica, o “Uso impróprio de expressões como
"obviamente" e outras semelhantes”, Carson discorre sobre o uso adequado de
expressões como "obviamente", "nada pode ser mais evidente", e o outras, o
qual somente é válido quando o comentarista já apresentou evidências tão
irrefutáveis que a grande maioria dos leitores realmente concordaria que o
assunto abordado é evidente, ou que o argumento é logicamente conclusivo.
No entanto, destaca que é uma falácia achar que essas expressões em si
acrescentam algo significativo à argumentação, enquanto os argumentos
opostos ainda não forem definitivamente refutados. Como exemplo, apresenta
a explicação de Gleason L. Archer Jr. sobre a diferença de uso dos termos
“humildes de espírito” em Mateus 5.3, e “pobres” em Lucas 6.20 nas Bem-
Aventuranças. Para Archer, trata-se de dois discursos diferentes de Jesus e,
apresentando duas ou três razões ( todas refutadas em diversos artigos),
conclui dizendo que "nada poderia ser mais evidente do que o fato de que
essas eram duas mensagens diferentes proferidas em momentos diversos".
Pelo percentual de discordância dos estudiosos quanto à sua argumentação,
nada poderia ser mais evidente de que o uso de tal expressão foi
exageradamente forte.
Concluindo esse bloco de falácias, o autor argumenta que a crença de
que simplesmente recorrer à autoridade de outros justifica determinada
interpretação de um texto é um grande erro, e que, a menos que as razões de

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tal autoridade sejam apresentadas, o que se prova, na verdade, é que quem
assim crê está sob a influência dessa autoridade importante. Apoio acadêmico
traz reputação, mas não reforça ou comprova argumentos.
Chegando ao último grupo de falácias de sua obra, Carson discorre
sobre as chamadas “Falácias históricas e de pressupostos”. A Bíblia contém
muitos dados históricos; e quando seres humanos falhos e limitados lidam com
a história, erros de historiadores serão encontrados. A exegese envolve linhas
de pensamento e de argumentação sistematizadas, e onde há raciocínio
sistematizado, existem também falácias de pressupostos.
A falácia da “Reconstrução histórica livre” consiste em enfatizar demais
reconstruções especulativas da história judaica e cristã do primeiro século na
exegese de documentos do Novo Testamento. O problema é que não temos
quase nenhum acesso à história da igreja primitiva durante suas primeiras
cinco ou seis décadas a não ser pelos documentos do Novo Testamento, o que
faz com que uma reconstrução um pouco especulativa do curso da história seja
necessária e admissível quando estamos tentando preencher lacunas deixadas
por evidências insuficientes. A falácia aqui é defender o uso dessas
especulações para minar grande parte das poucas evidências existentes. O
mais metodologicamente correto é admitir que não se sabe o que de fato
ocorreu historicamente ou mesmo arriscar alguma suposição cuidadosa sobre
o que aconteceu, ao invés de tentar usar a especulação em si como
fundamento para descartar a evidência.
“Falácias de causalidade” são explicações falhas das causas dos
eventos. Alguns exemplos desse grupo de falácias são:
- Post hoc, propter hoc: a idéia errônea de que, se o evento B aconteceu
depois do evento A, ele aconteceu por causa do evento A;
- Cum hoc, propter hoc: confusão entre correlação e causa;
- Pro hoc, propter hoc: coloca o efeito antes da causa;
- Falácia redutiva: redução da complexidade à simplicidade ou da diversidade à
uniformidade em explicações causais;
- Falácia da razão como causa: tomar uma ordem causai por uma lógica, ou
vice-versa;
- Falácia da responsabilidade como causa: confunde um problema de ética
com um problema de atuação, deturpando ambos.
Citando um exemplo da falácia Post hoc, propter hoc, “o pior tipo de
falácia causal”, Carson cita a absurda conclusão de alguns estudiosos da
história da religião de que o cristianismo é uma ramificação do gnosticismo,
pelo simples fato de não haver boas evidências de um gnosticismo
desenvolvido no período anterior a Cristo.
O terceiro tipo de falácia histórica, as “Falácias de motivação”, podem
ser entendidas de forma simplista como uma tentativa de analisar
psicologicamente um ou mais participantes de um evento passado, sem ter

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acesso a esses indivíduos, baseando-se tão somente em fragmentos de
registros desse evento. Atualmente, essa falácia surge com mais frequência
em alguns estudos radicais da crítica da redação do Novo Testamento, onde
sustenta-se que cada mudança de redação em um dado texto deva ter uma
razão psicológica relacionada. Como exemplo, podemos citar as razões dadas
por Robert H. Gundry para sustentar seu argumento de que as narrativas do
nascimento de Jesus em Mateus dependem de Lucas. Sentindo-se no dever de
explicar cada diferença entre os dois Evangelhos, justifica que o fato de os
magos encontrarem Jesus em uma “casa” em Mateus 2.11-12, e não em uma
“manjedoura” como em Lucas, deve-se a ser improvável que uma manjedoura
seja "um lugar adequado para distintos magos oferecerem presentes caros a
um rei".
A próxima falácia (a “Paralelomania conceitual”) é uma réplica conceitual
da sexta falácia vocabular que trata da tendência de estudiosos de citar
“paralelismos” de valor questionável nos textos bíblicos. Ela é particularmente
atraente para especialistas de outras áreas tais como Psicologia, Sociologia,
História, Filosofia, Educação, por exemplo, em geral cristãos, que querem
relacionar a Bíblia à sua disciplina, forçando elos conceituais inexistentes.
A quinta e última falácia histórica são aquelas que surgem da “falta de
distanciamento” no processo interpretativo, sendo a mais óbvia delas a
transferência de uma “teologia pessoal” para o texto. O problema torna-se
ainda mais sério quando não é nem tanto a tradição ou pressuposição do
intérprete que está em jogo, mas uma questão preferida na sua teologia
pessoal. A solução para essa falácia, segundo Carson, não está em retroceder
para tentar a “neutralidade” (tornar a mente uma tábula rasa, ou seja, uma
“folha de papel em branco”), o que é impraticável, mas sim discernir quais são
nossos preconceitos e fazer concessões. Somente assim “pedra” em Mt. 16.13-
20 poderá ser compreendida em seu sentido real de “confissão de fé”, ao invés
do sentido errôneo das reinvindicações católicas de se tratarem do próprio
Pedro.
Finalmente, concluímos a resenha do livro apontando para algumas
áreas em que, segundo Carson, oportunidades de novas falácias “espreitam” e
tem real possibilidade de surgirem. Potenciais falácias tais como “Problemas
relativos ao gênero literário” (novas definições modernas para antigos gêneros
literários como “parábolas” ou “alegorias”), “Problemas relativos ao uso que o
Novo Testamento faz do Antigo Testamento” (citações do AT no NT e suas
implicações), “Argumentos a partir do silêncio” (crítica sobre o silêncio das
Escrituras a respeito de alguns temas), entre outras, irão semear o campo das
futuras discussões hermenêuticas e, segundo o autor, já precisam ter suas
sondagens iniciadas previamente.

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