Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
• Inglaterra
• Este texto foi redigido, originalmente, como parte de um capítulo introdutório da tese
de mestrado do autor, Política social, acumulação e legitimidade: contribuição à história da
Previdência Social no Brasil (1923-1960). Monografia de mestrado, IMS/UERJ, 1980, mi-
meogr.
•• Professor na Escola Nacional de Saúde pública/Fiocruz. (Endereço do autor: Av. São
Sebastião, 105/301 - Urca - 22.291 - Rio de Janeiro, RJ.)
1 Ver, a respeito, por exemplo: Marshall, T. H. O legado da era vitoriana. Política social.
Rio de Janeiro, Zahar, 1967. p. 11-26; --o Cidadania e classe social. Cidadania, classe
social e status. Rio de Janeiro, Zahar, 1967. p. 57-114. Ver, também, Gomes, Angela Maria
de Castro. Legislação social: um marco histórico comparativo. Burguesia e trabalho: polí-
tica e legislação social no Brasil (1917-1937). Rio de Janeiro, Campus, 1979. p. 31-52.
----------------------------~~----.
Rev. Adm. públ., Rio de Janeiro, 18(2): 110-26, abr./;un. 1984
• Alemanha
• França
• EUA
1842 - primeiras leis sobre o trabalho infantil em Massachusetts e Connec-
ticut;
1847 - lei limitando a jornada de trabalho para mulheres nas manufaturas
em New Hampshire;
primeira lei limitando a 10 horas a jornada de trabalho para qualquer traba-
lhador (salvo "contrato expresso requerendo mais tempo");
1848 - primeiras leis sobre o trabalho infantil na Pennsylvania;
1908-1909 - legislação sobre responsabilidades do empregador . Vários esta-
dos começam a promulgar leis sobre acidentes industriais;
primeiras leis sobre doenças profissionais, para os funcionários do U.S. Civil
Service;
1910 - criação do Bureau of Mines;
1911 - leis sobre doenças profissionais para os operários de New Jersey;
Criação do National Safety Council;
1914 - criação da Divisão de Higiene Industrial no Serviço de Saúde PÚ-
blica dos EUA;
1916 - Workmen's Compensation Law.2
"O Estado capitalista, com direção hegemônica de classe, representa não dire-
tamente os interesses econômicos das classes dominantes, mas os seus interesses
políticos: ele é o centro do poder político das classes dominantes na medida
em que é o fator de organização da sua luta política. Gramsci exprimia-o
admiravelmente ao constatar que '... a vida do Estado é concebida como
uma formação contínua e uma superação de equilíbrios instáveis ( ... ) entre
os interesses do grupo fundamental e os dos gntUos subordinados, equilíbrios
em que os interesses do grupo dominante levam a melhor, mas só até um
"( ... ) essa 'política social' do Estado capitalista aparece delineada de forma
indireta em O capital, mais particularmente nos textos do primeiro livro rela-
tivos à legislação sobre as manufaturas, se bem que apenas se tratasse, nesse
caso, de falsos sacrifícios correspondentes, de fato, ao estrito interesse eco-
nômico do capital" (grifo n0550).15
Pode-se ver aqui, portanto, que, também para Poulantzas, existem aspectos
(ou momentos, ou setores) das políticas sociais, determinados mais pelo "es-
trito interesse econômico do capital", do que pela problemática de ordem
político-ideológica, que é vista por ele como central nesta questão. E nós
"Marx mostra, desta maneira, que o capital, tendo plena e ilimitada liber-
dade de explorar a força de trabalho que lhe está submetida, tende a des-
truí-la. Dispondo de oferta abundante de mão-de-obra, o capital sucumbe à
sua voracidade de mais trabalho, prolongando a jornada até exaurir o traba-
lhador e absorvendo a capacidade de trabalho da mulher e da criança a ponto
de eliminar a infra-estrutura familiar indispensável à reprodução da espécie
e portanto à reposição do trabalhador. ( ... )
Nestas condições, não haveria a reprodução da força de trabalho ou, se se
quiser, a reprodução da força de trabalho seria 'deficitária', acarretando -uma
diminuição mais ou menos rápida da população proletária ( ... ).
Foi necessário, portanto, que o estado interviesse no processo de exploração,
fixando seus limites para todos os capitalistas, de modo a tornar possível a
reprodução da força de trabalho. Em todos os países industriais foram ado-
tadas leis fixando a jornada normal de trabalho e as idades mínimas de
entrada e máxima de saída da força de trabalho, regulamentando o trabalho
feminino, concedendo certos privilégios à trabalhadora que se toma mãe etc.
Estas leis passaram a constituir a base institucional da reprodução da força
de trabalho. ( ... ) desde a promulgação das 'Poor Laws' na Inglaterra, o estado
participa diretamente da reprodução da força de trabalho, mediante transfe-
rências de recursos monetários sob a forma de pensões, aposentadorias, salário-
família, auxílio a desempregados etc., e mediante a prestação de serviços
gratuitos, principalmente no campo da educação, da assistência à saúde e do
saneamento" (grifo nosso).16
18 O'Connor, James. USA: a crise do Estado capitalista. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1977.
p. 13-23; 51-72; 153-79.
O texto de O'Connor trata da questão dos gastos públicos de maneira mais geral, mas
suas categorias (ver, por exemplo, as noções de "investimento social", "consumo social"
e "despesas sociais'') são interessantes para pensar o problema do setor mais específico
destes gastos com que nos ocupamos aqui (as políticas sociais). Daí são retirados, aliás,
muitos dos exemplos em sua discussão, na qual reencontraremos as questões levantadas
anteriormente nesta introdução (intervenção do Estado no âmbito da reprodução da força
de trabalho, enquanto instrumento de hegemonia etc.).
19 Ver O'Connor, James. op. cit., a noção de "Warfare-Welfare state" onde, com um irô-
nico jogo de palavras, ele mistura a tradicional idéia de "Estado de bem-estar social" com
a noção de "Estado militarista".
"O que estes dados indicam é que dado o influxo abundante da força de
trabalho proveniente de outros modos de produção no mercado de trabalho
capitalista, o Estado brasileiro não é compelido a tomar providências no sen-
tido de assegurar a reprodução da força de trabalho, preservando-a de uma
exploração predatória pelo capital."22
O quadro não chega a ser tão radical a ponto de que nenhuma medida
neste sentido seja adotada. Elas o são, mas apenas fragmentariamente, res-
tritas a alguns setores da força de trabalho, e em geral por razões de ordem
mais propriamente política do que por uma real preocupação do Estado com
o problema da reprodução da força de trabalho.
"O que se verifica, na verdade, é a adoção, no plano jurídico, de me-
didas que, nos países industrializados, tendem a proteger a reprodução da
força de trabalho: leis que regulam as condições de segurança e salubridade
do trabalho, instituição de serviços de previdência social, salário mínimo, con-
trato coletivo de trabalho etc. Embora estas instituições estejam longe de
cumprir suas finalidades específicas, elas tampouco permanecem inteiramente
sem função. O que em geral ocorre é que elas acabam atingindo apenas
parte do proletariado, cuja reprodução da força de trabalho passa a se dar
em melhores condições do que a do restante da população trabalhadora."23
Em outras palavras: a possibilidade permanente de contar com o deslo-
camento de força de trabalho desde setores pré-capitalistas e, com isso, mais
do que suprir as demandas deste fator (inclusive para formar a fração "flu-
tuante" do exército de reserva), faz com que a questão da "reprodução da
força de trabalho" se coloque como menos presente na determinação dos rumos
da política social nos países periféricos, entre eles, b nosso.
A permanente e intensa migração rural-urbana, por exemplo, acumulando
na periferia das cidades industrializadas amplos excedentes populacionais toma,
em boa medida, supérflua a preocupação do Estado com políticas voltadas
para a "reprodução da força de trabalho" (com exceção de seus setores mais
qualificados) .
Assim, parece-nos em síntese, que esta questão tende a ocupar um papel
menor entre nós enquanto determinante dos rumos da política social, por
comparação ao que ocorre, por exemplo, nos países centrais. Não nos pa-
rece que ela seja um elemento central na determinação do que ocorre nesta área.
Passemos agora ao tema das relações entre políticas sociais e hegemonia.
E sabido que a ação política, ideológica, cultural e mesmo econômica das
classes dominantes (e dirigentes) e do Estado deve articular permanentemente
os elementos coerção e consenso, dominação e direção, como nos aponta a
O'Connor nos fala, por outro lado, da expressão deste mesmo problema
no plano dos gastos estatais:
"( ... ) o Estado capitalista tem de tentar desempenhar duas funções básicas
e muitas vezes contraditórias: acumulação e legitimação. Isto quer dizer que o
Estado deve tentar manter, ou criar, as condições em que se faça possível uma
lucrativa acumulação de capital. Entretanto, o Estado também deve manter
ou criar condições de harmonia social. Um Estado capitalista que empregue
abertamente sua força de coação para ajudar uma classe a acumular capital
à custa de outras classes perde sua legitimidade e, portanto, abala a base de
suas lealdades e apoios. Porém, um Estado que ignore a necessidade de assistir
ao processo de acumulação de capital arrisca-se a secar a fonte de seu pró-
prio poder, a capacidade de produção de excedentes econômicos e os im-
postos arrecadados deste excedente (e de outras formas de capital)" (grifo
nosso).26
"E certo que o conceito de Estado capitalista implica uma função espe-
CÍfica da ideologia política, uma forma de poder que se funda num 'consen-
timento' particularmente organizado e dirigido das classes dominadas; contudo,
o caráter do Estado capitalista, que aqui nos ocupa, não se limita apenas ao
condicionamento ideológico. A noção de interesse geral do 'povo', noção ideo-
lógica mas que recobre um jogo institucional do Estado capitalista, denota um
fato real: esse Estado permite, pela sua própria estrutura, as garantias de
interesses econômicos de certas classes dominadas, eventualmente contrárias
aos interesses econômicos a curto prazo das classes dominantes, mas compa-
TI ~ célebre também, neste sentido, a distinção que Gramsci (Luta política e guerra mio
Iitar. In: Gramsci, Antonio, op. cit.) estabelece entre "Oriente" e "Ocidente" (isto é, a
Rússia e os países europeus ocidentais em fins da I Guerra) no que tange ao peso e à
estruturação da "sociedade civil" (isto é, dos elementos de direção, mais do que de domina-
ção do Estado). E aqui nem se trata tanto de uma situação "de crise", "provis6ria", como
na observação de Portelli, mas muito mais de uma condição estrutural de formações sociais
nas quais o modo de produção capitalista ainda não atingiu a difusão, a generalização e a
importância dos países centrais. E, com ele, também ainda não se difundiram as caracterís-
ticas específicas que o MPC (Modo de Produção Capitalista) impõe às relaçeõs entre os
diferentes níveis da estrutura social, nas formações em que já se tomou claramente hegemô-
nico (ver Poulantzas, Nicos. op. cit.).
21 Portelli, Hugues. op. cito
29 Ver, como exemplo hist6rico desta situação, a noção de "cesarismo social" para caracte-
rizar o regime de Luis Bonaparte (Marx, Karl. O 18 Brumário. In: Poulantzas, Nicos.
op. cit.).
Summary
Starting from a series of citations, the author attempts to analyze the evo-
lution observed in the handling of questions related to the protection of ways
PROBLEMAS
MUNDIAlS-EMstiÉ
~oospORQU
,.R~1~
A paz eo Pão
Saúde e Sistemas A. Fonseca Pimentel
Mario M. Chaves 2!1 edição - 1971
~ edição - 1980
o Coraçlo 8 a Saúde
{livro de bolso.da Unesco n9 7'
F. Soler Sabar(s (coord.)
1~ ediçlo - 1977
Nas livnJrias da Hi V
ou pelo ReemlxJlso Postal