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A LENDA DE PRAHLADA SEGUNDO O VISHNU PURANA

CAPÍTULO 17

Parasara: ‘Ouça, Maitreya, à história do sábio e magnânimo Prahlada, cujas aventuras são
sempre interessantes e instrutivas. Hiranyakasipu, o filho de Diti, tinha trazido os três mundos
antigamente sob sua autoridade, confiando em uma bênção concedida a ele por Brahma1. Ele tinha
usurpado a soberania de Indra, e exercido ele mesmo as funções do sol, do ar, do senhor das águas,
do fogo, e da lua. Ele mesmo era o deus das riquezas; ele era o juiz dos mortos; e ele se apropriava,
sem reserva, de tudo o que era oferecido em sacrifício aos deuses. As divindades então, fugindo de
seus assentos no céu, vagaram, por medo do Daitya, sobre a terra, disfarçados em formas mortais.
Tendo conquistado os três mundos, ele estava inchado com orgulho, e, louvado pelos Gandharbas,
desfrutava de tudo o que ele desejava. Os Gandharbas, os Siddhas, e os deuses-cobra todos se
encarregavam de servir o poderoso Hiranyakasipu, quando ele se sentava em banquete. Os Siddhas
encantados permaneciam diante dele, alguns tocando instrumentos musicais, alguns cantando
canções em louvor dele, e outros gritando brados de vitória; enquanto as ninfas do céu dançavam
graciosamente no palácio de cristal, onde o Asura bebia com prazer o cálice inebriante.
O filho ilustre do rei Daitya, Prahlada, sendo ainda um menino, residia na habitação de seu
preceptor, onde ele lia os escritos que são estudados nos primeiros anos. Em uma ocasião ele chegou,
acompanhado por seu professor, na corte de seu pai, e curvou-se diante dos pés dele enquanto ele
estava bebendo. Hiranyakasipu desejou que seu filho prostrado se erguesse, e disse a ele, "Repita,
menino, em substância, e agradavelmente, o que durante o período de seus estudos você adquiriu."
"Ouça, pai", Prahlada respondeu, o que em obediência aos seus comandos eu repetirei, a substância
de tudo o que eu aprendi. Ouça atentamente o que ocupa totalmente meus pensamentos. Eu aprendi a
adorar a ele que é sem início, meio, ou fim, aumento ou diminuição; o senhor imperecível do mundo,
a causa das causas universal". Ao ouvir essas palavras, o soberano dos Daityas, seus olhos vermelhos
de ira, e lábio inchado de indignação, virou para o preceptor de seu filho, e disse, "Brâmane vil, o
que é esse elogio absurdo de meu inimigo que, em desrespeito a mim, você ensinou este menino a
proferir?" "Rei dos Daityas", respondeu o Guru, "não é digno de você ceder à cólera. Isso que seu
filho proferiu não foi ensinado a ele por mim." "Por quem então", disse Hiranyakasipu ao rapaz, "por
quem essa lição, menino, foi ensinada a você? Seu professor nega que isso proceda dele." "Vishnu,

1
A bênção, de acordo com o Vayu Purana, era que ele não poderia ser morto por nenhum ser criado. O Kurma acrescenta,
exceto por Vishnu. O Bhagavata tem um benefício semelhante como o Vayu, e então, diz o comentador, Vishnu assumiu
a forma do Nrisimha, como sendo aquela nem um homem nem um animal.
pai", Prahlada respondeu, "é o instrutor do mundo inteiro. O que mais alguém deveria ensinar ou
aprender, exceto ele o espírito supremo?" "Estúpido", exclamou o rei "quem é esse Vishnu, cujo
nome você repete tão impertinentemente diante de mim, que sou o soberano dos três mundos?" "A
glória de Vishnu", Prahlada respondeu, "é para ser meditada pelo devoto; ela não pode ser descrita.
Ele é o senhor supremo, que é todas as coisas e de quem todas as coisas procedem." A isso o rei
retorquiu, "Você deseja a morte, tolo, que você dá o título de senhor supremo a alguém enquanto eu
permaneço vivo?" "Vishnu, que é Brahma" disse Prahlada, "é o criador e protetor, não de mim
somente, mas de todos os seres humanos, e até mesmo, pai, de você. Ele é o senhor supremo de
todos. Por que você deveria, pai, estar ofendido?" Hiranyakasipu exclamou então, "Que espírito mau
entrou no peito desse menino tolo, que dessa maneira, como alguém possuído, ele profere tal
blasfêmia?" "Não em meu coração apenas", disse Prahlada, "Vishnu entrou, mas ele penetra todas as
regiões do universo, e por sua onipresença influencia a conduta de todos os seres, minha, pai, e tua 2."
"Fora com o patife!" gritou o rei;" o levem para a mansão do preceptor dele. Por quem ele poderia ter
sido instigado a repetir os louvores mentirosos de meu inimigo?"
De acordo com as ordens de seu pai, Prahlada foi conduzido pelos Daityas de volta para a
casa de seu Guru; onde, assíduo em assistência ao seu preceptor, ele melhorou constantemente em
sabedoria. Depois que um tempo considerável tinha decorrido, o soberano dos Asuras o chamou
novamente; e na chegada dele em sua presença, desejou que ele recitasse alguma composição
poética. Prahlada começou imediatamente, "Possa ele de quem matéria e alma se originam, de quem
tudo o que se move ou é inconsciente provém, ele que é a causa de toda essa criação, Vishnu, ser
favorável para nós!" Ao ouvir isso Hiranyakasipu exclamou, "Matem o patife! Ele não é digno de
viver, que é um traidor para seus amigos, um tição ardente para sua própria raça!" E seus criados,
obedientes às suas ordens, pegaram suas armas, e avançaram em massa em Prahlada, para destruí-lo.
O príncipe olhou-os calmamente e disse, "Daityas, tão verdadeiramente quanto Vishnu está presente
em suas armas e em meu corpo, igualmente essas armas realmente falharão em me ferir." E
consequentemente, embora golpeado pesadamente e repetidamente por centenas dos Daityas, o
príncipe não sentiu a menor dor, e sua força estava sempre renovada. Seu pai então se esforçou para
persuadi-lo a se abster de glorificar seu inimigo, e lhe prometeu imunidade se ele não fosse tão tolo a
ponto de perseverar, mas Prahlada respondeu que ele não sentia nenhum medo contanto que seu

2
Os Puranas ensinam doutrinas incompatíveis constantemente. De acordo com essa passagem, o Ser Supremo não é só a
causa inerte da criação, mas exerce as funções de uma Providência ativa. O comentador cita um texto do Veda em defesa
dessa visão: 'A alma universal entrando em homens, governa sua conduta.' Porém, incongruências são tão frequentes nos
Vedas quanto nos Puranas; mas aparentemente as partes mais antigas do ritual hindu reconheciam um governante ativo
no Criador do universo; a noção de divindade abstrata se originando com as escolas de filosofia.
guardião imortal contra todos os perigos estivesse presente em sua mente, cuja lembrança somente
era suficiente para dissipar todos os perigos consequentes de nascimento ou fraquezas humanas.
Hiranyakasipu, muito irritado, mandou as serpentes caírem sobre seu filho desobediente e
insano, e o morderem até a morte com suas presas envenenadas. E, nisso, as grandes serpentes
Kuhaka, Takshaka, e Andhaka, carregadas com veneno fatal, morderam o príncipe em todas as partes
de seu corpo; mas ele, com pensamentos imovelmente fixados em Krishna, não sentiu nenhuma dor
de seus ferimentos, estando imerso em lembranças arrebatadoras daquela divindade. Então as cobras
gritaram para o rei, e disseram, "Nossas presas estão quebradas; nossas cristas adornadas com jóias
estão rompidas; há febre em nossos capelos, e medo em nossos corações; mas a pele do jovem ainda
está incólume. Recorra, monarca dos Daityas, a algum outro meio." "Ó! Elefantes dos céus!"
Exclamou o demônio; "unam suas presas, e destruam esse desertor de seu pai, e conspirador com
meus inimigos. É assim que frequentemente nossa progênie é nossa destruição, como fogo consome
a madeira da qual ele surge." O príncipe jovem foi então atacado pelos elefantes dos céus, tão vastos
quanto cumes de montanhas; derrubado no chão, e pisoteado, e espetado pelas presas deles. Mas ele
continuou a se lembrar de Govinda, e as presas dos elefantes foram cegadas contra o peito dele.
"Veja", ele disse ao seu pai, "as presas dos elefantes, tão duras quanto diamante, estão sem corte; mas
isso não é por qualquer força minha. Recorrer a Janarddana é minha defesa contra tal aflição
terrível."
Então o rei disse aos seus criados, "Dispensem os elefantes, e que o fogo o destrua; e tu,
divindade dos ventos, assopre o fogo; que este patife perverso possa ser consumido." E os Danavas
amontoaram uma pilha imensa de madeira ao redor do príncipe, e acenderam um fogo, para queimá-
lo, como tinha mandado seu mestre. Mas Prahlada gritou, "Pai, este fogo, embora soprado pelos
ventos, não me queima; e por toda parte eu vejo a face dos céus, fresca e fragrante, com leitos de
flores de loto."
Então os brâmanes que eram os filhos de Bhargava, sacerdotes ilustres, e declamadores do
Sama-Veda, disseram ao rei dos Daityas, "Majestade, contenha sua ira contra seu próprio filho.
Como a raiva conseguiria encontrar um lugar nas mansões celestiais? Quanto a esse rapaz, nós
seremos os instrutores dele, e o ensinaremos obedientemente a labutar para a destruição de seus
inimigos. Juventude é a época, rei, de muitos erros, e você não deve portanto ficar ofendido
implacavelmente com uma criança. Se ele não nos escutar e abandonar a causa de Hari, nós
adotaremos medidas infalíveis para provocar a morte dele." O rei dos Daityas, assim solicitado pelos
sacerdotes, mandou que o príncipe fosse libertado do meio das chamas.
Novamente estabelecido na residência de seu preceptor, o próprio Prahlada dava lições para
os filhos dos demônios, nos intervalos de seu lazer. "Filhos da prole de Diti", ele estava acostumado
a dizer para eles, "ouçam de mim a verdade suprema; nada mais é digno de ser considerado; nada
mais aqui é um objeto a ser desejado. Nascimento, infância, e juventude são a sina de todas as
criaturas; e então sucede decadência gradual e inevitável, terminando com todos os seres, filhos dos
Daityas, na morte. Isso é manifestadamente visível para todos; para vocês como é para mim. Que os
mortos nascem novamente, e que não pode ser de outra maneira, os textos sagrados são garantia.
Mas produção não pode existir sem uma causa material; e enquanto concepção e parturição forem as
causas materiais de nascimento repetido, estejam seguros, a dor será inseparável de todo período de
existência. O simplório, em sua inexperiência, fantasia que o alívio da fome, sede, frio, e
semelhantes é prazer; mas de verdade é dor; pois sofrimento dá prazer para aqueles cuja visão está
obscurecida pela ilusão, como fadiga seria prazer para membros que são incapazes de movimento3.
Este corpo vil é uma combinação de muco e outros líquidos orgânicos. Onde estão sua beleza, graça,
fragrância, ou outras qualidades estimáveis? O tolo que é afeiçoado a um corpo composto de carne,
sangue, matéria, excremento, urina, membrana, medula, e ossos, estaria apaixonado pelo inferno. A
agradabilidade do fogo é causada pelo frio; da água, pela sede; do alimento, pela fome; por outras
circunstâncias seus contrários são igualmente agradáveis4. O filho do Daitya que toma para si mesmo
uma esposa só introduz muita miséria em seu peito; pois tantas quantas são as afeições nutridas por
uma criatura viva, tantos são os espinhos de ansiedade implantados em seu coração; e aquele que tem
posses grandes em sua casa é assombrado, onde quer que ele vá, com a apreensão que eles podem ser
perdidos ou podem ser queimados ou roubados. Assim há grande dor em nascer. Para o homem que
morre há as torturas do juiz dos mortos, e de passar novamente para o útero. Se você conclui que há
pouco prazer no estado de embrião, você tem que admitir então que o mundo é composto de dor.
Realmente eu digo para vocês, que neste oceano do mundo, este mar de muitas tristezas, Vishnu é
sua única esperança. Se vocês disserem, vocês não conhecem nada disso; 'nós somos crianças;
espírito encarnado em corpos é eterno; nascimento, juventude, decadência, são as propriedades do
corpo, não da alma5.' Mas é desse modo que nós enganamos a nós mesmos. ‘Eu ainda sou uma

3
Esse é aparentemente o sentido da oração, e é aquilo que o comentário confirma em parte. Literalmente ela é: 'Um golpe
é o prazer daqueles cujos olhos estão obscurecidos pela ignorância, cujos membros, excessivamente amortecidos,
desejam prazer através de exercício.' Porém, o comentador divide a oração, e a lê: 'Como fadiga seria como prazer para
membros paralisados; e um golpe é prazer para aqueles que estão cegos pela ilusão; isto é, por amor; pois para eles um
tapa, ou até um chute, de um amante seria um favor.' Isso não é improvavelmente uma alusão a algum passatempo
venerável como cabra-cega. Essa interpretação, entretanto, deixa a construção da primeira metade da oração imperfeita, a
menos que o nominativo e o verbo se apliquem a ambas as partes.
4
Eles estão tão longe de serem fontes de prazer em si mesmos, que, sob diferentes contrastes, eles se tornam fontes de
dor. Calor é agradável em tempo frio, frio é agradável em tempo quente; calor seria então desagradável. Bebida é
agradável para um homem sedento, sede é agradável para alguém que bebeu muito; e mais bebida seria dolorosa. Assim
com relação a alimento, e outros contrastes.
5
'Conhecimento divino é o campo somente daqueles que podem separar alma de corpo; isto é, que vivem independentes
de fraquezas e emoções corpóreas. Nós não superamos vicissitudes corpóreas, e não temos nenhuma preocupação então
com tais investigações abstrusas.' Essa é a explicação do comentador da passagem.
criança; mas é meu propósito me esforçar quando eu for um jovem. Eu ainda sou um jovem; mas
quando eu ficar velho eu farei o que é necessário para o bem da minha alma. Eu agora estou velho, e
todos os meus deveres devem ser cumpridos. Como, agora que minhas faculdades me falham, eu
farei o que foi deixado inacabado quando minha força estava intacta?' Dessa maneira os homens,
enquanto suas mentes estão distraídas pelos prazeres sensuais, sempre propõem, e nunca atingem
beatitude final: eles morrem sedentos6. Dedicados na infância a brincar, e na juventude ao prazer,
ignorantes e impotentes eles descobrem que a velhice os encontrou. Portanto mesmo na infância que
a alma encarnada adquira sabedoria discriminadora, e, independente das condições de infância,
mocidade, ou velhice, se esforcem incessantemente para serem livres. Isso, então, é o que eu declaro
para vocês; e já que vocês sabem que isso não é falso, por consideração por mim, lembrem-se de
Vishnu, o libertador de toda escravidão. Que dificuldade há em pensar nele, que, quando lembrado,
concede prosperidade; e por chamar a quem de volta à memória, dia e noite, todo pecado é
purificado? Que todos os seus pensamentos e afeições sejam fixados nele, que está presente em todos
os seres, e você rirão de toda preocupação. O mundo inteiro está sofrendo sob uma aflição tripla 7.
Que homem sábio sentiria ódio por seres que são objetos de compaixão? Se a fortuna for propícia
para eles, e eu não posso participar de prazeres semelhantes, contudo por que eu deveria nutrir
malignidade em direção àqueles que são mais prósperos que eu? Eu devo antes simpatizar com a
felicidade deles; pois a supressão de sentimentos malignos é em si mesma uma recompensa 8. Se os
seres são hostis, e se entregam ao ódio, eles são objetos de piedade para os sábios, como cercados
por ilusão profunda. Essas são as razões para reprimir o ódio, as quais são adaptadas às capacidades
daqueles que vêem a divindade distinta de suas criaturas. Ouçam, brevemente, o que influencia
aqueles que chegaram à verdade. Este mundo inteiro é apenas uma manifestação de Vishnu, que é
idêntico a todas as coisas; e é portanto para ser considerado pelos sábios como não diferindo de, mas
como o mesmo que, eles mesmos. Vamos então colocar de lado as emoções iradas de nossa raça, e
nos esforçarmos para que nós obtenhamos aquela felicidade perfeita, pura, e eterna, que estará além
do poder dos elementos ou suas divindades, do fogo, do sol, da lua, do vento, de Indra, do regente do
mar; que não será molestada por espíritos do ar ou terra; por Yakshas, Daityas, ou seus chefes; pelos
deuses-serpente ou semideuses monstruosos de Swarga; que não será interrompida por homens ou

6
Aludindo, diz o comentador, à fábula de um lavadeiro que, enquanto lavando suas roupas no Ganges, tencionava beber
de suas águas diariamente, mas esqueceu seu propósito em sua ocupação; ou de um menino, que propôs o mesmo
enquanto ele procurava peixe após peixe, e nunca realizou sua intenção, sendo absorvido por seu passatempo: ambos
morreram sem beber.
7
Os três tipos de aflição da filosofia Sankhya: interna, como angústia corporal ou mental; externa, como danos por causa
de homens, animais, etc.; e sobre-humana, ou castigo por deuses ou demônios. Veja S. Karika, v. 1.
8
A construção do texto é elíptica e breve, mas o sentido é suficientemente claro. A ordem do último pada é transposta
assim pelo comentador: 'De onde (de sentir prazer) o abandono da inimizade é realmente a consequência.'
animais, ou pelas fraquezas da natureza humana; por enfermidade e doença corpórea 9 , ou ódio,
inveja, malícia, paixão, ou desejo; a qual nada molestará, e que cada um que fixa todo o seu coração
em Kesava desfrutará. Realmente eu digo para vocês, que vocês não terão nenhuma satisfação em
várias revoluções por este mundo traiçoeiro, mas que vocês obterão placidez para sempre por
propiciarem Vishnu, cuja adoração é calma perfeita. O que aqui é de obtenção difícil, quando ele está
satisfeito? Riqueza, prazer, virtude, são coisas de pouca importância. Precioso é o fruto que você
colherá, esteja certo, do estoque inesgotável da árvore da verdadeira sabedoria."

CAPÍTULO 18

Os Danavas, observando a conduta de Prahlada, informaram isso ao rei, para que eles não
incorressem no desgosto dele. Ele chamou seus cozinheiros, e disse a eles, "Meu filho vil e sem
caráter está agora ensinando para outros suas doutrinas ímpias: sejam rápidos, e acabem com ele.
Que veneno mortal seja misturado com todos os seus alimentos, sem o conhecimento dele. Não
hesitem, mas destruam o canalha sem demora." Portanto eles fizeram desse modo, e deram veneno
ao virtuoso Prahlada, como o pai dele os tinha ordenado. Prahlada, repetindo o nome do imperecível,
comeu e digeriu o alimento no qual o veneno mortal tinha sido aplicado, e não sofreu nenhum dano
disto, em corpo ou mente, pois ele tinha sido tornado inócuo pelo nome do eterno. Vendo o veneno
forte digerido, aqueles que tinham preparado a comida ficaram cheios de desânimo, e foram depressa
até o rei, e caíram diante dele, e disseram, "Rei dos Daityas, o veneno terrível dado por nós ao seu
filho foi digerido por ele junto com seu alimento, como se fosse inofensivo." Hiranyakasipu, ao ouvir
isso, exclamou, "Apressem-se, apressem-se, sacerdotes ministrantes da raça Daitya! Executem
imediatamente os ritos que efetuarão a destruição dele!" Então os sacerdotes foram até Prahlada, e,
tendo repetido os hinos do Sama-Veda, disseram a ele, enquanto ele escutava respeitosamente, "Tu
nasceste, príncipe, na família de Brahma, célebre nos três mundos, o filho de Hiranyakasipu, o rei
dos Daityas. Por que tu deverias reconhecer dependência dos deuses? Por que do eterno? Teu pai é o
esteio de todos os mundos, como tu mesmo, por tua vez, serás. Desista, então, de celebrar os
louvores de um inimigo; e lembre, que de todos os preceptores veneráveis, um pai é o mais
venerável." Prahlada respondeu a eles, "Brâmanes ilustres, é verdade que a família de Marichi é
renomada nos três mundos; isso não pode ser negado. E eu também admito, o que é igualmente
incontestável, que meu pai é poderoso sobre o universo. Não há erro, nem o mínimo, no que vocês

9
O original, de modo muito pouco poético, especifica algumas dessas, ou febre, oftalmia, disenteria, baço, fígado, etc. O
todo desses defeitos são os próprios das três espécies de dor aludidas antes.
disseram, 'que um pai é o mais venerável de todos os professores santos.' Ele é um instrutor
venerável, sem dúvida, e deve ser sempre reverenciado sinceramente. A todas essas coisas eu não
tenho nada a contestar; elas encontram uma aceitação pronta em minha mente. Mas quando vocês
dizem, 'Por que eu devo depender do eterno?' quem pode dar aceitação a isso como correto? As
palavras são desprovidas de significado." Tendo dito isso, ele ficou calado um tempo, sendo contido
por respeito às funções sagradas deles; mas ele não pôde reprimir seus sorrisos, e disse novamente,
"Que necessidade há do eterno? Excelente! Qual a necessidade do eterno? Admirável! Muito digno
de vocês que são meu preceptores veneráveis! Ouçam qual necessidade há do eterno, se ouvir não
lhes causar dor. É dito que o objetivo quádruplo dos homens é virtude, desejo, riqueza, emancipação
final. Ele que é a fonte de todos esses é inútil? Virtude foi derivada do eterno por Daksha, Marichi, e
outros patriarcas; riqueza foi obtida dele por outros; e por outros, o gozo dos seus desejos; enquanto
aqueles que, através de sabedoria verdadeira e contemplação santa, vieram a conhecer a essência
dele, foram libertados de sua escravidão, e obtiveram liberdade de existência para sempre. A
glorificação de Hari, atingível por unidade, é a base de todas as riquezas, dignidade, renome,
sabedoria, progênie, retidão, e liberação. Virtude, riqueza, desejo, e até liberdade final, brâmanes, são
resultados concedidos por ele. Como pode ser dito então, 'Que necessidade há do eterno?' Mas basta
disso. Que motivo há para dizer mais? Vocês são meus preceptores veneráveis, e, vocês falem bem
ou mal, não é para o meu julgamento fraco decidir." Os sacerdotes disseram a ele, "Nós o
preservamos, menino, quando você estava prestes a ser consumido pelo fogo, confiando que você
não mais louvaria os inimigos de seu pai. Nós não sabíamos quão ininteligente você era. Mas se você
não vai desistir dessa obsessão a nosso conselho, nós vamos executar os ritos que destruirão você
inevitavelmente." A essa ameaça, Prahlada respondeu, "Que criatura viva mata, ou é morta? Qual
criatura viva preserva, ou é preservada? Cada um é seu próprio destruidor ou preservador, conforme
ele segue mal ou bem10."
Ao ouvirem isso do jovem, os sacerdotes do soberano de Daitya ficaram enraivecidos, e
imediatamente recorreram a encantamentos mágicos, pelos quais uma forma feminina, engrinaldada
com chama ígnea, foi gerada. Ela era de aspecto terrível, e a terra era queimada sob o passo dela,
quando ela se aproximou de Prahlada, e o golpeou com um tridente ígneo no peito. Em vão! Pois a

10
Essa não é a doutrina da impassibilidade da alma, ensinada nos Vedas: 'Nós não reconhecemos a doutrina que supõe
que o assassino mata, ou o morto é assassinado; esta (existência espiritual) nem mata nem é morta.' O mesmo é inculcado
detalhadamente, e com grande beleza, no Bhagavat Gita: 'Armas não a ferem; fogo não a consome; água não pode
submergi-la; nem ela seca diante dos ventos;' ou, como traduzido por Schlegel, 'Non ilium penetrant tela; non ilium
comburit flamma; neque illum perfundunt aquae; nec ventus exsiccat.' Pág. 17. Nova edição. Mas na passagem do nosso
texto, tudo o que os hindus entendem de Destino, é referido. Morte ou imunidade, prosperidade ou adversidade, são nesta
vida as consequências inevitáveis do comportamento em uma existência anterior. Nenhum homem pode sofrer uma
penalidade que seus vícios em um estado de existência precedente não tenham atraído sobre si, nem ele pode evitá-la se
eles tiverem.
arma caiu, quebrada em cem pedaços, no chão. Contra o peito no qual o imperecível Hari reside o
raio seria despedaçado, muito mais tal arma seria partida em pedaços. O ser mágico, então dirigido
contra o príncipe virtuoso pelos sacerdotes perversos, se virou para eles, e, tendo-os destruído
depressa, desapareceu. Mas Prahlada, vendo-os perecer, apelou rapidamente para Krishna, o eterno,
em busca de auxílio, e disse, "Ó Janarddana! Que estás em toda parte, o criador e substância do
mundo, proteja estes brâmanes desse fogo mágico e insuportável. Como tu és Vishnu, presente em
todas as criaturas, e o protetor do mundo, assim, que esses sacerdotes sejam devolvidos à vida. Se,
enquanto devotado ao onipresente Vishnu, eu não tenho nenhum ressentimento pecaminoso contra
meus inimigos, que esses sacerdotes sejam devolvidos à vida. Se aqueles que vieram me matar,
aqueles por quem veneno foi dado a mim, o fogo que teria me queimado, os elefantes que teriam me
esmagado, e cobras que teriam me picado, foram considerados por mim como amigos; se eu tenho
sido inabalável em alma, e sou sem falha em tua visão; então, eu imploro a ti, que esses, os
sacerdotes dos Asuras, sejam restabelecidos agora à vida." Ele tendo rogado dessa maneira, os
brâmanes se levantaram imediatamente, incólumes e alegres; e, curvando-se respeitosamente a
Prahlada, eles o abençoaram, e disseram, "Príncipe excelente, que teus dias sejam muitos; tua
bravura seja irresistível; e poder e riqueza e posteridade sejam teus." Tendo falado assim, eles se
retiraram, e foram e disseram ao rei dos Daityas tudo o que tinha se passado.

CAPÍTULO 19

Quando Hiranyakasipu soube que os encantamentos poderosos dos seus sacerdotes tinham
sido derrotados, ele chamou seu filho, e exigiu dele o segredo de seu poder extraordinário.
"Prahlada", ele disse, "tu és possuidor de poderes incríveis; de onde eles são derivados? Eles são o
resultado de ritos mágicos? Ou eles têm te acompanhado desde o nascimento?" Prahlada, assim
interrogado, reverenciou os pés de seu pai, e respondeu, "Qualquer poder que eu possua, pai, não é
nem o resultado de ritos mágicos, nem é inseparável da minha natureza; ele não é mais que aquele
que é possuído por todos em cujos corações Achyuta reside. Aquele que não pensa em fazer mal a
outros, mas os considera como ele mesmo, é livre dos efeitos do pecado, já que a causa não existe;
mas aquele que inflige dor a outros, em ato, pensamento, ou fala, semeia a semente do nascimento
futuro, e o fruto que o espera depois do nascimento é dor. Eu não desejo mal a ninguém, e não faço
nem falo nenhuma ofensa; porque eu vejo Kesava em todos os seres, como em minha própria alma.
De onde sofrimento corpóreo ou mental ou dor, infligida por elementos ou pelos deuses, poderiam
afetar a mim, cujo coração é purificado completamente por ele? Ame, então, pois todas as criaturas
serão apreciadas assiduamente por todos aqueles que são sábios no conhecimento que Hari é todas as
coisas."
Quando ele tinha falado desse modo, o monarca Daitya, sua face escurecida pela fúria,
mandou seus criados lançarem seu filho do topo do palácio onde ele estava, e que tinha muitos
Yojanas de altura, para baixo sobre os topos das montanhas, onde seu corpo seria quebrado em
pedaços contra as pedras. Consequentemente os Daityas lançaram o menino para baixo, e ele caiu
apreciando Hari em seu coração, e a Terra, a protetora de todas as criaturas, o recebeu suavemente
em seu colo, assim totalmente devotado a Kesava, o protetor do mundo.
Vendo-o incólume pela queda, e com todos os ossos ilesos, Hiranyakasipu se dirigiu a
Samvara, o mais poderoso dos encantadores, e disse a ele, "Este menino perverso não foi destruído
por nós. Você, que é potente nas artes de ilusão, invente algum plano para a destruição dele."
Samvara respondeu, "Eu o destruirei; você verá, rei dos Daityas, o poder de ilusão, os mil e miríades
de artifícios que ele pode empregar." Então o ignorante Asura Samvara usou ardis sutis para a
exterminação de Prahlada de mente firme. Mas ele, com um coração tranquilo, e sem malícia em
direção a Samvara, dirigiu seus pensamentos ininterruptamente ao destruidor de Madhu; por quem o
disco excelente, o flamejante Sudarsana, foi despachado para defender o jovem; e os mil artifícios de
Samvara de má sorte foram todos anulados por aquele defensor do príncipe. O rei dos Daityas então
mandou o vento destruidor soprar sua rajada forte destruidora sobre seu filho. E, assim comandado, o
vento penetrou imediatamente no corpo dele, frio, cortante, secante, e insuportável. Sabendo que o
vento tinha entrado em seu corpo, o menino Daitya dedicou todo o seu coração ao poderoso
sustentador da terra; e Janarddana, situado no coração dele, ficou furioso, e absorveu o vento terrível,
que tinha dessa maneira se apressado para sua própria aniquilação.
Quando os esquemas de Samvara foram todos frustrados, e o vento destruidor tinha perecido,
o príncipe prudente se dirigiu para a residência de seu preceptor. Seu professor o instruía diariamente
na ciência de método de governo, como essencial para a administração de governo, e inventada por
Usanas para o benefício dos reis; e quando ele pensou que o príncipe modesto estava bem ensinado
nos princípios da ciência, ele falou para o rei que Prahlada estava totalmente familiarizado com as
regras de governo como declaradas pelo descendente de Bhrigu. Hiranyakasipu então chamou o
príncipe à presença dele, e desejou que ele repetisse o que ele tinha aprendido; como um rei devia se
comportar para com amigos ou inimigos; quais medidas ele devia adotar nos três períodos (de
progresso, retrocesso, ou estagnação); como ele devia tratar seus conselheiros, seus ministros, seus
oficiais do governo e de sua casa, seus emissários, seus súditos, aqueles de submissão duvidosa, e
seus inimigos; com quem ele devia contrair aliança; com quem se envolver em guerra; que tipo de
fortaleza ele devia construir; como tribos de floresta e montanha deviam ser subjugadas; como
queixas internas deviam ser erradicadas; tudo isso, e o que mais ele tinha estudado, o jovem foi
mandado explicar por seu pai. A isto, Prahlada, tendo se curvado afetuosamente e com reverência aos
pés do rei, tocou sua testa, e respondeu dessa maneira:
"É verdade que eu fui instruído em todos esses assuntos por meu preceptor venerável, e eu os
aprendi, mas eu não posso aprová-los em absoluto. É dito que conciliação, presentes, punição, e
semear dissensão são os meios de assegurar amigos (ou superar inimigos) 11 ; mas eu, pai - não fique
zangado - não conheço amigos nem inimigos; e onde nenhum objetivo é para ser realizado, os meios
de efetuá-lo são supérfluos. Foi inútil falar de amigo ou inimigo em Govinda que é a alma suprema,
o senhor do mundo, consistindo no mundo, e que é idêntico a todos os seres. O divino Vishnu está
em ti, pai, em mim, e em todo lugar mais; e por isso como eu posso falar de amigo ou inimigo, como
distintos de mim mesmo? É portanto desperdício de tempo cultivar tais ciências tediosas e
improdutivas, que são apenas conhecimento falso, e todas as nossas energias deveriam ser dedicadas
à aquisição de verdadeira sabedoria. A noção que ignorância é conhecimento surge, pai, da
ignorância. A criança, rei dos Asuras, não imagina que o vaga-lume é uma faísca de fogo? É dever
efetivo, aquele que não é para nossa escravidão; é conhecimento, aquele que é para nossa libertação:
todo outro dever só é bom para cansaço; todo outro conhecimento é só a inteligência de um artista.
Sabendo disso, eu considero toda aquisição semelhante como inútil. Aquilo que é realmente lucrativo
me ouça, ó monarca poderoso, assim prostrado diante de ti, proclamar. Aquele que não se importa
com domínio, aquele que não se importa com riqueza, obterá ambos seguramente em uma vida
futura. Todos os homens, príncipe ilustre, estão labutando para serem grandes; mas os destinos dos
homens, e não seus próprios esforços, são a causa de grandeza. Reinos são os presentes do destino, e
são dados ao estúpido, ao ignorante, ao covarde, e àqueles para quem a ciência de governo é
desconhecida. Portanto que aquele que deseja os bens da fortuna seja assíduo na prática de virtude.
Que aquele que espera pela libertação final aprenda a olhar para todas as coisas como iguais e as
mesmas. Deuses, homens, animais, pássaros, répteis, todos são apenas formas de um Vishnu eterno,
existindo como se fossem separados dele. Por aquele que sabe disso, todo o mundo existente, fixo ou
móvel, é para ser considerado como idêntico a ele mesmo, como procedendo igualmente de Vishnu,
assumindo uma forma universal. Quando isso é conhecido, o deus glorioso de tudo, que é sem início
ou fim, é satisfeito; e quando ele está satisfeito, há o fim da aflição."
Ao ouvir isso, Hiranyakasipu levantou-se de seu trono em fúria, e chutou seu filho no peito
com seu pé. Queimando de raiva, ele torceu as mãos dele, e exclamou, "Ó Viprachitti! Ó Rahu! Ó

11
Esses são os quatro Upayas, 'meios de sucesso', especificados no Amara-kosha.
Bali12 ! Amarrem-no com laços fortes13 , e o atirem no oceano, ou todas as regiões, os Daityas e
Danavas, se tornarão convertidos às doutrinas desse patife tolo. Repetidamente proibido por nós, ele
ainda persiste em louvar nossos inimigos. Morte é a recompensa justa do desobediente." Os Daityas,
portanto, amarraram o príncipe com laços fortes, como seu senhor tinha mandado, e o jogaram no
mar. Enquanto ele flutuava nas águas, o oceano foi convulsionado ao longo de toda a sua extensão, e
ergueu-se em ondulações imensas, ameaçando submergir a terra. Quando Hiranyakasipu observou
isso, ele mandou os Daityas lançarem pedras no mar, e as empilharem firmemente umas sobre as
outras, enterrando sob sua massa pesada aquele a quem o fogo não queimou, nem armas perfuraram,
nem serpentes morderam; que o vento forte pestilencial não pôde destruir, nem veneno nem espíritos
mágicos nem encantamentos destruíram; que caiu ileso das alturas mais elevadas; que frustrou os
elefantes das esferas: um filho de coração depravado, cuja vida era uma maldição perpétua. "Aqui",
ele gritou, "já que ele não pode morrer, que ele viva aqui por milhares de anos no fundo do oceano,
soterrado por montanhas." Consequentemente os Daityas e Danavas lançaram em Prahlada, enquanto
no grande oceano, rochas pesadas, e as empilharam em cima dele por muitas milhares de milhas.
Mas ele, ainda com mente imperturbada, oferecia louvor a Vishnu diariamente, jazendo no fundo do
mar, sob a montanha empilhada, dessa maneira. "Glória a ti, deus de olhos de loto! Glória a ti, a mais
excelente das coisas espirituais! Glória a ti, alma de todos os mundos! Glória a ti, manejador do
disco afiado! Glória ao melhor dos brâmanes; ao amigo dos brâmanes e das vacas; a Krishna, o
preservador do mundo! A Govinda haja glória. A ele que, como Brahma, cria o universo; que em sua
existência é seu preservador; haja louvor. A ti, que ao término do Kalpa tomas a forma de Rudra; a ti,
que de és triforme; haja adoração. Tu, Achyuta, és os deuses, Yakshas, demônios, santos, serpentes,
coristas e dançarinos do céu, duendes, espíritos maus, homens, animais, pássaros, insetos, répteis,
plantas, e pedras, terra, água, fogo, céu, vento, som, toque, gosto, cor, sabor, mente, intelecto, alma,
tempo, e as qualidades da natureza. Tu és todos esses, e o objeto principal deles todos. Tu és
conhecimento e ignorância, verdade e falsidade, veneno e ambrosia. Tu és a realização e
descontinuação de atos14. Tu és os atos que os Vedas ordenam. Tu és o desfrutador do resultado de
todos os atos, e os meios pelos quais eles são realizados. Tu, Vishnu, que és a alma de todos, és o
fruto de todos os atos de piedade. Tua difusão universal, indicando poder e bondade, está em mim,
em outros, em todas as criaturas, em todos os mundos. Ascetas santos meditam em ti; sacerdotes
piedosos sacrificam a ti. Somente tu, idêntico aos deuses e aos pais da humanidade, recebes
12
Daityas famosos. Viprachitti é um dos principais Danavas, ou filhos de Danu, e nomeado rei entre eles por Brahma.
Rahu era o filho de Sinhika, mais conhecido como o cabeça de dragão, ou nodo ascendente, sendo um agente principal
em eclipses. Bali era soberano dos três mundos na época da encarnação anã, e depois o monarca de Patala.
13
Com Naga pasas, 'laços-cobra;' tortuosos e enroscando-se em volta dos membros como serpentes.
14
Atos de devoção - sacrifícios, oblações, observância de regras de purificação, atos de caridade e semelhantes -
contrários ao culto ascético e contemplativo, que dispensa o ritual.
oferendas e oblações queimadas15. O universo é tua forma intelectual16; de onde procedeu tua forma
sutil, este mundo. Por isso tu és todos os elementos sutis e os seres elementares, e o princípio sutil,
que é chamado de alma, dentro deles. Consequentemente a alma suprema de todos os objetos,
distinguida como sutil ou grosseira, que é imperceptível, e que não pode ser concebida, é igualmente
uma forma de ti. Glória a ti, Purushottama; e glória àquela forma imperecível que, alma de tudo, é
outra manifestação17 do teu poder, o refúgio de todas as qualidades, existindo em todas as criaturas.
Eu saúdo a ela, a deusa suprema, que está além dos sentidos, a quem a mente, a língua, não podem
definir; que pode ser distinguida somente pela sabedoria dos verdadeiramente sábios. Om! Saudação
a Vasudeva; a ele que é o senhor eterno; ele de quem nada é distinto; ele que é distinto de tudo.
Glória ao grande espírito, de novo e de novo; a ele que é sem nome ou forma; que é para ser
conhecido unicamente por adoração; que, nas formas manifestadas em suas descidas na terra, os
moradores do céu adoram; porque eles não vêem a natureza inescrutável dele. Eu glorifico a
divindade suprema Vishnu, a testemunha universal, que, situada internamente, vê o bem e mal de
todos. Glória àquele Vishnu de quem este mundo não é distinto. Que ele, para ser sempre meditado
como o início do universo, tenha compaixão por mim. Que ele, o sustentador de todos, em quem
tudo é urdido e tecido 8 , sem decadência, imperecível, tenha compaixão por mim. Glória, repetidas
vezes, àquele ser para quem tudo retorna, de quem tudo procede; que é tudo, e em quem todas as
coisas estão; a ele o qual eu também sou; porque ele está em todo lugar; e por meio de quem todas as
coisas existem de mim. Eu sou todas as coisas; todas as coisas estão em mim, que sou eterno. Eu sou
imperecível, sempre permanente, o receptáculo do espírito do supremo. Brahma é meu nome; a alma
suprema, que existe antes de todas as coisas, que existe depois do fim de tudo.”

CAPÍTULO 20

Meditando assim em Vishnu, como idêntico ao seu próprio espírito, Prahlada tornou-se como
um com ele, e finalmente considerou-se como a divindade. Ele esqueceu completamente sua própria
individualidade, e estava consciente de nada mais do que ele ser a alma inesgotável, eterna, suprema;
e por causa da eficácia dessa convicção de identidade, o imperecível Vishnu, cuja essência é
sabedoria, tornou-se presente no coração dele, que foi purificado completamente do pecado. Assim
que, pela força de sua contemplação, Prahlada tinha se tornado uno com Vishnu, os laços com os
quais ele estava amarrado se romperam em pedaços imediatamente; o oceano foi erguido
15
Havya e Kavya, oblações de ghee ou manteiga oleada; a primeira oferecida aos deuses, a última aos Pitris
16
Mahat, o primeiro produto da natureza, intelecto.
17
A passagem precedente era endereçada ao Purusha, ou natureza espiritual, do ser supremo. Essa é endereçada à
essência material dele, sua outra energia, isto é, a Pradhana.
violentamente; e os monstros das profundezas ficaram alarmados; a terra com todas as suas florestas
e montanhas tremeu; e o príncipe, pondo de lado as pedras que os demônios tinham empilhado sobre
ele, saiu do mar. Quando ele viu o mundo exterior novamente, e contemplou terra e céu, ele se
lembrou de quem ele era, e se reconheceu como Prahlada; e novamente ele louvou Purushottama,
que é sem início ou fim; sua mente estando continuamente e invariavelmente dirigida ao objeto de
suas orações, e sua fala, pensamentos, e atos estando firmemente sob controle. "Om! Glória ao fim
de todos. A ti, senhor, que és sutil e substancial; mutável e imutável; perceptível e imperceptível;
divisível e indivisível; indefinível e definível; o condicionado a atributos, e sem atributos; residindo
em qualidades, embora elas não residam em ti; morfo e amorfo; minúsculo e vasto; visível e
invisível; horribilidade e beleza; ignorância e sabedoria; causa e efeito; existência e inexistência;
abrangendo tudo o que é bom e mau; essência de elementos perecíveis e imperecíveis; refúgio de
rudimentos pouco desenvolvidos. Ó tu que és um e muitos, Vasudeva, primeira causa de tudo; glória
a ti. Ó tu que és grande e pequeno, manifesto e escondido; que és todos os seres, e não és todos os
seres; e de quem, embora distinto da causa universal, procede o universo. A ti, Purushottama, haja
toda a glória."
Enquanto com mente concentrada em Vishnu, ele pronunciava seus louvores dessa maneira, a
divindade, vestida em mantos amarelos, apareceu de repente diante dele. Assustado à visão, com fala
vacilante Prahlada pronunciou saudações repetidas a Vishnu, e disse, "Ó tu que removes toda aflição
mundana, Kesava, seja propício para mim; santifique-me novamente, Achyuta, por tua visão." A
divindade respondeu, "Eu estou satisfeito com a dedicação fiel que tu tens mostrado por mim. Peça
de mim, Prahlada, tudo o que tu desejares." Prahlada respondeu, "Em todos os mil nascimentos pelos
quais eu possa ser condenado a passar, que a minha fé em ti, Achyuta, nunca conheça decadência.
Que paixão, tão fixa quanto aquela que mentes mundanas sentem por prazeres sensuais, sempre
inspire meu coração, sempre dedicada a ti." Bhagavan respondeu, "Tu já tens devoção por mim, e
sempre a terás. Agora escolha algum benefício, qualquer que seja teu desejo." Prahlada disse então,
"Eu tenho sido odiado, porque eu proclamei teu louvor assiduamente. Ó senhor, perdoe meu pai por
esse pecado que ele cometeu. Armas foram lançadas contra mim; eu fui lançado nas chamas; eu fui
mordido por cobras venenosas; e veneno foi misturado com minha comida; eu fui amarrado e
lançado no mar; e rochas pesadas foram amontoadas sobre mim. Mas tudo isso, e qualquer outro mal
que tenha sido forjado contra mim; qualquer maldade foi feita a mim, porque eu pus minha fé em ti;
tudo, por tua clemência, foi sofrido por mim incólume. E, portanto, livre meu pai dessa iniquidade."
A essa solicitação Vishnu respondeu, "Tudo isso se realizará para ti, por meu favor. Mas eu te dou
outro benefício: peça-o, filho do Asura." Prahlada respondeu e disse, "Todos os meus desejos, ó
senhor, foram realizados pela bênção que tu concedeste, que minha fé em ti nunca conhecerá
decadência. Riqueza, virtude, amor, são como nada; pois libertação está ao alcance daquele cuja fé é
firme em ti, base do mundo universal." Vishnu disse, "Já que teu coração está cheio inalteravelmente
de confiança em mim, tu irás, por minha bênção, obter liberdade de existência." Dizendo isso,
Vishnu desapareceu da visão dele; e Prahlada se dirigiu ao seu pai, e se curvou diante dele. Seu pai o
beijou na testa18, e o abraçou, e derramou lágrimas, e disse, "Tu vives, meu filho?" E o grande Asura
se arrependeu de sua crueldade passada, e o tratou com bondade. E Prahlada, cumprindo seus
deveres como qualquer outro jovem, continuou diligente no serviço de seu preceptor e seu pai.
Depois que seu pai foi executado por Vishnu na forma do homem-leão19, Prahlada se tornou o
soberano dos Daityas; e possuindo os esplendores de realeza consequentes de sua devoção, exerceu
domínio extenso, e foi abençoado com uma progênie numerosa. Ao término de uma autoridade que
era a recompensa de seus atos meritórios, ele foi livrado das consequências de mérito ou demérito
moral, e obteve, por meditação na divindade, isenção final de existência.
Assim, Maitreya, era o Daitya Prahlada, o adorador sábio e fiel de Vishnu, sobre quem você
desejava ouvir; e tal era seu poder milagroso. Quem escuta a história de Prahlada é purificado
imediatamente de seus pecados. As iniquidades que ele comete, de noite ou de dia, serão expiadas
por ouvir uma vez, ou ler uma vez, a história de Prahlada. A leitura atenta dessa narrativa no dia da
lua cheia, da lua nova, ou no oitavo ou décimo segundo dia da lunação 20, produzirá resultado igual à
doação de uma vaca21. Como Vishnu protegeu Prahlada em todas as calamidades às quais ele estava
exposto, assim a divindade protege aquele que ouve constantemente essa história22.

18
Literalmente, 'tendo cheirado a testa dele.' Eu tive oportunidade em outro lugar para observar essa prática: Teatro
hindu, II. 45.
19
Aqui há outro exemplo daquela referência breve a lendas populares e anteriores, que é frequente neste Purana. O
Avatara homem-leão é citado em vários dos Puranas, mas eu encontrei a história em detalhes só no Bhagavata. É dito lá
que Hiranyakasipu pergunta para seu filho por que, se Vishnu está em todo lugar, ele não é visível em um pilar no salão
onde eles estavam reunidos. Ele então se ergue, e golpeia a coluna com seu punho; no que Vishnu, em uma forma que
não é totalmente um leão nem um homem, sai dela, e um combate se segue, que termina com Hiranyakasipu sendo
rasgado em pedaços. Até mesmo esse relato, entretanto, não é em todos os detalhes igual à versão popular da história.
20
Os dias de lua cheia e nova são sagrados para todas as seitas de hindus. O oitavo e décimo segundo dias do meio mês
lunar eram considerados santos pelos Vaishnavas, como parece a partir do texto. O oitavo mantém seu caráter em um
grande grau pelo oitavo de Bhadra ser o aniversário de Krishna; mas o décimo primeiro, em trabalhos Vaishnava mais
recentes, como o Brahma Vaivartta Purana, tomou o lugar do décimo segundo, e é até mais sagrado que o oitavo.
21
Ou qualquer doação solene; a de uma vaca é considerada especialmente sagrada; mas ela implica acompanhamentos de
um caráter mais caro, ornamentos e ouro.
22
A lenda de Prahlada é inserida em detalhes no Bhagavata e Naradiya Puranas, e no Uttara Khanda do Padma. Ela é
mencionada mais brevemente no Vayu, Linga, Kurma, etc., no Moksha Dharma do Mahabharata, e no Hari Vansa.

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