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Psicologia da Religião

Teoria dualista
No homem encontram-se juntas duas substâncias totalmente diferentes entre si: res cogitans e a
res extensa. Trata-se de duas realidades que não tem nada em comum. Pode se afirmar que é o ponto de
encontro entre dois entes, ou, em termos tradicionais, entre alma e corpo. São duas realidades que não tem nada
em comum. A alma é pensamento e não vida. A sua separação do corpo não provoca morte, que é determinada
por causas fisiológicas. A alma é uma realidade inextensa, ao passo que o corpo é extenso.
Descartes entende o corpo enquanto,
[...] tudo o que pode ser limitado por alguma figura; que pode ser compreendido em qualquer lugar e
preencher um espaço de tal sorte que todo outro corpo dele seja excluído; que pode ser sentido ou pelo
tato, ou pela visão, ou pela audição, ou pelo olfato; que pode ser movido de muitas maneiras, não por si
mesmo, mas por algo de alheio pelo qual seja tocado e do qual receba a impressão. (DESCARTES, 1979,
p. 93).
Como explicar a interferência entre estas duas realidades, pois uns atos voluntários movem o
corpo, e as sensações, oriunda do mundo externo, se refletem sobre a alma, modificando-a.
Foi para enfrentar a essas dificuldades que Descartes escreveu o Tratado do homem, em uma espécie de
ousada antecipação da fisiologia moderna. Ele introduz seu pensamento imaginado que Deus tenha
formado uma estátua de terra semelhante ao nosso corpo, com os mesmos órgãos e as mesmas funções. É
uma espécie de modelo ou de hipóteses, com a qual tenta a explicação de nossa realidade biológica, com
especial atenção para a circulação do sangue, para respiração e para o movimento dos espíritos animais.
Sem abandonar a hipóteses, ele explica o calor do sangue por uma espécie de fogo sem luz que,
penetrando nas cavidades do coração contribui para conserva-lo inflado e elástico. Do coração, o sangue
passa para os pulmões, onde a respiração, introduzindo o ar, o refresca. Os vapores do sangue da cavidade
direita do coração alcançam os pulmões através da veia artéria, e caem lentamente na cavidade esquerda,
provocando o movimento do coração, do qual dependem todos os outros movimentos do organismo.
Afluindo ao cérebro, o sangue não apenas nutre a substância cerebral, mas também produz “certo vento,
muito sutil, ou muito mais uma chama muito viva e muito pura, ao que se dá o nome de ‘espírito
animais’”. As artérias que veiculam o sangue nos cérebros ramificam-se em inúmeros tecidos, que se
reúnem depois em torno de uma pequena glândula, chamada pineal, situada no centro do cérebro, que
constitui a sede da alma.(REALE, p.383, 1986)
Descartes desenvolve uma anatomia complexa para explicar o funcionamento do corpo humano
e coloca na glândula pineal o ponto de conexão entre os dois corpos, matéria e alma.
[...] escreve Descartes, “é preciso saber que, por mais que a alma esteja conjugada em todo o corpo,
entretanto há no corpo algumas partes em que ela exerce as suas funções de modo mais especifico que em
todas as outras. (...) A parte do corpo que a alma exerce imediatamente as suas funções não é,
absolutamente, o coração e nem mesmo todo o cérebro, mas somente a parte interna dele, que é certa
glândula muito pequena, situada em meio à sua substância e suspensa sobre o conduto através do qual os
espíritos das cavidades anteriores se comunicam com os espíritos das cavidades posteriores, de modo que
os seus mais leves movimentos podem mudar muito o curso dos espíritos, ao passo que, inversamente, as
mínimas mudanças no curso dos espíritos podem levar a grandes mudanças nos movimentos dessa
glândula”. [...] A glândula pineal era o órgão movido imediatamente pela alma humana. Por seu turno, ela
agia sobre os espíritos vitais, como válvula em amplificador elétrico; guiava os movimentos dos espíritos
vitais e, por seu intermédio, o movimento do corpo. (REALE, p.383-384, 1986)
Porem esta teoria deu origem a algumas dificuldades.
Ao tratar do problema das relações entre a substância pensante e a substância material, Descartes propõe
uma teoria interacionista, isto é, admite a idéia de uma ação real da mente sobre o corpo e do corpo sobre
a mente. De imediato, surge a seguinte dificuldade: como duas substâncias que apresentam naturezas
distintas poderiam interagir uma sobre a outra ou estar em uma relação direta de causalidade? Como uma
substância imaterial poderia interagir com o mundo material? (TOURINHO 2003, p. 31).
Deste dualismo distingue-se duas substancias completamente diferentes, corpo pensante e corpo
extenso. O corpo extenso, parte física-biológica não é capaz de pensar, assim temos duas substancias distinta. A
existência do res cogitans é a garantia do ato de pensar. Corpo e alma estariam unidas através da glândula
pineal, ou seja, não há como explicar esta teoria sem a metafisica.Para Carné, “Todas as teorias de orientação
dualista possuem, em princípio, uma clara inspiração de natureza metafísica. Não apenas por postularem uma
dualidade, mas por esta dualidade ser de propriedades”.
Este modelo apresentado por Descartes apresenta algumas limitações, ou seja, não dá para
conceber o homem como um ser composto de duas realidades distintas. O que existe é a pessoa humana com
suas múltiplas dimensões. O homem é um ser multidimensional, porém é um ser uno. Temos as dimensões:
material, social, racional, linguagem, vontade e religiosa, estas dimensões se manifesta na pessoa humana
porem não há que se falar em divisões, ou seja, estamos diante de um ser uno.
Teoria materialista monista
A teoria monista que começou com os filósofos materialistas da idade moderna. Parte do
principio da existência de um só ente.
A psicologia experimental, não podendo acreditar, senão no que vê e observa, considera a alma como uma
entidade mitológica criada pela fantasia infantil dos povos primitivos, e para explicar os fenômenos da
sensibilidade, e o mais que daí deriva, limita-se a examinar o organismo mesmo, tal como se nos
apresenta, não só no homem, como igualmente no resto da animalidade, tornando-se assim a psicologia
simplesmente uma questão de fisiologia. A psicologia é a fisiologia do cérebro, diz a ciência moderna.
(BRITO, p.142, 2006)
Para Faria Brito é um absurdo separar espírito e matéria, ou seja, não há dois seres e sim uma só.
A mente é apenas funções do sistema nervoso,
Ora, se o espirito é o que sente e percebe e é ao mesmo tempo capaz de agir, segue daí que o espírito é de
carne e osso, pois, só podemos sentir e agir pela carne e pelos ossos. O espírito é, pois, o organismo
mesmo, o espírito é o homem, e separar uma cousa da outra seria dispersá-la no vácuo. Como, pois,
separar a psicologia da fisiologia? Seria absurdo. (BRITO, p. 148, 2006)
A mente é o cérebro, o cérebro é uma realidade física.
Nesta mesma perspectiva temos também a teoria da identidade que afirma que os processos
mentais são idênticos a determinados processos cerebrais. Isto significa que há uma certa identidade entre os
processos mentais e determinados processos cerebrais. Os processos mentais interagem com os processos
físicos, porque os processos mentais são simplesmente processos físicos, ou melhor, casos especiais de
processos cerebrais.
Estas teorias materialistas monistas, contribuíram muito para o conhecimento do funcionamento
do cérebro humano. Porém, a mente humana vai muito além da dimensão material, ou seja, há algo a mais que a
própria física clássica não consegue explicar. Não podemos reduzir a pessoa humana apenas a um sistema
químico energético. A física quântica tem muito a nos ensinar para superarmos este dualismo e monismo na
tentativa de explicar o funcionamento da mente humana.

REFERÊNCIAS
BRITO, Farias. A BASE FÍSICA DO ESPÍRITO. Brasília-DF: Senado Federal, conselho editorial,
2006.
REALE, Giovanni. HISTORIA DA FILOSOFIA: Do humanismo a Kant. São Paulo: Paulus, 1990.
DESCARTES, R. Meditações. Tradução J. Guinsburg e Bento Prado Júnior. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
(Coleção Os Pensadores: Descartes).
CARNÉ, Pedro Henrique Passos. A TESE DUALISTA EM FILOSOFIA DA MENTE: Orientador: Oswaldo
Chateaubriand Filho. http://www.puc-
rio.br/pibic/relatorio_resumo2007/relatorios/fil/fil_pedro_henrique_passos_carne.pdf. Acessado em
13/10/2015.
SPERRY, Roger. CIÊNCIA E PRIORIDADE MORAL: uma fusão da mente, do cérebro e dos valores sociais.
Rio de Janeiro, ZAHAR EDITORES, 1986.
TOURINHO, C. D. C.: A redescoberta da consciência na filosofia da mente contemporânea: Subjetivismo,
reducionismo e a hipótese do "fechamento cognitivo". Tese de Doutorado. Departamento de Filosofia. PUC-
Rio, 2003.

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