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FACULDADE DE DIREITO
DEPARTAMENTO DE SEGURANÇA PÚBLICA
Niterói/RJ
Março/2016
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
FACULDADE DE DIREITO
DEPARTAMENTO DE SEGURANÇA PÚBLICA
Niterói/RJ
Março/2016
SUMÁRIO
1 O Campo ............................................................................................................................ 03
Bibliografia ................................................................................................................... 08
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1 O Campo
No dia 16 de março de 2016 foi realizada pesquisa de campo do Tribunal de Justiça do
Estado do Rio de Janeiro, comarca de Niterói, no prédio do Fórum Desembargador Enéas
Marzano, no Juizado Especial Criminal (JECRIM), com a finalidade de observar e descrever
aspecto do trabalho realizado por profissionais do direito dentro de um fórum de justiça,
atendendo ao enunciado de avaliação parcial da disciplina Sociologia Jurídica, ministrada ao
terceiro período do curso superior de Bacharelado em Segurança Pública da Faculdade de
Direito da Universidade Federal Fluminense.
A escolha por uma Vara de procedimento mais dinâmico, obedecendo aos objetivos da
legislação brasileira para a celeridade das ações do Judiciário, deu-se pela expectativa de
assistir a mais de uma audiência com apenas um visita, na tentativa de promover o
estranhamento dos procedimentos formais aplicados no cotidiano daquele ambiente,
produzindo efeitos diferentes conforme o procedimento adotado pelos funcionários da Justiça
do Estado do Rio de Janeiro.
Mesmo com estrutura arquitetônica moderna, com portas de vidro que espelham pátio
e jardim, provocando uma evidente separação entre o cidadão comum e o ambiente do
judiciário, o acesso ao campo se deu de forma simplificada, pois a prática da publicidade do
JECRIM, por força legal, acaba servindo às convenções dos diversos cursos de Direito da
cidade na demanda por horas curriculares de atividades complementares, criando um caminho
amplo e de alto fluxo de estudantes, possibilitando a circulação de pesquisadores nas salas de
audiências.
A porta principal ostenta placas de papel que sinalizam ENTRADA e SAÍDA, já
promovendo segregação pela possibilidade de decodificação da comunicação pela pretensa
alfabetização dos usuários do sistema judicial. Logo depois da porta, seguranças armados
orientam a passagem por detectores de metal e máquinas de raio “x” para varredura das bolsas
dos indivíduos usuários, representando forte constrangimento no comportamento daquele que
passa pela revista, revalando o perfil de desconfiança do ambiente. Um balcão identificado
por placa em material refinado com a grafia “informações” pressupões a possibilidade de
recepção e acolhimento, mas a frieza no tratamento devolve o usuário ao seu lugar de
descolamento daquele ambiente.
A fila para acesso aos elevadores que conduzem ao andar informado pela recepcionista
agrega pessoas com trajes formais, com paletós, sapatos de couro fino, mulheres usando saltos
altos e bolsas de grife, usando linguagem formal e pouco descontraída. Ao chegar ao andar
indicado não há sinais visuais claros que situem o usuário, mas com insistência acaba-se
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achando a secretaria da vara. Mais um local de tratamento frio e seco informa as salas de
audiência e as pautas do dia, expostas em mural no corredor com poucas cadeiras de espera e
pessoas que se entreolham com desconfiança e silencio, oras quebrados pela linguagem e tom
característicos, carregados de tecnicidade.
Assim, essa imposição representa essa violência simbólica conceituada por Bourdieu (2012),
pois a resposta representa essa definição de mundo social, aplicada de forma indireta por
especialista. Assim, a solução é requerida por um sistema simbólico e aplicada dentro de suas
matrizes de conhecimento.
Ambos os exemplos tratados até aqui revela a tentativa do Direito Formalista, mesmo
em procedimento primando pela oralidade, em produzir os efeitos próprios de um sistema
simbólico específico. A percepção de Bourdieu (1989), em relação a essa característica do
Direito em demandar essa autonomia absoluta da forma jurídica do mundo social, aponta o
instrumentalismo como reflexo ou utensílio em favor dos dominantes, os especialistas, ou
operadores do Direito.
O que se pode apreender do comportamento dos conciliadores observados pela
pesquisa no JECRIM no Tribunal de Justiça em Niterói é a incorporação da figura do juiz nas
audiências de conciliação. Não que represente somente um movimento de usurpação da
função máxima na audiência por deliberada intenção do conciliador. Werneck Vianna (1999)
analisa esse comportamento nas relações sociais brasileiras, identificando a judicialização das
relações após período de positivação das leis e imposição do comportamento. Os indivíduos
passam a outorgar a solução de suas lides ao protagonista do processo de harmonização
social, o juiz, que passa a significar o vigilante e garantidor de direitos e das leis.
Assim, quando o juiz não se faz presente numa audiência formal, mesmo que
preliminar, as partes imputam essa função ao conciliador, que representa a autoridade
judiciária naquela sessão. Mesmo os especialistas, advogados representando seus clientes,
demandam por essa atenção e figura representativa, realmente protagonista naquela cena.
Então, o conciliador, mesmo que não queira recepcionar a figura ou representar o personagem
do juiz, replica a violência simbólica de dominação instrumental e posicionamento
hierárquico dentro do grupo, produzindo efeitos reais da via social.
Bibliografia
ISRAËL, Liora . As encenações de uma justiça cotidiana. Revista Ética e Filosofia Política.
Juiz de Fora, 2010. Acesso em 19 Mar. 2012.