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Resumo – Civil I (1º estágio)

INTRODUÇÃO

Direito Civil1 → Conjunto de regras reguladores das relações jurídicas dos


particulares; complexo de preceitos que disciplinam os interesses privados.
Entre esses interesses particulares, estão: 1) Direitos da personalidade, 2)
Direito de família, 3) Direito das coisas e 4) Direito das obrigações.

Faz parte do direito privado por excelência, pois, além de reger as relações
dos particulares, regula com fundamento na igualdade jurídica e na
autodeterminação (autonomia privada).

o Direito público: rege as relações em que o interesse é predominantemente


público e as relações são de subordinação (uma das partes é o Estado)
o Direito privado: rege as relações de interesse predominantemente
particular e as relações são de coordenação (as partes são tidas como
iguais)
o O Direito é uma unidade monolítica. O direito objetivo é único. Essa
distinção é útil sob o ponto de vista didático, mas não se trata de
compartimentos estanques → não há absoluta separação entre as normas
de Direito Privado e as de Direito Público, pois intercomunicam-se com
certa frequência.
EX: Na proibição de construção em desacordo com as posturas municipais
(interdição de queima de matas, etc.) a interpenetração dos interesses
públicos e particulares é tão grande que parece haver o sacrifício do
individual ao social, porém ocorre de modo indireto, vantagem para o
cidadão

Fontes históricas do Direito Civil

o Direito Romano (ius civile, ius naturale, ius gentium) → fonte primordial
o Legislação portuguesa → Ordenações afonsinas, manoelinas e filipinas2
o Código Francês (1804)
o Código Alemão (1896)

Aspectos de modernização do Direito Civil

Antes, predominava o individualismo jurídico (O Direito Civil moderno se


desenvolveu ao longo do século XIX, nos planos teórico e prático, quando a
filosofia individualista exercia poderosa influência no pensamento jurídico), a
igualdade formal e a primazia da liberdade civil (pensava-se que o Estado
só precisava garantir o mínimo de ordem pública necessária para o
desenvolvimento do atributo fundamental humano: a liberdade)

1 Para Silvio Venosa: “O Direito Civil trata do conjunto de normas reguladoras das relações
jurídica dos particulares. O interesse de suas regras é eminentemente individual”. Considera
a matéria fundamental, a partir da qual afloram os outros ramos do Direito.
2 Vigoraram no Brasil até a vigência do Código Civil de 1916
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Graças a acontecimentos históricos como as transformações sociais, a


supremacia dos interesses coletivos sobre os individuais, houve a
necessidade de conciliar a liberdade individual com a justiça social

Consentiu-se, então, que o Direito não deve ser mero instrumento de


garantia dos interesses individuais, mas a primazia dos interesses gerais
também não pode significar o sacrifício dos interesses individuais → o foco
deve ser a preservação da dignidade humana, encontrando-se, para isso, um
equilíbrio entre estatismo e individualismo

Novidades no campo do Direito Civil trazidas pela CF/88 → responsabilidade


objetiva do Estado, equiparação entre homem e mulher, indenização por dano
puramente moral, etc.

Código Civil de 1916 e 2002

O CC/16 foi precedido por uma Lei de Introdução do CC (hoje Lei de


Introdução às Normas do Direito Brasileiro), um “conjunto de normas
sobre normas” que contém, em resumo:

o Princípios de aplicabilidade da lei no tempo e no espaço (arts. 1, 2, 3 e 6)


o Critérios de hermenêutica e preenchimento de lacuna (arts. 4 e 5)
o Normas de Direito Internacional Privado (arts. 7-19)

- Características do NCC

o Atualizado em face da CF/88, de novos entendimentos doutrinários e da


jurisprudência
o Tem como princípios básicos a sociabilidade, a eticidade e a
realizibilidade3
o Trata da boa-fé de forma objetiva (ligada à conduta4), inclusive na
interpretação dos negócios jurídicos, em vez da forma subjetiva (ligada à
crença)
o Preocupação social → contrasta com o individualismo do CC/16,
decorrente do liberalismo econômico
o Previsão expressa para a função social dos contratos, bem como da
propriedade
o Marcado por cláusulas gerais (abertas), de conteúdo vago → de modo a
dar maiores poderes ao juiz, definido seu alcance e conteúdo

3 Desapego a fórmulas jurídicas superadas


4 “Conduta leal e honesta, esperada de uma pessoa normal em determinadas circunstâncias”
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- Críticas ao NCC

o Desnecessário → pois o CC/16 já vinha sendo adaptado pela doutrina e


pela jurisprudência para as novas exigências
o Ir contra a tendência moderna dos microssistemas, como o Estatuto
da Criança e do Adolescente, o Código de Defesa do Consumidor, etc.,
que acompanham as novas exigências sociais mais facilmente
o Não tratou de problemas modernos → inseminação in vitro, clonagem,
embriões excedentários, união entre pessoas do mesmo sexo, contratos
eletrônicos, etc.
o “Já nasceu velho” → devido ao número de emendas em excesso, logo
após a publicação (310)
o Revogação de dispositivo mesmo antes de entrar em vigor → art. 374
(compensação de débitos fiscais)

CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO CIVIL

Com o deslocamento do Direito Constitucional para o centro do sistema


jurídico brasileiro, a Constituição passou a ocupar lugar antes reservado ao
Código Civil.

Dessa necessidade de compatibilizar o Direito Civil com as normas


constitucionais surgiu a corrente doutrinária defendendo a existência de um
Direito Civil Constitucional, cujo objetivo é permitir a releitura do Direito Civil
à luz da Constituição.

A constitucionalização do Direito Civil não se confunde com a publicização


do direito privado e tampouco se limita ao fenômeno da inserção de normas
típicas de Direito Civil no corpo da Constituição. Segundo Luís Roberto
Barroso “...a constitucionalização do direito infraconstitucional não tem como
sua principal marca a inclusão na Lei Maior de normas próprias de outros
domínios, mas, sobretudo, a reinterpretação de seus institutos sob uma
ótica constitucional”.

A chamada constitucionalização do Direito Civil deve ser tomada como


uma nova forma de interpretar a legislação ordinária que trata daqueles
temas, agora sob as balizas da Constituição. Para a majoritária doutrina
brasileira, o Direito Civil Constitucional é uma nova metodologia que defende
a necessidade de reinterpretação do Direito Civil à luz da Constituição.

A interpretação do Direito Civil vai ser feita, então, tão somente em


conformidade com a Constituição, que passa a atuar como o filtro axiológico
pelo qual deve ser lido, interpretado e aplicado o Código Civil.

As funções do Direito Civil Constitucional não se resumem à interpretação


do Direito Civil, pois através dele também se defende a aplicabilidade direta
das normas constitucionais às relações jurídicas estabelecidas entre
Resumo – Civil I (1º estágio)

particulares, mas sempre procurando eliminar o distanciamento entre o


Direito Civil e o Direito Constitucional.

Parece não haver dúvidas de que o Direito Civil Constitucional possui uma
dupla dimensão, isto é, significar o conjunto de normas de Direito Civil que se
encontram inseridas na Constituição e ao mesmo tempo representar uma
nova metodologia interpretativa, cujo escopo é assegurar que as normas de
Direito Civil sejam interpretadas e aplicadas em consonância com as
disposições constitucionais.

Para Pietro Perlingieri, essa nova metodologia (ou disciplina jurídica) se


orienta com base em 3 (três) fundamentos:

1) natureza normativa da Constituição;

2) complexidade e unicidade do ordenamento jurídico e o pluralismo


das fontes, e

3) desenvolvimento de uma renovada teoria interpretativa com fins


aplicativos

Gustavo Tepedino entende que o Direito Civil Constitucional é regido por


3 (três) princípios básicos:

1) princípio da dignidade da pessoa humana;

2) princípio da solidariedade social, e

3) princípio da igualdade ou isonomia lato sensu

Os tribunais brasileiros, cientes de sua função de promover a defesa dos


direitos fundamentais, vêm, explícita ou implicitamente, acolhendo a
metodologia do Direito Civil Constitucional, na medida em que promovem a
reinterpretação de normas de Direito Civil e a aplicação direta das
disposições constitucionais às relações estabelecidas entre particulares.

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