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ÍNDICE

INTRODUÇÃO GERAL 3

I. O CARÁTER DA BÍBLIA 4

II. ESTUDO PANORÂMICO DA BÍBLIA 10

III. QUE SIGNIFICA A PALAVRA BÍBLIA? 18

IV. COMO SE ORIGINOU A BÍBLIA? 18

V. ABREVIATURAS BÍBLICAS 19

ANTIGO TESTAMENTO ANTIGO TESTAMENTO 19

VI. COMO A BÍBLIA VEIO A SE TORNAR REALIDADE? 20

VII. TRADIÇÃO ORAL NA TRANSMISSÃO DA BÍBLIA 21

VIII. AS LÍNGUAS ORIGINAIS DA BÍBLIA 22


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IX. A TRANSMISSÃO DO TEXTO HEBRAICO 23

X. ORIGINAIS EXISTENTES 23

XII. ASPECTO LITERÁRIO DA BÍBLIA 29

XIII. OS NOMES DA BÍBLIA 30

XV. A INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA 32

XVI. A NATUREZA DA INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA 40

XVII. A FORMAÇÃO DO CÂNON BÍBLICO 42

XVIII. OS LIVROS APÓCRIFOS. 51

XIX. AS ANTIGAS TRADUÇÕES DA BÍBLIA 64

XX. DIVISÕES EM CAPÍTULOS E VERSÍCULOS 68

XXI. A BÍBLIA EM PORTUGUÊS 68

XXII. BIBLIOGRAFIA 71

INTRODUÇÃO GERAL

BIBLIOLOGIA: Doutrina das Escrituras

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Reconhecemos haver muitos e bons livros que versam sobre esta matéria; alguns
deles são ortodoxos e outros são heterodoxos; todos, porém, evidenciando o desejo,
cremos, sinceros, de seus autores, de manifestar os conhecimentos adquiridos sobre este

4
aspecto da Teologia. Alguns livros, por se destinarem a cursos avançados são demasiados
prolixos em suas exposições e outros, em alguns casos, são omissos e às vezes em ambos
casos desatualizados. Isto posto, o conteúdo de nosso curso nos compele à tentativa de
escrever esta apostila, com o propósito de incluir nela apenas o material que julgamos
indispensável aos nossos alunos. Ao mesmo tempo, reconhecemos ingrata a tarefa que
nos depara, mormente levando em consideração o limitado tempo de que dispomos para
elaborar este trabalho e as poucas fontes de consulta de que dispomos para a compilação
de tão relevante matéria. Aproveitamo-nos da oportunidade desta nota introdutória, para
recomendar ao professor desta matéria, cuidadosa pesquisa, quanto lhe for possível, para
a aplicação do ensino aqui constante, em cuja elaboração consultamos os autores
constantes da bibliografia dada abaixo, responsabilizando-nos, entretanto pelos conceitos
talvez incomuns em alguns casos.

I. O CARÁTER DA BÍBLIA1

A Bíblia e um livro singular. Trata-se de um dos livros mais antigos do mundo e,


no entanto, ainda é o bestseller mundial por excelência. É produto do mundo oriental
antigo; moldou, porém, o mundo ocidental moderno. Tiranos houve que já queimaram a
Bíblia, e os crentes a reverenciam. E o livro mais traduzido, mais citado, mais publicado e
que mais influência tem exercido em toda a história da humanidade.
Afinal, que é que constitui esse caráter inusitado da Bíblia? Como foi que ela se
originou? Quando e como assumiu sua forma atual? Que significa “inspiração” da Bíblia?
São essas as perguntas para as quais se voltará o nosso interesse neste capítulo
introdutório.
A Bíblia é uma biblioteca de 66 livros escritos por 40 autores num período de 1500
anos; não obstante, nela se desenvolve um único tema, que une todas as partes, a
redenção do homem.
O tema divide-se assim:
1. O Antigo Testamento: a preparação do Redentor.
2. Os Evangelhos: a manifestação do Redentor.
3. Os Atos: a proclamação da mensagem do Redentor.
4. As Epístolas: a explicação da obra do Redentor.
5. O Apocalipse: a consumação da obra do Redentor.

A estrutura da Bíblia

A palavra Bíblia (Livro) entrou para as línguas modernas por intermédio do


francês, passando primeiro pelo latim bíblia, com origem no grego biblos.
Originariamente era o nome que se dava à casca de um papiro do século XI a.C. Por volta
do século II d.C., os cristãos usavam a palavra para designar seus escritos sagrados.

Os dois testamentos da Bíblia

1
Introdução Bíblica – Como a Bíblia chegou até nós. Norman Geisler e Williams. Editora Vida. (1º Capítulo - O Caráter da
Bíblia).
5
A Bíblia compõe-se de duas partes principais: o Antigo Testamento e o Novo
Testamento. O Antigo Testamento foi escrito pela comunidade judaica, e por ela
preservado um milênio ou mais antes da era de Jesus. O Novo Testamento foi composto
pelos discípulos de Cristo ao longo do século d.C.
A palavra testamento, que seria mais bem traduzida por “aliança”, e tradução de
palavras hebraicas e gregas que significam “pacto” ou “acordo” celebrado entre duas
partes (“aliança”). Portanto, no caso da Bíblia, temos o contrato antigo, celebrado entre
Deus e seu povo, os judeus, e o pacto novo, celebrado entre Deus e os cristãos.
Estudiosos cristãos frisaram a unidade existente entre esses dois testamentos da
Bíblia sob o aspecto da Pessoa de Jesus Cristo, que declarou ser o tema unificador da
Bíblia. Agostinho dizia que o Novo Testamento acha-se velado no Antigo Testamento, e o
Antigo, revelado no Novo. Outros autores disseram o mesmo em outras palavras: “O
Novo Testamento está no Antigo Testamento ocultado, e o Antigo, no Novo revelado”.
Assim, Cristo se esconde no Antigo Testamento e é desvendado no Novo. Os crentes
anteriores a Cristo olhavam adiante com grande expectativa, ao passo que os crentes de
nossos dias vêem em Cristo a concretização dos planos de Deus.

As seções da Bíblia

A Bíblia divide-se comumente em oito seções, quatro do Antigo Testamento e


quatro do Novo.
LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO
A lei (Pentateuco) – 5 lvros Poesia – 5 livros
1. Gênesis 1. Jó
2. Êxodo 2. Salmos
3. Levítico 3. Provérbios
4. Números 4. Eclesiastes
5. Deuteronômio 5. O Cântico dos Cânticos
Historia – 12 livros Profetas – 17 livros
1. Josué A. Maiores B. Menores
2. Juízes
3. Rute 1. Isaías 1. Oséias
4. 1Samuel 2. Jeremias 2. Joel
5. 2Samuel 3. Lamentações 3. Amós
6. 1Reis 4. Ezequiel 4. Obadias
7. 2Reis 5. Daniel 5. Jonas
8. 1Crônicas 6. Miquéias
9. 2Crônicas 7. Naum
10. Esdras 8. Habacuque
11. Neemias 9. Sofonias
12. Ester 10. Ageu
11. Zacarias
12. Malaquias

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LIVROS DO NOVO TESTAMENTO
Evangelhos História
1. Mateus 1. Atos dos Apóstolos
2. Marcos
3. Lucas
4. 4. João
Epístolas
1. Romanos 12. Tito
2. 1Coríntios 13. Filemom
3. 2Coríntios 14. Hebreus
4. Gálatas 15. Tiago
5. Efésios 16. 1Pedro
6. Filipenses 17. 2Pedro
7. Colossenses 18. 1João
8. 1Tessalonicenses 19. 2João
9. 2Tessalonicenses 20. 3João
10. 1Timóteo 21. Judas
11. 2Timóteo
Profecia
1. Apocalipse

A divisão do Antigo Testamento em quatro seções baseia-se na disposição dos


livros por tópicos, com origem na tradução das Escrituras Sagradas para o grego. Essa
tradução, conhecida como a Versão dos septuaginta (LXX), iniciara-se no século II a.C. A
Bíblia hebraica não segue essa divisão tópica dos livros, em quatro partes. Antes,
emprega-se uma divisão de três partes, talvez baseada na posição oficial de seu autor. Os
cinco livros de Moisés, que outorgou a lei, aparecem em primeiro lugar. Seguem-se os
livros dos homens que desempenharam a função de profetas. Por fim, a terceira parte
contém livros escritos por homens que, segundo se cria, tinham o dom da profecia, sem
serem profetas oficiais. E por isso que o Antigo Testamento hebraico apresenta a estrutura
do quadro da página seguinte.
A razão dessa divisão das Escrituras hebraicas em três partes encontra-se na
história judaica. É provável que o testemunho mais antigo dessa divisão seja o prólogo ao
livro de Sira que, ou Eclesiástico, durante o século a.C. O Mishna (ensino) judaico,
Josefo, primeiro historiador judeu, e a tradição judaica posterior também deram
prosseguimento a essa divisão tríplice de suas Escrituras. O Novo Testamento faz uma
possível alusão a uma divisão em três partes do Antigo Testamento, quando Jesus disse:
“... era necessário que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés,
nos Profetas e nos Salmos” (Lc 24.44).
Lc 24.27,44: “E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicou-lhes o
que dele se achava em todas as Escrituras”. “Depois lhes disse: São estas as palavras que
vos falei, estando ainda convosco, que importava que se cumprisse tudo o que de mim
estava escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos”.

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DISPOSIÇÃO DOS LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO HEBRAICO
A lei Os profetas Os escritos
(Tora) (Neviim) (Kethuvim)
1. Gênesis A. Profetas anteriores A. Livros poéticos
2. Êxodo 1. Josué 1. Salmos
3. Levítico 2. Juízes 2. Provérbios
4. Números 3. Samuel 3. Jó
5. Deuteronômio 4. Reis B. Cinco rolos (Megilloth)
1. O Cântico dos Cânticos
B. Profetas posteriores 2. Rute
1. Isaías 3. Lamentações
2. Jeremias 4. Ester
3. Ezequiel 5. Eclesiastes
4. Os Doze C. Livros históricos
1. Daniel
2. Esdras-Neemias
3. Crônicas

A despeito do fato de o Judaísmo ter mantido uma divisão tríplice até a presente
data, a Vulgata latina, de Jerônimo, e as Bíblias posteriores a ela seguiriam o formato
mais tópico das quatro partes em que se divide a Septuaginta. Se combinarmos essa
divisão com outra, mais natural e largamente aceita, também de quatro partes, do Novo
Testamento, a Bíblia pode ser divida na estrutura geral e cristocêntrica apresentada no
quadro da página seguinte.
Ainda que não existam razões de ordem divina para dividirmos a Bíblia em oito
partes, a insistência cristã em que as Escrituras devam ser entendidas tendo Cristo por

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centro baseia-se nos ensinos do próprio Cristo. Cerca de cinco vezes no Novo
Testamento, Jesus afirmou ser ele próprio o tema do Antigo Testamento (Mt 5.17; Lc
24.27; Jo 5.39; Hb 10.7). Diante dessas declarações, é natural que analisemos essa
divisão das Escrituras, em oito partes, por tópicos, sob o aspecto de seu tema maior —
Jesus Cristo.

Antigo Testamento Fundamento da chegada de Cristo


Preparação para a chegada de Cristo
Anelo pela chegada de Cristo
Certeza da chegada de Cristo
Novo Testamento Manifestação de Cristo
Propagação de Cristo
Interpretação e aplicação de Cristo
Consumação em Cristo

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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA BÍBLIA

Introdução ao estudo da Bíblia é uma matéria que se propõe abrir ao estudante,


quanto possível, o caminho à razão de ser, ao estudo em si e a compreensão do conteúdo
da Bíblia, o Livro de Deus.
Diante das muitas correntes teológicas que vêm desde os primórdios do judaísmo e
do cristianismo atuando em meio a essas duas grandes correntes do pensamento
espiritual, em ambos casos, uma revelação direta de Deus, se fazia indispensável aos
homens, a fim de que ele pudesse ficar inescusável diante daquele com quem tem de
ajustar as contas oportunamente. Levando na devida consideração ser a Bíblia parte dessa
revelação, admitimos a seu respeito os seguintes conceitos:
1. Esta revelação era possível, posto que para Deus todas as coisas são possíveis
(Mc 10.27; Lc 1.37). Nada mais lógico do que o infinito, sábio e todo-poderoso Deus,
segundo a Sua soberana vontade, poder revelar-se por escrito ao homem, como de fato o
fez, a fim de dar-lhe a conhecer a Sua vontade e o Seu propósito.
2. Essa revelação era necessária, porque a revelação natural, embora permanente,
exuberante, multiforme e linda (Sl 19.1-6; Rm 1.19,20), não era suficiente porque não
falava a linguagem humana, nem diz nada sobre certos atributos de Deus, que o homem
necessita e deve conhecer para poder reconhecê-lo como aquele que deve ser adorado e
que o pode salvar do domínio do pecado em que vive, e deste modo restaurá-lo ao
estado primitivo de perfeita comunhão com o Supremo, misericordioso e amoroso
Criador, cuja comunhão perdeu em conseqüência do pecado (Gn 3.8; Rm 3.23).
3. Essa revelação era viável devido à misericórdia de Deus (Lm 3.22,23), seu amor
(Jo 3.16) e sua justiça (Dt 32.4), que não lhe permitiam deixar o homem entregue a
própria sorte, vitimado que fora pelo engano do inimigo (Gn 3.1-5), sem oportunidade
de se recuperar espiritualmente.
4. Essa revelação era de importância indiscutível a Deus, em face de três aspectos
preponderantes:
a) A necessidade humana de conhecer a Deus o bastante para adorá-lo nesta vida e
assim preparar-se para habitar com Ele na eternidade (Jo 4.22-24);
b) Devido à necessidade que Deus tem de nunca deixar a Si mesmo sem
testemunha para com o homem (At 14.15-17);
c) Porque ela é uma revelação permanente e eterna, tanto para abençoar ao homem
que aceitando-a viva para Deus, Sl 119.11, 105; 2Tm 3.14-16, como para
condenar aquele que desprezar a Deus e se entregar ao prazer transitório das
concupiscências (Jo 12.44-48).
Deste modo, temos na Bíblia não a palavra dos escritores que a escreveram, e sim,
a própria palavra de Deus, dada sob a inspiração do Espírito Santo (2Pe 1.19-21), que é
quem melhor conhece a Deus e a Sua soberana vontade (1 Co 2.10,11), estando por isto
mesmo na condição ideal de nos guiar a toda a verdade ao Seu respeito (Jo 14.25,26;
16.12-14). Por tanto, é a Bíblia a própria verdade (Jo 17.17), a quem devemos estar
atentos como a um farol que guia o nauta em noite escura, ao porto a que ruma com o seu
barco (2 Pe 1.19), e assim seremos eternamente felizes.

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II. Estudo Panorâmico da Bíblia 2
Transcrevo a seguir o primeiro capítulo do livro “Estudo Panorâmico da Bíblia” de
Henrietta C. Mears da editora VIDA:
“Por detrás e por baixo da Bíblia, acima e além da Bíblia, está o Deus da Bíblia”.
A Bíblia é a revelação escrita de Deus, acerca de sua vontade para os homens.
Seu tema central é a salvação mediante Jesus Cristo.
A Bíblia contém 66 livros, escrito por 40 escritores, abrangendo um período de
aproximadamente 1600 anos.
O Antigo Testamento foi escrito na maior parte em hebraico (algumas passagens
curtas em aramaico). Aproximadamente 100 anos antes da era cristã todo o Antigo
Testamento foi traduzido para o grego.
O Novo Testamento foi escrito na língua grega. Nossa Bíblia é uma tradução
dessas línguas originais.
A palavra “Bíblia” vem da palavra grega “biblos”.
A palavra “Testamento” quer dizer “aliança” ou pacto. O Antigo Testamento é a
aliança que Deus fez com o homem quanto à sua salvação, antes de Cristo vir. O Novo
Testamento é o pacto que Deus fez com o homem, quanto à sua salvação, depois de
Cristo vir.
No Antigo Testamento encontramos a aliança da lei. No Novo Testamento
encontramos a aliança da graça que veio por Jesus Cristo. Uma conduzia à outra (Gl 3.17-
25).
O Antigo Testamento começa o que o Novo completa.
O Antigo Testamento se reúne ao redor do Sinai.
O Antigo Testamento está associado com Moisés.
O Novo Testamento com Cristo (Jo 1.17).
Os autores (escritores) foram reis e príncipes, poetas e filósofos, profetas e
estadistas. Alguns eram instruídos em todo o conhecimento da sua época e outros eram
pescadores sem culturas. Alguns livros logo se tornam antiquados, mas este livro
atravessa os séculos.
A maior parte dos livros tem de ser adaptados às diferentes idades, mas tanto
velhos como jovens amam este livro.
O maior parte dos livros é regional e só interessam às pessoas em cuja língua foram
escritos, mas isto não acontece com a Bíblia. Ninguém sequer pensa que foi escrito em
línguas que hoje são mortas.
Livros do Novo Testamento
O Novo Testamento foi escrito a fim de nos revelar a Pessoa e os ensinos de Jesus
Cristo, o mediador da Nova Aliança; escreveram-nos oito homens, pelo menos, quatro
dos quais, Mateus, João, Pedro e Paulo, eram apóstolos; dois, Marcos e Lucas foram
companheiros dos apóstolos; dois, Tiago e Judas, eram irmãos de Jesus. Esses livros
foram escritos no decorrer da segunda metade do primeiro século.
O Antigo Testamento começa com Deus (Gn 1.1).
O Novo Testamento começa com Cristo (Mt 1.1).
De Adão a Abraão temos a história da raça humana.
De Abraão a Cristo temos a história da raça escolhida.
2
MEARS, Henrietta C. Estudo Panorâmico da Bíblia. Miami, Florida: Editora Vida, 1982, p. 9-20.
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De Cristo em diante temos a história da Igreja.
“O conhecimento que muitos têm da História é como um colar de pérolas sem o
cordão”, disse certo historiador. Esta declaração parece especialmente verdadeira em
relação à história bíblica. Muitas pessoas conhecem os personagens bíblicos e os
principais acontecimentos, porém não conseguem colocar os acontecimentos em sua
ordem. Aqueles que já experimentaram a sensação de aprender a colocar as personagens
em sua posição certa, quanto ao tempo e lugar, compreendem a diferença que isso faz na
apreciação da Palavra de Deus.
Apanhe as “pérolas” das Escrituras e ponha-as em ordem, no cordão do Gênesis ao
Apocalipse, de modo que a história bíblica faça sentido para você.
Antigo Testamento – Personagens Principais
Esta é uma relação dos 40 principais personagens cuja história combinada
forma a história do Antigo Testamento.
1. Deus 11. Arão 21. Samuel 31. Isaías – Profeta
2. Satanás 12. Calebe 22. Saul 32. Jeremias – Profeta
3. Adão 13. Josué 23. Davi 33. Ezequiel - Profeta
4. Noé 14. Otniel (Juiz) 24. Salomão 34. Daniel - Profeta
5. Abraão 15. Débora (Juiz) 25. Elias 35. Nabucodonosor
6. Isaque 16. Baraque (Juiz) 26. Eliseu 36. Ciro
7. Jacó 17. Gideão (Juiz) 27. Reis de Israel (19) 37. Zorobabel
8. José 18. Jefté (Juiz) 28. Josafá (Rei de Judá) 38. Esdras
9. Faraó 19. Sansão (Juiz) 29. Ezequias (Rei de Judá) 39. Neemias
10. Moisés 20. Rute 30. Josias (Rei de Judá) 40. Éster

Você verá que no estudo do primeiro livro, Gênesis, encontram-se os primeiros oito
personagens. Que página extensa da História é escrita em torno deles!
Novo Testamento – Personagens Principais
1. João Batista
2. Cristo
3. Os discípulos (12)
4. Estevão
5. Felipe
6. Paulo
7. Tiago, irmão de Jesus.
Antigo Testamento – Lugares Principais
Os doze principais lugares em torno dos quais gira a história do Antigo Testamento
são:
1. Éden 7. Sinai
2. Monte Ararate 8. Deserto
3. Babel 9. Canaã
4. Ur dos Caldeus 10. Assíria (cativeiro de Israel)
5. Canaã 11. Babilônia (cativeiro de Judá)
6. Egito (com José) 12. Canaã (Palestina – volta dos exilados)

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Se você construir a história da Bíblia em torno destes lugares, terá a história em sua
ordem cronológica.
Outra maneira de estudar a Bíblia é acompanhar a ordem dos “Grandes
Acontecimentos” nela contidos.
Antigo Testamento – Acontecimentos Principais
1. Criação – Gn 1.1-2.3
2. Queda do homem – Gn 3
3. Dilúvio – Gn 6-9
4. Babel – Gn 11.1-9
5. Chamada de Abraão – Gn 11.10-12.3
6. Descida ao Egito – Gn 46,47
7. Êxodo – Êx 7-12
8. Páscoa – Gn 12
9. Entrega da Lei – Êx 19-24
10. Peregrinação no deserto – Nm 13,14
11. Conquista da terra prometida – Js 11
12. Período de obscurantismo do povo escolhido – Juízes
13. Saul ungido rei – 1Sm 9.27; 10.1
14. Período áureo dos hebreus sob Davi e Salomão – Reino Unido – 2Sm 5.4,5; 1Rs 10.6-
8
15. Reino dividido – Israel e Judá – 1Rs 12.26-33
16. Cativeiro – 2Rs 17,25
17. Retorno – Esdras

Novo Testamento – Acontecimentos Principais


1. Primeiros anos da vida de Jesus
2. Ministério de Cristo
3. A Igreja em Jerusalém
4. A Igreja alcança os gentios
5. A Igreja em todo o mundo

Períodos Principais:
I. Período dos Patriarcas até Moisés – Gênesis
A. A linha piedosa
Acontecimentos principais:
1. Criação
2. Queda
3. Criação
4. Queda

B. A família escolhida
Acontecimentos principais:
1. Chamada de Abraão
2. Descida ao Egito – escravidão

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II. Período de Grandes Líderes – de Moisés até Saul – Êxodo a Samuel
A. Saída do Egito
B. Peregrinação no deserto
C. Conquista de Canaã
D. Governo dos juízes

III. Períodos dos Reis – de Saul aos cativeiros – Samuel, Reis, Crônicas, Livros
Proféticos
A. O Reino Unido B. O Reino Dividido
1. Saul 1. Judá
2. Davi 2. Israel

IV. Período dos Governadores Estrangeiros – dos cativeiros até Cristo – Esdras,
Neemias, Éster, Profecias de Daniel e Ezequiel.
A. Cativeiro de Israel
B. Cativeiro de Judá
V. Cristo – Os Evangelhos
VI. A Igreja – Atos e Epístolas
A. Em Jerusalém
B. Alcançando os gentios
C. A todo o mundo
Lembre-se de que na Palavra de Deus o fundamento do Cristianismo se firma na
revelação do Deus único e verdadeiro. Deus escolheu um povo (os filhos de Israel) a fim
de tornar conhecida a sua vontade e preservar um registro de si mesmo.
A Bíblia nos fala da origem do pecado e como essa maldição separou o homem de
Deus. Descobrimos que era absolutamente impossível à lei levar ao homem a salvação de
que ele precisa, visto como pelas obras da lei nenhum homem será justificado porque
todos pecaram (veja Rm 3.20,23). Daí a promessa de um Salvador, Aquele que veio
buscar e salvar o que se havia perdido e dar a sua vida em resgate de muitos (Lc 19.10;
Mt 20.28). Vemos que através dos séculos um propósito é evidente – o de preparar o
caminho para a vinda do Redentor (Goel) do mundo.
Não há nenhum caminho fácil para o conhecimento da Bíblia. O Espírito de Deus
nos guiará a toda verdade, sem dúvida, mas o mandamento de Deus é que procuremos
apresentar-nos diante de Deus aprovados como obreiros que não têm de que se
envergonhar (2Tm 2.15).
Você precisa ter um propósito na leitura da Bíblia e talvez lhe dispense tão pouca
atenção porque há tão pouco propósito na leitura. Precisamos buscar a Bíblia com um
objetivo definido, sabendo o que desejamos alcançar.
Muitos dizem: “A Bíblia é muito grande. Não sei onde começar e nem sei que rumo
tomar”. Muitas vezes isto é dito com sinceridade. E é verdade que, se não seguirmos
algum método, certamente deixaremos de alcançar os melhores resultado, ainda que
gastemos muito tempo nesse Livro.
Campbell Morgan certa vez declarou: “A Bíblia pode ser lida do púlpito, desde o
primeiro capítulo do Gênesis ao último do Apocalipse, em 78 horas”. Um advogado o
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desafiou a provar isso. Morgan disse-lhe que experimentasse antes de desafia-lo. O
advogado foi casa e leu a Bíblia em menos de 80 horas.
Você quer ler a Bíblia do princípio ao fim? Dedique 80 horas à leitura da Bíblia.
Divida o tempo. Quanto tempo você pode despender por dia? Quantos dias por semana?
Esta é uma sugestão bastante prática e deve ser aproveitada até pelo mais ocupados.
Todos somos muito ocupados, mas precisamos tomar tempo para a leitura da Bíblia. Se
quisermos conhecer a Bíblia, é necessário que nos disponhamos a gastar tempo.
Precisamos organizar a nossa vida de modo que sobre tempo. A não ser que o façamos,
nunca chegaremos a um conhecimento de que realmente precisamos. A Bíblia revela a
vontade de Deus de modo a levar o homem a conhecê-la. Cada livro tem um ensino
direto. Descobrir qual é este ensino será o nosso propósito.
A Bíblia, conquanto seja uma biblioteca, é também “o Livro”. É uma história, uma
grandiosa história que avança do princípio ao fim. Aqui está algo fenomenal na literatura.
Suponhamos, por exemplo, que você fosse abranger os grandes campos de conhecimento,
tais como direito, história, filosofia, ética e profecia, e você quisesse juntar todos esses
assuntos e reuni-los num livro. Primeiro, que nome daria ao livro? Depois, que unidade
poderia esperar dessa miscelânea de assuntos? Uma infinidade e variedade de temas e
estilos, como encontramos na Bíblia, reunidos não através de algumas gerações, mas
através de séculos, torna a possibilidade de qualquer unidade incrivelmente pequena.
Nenhum editor se arrisca a publicar um livro assim, e se fizesse, ninguém o compraria
para ler. Entretanto, isso é que encontramos na Bíblia.

Fatos Interessantes Sobre a Bíblia


LEI nos livros de Moisés
HISTÓRIA em Samuel, Reis, Crônicas, e outros livros.
FILOSOFIA em Jó e Eclesiastes
POESIA em Salmos e Cantares de Salomão
PROFECIA em Isaías, Ezequiel, Jeremias e os profetas menores
DOUTRINA nas Epístolas
REVELAÇÃO no Apocalipse e Daniel

Lembre-se de que tudo isso foi escrito por 40 homens diferentes, num período de
aproximadamente 1600 anos. Foi reunido e encadernado e se chama “o Livro”. Podemos
começar no Gênesis e ler “o Livro” até o fim. Não há contradição. Podemos passar tão
suavemente de um estilo de literatura para outro, como se estivéssemos lendo uma
história escrita por uma única pessoa, e realmente temos nela uma história produzida por
uma só pessoa.
Apesar de divina, ela é humana. O pensamento é divino, a revelação é divina, mas
a expressão da comunicação é humana. “Homens falaram da parte de Deus [elemento
humano] movidos pelo Espírito Santo [elemento divino]” (2 Pedro 1:21).
Temos, pois, aqui um livro diferente de todos os demais. O Livro, uma revelação
divina, uma revelação progressiva, comunicada através de homens, movimenta-se
suavemente do princípio até o seu grandioso final. Lá no Gênesis temos os princípios, no
Apocalipse temos os fins, e do Êxodo a Judas vemos como Deus realizou seu propósito.
Não podemos dispensar nenhuma de suas partes.
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A história bíblica leva-nos de volta ao passado desconhecido da eternidade e suas
profecias conduzem-nos ao futuro, que de outro modo nos seria desconhecido.
O Antigo Testamento é o alicerce; o Novo Testamento é a superestrutura. O
alicerce é inútil se não se construir sobre ele. Um edifício é impossível, a não ser que haja
um fundamento. Assim, o Antigo e o Novo Testamento são essenciais um ao outro.
“O Novo está contido no Antigo”.
“O Antigo está explicado no Novo”.
“O Novo está latente no Antigo”.
“O Antigo está patente no Novo”.
O Antigo e o Novo testamentos constituem uma biblioteca divina, uma unidade
sublime, com origens no passado e assuntos do futuro, com processos entre os dois,
ligando duas eternidades.
Um Livro, uma História, um Relato.
A Bíblia é um livro, uma história, um relato, a história de Deus. Por trás de 10.000
acontecimentos está Deus, o construtor da História, o autor dos séculos. Tendo a
eternidade por limite de um e de outro lado, e o tempo no meio, o Gênesis marcando as
origens e o Apocalipse o término, entre um e outro Deus está operando. Você pode descer
aos mínimos detalhes em qualquer parte e verá que há um grande propósito
desenvolvendo-se através dos tempos — o desígnio eterno do Deus Todo-poderoso de
redimir um mundo destruído e arruinado.
A Bíblia é um livro e você não pode tomar textos isolados e esperar compreender a
magnificência da revelação de Deus. Precisa vê-lo no seu todo. Deus fez tudo para dar
uma revelação progressiva e devemos esforçar-nos por lê-lo do princípio ao fim. Não
pense que a leitura de alguns trechos pode tomar o lugar de um estudo profundo e
continuado da Bíblia. Não se lê nenhum livro assim, muito menos a Bíblia.
Outro modo de estudar a Bíblia é por grupos — lei, história, poesia, profetas
maiores e menores, Evangelhos, Atos, Epístolas e Apocalipse. Aqui novamente
encontramos grande unidade porque “no rolo do livro está escrito a meu respeito” (Salmo
40:7; Hebreus 10:7), diz Cristo. Tudo aponta para o Rei!
Cada livro tem uma mensagem, e devemos esforçar-nos por descobrir qual é ela.
Leia até que descubra a mensagem do livro. Por exemplo, em João é fácil descobrir o
propósito. Está mencionado em João 20:31. Nem sempre aparece tão claro, mas a
verdade pode ser achada.
Num sentido devemos tratar a Bíblia como qualquer outro livro, mas há outro
sentido em que não devemos fazê-lo. Quando apanhamos um livro da biblioteca, nunca o
trataríamos como à Bíblia. Nunca pensaríamos em ler só um parágrafo, tomando uns dez
minutos, lendo um pouquinho à noite e então lendo um pouquinho de manhã, desse modo
gastando semanas, talvez meses, em ler o livro todo. Agindo assim, não poderíamos
manter-nos interessados em qualquer história. Tome uma história de amor, por exemplo.
Naturalmente começaríamos no princípio e leríamos até o fim, a não ser que fôssemos ao
fim para ver como a história termina.

16
Leia um Livro por Semana
Devemos encarar os livros da Bíblia como completos em si mesmos, todavia não
podemos deixar de lembrar que eles têm relação vital com o que vem antes e o que vem
depois. Devemos lê-los um de cada vez. Leia um livro por semana. Não pense que isso é
impossível, porque não o é. Quanto tempo você passa lendo, em 24 horas? Quanto tempo
lendo jornais e revistas? Quanto tempo lendo livros de ficção e outros? Quanto tempo
passa vendo televisão? Os livros mais longos da Bíblia não tomam mais tempo do que
aquele que alguns de vocês gastam diariamente nessas coisas.
Podemos levar algumas horas para ler com cuidado alguns dos livros maiores do
Antigo Testamento, como Gênesis, Êxodo, Deuteronômio e Isaias, e se você achar que
isso é muito, divida-os em sete partes iguais, mas faça um plano de leitura. Não deixe
decorrer muito tempo entre a leitura das diferentes partes para não perder a impressão do
todo. Não espere conhecer o conteúdo de qualquer livro da primeira vez que o ler.
Ao andar pelos corredores de uma galeria de arte e ver a exposição de quadros
ninguém pode dizer que já conhece a galeria. Você viu alguns quadros na parede, todavia
não pode dizer que os conhece. E preciso demorar em frente de um quadro e estudá-lo.

Mais Fatos Interessantes Sobre a Bíblia


Deus, homem, pecado, redenção, justificação, santificação. Em duas palavras —
graça e glória. Em uma palavra — Jesus.
Cristo cita 22 livros do Antigo Testamento.
Em Mateus há 19 citações do Antigo Testamento.
Em Marcos, 15.
Em Lucas, 25.
Em João, 11.
Em Hebreus, 85 (citações e alusões).
No Apocalipse, 245.
“Cristo cita exatamente as passagens que os críticos da Bíblia mais evitam — o
dilúvio, Ló, o maná, a serpente de bronze e Jonas”, dizia D. L. Moody.
Número de versículos — 31.102
Capitulo mais longo — Salmo 119
Capitulo mais curto — Salmo 117
Versículo mais longo — Ester 8.9
Versículo mais curto — João 11.35
Livro mais longo do Antigo Testamento — Salmos
Livro mais longo do Novo Testamento — Lucas
É curioso que Esdras 4.2 contém todas as letras do alfabeto.

CRISTO, A PALAVRA VIVA

O Antigo Testamento é o relato de uma nação (a nação hebraica). O Novo


Testamento é o relato de um Homem (o Filho do homem). A nação foi estabelecida e
alimentada por Deus com o fim de trazer o Homem ao mundo (Gênesis 12.1-3).
Deus mesmo se fez homem para que saibamos o que pensar quando pensamos em
Deus (João 1.14; 14.9). Sua aparição na terra é o acontecimento central de toda a
17
História. O Antigo Testamento prepara o terreno para isso. O Novo Testamento o
descreve.
Como homem, Cristo viveu a vida mais perfeita que alguém já viveu. Foi bondoso,
terno, amável, paciente e compassivo. Ele amava as pessoas. Realizou milagres
maravilhosos para alimentar os famintos. As multidões cansadas, sofredoras e
angustiadas vinham a ele e ele lhes dava descanso (Mateus 11.28-30). João disse que se
todos os seus atos de bondade tivessem sido registrados, o mundo inteiro não poderia
conter os livros (João 21.25).
Depois, ele morreu — para tirar o pecado do mundo, e tornar-se o Salvador dos
homens.
Afinal, ressuscitou dos mortos. Está vivo hoje. Não é simplesmente um
personagem histórico, mas uma Pessoa viva — o fato mais importante da História e a
maior força no mundo hoje. E ele promete a vida eterna a todos os que vêm a ele.
A Bíblia toda gira em torno da história de Cristo e da sua promessa de vida eterna
aos homens. Foi escrita somente para que creiamos e entendamos, conheçamos, amemos
e sigamos a Cristo.
A Bíblia — A Palavra de Deus Escrita
Aceite que a Bíblia é exatamente o que parece ser, independente de qualquer teoria
da inspiração, ou de qualquer teoria de como os livros da Bíblia chegaram à sua forma
atual, ou de quanto os textos possam ter sofrido passando pelas mãos dos redatores e
copistas; ou o que é histórico e o que possa ser poético. Aceite os livros como os temos na
Bíblia, como unidades, e estude-os a fim de conhecer o seu conteúdo. Você verá que há
uma unidade de pensamento indicando que uma Mente única inspirou a escrita de todos
os livros; que a Bíblia revela a marca do seu Autor; que ela é em todo sentido a Palavra
de Deus.

III. QUE SIGNIFICA A PALAVRA BÍBLIA?


A palavra Bíblia (βίβλια) é o plural de BIBLION (βιβλίον), e significa LIVROS.
Vem de uma raiz grega que originalmente significava uma planta aquática, própria de
lugares quentes, mais propriamente do Egito, que crescia até cerca de quatro metros de
altura, de cuja casca os antigos formavam lâminas sobre a qual escreviam, antes de haver
o papel, A esta planta dava-se o nome de papiro, em grego βίβλος, deste modo, veio a ser
denominado de BIBLOS qualquer lâmina feita com a casca do papiro e, portanto,
também livro, independente de sua espécie. É interessante notar-se que a primeira palavra
do Novo Testamento é precisamente BIBLOS (βίβλος) em grego, e LIVRO em
português, Mt 1.1.

IV. COMO SE ORIGINOU A BÍBLIA?


Somos dos que crêem que a Bíblia se originou na própria mente autônoma de
Deus, que, por soberana vontade, escolheu homens para escrevê-la: Ex 3.10; 4.12; 17.14;
34.27; Jr 1.5-9; Gl 1.15-17, etc. Daí estar escrito: “Nenhuma profecia da Escritura
provém de particular elucidação; porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por
vontade humana, entretanto, homens falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito
Santo” (2Pe 1.20,21); isto porque só o Espírito de Deus sabe as coisas de Deus (1Co
2.11,12). Eis porque está escrito por Paulo: “Toda Escritura é inspirada por Deus e útil
18
para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que
o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2Tm
3.16).
V. ABREVIATURAS BÍBLICAS
As abreviaturas dos livros consistem de duas letras sem ponto abreviativo. Procure
memorizá-las de vez.
ANTIGO TESTAMENTO ANTIGO TESTAMENTO
LIVRO Abrev. LIVRO Abrev.
Gênesis Gn Eclesiastes Ec
Êxodo Êx Cantares Ct
Levítico Lv Isaias Is
Números Nm Jeremias Jr
Deuteronômio Dt Lamentações de Jr Lm
Josué Js Ezequial Ez
Juizes Jz Daniel Dn
Rute Rt Oséias Os
1 Samuel 1Sm Joel Jl
2 Samuel 2Sm Amós Am
1 Reis 1Rs Obadias Ob
2 Reis 2Rs Jonas Jn
1 Crônicas 1Cr Miquéis Mq
2 Crônicas 2Cr Naum Na
Esdras Ed Habacuque Hc
Neemias Ne Sofonias Sf
Ester Et Ageu Ag
Jó Jó Zacarias Zc
Salmos Sl Malaquias Ml
Provérbios Pv
NOVO TESTAMENTO
LIVRO Abrev. LIVRO Abrev.
Mateus Mt Atos At
Marcos Mc Romanos Rm
Lucas Lc 1 Coríntios 1Co
João Jo 2 Coríntios 2Co
Gálatas Gl Hebreus Hb
Efésios Ef Tiago Tg
Filipenses Fp 1 Pedro 1Pe
Colossenses Cl 2 Pedro 2Pe
1 Tessalonicenses 1Ts 1 João 1Jo
2 Tessalonicenses 2Ts 2 João 2Jo
1 Timóteo 1Tm 3 João 3Jo
2 Timóteo 2Tm Judas Jd
Tito Tt Apocalipse Ap
Filemom Fm
Ex.: Ap 12.1-5; Ez 37.24-28,30.

19
VI. COMO A BÍBLIA VEIO A SE TORNAR REALIDADE?
Cremos que houve um tempo quando não havia uma só palavra escrita com o
sentido daquilo que hoje temos exarado na Bíblia como a Revelação do propósito divino
ao homem (Jo 5.39). Tudo que havia era o grande livro da natureza, a dar testemunho
implícito e visual da existência de Deus (Rm 1.18-20), até o momento quando Deus
determinou a Moisés que escrevesse (Ex 17.14; 24.4; 34.27). Cremos que foi então que
Deus revelou a Moisés o que encontramos descrito em todo o capítulo primeiro, até o
capítulo dois, versos um a sete de Gênesis, que passaremos a considerar na devida ordem.
1. A CRIAÇÃO ORIGINAL (Gn 1.1). Possivelmente, estão compreendidos neste
texto de tão poucas palavras, em que Moisés resume toda a história da criação original, os
milhões de anos geológicos de que nos fala a ciência. Deduz-se de Ezequiel 28.11-19 que o
mundo original era um mundo angelical, governado por Lúcifer, tendo por sede de seu
governo, um lugar denominado Éden, cuja descrição profética não corresponde com o
homônimo constante de Gênesis 2.8,9; e, portanto, cremos haver sido outro anterior a este,
que por sua natureza foi criado por Deus para habitação do homem e não de anjos. De
acordo com a descrição de Ezequiel, corroborada pela de Isaías 14.5-20, influenciado pelo
esplendor de sua grandeza, Lúcifer deixou-se vencer pelo orgulho e pela exaltação e
pereceu, causando tão grande comoção a sua queda, que deu lugar a terra perder sua forma
original, e ficar transformada num caos (Gn 1.1,2), em contrário ao propósito de Deus (Is
45.18).
2. COMO MOISÉS VEIO A SABER DESSES FATOS?. Só mediante a uma
revelação direta de Deus (Ex 3.14), pelo Espírito Santo (1Co 2.10,11; 2Pe 1.20,21), podia
dar-lhe a possibilidade de tal conhecimento. Talvez nos seja perguntado: POR QUE
MOISÉS NÃO DESCREVEU A CRIAÇÃO ORIGINAL E OS MOTIVOS QUE A
LEVARAM AO CAOS? Cremos que Moisés foi enfático ao afirmar: “As coisas encobertas
pertencem ao Senhor nosso Deus; porém as reveladas nos pertencem a nós e a nossos
filhos para sempre...” (Dt 29.29). Cremos que se houvesse qualquer coisa na criação
original de interesse direto e proveitoso ao nosso conhecimento, Deus a teria revelado a
Moisés, e determinado que ele a deixasse escrita para nós, como deixou aquelas constantes
de Gn 1.2 a 50.1-26, etc.
Uma coisa é certa, e esta é, que o verbo hebraico BARÁ, no tempo perfeito, como
usado por Moisés em Gênesis primeiro, só é encontrado duas vezes em toda a Bíblia,
estas estão em Gn 1.1, quando trata da criação original e em Gn 1.21, quando se refere à
criação da vida animal. O referido verbo significa criar algo daquilo inexistente, a saber,
chamar à existência algo inexistente, para cuja confecção não existe matéria prima de que
lançar mãos para fazê-lo. Diferente disto, temos no verso nove de Gn 1, quando Deus
determinou: Ajuntem-se as águas debaixo dos céus num lugar, e apareça a porção seca; e
no verso 11, volta a determinar: “Produza a terra árvores...”, deixando transparecer que a
terra original estava oculta em meio as águas, com o que Pedro está de acordo (2Pe 3.5;
Gn 2.5,9), deixa transparecer que as sementes já estavam na terra, porque se diz que dela
brotou e não que nasceu as plantas e árvores. Também quando Gn 2.7 fala-nos da
aparição do homem, Moisés usou o verbo IASSAR, ao invés de BARÁ, porque então, já
havia a matéria prima, a substância de que lançar mãos para fazer o homem que Deus se
propusera fazer (Gn 1.26,27).

20
Portanto, cremos que todo o conteúdo de Gn 1.1 a 2.1-7, Moisés recebeu por direta
revelação de Deus mediante a inspiração do Espírito Santo, no momento em que lhe
determinou que escrevesse (Ex 17.14; 24.4). Cremos que determinando-lhe que
escrevesse, Deus lhe transmitiu pelo Espírito Santo, tudo o que deveria chegar ao nosso
conhecimento. E, sabemos haver sido Moisés um homem cheio do Espírito Santo (Nm
11.16,17,25).

VII. TRADIÇÃO ORAL NA TRANSMISSÃO DA BÍBLIA


Adão, ao ser formado por Deus, foi criado homem perfeito, inteligente e sábio (Gn
2.7,8,19,20,22,23). Portanto, cremos que desde então, começou a se formar uma tradição
oral dos eventos principais, indispensáveis a futuramente serem escritos sob a inspiração
divina, a fim de se tornarem base de fé em Deus e em seus feitos miraculosos em favor e
por amor ao homem. Cremos que nesta acepção, vem em nosso socorro as genealogias
constantes de Gn 1-32; 10.21-30; 11.10-32; 21.1-7; 25.19-26; 29.31-35; 46.1-26; Ex 1.1-
7; 2.1-10, que, devidamente estudadas, nos demonstram ter havido uma corrente contínua
de homem piedosos, que certamente transmitiram de geração a geração, os fatos
ocorridos anteriormente, até chegarem, como se encontram em Gênesis, ao conhecimento
de Moisés.
Diz-nos o Dr. John Mein: “Deus fez de homens livros” antes de dar a palavra
escrita. Adão trouxe a história da criação através de 930 anos e, sem dúvida, contou-a,
assim como a sua queda, a Lameque, pai de Noé, de quem foi contemporâneo por 56
anos. Lameque, por sua vez, foi contemporâneo de Sem, filho de Noé, por mais de 90
anos...Noé foi contemporâneo de sete gerações antediluvianas e de onze pós-diluvianas,
assim vivendo durante 58 anos da curta vida do Patriarca Abraão, e morreu 17 anos antes
de sua saída para a terra da promissão. Não nos é difícil compreender como ele ouvisse
de seus antepassados as grandezas de Deus, e por sua vez narrasse a sua descendência
(vide Gn 18.17-19). Podemos imaginar Abraão historiando os fatos ao seu netinho Jacó
que tinha 14 anos quando o “Pai dos fiéis faleceu”. 3
Árvore genealógica de Abraão a Moisés: Abraão – Jacó – Coate – Anrão – Moisés.
Talvez alguém atribua que ocorrendo a hipótese aventada na citação do Dr. Mein,
deixou de haver a inspiração. Nós cremos o contrário, e temos o testemunho da própria
Bíblia em nosso favor. Ao escrever os seus livros a Teófilo, Lucas afirma o que se segue
sobre o material de que fez uso para escrever: “Visto que muitos houve que
empreenderam uma narração coordenada dos fatos que entre nós se realizaram conforme
nos transmitiram os que desde o princípio foram deles testemunhas oculares, e
MINISTROS da palavra, igualmente a mim me pareceu bem, depois de acurada
investigação de tudo desde sua origem, dar-te por escrito, excelentíssimo Teófilo, uma
exposição em ordem, para que tenhas plena certeza das verdades em que fostes instruído”
(Lc 1.1-4).
Observam-se da citação de Lucas os seguintes fatos:
1. Muitos houve que empreenderam uma narração coordenada dos fatos.
Entendemos desta afirmativa do médico escritor, que não foram apenas quatro e sim
outros houve que se propuseram escrever os Evangelhos, o que provaremos quando

3
MEIN, John. A Bíblia e como chegou até nós. 3ª ed. Rio de Janeiro. Editora JUERP, 1977, p. 13,14.
21
aludirmos aos livros apócrifos. Deus, porém, só inspirou aos quatro, cujos livros estão
desde o primeiro século de nossa era, constantes do cânon do Novo Testamento.
2. Conforme nos transmitiram os que desde o princípio foram deles testemunhas
oculares, e ministros da palavra; certamente, nesta expressão, Lucas aos apóstolos que
conhecera e com quem privara, aos quais foi prometido que o Espírito Santo os guiaria à
toda a verdade e os faria lembrar aquilo que Jesus lhes ensinara (Jo 14.25,26; 16.12-14).
3. “Depois de acurada investigação desde a sua origem”. De fato, é Lucas o único
evangelista que narra os fatos desde a sua origem na terra, conforme todo o primeiro e
segundo capítulos de seu Evangelho. Isto posto, ao aprovar a inclusão dos escritos de
Lucas no cânon sagrado, Deus, pela Igreja Primitiva, sancionou como inspirados os
mesmos, mesmo quando ele afirma que obteve dados sobre o que escreveu mediante
acurada investigação oral, recebida através daqueles que foram testemunhas oculares dos
fatos que descreveu.
O mesmo pode ter ocorrido com os dados constantes de Gn 2.7 a Ex 2, com
respeito a Moisés, sem nenhum demérito quanto à inspiração deste maravilhoso replicário
de princípios, que desconhece rival em toda a literatura em toda a literatura universal – O
Livro de Gênesis.

VIII. AS LÍNGUAS ORIGINAIS DA BÍBLIA


Três foram as línguas usadas na escrita dos originais da Bíblia: o hebraico, o
aramaico e o grego koinê. Sendo as duas primeiras usadas na escrita do Velho Testamento
e a terceira na escrita do Novo Testamento.
De acordo com as maiores autoridades no assunto, apenas os textos constantes de
Ed 4.8-6.18; 7.12-26; Jr 10.11 e Dn 2.4-7.28, foram escritos em aramaico, sendo todo o
restante do conteúdo do Velho Testamento escrito em hebraico.
Embora exista uma tradição muita antiga que afirma haver Mateus escrito o seu
Evangelho em aramaico ou hebraico, perdura a teoria de que todos os livros do Novo
Testamento foram escritos em grego koinê, língua que dominava a civilização universal
já há 300 anos e continuou dominando-a por mais outros 300 anos após a existência do
cristianismo na terra. E cremos, foi este utilíssimo veículo de comunicação universal, que
possibilitou a propagação do Evangelho de modo universal, já no primeiro século (Cl 1.3-
8, 21,23), pois, tal era domínio do grego koinê sobre o mundo civilizado então, que a
própria Epístola de Paulo aos Romanos, foi escrita nesta língua, quando a própria
Epístola de Paulo aos Romanos, foi escrita nesta língua, quando é notório que em Roma
era falado oficialmente o latim.
Quanto ao período que foi gasto em se escrever os livros constantes da Bíblia, não
há uniformidade entre aqueles que se consideram autoridades sobre este assunto. Alguns
teóricos crêem que os 39 livros do Velho Testamento foram escritos num período de
1.600 anos, enquanto outros atribuem haver sido apenas 1.400 anos, por cerca de mais ou
menos 30 escritores por Deus usados para escrever as Sagradas Escrituras. No entanto,
temos 39 livros constantes do Velho Testamento, alguns deles, de fato, desconhece-se
quem os escreveu.
Dentre os escritores que escreveram os livros do Velho Testamento, podemos citar
com segurança, os seguintes escritores: Moisés (Ex 34.27,28; Dt 31.24,26), Samuel,
Natan, Gad (1Cr 29.29), Aías, Ido (2Cr 9.29), Semaías (2Cr 12.15), Jeú (2Cr 20.34),
22
Isaías (2Cr 26.22; 32.32), Esdras, Davi, Filhos de Coré, Asáfe, Salomão, Jeremias,
Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque,
Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias, se de fato Esdras e os profetas escreveram os
livros que portam os seus nomes. Podemos, portanto, afirmar que 29 escritores
conhecidos participaram da escrita dos livros do Velho Testamento. Persistindo, porém,
os seguintes livros, cujos escritores são desconhecidos: Josué, Juízes, Rute, Jó, Ester e
Neemias.

IX. A TRANSMISSÃO DO TEXTO HEBRAICO


O pergaminho, preparado com peles de animais domésticos, foi o material mais
usado na escrita dos livros do Velho Testamento. Talvez devido a sua durabilidade, ele foi
preferido pelos judeus, mesmo no período greco-romano, quando o papiro era mais
abundante e até mais aceitável para a escrita. A escrita era feita a mão, e, particularmente
era feita sem divisão entre as palavras e frases. Exemplo:
NOPRINCÍPIOCRIOUDEUSOSCÉUSEATERRA. Que saibamos, até o ano 1488 a.D.,
quando a primeira Bíblia em hebraico foi impressa em Socino, Itália, cada cópia do Velho
Testamento em hebraico era copiada a mão. Havia, porém, grande escrúpulo por parte dos
copistas a que davam nome de escribas, que evitavam qualquer acréscimo ou diminuição
do texto sagrado, sendo tradição que sabiam de cor, quantas letras havia em cada livro e
bem assim de quantas palavras se compunham os mesmos, e quando alguma cópia
aparecia com qualquer defeito, a saber com uma palavra a mais ou menos, era
imediatamente incinerada, a fim de evitar falsificação.

X. ORIGINAIS EXISTENTES
Onde estão os manuscritos originais dos livros da Bíblia? Cremos poder afirmar
que, felizmente, não há uma só cópia de qualquer dos 66 livros de que compõe a Bíblia, a
saber, daqueles que foram originalmente escritos pelos próprios escritores sagrados, o que
temos atualmente, e podemos até afirmar em profusão, são cópias daqueles originais.
Mas, porque não existem originais de quaisquer dos livros? Cremos ser possível
responder a esta pergunta de modo duplo: a) Com a própria Bíblia, mediante a história
das vidas de reis ímpios tanto de Israel quanto de Judá; homens como Jeroboão, filho de
Nebate, que renunciou voluntária e conscientemente o culto de Jeová e levou o reino de
Israel à idolatria (1Rs 12.25-33; 2Rs 11.13-16). Acabe e sua mulher Jezabel (1Rs 16.29-
33; 21.25,26. Acaz (2Rs 16.1-18). Manassés (2Rs 21.1-9). Jeoaquim (Jr 36.20-23), a
destruição de Jerusalém e do Templo sagrado por Nabucodonosor (2Cr 36.17-21) e
depois por Tito (Mt 24.1,2; Lc 21.20,24). b) Quando consideramos que Jerusalém tem
sido uma das cidades que mais vezes tem sido destruída, seria um milagre indescritível a
existência de qualquer original dos livros da Bíblia. Ainda há um terceiro motivo
igualmente preponderante para que creiamos haver sido Deus em Sua soberania quem
permitiu o desaparecimento dos referidos originais. Imagine-se ao saber que determinado
original existisse escrito com a própria mão e caligrafia de Moisés, de João, de Pedro ou
de Paulo, à luz de 2Rs 18.4, estariam ou não muitos judeus e até muitos gentios
apelidados de cristãos adorando-o? Fatalmente, aqueles que se apegam às supostas
relíquias dos “santos”, estariam fanaticamente adorando a tais pergaminhos. Por isso,
graças a Deus, a inexistência deles, é motivo a menos à idolatria.
23
Desde que não temos os originais, o que é que temos que possamos atribuir
autoridade e inspiração, de modo a crermos sem sombra de dúvidas de que a Bíblia é a
Palavra de Deus, conforme as palavras de Jesus em Jo 5.39 e as de Pedro em 2Pe 1.19-21
e as de Paulo em 2Tm 3.14-16? Temos os antigos manuscritos, cópias autênticas dos
livros originais, que cremos serem tão autênticos quanto aqueles que foram copiados; e
destes temos mais de quatro mil, alguns dos quais têm quase todos os livros constantes de
nossas Bíblias, e, todos eles cotejados devidamente por homens piedosos e despidos de
quaisquer extremismos, no conjunto, encerram os mesmos 66 livros que possuímos em
nossa Bíblia em português. Deles, porém, devido à extensão de nosso curso, faremos a
seguir, menção honrosa apenas de alguns que são considerados os principais, devido a sua
Antigüidade e também o seu conteúdo de quase todos os livros em caráter individual e
que juntos se completam.
1. CÓDIGO VATICANO, que data do século 4º a.D., e está na livraria do
Vaticano desde o ano de 1481. Este manuscrito é um dos mais antigos, faltando-lhe
apenas os seguintes textos: Gn 1-46; Sl 105 a 137 e 2 Sm 1.2-7,10-13, no Velho
Testamento.
2. CÓDIGO SINAÍTICO, que também data do 4º Século a.D., e está no Museu
Britânico, em Londres, Inglaterra. Tudo indica que este manuscrito era absolutamente
completo, mas a ignorância dos frades do Mosteiro de Santa Catarina, no Monte Sinai
(que desconheciam a língua grega), onde ele foi encontrado pelo sábio alemão Conde
Tischendorf, muitas folhas dele se perderam, pois as primeiras encontradas pelo referido
sábio, já estavam num camburão de lixo para serem incineradas. Falta-lhe, portanto,
partes do Velho Testamento, porém tem o Novo Testamento completo.

3. CÓDIGO ALEXANDRINO, datado do 5º Século, e está no Museu Britânico.


Este manuscrito também por circunstâncias adversas, tem falta de alguns livros do Velho
Testamento e também de outros do Novo Testamento.

24
4. CÓDIGO BEZA, datado do 5º Século, está na Biblioteca da Universidade de
Cambrige, na Inglaterra. Este código ou manuscrito, além de faltar alguns livros, tem a
característica de ser bilíngüe: grego e latim.

5. CÓDIGO EFRAIMITA, que está na Biblioteca Nacional da França em Paris.


Conforme dissemos acima, esses manuscritos nem sempre são completos, mas por
uma clara providência de Deus, aquilo que falta em um deles, está no outro e vice-versa;
e, deste modo, todos os 66 livros de nossa Bíblia estão devidamente catalogados e
comprovados em suas páginas. Além desses, há milhares doutros menores em conteúdo,
porém, não em valor, que confirmam à sociedade, a veracidade dos 66 livros da Bíblia
Sagrada; motivo porque podemos crer sem sombra de dúvidas, de que a Bíblia que
usamos é a tradução daquelas cópias fiéis de originais de livros sagrados. E, além do que
afirmamos, podemos estar certos da Antigüidade desses manuscritos que foram copiados
dos originais entre os anos 340 a 550 a.D., e, portanto existia alguns possuidores de
originais quando eles foram copiados.
25
Atualmente, os mais antigos manuscritos que temos dos originais da Bíblia, datam
do ano de 900 a.C., constantes de fragmentos de todos os livros da Bíblia e todo o livro
do profeta Isaías, encontrados por acaso por um beduíno pastor de cabras, numa gruta da
Serra que margeia o Mar Morto pelo lado ocidental, junto à antiga cidade de Qumram,
distante de Jericó 13 Km. Em Qumram, viveu certa congregação essênia antes da queda
de Jerusalém no ano 70 a.D., dali saindo, talvez vítima da perseguição romana, eles
guardavam os manuscritos em botijas de barro e os escondiam naquelas grutas, talvez
pensando ainda lhes ser possível voltar. Porém desapareceram vítimas das perseguições e
ali ficaram aqueles manuscritos até o ano de 1947, quando foram descobertos, e hoje
estão depositados no Museu do Livro em Israel. E o interessante é que esses antigos
manuscritos são idênticos aos outros mais recentes.

OS MANUSCRITOS DO NOVO TESTAMENTO

Os manuscritos do Novo Testamento podem ser classificados segundo a matéria


que os compõem, ou segundo os caracteres da escrita. Esta classificação ajuda a datá-los.
Estes manuscritos são papiros ou pergaminhos.
UM PAPIRO - é constituído por tiras de medula do papiro (espécie de cânico com
caule triangular, da família das ciperáceas, da grossura de mais ou menos um braço e de
2,5 m a 5 m de altura), cortadas em finas talas e colocadas em camadas cruzadas, estas
tiras formam folhas que são em seguida, fixadas umas após outras e enroladas em torno
de uma vara. O rolo assim formado se chama, em grego, biblos (dai a palavra: Bíblia) e
pode ter até 10 m de comprimento. Os papiros do Novo Testamento são os mais antigos
documentos de base que possuímos: em sua maioria datam do século III (um papiro
descoberto em 1935, deve mesmo ser datado do começo do 2° século). Se bem que nos
transmitam apenas fragmentos de textos, estes documentos são testemunhas preciosas do
texto, justamente em razão da sua antiguidade. Existem atualmente em número de 76,
designados nas edições críticas por P1, P2 etc.

26
UM PERGAMINHO - é uma pele, ordinariamente de ovelha, cabra ou bezerro,
tratada e cortada em folhetos (a palavra “pergaminho” se originaria da cidade de
Pérgamo): estes são postos um em cima do outro para formar não um rolo, mas um
volume (em grego: teuchos) de onde vem a palavra Pentateuco para assinalar os
primeiros cinco livros do Velho Testamento. Os pergaminhos, trazendo textos do Novo
Testamento, datam somente do século IV, no máximo, mas apresentam-nos, geralmente,
textos completos do Novo Testamento. O princípio e o fim do texto faltam às vezes, em
consequência da deterioração, fácil de imaginar, dos folhetos da capa. Todos estes
documentos são escritos em grego, mas em um grego que não é mais o grego clássico.
(Este grego, comumente falado em todo império, é denominado Koinê: língua comum).
Os manuscritos mais antigos do Novo Testamento são escritos em letras maiúsculas ou
“unciais”. Atualmente seu número é de 252 (excluem-se os achados de Qumran, que
ainda não foram reconstituídos totalmente, não sabendo-se assim o seu número exato). As
edições críticas os designam por letras maiúsculas. Os manuscritos em minúsculas
(conhecemos hoje 2646) datam no máximo do século IV. Entretanto não devem ser
negligenciados porque os copistas do século IX, X e XI recopiavam possivelmente
manuscritos em maiúsculas muito mais antigos, que não possuímos mais. As edições
críticas os assinalam por algarismos árabes. Todos estes manuscritos são assaz difíceis de
ler. As palavras, as frases e os parágrafos não são separados por espaço algum, e não
encontramos nem acento nem sinal de pontuação. Seis manuscritos em maiúsculas são
muito importantes:
O Vaticanos (designados por “B” nas edições críticas), assim chamado porque é
conservado na biblioteca do Vaticano. Datando do século IV, é o mais antigo de todos os
manuscritos sobre pergaminho.
O Sinaíticus (designados por “X”), descoberto em um convento do Sinai, no
século IX, vendido em 1933, pelo governo soviético ao British Museum em Londres,
também deve datar do século IV.
O Alexandrinus (designados por “A”), trazido de Alexandria a Inglaterra no
século XVIII e igualmente conservado no British Museum, data do século V.
O Códex Ephrem (designado por “C”), e uma “palimpsesto”, que quer dizer que o
texto primitivo, um manuscrito do Novo Testamento datando do século V, foi apagado no
século XII por um copista que se serviu do pergaminho para nele copiar tratados de
Ephrem da Síria. Felizmente, o texto primitivo não desapareceu totalmente e pode ainda
ser lido sob o texto medieval por olhos peritos (trabalho penoso, facilitado hoje em dia
pelos processos técnicos modernos). Este manuscrito é conservado em Paris, na
Biblioteca Nacional. Estes quatro primeiros manuscritos não diferem entre si a não ser
por “variantes” de pormenor. Dois outros manuscritos (designados por “D”) apresentam,
com os quatro precedentes, grande número de variantes e particularmente notória. Datam
ambos do século VI. O primeiro: Códex Bezae Cantabrigiensis deve seu nome ao fato de
ter pertencido, assim como aliás também o segundo, a Theodoro de Beza, amigo de
Calvino, e que em 1581, seu proprietário o ofertou a Cambrige. Escrito sobre duas
colunas, a primeira contendo texto grego, a segunda a tradução latina, oferece somente os
4 evangelhos e o livro de Atos dos Apóstolos.
Hoje em dia, após os achados do Qumran, existem vários manuscritos que estão
sendo estudados e também são apresentados ao público em geral. Eles encontram-se em
27
Jerusalém, no Museu do Livro. Ali percebemos o autêntico milagre de preservação dos
mesmos, pois encontram-se alguns inteiros e outros fragmentados de tal forma que é
preciso “montá-los” como a um quebra-cabeças para descobrir-se de que manuscrito se
trata.
A ciência tem colaborado muito para desvendar este quebra-cabeça. Os
manuscritos são feitos de pele de carneiro, e cada um deles está passando por um teste de
DNA. Este teste determina que pedaços pertencem aos manuscritos mais “completos”,
pois o DNA possui o código genético de cada animal em particular. Assim torna-se
impossível “juntar” pedaços diferentes!

XI. A TRANSMISSÃO DO NOVO TESTAMENTO


Qualquer estudante desprevenido pode pensar que desde a ascensão de Cristo aos
céus e a descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes para instalar oficialmente a
Igreja na terra, os escritores dos Evangelhos se assentaram à parte, quietos, num recanto
isolado, algures na Palestina, e começaram a escrever os Evangelhos na ordem que os
temos em nosso Novo Testamento. Aqueles que assim pensam, estão absolutamente
equivocados.
De acordo com as evidências internas do próprio Novo Testamento, a primeira
porção de qualquer livro dos 27 que compõe o mesmo, consiste da carta escrita pelo
Primeiro Concílio Cristão realizado em Jerusalém, cerca do ano 48 a.D., endereçada à
Igreja em Antioquia, então Capital da Síria, levando-lhe a resolução contrária aos
judaizantes, carta esta que Lucas inseriu no livro de Atos (cap. 15.23-29). Os judaizantes
pretendiam manter o cristianismo amalgamado ao judaísmo, apenas como uma seita a
mais, motivo porque queriam forçar os cristãos dentre os gentios a se circuncidarem
conforme a Lei e deste modo fossem obrigados a guardar as tradições judaicas. Paulo e
Barnabé se opuseram e de acordo com a Igreja em Antioquia, subiram a Jerusalém, aos
apóstolos e presbíteros (pastores) daquela época a fim de juntos estudarem o assunto. A
decisão do Concílio foi contrária aos judaizantes e desde então o cristianismo começou a
se propagar como uma doutrina autônoma, e aquela decisão conciliar passou a ser
considerada como algo de valor permanente, a que todos os cristãos deveriam obedecer
(At 16.4,5).
Deste modo, do ano 30 ao ano 50 a.D., com exceção daquela carta conciliar, o
cristianismo foi transmitido oralmente e, portanto todo o conteúdo do Novo Testamento
ainda não estava escrito. De acordo com uma antiga tradição não aceita por todos, o
primeiro livro a ser escrito, foi a Epístola de Tiago, cerca do ano 45 a.D. Ele era pastor da
Igreja em Jerusalém, que com a grande perseguição que culminou coma morte de
Estevão, se dispersou; e; como era natural, seu zelo pastoral o levou aquela carta que ele
dirige “às 12 tribos dispersas” (Tg 1.1). O teor da epístola evidencia-a haver sido escrita a
cristãos judeus, aos quais o escritor procura doutrinar de modo a encorajá-los a não
fraquejarem ante as perseguições a que estavam submetidos em razão de sua fé em Jesus
como o Cristão.
Outros, porém, crêem que os primeiros livros a serem escritos foram as Epístolas
de Paulo aos Tessalonicenses, que se crê haver sido escrita cerca dos anos 52 ou 53 a.D.
Fato é que as cartas de Paulo seguem num crescendo em datas até sua última a ser escrita

28
da prisão romana, onde ele estava preso pela segunda vez, constante de 2Tm,
possivelmente entre os anos 66 a 67 a.D. antes do apóstolo ser decapitado.
É difícil afirmar qual dos Evangelhos foi escrito em primeiro lugar! A maioria dos
teóricos pendem para o lado de Marcos, crendo haver sido ele o primeiro a ser escrito.
Aliás uma tradição muito antiga, baseada em haver sido Marcos parente de Pedro (1Pe
5.13), afirma haver Marcos servido de amanuense de Pedro para escrever este Evangelho,
do mesmo modo que Paulo usou a Tércio para escrever em seu lugar a carta aos Romanos
(Rm 16.22) e Jeremias usou a Baruque para escrever em seu lugar (Jr 36.4). Tudo indica
haver sido Eusébio, Bispo e historiador cristão, quem pela primeira vez aludiu a esta
possibilidade, o que ocorreu entre os anos 270 a 340, quando viveu o referido historiador.
E, levando-se em consideração a responsabilidade e liderança de Pedro, constante de Atos
1-12, não é para duvidar haver ele sentido mais cedo do que outros a necessidade de ser
registrado em livro (pergaminho) os feitos do Senhor Jesus. Por este motivo, há quem
date o Evangelho de Marcos entre os anos 58 a 60 A.D. e João entre os anos 90 a 95 A.D.,
possivelmente escrito em Éfeso. De qualquer maneira, podemos afirmar que todos os
vinte e sete livros do Novo Testamento, estavam escritos no primeiro Século e já
circulavam em cópias entre as Igrejas judaicas e gentias.
Talvez alguém se interesse em saber quantos foram os escritores do Novo
Testamento e nós nos aventuramos a afirmar que eles não foram mais do que nove. A
saber: Mateus, Marcos, Lucas, João, Paulo, Tiago, Pedro, Judas e um anônimo que
escreveu a Epístola aso Hebreus. E coisa interessante, enquanto os 39 livros do Velho
Testamento absorveram nada menos de 1400 anos para serem escritos, os 27 do Novo
Testamento foram escritos em pouco mais de meio século.

XII. ASPECTO LITERÁRIO DA BÍBLIA


A Bíblia, de fato, é uma coleção de livros em número de 66, que em propósito e
finalidade é um todo harmonioso e perfeito, posto que seu único alvo é revelar ao homem
a pessoa de Jesus e nele o plano de Deus para salvação de todo aquele que crê. Neste
aspecto, não somente ela é um só livro integrado por 66 capítulos a que chamamos
livros, também tem um pensamento central, uniforme, que chega a ser maravilhoso e
impressionante (Jo 5.39; Lc 24.25-27,44). Mas, como literatura pura e simples, inclui um
acervo bem diversificado como história, legislação, crônicas, genealogias, romances,
filosofia religiosa, biografia, cartografia, profecia (predições do futuro) e liturgia
religiosa. E, o que mais nos causa admiração é que todo este diversificado conjunto de
literatura, corroborado pela heterogeneidade de cultura e posição social de seus
numerosos escritores, pela distância de cerca de 1600 anos entre o primeiro e o último
livro a ser escrito, e também os diversos lugares em que foram escritos, sem haver
qualquer plano elaborado para que os escritores nele se escudassem para escrever suas
obras, contudo, se harmonizam entre si de tal modo a se parecerem de uma só corrente.
Isto evidencia-nos que embora ela haja tido muitos escritores, todos eles foram apenas
amanuenses que se prestaram a escrever aquilo que o único autor, o Espírito Santo, os
inspirava a escrever (2 Pe 1.19-21; 2 Sm 23.2).

29
XIII. OS NOMES DA BÍBLIA
Nós nos acostumamos às designações de Velho e Novo Testamento, que não se
originaram nos originais hebraico e grego e sim no latim de Jerônimo, posto que
testamento vem do latim testamentum, e esta palavra não é encontrada como descritiva
quer do Velho quer do Novo em qualquer dos originais. Neste caso, os vocábulos pacto,
aliança, ou tratado, (este com sentido de acordo), é o que encontramos em ambas partes
de nossa Bíblia em seus originais. Pois, os vocábulos hebraicos BERITH ( ‫)בב רריִ֣ת‬
encontrado nos originais, como por exemplo em Gn 15.18; 31.44; Ex 24.7,8; Jr 31.31,
etc, e o grego DIATĒQUĒ (διαθήκη) encontrado em Mt 26.28; Gl 3.15 sempre
significam concerto, pacto, aliança e nunca testamento, que no próprio latim tem o
sentido de última vontade expressa por uma pessoa moribunda, delegando a alguém algo
de seus bens. Ora não é isto que acontece com BERITH e DIATEQUE, porque eles
expressam sentido de aliança feita entre dois seres vivos – Deus e o Homem. Destarte,
cremos que denominariam biblicamente certo as duas partes de nossa Bíblia de Antigo
Concerto e Novo Concerto, como o faz o autor da Epístola aos Hebreus no texto grego
em Hb 8.6,10.
Os escritores da Bíblia deram vários nomes à Bíblia:
1. A Escritura da Verdade (Dn 10.21);
2. A Lei (Mt 12.5; 1Co 14.21);
3. As Escrituras (Lc 24.27,32);
4. A Escritura de Deus (Ex 32.16);
5. A Lei de Moisés (Lc 24.44);
6. Os profetas (Lc 24.44);
7. Os Salmos (Lc 24.44);
8. A Palavra da Vida (At 7.38);
9. As Sagradas Letras (2Tm 3.15,16);
10.A Palavra de Deus (Hb 4.12), etc.

Figurativamente ele é comparada à luz (Sl 119.105), ao fogo (Jr 23.29), a um


martelo (Jr 23.29), a uma espada (Ef 6.17) e a muitos outros símbolos encontrados em
todo o seu conteúdo.

XIV. TEMA CENTRAL DA BÍBLIA


O Antigo Testamento descreve uma nação, que é Israel, o Novo Testamento
descreve um homem, e este homem é Jesus. A nação foi estabelecida e nutrida por Deus
para que desse este homem ao mundo.
Jesus é o tema central da Bíblia. Ele mesmo no-lo declara em Lucas 24.44 e João
5.39. (Ler também Atos 3.18; 10.43; Ap 22.16). Se olharmos de perto, veremos que, em
tipos, figuras, símbolos e profecias, Ele ocupa o lugar central das Escrituras, isto além da
sua manifestação como está registrada em todo o Novo Testamento.

Em Gênesis, Jesus é o descendente da mulher (Gn 3.15).


Em Êxodo, é o Cordeiro Pascoal (Êx 12.5-13).
Em Levítico, é o Sacrifício Expiatório (Lv 4.14-21).

30
Em número, é a Rocha Ferida (Nm 20.7-13).
Em Deuteronômio, O Profeta maior (Dt 18.15).
Em Josué, é o Capitão dos Exércitos do Senhor (Js 5.14).
Em Juizes, é o Libertador (Jz 3.9 conforme Rm 11.26).
Em Rute, é o Parente Remidor - Goel (Rt 3.12, conforme Tt 2.14).
Em Reis é o Rei Prometido (1 Rs 4.34 cf Ap 21.24).
Em Crônicas é O Descendente de Davi (1Cr 3.10 cf Mt 1.7).
Esdras: O ensinador divino (Ed 7.10, cf Mt 9.35).
Neemias: O Edificador (Ne 2.18,20).
Ester: A Providência divina, Et 4.14.
Em Jó, é o nosso Redentor (Goel), Jó 19.25.
Nos Salmos é o nosso Socorro e Alegria, Sl 46.1, cf Mt 28.20.
Em Provérbios, é a Sabedoria de Deus, Pv 8.22-36.
Eclesiastes: O Pregador perfeito, Ec 12.10.
Em Cantares de Salomão, é o nosso Amado, Ct 2.8.
Em Isaías: O Servo do Senhor, Is 42;
Em Jeremias: O Senhor dos Exércitos, Jr 32.18;
Em Lamentações: O Consolador de Israel, Lm 1.2;
Em Ezequiel: O Senhor que reinará, Ez 33;
Em Daniel: O Quarto homem, Dn 3.25;
Em Oséias: O Esposo, Os 2.16;
Em Joel: O Juiz das nações, Jl 3.12;
Em Amós: O Deus de fogo, Am 1.4; 9.4-6;
Em Obadias: O Salvador, Ob 21;
Em Jonas, Aquele que venceu o Hades-Sheol, Jn 1.17; 2.1,2; Mt 12.39,40; At 2.27-
35.
Em Miquéias, O Ajuntador de Israel, Mq 2.12; 4.3;
Em Naum: O Cavaleiro da espada flamejante, Na 3.3;
Em Habacuque: O Puro de olhos, Hc 1.13;
Em Sofonias: O Pastor de Israel, Sf 3.13.
Em Ageu é “O que faz tremer os céus e a terra” (Ag 2.6, 7).
Em Zacarias é “O Renovo” (Zc 6.12); O Profeta das Mãos Feridas.
Em Malaquias é “O Anjo do Concerto” (Ml 3.1); O SOL DA JUSTIÇA.
Em Mateus é “O Messias” (Mt 2.6).
Em Marcos é “O Rei” (Mc 15.2).
Em Lucas é “O Filho do Homem” (Lc 12.8).
Em João é “O Filho de Deus” (Jo 1.14).
Em Atos dos Apóstolos é “O Cristo Ressurreto” (At 2.24).
Em Romanos é “A Justiça de Deus” (Rm 8.30).
Em 1 Coríntios é “O Cristo Crucificado” (1 Co 1.23).
Em 2 Coríntios é “A Imagem de Deus” (2 Co 4.5).
Em Gálatas é “O Cristo que Liberta” (Gl 5.1).
Em Efésios é “A Cabeça da Igreja” (Ef 4.15).
Em Filipenses é “O Viver” (Fl 1.21).
Em Colossenses é “O Homem Perfeito” (Cl 1.28).
Em 1 e 2 Tessalonicenses é “O Senhor que Virá” (1 Ts 4).
31
Em 1 Timóteo é “A Nossa Esperança” (1 Tm 1.1).
Em 2 Timóteo é “O Nosso General” (2 Tm 2.1).
Em Tito é “O Nosso Salvador” (Tt 3.6).
Em Filemon é “O Doador do Bem” (Fm 6).
Em Hebreus é “O Sacerdote Eterno” (Hb 7.3).
Em Tiago é “O Legislador” (Tg 4.12).
Em 1 Pedro é “O Rei” (1 Pe 2.17).
Em 2 Pedro é “Nosso Senhor” (2 Pe 1.2).
Em 1 João é “O Cristo” (1 Jo 5.1).
Em 2 João é “O Filho do Pai” (2 Jo 3).
Em 3 João é “A Verdade” (3 Jo 4).
Em Judas é “O Único Dominador e Senhor” (Jd 4).
Em Apocalipse é “O Alfa e o Ômega” (Ap 22.13).

Tomando o Senhor Jesus como o centro da Bíblia, podemos resumir os 66 livros


em cinco palavras referentes a Ele, assim:
1. PREPARAÇÃO – Todo o Velho Testamento.
2. MANIFESTAÇÃO – Os Evangelhos.
3. PROPAGAÇÃO – O Livro de Atos.
4. EXPLANAÇÃO – As Epístolas.
5. CONSUMAÇÃO – o Livro de Apocalipse.

XV. A INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA


A característica mais importante da Bíblia não é sua estrutura e sua forma, mas o
fato de ter sido inspirada por Deus. Não se deve interpretar de modo errôneo a declaração
da própria Bíblia a favor dessa inspiração. Quando falamos de inspiração, não se trata de
inspiração poética, mas de autoridade divina. A Bíblia é singular; ela foi literalmente
“soprada por Deus”.
Quando afirmamos que as Escrituras foram inspiradas, queremos afirmar que elas
provém da pessoa do próprio Deus. Deus usou pessoas para que sua Palavra fosse
registrada em linguagem humana. A Bíblia não é fruto da imaginação do homem, ou da
necessidade deste criar mitos para sua sobrevivência.

Alguns escritores bíblicos registraram ter recebido ordem direta de Deus para
escreverem (Êx 17.14; 34.27; Nm 33.2; Is 30.8; Jr 30.2;36.2), outros, certamente,
sentiram-se impulsionados a escrever. Era Deus agindo em suas mentes e corações.
Devemos descartar porém, a possibilidade de pensarmos que Deus ditava e eles
escreviam. Deus usou-os precisamente como eles eram . A isto chamamos de inspiração
orgânica, ou seja, toda a estrutura humana esteve envolvida nesse processo: intelecto,
conhecimento, cultura, personalidade, caráter. Deus isentou tais homens e seus escritos de
erros e guiou-os até mesmo na escolha das palavras que deveriam usar. A Bíblia é um
produto divino humano.

Definição: “Toda Escritura é divinamente inspirada (theopneustos em grego) e


proveitosa para ensinar, para corrigir, para instruir em justiça” (2Tm 3.16). Em outras
palavras, o texto sagrado nos diz que a Palavra foi “soprada por Deus. Confirma com isto
32
um texto do Velho Testamento (Jó 32.8). Fazendo uma combinação destas passagens que
ensinam sobre a inspiração divina, descobrimos que a Bíblia é inspirada no seguinte
sentido: homens, movidos pelo Espírito, escreveram palavras sopradas por Deus, as quais
são a fonte de autoridade para a fé e para a prática cristã.
Inspiração é a ação supervisionadora de Deus sobre os autores humanos da Bíblia
de modo a, usando suas próprias personalidades e estilos, comporem e registrarem sem
erro as palavras de Sua revelação ao homem. A Inspiração se aplica apenas aos
manuscritos originais (chamados de autógrafos).
Definição teológica da inspiração:
Na única vez que O Novo Testamento usa a palavra inspiração, ela se aplica aos
escritos, não aos escritores. A Bíblia é que é inspirada, e não seus autores humanos. O
adequado, então, é dizer que: o produto é inspirado, os produtores não.
A Distinção entre a Revelação e a Inspiração 4
1. Como se faz distinção entre Teologia do Velho Testamento e a História da religião do
povo de Israel, assim se faz distinção também entre a revelação e a inspiração. (pág.
51).
2. A revelação é obra exclusiva de Deus. É a comunicação do conhecimento da sua
Pessoa, de seus propósitos e da sua vontade ao homem incapaz de descobrir, pelos
poderes do seu próprio intelecto, estas verdades divinas. É o processo pelo qual Deus
se faz conhecido ao homem (pág. 51).
3. A Inspiração é o termo que descreve, no sentido bíblico, a habilitação dos escritores
que produziram os livros da Bíblia. A Inspiração significa a atuação do Espírito de
Deus no espírito de homens idôneos, escolhidos para receberem e transmitirem as
mensagens da revelação divina. (pág. 51).
4. Quando reconhecemos que a inspiração não anulou a personalidade dos escritores
bíblicos, mas que fatores humanos e divinos operam juntos na produção dos livros do
Velho Testamento, através de longos períodos históricos, não podemos deixar de
reconhecer mudanças no ponto de vista dos escritores. (pág. 52).
5. A finalidade ou o propósito de Deus na revelação é mais do que o esclarecimento
intelectual ou a instrução do povo em doutrinas teológicas. Tem por fim o
estabelecimento de uma relação pessoal entre Deus e os homens. “Andarei entre vocês
e serei o seu Deus, e vocês serão o meu povo” (Lv 26.12). Deus revelou o seu amor
(‘ahabah - ָ‫ )אהַהָבֲבה‬no concerto que fez com os patriarcas (Gn 17.1-6), e mais tarde com
Israel no Monte Sinai (Êx 19.4-6). Demonstrou o seu amor imutável (hesed - ֶ‫)סֶחסֶסד‬5
nas atividades persistentes em favor de Israel através de sua história, e especialmente
em períodos de crise e calamidades.6 Alguns profetas interpretaram o significado do
concerto pela figura do casamento (Os 2.19; Jr 3.14). A frase “a palavra de Deus”
4
CRABTREE. A. R. TEOLOGIA DO VELHO TESTAMENTO. 2ª ed. Rio de Janeiro, JUERP, 1977, p. 53,54.
5
Hesed. Não se pode traduzir nitidamente a palavra hesed. A tradução comum das versões em português é misericórdia,
bondade, benignidade, mas estas palavras todas são inadequadas para dar o pleno sentido do termo. A palavra relaciona-se
intimamente com o fator de Deus nas suas atividades providenciais na história de Israel. A Palavra significa o amor firme,
persistente, imutável, no cumprimento das promessas do seu concerto com Israel, mesmo quando o povo falhava e se
mostrava indigno. A palavra sempre acentua a: fidelidade de Deus para com o seu concerto com Israel. Os hasidim são os
piedosos, os fiéis, os santos que responderam com confiança ao amor fiel do Senhor. O hesed divino sempre buscava a
comunhão espiritual com Israel para criar nele o amor fiel a Deus. Assim se vê que é quase o equivalente da graça divina.

33
descreve a orientação divina que Israel recebia constantemente por intermédio dos
profetas. Todas as atividades divinas em favor de Israel são coerentes e harmoniosas
no testemunho da fidelidade do Senhor no cumprimento fiel dos seus planos e das suas
promessas em favor do povo escolhido.
Não obstante a desobediência obstinada, e freqüentes revoltas de Israel contra “a
palavra de Deus”, o Senhor, pelos maravilhosos recursos do seu “hesed” (Desex),
disciplinou e guiou o seu povo escolhido, segundo a sua justiça divina, no desempenho da
sua missão no mundo (Êx 19.6; Is 2.1-3; 49.6). (Pág. 52,53).

A sobrevalorização da revelação

Karl Barth e alguns outros teólogos modernos sobrevalorizaram o papel da


revelação na teologia ao negar todo e qualquer conhecimento de Deus nas pessoas, exceto
pela revelação especial. Carl Braaten questionou a concepção de Barth, que fazia da
revelação a ideia dominante na teologia. Braaten disse: “Se a ignorância do homem
posta-se no centro, o fato da revelação alivia essa sina; mas se a culpa do homem é o
problema, então não é a revelação, mas a reconciliação, o que deve tornar-se o centro
teológico”. Barth negou todos os outros meios de revelação, exceto Jesus Cristo, por
causa de sua convicção de que Cristo é singular e Cristo Braaten cria na singularidade de
Cristo, mas disse:
Distinguindo, porém, entre revelação e reconciliação, é possível sustentar tanto a
dualidade da revelação como a singularidade de Cristo. Jesus é o único Salvador, não o
único revelador. A idéia de revelação dá a entender que algo previamente oculto é
desvendado. O evento de Cristo não é o desvendar de algo que sempre existiu, mas que
até então permanecia oculto e encoberto em mistério. Essa é uma visão completamente
platônica de revelação. A reconciliação não é apenas revelada, como se estivesse ali,
meramente oculta; ela é realizada na história, um evento único algo absolutamente inédito
debaixo do sol [...] O ato de reconciliação provoca uma situação objetivamente nova, não
só para o que crê, mas também para o cosmo. O mundo foi reconciliado com Deus em
Cristo.

“Conhecer o Senhor” significa ser “reconciliado” com ele. Ele faz isso por nós
mediante a morte e a vida de seu Filho em nosso lugar (veja Rm 5.10-11; 2Co 5.15-21).

1. O conhecimento de Deus revelado aos homens é justamente aquele que satisfaz à sua
fome da sua natureza espiritual. A palavra Yada’ ((adfy) significa “conhecer
pessoalmente” (Gn 12.11: Êx 33.17; Dt 34.10); “conhecer por experiência” (Js 23.14);
“ganhar conhecimento” (Sl 119.152); “conhecer o caráter de uma pessoa” (2Sm 3.25);
“Ter relações amistosas com alguém” (Gn 29.5; Êx 1.8; Jó 42.11); “conhecer a Deus”
(Êx 5.2). A palavra descreve também p profundo conhecimento que Deus tem de
pessoas (Os 5.3; Jó 11.11; 1Rs 8.30; 2Sm 7.30; Sl 1.6). O conhecimento de Deus

6
Norman H. Snaith, The Distinctive Ideas of the Old Testament, p. 102. “Maravilhoso como é o amor de Deus para com o seu
povo do concerto, a sua persistência resoluta neste amor é ainda mais extraordinária. A mais importante de todas as idéias
distintas do Velho Testamento é esta persistência resoluta e maravilhosa em continuar a amar a Israel errante, apesar de sua
obstinação”.
34
resulta em adoração e obediência inteligente à sua vontade (Jz 2.10; 1Sm 2.12; Os 8.2;
Sl 79.6). Segundo os profetas, o conhecimento de Deus é o discernimento da natureza
divina por parte do conhecedor que fica habilitado a reconhecer as verdadeiras
manifestações ou revelações da natureza e da vontade do Senhor.
2. “É no esforço prolongado de entender a nossa relação com Deus que chegamos a
entender as nossas relações com os outros” (John Baillie).
3. A experiência de Isaías com Deus transformou a sua vida, e determinou o caráter do
seu serviço na direção da história do seu povo.
“1 No ano em que o rei Uzias morreu, eu vi o Senhor assentado num trono alto e
exaltado, e a aba de sua veste enchia o templo. 5 Então gritei: Ai de mim! Estou
perdido! Pois sou um homem de lábios impuros e vivo no meio de um povo de lábios
impuros; os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos! 6 Logo um dos serafins
voou até mim trazendo uma brasa viva, que havia tirado do altar com uma tenaz. 7
Com ela tocou a minha boca e disse: “Veja, isto tocou os seus lábios; por isso, a sua
culpa será removida, e o seu pecado será perdoado” (Is 6.1,5-7).
4. As Escrituras ensinam também que Deus não pode ser conhecido. Estas várias
declarações contraditórias entendem-se como antinomias7. Apresentadas juntas,
explicam-se facilmente.

5. A Bíblia não nos explica em que sentido Deus pode ou não ser visto; como pode ou
não ser conhecido. Mas é perfeitamente claro que os homens do Velho Testamento
entenderam a impossibilidade de conhecer a Deus na glória da sua transcendência.
Porém é o conhecimento da Pessoa de Deus, com o discernimento da parte do
conhecedor que o habilita a reconhecer o Criador de todas as coisas, o Senhor dos céus
e da terra. (PÁG. 60).

6. Para os hebreus o conhecimento de Deus não era especulação sobre o Ser Eterno ou
Princípio Transcendente, mas era o reconhecimento e o entendimento do Senhor, que
atua sabiamente, com plano e propósitos, e exige obediência aos seus mandamentos
por causa da sua própria natureza, como o Santo de Israel (Dt 11.2-7; Is 41.20).

7. É dever principal do homem receber e desenvolver seu conhecimento de Deus. “Sabe,


pois, hoje, e reflete no teu coração, que o Senhor é Deus em cima nos céus, e embaixo
na terra; não há nenhum outro” (Dt 4.39).
Is 43.10,11: “Vocês são minhas testemunhas”, declara o Senhor, “e meu servo, a quem
escolhi, para que vocês saibam e creiam em mim e entendam que eu sou Deus. Antes
de mim nenhum deus se formou, nem haverá algum depois de mim. 11 Eu, eu mesmo,
sou o Senhor, e além de mim não há salvador algum.
Os 6.6: “Pois desejo misericórdia, e não sacrifícios; conhecimento de Deus em vez de
holocaustos”.
8. A finalidade da Bíblia é a de fazer Deus conhecido por suas atividades na história e
nas experiências que homens fiéis tenham com ele. Pois o conhecimento mais
importante de Deus, segundo a Bíblia, é esta comunhão pessoal com ele. O intercurso
7
Do gr. Antinomia. Contradição entre duas leis ou princípios. Conflito entre duas asserções demonstradas ou refutadas,
aparentemente com igual rigor.
35
pessoal com o Senhor resolveu para Jó as suas dúvidas e os seus problemas, não
porque Deus lhe tivesse oferecido uma explicação intelectual dos mistérios da sua
providência na vida dos justos, mas porque inspirou nele a confiança na bondade e na
justiça divina.
Jó 42.5,6: Meus ouvidos já tinham ouvido a teu respeito, mas agora os meus olhos te
viram. Por isso menosprezo a mim mesmo e me arrependo no pó e na cinza”.
9. O homem pode receber o conhecimento de Deus por vários meios. Encontrar-se com
Deus no exercício da sua inteligência, no estudo das maravilhas da natureza, na
atividade direta de Deus na sua consciência, na experiência da providência de Deus, na
profecia, no milagre e até nos sonhos e nas suas meditações.
Teorias sobre a Inspiração:
1. Natural - não há qualquer elemento sobrenatural envolvido. A Bíblia foi escrita
por homens de grande talento.
2. Mística ou Iluminativa - Os autores bíblicos foram cheios do Espírito como
qualquer crente pode ser hoje.
3. Mecânica (ou teoria da ditação) - Os autores bíblicos foram apenas
instrumentos passivos nas mãos de Deus como máquinas de escrever com as quais Ele
teria escrito. Deve-se admitir que algumas partes da Bíblia foram ditadas (e.g., os Dez
mandamentos).
4. Parcial - Somente o não conhecível foi inspirado (e.g., criação, conceitos
espirituais).
5. Conceitual - Os conceitos, não as palavras, foram inspirados.
6. Gradual - Os autores bíblicos foram mais inspirados que outros autores
humanos.
7. Neo-ortodoxa - Autores humanos só poderiam produzir uma registro falível.
8. Verbal e Plenária - Esta é a verdadeira doutrina e significa que cada palavra
(verbal) e todas as palavras (plenária) foram inspiradas no sentido da definição acima.
9. Inspiração Falível - Uma teoria, que vem ganhando popularidade, de que a
Bíblia é inspirada, mas não isenta de erros.

SUA INERRÂNCIA

Ao afirmarmos que a Bíblia é soprada por Deus, que ela é produto divino humano,
que Deus usou homens em sua totalidade, que levou-os a registrarem até mesmo as
palavras que deveriam usar, estamos afirmando também que Deus os preservou de
cometerem erros em seus escritos. A isto damos o nome de Inerrância, que é o ensino da
própria Escritura a seu respeito que afirma que nela não há erros ou contradições (Jo
10.35; 17.17; Cl 1.5; 2Tm 2.15; Tg 1.18). Precisamos, contudo, deixar esclarecido que a
ausência de erros é sobre os originais hebraicos e gregos. Por mais fiel que seja uma
tradução ou versão das Escrituras ela não pode afirmar ser a última palavra escriturística
isenta de erros ou distorções. Também não quer dizer que os escritores sagrados não
cometeram erros em suas vidas. Nem tudo o que falaram foi inspirado. Nem tudo o que
fizeram foi correto. Pela 1ª carta de Paulo aos Coríntios, ficamos sabendo que o apóstolo
escreveu uma carta anterior, chamada de carta perdida, que certamente não foi inspirada
36
por Deus, pois Ele não a preservou até os nossos dias (1Co 5.9). Outro exemplo é a
repreensão que Pedro levou de Paulo por seu comportamento contraditório (Gl 2.11). O
exemplo clássico de sua inerrância é o fato de ter sido escrita num período de 1600 anos,
por cerca de 40 escritores diferentes, de épocas diferentes, em lugares diferentes, e que,
apesar de tudo isso, ela é toda verdade e nela não há contradição. Nenhum outro livro
possui essa característica.

A BÍBLIA É CRISTOCÊNTRICA (Jo 5.39; Lc 24.27,44)

1. Espírito Santo é o melhor intérprete (Jo 14.26; 16.13; 1Co 2.6-13; 2Pe 1.20,21).
2. A Bíblia é a Palavra de Deus (a questão da inerrância – Berkhof 8 Pág. 43;
Virkler9 Pág.21).
R. C. Sproul sugeriu que se pode apresentar um princípio lógico mais rigoroso em
favor da infalibilidade bíblica. Damos a seguir uma adaptação do raciocínio de Sproul:
Premissa A: A Bíblia é um documento basicamente confiável e digno de confiança;
Premissa B: À base deste documento confiável temos prova suficiente para crer
confiantemente que (1) Jesus Cristo reivindicou ser Filho de Deus (Jo 1.14,29,36,41,49;
4.42; 20.28) e (2) que ele forneceu prova suficiente para fundamentar essa reivindicação
(Jo 2.1-14; 4.46-54; 5.1-18; 6.5-13,16-21; 9.1-7; 11.1-45; 20.30,31);
Premissa C: Jesus Cristo, sendo o Filho de Deus, é uma autoridade inteiramente
digna de confiança (i.e.; infalível);
Premissa D: Jesus Cristo ensina que a Bíblia é a própria Palavra de Deus;
Premissa E: A Palavra de Deus é completamente digna de confiança porque Deus
é perfeitamente digno de confiança;
Conclusão: À base da autoridade de Jesus Cristo, a Igreja crê que a Bíblia deve ser
totalmente digna de confiança.

8
BERKHOF, L. Princípios de Interpretação Bíblica. Rio de Janeiro. Ed. JUERP, 1981.
9
VIRKLER, Henry A. Hermenêutica – Princípios e Processos de Interpretação Bíblica. Miami. Ed. Vida, 1987.
37
XVI. A NATUREZA DA INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA
Nosso propósito neste capítulo tem dois aspectos:
1º) Examinar as teorias a respeito da inspiração e;
2º) Apurar com máxima precisão o que está implícito no ensino da Bíblia a respeito
de sua própria inspiração.
Ao longo da história, as teorias da inspiração da Bíblia têm variado segundo as
características essenciais de três movimentos teológicos:
1º) A Ortodoxia: A Bíblia é a Palavra de Deus;
2º) O Modernismo: A Bíblia contém a Palavra de Deus;
3º) A Neo-Ortodoxia: A Bíblia torna-se a Palavra de Deus.

Na maior parte dessa história, prevaleceu a visão ortodoxa, a saber: a Bíblia é a


Palavra de Deus. Com o surgimento do Modernismo, muitas pessoas vieram a crer que a
Bíblia meramente contém a Palavra de Deus. Mais recentemente, sob a influência do
existencialismo contemporâneo, os teólogos têm ensinado que a Bíblia torna-se a Palavra
de Deus quando a pessoa tem um encontro pessoal com Deus em suas páginas.

A ORTODOXIA: A BÍBLIA É A PALAVRA DE DEUS

Por cerca de 18 séculos de história, prevaleceu a opinião ortodoxa da inspiração


divina. Os pais da Igreja, em geral, com raras manifestações menos importantes em
contrário, ensinaram firmemente que a Bíblia é a Palavra de Deus escrita. Teólogos
ortodoxos ao longo dos séculos vêm ensinando que a Bíblia foi inspirada verbalmente e
que a mesma é o registro escrito por inspiração de Deus. Surgiu, porém dentro da
ortodoxia duas opiniões divergentes:
1ª) DITADO VERBAL: Deus ditou sua Palavra mediante a personalidade do autor
humano. Deus por sua atuação especial e providência, foi quem formou as personalidades
sobre as quais posteriormente o Espírito Santo haveria de soprar seu ditado palavra por
palavra.
2ª) CONCEITOS INSPIRADOS. “Deus teria inspirado apenas os conceitos, não
as expressões literais particulares com que cada autor concebeu seus textos. Deus teria
dado seus pensamentos aos profetas, que tiveram toda a liberdade de exprimi-los em seus
termos humanos” (Strong). Dessa maneira, Strong esperava evitar quaisquer implicações
mecanicistas derivadas do ditado verbal e ainda preservar a origem divina das Escrituras.
Deus concedeu a expressão verbal característica de seus estilos próprios.

O MODERNISMO: A BÍBLIA CONTÉM A PALAVRA DE DEUS

Ao surgir o idealismo e a crítica da Bíblia, surgiu também uma nova visão evoluída
da inspiração bíblica, a par do modernismo ou liberalismo teológico. Opondo-se à opinião
ortodoxa tradicional de que a Bíblia é a Palavra de Deus, os modernistas ensinam que a
Bíblia meramente contém a Palavra de Deus. Afirmam que a Bíblia teria incorporado
muito das lendas, dos mitos e das falsas crenças relacionadas à ciência.

38
O CONCEITO DA ILUMINAÇÃO. Defendem alguns estudiosos que as “partes
inspiradas” da Bíblia resultam de uma espécie de iluminação divina, mediante a qual
Deus teria concedido uma profunda percepção religiosa a alguns homens piedosos. Tais
percepções teriam sido usufruídas com diferentes gradações de compreensão, tendo sido
registradas com misturas de idéias religiosas errôneas e crendices da ciência, comuns
naqueles dias. Daí resultaria um livro, a Bíblia, que expressa vários graus de inspiração,
dependendo da profundidade da iluminação religiosa experimentada por qualquer dos
autores.

O CONCEITO DA INTUIÇÃO. Na outra extremidade da visão modernista estão


os estudiosos que negam totalmente a existência de algum elemento divino na
composição da Bíblia. Para eles a Bíblia não passa de um caderno de rascunho em que os
judeus registraram suas lendas, histórias, poemas, etc., sem nenhum valor histórico. O
que alguns denominam inspiração divina não seria outra coisa senão intensa intuição
humana. Dentro desse folclore judaico a que se deu o nome de Bíblia, encontram-se
alguns exemplos significativos de elevada moral e de gênio religioso. Todavia, essas
percepções espirituais são puramente naturalistas. Em absolutamente nada, passam de
intuição humana; não existiria inspiração sobrenatural, tampouco iluminação.

A NEO-ORTODOXIA: A BÍBLIA TORNA-SE A PALAVRA DE DEUS

No início do século XX, a reviravolta nos acontecimentos mundiais e a influência


do pai dinamarquês do existencialismo, Sören Kierkegaard, deram origem a uma nova
reforma na teologia européia. Muitos estudiosos começaram a voltar-se de novo para as
Escrituras, a fim de ouvir nelas a voz de Deus. Sem abrir mão de suas opiniões críticas a
respeito da Bíblia, começaram a levar a Bíblia a sério, por ser a fonte da revelação de
Deus aos homens. Criando um novo tipo de ortodoxia, afirmavam que Deus fala aos
homens mediante a Bíblia; as Escrituras tornam-se a Palavra de Deus num encontro
pessoal entre Deus e o homem.
À semelhança das outras teorias a respeito da inspiração da Bíblia, a neo-ortodoxia
desenvolveu duas correntes. Na extremidade mais importante estavam os demitizadores,
que negam todo e qualquer conteúdo religiosa importante, factual ou histórico, nas
páginas da Bíblia, e crêem apenas na preocupação religiosa existencial sobre a qual
medram os mitos. Na outra extremidade, os pensadores de tendência mais evangélica
tentam preservar a maior parte dos dados factuais e históricos das Escrituras, mas
sustentam que a Bíblia de modo algum é a revelação de Deus. Antes, Deus se revela na
Bíblia nos encontros pessoais; não, porém, de maneira proposicional.
Visão demitizante. Rudolf Bultmann e Shubert Ogden são representantes
característicos da visão demitizante. Ambos diferem entre si, uma vez que Ogden não vê
nenhum cerne histórico que dê consistência aos mitos da Bíblia, embora Bultmann
consiga enxergar isso. Ambos concordam em que a Bíblia foi escrita em linguagem
mitológica, da época de seus autores, época já passada e obsoleta. A tarefa do cristão
moderno é demitizar a Bíblia, ou seja, despi-la de seus trajes lendários, mitológicos, e
descobrir o conhecimento existencial a ela subjacente. Afirma Bultmann que, a partir do
momento que a Bíblia é despida desses mitos religiosos, a pessoa encontra a verdadeira
39
mensagem do amor sacrificial de Deus em Cristo. Não é necessário que a pessoa se
prenda a uma revelação objetiva, histórica e proposicional, a fim de experimentar essa
verdade pessoal e subjetiva. Daí decorre que a Bíblia torna-se a revelação de Deus aos
homens, mediante uma interpretação adequada (i.e., demitizada), quando a pessoa depara
com o amor absoluto, exposto no mito do amor altruísta de Deus em Cristo. Por isso, a
Bíblia em si mesma não é revelação alguma; é apenas uma expressão primitiva,
mitológica, mediante a qual Deus se revela pessoalmente, desde que demitizado da
maneira correta.
Encontro Pessoal. A outra corrente da neo-ortodoxia, representada por Karl Bart e
Emil Brunner, nutre uma visão mais ortodoxa das Escrituras. Bart reconhece que existem
algumas imperfeições no registro escrito (até mesmo nos autógrafos) e, no entanto,
afirma que a Bíblia é a fonte da revelação de Deus. Afirma ele que Deus nos fala
mediante a Bíblia; que ela é o veículo de sua revelação. Assim como um cão ouve a voz
de seu dono, gravada de modo imperfeito na gravação de uma fita ou disco, assim
também o cristão pode ouvir a voz de Deus que ressoa nas Escrituras. Afirma Brunner
que a revelação de Deus não é proposicional (i.e., feita por meio de palavras). Assim, a
Bíblia, como se nos apresenta, deixa de ser uma revelação de Deus, passando a ser mero
registro da revelação pessoal de Deus aos homens em eras passadas. Todavia, SEMPRE
QUE O HOMEM MODERNO SE ENCONTRA COM Deus, mediante as Escrituras
Sagradas, a Bíblia torna-se a Palavra de Deus para nós. Em contraposição à visão
ortodoxa, para os teólogos neo-ortodoxos a Bíblia não seria um registro inspirado. Antes,
é um registro imperfeito, que, apesar dessa mesma imperfeição, constitui o testemunho
singular da revelação de Deus. Quando Deus surge no registro escrito, de maneira
pessoal, a fim de falar ao leitor, a Bíblia nesse momento torna-se a Palavra de Deus para
esse leitor.

XVII. A FORMAÇÃO DO CÂNON BÍBLICO


A. Considerações fundamentais:
1. A Bíblia é auto-autenticável e os concílios eclesiásticos só reconheceram
(não atribuíram) a autoridade inerente nos próprios livros.
2. Deus guiou os concílios de modo que o cânon fosse reconhecido.
B. Cânon do A.T.:
1. Alguns afirmam que todos os livros do cânon do A.T. foram reunidos e
reconhecidos sob a liderança de Esdras (quinto século a.C.).
2. O N.T. se refere a A.T. como escritura (Mt 23.35; a expressão de Jesus
equivaleria dizer hoje “de Gênesis a Malaquias”; cf. Mt 21.42; 22.29).
3. O Sínodo de Jamnia (90 A.D.) Uma reunião de rabinos judeus que
reconheceu os livros do A.T.

40
C. Os princípios de Canonicidade dos Livros do N.T.:
1. Apostolicidade. O livro foi escrito ou influenciado por algum apóstolos?
2. Conteúdo. O seu caráter espiritual é suficiente?
3. Universalidade. Foi amplamente aceito pela igreja?
4. Inspiração. O livro oferecia prova interna de inspiração?

A palavra cânon vem do assírio Qânu. É usada 61 vezes no Antigo Testamento


(doravante AT), sempre em seu sentido literal que significa cana, balança e também cana
para traçar os cestos, ou bastão reto. Já no grego Clássico, passou a ter o sentido de
mediação, equivalente a qualquer objeto que servisse para tal mister, tais como: vara de
medição, esquadro, braço da balança, etc. “Aristóteles (384-322 a.C.), comentando a
agudez do ‘homem bom’ em discernir a verdade, disse ser este a norma ( κανών) e a
medida (µέτρον) da verdade”. (Costa, 1998, p.20).

O primeiro a usar a palavra cânon foi Orígenes. Ele se referia à coleção de livros
sagrados, livros que eram ou serviam de regras e fé para o ensino cristão. Orígenes viveu
entre os anos 185-254 da era cristã. Logo os primeiros Sínodos da Igreja passaram a
chamar suas decisões de cânones. No Novo Testamento (doravante NT), somente Paulo
usa o termo cânon (κανών).Duas vezes como esfera de ação (2 Co 10.13,15), uma vez
como campo (2 Co 10.16) e uma vez, como regra (Gl 6.16). Deus no decorrer da história
preservou tais escritos pela sua soberana vontade para que seu povo fosse conduzido a
toda a verdade.

“François Turretini (1623-1687)- o campeão da ortodoxia Calvinista no século


XVII – assinala que as Escrituras são chamadas ‘canônicas’ por duas razões: porque elas
estabelecem o cânon e padrão de fé e prática’ e, também, porque nelas nós temos todos os
livros canônicos”. (Op.cit., p. 34).

A Igreja Reformada reconhece como cânon os livros aceitos pelos judeus, ou seja,
39 livros do AT e mais os 27 do NT, e rejeita porém, os apócrifos que foram incluídos na
Vulgata de Jerônimo e reconhecidos como inspirados pela Igreja Católica Romana, no
Concílio de Trento (1545-1563).

A palavra cânon, é o aportuguesamento do vocábulo grego κανών 10 (cana, régua)


(Gl 6.16; Fp 3.16; 2Co 10.13,15,16), que talvez seja derivada do hebraico KANEH ֶ‫הָבֲקנס‬,

10
Κανών , κανόνος , ὁ ( κάννα , hebraico ָ‫ בֲקסֶנה‬uma cana, cana, árabe: Uma cana e uma lança, e uma vara ou bastão reto (veja
Vanicek, Fremdwörter, etc., p.21)), propriamente, uma haste ou pedaço de madeira arredondada, à qual qualquer coisa é presa
para mantê-la reta; Usado para várias finalidades (ver Passow (ou Liddell e Scott), sob a palavra); Uma vara de medição,
regra; Uma linha de carpinteiro ou fita métrica, Schol. Sobre Euripides , Hippolytus, 468; Portanto, equivalente a τό μέτρον
τοῦ πηδηματος ( Pollux , Onom. 3, 30, 151), a medida de um salto, como nos Jogos Olímpicos; De acordo com o NT.
STRONGS NT 2583: κανών

41
significando uma vara de medir ou uma régua (Ez 40.3). Usado, porém, para classificação
ou seleção dos livros sagrados quer do Novo quer do Velho Testamento, ele tem os
seguintes significados:
1. Uma linha reta;
2. Uma medida exata;
3. Uma regra ética;
4. Um prumo;
5. Um limite que não se pode ultrapassar.

Isto significa que, tanto a igreja judaica quanto a gentia, usaram de todo este
critério na seleção dos sessenta e seis livros que integram a Bíblia Sagrada. Quer dizer
que cada livro foi submetido à rigorosa crítica textual, de modo a comprová-lo como
inspirado divinamente por Deus, antes de ser admitido como livro canônico. Para tanto,
tal livro devia ser provado como de autoria profética, ou de alguém que fosse reconhecido
como um genuíno servo de Deus, e ter também o testemunho e reconhecimento das
igrejas judaicas para os 39 livros do Velho Testamento e cristã para os 27 do Novo
Testamento. Deste modo, a Igreja judaica reconhece como canônico os 39 livros, na
seguinte ordem de classificação:
1. TORAH – A Lei. Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.
Convém notar que estes títulos são oriundos da versão grega – Septuaginta, não do
hebraico, onde eles não têm títulos e são conhecidos apenas pelas primeiras palavras com
se iniciam, a saber: (Extraído do livro: A Lei de Moisés e as “haftarot”):
a) BERESHIT = No princípio ( ‫)בברְּראֵרשיִ֣ת‬. O primeiro livro do Pentateuco chama-se
Gênesis, isto é, “origem” e em hebraico, “Bereshit”, que significa “no
princípio”.
b) SHEMÓT = Nomes (‫)בשמְׁות‬. O segundo livro do Pentateuco chama-se em
hebraico “Shemót” (Nomes) em grego “Êxodo” (Saída).
c) VAYIKRAH = e chamou ֵ‫)ווירבקבֲרא‬.) O terceiro livro do Pentateuco chama-se
VAYIKRAH (e chamou), palavra com a qual começa este livro. Na Septuaginta
é Levítico, porém esta denominação não está de acordo com o seu conteúdo, já
que o livro só trata dos levitas esporadicamente, dedicando sua maior parte aos
“COHANIM” (sacerdotes) e ao culto em geral. Chamaram-no assim, talvez
porque Arão e seus filhos, os sacerdotes, pertenciam a tribo de Levi.
d) BAMIDBAR = no deserto (‫)בברמְׁבדֶובר‬. O quarto livro do Pentateuco foi intitulado
em hebraico “BAMIDBAR” (no deserto), pois nele está narrada a história dos
israelitas em sua longa permanência no deserto. Denominou-se também
“Humash Hapekudim” (Livro dos Censos), pelos diversos censos incluídos em
seus primeiros capítulos. A Septuaginta chamou este livro de “ARITMÓI”,
palavra que significa em grego, Números.
e) DEVARIM = palavras (‫)בדבֲברריִ֣ם‬. O quinto e último livro do Pentateuco é
conhecido em hebraico com o título de Devarim, que significa “palavras”, pela
razão de que começa com “Elle Hadevarim” = ָ‫( והָבדבֲברריִ֣ם רְּאֵסֶלה‬estas são as
palavras. A Septuaginta o chamou equivocadamente Deuteronômio, “segunda
lei” ou “repetição desta lei”, porém referindo-se somente ao 5º Livro de Moisés,
e inspirando-se no capítulo 17.18, de onde se faz referência à “uma cópia desta
42
lei” que o rei de Israel levava consigo para lê-la durante toda a sua vida. No
entanto, o que o rei de Israel tinha eram duas cópias conforme o estipula o
versículo acima mencionado.
2. NAVIIM RIXONIM – Profetas primitivos (Josué, Juízes 1, 2, Samuel 1, 2 e
2Reis).
3. NAVIIM ARRARONIM – Últimos Profetas (Isaías, Jeremias, Oséias, Joel,
Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e
Malaquias).
4. KETUVIM (ESCRITOS) – Salmos, Provérbios, Jó, Cantares de Salomão,
Rute, Lamentações de Jeremias, Eclesiastes, Ester, Daniel, Esdras, Neemias, 1 e
2Crônicas.
Observa-se que os judeus dividem o Velho Testamento diferente de nós os cristãos,
que obedecemos ao seguinte critério:
1. A LEI. Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio (5 livros);
2. HISTÓRIA. De Josué a Ester (12 livros);
3. POESIA. De Jó a Cantares de Salomão (5 livros);
4. PROFECIA. De Isaías a Malaquias (17 livros);

Essa classificação faz as seguintes mudanças: Deixa de considerar proféticos os


livros de Josué a 2 Reis, aos quais classificamos como históricos e agrupa a eles os livros
de 1 e 2 Crônicas, Rute, Esdras, Neemias e Ester. Incluímos Daniel entre os proféticos e
também o de Lamentações de Jeremias, que aliás, por ser um livro poético, deveria estar
incluído entre a respectiva classe, e nesse caso, teríamos 6 livros poéticos e 16 proféticos.
A formação do Cânon do Velho Testamento foi muito rigorosa, e tudo indica que
além dos livros apócrifos reconhecidos e aludidos, no parágrafo XVII, houve outros
livros que não foram incluídos no cânon sagrado e dos quais nada sabemos senão aquilo
que a Bíblia diz a seu respeito. Exemplos:
1. Livro das Guerras do Senhor (Nm 21.14);
2. Livros dos Justos (Js 10.13; 2Sm 1.18);
3. Livro da história de Salomão (2Rs 11.41);
4. Crônicas dos Profetas Natã e Gad (1Cr 29.29);
5. História do profeta Natã, Profecias de Aias o silonita e Visões de Ido o vidente
(2Cr 9.29; 12.15; 13.22);
6. Crônicas de Jeú (2Cr 20.34);
7. História de Hozai (2Cr 33.19).
A menos que admitamos que esses escritores constem anonimamente dos livros
históricos, seremos forçados a crer que eles foram expurgados do rol daqueles que
merecem a canonicidade. Sabemos haver duas correntes de opiniões a seu: a) Há os que
crêem e afirmam que esses escritos constam dos livros históricos em fórmula de texto
espaços e b) Há os crêem e afirmam que eles figuravam que eles figuravam entre os
apócrifos que foram escusados por este motivo.
Quanto ao período coberto pela escrita e canonicidade dos livros do Velho
Testamento, temos o testemunho de Flávio Josefo, historiador judaico, contemporâneo de
Jesus, que afirma que desde Moisés ao reinado de Artaxerxes I que reinou nos anos 465-

43
424 a.C., todos os livros sagrados do Velho Testamento já estavam arrolados e desde
então nada mais se lhes acrescentou. Veja a respeito de Moisés e da Lei em Gl 3.16,17.
Sobre o critério adotado e as datas da organização do Cânon dos livros do Novo
Testamento, podemos afirmar que desde Jerusalém, nos anos 48 a.C. aos anos 100 a.D., já
os livros que integram o Novo Testamento estavam devidamente selecionados e deles
expurgados os numerosos apócrifos constantes dos parágrafos XVII.

A divisão do Novo Testamento, para efeito de estudos, segue de certo modo a


mesma do Velho Testamento, posto que o fazemos em quatro partes:
1. HISTÓRICO-BIOGRÁFICOS: Mateus, Marcos, Lucas e João – 4 livros
2. HISTÓRIA DA IGREJA APOSTÓLICA NO PRIMEIRO SÉCULO: Atos – 1
livro
3. DIDÁTICA CRISTÃ: As Epístolas – 21 livros
4. PROFECIA: Apocalipse – 1 livro.

Mas, para efeito de estudo sistemático, as Epístolas podem ser subdivididas em:
a) EPÍSTOLAS ECLESIÁSTICAS: Romanos, Gálatas, Efésios, Filipenses,
Colossenses, 1e 2 Tessalonicenses.
b) EPÍSTOLAS PASTORAIS: 1e 2 Coríntios e Tito.
c) EPÍSTOLA PESSOAL: Filemon.
d) EPÍSTOLA AOS HEBREUS.
e) EPÍSTOLAS GERAIS: Tiago, 1 e 2 Pedro, 1,2 e 3 João e Judas.

O CONTEÚDO DO CÂNON NEO-TESTAMENTÁRIO

Como já notamos, o cânon do Novo Testamento tem 27 livros escritos em grego.


Os primeiros cinco são de caráter histórico, sendo quatro os Evangelhos que contém ditos
e feitos de Jesus Cristo, e um é o livro de Atos, escrito por Lucas, o autor do terceiro
Evangelho. Temos 21 cartas escritas por Paulo, Pedro, Tiago, Judas e possivelmente mais
um autor, se Hebreus não é paulino, é o livro de Apocalipse, escrito por João, o mesmo
autor de um dos Evangelhos e três cartas.

AS DATAS DESTES LIVROS

Segundo a informação dada em Lucas 3.1, o ministério de João Batista que


precedeu o início do ministério de Jesus Cristo data do 15° ano de Tibério César. Tibério
tornou-se imperador em agosto de 14 A.D., assim o 15° ano começaria em outubro, 27
D.C. Temos três páscoas mencionadas no evangelho de João, se sendo que a terceira foi a
44
Páscoa de 30 D.C., esta sendo a data mais provável da morte de Cristo na cruz. O Novo
Testamento, como é conhecido hoje, estava completo por volta do ano 1000 D.C. e a
grande parte dos livros já existindo há mais de 40 anos. Pode-se dizer que quase todos os
livros foram escritos antes de 70 D.C.

COMO FOI FORMADO?

Evidência Interna: Isto é do próprio Novo Testamento. O fato é que a Igreja


primitiva recebeu dos judeus a idéia de uma regra de fé e conduta escrita. Esta idéia foi
confirmada pelo Senhor Jesus Cristo, e os escritores do Novo Testamento, que sempre se
referiam ao Velho Testamento como sendo a palavra de D'us escrita. Sabemos que desde
o princípio, a Igreja cristã tem aceitado as palavras de Cristo com a mesma autoridade
com que aceitaram as palavras do Velho Testamento, e aceitaram não apenas isto, mas
declararam os apóstolos que o seu próprio ensino, oral e escrito possuía autoridade
semelhante a do Velho Testamento. Tal era a autoridade de seus escritos, que mandaram
que fosse lido publicamente nas Igrejas (1 Ts 5.27; Cl 4.16; 2 Pe 3.1,2). Era portanto
natural que a literatura do Novo Testamento se acrescentasse ao Velho Testamento. No
próprio Novo Testamento, pode ser que vejamos o início deste processo (1 Tm 5.18; 2 Pe
3.1,2 e 15,16). Além da evidência interna, temos a evidência histórica da formação do
Cânon do Novo Testamento.

O CRITÉRIO CANÔNICO

O critério que a Igreja aplicou como teste de autenticidade era ditado pelas
necessidades de fazer face à controvérsia com hereges e descrentes. Como veremos a
seguir, na seleção do material que iria compor os primeiros escritos, as necessidades
missionárias, ao lado das apologéticas, são o critério para a seleção de testimonia, ditos,
milagres e parábolas de Jesus que, nos primórdios na nova época, iriam formá-los. Eis
alguns critérios de seleção: A apostolicidade A obra em consideração pela Igreja deveria
ter sido escrita por um dos doze ou possuir o que se chamaria hoje de imprimatur
apostólico. O escrito deveria proceder da pena de um apóstolo ou de alguém que estivera
em contato chegado com apóstolo e, quando possível, produzido a seu pedido ou haver
sido especialmente comissionado para fazê-lo. Como conseqüência este documento
deveria pertencer a um período bem remoto. Quanto aos Evangelhos, estes deveriam
manter o padrão apostólico de doutrinas particularmente com referência à encarnação e
ser na realidade um evangelho e não porções de evangelhos, como tantos que circulavam
naquele tempo. A circulação e uso do livro É provável que certos livros houvessem sido
aceitos e circulado como autoridade antes mesmo que qualquer relação com apóstolo,
quer direta, quer indireta, fosse determinada. É deste modo que o escrito recebia o
imprimatur da própria comunidade cristã universal que o usava. Ortodoxia Este era
importante item na escala de padrões de aferimento. Percebe-se nos próprios escritos do
Novo Testamento, que depois formaram seu cânon, o repúdio à falsa doutrina e a luta pela
preservação da ortodoxia, que em Rm 6.17 chama de “padrão de doutrina”, ou o que II
Tm 1.13 denomina “padrão das sãs palavras”, ou ainda o “depósito de I Tm 6.20.
Autoridade diferenciadora Bem cedo, antes mesmo que os Evangelhos fossem
45
mencionados juntos, já os cristãos distinguiam livros que eram citados e lidos como tendo
autoridade divina e outros que continuavam fora do Novo Testamento.

A leitura em público Nenhum livro seria admitido para a leitura pública na Igreja se
não possuísse características próprias. Muitos outros livros circulavam quando Mateus
começou a ser usado pelos cristãos. Poderiam ser bons e de leitura agradável, mas só
serviam para a aleitura em particular. Havia alguns, e entre eles os Evangelhos de modo
restrito e Mateus de modo singular, que se prestavam à leitura e ao comentário perante as
congregações cristãs, como a Lei e os Profetas nas Sinagogas. É o que I Tm 4.13 quer
dizer quando Timóteo é exortado a aplicar-se à leitura, isto é, à “leitura pública das
Escrituras” como sabiamente indica um rodapé da última revisão de Almeida.

O PRIMEIRO SÉCULO d.C.

Não se sabe quando as palavras do Senhor (At 20.35 e 1 Co 7.10) foram registradas
por escrito pela primeira vez. Porém, em mais ou menos 58 D.C., quando Lucas escreveu
seu Evangelho, muitos já haviam empreendido esta tarefa (Lc. 1.1). Pode ser que a
Epístola de Paulo aos Gálatas fosse escrita tão cedo como em 49 d.C. É claro que a
Epistola foi escrita antes de sua morte em 62 d.C. e as outras Epístolas de Paulo e Pedro,
antes da morte deles, na época de 68 d.C. A maior parte do Novo Testamento já estava
escrita antes da queda de Jerusalém em 70 d.C. O Evangelho e as Epístolas de João, e o
Apocalipse, certamente foram completadas antes do fim do primeiro século.

O CÂNON DO NOVO TESTAMENTO E OS PAIS DA IGREJA

Escritores “evangélicos” no fim deste mesmo século mostram que conheciam os


evangelhos e epístolas. A atitude dos cristãos em face das normas da doutrina cristã que
encontramos no fim da época apostólica (isto é, mais ou menos em fins do século I d.C.)
podem ser encontradas no princípio da era pós-apostólica, principalmente na fase mais
antiga dos pais apostólicos.

CLEMENTE, Bispo de Roma - Cerca de 95, escreveu uma carta a Igreja de Corinto, e
nesta carta menciona, 1Coríntios, Efésios, 1Timóteo, Tito, Tiago, o evangelho de João e
Hebreus.

INÁCIO, Bispo de Antioquia - Antes de 117, deixou sete cartas e nelas menciona
passagens dos evangelhos, especialmente Mateus e João e as cartas paulinas, colocando
os escritos do Novo Testamento num plano de autoridade superior aos do Velho
Testamento, em virtude da clareza de seu testemunho.

INÁCIO, Bispo de Antioquia - Antes de 117, deixou sete cartas e nelas menciona
passagens dos evangelhos, especialmente Mateus e João e as cartas paulinas, colocando
os escritos do Novo Testamento num plano de autoridade superior aos do Velho
Testamento, em virtude da clareza de seu testemunho.

46
POLICARPO, que conhecia João pessoalmente, escreveu uma carta em cerca de 105-
108, que menciona cartas de Paulo como autoritativas, principalmente Filipenses, mas
revela conhecimento de Mateus, Atos, Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, 1 e 2
Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, 1 e 2 Pedro e 1 João. Estes escritores distinguiram
claramente entre seus próprios escritos e os escritos dos apóstolos, atribuindo a estes
últimos, inspiração e autoridade. Demonstram estes escritores que, mesmo nesta data
primitiva, os evangelhos e as epístolas do Novo Testamento, já se achavam em circulação
e eram honrados tanto nas igrejas do ocidente como do oriente. 100-150 D.C. - As
Escrituras do Novo Testamento lidas nas Igrejas.

PAPIAS - Cerca de 140 D.C. testifica que “a voz viva dos presbíteros ia sendo
substituída pela autoridade da palavra escrita”. Nos escritores deste período há
referências claras a todos os livros do Novo Testamento, com exceção a 6 ou 7 das
epístolas mais curtas; ele atesta a existência de Mateus e Marcos e o caráter apostólico
destas obras.

JUSTINO, o Mártir (148 D.C.) - fala das recordações dos apóstolos e os que seguiam
como sendo lidas nas igrejas. Tanto hereges, como cristãos ortodoxos, testemunham a sua
autoridade, muitas vezes citando o Novo Testamento e acrescentando “como está escrito”.

150-200 D.C. - Traduções e comentários do Novo Testamento Neste período a Igreja de


Cristo se expandiu e desenvolveu-se. Com a inclusão de homens de novas raças e grande
capacidade, os eruditos fizeram traduções das Escrituras em outras línguas. Remontam a
este tempo a velha versão latina para o povo da África do Norte e a versão Siríaca para o
povo do Oriente Médio. Começaram a aparecer comentários. Houve por exemplo, o
Comentário sobre os oráculos do Senhor, da autoria de Papias (140). Um comentário
sobre o Apocalipse, da autoria de Melito (165). Pouco depois, Tatião escreveu o
DIATESSERON, ou Harmonia dos quatro evangelhos, que se reconheciam como
possuidores de autoridade única. Ao fim do século, Clemente de Alexandria escreveu
seus Esboços, que é um comentário em 7 volumes sobre os livros do Novo Testamento,
que incluía todos os livros do Novo Testamento, mais a epístola de Barnabé e o
Apocalipse de Pedro (que foram excluídos do cânon).
200 - 300 - Colecionam-se e separam-se os livros do Novo Testamento ORÍGENES, é um
erudito da época, era tão trabalhador que se diz que empregou 7 estenógrafos que
revezavam no trabalho de registro do que ditava, além de 7 copistas e outros que
ajudavam na parte de secretaria. Redigiu ele do texto do Novo Testamento, defendeu sua
inspiração, escreveu comentários ou discursos sobre a maioria dos livros.

TERTULIANO (cerca de 200) foi o primeiro a chamar a coleção que temos de “Novo
Testamento”, assim colocando-a ao mesmo nível de inspiração como os livros do Velho
Testamento. BIBLIOTECAS se formaram em Alexandria, Jerusalém, Cesaréia,
Antioquia, Roma e ainda outras cidades, das quais a parte mais importante consistia em
manuscritos e comentários das Escrituras.
300 - 400 - O cânon bem estabelecido Vários fatores contribuíram para tornar importante
a distinção entre livros canônicos e outros livros não canônicos. Alguns dos fatores eram:
47
a) - A coleção num só livro dos livros inspirados.
b) - Serem reconhecidos estes livros com a autoridade da fé cristã.
c) - O aumento das heresias e falsa doutrina.

Antes do fim do quarto século, todas as Igrejas tinham reconhecido o cânon do


Novo Testamento, como o temos hoje. Eusébio, conta até que ponto o assunto do Cânon
chegara a seu tempo (316 d.C.).
1) - Aceitos universalmente - Os 4 evangelhos, Atos, Epístolas de Paulo (incluindo
Hebreus), I Pedro, I João e Apocalipse.
2) - Disputado por alguns - Embora admitidos pela maioria e pelo próprio Eusébio, Tiago,
II Pedro, II e III João, Hebreus e Judas.
3) - Não genuínos - Atos de Paulo, Didache (ensinos dos Apóstolos), o Evangelho dos
egípcios, o Evangelho de Tomé, o Evangelho das basilidas, o Evangelho de Matias e o
Pastor de Hermes.

No ano de 367, Atanásio pela primeira vez apresentou um cânone do Velho e Novo
Testamentos firmemente circunscritos, dentro do qual eram definidas as classes
individuais dos textos e de sua seqüência. Ele designou vinte e sete livros como sendo os
únicos realmente canônicos do nosso Novo Testamento; ninguém pode acrescentar mais
nada a este número, bem como ninguém pode retirar coisa alguma. O 3° Concílio de
Cartago (397) mandou que: “além das Escrituras canônicas, nada se lesse na igreja sob o
título de “Escrituras divinas”. A discussão a respeito do cânon nos séculos subseqüentes
se acalmou, porém, muitos eruditos tem se perguntado a si mesmos porque haveriam eles
de concordar com a resolução já feita. Agostinho disse que concordou por causa da
natureza dos próprios livros e pela unidade praticamente completa entre os cristãos neste
assunto. Calvino baseava a sua crença na autoridade desses livros no testemunho do
Espírito Santo. Nós aceitamos por todas essas razões, mas principalmente porque já
provamos em nossas vidas a veracidade de tudo aquilo que está escrito. Quando vivemos
pelas Escrituras, descobrimos que elas são suficientes para todas as nossas necessidades,
completas em si mesmas. A única regra de fé e prática.

48
XVIII. OS LIVROS APÓCRIFOS.
Por apócrifo, entende-se em literatura judaico-cristã, um escrito que não é
reconhecido como canônico e, portanto não tem os lustres da inspiração divina, é espúrio,
é falso quanto a este aspecto fundamental a um livro que se preste ao ensino da verdade a
ser seguido por aqueles que se chegam a Deus. Noutras palavras, é uma literatura
duvidosa tanto em autoria, quanto em valor sagrado.
Há duas correntes distintas de livros apócrifos:
1. Os apócrifos correspondentes ao Velho Testamento e, portanto judaicos;
2. Os apócrifos correspondentes ao Novo Testamento, e pseudocristãos.

Os livros rejeitados por todos — pseudepígrafos


Grande número de documentos religiosos espúrios que circulavam entre a antiga
comunidade judaica são conhecidos como “pseudepígrafos”. Nem tudo nesses escritos
“pseudepigráficos” é falso. De fato, a maior parte desses documentos surgiu de dentro de
um contexto de fantasia ou tradição religiosa, possivelmente com raízes em alguma
verdade. Com freqüência a origem desses escritos estava na especulação espiritual, a
respeito de algo que não ficou bem explicado nas Escrituras canônicas. As tradições
especulativas a respeito do patriarca Enoque, por exemplo, sem dúvida são a raiz do livro
de Enoque. De maneira semelhante, a curiosidade a respeito da morte e da glorificação de
Moisés sem dúvida alguma acha-se por trás da obra Assunção de Moisés. No entanto,
essa especulação não significa que não exista verdade nenhuma nesses livros. Ao
contrário, o Novo Testamento refere-se a verdades implantadas nesses dois livros (v. Jd
14,15) e chega a aludir à penitência de Janes e Jambres (2Tm 3.8). Entretanto, esses
livros não são mencionados como dotados de autoridade, como Escrituras inspiradas. À
semelhança das citações que Paulo faz de alguns poetas não-cristãos, como Arato (At
17.28), Menânder (1Co 15.33) e Epimênides (Tt 1.12), trata-se tão-somente de verdades
verificáveis, contidas em livros que em si mesmos nenhuma autoridade divina têm. A
verdade é sempre verdade, não importa onde se encontre, quer pronunciada por um poeta
pagão, quer por um profeta pagão (Nm 24.17), por um animal irracional e mudo (Nm
22.28) ou mesmo por um demônio (At 16.17).
Observe que nenhuma fórmula como “está escrito” ou “segundo as| Escrituras” é
utilizada quando o escritor sagrado se refere a tais obras! “pseudepigráficas”. É possível
que o fato mais perigoso a respeito desses falsos escritos é que alguns elementos da
verdade são apresentados comi palavras de autoridade divina, num contexto de fantasias
religiosas que em geral contêm heresias teológicas. É importante que nos lembremos! de
que Paulo cita apenas aquela faceta da verdade, e não o livro pagão j como um todo,
como conceito a que Deus atribuiu autoridade e fez constar do Novo Testamento.
A natureza dos pseudepígrafos
Os pseudepígrafos do Antigo Testamento contêm os extremos da fantasia religiosa
judaica expressos entre 200 a.C. e 200 d C Alguns desses livros são inofensivos
teologicamente (e.g., Sl 151), mas outros contêm erros históricos e claras heresias.
Desafia-se com vigor a genuinidade desses livros pelo fato de haver quem afirme que
foram escritos por autores bíblicos. Os pseudepígrafos” refletem o estilo literário vigente
num período muito posterior ao encerramento dos escritos proféticos, de modo que
49
muitos desses livros imitam o estilo apocalíptico de Ezequiel, de Daniel e de Zacarias -ao
referir-se a sonhos, visões e revelações. No entanto, diferentemente desses profetas, os
“pseudepígrafos” com freqüência tornam-se mágicos. Os pseudepígrafos” ressaltam,
sobretudo, um brilhante futuro messiânico, cheio de recompensas para todos quantos
vivem em sofrimento e abnegação. Sob a superfície existe, com freqüência, um motivo
religioso inocente, porém desencaminhado. Todavia, a infundada reivindicação de
autoridade divina, o caráter altamente fantasioso dos acontecimentos e os ensinos
questionáveis (e até mesmo heréticos) levaram os pais do judaísmo a considerá-los
espúrios. O resultado, pois, é que tais livros foram corretamente rotulados de
“pseudepígrafos”.

O número dos pseudepígrafos


A coleção modelar de “pseudepígrafos” contém dezessete livros. Acrescente-se o
salmo 151, que se encontra na versão do Antigo Testamento feita pelos Setenta. A lista
principal é a seguinte:

OS APÓCRIFOS DO VELHO TESTAMENTO


1. O livro do Jubileu
2. Epístola de Aristéias
3. O livro de Adão e Eva
4. O martírio de Isaías
ípticos 1. 1Enoque
2. Testamento dos doze patriarcas
3. O oráculo sibilino
4. Assunção de Moisés
5. 2Enoque, ou O livro dos segredos de Enoque
6. 2Baruque, ou O apocalipse siríaco de Baruque *
7. 3Baruque, ou O apocalipse grego de Baruque
1. 3Macabeus
2. 4Macabeus
3. Pirque Abote
4. A história de Aicar
1. Salmos de Salomão
2. Salmo 151
1. Fragmentos de uma obra de Sadoque

De modo nenhum essa lista é completa. Outros são conhecidos, mesmo alguns muito
interessantes que vieram à luz quando da descoberta dos rolos do mar Morto. Dentre
esses estão o Gênesis apócrifo e Guerra dos filhos da luz contra os filhos das trevas etc.
(v. cap. 12).

*
Bâruque está relacionado entre os apócrifos (v. p, 92).
50
V. Os livros questionados por alguns — antilegômeno

A natureza dos antilegomena


Os livros que originariamente eram aceitos como canônicos, e mesmo mais tarde
também assim reconhecidos, tendo sido, porém, objeto de grave controvérsia entre os
rabis, durante o processo de canonização, são de grande interesse para nós. No capítulo
anterior, vimos como todos os 39 livros do Antigo Testamento foram de início aceitos
pelo povo de Deus, vindos dos profetas. Durante os séculos seguintes, surgiu e
desenvolveu-se uma escola de pensamento diferente, dentro do judaísmo, que passou a
questionar/entre outras coisas, a canonicidade de certos livros do Antigo Testamento que,
antes, haviam sido canonizados. Por fim, tais livros foram reconduzidos ao cânon
sagrado, por haver prevalecido a categoria de inspirados que lhes havia sido atribuída de
início. No entanto, em vista de tais livros terem sido, nesta ou naquela época, difamados
por alguns rabis, passaram a chamar-se “antilegomena”.
O número dos antilegomena
A canonicidade de cinco livros do Antigo Testamento foi questionada numa ou
noutra época por algum mestre do judaísmo: Cântico dos Cânticos, Eclesiastes, Ester,
Ezequiel e Provérbios. Cada um deles tornou-se controvertido por razões diferentes;
todavia, no fim prevaleceu a autoridade divina de todos os cinco livros.
Cântico dos Cânticos. Alguns estudiosos da escola de Shammai consideravam esse
cântico sensual em sua essência. Sabidamente numa tentativa de abafar a controvérsia e
defender a canonicidade do Cântico dos Cânticos, o rabino Aquiba escreveu o seguinte:
Livre-nos Deus! Ninguém jamais em Israel criou controvérsia acerca do Cântico dos
Cânticos, alegando não tornar imundas as mãos [i.e., não ser canônico]; todas as eras
somadas não equivalem ao dia em que o Cântico dos Cânticos foi dado a Israel Todos os
Escritos são santos, mas o Cântico dos Cânticos é o Santo dos Santos. 11
Como bem observaram alguns, o simples fato de surgir uma declaração desse teor dá
mostras de que alguém duvidou da pureza desse livro. Quaisquer que tenham sido as
dúvidas voltadas para o alegado caráter sensual do Cântico dos Cânticos, foram mal
orientadas. É muito mais provável que a pureza e a nobreza do casamento façam parte do
propósito essencial desse livro. Sejam quais forem as questões levantadas a respeito das
várias interpretações, não deve prevalecer nenhuma dúvida concernente à inspiração
desse livro, desde que seja visto da perspectiva espiritual correta.
Eclesiastes. A objeção que às vezes é atirada contra esse livro é que ele parece
cético. Alguns até o têm chamado O cântico do ceticismo. O rabino Aquiba dizia: “Se há
algo em questão, a questão gira em torno só do Eclesiastes [e não do Cântico]”. 12 Não
resta a menor dúvida a respeito do tom às vezes cético do livro: “Vaidade das vaidades
[...] tudo é vaidade! [...] nada há novo debaixo do sol [...] na muita sabedoria há muito
enfado; o que aumenta o conhecimento aumenta a tristeza” (Ec 1.2,9,18).

11
Herbert DANBY, The Mishnah, Oxford, Oxford University Press», 1933, p, 782.
12
Ibid.
51
O que se negligencia quando se acusa o livro de ceticismo é tanto o contexto dessas
declarações quanto a conclusão geral do livro. Qualquer pessoa que procure a máxima
satisfação “debaixo do sol” com toda certeza há de sentir as mesmas frustrações sofridas
por Salomão, visto que a felicidade eterna não se encontra neste mundo temporal. Além
do mais, A conclusão e o ensino genérico desse livro todo estão longe de ser céticos.
Depois “de tudo o que se tem ouvido”, o leitor é admoestado, “a conclusão é: Teme a
Deus, e guarda os seus mandamentos, pois isto é todo o dever do homem” (Ec 12.13).
Tanto no que se refere ao Eclesiastes, Como ao Cântico dos Cânticos, o problema básico
é de interpretação do texto, e não de canonização ou inspiração.
Ester. Em vista da ausência do nome de Deus nesse livro, alguns pensaram que ele
não fosse inspirado. Perguntavam como podia um livro ser Palavra de Deus se nem ao
menos trazia o seu nome. Além disso, a história do livro parece ter natureza puramente
secular. O resultado é que se fizeram várias tentativas para explicar o fenômeno da
aparente ausência do nome de Deus em Ester.
Alguns acreditaram que os judeus persas não estavam na linhagem teocrática, e por
isso o nome do Deus da aliança não se relacionava a eles. Outros sustentam que a
omissão do nome de Deus é proposital, a fim de proteger o livro da possibilidade do
plágio pagão: o nome de Deus ser substituído por um falso deus. Ainda outros conseguem
ver o nome de Jeová ou Iavé (YHWH) num acróstico em quatro momentos cruciais na
história, o que em si eliminaria a possibilidade. Seja qual for a explicação, uma coisa é
certa: a ausência do nome de Deus é compensada pela presença de Deus na preservação
de seu povo. Ester e as pessoas que a cercavam eram devotas: prescreveu-se um jejum
religioso, e Ester exerceu grande fé (Et 4.16). O fato de Deus haver concedido grande
livramento, como narra o livro, serve de fundamento e razão da festa judaica do Purim
(Et 9.26-28). Basta esse fato para demonstrar a autoridade atribuída ao livro dentro do
judaísmo.
Ezequiel. Havia pessoas dentro da escola rabínica que pensavam que o livro de
Ezequiel era antimosaico em seu ensino. A escola de Shammai, por exemplo, achava que
o livro não estava em harmonia com a lei mosaica, e que os primeiros dez capítulos
exibiam uma tendência para o gnosticismo. É claro, então, que, se houvesse contradições
no livro, ele não poderia ser canônico. No entanto, não se verificaram contradições reais
em relação à Tora. Parece que outra vez teria sido mera questão de interpretação, e não de
inspiração.
Provérbios. A objeção a Provérbios centrava-se no fato de alguns dos ensinos do
livro parecerem incompatíveis com outros provérbios. Falando dessa alegada incoerência
interna, assim diz o Talmude: “Também procuraram esconder o livro de Provérbios,
porque suas palavras se contradiziam entre si” (“Shabbath”, 30b). Uma dessas supostas
contradições encontra-se no capítulo 26, em que o leitor é exortado a responder e ao
mesmo tempo não responder ao tolo segundo sua tolice: “Responde ao tolo segundo a sua
estultícia, para que não seja ele sábio aos seus próprios olhos” (Pv 26.4,5). Todavia, como
outros rabis têm observado, o sentido aqui é que há ocasiões em que o tolo deve receber
resposta de acordo com sua tolice, e outras ocasiões em que isso não deve ocorrer. Visto
que as declarações estão explicitadas em versículos sucessivos, forma legítima da poesia
52
hebraica, quem os redigiu não viu nenhuma contradição.' A frase qualificativa que indica
se alguém deveria ou não responder a um tolo revela que as situações que exigem reações
diferentes também são diferentes. Não existe contradição em Provérbios 26, nenhuma
contradição ficou demonstrada em nenhuma outra passagem de Provérbios, e, por isso,
nada atravanca o caminho da canonicidade.
VI. Os livros aceitos por alguns — apócrifos
O âmbito mais crucial de desacordo a respeito do cânon do Antigo Testamento entre
os cristãos é o debate sobre os chamados livros apócrifos.
Em suma: esses livros são aceitos pelo católicos romanos como canônicos e
rejeitados por protestantes e judeus. Na realidade, os sentidos da palavra apocrypha
refletem o problema que se manifesta nas duas concepções de sua canonicidade. No
grego clássico, a palavra apocrypha significava “oculto” ou “difícil de entender”.
Posteriormente, tomou o sentido de esotérico, ou algo que só os iniciados podem
entender, não os de fora. Pela época de Irineu e de Jerônimo (séculos III e IV), o termo
apocrypha veio a ser aplicado aos livros não-canônicos do Antigo Testamento, mesmo
aos que foram classificados previamente como “pseudepígrafos”. Desde a era da
Reforma, essa palavra tem sido usada para denotar os escritos judaicos não-canônicos
originários do período intertestamentário. A questão diante de nós é a seguinte: verificar
se os livros eram escondidos a fim de ser preservados, porque sua mensagem era
profunda e espiritual ou porque eram espúrios e de confiabilidade duvidosa.
VII. Natureza e número dos apócrifos do Antigo Testamento
Há quinze livros chamados apócrifos (catorze se a Epístola de Jeremias se unir a
Baruque, como ocorre nas versões católicas de Douai). Com exceção de 2 Esdras, esses
livros preenchem a lacuna existente entre Malaquias e Mateus e compreendem
especificamente dois ou três séculos antes de Cristo. Na página seguinte se podem ver
suas datas e classificação:
Argumentos em prol da aceitação dos apócrifos do Antigo Testamento
Os livros apócrifos do Antigo Testamento têm recebido diferentes graus de aceitação
pelos cristãos. A maior parte dos protestantes e dos judeus aceita que tenham valor
religioso e mesmo histórico, sem terem, contudo, autoridade canônica. Os católicos
romanos desde o Concilio de Trento têm aceito esses livros como canônicos. Mais
recentemente, os católicos romanos têm defendido a idéia de uma deuterocanonicidade,
mas os livros apócrifos ainda são usados para dar apoio a doutrinas extrabíblicas, tendo
lido proclamados como livros de inspiração divina no Concilio de Trento. Outros grupos,
como os anglicanos e várias igrejas ortodoxas, nutrem deferentes concepções a respeito
dos livros apócrifos. A seguir apresentamos Um resumo dos argumentos que em geral são
aduzidos para a aceitação desses livros, na crença de que detêm algum tipo de
canonicidade:
1.Alusões no Novo Testamento. O Novo Testamento reflete o pensamento i registra
alguns acontecimentos dos apócrifos. Por exemplo, o livro de Hebreus fala de mulheres
que receberam seus mortos pela ressurreição Hb 11,35), e faz referência a 2 Macabeus 7 e
12, Os chamados apócrifos ou pseudepígrafos são também citados em sua amplitude pelo
Novo Testamento (Jd 14,15; 2Tm 3.8).
53
2.Emprego que o Novo Testamento faz da versão dos Septuaginta. A tradução grega
do Antigo Testamento hebraico, em Alexandria, é conhecida como Septuaginta (LXX). É a
versão mais citada pelos autores do Novo Testamento e pelos cristãos primitivos. A LXX
continha os livros apócrifos. A presença desses livros na LXX dá apoio ao cânon
alexandrino, mais amplo, do Antigo Testamento, em oposição ao cânon palestino, mais
reduzido, que os omite.
3.Os mais antigos manuscritos completos da Bíblia. Os mais antigos manuscritos
gregos da Bíblia contêm os livros apócrifos inseridos entre os livros do Antigo
Testamento. Os manuscritos Aleph, A e B (v. Cap. 12) incluem esses livros, revelando que
faziam parte da Bíblia cristã original.
4. A arte cristã primitiva. Alguns dos registros mais antigos da arte cristã refletem o uso
dos apócrifos. As representações nas catacumbas às vezes se baseavam na história dos fiéis
registrada no período intertestamentário.
TABELA DE LIVROS APÓCRIFOS
Gênero do livro Versão revista padrão Versão de Doual
Didático 1. Sabedora de Salomão (c. 30 a.C.) O livro da sabedoria
2. Eclesiástico (Siraque) (132 a.C.) Eclesiástico
Religioso 3. Tobias (c. 200 a.C.) Tobias
Romance 4. Judite (c. 150 a.C.) Judite
Histórico 5. 1Esdras (c. 150-100 a.C.) 3Esdras *
6. 1Macabeus (c. 110 a.C.) 1Macabeus
7. 2Macabeus (c. 110-70 a.C.) 2Macabeus
Profético 8. Baruque (c. 150-50 a.C.) Baruque 1-5
9. Epístola de Jeremias (c. 300-100 a.C.) Baruque 6
10. 2Esdras (c. 100 a.C.) 4Esdras **
Lendário 11. Adições a Ester (140-110 a.C.) Ester 10:4 – 16:24
12. Oração de Azarias (séculos I ou II a.C.) Daniel 3:24-90 **
(Cântico dos três jovens)
13. Susana (século I ou II a.C.) Daniel 13 **
14. Bel e o Dragão (c. 100 a.C.) Daniel 14 **
15. Oração de Manassés (século I ou II a.C.) Oração de Manassés *

5. Os primeiros pais da igreja. Alguns dos mais antigos pais da igreja, de modo
particular os do Ocidente, aceitaram e usaram os livros apócrifos em seu ensino e
pregação. E até mesmo no Oriente, Clemente de Alexandria reconheceu 2 Esdras como
inteiramente canônico. Orígenes acrescentou Macabeus bem como a Epístola de
Jeremias à lista de livros bíblicos canônicos. Irineu mencionava O livro da sabedoria, e
outros pais da igreja citavam outros livros apócrifos.
6. A influência de Agostinho. Agostinho (c. 354-430) elevou a tradição ocidental
mais aberta, a respeito dos livros apócrifos, ao seu apogeu, ao atribuir-lhes categoria
canônica. Ele influenciou os concílios da igreja, em Hipo (393 d.C.) e em Cartago (397
d.C), que relacionaram os apócrifos como canônicos. A partir de então, a igreja ocidental
passou a usar os apócrifos em seu culto público.

*
Livros não aceitos como canônicos no Concilio de Trento, em 1546.
**
Livros não relacionados no sumário de Douai por estarem apensos a outros livros.
54
7. O Concilio de Trento. Em 1546, o concilio católico romano do pós-Reforma,
realizado em Trento, proclamou os livros apócrifos como canônicos, declarando o
seguinte:
O sínodo [...] recebe e venera [...] todos os livros, tanto do Antigo Testamento como
do Novo [incluindo-se os apócrifos] — entendendo que um único Deus é o Autor de
ambos os testamentos [...] como se houvessem sido ditados pela boca do próprio Cristo,
ou pelo Espírito Santo [...] se alguém não receber tais livros como sagrados e canônicos,
em todas as suas partes, da forma em que têm sido usados e lidos na Igreja Católica [...]
seja anátema.13
Desde esse concilio de Trento, os livros apócrifos foram considerados canônicos,
detentores de autoridade espiritual para a Igreja Católica Romana.
8. Uso não-católico. As Bíblias protestantes desde a Reforma com freqüência
continham os livros apócrifos. Na verdade, nas igrejas anglicanas os apócrifos são lidos
regularmente nos cultos públicos, ao lado dos demais livros do Antigo e do Novo
Testamento. Os apócrifos são também usados pelas igrejas de tradição ortodoxa oriental.
9. A comunidade do mar Morto. Os livros apócrifos foram encontrados entre os
rolos da comunidade do mar Morto, em Qumran. Alguns haviam sido escritos em
hebraico, o que seria indício de terem sido usados por judeus palestinos antes da época de
Jesus.
Resumindo todos esses argumentos, essa postura afirma que o amplo emprego dos
livros apócrifos por parte dos cristãos, desde os tempos mais primitivos, é evidência de
sua aceitação pelo povo de Deus. Essa longa tradição culminou no reconhecimento oficial
desses livros, no Concílio de Trento (1546), como se tivessem sido inspirados por Deus.
Mesmo não-católicos, até o presente momento, conferem aos livros apócrifos uma
categoria de paracanônicos, o que se deduz do lugar que lhes dão em suas Bíblias e em
suas igrejas.
Razões por que se rejeita a canonicidade dos apócrifos
Os oponentes dos livros apócrifos têm apresentado muitas razões para excluí-los do
rol de livros canônicos. Seus argumentos serão apresentados na mesma ordem dos
argumentos levantados pelos que advogam a aceitação de um cânon maior.
1.A autoridade do Novo Testamento. O Novo Testamento jamais cita um livro
apócrifo indicando-o como inspirado. As alusões a tais livros não lhes emprestam
autoridade, assim como as alusões neotestamentárias a poetas pagãos não lhes conferem
inspiração divina. Além disso, desde que o Novo Testamento faz citações de quase todos
os livros canônicos do Antigo e atesta o conteúdo e os limites desse Testamento (omitindo
os apócrifos — v. cap. 7), parece estar claro que o Novo Testamento indubitavelmente
exclui os apócrifos do cânon hebraico. Josefo, o historiador judeu, rejeita expressamente
os apócrifos, relacionando apenas 22 livros canônicos.
2. A tradução dos Septuaginta. A Palestina é que era o lar do cânon judaico, jamais a
Alexandria, no Egito. O grande centro grego do saber, no Egito, não tinha autoridade para
saber com precisão que livros pertenciam ao Antigo Testamento judaico. Alexandria era o
13
Philip SCHAFF, org., The creads of Christendom, 6a, ed. rev., New York, Harper, 1919/ p. 81, v. 2.
55
lugar da tradução, não da canonização. O fato de a Septuaginta conter os apócrifos
apenas comprova que os judeus alexandrinos traduziram os demais livros religiosos
judaicos do período intertestamentário ao lado dos livros canônicos. Filo, o judeu
alexandrino, rejeitou com toda a clareza a canonicidade dos apócrifos, no tempo de
Cristo, assim como o judaísmo oficial em outros lugares e épocas. De fato, as cópias
existentes da LXX datam do século IV d.C. e não comprovam que livros haviam sido
incluídos na LXX de épocas (interiores,
3. A Bíblia cristã primitiva. Os mais antigos manuscritos gregos da Bíblia datam do
século IV. Seguem a tradição da LXX, que contém os apócrifos. Como foi observado
acima, era uma tradução grega, e não o cânon hebraico. Jesus e os escritores do Novo
Testamento quase sempre fizeram citações da LXX, mas jamais mencionaram um livro
sequer dentre os apócrifos. No máximo, a presença dos apócrifos nas Bíblias cristãs do
século IV mostra que tais livros eram aceitos até certo ponto por alguns cristãos, naquela
época. Isso não significa que os judeus ou os cristãos como um todo aceitaram esses
livros como canônicos, isso sem mencionarmos a igreja universal, que nunca os teve na
relação de livros canônicos.
4. A arte cristã primitiva. As representações artísticas não constituem base para
apurar a canonicidade dos apócrifos. As representações pintadas nas catacumbas,
extraídas de livros apócrifos, apenas mostram que os crentes daquela era estavam cientes
dos acontecimentos do período intertestamentário e os consideravam parte de sua herança
religiosa. A arte cristã primitiva não decide nem resolve a questão da canonicidade dos
apócrifos.
5. Os primeiros pais da igreja. Muitos dos grandes pais da igreja em seu começo,
dos quais Melito, Orígenes, Cirilo de Jerusalém e Atanásio, depuseram contra os
apócrifos. Nenhum dos primeiros pais de envergadura da igreja, anteriores a Agostinho,
aceitou todos os livros apócrifos canonizados em Trento.
6. O cânon de Agostinho. O testemunho de Agostinho não é definitivo, nem isento
de equívocos. Primeiramente, Agostinho às vezes faz supor que os apócrifos apenas
tinham uma deuterocanonicidade (Cidade de Deus, 18,36), e não canonicidade absoluta.
Além disso, os Concílios de Hipo e de Cartago foram pequenos concílios locais,
influenciados por Agostinho e pela tradição da Septuaginta grega. Nenhum estudioso
hebreu qualificado esteve presente em nenhum desses dois concílios. O especialista
hebreu mais qualificado da época, Jerônimo, argumentou fortemente contra Agostinho, ao
rejeitar a canocidade dos apócrifos. Jerônimo chegou a recusar-se a traduzir os apócrifos
para o latim, ou mesmo incluí-los em suas versões em latim vulgar (Vulgata latina). Só
depois da morte de Jerônimo e praticamente por cima de seu cadáver, é que os livros
apócrifos foram incorporados à Vulgata latina (v. cap. 18).
7. O Concilio de Trento. A ação do Concilio de Trento foi ao mesmo tempo
polêmica e prejudicial. Em debates com Lutero, os católicos romanos haviam citado
Macabeus, em apoio à oração pelos mortos (v. 2Macabeus 12.45,46). Lutero e os
protestantes que o seguiam desafiaram a canonicidade desse livro, citando o Novo
Testamento, os primeiros pais da igreja e os mestres judeus, em apoio. O Concilio de
Trento reagiu a Lutero canonizando os livros apócrifos. A ação do Concilio não foi
56
apenas patentemente polêmica, foi também prejudicial, visto que nem todos os catorze
(quinze) livros apócrifos foram aceitos pelo Concilio. Primeiro e Segundo Esdras (3 e
4Esdras dos católicos romanos; a versão de Douai denomina 1 e 2Esdras,
respectivamente, os livros canônicos de Esdras e Neemias) e a Oração de Manasses
foram rejeitados. A rejeição de 2Esdras é particularmente suspeita, porque contém um
versículo muito forte contra a oração pelos mortos (2Esdras 7.105). Aliás, algum escriba
medieval havia cortado essa seção dos manuscritos latinos de 2Esdras, sendo conhecida
pelos manuscritos árabes, até ser reencontrada outra vez em latim por Robert L. Bentley,
em 1874, numa biblioteca de Amiens, na França.
Essa decisão, em Trento, não refletiu uma anuência universal, indisputável, dentro
da Igreja Católica e na Reforma. Nessa exata época o cardeal Cajetan, que se opusera a
Lutero em Augsburgo, em 1518, publicou Comentário sobre todos os livros históricos
fidedignos do Antigo Testamento, em 1532, omitindo os apócrifos. Antes ainda desse fato,
o cardeal Ximenes havia feito distinção entre os apócrifos e o cânon do Antigo
Testamento, em sua obra Poliglota complutense (1514-1517). Tendo em mente essa
concepção, os protestantes em geral rejeitaram a decisão do Concilio de Trento, que não
tivera base sólida.
8.Uso não-católico. O uso dos livros apócrifos entre igrejas ortodoxas, anglicanas e
protestantes foi desigual e diferenciado. Algumas os usam no culto público. Muitas
Bíblias contêm traduções dos livros apócrifos, ainda que colocados numa seção à parte,
em geral entre o Antigo e o Novo Testamento. Ainda que não-católicos façam uso dos
livros apócrifos, nunca lhes deram a mesma autoridade canônica do resto da Bíblia. Os
não-católicos usam os apócrifos em seus devocionais, mais do que na afirmação
doutrinária.
9. Os rolos do mar Morto. Muitos livros não-canônicos foram descobertos em
Qumran, dentre os quais comentários e manuais. Era uma biblioteca que continha
numerosos livros não tidos como inspirados pela comunidade. Visto que na biblioteca de
Qumran não se descobriram comentários nem citações autorizadas sobre os livros
apócrifos, não existam evidências de que eram tidos como inspirados. Podemos presumir,
portanto que aquela comunidade cristã não considerava os apócrifos canônicos. Ainda
que se encontrassem evidências em contrário, o fato de esse grupo ser uma seita que se
separara do judaísmo oficial mostraria ser natural que não fosse ortodoxo em todas as
suas crenças. Tanto quanto podemos distinguir, contudo, esse grupo era ortodoxo quanto
à canonicidade do Antigo Testamento. Em outras palavras, não aceitavam a canonicidade
dos livros apócrifos.
VIII. Resumo e conclusão
O cânon do Antigo Testamento até a época de Neemias compreendia 22 (ou 24)
livros em hebraico, que, nas Bíblias dos cristãos, seriam 39, como já se verificara por
volta do século IV a.C. As objeções de menor monta a partir dessa época não mudaram o
conteúdo do cânon. Foram nu livros chamados apócrifos, escritos depois dessa época, que
obtiveram grande circulação entre os cristãos, por causa da influência da tradução grega
de Alexandria. Visto que alguns dos primeiros pais da igreja, de modo especial no
Ocidente, mencionaram esses livros em seus escritos, a igreja (em grande parte por
57
influência de Agostinho) deu-lhes uso mais amplo e eclesiástico. No entanto, até a época
da Reforma esses livros não eram considerados canônicos. A canonização que receberam
no Concilio de Trento não recebeu o apoio da história. A decisão desse concilio foi
polêmica e eivada de preconceito, como já o demonstramos.
Que os livros apócrifos, seja qual for o valor devocional ou eclesiástico que
tiverem, não são canônicos, comprova-se pelos seguintes fatos:
1. A comunidade judaica jamais os aceitou como canônicos.
2. Não foram aceitos por Jesus, nem pelos autores do Novo Testamento.
3. A maior parte dos primeiros grandes pais da igreja rejeitou sua Canonicidade.
4. Nenhum concilio da igreja os considerou canônicos senão no final do século IV.
5. Jerônimo, o grande especialista bíblico e tradutor da Vulgata, rejeitou fortemente os
livros apócrifos.
6. Muitos estudiosos católicos romanos, ainda ao longo da Reforma, rejeitaram os livros
apócrifos.
7. Nenhuma igreja ortodoxa grega, anglicana ou protestante, até a premente data,
reconheceu os apócrifos como inspirados e canônicos, no sentido integral dessas palavras.
À vista desses fatos importantíssimos, torna-se absolutamente necessário que os cristãos
de hoje jamais usem os livros apócrifos como se foram Palavra de Deus, nem os citem em
apoio autorizado a qualquer doutrina cristã.
Com efeito, quando examinados segundo os critérios elevados de canonicidade,
estabelecidos e discutidos no capítulo 6, verificamos que aos livros apócrifos falta o
seguinte:
1.Os apócrifos não reivindicam ser proféticos.
2.Não detêm a autoridade de Deus.
3.Contêm erros históricos (v. Tobias 1.3-5 e 14.11) e graves heresias teológicas, como a
oração pelos mortos (2Macabeus 12.45[46]; 4).
4. Embora seu conteúdo tenha algum valor para a edificação nos momentos devocionais,
na maior parte se trata de texto repetitivo; são textos que já se encontram nos livros
canônicos.
5. Há evidente ausência de profecia, o que não ocorre nos livros canônicos. Os apócrifos
nada acrescentam ao nosso conhecimento das verdades messiânicas.
7. O povo de Deus, a quem os apócrifos teriam sido originariamente apresentados,
recusou-os terminantemente.
A comunidade judaica nunca mudou de opinião a respeito dos livros apócrifos.
Alguns cristãos têm sido menos rígidos e categóricos; mas, seja qual for o valor que se
lhes atribui, fica evidente que a igreja como um todo nunca aceitou os livros apócrifos
como Escrituras Sagradas.

58
Até aonde vai o nosso conhecimento, os apócrifos do Velho Testamento são em
número de nove (09), a saber, os que foram reconhecidos canônicos pelo Concílio de
Trento, Itália, reunido em 1545 a 1563 e reconhecido como Concílio Contra-Reforma-
Protestante. Esses nove livros têm os seguintes títulos: Tobias, Judite, acréscimo ao livro
de Ester do capítulo 10.5 ao fim do capítulo 16, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico,
Baruque com a carta de Jeremias, a história de Bel e o Dragão e a história de Susana
(capítulos 13 e 14) e mais o acréscimo do capítulo 3.57-90, 1 e 2 Macabeus. Conforme
foi dito acima, estes apócrifos são acrescidos ao Velho Testamento, por interpolação feita
pelo Concílio de Trento, mas nunca foram reconhecidos pelos rabinos judaicos como
livros canônicos e tão pouco pelos cristãos evangélicos universais. A mais desses
acréscimos, algumas edições católicas incluem também outro a que denominam de
Oração de Manassés.
O motivo porque o Concílio de Trento incluiu esses apócrifos foi a ênfase dada
pelos evangélicos contra a idolatria, as orações pelos mortos e coisas semelhantes,
portanto, para terem algo em que se apegarem, incluíram tais livros ao Velho Testamento.
Mas, eles foram infelizes em seu intento, porque nem mesmo os rabinos modernistas
entre os judeus deram valor a eles e por este motivo na tradução de Matos Soares, cada
acréscimo destes é precedido duma nota em que os denominam de “Deuterocanônicos”,
significando que eles não fazem parte dos antigos livros reconhecidos canônicos.

O VALOR DOS APÓCRIFOS


Não podemos dizer que esses livros não têm nenhum valor, pois não seria verdade.
Tem valor, mas não como as Escrituras. São livros de grande antigüidade e valor real. Do
mesmo modo que os manuscritos do Mar Morto, são monumentos a atividade literária
dos judeus, estes também são. Em parte, preenchem a lacuna histórica entre Malaquias e
Mateus, e ilustram a situação religiosa do povo de Deus naquela época.
PORQUE NÃO FORAM ACEITOS NO CÂNON DO VELHO
TESTAMENTO?
1) - Nenhum dos livros foi encontrado dentro do cânon hebraico. Um estudo da história
do Cânon dos judeus da Palestina revela uma ausência completa de referências aos livros
apócrifos. Josefo, diz que os profetas escreveram desde os dias de Moisés até Artaxerxes,
também diz, e verdade que a nossa história tem sido escrita desde Artaxerxes, não foi tão
estimada como autoritativa como a anterior dos nossos pais, porque não houve uma
sucessão de profetas desde aquela época. O Talmude, fala assim: “Depois dos últimos
profetas, Ageu, Zacarias e Malaquias, o Espírito Santo deixou Israel”. Não constam no
texto dos massoretas (copistas judeus da maior fidelidade) entregar tudo o que
consideravam canônico nas Escrituras do Velho Testamento. Nem tão pouco parece ter
havido “Targuns” (paráfrases ou comentários judaicos da antigüidade) ligado a eles. Para
os judeus, os livros considerados “inspirados” são os 39 que hoje conhecemos como
Velho Testamento. Eles os possuem numa ordem diferente da nossa por causa da forma
pela qual dividem os livros.

2) - Todos estes livros foram escritos depois da época quando a profecia cessou em Israel,
e não declaram ser mensagem de Deus ao homem. Fora dois deles, Eclesiástico e
Baruque, os livros são anônimos, e no caso de Eclesiástico, o autor não se diz profeta,
59
nem asseverou que escreveu sob a inspiração de Deus. O livro de Baruque que se diz ser
escrito pelo secretário de Jeremias, não pode ser aceito como genuíno, pois contradiz o
relato bíblico. Os livros de Macabeus não tem nenhuma pretensão para autoria profética.
Mas registra detalhes sobre as guerras de independência em 165 A.C. quando os cinco
irmãos macabeus lutaram contra os exércitos da Síria. I Macabeus é geralmente
considerado como de maior valor histórico do que o II.
3) - O nível moral de muitos destes livros é bastante baixo. São cheios de erros históricos
e cronológicos, por exemplo, Baruque 1.1, diz que ele está na Babilônia, enquanto
Jeremias 43.6, diz que ele está no Egito. Baruque diz que os utensílios do templo foram
devolvidos da Babilônia, enquanto Esdras e Neemias revelam o contrário. Baruque cita
uma data errada para Beltesazar e diz que o cativeiro era de sete gerações 6.3, o que
contradiz as profecias de Jeremias e o cumprimento de Esdras. Tobias e Judite estão
cheios de erros geográficos, cronológicos e históricos. Tobias 1.4,5 contradiz 14.11.
Mentiras, assassinatos e decepções são apoiados. Judite é um exemplo. Temos suicídios
(4.10), encantamentos, magia e salvação pelas obras (Tobias 12.9; Judite 9.10,13).
4) - Não foram incluídos no Cânon até o fim do 4° século. Como já observamos, os livros
apócrifos, não foram incluídos no cânon hebraico. Os livros apócrifos foram incluídos na
Septuaginta, a versão grega do Velho Testamento e que não é de origem hebraica, mas de
Alexandria, que é uma tradução do hebraico. Os Códices Vaticanos, Alexandrinos e
Sinaíticos, tem apócrifos entre os livros canônicos. Porém temos de notar vários fatores
aqui.
a) - Nem todos os livros apócrifos estão presentes nos Códices e não tem ordem fixa
dentro dos Códices.
b) - Por ser um livro de origem egípcia, pois vem de Alexandria, a Septuaginta não tinha
os mesmos salvaguardas contra erros e acréscimos, pois não tinham massoretas
orientando a obra com o mesmo cuidado que usaram no texto hebraico.
c) - Manuscritos, naquele tempo, ficavam em rolos, não livros e são facilmente
misturados, e seria fácil juntar outros que ficaram numa mesma caixa. No caso de guerras
ou desastres, estes manuscritos poderiam ser colocados em jarros de barro e lacrados para
serem posteriormente reutilizados. Alguns destes jarros foram achados nas cavernas de
Qumran com manuscritos que nos ajudaram a confirmar o conteúdo de nossas Bíblias
atualmente, além de revelarem uma série de fatos muito interessantes sobre a vida
daquela época.
d) - O preço de material para escrever pode influir também. Não era tão fácil calcular o
espaço necessário para fazer um livro. Que fariam se cortassem o couro e descobrissem
30 ou 40 páginas de couro sobrando no livro? Naturalmente encheria com conteúdo
devocional. A tendência seria de misturar livros bons com os canônicos até o ponto que
os não canônicos fossem aceitos como canônicos. e) Os livros não canônicos não foram
recebidos durante os primeiros quatro (4) séculos. Melito, o bispo de Sardis em 170 D.C.,
visitou a Judéia para verificar o número certo de livros do Velho Testamento. A lista que
ele fornece, inclui os livros canônicos do Velho Testamento, menos Ester (porque não
reconheceu entre os apócrifos) e não incluiu os apócrifos.

ORÍGENES, o erudito do Egito, com uma grande biblioteca, incluiu os 39 livros


do Velho Testamento, mas em 22 e seguindo a lista ele fala: “Fora destes temos os livros
60
dos Macabeus”. Outros pais da Igreja, como Atanásio, Gregório de Nazianzus de
Capadócia, Rufinus da Itália e Jerônimo, nos deixaram com uma lista que concorda com
o cânon hebraico.

JERÔNIMO, que fez a Vulgata, não quis incluir os livros apócrifos por não
considerá-los inspirados, porém, os fez por obrigação do bispo, não por convicção,
mesmo assim só traduziu Judite e Tobias, os outros apócrifos foram tirados diretamente
dos versos latinos anteriores. Parece que a única figura da antigüidade a favor dos
apócrifos era Agostinho, e dois Concílios que ele mesmo dominou (393 e 397). Porém,
outros escritos dele (A cidade de Deus) parecem revelar uma distinção entre os livros
canônicos e os apócrifos (17.24; 18.36,38,42-45).

GREGÓRIO, O GRANDE, papa em 600 D.C., citando I Macabeus falou que não
era um livro canônico, e o cardeal Ximenis no seu poligloto afirma que os livros
apócrifos dentro de seu livro, não faziam parte do cânon. Os livros apócrifos não foram
aceitos como canônicos até 1546 quando o concílio de Trento decretou: “Este Sínodo
recebe e venera todos os livros do Velho e Novo Testamentos, desde que Deus o autor dos
dois, também as tradições e aquilo que pertence a fé e morais, como sendo ditados pela
boca de Cristo, ou pelo Espírito Santo”. A lista dos livros que segue inclui os apócrifos e
conclui dizendo: “Se alguém não receber como Sagradas e canônicos estes livros em
todas as partes, como foram lidos na Igreja Católica, e como estão na Vulgata Latina, e
que conscientemente e propositadamente contrariar as tradições já mencionadas, que ele
seja anátema”. Para nós o fator decisivo é que Cristo e seus discípulos não os
reconheceram como canônicos, pois não foram citados por Cristo nem os outros
escritores do Novo Testamento!

OS APÓCRIFOS DO NOVO TESTAMENTO

Estes apócrifos, felizmente, jamais constaram de qualquer texto do Novo


Testamento, a saber, nunca foram tidos ou havidos como canônicos nem mesmo pela
apóstata Igreja Católica Romana, e suas congêneres Católica Grega e Ortodoxa, etc. São,
porém em número muito maior do que aqueles do velho Testamento, são nada menos de
trinta e quatro (34) livros, que nunca tiveram valor equivalente aos vinte e sete (27)
livros canônicos constantes do Novo Testamento. Daremos a seguir os seus títulos: O
Didaquê, Epístola de Barnabé, 1ª e 2ª Epístolas de Clemente, o Pastor de Hermas, O
Apocalipse de Pedro, Atos de Paulo e Tecla, Epístola de Policarpo aos Filipenses, as sete
Epístolas de Inácio, o Pseudo Evangelho de Mateus (não é o constante do Novo
Testamento), Protoevangelho de Tiago, Evangelho do nascimento de Maria, Evangelho
de Nicodemos, Evangelho da Infância do Salvador, História de José o carpinteiro, O
Evangelho de André, O Evangelho de Bartolomeu, O Evangelho de Barnabé, de Matias,
de Tomé, de Pedro, de Filipe, Atos de João, de Paulo, de Pedro, de André, de Tomé, de
Filipe, de Tadeu, Apocalipse de João o Teólogo.
Observa-se com a existência de tantos livros apócrifos, a veracidade comprovada
da menção a eles feita por Lucas no prólogo do seu Evangelho, onde afirma: “Muitos
houve que empreenderam uma narração coordenada dos fatos que entre nós se
61
realizaram” (Lc 1.1). Isto ocorreu não apenas sobre a vida de Jesus Cristo (livros
apócrifos denominados evangelhos), também sobre os pontos de vista histórico (os livros
denominados de Atos). Vemos que houve um esforço de cobrir toda a área atingida pelos
27 livros do Novo Testamento, incluindo a própria escatologia com o título de
Apocalipse. No entanto, só aos 27 livros constantes do Novo Testamento, Deus permitiu
que constassem do Cânon sagrado, porque “estes foram escritos para que creias que Jesus
Cristo é o Filho de Deus, e para que crendo, tenhais vida em seu nome” (Jo 20.31).

XIX. AS ANTIGAS TRADUÇÕES DA BÍBLIA

O cativeiro babilônico da nação judaica que causou a primeira destruição do


templo sagrado juntamente com a destruição parcial da cidade de Jerusalém, cativeiro que
durou 70 anos ininterruptos (Jr 25.11; Dn 9.1,2), ocasionou duas coisas em meio aos
judeus:
1. A aparição da sinagoga, palavra hebraica que significa literalmente “casa para
reuniões”, e não templo, porém na ausência do Templo Sagrado, passou a ser o lugar para
reuniões devocionais judaicas durante a diáspora o que ainda hoje perdura;
2. Devido as gerações de judeus nascidos em Babilônia serem incapazes de ler e
entender o hebraico com proveito direto, os rabinos solucionaram este problema fazendo
uma espécie de paráfrase do texto hebraico em aramaico, que veio a ter o título de
TARGUM, palavra aramaica que significa interpretação, explicação, etc. Isto ocorreu aí
pelo ano 450 a.C. Entre esses TARGUNS, o mais famoso foi o de Onquelos, um famoso
rabino da época de Cristo, cujo trabalho se constituiu numa espécie de transliteração de
todo o texto hebraico do Pentateuco, em aramaico. Tal era a dificuldade daquelas
gerações de judeu-babilônicos, que na época de Esdras, os emigrantes da Babilônia que
foram mandados de volta por Ciro, o persa, necessitavam de que os levitas lhes
explicassem o texto lido por Esdras em hebraico, a fim deles poderem entender o sentido
das palavras da Lei (Ne 8.6-8).
Antes, porém da aparição dos TARGUNS, ocorreu a aparição do culto samaritano,
conforme a referência constante de 2 Rs 17.1-6. Os elementos mandados por Sargom,
Esar-Adom e Assurbanipal, reis da Assíria, para ocupar as terras do reino de Israel, mas
comumente conhecido por Samaria, acossados por feras, sendo supersticiosos, creram
que tais feras os acometiam por eles ignorarem o modo de servir “ao Deus da terra” nova
em que agora residiam, ocorrendo daí o envio de um sacerdote israelita, algo desviado do
verdadeiro culto judaico, a fim de lhes ensinar os costumes samaritanos, a saber,
possivelmente, a maneira do culto idólatra oriundo de Jeroboão, filho de Nebate. O
exclusivismo extremado de Israel fez com que eles ficassem marginalizados e daí surgiu
o culto samaritano que perdura desde o ano 430 a.C. aos nossos dias. Os samaritanos têm
o seu próprio PENTATEUCO, denominado de PENTATEUCO SAMARITANO, escrito
em variante do hebraico antiqüíssimo, e não aceitam qualquer dos outros 34 livros do
Cânon judaico, e sim exclusivamente os cinco livros de Moisés.
Das traduções feitas para outras línguas, a mais antiga é a denominada
SEPTUAGINTA, ou Tradução dos Setenta, que é a tradução dos 39 livros canônicos
judaicos para a língua grega, feita por 72 rabinos judaicos em Alexandria, Egito, por
iniciativa de Ptolomeu Lages no ano 280 a.C. e concluída no reinado de Ptolomeu
62
Filadelfo no ano 180 a.C. Tudo indica haver sido esta versão usada por Jesus e Seus
discípulos.

A Septuaginta

Os líderes do judaísmo em Alexandria foram responsáveis por uma tradução do


Antigo Testamento hebraico para o grego, que integraria a Biblioteca de Alexandria, e foi
chamada de Septuaginta (LXX), que significa setenta. Esta tradução já estava concluída
em 150 a.C. e foi feita por eruditos judeus e gregos, provavelmente para o uso dos judeus
alexandrinos. Assim que a igreja primitiva passou a utilizar a Septuaginta como Antigo
Testamento, a comunidade judaica perdeu o interesse em sua preservação. Esta versão
teve um papel muito importante para o estudo e divulgação do Antigo Testamento em
outras línguas, já que os textos hebraicos apresentam grande dificuldade de compreensão.
Outras versões surgiram após a Septuaginta, devido à oposição do cânon judaico a
esta tradução. São elas:
 A versão de Áquila (130 a 150 d.C.) - manteve o padrão de pensamento e as
estruturas de linguagem hebraicas, tornando-se uma das versões mais utilizadas
pelos judeus;
 A revisão de Teodócio (150 a 185 d.C.) - revisão de uma versão anterior - a LXX
ou a de Áquila.
 A revisão de Símaco (185 a 200 d.C.) - preocupou-se com o sentido da tradução, e
não com a exatidão textual. Exerceu grande influência sobre a Bíblia latina, pois
Jerônimo fez grande uso desse autor para compor a Vulgata Latina;
 Os Héxapla de Orígenes (240 a 250 d.C.) - promoveu-se uma visão comparativa
dos textos hebraicos com a tradução dos LXX, de Áquila, de Teodócio e de
Símaco, procurando harmonizar os textos em busca de uma tradução fiel do
hebraico;
 Uma edição do texto hebraico, por volta de 100 d.C., veio a estabelecer o texto
massorético.

Duas outras versões antigas merecem destaques, devido a sua projeção em meio a
cristandade primitiva, uma das quais ainda em circulação atualmente. Foram elas a
Versão Siríaca e a Versão Latina, ambas datadas de 150 A.D.; de certo modo, a Velha
Latina tornou-se na conhecida VULGATA LATINA, que é a versão oficial da Igreja
Católica Romana, que surgiu no período 383-405 A.D. Também podemos aludir à Versão
Copta. Língua falada no antigo Egito, que surgiu no ano 250 a.D.

AS VERSÕES DO NOVO TESTAMENTO

Há importantes traduções do original grego do Novo Testamento para dez idiomas


antigos, conforme descrição abaixo: Latim: A tradição latina começou em cerca de 150
D.C. O “Latim Antigo” (anterior à “Vulgata”) conta com cerca de 1000 manuscritos.
63
Após o século IV, a versão latina foi padronizada na Vulgata. Há cerca de 8000 traduções
latinas do tipo Vulgata, pelo que a tradição latina conta com cerca de 10.000 manuscritos
conhecidos, ou seja, mais ou menos o dobro dos manuscritos em grego. Siríaco: Quanto
ao siríaco antigo há apenas dois manuscritos, mas revestem-se de grande importância.
Datam dos séculos IV e V. A tradição siríaca foi padronizada no Peshitto, do qual há mais
de 350 manuscritos do século V em diante.
Copta: Esse é o Novo Testamento do Egito. Há duas variações desse texto, dependendo
de sua localização geográfica. O saídico veio do sul do Egito, contando com manuscritos
desde o século IV. O boárico veio do norte do Egito, contando com um manuscrito do
século IV, mas os demais são de origem bem posterior. Nos séculos depois do século IV,
os manuscritos coptas foram muito multiplicados, pelo que há inúmeras cópias
pertencentes à esta tradição. Formam um grupo valioso, pois são de caráter
“alexandrino”, concordando com os manuscritos gregos mais antigos e dignos de
confiança.
Armênio: Essa tradição começou no século V. Com exceção do latim, há mais
manuscritos dessa tradição do que qualquer outra. Já foram catalogados 2000 deles. A
versão armênia tem vários representantes do tipo de texto “cesareano”, mas muitos
pertencem à classe bizantina.
Geórgico: Os georgianos eram um povo da Geórgia caucásia, um agreste distrito
montanhoso entre os mares Negro e Cáspio, que receberam o Evangelho durante a
primeira parte do século IV. Supomos que a tradição geórgica dos manuscritos começou
não muito depois, mas não há quaisquer manuscritos anteriores ao ano de 897. O seu tipo
de texto é cesareano.
Etíope: Essa tradição conta com manuscritos datados desde o século XIII. Há cerca de
1000 desses manuscritos, essencialmente do tipo de texto bizantino.
Gótico: Algum tempo depois dos meados do século IV, Ulfias, chamado o apóstolo dos
godos, traduziu a Bíblia do grego para o gótico, uma antiga língua germânica. Agora há
apenas fragmentos, do século V em diante. São essencialmente do tipo de texto bizantino,
com alguma mistura de formas ocidentais. O texto bizantino, entretanto, é uma variedade
anterior àquela que finalmente veio a fazer parte do Textus Receptus.
Árabe e Persa: Alguns poucos manuscritos tem sido preservados nesses idiomas; mas
são de pouca importância no campo da crítica textual. Quanto à versão árabe, os
problemas de estudo são complexos e continuam sem solução, pelo que é possível que ela
seja mais importante do que se tem suposto até hoje.

AS “ADIÇÕES” FEITAS À BÍBLIA

A Escritura que possuímos hoje é um pouco diferente daquela que foi produzida na
antiguidade pelos profetas no Velho Testamento e depois pelos apóstolos judeus no Novo
Testamento. Todas as citações abaixo não constam do texto original! Vejamos alguns
exemplos de adições:
1) - As palavras em itálico: elas não constam no original e servem para
complementar o sentido do texto. Seu objetivo é enfatizar e firmar algo que está sendo
dito.

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2) - Palavras entre parêntesis: enquanto as palavras adicionais aparecem em itálico
em algumas versões, em outras isso ocorre através do uso de parêntesis.
3) - Palavras na margem ou no rodapé: determinados trechos ou palavras
encontrados ma margem ou no rodapé de nossas Bíblias são a tradução ou explicação de
um texto ou palavra duvidosa.
4) - Divisão em capítulos e versículos: Isso também não existe nos originais. Em
alguns casos este tipo de divisão prejudica, pois “quebra” o texto e tira o sentido
completo do mesmo, prejudicando assim a sua interpretação.
5) - Divisão do texto em parágrafos: não existe no texto original, embora esta
divisão seja muito útil para a compreensão da Escritura.
6) - Referências de rodapé: em praticamente todas as Bíblias hoje encontramos
notas de rodapé que correspondem à pequenos números que são inseridos no texto
bíblico. Estes números trazem aquilo que chamamos de “referências cruzadas”, ou seja,
outras ocorrências daquelas palavras ou expressões, o que torna mais fácil encontrarmos
determinadas palavras na Bíblia.
7) - Versões bíblicas: na atualidade temos uma série muito grande de versões dos
textos originais. Isso indica que houveram traduções variadas, algumas vezes adaptando-
se a linguagem mais popular, para facilitar o entendimento daqueles que lêem. O texto
original é único, sem variações e uniforme!
Todos estes fatores nos mostram, mais uma vez, o quanto evoluiu o processo de
aprimoramento da Bíblia como um livro especial para a humanidade! Isso não significa
que não devamos confiar na Bíblia, mas sim que precisamos cada vez mais nos
aprofundarmos no conhecimento (e relacionamento) com D'us e com sua Palavra, pois ela
é a única fonte de informação escrita que temos a respeito dele! Por isso, a Bíblia foi e
ainda é o livro mais lido, conhecido e vendido do mundo.
Sua evolução foi tão fantástica quanto a evolução humana: dos primeiros escritos
em pedras e papiros, passando pelas peles de animais, pergaminhos e papel, até
finalmente chegar aos nossos dias e ser agora difundida através dos bytes da tecnologia!
O avanço da tecnologia tem permitido que através dos bytes da informática a Palavra de
D'us tenha trânsito livre através de milhões de computadores, levando pessoas a se
renderem aos pés do Senhor Jesus através do avanço tecnológico! D'us está se utilizando
disso para semear sua Palavra nos quatro cantos da terra! Este será também um dos
motivos pelos quais a humanidade não poderá dizer: “eu não te conhecia Senhor!” Hoje
através da Internet temos acesso à muitas coisas ruins, mas também temos acesso à
Palavra do D'us Eterno que caminha pela rede mundial trazendo salvação, cura,
conhecimento, revelação e mostrando ao mundo que Jesus ainda é o Senhor! É por isso
que lemos na Palavra do Senhor: “Porque a palavra de D'us é viva e eficaz, e mais
penetrante do que ESPADA alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do
espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do
coração” (Hb 4:12). A palavra de D’us é a única que não passará!

XX. DIVISÕES EM CAPÍTULOS E VERSÍCULOS


1. Tanto os originais dos livros do Velho Testamento quanto os do Novo
Testamento foram escritos conforme exemplificado no parágrafo VIII, que trata da
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transmissão do Texto Hebraico, sem qualquer divisão de palavras, capítulos e versículos.
Portanto, estas divisões que hoje temos em nossas Bíblias, são modernas e foram
inventadas com a finalidade de facilitar o estudo do texto sagrado, porém não são
inspiradas e até em certos aspectos deixam a desejar quanto à lógica. Veja por exemplo os
seguintes textos que são muito mal divididos:
a) No VELHO TESTAMENTO: 2Sm 2.32-3.17; 17.27-18.8; 2Rs 6.32-7.2; Is
43.25-44.1-5; 52.13-53.12; Jr 3.1-4.2; Mq 4.13-5.1; Ml 2.17-3.5;
b) No NOVO TESTAMENTO: Jo 18.23-19.16; 1Co 10.33-11.1; 2Co 1.15-2.4;
5.18-6.3; Ef 4.25-5.1; Fp 3.17-4.1.
Estas divisões quebradas de capítulos demonstram que elas não são perfeitas e que
não deverão ser levadas em consideração quanto ao estudo do texto, que deverá ser
estudado como um todo e não como divididos ilogicamente, como se apresentam nos
exemplos acima.
2. A história da divisão dos livros da Bíblia em capítulos e versículos é algo
incerto, devido aparecerem nela, mormente na parte referente aos capítulos, mais de um
concorrente. Exemplo: Há os que afirmam que a divisão de ambos Testamentos foi feita
pelo Arcebispo de Canterbury, Inglaterra, Stephen Langton, em 1228; outros afirmam que
foi o Cardeal Hugo antes de sua morte em 1263, que usou, se foi o caso, o texto da
Vulgata; e há ainda os que afirmam que o texto do Velho Testamento foi dividido em
capítulos pelo rabino Mordecai Nathan em 1445, e em 1661 Athias incluiu no texto
impresso referidas divisões. Mas, é notório que desde a versão inglesa de Wycliffe em
1382 tal divisão é corrente na Bíblia inglesa. Quanto a divisão dos capítulos em
versículos é notório sua atribuição a Robert Estevens, desde o ano de 1551, quando foi
publicado o Novo Testamento grego em Paris com as divisões em capítulos e versículos.
3. Ademais dos capítulos e versículos, mais uma inovação foi introduzida ao texto
bíblico, visando auxiliar o seu estudo, esta foi a referência verbal, idealizada por John
Marneck, em Londres, Inglaterra, em 1550, que se generalizou desde então. De fato, o
sistema de referências verbais quando usado com o devido cuidado, é uma ótima ajuda,
porém o sistema de referências textuais é mais lógico e mais positivo ao estudante,
porque corresponde sempre à realidade e não confunde ao estudioso, devido a correlação
paralela que encerra.

XXI. A BÍBLIA EM PORTUGUÊS


O início das traduções da Bíblia para o português remonta à Idade Média. O rei
D.Diniz (1279-1325) é considerado o precursor dessa tão nobre tarefa. Com base na
Vulgata Latina, traduziu até o capítulo 20 do livro de Gênesis. A primeira porção
publicada em português foi uma tradução da vida de Cristo com base no Evangelho de
Mateus, por iniciativa da D. Leonor, rainha de Portugal, esposa do rei D. João, que fez
publicar em Lisboa, no ano de 1495 A.D. Anos após a mesma rainha fez publicar os
livros de Atos, Epístolas de Tiago, João e Judas.
Foi o protestante João Ferreira de Almeida, nascido em 1628, próximo a Lisboa,
quem marcou a história como o primeiro tradutor a trabalhar a partir das línguas
originais. Almeida concluiu a tradução do Novo Testamento em 1676, que acabou sendo
publicada em 1681, na Holanda. Ele morreu em 1691, deixando o Antigo Testamento

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traduzido até Ezequiel 48.21. Seu trabalho foi completado por Jacobus op den Akker, da
Batávia, em 1748.
A segunda versão do seu Novo Testamento foi publicado dois anos após a sua
morte, a saber, em 1695. Depois foram os Salmos traduzidos por Almeida que foram
editados com o livro de Oração Comum, para a Igreja Anglicana da Indonésia, em 1695.
A terceira edição do Novo Testamento de Almeida, foi publicada em Amsterdã,
Holanda, por iniciativa de Frederico IV, rei da Dinamarca, que era um monarca muito
interessado na difusão do livro sagrado em terras do Oriente. Essa edição teve lugar em
1712.
A primeira parte do Velho Testamento publicada foram Os Profetas Menores em
1732. A segunda parte foram os Salmos com os Livros Históricos em 1738. A primeira
edição de todo o Velho Testamento em português, foi feita em dois volumes: de Gênesis a
Ester em 1748 e de Jó a Malaquias em 1753. Todas estas edições foram feitas sob a
autorização da Companhia Holandesa das Índias Orientais, por permissão do Barão
Inhoff, Gustavo Guilherme, governador-geral em Batávia, Indonésia, em tipografia
própria da Igreja Reformada.
Foi em 1819 que foi pela primeira vez publicada a Bíblia Sagrada contendo O
Velho e o Novo Testamentos, traduzida em português por João Ferreira de Almeida, desta
vez em Londres, Inglaterra, na tipografia de R. A. Taylor. Depois já revista, sua segunda
edição foi publicada pela Sociedade Bíblica Britânica em 1894.
No contexto católico romano, duas traduções feitas a partir da Vulgata Latina
marcaram época desde o século XVIII. A primeira foi a do padre Antônio Pereira de
Figueiredo, publicada em 1790, e a segunda, publicada em 1930, foi a do padre Matos
Soares, referendada oficialmente pela Igreja Romana.
No início do século XX, em 1917, foi publicada no Brasil uma tradução bastante
literal e erudita que teve a colaboração de Rui Barbosa. Ficou conhecida como a
Tradução Brasileira e não é mais publicada atualmente.
A tradução de Almeida recebeu várias revisões durante o século XX, dando origem
a várias versões similares: Almeida Revista e Corrigida (última revisão em 1995) e
Almeida Revista e Atualizada (última revisão em 1993) publicadas pela Sociedade
Bíblica do Brasil; Corrigida Fiel (1994), pela Sociedade Bíblica Trinitariana e a Versão
Revisada (1967), publicada pela Imprensa Bíblica Brasileira (ligada à Convenção Batista
Brasileira).
A partir da década de 1970 novas traduções para o português foram publicadas.
Trata-se do início de uma série de versões não literais e fundamentadas nas pesquisas
exegéticas e linguísticas mais recentes. No contexto católico, surgiram as primeiras
versões traduzidas a partir dos originais. Em 1976 foi lançada a Bíblia de Jerusalém,
traduzida pela escola Bíblica de Jerusalém (padres dominicanos), bastante erudita e cheia
de notas técnicas. Em 1982 foi publicada a Bíblia Vozes com uma linguagem menos
erudita, mas muito bem fundamentada exegeticamente. Depois vieram a Bíblia Pastoral,
de linguagem popular, de base acadêmica e claramente afinada coma Teologia da
Libertação, e a Tradução Ecumênica (1997), muito especializada e a mais rica em notas
críticas e lingüísticas disponível em português.
No cenário evangélico, merece destaque a Bíblia na Linguagem de Hoje (BLH,
Sociedade Bíblica do Brasil – 1988), feita intencionalmente em linguagem popular, sob
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uma filosofia de tradução mais flexível, mas baseada em exegese erudita e respeitada. A
BLH passou por uma ampla revisão, que deu origem à Nova Tradução na Linguagem de
Hoje (NTLH), lançada no final do ano 2000.
Em Portugal, recentemente, também foi publicada uma excelente versão da Bíblia,
contemporânea e interconfessional, chamada Bíblia em Português Corrente. A tradução
foi elaborada por uma comissão de eruditos portugueses.
Mais recentemente foi lançada a Nova versão Internacional (NVI), publicada em
março de 2001 (Novo Testamento em 1994); trata-se de versão fiel ao sentido do original
e em linguagem contemporânea. É uma versão marcada por sua riqueza exegética e por
ser evangélica em sua abordagem teológica, contribuindo assim para a história da Bíblia
em língua portuguesa. O propósito dos estudiosos que traduziram a NVI foi acrescentar à
lista das várias traduções existentes em português um novo texto que se definisse a partir
de quatro características fundamentais: tradução acurada, beleza de estilo, clareza e
dignidade.
A língua portuguesa é privilegiada pelo fato de contar com tantas boas traduções
das Escrituras Sagradas.

SIGLAS QUE APARECEM NOS LIVROS E PERIÓDICOS


EVANGÉLICOS:
Para ajudar ao estudante insipiente, queremos incluir aqui a explicação relativa a
várias siglas que comumente aparecem nos livros e em periódicos evangélicos em
português, exemplo:
 ARC = Almeida Revisada e Corrigida, hoje RC ;
 ARA = Almeida Revisada e Atualizada, hoje RA;
 FIG = Antônio Pereira de Figueiredo;
 RHODEN = Edição do Novo Testamento por Humberto Rhoden;
 EB = Edição Brasileira;
 IBB = Imprensa Bíblica Brasileira;
 SBT = Sociedade Bíblica Trinitariana;
 BJ = Bíblia Jerusalém;
 TEB = Tradução Ecumênica da Bíblia;
 NVI = Nova versão Internacional.
Daríamos muitas outras siglas, porém, limitamo-nos as já aludidas devido serem
essas as mais usuais no nosso vernáculo.

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XXII. BIBLIOGRAFIA
1. BERKHOF, L. Princípios de Interpretação Bíblica. Rio de Janeiro. Editora JUERP,
1981.
2. GEISLER, Norman & NIX, William. Introdução Bíblica. Editora VIDA, 2001.
3. MEARS, Henrietta C. Estudo Panorâmico da Bíblia. Miami, Florida: Editora Vida,
1982.
4. MEIN, John. A Bíblia e como chegou até nós. 3ª ed. Rio de Janeiro. Editora JUERP,
1977.
5. GOODSPEED, Edgard J. COMO NOS VEIO A BÍBLIA. Imprensa Metodista, 1981.
6. GILBERTO, Antônio. A BÍBLIA ATRAVÉS DOS SÉCULOS. CPAD, 1986.
7. DOCKERY, David. Manual Bíblico. Editora VIDA NOVA, 2001.
8. ALEXANDER, David e Pat. O Mundo da Bíblia. Edições Paulinas, 1986.
9. MELAMED, Meir Matzliah. A Lei de Moisés e as Haftarot. Gráfica e Editora
Danúnbio S.A.
10.VASCONCELOS, A. Pereira de. Apostila de Introdução à Bíblia. IBADAM, 1976.
11.VIRKLER, Henry A. Hermenêutica – Princípios e Processos de Interpretação
Bíblica. Miami. Ed. Vida, 1987.
12.www.bibliabytes.com.br. A Bíblia em Bytes online. A Bíblia e suas origens.

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Biografia do autor
O pastor Antônio Carlos Gonçalves Bentes é capitão do Comando da Aeronáutica,
Doutor em Teologia pela American Pontifical Catholic University (EUA), Pós-graduado
em Ciências da Religião pela Pan Americana, Pós-graduado em Psicologia Pastoral pela
Pós-graduado em Ciências da Religião pela Pan Americana, Pós-graduado em Psicologia
Pastoral pela FATEH - Faculdade de Teologia Hokemãh, conferencista, filiado à
ORMIBAN – Ordem dos Ministros Batistas Nacionais, professor dos seminários batistas:
STEB, SEBEMGE e Koinonia e também das instituições: Seminário Teológico Hosana,
UNITHEO, Seminário Teológico Goel e Escola Bíblica Central do Brasil, atuando nas
áreas de Teologia Sistemática, Teologia Contemporânea, Apologética, Escatologia,
Pneumatologia, Teologia Bíblica do Velho e Novo Testamento, Hermenêutica, e
Homilética. Reside atualmente em Lagoa Santa, Minas Gerais. É pastor presidente da
Igreja Batista Nacional Goel em Lagoa Santa - Minas Gerais. É casado com a pastora
Rute Guimarães de Andrade Bentes, tem três filhos: Joelma, Telma e Charles Reuel, e
duas netas: Eliza Bentes Zier e Anna Clara Bentes Rodrigues.

Pedidos ao Pr. A. Carlos G. Bentes


E-mail: pastorbentesgoel@gmail.com

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