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Diplomacia 360o – Módulo Atena – Política Internacional – Aula 12

Prof. Tanguy Baghdadi – 17.10.2018

TEORIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS (2)

❖ REALISMO CLÁSSICO
Livro: Morgenthau, Hans. A política entre as nações (1948).

A Política Internacional pode ser explicada por meio de 6 pontos:

1) O mundo é regido por leis objetivas e universais, pautadas na natureza humana.


→ Teoria Positivista:

Hans Morgenthau (1904-1980) baseou sua teoria no Positivismo. Existe uma realidade que está
dada, não está sujeita a interpretações. Juridicamente, é a teoria de que vale o que está escrito.

Estados agem como pessoas no estado de natureza, por não haver uma autoridade superior a
eles. É uma guerra de todos contra todos. Assim como “o homem é o lobo do homem”, podemos
considerar que “o Estado é o lobo do Estado”. Estados vivem conforme a natureza humana
hobbesiana, em constante luta pela sobrevivência.

Thomas Hobbes – 3 instintos humanos:


Sobrevivência: indivíduo se agarra à sua sobrevivência, independente do meio externo.
Ganância: indivíduo sabe que, se acumular mais bens, terá mais chances de sobreviver.
Orgulho: não basta ter bens e estar seguro, indivíduo precisa mostrar (forma de dissuasão).

Hans Morgenthau – 3 fenômenos internacionais*:


* tradução dos instintos humanos de Hobbes para as relações internacionais.
Status quo: na busca pela sobrevivência, Estado prefere manter a situação como ela está.
Imperialismo: Estado busca gananciosamente a expansão do território para garantir mais poder.
Prestígio: Estado demonstra, com orgulho, o quão poderoso ele é, a fim de dissuadir os demais.

THOMAS HOBBES HANS MORGENTHAU


3 instintos humanos: 3 fenômenos internacionais:
- Sobrevivência → - Status quo
- Ganância → - Imperialismo
- Orgulho → - Prestígio

2) O interesse dos Estados somente pode ser medido em termos de poder.


Estados sempre calculam quanto poder vão ganhar ou perder, quando de suas tomadas de
decisão. Pra Morgenthau, o poder do Estado pode ser medido por sua capacidade militar.
Segundo a lógica realista, a Coreia do Norte é mais poderosa do que o Brasil, pois têm armas
nucleares e investem pesadamente em seu exército.

A economia, que confere aos Estados capacidade de investir no poderio militar, assim como a
configuração e localização do território também são fatores de poder. É mais fácil para os EUA
serem potência, por ter vizinhos mais fracos, do que para a França, que tem vizinhos poderosos.
3) A busca pelo poder é universal, mas sua forma varia no tempo e no espaço.
O pensamento realista é atemporal, pois a busca pelo poder é universal. Porém, algo que
conferiria um poder muito grande a um país alguns séculos atrás não teria o mesmo efeito hoje.

4) A moral não é universal.


Trata-se de uma clara oposição ao pensamento liberal, que afirmava ser a moral um conceito
universal. A moral para um Estado pode ser garantir a segurança de sua população, mesmo que,
para isso, tenha que fazer a guerra. Esse pensamento surge em 1948, como crítica ao discurso
dos EUA de que a moral do capitalismo e da democracia seria sempre a melhor.

5) O limite das aspirações morais de um Estado é a prudência.


Estados agirão com aspirações morais, mesmo que sejam do tipo kantiano. Porém, nenhum
Estado jamais colocará essas aspirações morais à frente, deixando sua prudência de lado. Para
o pensamento realista clássico, o Estado é sempre um ator racional e prudente.

6) A política é uma esfera superior e independente das leis, da moral e da religião.


Por mais que alguns Estados possam afirmar que estão agindo conforme o direito internacional,
a moral ou a religião, em verdade usam esses fatores de forma instrumental, a fim de justificar
o que já queriam fazer devido a razões políticas.

OFÍCIO DO DIPLOMATA
→ Segundo a visão de Morgenthau, o diplomata tem um papel acima de tudo técnico:
O diplomata não é dotado de capacidade ou talento natos. É um especialista em Política
Internacional, que possui conhecimento instrumental para exercer a função de conselheiro do
Chefe de Estado.

O diplomata é um burocrata que consegue avaliar o sistema internacional de forma técnica e


competente, a fim de, com isso, operar a balança de poder, por meio de 2 (duas) formas:

1) Balancing: contrabalançar o poder de um Estado maior, unindo-se aos demais Estados fracos.
2) Bandwagoning: unir-se ao Estado mais poderoso, a fim de ter mais condições de se proteger.

2o DEBATE: TRADICIONALISTAS X BEHAVIORISTAS


*Não é um debate ontológico, e sim apenas metodológico, entre Realistas.

TRADICIONALISTAS (realistas clássicos) – Hans Morgenthau


- Descrever a realidade da melhor maneira, mesmo que não seja em termos numéricos.
- Morgenthau usava o conceito de natureza humana, que não é quantificável ou científico.

BEHAVIORISTAS (realistas cientificistas) – final da década de 1950


- Criticavam a falta de cientificidade nas Ciências Humanas.
- Buscavam inspiração metodológica nas Ciências Naturais.
- Psicologia: experimentos que provam a influência de fatores externos sobre o comportamento.
- Objetivo era chegar a conclusões científicas por meio de dados quantificáveis.
❖ NEORREALISMO*
*Também chamado de Realismo Sistêmico ou Realismo Estrutural.

Kenneth Waltz (1924-2013) partirá das mesmas premissas estabelecidas por Morgenthau, mas
diferirá dos realistas clássicos no que se refere à análise de como o Estado irá agir perante o
sistema internacional.

1o LIVRO: Waltz, Kenneth. O homem, o Estado e a guerra (1959).


Segundo Waltz, as relações internacionais contam com 3 (três) imagens ou níveis de análise
que servem para avaliar questões relativas ao plano internacional:

1) Imagem do homem:
Pode-se analisar o sistema internacional usando como base a trajetória de um estadista. Porém,
Waltz concluiu que não é possível prever decisões que serão tomadas por um indivíduo. Não é
científico supor que indivíduo agirá com base em um conceito abstrato e não quantificável como
a natureza humana. Segundo Waltz, é possível sim analisar as relações internacionais a partir do
comportamento do indivíduo, mas não se pode considerar como ciência.

2) Imagem do Estado:
É possível analisar o sistema internacional com base nas motivações de um Estado para chegar
a decisões de política externa. Porém, será necessário considerar inúmeras particularidades, de
Estados que são diferentes, e não é viável computar todas essas informações. É fundamental
para a obtenção de resultados científicos a realização do controle de variáveis.

3) Imagem do Sistema Internacional:


Trata-se de um nível de análise relativo ao sistema internacional, no qual importa mais o
contexto geral do que as particularidades. Pode-se fazer uma analogia com uma cidade que
acabamos de conhecer. A melhor maneira de se ter uma visão ampla e geral dessa cidade, é
sobrevoá-la com um avião, mesmo que não se percebam suas particularidades (importantes na
visão de Carr). Segundo Waltz, somente um nível de análise sistêmico, que desconsidera
variáveis não científicas, serve para compreender o funcionamento das relações internacionais.

2o LIVRO: Waltz, Kenneth. Theory of International Politics (1979).


Em sua segunda obra, Waltz irá comparar o sistema internacional a uma mesa de bilhar que tem
regras um pouco diferentes. Nessa mesa de bilhar concebida por Waltz, as bolas representam
os Estados no sistema internacional. Elas têm tamanhos diferentes, variando conforme a
quantidade de poder de cada Estado.
→ Bolas grandes: são os Estados maiores e mais poderosos.
→ Bolas médias: alguns poucos Estados de poder intermediário; e
→ Bolas pequenas: vários Estados bem pequenos de poder insignificante.

O raciocínio de Waltz é de que não se pode analisar as relações internacionais com base nos
aspectos internos dos Estados, cujas variáveis desviariam o foco sistêmico. Essa análise baseia-
se numa lógica de choque entre os Estados e no efeito que cada Estado exerce sobre os demais,
as consequências exógenas de suas ações.

Essa teoria é criticada por ser simplista demais, mas teve uma inegável centralidade nas
discussões. Os teóricos que sucederam Waltz sempre fizeram questão de citá-lo, mesmo que
para refutar a validade de suas ideias.
❖ NEOLIBERAIS
Os liberais, que eram hegemônicos no período entreguerras, perderam força com a ascensão
do Realismo, mas continuaram a publicar suas obras, em geral sobre temas muito específicos
como, por exemplo, a integração regional.

→ 1962-1979: DÉTENTE
Embate entre o bloco capitalista e o bloco socialista persiste, mas perde força, sobretudo devido
à preocupação de que um enfrentamento direto entre os EUA e a URSS pudesse levar ao fim da
humanidade. A iminência de uma guerra nuclear, durante a crise dos mísseis, em 1962, fez com
que as tensões arrefecessem, abrindo espaço para outras discussões.

Livro: Keohane, Robert; Nye, Joseph. Power and Interdependence (1977).


Os liberais voltaram ao estudo do conceito de interdependência, segundo o qual a paz deve ser
mantida para que Estados não sejam prejudicados, pois dependem comercial e
economicamente um do outro. Ao longo da década de 1970, o sistema internacional começa a
ficar mais complexo. Os atores das relações internacionais já não são mais apenas Estados. Há
também sindicatos, empresas transnacionais, ONGs, grupos de pressão, todos com presença no
mundo inteiro. A interdependência já não é mais apenas econômico-comercial, mas sim uma
interdependência quase que completa.

Os Estados não são, em hipótese alguma, independentes uns dos outros. Todos são
dependentes em maior ou menor escala dos outros e a tendência é que sejam muito
interdependentes entre si. É criado o conceito de interdependência complexa. Fronteiras são
quase fictícias, já não são mais impermeáveis como já foram. O mito do Estado original tem
como base um pretenso controle de sua fronteira, mas a complexidade que as relações entre os
Estados têm adquirido ao longo das décadas passa a fazer com que os conflitos sejam cada vez
menos prováveis. Como retomam o pensamento liberal, Keohane e Nye podem ser chamados
de neoliberais* ou institucionalistas.
*Cuidado para não os comparar com os neoliberais na economia.

Em 1979, com a Revolução Iraniana e a invasão soviética ao Afeganistão, há um retorno àda


Guerra Fria. Aquela estabilidade relativa da Détente estava seriamente ameaçada.

Livro: Keohane, Robert. After Hegemony (1984).


Keohane faz concessões às teorias de Waltz, que, em meio às tensões da Segunda Guerra Fria,
conseguia explicar melhor a realidade do sistema internacional. Keohane partiu das próprias
premissas realistas para mostrar que as conclusões do Realismo estavam erradas.

Segundo Keohane, os Estados são, inquestionavelmente, os atores mais importantes, mesmo


reconhecendo a existência de novos atores não tradicionais. Keohane admitiu que os Estados
são sempre egoístas, negando a teoria liberal de que seriam capazes de pensar no bem-estar
coletivo. Keohane reconhece também que a anarquia internacional é algo incontornável.

Entretanto, Keohane refuta o Realismo ao afirmar que os Estados tenderiam sempre a cooperar.
Justamente por serem egoístas, Estados buscam ganhos absolutos e sempre que há cooperação,
há algum ganho, mesmo que reduzido. Estados não irão buscar a guerra, pois correm sérios
riscos de perder muito, mesmo que exista também a possibilidade de ganhos consideráveis.

Os realistas discordaram da teoria de Keohane, afirmando que os Estados buscam ganhos


relativos. O que está em jogo é o poder, que é um bem escasso. As disputas entre os Estados
serão sempre um jogo de soma zero, nas quais alguém irá, necessariamente, perder.

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