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Novas Tecnologias Aplicadas No Agronegocio
Novas Tecnologias Aplicadas No Agronegocio
Novas Tecnologias Aplicadas No Agronegocio
TECNOLOGIAS
APLICADAS AO
AGRONEGÓCIO
GRADUAÇÃO
Unicesumar
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD
Willian Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
ISBN 978-85-8084-262-3
CDD - 22 ed. 338.1
CIP - NBR 12899 - AACR/2
SEJA BEM-VINDO(A)!
Seja bem-vindo(a) à obra “Novas Tecnologias Aplicadas ao Agronegócio”. Por meio desta
obra, pretendo introduzi-lo(a) ao fascinante mundo das tecnologias que são emprega-
das neste setor estratégico para a economia brasileira, que é o Agronegócio.
As experiências que possuo como Engenheiro Agrônomo e Engenheiro de Segurança
do Trabalho, somadas às revisões de literatura sobre o tema principal desta obra, me
fizeram estabelecer a didática presente para fazê-lo(a) compreender sobre as Novas Tec-
nologias Aplicadas ao Agronegócio.
Para cumprir este desafio, em nossa primeira Unidade, busquei estabelecer um panora-
ma amplo sobre a caracterização do termo “tecnologia” e quais são as visões que podem
ser associadas a este termo. Você verá que o termo em si possui um entendimento bas-
tante simples, afinal, “tecnologia” significa o “estudo da arte” ou o “estudo da técnica”, ou
ainda, o “estudo do ‘como fazer’”. O que torna o entendimento do termo um pouco mais
complexo são justamente as visões que associamos ao mesmo. Mas a Unidade I será
bastante esclarecedora, não somente sobre os conceitos e visões associadas ao termo
“tecnologia”, mas também no sentido de estabelecer a inovação como condição neces-
sária ao bom rendimento econômico de uma neotecnologia.
Por sua vez, a segunda Unidade nos ilustrará as dificuldades que uma tecnologia enfren-
ta para ser aceita e posta em prática. Os diversos fatores psicológicos, sociais e ligados
à complexidade destas tecnologias fazem com que as mesmas não sejam adotadas em
tempo necessário, promovendo atrasos na evolução de uma cadeia produtiva. Infeliz-
mente, o Agronegócio é uma das áreas onde mais temos atraso na adoção tecnológica,
em especial, por parte de muitos produtores rurais tradicionalistas. Nesta Unidade, dis-
cutiremos algumas sugestões para transpassarmos essa problemática.
Já na terceira Unidade, faremos um estudo da aplicação das tecnologias nas atividades
econômicas vinculadas ao Agronegócio. Faremos um breve histórico sobre os fatos que
levaram à ocorrência da Revolução Verde, sobre suas principais características e conse-
quências, do ponto de vista social, econômico, cultural e ambiental. Você concluirá, ca-
ro(a) leitor(a), que mesmo com as consequências negativas, sem a Revolução Verde nos-
so país não teria a pujança que possui hoje, sendo líder em muitas cadeias produtivas.
Em nossa penúltima Unidade, faremos uma abordagem sobre as principais tecnologias
que são aplicadas em nível de campo. Plantio Convencional, Plantio Direto, Adubação
Verde, Faixas de Retenção e Rotação de Culturas são exemplos daquilo que você encon-
trará em nossa quarta Unidade. Desde já, saliento que não é minha intenção esgotar
todos os assuntos referentes às tecnologias discutidas e nem apresentar todas as tec-
nologias disponíveis. Apenas quero dispor a você informações básicas a respeito das
principais tecnologias e aguçá-lo(a) na busca por novas tecnologias que não estejam
contempladas nesta obra. Afinal, você será fundamental no processo de difusão dialo-
gada de tecnologias e quanto maior for seu conhecimento, mais chances de sucesso lhe
aguardam.
APRESENTAÇÃO
Por fim, em nossa última Unidade, faremos uma análise sobre a necessária mudança
de paradigmas. Você verá que é condição necessária que nossas atitudes e nossas
tecnologias obedeçam a uma nova ordem, onde os recursos para se produzir são
escassos. Discutiremos, portanto, sobre as principais perspectivas da sustentabili-
dade para que, ao final da Unidade, possamos apresentar modelos tecnológicos e
produtivos mais limpos, os quais são tendências para o Agronegócio.
Você está preparado(a)? Não se esqueça de que para um completo aprendizado,
torna-se necessário executar as atividades aqui inseridas, conferir nossas sugestões
de vídeos, ler os materiais extras (livros, artigos e outros textos aqui referenciados) e
ter uma atitude proativa, sempre efetuando sua própria busca pelo conhecimento.
Uma boa leitura a você! É um prazer recebê-lo(a).
Prof. Tiago Costa
09
SUMÁRIO
UNIDADE I
CONCEITOS E VISÕES
SOBRE AS TECNOLOGIAS
15 Introdução
37 Considerações Finais
UNIDADE II
43 Introdução
69 Considerações Finais
SUMÁRIO
UNIDADE III
75 Introdução
99 Considerações Finais
UNIDADE IV
109 Introdução
UNIDADE V
143 Introdução
171 Conclusão
173 Referências
179 Gabarito
Prof. Me. Tiago Ribeiro da Costa
CONCEITOS E VISÕES
I
UNIDADE
SOBRE AS TECNOLOGIAS
Objetivos de Aprendizagem
■■ Analisar o conceito de “tecnologia” e sua aplicabilidade nas atividades
econômicas.
■■ Estabelecer e discutir sobre as principais visões que são associadas à
tecnologia.
■■ Compreender a inovação como condição necessária para a obtenção
de resultados econômicos a partir da adoção de uma tecnologia.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ A “tecnologia” como um conceito humano
■■ Algumas visões associadas à tecnologia
■■ A associação das visões sobre a tecnologia e a tecnologia perfeita
■■ A tipologia das tecnologias
15
INTRODUÇÃO
Introdução
I
Sob a luz de nossos conhecimentos, até que algo realmente extraordinário prove
o contrário, sobre a superfície do planeta Terra, somos os seres com a capacidade
intelectual mais desenvolvida. Isso não quer dizer que as outras espécies sejam
desprovidas de capacidades intelectivas, contudo, em comparação a estas espécies,
o ser humano é o que possui a melhor capacidade de interpretação da realidade.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Apenas por curiosidade, Stanley Coren, em
seu livro “A Inteligência dos Cães”, publica-
do em 1995, expõe que nossos melhores
amigos (os cães) possuem inteligências
relativamente evoluídas. Segundo o autor,
as raças mais inteligentes (Border Collie,
Poodle, Pastor Alemão e Golden Retriever)
têm inteligências semelhantes aos seres
humanos com três anos de idade.
Fonte: COREN, S. The intelligence of dogs. 1ª ed. Bantam Books. 288p.
escrita, por meio do que se chama atualmente de “arte rupestre” (desenhos nas
paredes das cavernas), conforme ilustra a Figura 1.
Posteriormente à evolução das comunicações, a capacidade analítica do ser
humano em avaliar o meio em suas condições naturais e mesmo em suas adver-
sidades serviu de subsídio para o domínio do fogo e para o desenvolvimento
inicial da agricultura (no período Neolítico, há cerca de 10.000 a 20.000 anos
antes da data atual), quando o ser humano passou a cultivar algumas estruturas
reprodutivas e vegetativas das plantas. Este foi o estopim para o surgimento das
primeiras comunidades, o que fez com que o ser humano passasse de nômade e
caçador para sedentário e menos dependente dos processos de caça.
Conforme afirmam Raven, Evert e Eichhorn (2001), a agricultura em si pos-
sibilitou o cultivo de alimentos fornecedores dos principais nutrientes à raça
humana em eixos diferentes: no crescente fértil (região do Oriente Médio entre
o Rio Tigre e Eufrates), na China (entre os rios Amarelo e Huang-Ho) e nos pla-
naltos do México e América do Sul. Isso explica, por exemplo, por que Nicolai
Ivanovich Vavilov, Engenheiro Agrônomo de origem Russa, tenha catalogado
estas regiões, em sua obra “A origem, variação, imunidade e melhoramento das
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O ser humano, em sua incrível capacidade intelectiva, passou também a
raciocinar sobre a forma como esta evolução acontece, em especial, racioci-
nando sobre como determinada tarefa é atualmente realizada e de que forma
ela poderia ser realizada.
Por exemplo, para o desenvolvimento da agricultura no período neolítico,
verificou-se que as áreas exploradas para a produção de alimentos eram peque-
nas demais, dado o aumento populacional. Além disso, muitos seres humanos
da época provavelmente verificaram que a forma como as sementes eram plan-
tadas era muito lenta, pouco eficiente, portanto.
Assim, em termos de soluções, aliou-se o uso da tração animal com o uso de
rústicos implementos com a função de revolvimento de solo. Ao mesmo tempo,
ferramentas metálicas (facas e foices) foram desenvolvidas no sentido de desbra-
var novas áreas. Assim sendo, criou-se um novo modelo de agricultura, o qual
era suficiente em atender às necessidades alimentícias dos crescentes agrupa-
mentos populacionais.
O ato de raciocinar sobre a forma com a qual realizamos nossas tarefas é algo
intrínseco ao ser humano e a este ato, transformado em um conceito, nominou-
se de “Tecnologia”. Da mesma forma, nominou-se de “técnica” a forma com que
realizamos estas tarefas.
ção a respeito do termo “tecnologia”, uma vez que este conceito é interpretado
de maneiras diferentes ao longo da história. Contudo, os mesmos autores fazem
uma aproximação:
[...] torna-se notório conhecer que as palavras técnica e tecnologia têm
origem comum na palavra grega techné que consistia muito mais em
se alterar o mundo de forma prática do que compreendê-lo. [...] Na
técnica, a questão principal é do como transformar, como modificar.
O significado original do termo techné tem sua origem a partir de uma
das variáveis de um verbo que significa fabricar, produzir, construir,
dar à luz, o verbo teuchô ou tictein, cujo sentido vem de Homero; e teu-
chos significa ferramenta, instrumento. [...] A palavra tecnologia pro-
vém de uma junção do termo tecno, do grego techné, que é saber fazer,
e logia, do grego logus, razão. Portanto, tecnologia significa a razão do
saber fazer [...]. Em outras palavras o estudo da técnica. O estudo da
própria atividade do modificar, do transformar, do agir (VERAZSTO
et al. 2008, p. 62).
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“tecnologia”, podemos estabelecer a segmentação das visões sobre o termo em
quatro enfoques distintos: a) Puramente Etimológico; b) Tecnicista; c) Futurista;
e, d) Sociológico.
©Softpedia
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Figura 3 – Tela inicial do sistema operacional Windows 10 Technical Preview
©Wikipedia
VISÃO TECNICISTA
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elétrica, mais ao final deste período.
As justificativas para afirmarmos que a Revolução Industrial representou o
ápice do tecnicismo podem ser sistematizadas considerando a sua própria evo-
lução temporal. Mesmo se tratando de um processo puramente poupador de
mão de obra, na Revolução Industrial, os processos fabris ainda dependiam de
grandes contingentes de trabalhadores que, inicialmente, não existiam nos cen-
tros industriais. Para se resolver isso, no início do século XVIII, alguns países
europeus (em especial a própria Inglaterra) passaram por reformas sociais que
praticamente dizimaram o campesinato, afinal, em nome do progresso, mão de
obra era necessária onde as indústrias estavam e o Estado necessitava de maior
controle sobre as terras (algo como matar dois coelhos com uma pedrada).
Assim, desprovidos do trabalho no campo, as famílias tinham nas cidades seu
trabalho garantido.
Além disso, o modelo capitalista vigente estava em transição (do capitalismo
tradicional ao atual capitalismo financeiro), e seus princípios estavam em seu
auge. A acumulação dos lucros estava em patamares exorbitantes e tal fato não
se traduzia, no entanto, em investimentos produtivos ou de gestão que garantis-
sem um ambiente de trabalho seguro e saudável aos trabalhadores.
Muito pelo contrário, não somente os ambientes de trabalho eram assim,
mas todos os vilarejos nas proximidades das fábricas apresentavam um ambiente
deplorável quanto à saúde pública. Neste cenário, onde em termos de planeja-
mento, somente a meta de produção era considerada (somente a demanda e a
previsão de lucro pareciam fatores relevantes aos burgueses industriais da época),
a mão de obra passou por um amplo processo de depreciação derivada das longas
VISÃO FUTURISTA
Além dessas duas visões acerca do termo “tecnologia”, apresenta-se uma terceira
visão bastante disseminada no mundo: A visão futurista.
De maneira geral, muitas pessoas associam o caráter de modernidade a
uma nova tecnologia. Afirmam se tratar de “algo do futuro”. Mesmo na época da
Revolução Industrial, com um parque de máquinas extremamente variado, alguns
italianos se assustaram ao ouvir sons propagados por uma pessoa a quilômetros
de distância. Estes sons eram recebidos por um equipamento desenvolvido pelo
inventor italiano Antonio Meucci, chamado telégrafo falante, posteriormente
retrabalhado pelo mesmo inventor, já nos Estados Unidos, em 1854, e rebatizado
como “teletrofono”. (Figura 5). O presente equipamento tinha por objetivo trans-
formar sons em pulsos elétricos (e vice-versa), carreáveis por cabos telegráficos.
Provavelmente este foi o princípio utilizado posteriormente por Graham Bell na
invenção de seu equipamento telefônico, o qual foi patenteado somente em 1876.
©InterestingAmerica
Mal imaginavam aqueles ita-
lianos que hoje as comunicações
estivessem tão avançadas, a ponto
de estabelecermos comunicação
por meio de ondas eletromagné-
ticas invisíveis.
Isso reforça a forma como
enxergamos a tecnologia do
ponto de vista futurista. Essa
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visão permeia de tal maneira o
nosso ideário que em 1962, os
cartunistas William Hanna e
Joseph Barbera criaram, em con-
junto, uma de suas obras de maior
Figura 5 – Antonio Meucci e sua invenção, o Teletrofono
sucesso: Os Jetsons (Figura 6).
Nessa obra, os autores retrataram como
seria a humanidade do futuro, com seus car-
ros voadores, cidades suspensas e toda a
sorte de equipamentos eletrônicos inteligen-
tes, a exemplo das geladeiras que “falam” os
produtos que precisam ser comprados para
abastecê-la. Teriam os autores imaginado
que em 2011, portanto, em somente 39 anos
após o surgimento da série, tal equipamento
existiria?
A própria evolução tecnológica nos faz acreditar que toda e qualquer tec-
nologia possui este caráter futurista. Tecnologias as quais são utilizadas em prol
da medicina, da logística, da educação e mesmo do trânsito. Considerando este
último exemplo e considerando ainda os dados alarmantes de acidentes de trân-
sito envolvendo motociclistas, a empresa norte-americana Skully criou o primeiro
capacete para motociclistas que conta com a tecnologia head-up display e que
pode ser conferido por meio da Figura 7.
©Skully Systems
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exemplos que poderiam justificar esta impressão futurista das novas tecnologias.
Em todos os exemplos que poderiam ser citados neste momento, certamente dois
pensamentos permeariam sua mente: as novas tecnologias são complexas e de
custo elevado. Mas, ao retornarmos à visão etimológica do termo “tecnologia”,
será que essa ideia de complexidade e custo deve necessariamente ser verdadeira
para obtermos resultados satisfatórios?
Antes de continuarmos, peço a gentileza de que você avance até o final desta
Unidade, após as nossas Atividades de Estudo, e veja o vídeo intitulado “Sombrite
Móvel para Vacas Leiteiras”.
O vídeo ilustra um conceito de uma estrutura simples para promover sombra
às vacas leiteiras que se encontram pastejando em locais onde não há sombras
naturais. Pode ser montada e desmontada, sendo instalada em diferentes pontos
da pastagem, promovendo conforto térmico aos animais lactantes.
O benefício em se promover sombra aos animais baseia-se na melhoria de
suas condições fisiológicas (frequência respiratória, temperatura retal, batimen-
tos cardíacos etc.), no comportamento animal (consumo, ócio, ruminação etc.)
e no desempenho produtivo (carne, leite etc.), percebendo-se diferenças mais
acentuadas nessas variáveis quanto menor for a tolerância dos animais às eleva-
das temperaturas (TITTO et al., 2008). Assim, uma solução simples e de baixo
custo já é suficiente para elevar a produtividade do leite de vacas em lactação.
Quer outro exemplo? Vamos lá: na área agronômica, mais especificamente,
de controle de insetos, muitos são os grupos químicos que possuem potencial
inseticida, dentre os quais os piretroides são os mais avançados por atacar o sis-
tema nervoso dos insetos. Entretanto, a eficiência na ação de tais inseticidas
©Embrapa
depende diretamente da exposição do inse-
to-alvo ao agrotóxico, algo que não ocorre
caso este inseto tenha o hábito de escavar
galerias nos colmos dos vegetais.
Essa é uma “dor de cabeça” que mui-
tos produtores de cana-de-açúcar possuem
com um inseto chamado “Broca da Cana”
(Diatraea saccharalis). A Broca da Cana
pode ser considerada a principal praga da
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até a morte da gema apical, com perda da última folha, sintoma que é chamado de
“coração morto”. Quando a larva vai empupar para se transformar na mariposa,
ela abre outro orifício para sair. As pupas se tornam adultos e, após o acasala-
mento, o ciclo recomeça. Em média, o ciclo completo da broca é de 70 dias.
Para contornar esse problema, já verificamos que a “solução futurista” dos
piretroides não alcança as larvas dentro dos colmos. Assim, torna-se necessária
a adoção de uma outra técnica, bastante simples, que é a do controle biológico,
feito com um inimigo natural específico, a Cothesia flavipes, uma vespa que é
multiplicada em laboratório e liberada nos canaviais (Figura 9).
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©Embrapa
A fêmea desse inseto caça a larva da broca, entrando nas galerias abertas. Ao
encontrar o alvo, ela paralisa a larva com uma picada e introduz o ovipositor; a
partir daí, surgirão as larvas que se alimentarão dos tecidos internos da broca,
levando-a à morte. Apesar dessas vespas serem reproduzidas em laboratório
apenas para acelerar o processo e aumentar rapidamente o seu número, o con-
trole já existe em nível natural. Trata-se apenas da cadeia alimentar em ação.
Simples, não é?
Uau, professor! Então nem toda solução tecnológica possui
caráter futurista?!
Exatamente, caro(a) acadêmico(a)! Soluções simples e de
baixo custo podem refletir em melhorias de eficiência nos
processos tanto quanto soluções mais complexas. Ocorre
que essas soluções mais simples, por serem óbvias demais,
passam muitas vezes despercebidas pelos nossos
olhares. Ademais, vale dizer que tais soluções
são as que promovem o menor impacto em
sua aplicação, sendo mais sustentáveis.
VISÃO SOCIOLÓGICA
Uma tecnologia social que tem sido instalada nos grandes centros urbanos e que
pode ser ligada ao agronegócio é a aquaponia. A aquaponia é uma modalidade de
cultivo de alimentos que envolve a integração entre a aquicultura e a hidroponia
em sistemas de recirculação de água e nutrientes. Além disso, a aquaponia apre-
senta-se como alternativa real para a produção de alimentos de maneira menos
impactante ao meio ambiente devido a suas características de sustentabilidade
(DIVER, 2006; MATEUS, 2009; HUNDLEY et al., 2013).
Assim, dentro deste contexto sustentável, pequenos produtores podem pro-
duzir peixes e hortaliças utilizando-se de tambores e caixas de água, por exemplo
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(Figura 10), reduzindo sua dependência de mercados varejistas e contribuindo
com uma alimentação saudável, com proteína animal de alta qualidade, para
uma parcela da população que é desprovida de maiores recursos financeiros
para melhorar sua alimentação de forma convencional.
©AssociaçãoAliançaLuz
Não se pode dizer que existe uma única maneira de se executar tarefas, ou seja,
uma única técnica, e nem que esta técnica é a melhor de todas, afinal, toda técnica
é sujeita a um estudo e a um aprimoramento. Contudo, ao se analisar as diferen-
tes visões a respeito do termo tecnologia, pode-se chegar a uma conclusão que
uma “tecnologia perfeita” é aquela que associa elementos das diferentes visões.
Toda tecnologia é, puramente, o estudo da técnica ou da forma como deter-
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minada tarefa é executada. Somado a isso, toda a tecnologia precisa ter o arrojo
do tecnicismo para se alcançar resultados mais expressivos. Ademais, o caráter
futurista é que permite inserir na técnica novos conceitos no formato da téc-
nica e, por fim, toda tecnologia precisa ser inclusiva, validada socialmente. Essas
quatro visões, imbricadas, podem ser consideradas como elementos de uma “tec-
nologia perfeita”, tal como ilustrado na Figura 11.
Atitude
Tecnologia Perfeita
Empreendedora
Visão socio
ló gica
Visão Futu
ri sta
Visão Tecn
ic ista
Inovação
Visão Etim
o lógica
Você analisou corretamente a Figura 11? Notou alguma coisa fora do con-
texto? Se você é uma pessoa observadora, deve ter notado que para a construção
de uma “tecnologia perfeita” existe mais um elemento, de suma importância no
que tange à sustentabilidade de sua aplicação: a Inovação, derivada de uma ati-
tude empreendedora.
Para explicar este contexto, vamos nos remeter novamente à Revolução
Industrial:
A primeira metade do século XIX representou o apogeu da Primeira Revolução
Industrial, especialmente na Inglaterra e Alemanha. Historicamente, podemos
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considerar que se tratava de um momento auspicioso com relação ao empreen-
dedorismo, tendo em vista o amplo desenvolvimento e aplicação de inovações
tecnológicas (Figura 12).
Essas inovações possuíram grande
efeito, especialmente se considerar-
mos a evolução a partir de um modelo
quase que exclusivamente artesanal
para um modelo de produção em
série, com a utilização de máquinas
que aumentavam a produtividade nas
indústrias da época.
Da mesma forma, as inovações se
configuravam por meio da utilização de
Figura 12 – Marco da Revolução Industrial – O uso de
uma nova matriz energética, o vapor de vapor como fonte energética
água, posteriormente substituído pelos
combustíveis fósseis e pela energia elétrica no decorrer daquele século.
Caso as inovações não tivessem sido estabelecidas por seus criadores, não
haveria desenvolvimento econômico e retornos financeiros. Dessa forma, con-
clui-se que uma “tecnologia perfeita” também precisa ser inovadora e gerar
recursos para pagar pelo seu desenvolvimento. Quebrar paradigmas do “como
fazer” e gerar lucros: essa ideia também é defendida por Peter Drucker, o “guru
da administração moderna”.
Em seu entendimento, a essência do empreendedor é transformar ideias e
técnicas inovadoras em ações lucrativas, uma vez que as inovações se apresentam
Além das visões que podem ser associadas ao termo tecnologia, nos cabe
compreender também sobre a existência de tipos de tecnologia, até mesmo
para estabelecer um processo de gestão da inovação e da tecnologia em nível
empresarial.
São dois tipos básicos:
a) A Tecnologia Implícita.
b) A Tecnologia Explícita.
Em termos gerais, toda tecnologia implícita é aquela que está encerrada aos
conhecimentos de determinada pessoa ou grupo. Ganha caráter secreto e mui-
tas vezes é o segredo do sucesso de muitas empresas. Pense no exemplo da marca
de refrigerantes mais saborosa do mundo, ou naquele pastel de feira que você
adora. Até existem produtos similares, mas não com o mesmo sabor ou aroma.
Existe, portanto, um passo tecnológico não evidenciado, escrito, publicado, o
qual possa ser copiado pelas demais empresas.
Essa não publicação de tais dados pode ser proposital ou mesmo pelo próprio
caráter do passo tecnológico. Será que você compra aquele pastel tão saboroso
somente pela qualidade do produto ou também está implícita a qualidade do
atendimento? Muitas vezes, a empatia de quem produz a tecnologia com aquele
que a consome gera resultados extraordinários em termos de adoção tecnológica
ou comercialização da tecnologia. A conclusão que tiramos disso é:
“Seja empático àqueles que você pretende estabelecer uma nova tecnologia”
Por sua vez, a tecnologia explícita é aquela que se encontra publicada, paten-
teada e de habilidades amplamente difundidas pela sociedade. Algo que todos
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conhecem e operam. Para este caso, a adoção da inovação ou mesmo da tecnolo-
gia é facilitada, pois existe a possibilidade de muitos usuários obterem resultados
satisfatórios e isso gera um poder de convencimento notável.
Na segunda Unidade, estabeleceremos a discussão dos níveis de adoção de
tecnologias e inovação. O conhecimento aqui discutido já serve como base para
compreender como gerir a tecnologia para casos específicos, em especial, com
o público atendido pelo Gestor de Agronegócios.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegamos ao final de nossa primeira Unidade e por meio desta, pudemos com-
preender que a tecnologia é permeada por uma série de visões diferenciadas, as
quais trazem diferentes interpretações em diferentes contextos.
Independente destas visões, compreendemos que o termo “tecnologia” sig-
nifica “estudar a arte” ou “estudar a forma como nós realizamos esta arte”, ou
ainda, “o estudo da técnica”. Sobre isso, é válido dizer que nem toda a tecnolo-
gia precisa ser complexa para ser aplicada, e muito menos cara.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Considerações Finais
1. Conforme visto em nossa primeira Unidade, a tecnologia pode ser entendida con-
ceitualmente como o “estudo da técnica”, ou seja, trata-se de uma forma de análise
sobre as metodologias empregadas para a realização de nossas tarefas. Sobre esse
tema, analise as alternativas e assinale a correta:
a) Toda tecnologia deve necessariamente possuir um caráter futurista para que possa
ser funcional.
b) A “inovação” é uma condição necessária para que ocorra uma “evolução tecnológi-
ca”.
c) Todas as evoluções tecnológicas possuem um caráter complexo.
d) Todas as evoluções tecnológicas, para serem desenvolvidas, possuem um elevado
custo.
e) Nenhuma tecnologia inovadora é criada por meio de um estado de crise.
2. A visão que muitas pessoas possuem sobre o tema “Tecnologia” ainda está vincu-
lada a um caráter futurista de algum produto que seja capaz de trazer facilidades
ao nosso dia a dia. Contudo, muitas soluções tecnológicas, inclusive as aplicadas ao
Agronegócio, possuem como característica sua simplicidade, rapidez na execução
e baixo custo. Mediante o exposto, assinale a alternativa que apresenta uma solu-
ção tecnológica simples, de fácil execução e barata utilizada no Agronegócio.
a) Mecanização Agrícola.
b) Georreferenciamento.
c) Rastreamento.
d) Controle Biológico e Adubação Verde.
e) Melhoramento Genético.
3. Em suas bases conceituais, uma tecnologia social é aplicada a partir do momento
em que uma tecnologia vinculada unicamente a um processo ou a um produto não
é capaz de satisfazer as bases da sustentabilidade, especialmente considerando seu
caráter social. Entende-se que toda a tecnologia deve possuir um caráter includen-
te, onde todos os atores envolvidos possam ter a oportunidade de se desenvolver
socioeconomicamente. Caso não tenha essas características, essa tecnologia não
pode ser denominada como “tecnologia social”. Neste ínterim, assinale a alternativa
que pode ser considerada como uma tecnologia social.
a) Feira de Economia Solidária.
b) Fabricação de tratores movidos a etanol.
c) Silvicultura.
d) Produção de Fungicidas.
e) Georreferenciamento de propriedades rurais.
MATERIAL COMPLEMENTAR
Material Complementar
Prof. Me. Tiago Ribeiro da Costa
II
ESTRATÉGIAS PARA A ASSIMILAÇÃO
UNIDADE
DE TECNOLOGIAS E TECNOLOGIAS
VINCULADAS AO GESTOR EM
AGRONEGÓCIOS
Objetivos de Aprendizagem
■■ Analisar os principais fatores que levam um empresário a adotar uma
nova tecnologia.
■■ Apresentar e discutir sobre as estratégias que facilitam a adoção das
novas tecnologias.
■■ Discutir sobre as principais ferramentas tecnológicas que precisam
ser assimiladas pelos Gestores em Agronegócio em sua prática de
trabalho.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ A adoção das tecnologias e das inovações
■■ Estabelecendo a assimilação de tecnologias e inovações ao público
atendido pelos tecnólogos em agronegócio
■■ Outros fatores relevantes à adoção de novas tecnologias
■■ “Tecnologia pra ti... Tecnologia pra mim...”
43
INTRODUÇÃO
Introdução
II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
drasticamente no ano de 2014, o Brasil ficou na posição de número 64 entre 142
países avaliados por meio do Índice Global de Inovação – IGI.
Este índice leva em conta 84 indicadores sociais, econômicos, produtivos e
tecnológicos que resultam, uma vez compilados e cruzados, no grau de inovação
técnica dos países. Trata-se ainda da avaliação de elementos que favorecem ativi-
dades de inovação, como instituições, capital humano e pesquisa, infraestrutura,
aperfeiçoamento das empresas, além de provas manifestas em conhecimento e
tecnologia e resultados criativos.
Este índice, elaborado e publicado por meio da Organização Mundial de
Propriedade Intelectual – OPMI, pela Universidade de Cornell (EUA) e pelo
Insead (Escola de Administração Francesa), apresenta uma situação corrente ao
Brasil, porém delicada, uma vez que o Brasil decaiu 17 posições em relação a 2011.
O que nos anima é o fato de que os demais países em desenvolvimento do
grupo BRICS (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul)
também não tiveram evoluções nestes indicadores. Segundo Moreira (2013),
nenhum país do grupo dos Brics conseguiu ficar entre os 25 primeiros e, na ver-
dade, todos estagnaram ou perderam posições em termos de inovação: a China
ficou em 35ª, o que representou a perda de um posto em relação à 2012 e de
seis em relação a 2011; a Rússia ficou em 62ª posição, perdendo 11 comparado
a 2012 e 17 em relação a 2011; a Índia ficou em 66ª posição, perdendo dois pos-
tos comparado a 2012 e quatro comparado a 2011.
Assim, em um contexto mais genérico, podemos dizer que existem inves-
timentos em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação – PDI no Brasil, contudo,
estão aquém das potencialidades do país (de sua massa criativa) e aquém das
respeito, mas representa apenas 2,2% de tudo aquilo que é publicado no mundo.
Ademais, devemos verificar não somente a quantidade de artigos, mas a qualidade
dos mesmos. É fato que uma fatia muito pequena destes artigos versa sobre ino-
vação e tecnologia. Os demais estão centrados em replicações da ciência presente
e pouco contribuem, efetivamente, para a evolução tecnológica em nosso país.
Todavia, ainda há um aspecto mais preocupante: verifica-se a existência de
poucas empresas privadas investindo em patenteamento das novas tecnologias,
dada a morosidade da tramitação do processo. Somado a isso, devemos nos pre-
ocupar ainda com a saúde econômica do país, o que acentua uma característica
bastante interessante dos gestores empresariais: a cautela.
Não precisamos nos ater exclusivamente aos investidores, bastando olhar
simplesmente para o nosso próprio comportamento. Lembra-se de que em nossa
primeira Unidade discutimos um pouco a respeito da etimologia do termo “tec-
nologia” e nos utilizamos dos sistemas operacionais para exemplificá-lo? Você
está em qual sistema operacional? Se for Microsoft Windows, você está na ver-
são 7 ou já atualizou para a versão 8? Ou ainda, já está testando a versão 10?
Para aqueles que ainda estão na versão 7, diversos são os argumentos, mas
todos podem ser sistematizados ao fato de que se trata de um sistema leve e con-
fiável. Para que trocar o certo pelo duvidoso, não é mesmo? Para aqueles que
estão na versão 8, os argumentos também são variados, mas, de maneira geral,
mesmo com a estranheza inicial, os usuários se acostumaram com a nova inter-
face, segurando-se na fluidez do sistema. E para aqueles que estão na versão 10,
assim como eu, testando-a, somente estão neste estado porque gostam de ado-
tar precocemente as tecnologias e as inovações.
Se a versão 10 for aprovada por mim, com certeza alguém muito próximo vai
me perguntar a respeito dela e também vai querer testar. Você já passou por algo
semelhante? Algum amigo seu ou conhecido passou a utilizar algo mais atual, uma
técnica nova, só porque você afirmou que se tratava de algo seguro e confiável?
Isso é inerente ao comportamento humano. Poucos são os empreendedo-
res, os inovadores que se arriscam a testar as novas tecnologias e inovações. Isso
tem um preço, pois nem todas as inovações e novas tecnologias são confiáveis e
geram resultados satisfatórios de maneira imediata. Pessoalmente, tenho como
amigo um produtor de laranja que possui um perfil inovador, adotante precoce
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das inovações, mas que por fazê-lo, encontra-se com sucessivos balanços nega-
tivos em sua propriedade rural.
Todavia, a ação destes protagonistas é extremamente válida, pois os riscos
de sucesso são nulos a partir do momento em que não se admite a possibilidade
de investir em algo inovador.
O mais interessante é que esta curva corrobora especialmente com o público aten-
dido pelas ações dos Tecnólogos em Agronegócio e quaisquer outros profissionais
do ramo de ciências agrárias. E diria mais, certamente são raros os exemplos de
empresários rurais que são adotantes precoces de inovações tecnológicas e for-
madores de opinião. A maioria de nosso público é conservadora! Anote isso!
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tação, por não atingirem os objetivos desejados.
■■ Comportamento individual ou em grupo:
■■ O indivíduo resiste à mudança porque suas necessidades (proteção
contra ameaças e privações) podem ser comprometidas.
■■ O indivíduo pode acreditar que não é capaz de acompanhar a
mudança.
■■ O indivíduo pode não estar convencido dos objetivos e intenções da
introdução da tecnologia.
■■ O indivíduo resistirá ao processo se sentir que sua posição na orga-
nização se encontra ameaçada.
■■ Resistência de um grupo – quando mais de uma pessoa comparti-
lha dos mesmos sentimentos que definem as resistências individuais,
elas se agrupam, formando campos de poder para irem contra as
mudanças.
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Figura 14 – Exemplo de Unidade Demonstrativa de tratamento de efluentes de água salobra para uso na agricultura
©MMA
Figura 15 – Fluxo do processo de produção de feno a partir da Erva Sal (Artiplex numularia) tratada com efluente de
água salobra e tanques de piscicultura
Inseri o referido exemplo nesta obra por sua notável contribuição tecnológica
ao desenvolvimento de famílias carentes no semiárido nordestino. Aliás, diga-se
de passagem, essa é uma Tecnologia Social (você se lembra de nossa discussão
na Unidade anterior?).
Um agricultor que passa pela problemática da falta de água em sua proprie-
dade não será convencido facilmente em adotar esta tecnologia caso não a veja
em execução e dando resultados satisfatórios. Por isso a Unidade Demonstrativa,
que nada mais é do que uma área produtiva onde a tecnologia já se encontra
instalada e gerando resultados, contribui para este convencimento, facilitando
a adoção das tecnologias no campo.
Caso ainda o empresário rural não esteja convencido, alegando que a tec-
nologia em questão só funciona dentro de um contexto pré-determinado e que
não funcionaria no contexto específico dele, utilize a metodologia de “Redes de
Referência”. O uso dessa metodologia é um pouco mais complexo, pois a criação
de uma “Rede” não é algo simples. Envolve um conjunto de empresários rurais
inovadores e de instituições de pesquisa, desenvolvimento e inovação regionais.
EstabelecendoaAssimilaçãodeTecnologiaseInovaçõesaoPúblicoAtendidoPelosTecnólogosemAgronegócio
II
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dores, estas equipes vêm implementando, desde junho de 1998, me-
todologia de pesquisa e desenvolvimento (P&D) adaptada a partir da
experiência do Institut de l’Elevage da França, visando a validação e
transferência de tecnologias viáveis para os sistemas de produção es-
tudados.
©IAPAR
Figura 16 – Estruturação da Rede de Referência de propriedades rurais e suas respectivas cadeias produtivas
Contudo, como você pôde perceber, caro(a) leitor(a), é uma estratégia que você
poderia adotar caso houvesse uma rede instalada em seu estado e, ainda, caso
a cadeia produtiva do empresário rural que você atende seja contemplada pela
rede. Mas não se preocupe, existem outras estratégias que você poderá adotar no
sentido de promover a assimilação das tecnologias e das inovações no meio rural
e agroindustrial e estas estratégias poderão ser observadas no seguinte endereço:
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dades rurais e aos empresários rurais, também no sentido de promover a
adoção das inovações tecnológicas, acesse:
<http://www.ipa.br/novo/pdf/ipa-manualdemetodologia.pdf>
Podemos dizer que os três últimos atributos aparecem indiretamente nas discus-
sões feitas sobre os exemplos anteriores. Uma tecnologia será melhor adotada
a partir do momento em que se mostra simples e pouco onerosa, ao mesmo
tempo em que já fora testada em uma situação de baixo risco e, ainda, apresen-
tando resultados satisfatórios. Uma Unidade Demonstrativa independente, ou
©FCA
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Na seção anterior, analisamos o posicionamento do Brasil frente aos processos
de inovação tecnológica e analisamos ainda as formas sob as quais poderemos
atuar no sentido de estabelecer, junto ao público atendido pelos Gestores em
Agronegócios, a implantação e execução de novas tecnologias.
Contudo, também é importante que os Gestores em Agronegócio saibam
quais são as tecnologias que estão disponíveis para o exercício da sua profissão.
Nesta seção, tentaremos responder ao questionamento: “O que eu, enquanto
Gestor em Agronegócios, posso utilizar no sentido de melhorar minha prática
profissional?”.
Leve em conta que explanaremos sobre tecnologias variadas, nem sempre
vinculadas à Tecnologia da Informação ou às complexas máquinas e equipamen-
tos. Desmistifique suas visões acerca do tema! Nem toda tecnologia tem caráter
futurista, complexo e oneroso! Vamos lá?
COMUNICAÇÃO
O ato de se comunicar também pode ser considerado como uma tecnologia. Mas
a compreensão a respeito do processo de comunicação ainda é bastante limi-
tada. Muitos profissionais imaginam que a comunicação é vinculada somente ao
ato de falar, mas também devemos nos ater ao fato de que a comunicação extra-
pola qualquer formato. Mas, independente da forma como nos comunicamos,
devemos fazê-lo como excelência, pois esta é a chave para se conquistar clientes.
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5. Evite mensagens SMS ou por Whatsapp / Facebook Messenger / Snapchat
/ Line etc. Estes mensageiros são de cunho particular e pessoal. A não
ser que a situação exija e você esclareça que se trata de uma estratégia de
comunicação de sua parte, dê preferência ao uso do e-mail.
6. No e-mail, seja sucinto(a) com os assuntos. Evite textos longos e cansa-
tivos. Seja claro(a) desde o campo de assunto, colocando um briefing do
corpo do texto. Por exemplo: Assunto – Reunião sobre Planejamento
Estratégico da Empresa Campos Agronegócio – Dia 16/10/2014 às 19:00
horas. Também evite em qualquer comunicação por escrito termos em
caixa alta. É CONSENSO NA INTERNET QUE QUEM SE UTILIZA DE
CAIXA ALTA ESTÁ GRITANDO COM AS DEMAIS PESSOAS. Por-
tanto, evite isso!
7. Já no campo de texto do e-mail, cumprimente (Bom dia, Boa tarde, Sauda-
ções etc.) e assine o e-mail com suas informações de contato. Por exemplo:
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
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sionais. Vamos a elas:
a) Editores de Texto
Os editores de texto são programas que traduzem as informações inseridas pelos
usuários em uma interface digital, a qual pode ser manipulada de acordo com as
necessidades destes usuários e de acordo ainda com as possibilidades do programa.
Atualmente, existem duas linhas de programas: as de código-fechado e as de
código-aberto (ou software livre). Estes últimos são desenvolvidos por progra-
madores independentes e disponibilizados a uma gama diferenciada de usuários,
partindo do usuário comum até o desenvolvedor, o qual usa o programa, analisa
suas deficiências e propõe melhorias nas linhas de programação.
Existe um expoente para cada linha mencionada: O Microsoft Word (código-
fechado) e o Apache Open Office Writer (código-aberto). Geralmente os usuários
utilizam tais programas para criação de documentos simples, utilizando-se de
poucas opções de formatação dos textos.
Dentre as opções disponíveis, encontram-se a mudança de fontes em for-
mato, cor, tamanho e disposição, alinhamento de texto (esquerda, centro, direita
ou justificado) alinhamento e espaçamento de parágrafos, criação de listas em
nível, listas em ordem alfabética, tabelas, associação de elementos textuais e
elementos gráficos (figuras), inserção e formatação de cabeçalhos e rodapés e
inserção de sumários.
Também existem as opções mais avançadas, como a criação de listas de refe-
rências de literatura, notas de rodapé, numeração de páginas, criação de layouts
e temas para documentos de texto, conversão do layout de tela para um layout
b) Editores de Planilhas
Os editores de planilhas são programas que permitem a criação de tabelas e
quadros em que se permite o relacionamento dos dados de forma matemática,
na mesma planilha, ou ainda em planilhas e pastas separadas, isso com o uso de
recursos nativos dos programas.
Ainda é possível criar bancos de dados se utilizando destas planilhas. Por
meio de comandos que são executados nestes programas ou em programas de
interface (a exemplo do Embarcadero Delphi), podemos obter os dados de res-
posta a uma variável inserida.
Todavia, uma das maiores utilidades deste tipo de programa, além da ques-
tão do banco de dados, é o seu banco de fórmulas. Podemos estabelecer cálculos
desde a matemática básica até a trigonometria, passando inclusive por fórmulas
estatísticas. Conseguimos, por exemplo, gerar gráficos de regressão que represen-
tem o resultado do crescimento de plantas de acordo com a adubação nitrogenada
utilizada, ou ainda, gráficos de acompanhamento de oferta e demanda de com-
modities, algo tão comum na prática analítica do Tecnólogo em Agronegócios.
Os dois melhores representantes deste tipo de programa são o Microsoft Excel
(código fechado) e o Apache Open Office Calc (código aberto). Os endereços
apresentados no Material Complementar desta Unidade também levam aos tuto-
riais e manuais dos dois programas. Tenha curiosidade e explore este universo!
c) Editores de Apresentações
Estes editores possuem por função formatar apresentações digitais de conteúdo,
conhecidos por slides. As últimas versões destes programas tem ganhado grande
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de maneira bastante simples. Ela representa um croqui de uma área experimen-
tal de milho transgênico, de um projeto de pesquisa que estamos conduzindo
em parceria com a empresa Dekalb, fornecedora das sementes brasileiras e nor-
te-americanas de milho e com a Missoury State University – MSU de Springfield,
Estado de Missoury, Estados Unidos da América.
Ainda, existem editores online, como é o caso do Prezi, que possuem no dina-
mismo e em seus modelos prévios um excelente chamariz para belas apresentações,
as quais possuem, inclusive, efeitos cinematográficos gerados pelo padrão SWF
(Adobe Flash Player). O Prezi também tem um instalador que lhe permite geren-
ciar suas apresentações e criá-las em seu próprio computador.
d) Computação na nuvem
O termo “computação na nuvem” sugere o armazenamento de seus principais
arquivos de trabalho em servidores dedicados, os quais você provavelmente não
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vê, mas sabe que existe um espaço dedicado a este armazenamento. Ademais,
a computação na nuvem, nos dias atuais, está evoluindo para a própria execu-
ção de programas que, antigamente, precisariam ser instalados fisicamente nos
computadores.
Para nossa sorte, quando se fala em computação em nuvem, a variedade de
serviços oferecidos é bem maior e por empresas bastante conhecidas do público,
como é o caso da Google Inc., que possui o serviço Google Drive, da Microsoft,
que oferece o serviço One Drive, e da Apple, que possui o serviço iCloud. Todavia,
apenas os dois primeiros oferecem sistemas de edição de arquivos online, os quais
podem ser acessados por qualquer pessoa que você permita e por você mesmo.
Tratam-se das plataformas Google Docs e Microsoft Office Online.
Pense na seguinte situação: você já não precisa levar o seu pesado notebook
para todos os lugares. Basta que seu lugar de destino tenha um computador e
você consegue acessar um texto, uma apresentação, uma planilha, ou mesmo uma
foto e alterá-la para uso imediato, sem as complicações de depender de dispo-
sitivos portáteis de armazenamento (HDs externos ou pen-drives) e não sendo
necessário ter o programa instalado nessa máquina.
Mas e se o lugar para onde você vai não tiver um computador prontamente
disponível? Se você tiver um tablet ou smartphone com uma tela acima de qua-
tro polegadas, fica fácil fazer a mesma tarefa. Existem aplicativos para o sistema
Google Android e Microsoft Windows que permitem que os arquivos sejam aces-
sados na nuvem e editados conforme a sua necessidade e conforme ainda o poder
de processamento do seu gadget. Incrível, não?
Porém, o único limitante é que você precisa ter uma conexão de internet rela-
tivamente veloz. Depender somente da internet móvel padrão 3G no Brasil não
garante acesso satisfatório aos arquivos, dependendo logicamente de seu tamanho.
e) Home Broker
Sendo Gestor em Agronegócios, você necessitará acompanhar a movimentação
do mercado, em especial, a movimentação de ações de empresas do setor, bem
como a movimentação dos preços das commodities, definindo qual a meta de
preço a ser atingida para a venda, definindo, ainda, o melhor momento de aqui-
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sição de contratos de mercado futuro.
Assim, torna-se relevante o uso de um programa que permita não somente
este acompanhamento, mas que também permita a ação de corretagem. Apertando
um botão em seu mouse ou uma tecla em seu teclado, você ordena ao seu repre-
sentante em uma bolsa de valores a transação sobre a ação desejada (compra e
venda). Isso é possível por meio do Home Broker, representado na Figura 19.
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Dessa maneira, o usuário permanece informado a respeito do andamento da
política, das ciências, da tecnologia, ou mesmo dos esportes, lazer e outros temas
que sejam de seu interesse. O que se quer demonstrar neste ponto é a necessi-
dade do Gestor em Agronegócios manter-se bem informado sobre as novidades
de mercado para crescimento pessoal, desenvolvimento do intelecto e do senso
crítico, de maneira a também informar seus clientes a respeito das atualidades.
Mas você deve estar se perguntando: “Como eu utilizo essa tecnologia?”.
Depende do dispositivo que você possui em mãos. Particularmente, gosto de
sincronizar meus feeds nos três dispositivos que tenho (desktop, notebook e
smartphone). Fiz questão de trabalhar sempre com a base Microsoft, pois a sin-
cronização é mais rápida, dependendo apenas de um único programa, o Outlook,
de maneira que a cada feed lançado, estes três dispositivos recebem simultane-
amente a notícia.
Existem maneiras mais simplificadas de assinar um RSS feed. Todos os
navegadores de internet atualmente possuem suporte para essa tecnologia, bas-
tando encontrar no site de seu interesse se ele também suporta essa tecnologia.
Geralmente, será encontrado na página um ícone respectivo a tecnologia RSS.
Ao clicar neste ícone, cada navegador responderá de uma forma diferente, mas
todos direcionarão à assinatura do feed. Após este processo, os feeds (notícias)
serão atualizados automaticamente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ufa! Quantas tecnologias não é mesmo? Apenas exploramos uma parcela das
tecnologias que você poderá utilizar em seu trabalho. Como havia dito anterior-
mente, seria muita pretensão de minha parte esgotar todas as tecnologias que
você poderia utilizar em sua carreira, assim como também seria pretensão falar
de todas as tecnologias que podem ser utilizadas no Agronegócio.
Anteriormente às tecnologias discutidas ao final desta Unidade, fizemos
uma abordagem sistêmica a respeito dos principais graus de adoção das ino-
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vações por parte dos empresários rurais, e sobre este assunto, reforço o fato de
que muitos destes empresários não estão dispostos a “pagar pra ver”. A maioria
é adotante de nível médio. Cautelosos em suas escolhas, eles precisam ver dar
certo para poderem adotar uma nova tecnologia.
Já que é essa a problemática imposta, precisamos criar metodologias para
que as tecnologias passem a ser adotadas de maneira mais rápida, quebrando
as barreiras e os receios da adoção por meio das estratégias que discutimos ao
longo desta unidade.
Espero que você tenha gostado de nosso livro até aqui e que esta experiên-
cia esteja sendo enriquecedora.
Considerações Finais
Brasil está em 14º lugar no ranking mundial de pesquisas científicas
Os cientistas brasileiros publicaram 46,7 mil artigos científicos em periódicos no ano
passado, número que coloca o Brasil em 14º lugar como produtor mundial de pesquisas.
Segundo o relatório feito pela empresa Thomson Reuters, isso equivale a 2,2% de tudo
o que foi publicado no mundo, em 2012. Nos últimos 20 anos, o país subiu dez posições
nesse ranking.
A China conquistou o primeiro lugar em pedidos de patentes, seguida por Estados Uni-
dos, Japão e Europa. O trabalho foi feito em parceria com o Instituto Nacional da Proprie-
dade Industrial (Inpi) e a Confederação Nacional da Indústria (CNI).
No Brasil, o ramo científico que mais produziu artigos foi a medicina clínica. No período
de 2008 a 2012, foram produzidos quase 35 mil artigos. Em segundo lugar, ficou a ciên-
cia de plantas e animais, com 19,5 mil artigos no mesmo período. Ciências agrárias pro-
duziram 13,5 mil artigos entre 2008 e 2012. O maior crescimento foi visto nas ciências
sociais e gerais, que saltaram de 1,5 mil entre 2003 e 2007 para 9,8 mil entre 2008 e 2012.
Como consequência do aumento na produção científica, o pedido de patentes no país
chegou a 170 mil no período de 2003 a 2012. Segundo o presidente do Inpi, Jorge Ávila,
o órgão continua lidando com o forte crescimento do número de pedidos de patentes,
que foi 33,5 mil em 2012, com projeção de alcançar 40 mil este ano.
Os maiores detentores de patentes no país, revelou a pesquisa, foram a Petrobras e as
universidades públicas. De 2003 a 2012, a Petrobras registrou 450 patentes. Logo atrás,
veio a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com 395 patentes. Em terceiro,
ficou a Universidade de São Paulo (USP), com 284 patentes. A Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG) vem logo em seguida, com 163 patentes.
De acordo com o relatório, a ausência de empresas privadas na lista dos maiores deten-
tores de patentes reflete um aspecto negativo do país. Como a demora na tramitação
do processo pode chegar a oito anos, muitas empresas desistem, pois a tecnologia pode
acabar se tornando obsoleta antes de a patente sair.
Fonte: CRUZ, Fernanda. Brasil está em 14º lugar no ranking mundial de pesquisas
científicas. Agência Brasil. Disponível em: <http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/
noticia/2013-09-17/brasil-esta-em-14%C2%BA-lugar-no-ranking-mundial-de-pesqui-
sas-cientificas>. Acesso em: 16 out. 2014.
71
ATRIBUTO CONCEITO
1. Vantagem Relativa I – Trata-se do grau em que a inova-
2. Valores, Normas e Experiências dos ção pode ser previamente testada em
Usuários uma situação de baixo risco.
3. Complexidade II – Trata-se do grau em que os resul-
tados de uma inovação são visíveis
4. Testabilidade
aos demais usuários.
5. Observabilidade
III – Trata-se da comunicabilidade que
a inovação tem com a personalidade
do usuário.
IV – Trata-se do ganho que a inovação
possui sobre a tecnologia anterior.
V – Trata-se do nível de dificuldade
que a inovação oferece ao usuário ou
ao sistema, quando aplicada.
Veja como o Prezi funciona e aprenda a criar belas apresentações para seu público.
Acesse: <http://www.youtube.com/watch?v=L4ksDdrGyAg>.
III
A REVOLUÇÃO VERDE: O
MARCO TECNOLÓGICO MAIS
UNIDADE
IMPORTANTE PARA O
AGRONEGÓCIO
Objetivos de Aprendizagem
■■ Compreender os eventos precedentes à Revolução Verde.
■■ Distinguir os modelos tecnológicos tradicionais dos modelos
preconizados pela Revolução Verde.
■■ Apresentar e discutir sobre as consequências deste novo modelo
tecnológico.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ A Revolução Verde: Precedentes
■■ A Revolução Verde: A radical mudança tecnológica para a produção
de alimentos
75
INTRODUÇÃO
Prezado(a) leitor(a),
Chegamos à metade de nossos estudos. Isso é ótimo, pois estamos avançando
significativamente em nossa compreensão sobre as Novas Tecnologias Aplicadas
ao Agronegócio. Todavia, e infelizmente, vamos nos aproximando do final do
material. Mas não fique triste! Ainda temos muito o que conversar.
Por exemplo, nesta terceira Unidade, vamos discutir a fundo sobre a
Revolução Verde, o principal marco tecnológico que poderia ser vinculado ao
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Introdução
III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
de interiorização do país, em especial, no estado de Minas Gerais, onde séculos
adiante se veria a evolução das cadeias produtivas de leite bovino e café.
Os ciclos do açúcar (entre os séculos XVII e XVIII), do café (entre os séculos
XVIII e XX) e o de hortaliças (século XX) serviram de base para avanços eco-
nômicos e tecnológicos significativos, não somente no meio rural, mas também
no meio urbano, tendo em vista que o capital gerado por essas atividades, em
especial a do café, cultura tipicamente agroexportadora, propiciou a estrutura-
ção das cidades em formação, fortalecendo os setores da indústria e de serviços.
Para se ter uma ideia, as primeiras ferrovias brasileiras foram construídas
ao longo do século XIX, em especial, nos principais eixos de escoamento das
fazendas cafeeiras. É de importante destaque nessa época a atuação de Irineu
Evangelista de Sousa, o Barão e Visconde de Mauá, sobre quem apreenderemos
maiores conhecimentos, por meio da Leitura Complementar disposta ao final
desta Unidade.
O empreendedorismo de Irineu Evangelista de Sousa pode ser considerado
como um marco tecnológico no Brasil, realizado, em parte, com os recursos
oriundos das atividades agropecuárias. Todavia, as inovações tecnológicas vin-
culadas às ações do Barão de Mauá e mesmo aquelas que as sucederam tiveram
como local de desenvolvimento o meio urbano.
Esta situação impôs um tênue limite entre o “rural” e o “urbano”, limite que
adquiriu elevada importância no Brasil em meados da década de 1920. Foi uma
década efervescente no campo tecnológico, considerando a aplicação e o apri-
moramento das tecnologias em vários setores.
Inicialmente, foi a primeira vez no Brasil que as tecnologias de imunização
e o uso das situações corriqueiras como temáticas de suas obras, sempre pau-
tadas em linguagem coloquial. Euclides da Cunha, em sua obra “Os sertões”, e
Monteiro Lobato, com suas obras “Urupês” e “Cidades Mortas”, ilustravam as difi-
culdades e a melancolia das comunidades nordestina e cabocla, respectivamente,
abandonadas pelo Poder Público o qual pautava sua agenda de desenvolvimento
na evolução urbana.
Aliás, é importante abrir espaço para inserirmos o maior expoente de repre-
sentação do homem do campo da época: o Jeca Tatu (Figura 20):
Este personagem fora bastante injustiçado pela socie-
dade da época. Todas as ilustrações deste personagem,
somadas a uma leitura leviana dos contos, instau-
raram uma dicotomia decisiva: a do progresso
urbano versus o retrocesso rural. Ademais, essa
visão dicotômica fora reforçada pelo fato de que a
industrialização brasileira, embrionária nas déca-
das anteriores, ganhou um salto de qualidade
significativo na década de 1920, em especial,
©MiniWeb
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ças da vida.
Essa dicotomização perdurou por décadas adiante, e de fato, pouca tecnolo-
gia fora aplicada no campo. Aliás, é importante informar que a agricultura, no
mundo inteiro, só sofreu uma drástica modificação na tecnologia em meados
do século XVIII, quando Thomas Malthus desenvolveu uma teoria com base na
crise alimentar que se instaurava na Europa.
Com a crescente população, e analisando os modelos produtivos da época
(pouco evoluídos a partir dos modelos anteriores à Idade Média), Maltus veri-
ficou que a ocorrência de pestes, doenças e fome generalizada seria questão de
tempo. Assim, houve uma discreta mecanização, com a inserção das primeiras
máquinas de plantio e colheita, o que aumentou a produtividade. Essa soma de
inserção tecnológica com a ampliação das áreas é que deu a sobrevida neces-
sária à agricultura, nos moldes em que era praticada, entre o século XVIII e a
primeira metade do século XX.
A baixa tecnologia aplicada ao campo se resumia em somente desbravar
novas áreas e se utilizar de rudimentares máquinas e ferramentas manuais (Figura
21). E isto era notório nas cadeias produtivas de maior dinamismo econômico,
a exemplo da cadeia produtiva do café.
©Willenborg
Figura 21 – Uso de máquinas agrícolas no desbravamento de uma propriedade rural no município de Sulina,
estado do Paraná
Além disso, havia outra questão: o pós-guerra. A indústria bélica dos países
participantes da Segunda Guerra Mundial sofreu uma redução significativa em
seus lucros, afinal, somente dois países permaneceram em uma guerra velada
(Estados Unidos da América e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas),
pouco, se considerarmos que no ápice da Segunda Guerra Mundial a indústria
bélica dos países participantes tinha um conjunto ávido de países consumidores.
Outrossim, o residual de estoques dessa guerra, considerando armas químicas,
armas convencionais e maquinários era considerável. Tornara-se necessário, por-
tanto, destinar estes produtos para um novo objetivo, o que Saes (2012) definiu
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
como “inovação de posição”, tendo em vista a mudança no contexto com que
essas máquinas e equipamentos seriam ofertados. Veja alguns exemplos dessas
mudanças:
■■ Os princípios construtivos dos tanques de guerra foram repassados à base
tecnológica dos tratores agrícolas, retornando à sua origem, uma vez que
os próprios tanques de guerra foram construídos a partir das bases tecno-
lógicas aplicadas à construção dos rudimentares tratores do século XIX.
■■ O uso da amônia, insumo para a fabricação de armas químicas, retornou
para as plantas de fabricação de fertilizantes nitrogenados, uma vez que
delas saiu, no início do século XX, pelas mãos de Fritz Haber, químico
responsável pela patente do processo industrial de síntese de amônia e
ganhador do prêmio Nobel da paz de 1920.
■■ Inseticidas como o cianeto de amônia e o 1,1,1 – tricloro – 2,2 – di (p-clo-
rofenil) etano, mais conhecido como DDT, os quais foram utilizados em
guerra, nas tropas para controle de piolhos e insetos transmissores de
doenças como a malária e a tifo exantemática foram direcionados para
o controle de pragas na produção de cereais. Com a mesma base tecno-
lógica, criou-se os primeiros inseticidas organoclorados, a exemplo do
aldrin, dieldrin, heptacloro e toxafeno.
■■ Princípios químicos herbicidas, os quais foram utilizados na Segunda
Guerra Mundial e na Guerra do Vietnã, no sudeste asiático, foram redire-
cionados como controladores de plantas invasoras, sendo exemplos o 2,4
– D (organofosforado mimetizador de auxinas, um fitormônio que age na
regulação do crescimento das plantas) e o próprio glifosato (inibidor da
síntese da enzina Enol Piruvato Shiquimato Fosfato Sintase nas plantas).
Dessa forma, adaptações nesses insumos de guerra aos poucos começaram a ser
realizadas pelas indústrias e, também aos poucos, houve a inserção destes insu-
mos nos ambientes produtivos, o que gerou, pela escala aplicada, o nascimento
da Revolução Verde.
Como todo modelo tecnológico, a Revolução Verde até hoje é foco de dis-
cussões polêmicas, em especial, considerando suas consequências negati-
vas e positivas. Tais discussões centram-se no fato do Brasil ser líder tecno-
lógico e produtivo de uma série de produtos agroalimentares sobre a égide
da insustentabilidade. Assim, peço a você que leia com cuidado os materiais
disponíveis nos links a seguir para que você, criar uma opinião a respeito:
RevoluçãoVerde.org – <www.revolucaoverde.org>.
A segunda revolução verde e o combate à fome - <http://www.carta-
capital.com.br/economia/a-segunda-revolucao-verde-e-o-combate-a-fo-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
me-9205.html>.
O Veneno Está na Mesa II - <http://youtu.be/fyvoKljtvG4>.
O Mundo Segundo a Monsanto - <http://youtu.be/y6leaqoN6Ys>.
Você está percebendo que em nossa discussão sobre a Revolução Verde não esta-
mos realizando uma análise separada Brasil – Restante do Mundo. Utilizei-me
desta dinâmica para que você perceba o dinamismo do processo, retratando
como os fatos ocorreram e inter-relacionando os fatos nacionais e internacionais.
Todavia, penso ser mais importante retratar os fatos nacionais, tendo em vista
que esses fatos explicam com maior clareza o que é o Brasil Rural da atualidade.
Como destacado anteriormente, a Revolução Verde não possuiria o alcance
desejado considerando somente uma mudança de tecnologias produtivas. Era
necessária uma mudança estrutural no próprio Estado, no sentido de estabele-
cer o fomento financeiro para sua implantação.
Antes de 1950, no Brasil, não se falava em uma política agrícola consolidada,
a não ser quando o assunto era o café. Nessa década em especial, a cadeia produ-
tiva do cafeeiro já passava por problemas produtivos, dadas as doenças e as pragas
que assolavam os plantios. Da mesma forma, havia excesso de oferta do produto
e os preços internacionais já não eram tão atraentes como nas últimas décadas.
©Kaiser
Figura 22 – Retratos da cadeia produtiva do café nas décadas de 1960 à 1980. À direita, um trabalhador
dormindo sobre as sacarias de café em um dos armazéns do IBC na cidade de Ibiporã, Paraná. À esquerda,
troncos de pés de café erradicados em uma propriedade rural na cidade de Londrina, Paraná
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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deste S/A; tendo ainda como órgãos vinculados o Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), banco privados e esta-
duais, caixas econômicas, cooperativas de crédito rural e sociedades de
crédito, financiamento e investimentos; e como instituições articuladas
os órgãos oficiais de valorização regional e de prestação de assistência
técnica.
Operações Diretas.
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IDHCP MUNICÍPIOS AGRÍCOLAS NÃO AGRÍCOLAS (POR CULTURA)
Não agrícola Produtor Soja Produtor Cana Produtor Algodão Produtor Milho
0,80
0,70
0,60
0,50
0,40
0,30
0,20
1970 1980 1991 2000 2010
Produtor Soja 0,446 0,658 0,500 0,638 0,729 64%
Produtor Cana 0,443 0,653 0,497 0,628 0,729 65%
Produtor Algodão 0,306 0,482 0,400 0,563 0,727 131%
Produtor Milho 0,410 0,603 0,468 0,606 0,710 73%
Não agrícola 0,458 0,607 0,483 0,604 0,717 57%
Figura 23 – Comparativo do Índice de Desenvolvimento Humano Pleno – IDHP entre municípios agrícolas
e não agrícolas
Fonte: SNA (2014)
Por meio da Figura 23, pode-se notar que em todos os períodos avaliados, o
dinamismo econômico dado pelas fomentadas atividades agropecuárias possi-
bilitou uma maior variação do IDHP dos municípios, chegando-se ao extremo
de variação de 131% médios para a cultura do algodão.
Por fim, outro dado que corrobora com a evolução do agronegócio brasileiro,
considerando o fomento dado pelo crédito rural, é com relação às exportações
O AGRONEGÓCIO 79,4
é uma das bases da
economia brasileira.
50 Em 16 anos, gerou um
superávit na balança
35 comercial de quase
US$
US$550
550 bilhões
bilhões
20 19,4
-10
-25
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
-60
-40
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
Agronegócio Outros setores Total
Figura 24 – Evolução das exportações brasileiras, com ênfase no Agronegócio (em termos de saldo na
balança comercial)
Fonte: CNA (2014)
Com a apresentação destes dados, verifica-se que a Revolução Verde fora fun-
damental, em sua vertente de estimulação econômica, para que o Brasil pudesse
atingir essa configuração tão relevante dos dias atuais, em termos de eficiência
econômica.
A análise da seção anterior já nos trouxe alguns subsídios para discutirmos este
novo tema. Não foi somente a disponibilização do crédito que propiciou essa
evolução na Agricultura Brasileira e também mundial. O modelo da Revolução
Verde, com seu alto dinamismo econômico, exigia uma ação de mesmo porte
ao desenvolvimento científico e tecnológico, não somente pautado na mecaniza-
ção agrícola, mas no desenvolvimento da tríade indissociável: ensino, pesquisa
e extensão.
Com relação à assistência técnica, vimos que a política de Crédito Rural
também incentivava as ações de ATER (Assistência Técnica e Extensão Rural).
Todavia, essas ações ainda eram bastante tímidas no período de 1940 a 1970,
tendo em vista a não existência de um serviço oficial de ATER. O que havia era
um serviço considerado “paraestatal” ou mesmo “privado” instituído em 1946
por meio do Presidente Eurico Gaspar Dutra.
Em 1970, dentro das ações estruturantes do poder público, fora institu-
ído o Sistema Brasileiro de Assistência Técnica e Extensão Rural – SIBRATER.
Segundo Santos (2009), o SIBRATER era coordenado pela EMBRATER (Empresa
Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural) e executado pelas empresas
estaduais de ATER nos estados.
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Como parte dos programas de ATER daquela época, durante mais de uma
década, a participação do Governo Federal chegou a representar, em média,
40% do total dos recursos orçamentários das empresas ou institutos estaduais
de ATER, alcançando até 80% em alguns estados (SANTOS, 2009).
acoplada a um trator. Em tese, esta grade aradora serve para revolver o solo, pro-
movendo a incorporação de restos vegetais ao mesmo tempo em que promove
uma aeração de sua camada superficial. Caso este implemento fosse utilizado
em seus países nativos, de clima temperado, haveria uma lógica em se expor o
solo, considerando a fisiologia das culturas.
As sementes de soja, milho, trigo, cevada, centeio, triticale e outras cultu-
ras exigem uma temperatura mais elevada para sua germinação e para a rápida
evolução das plantas em seus estádios juvenis. Assim, para um solo que estava
recém-coberto pela neve, em baixas temperaturas, faz sentido o processo de
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
revolvimento e exposição deste solo ao sol. Mas e para as áreas produtivas bra-
sileiras, em clima tropical? Isso é lógico?
Atualmente, a única lógica ligada a este processo é relacionada ao controle
de plantas invasoras e ao preparo de solos para culturas que exigem esse tipo de
revolvimento (a exemplo da bataticultura e da mandiocultura).
Poxa professor, então você quer dizer que os modelos produtivos da Revolução
Verde foram somente importados? Nós não criamos nada?
Em princípio sim, caro(a)
leitor(a). Até meados da
década de 1970, não tínhamos
um parque tecnológico ou
mesmo institutos de pesquisa
de renome. O que se fazia
eram poucas experimentações
em poucas universidades, as
quais tinham cursos nas áreas
de ciências agrárias.
Por muito tempo estu-
damos os resultados obtidos
pela pesquisa externa e inicia-
mos, na década de 1970, por
meio do fomento e estrutura-
ção dados pelo poder público Poxa professor, então você quer dizer que os modelos produtivos da
Revolução Verde foram somente importados? Nós não criamos nada?
em parceria com empresas
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
É importante salientar que o desenvolvimento das novas tecnologias vinculadas à
soja, tropicalizando-a, somado aos esforços de melhoramento genético de outras
culturas de interesse (milho, cana-de-açúcar, algodão, trigo, arroz, feijão e frutas),
fez com que tais culturas pudessem ser conduzidas em condições diferencia-
das, muitas vezes, com menor impacto na relação das culturas com o ambiente.
Por exemplo, no caso das frutas, foi notável o melhoramento de algumas
culturas às condições de produção no Nordeste, local não endêmico na ocor-
rência de doenças e pragas importantes, o que favoreceu a produtividade destas
culturas associada à elevação da qualidade de vida e da economia dos peque-
nos municípios.
Ademais, as outras variáveis envolvidas para uma produção agropecuária
de qualidade também foram densamente pesquisadas, a saber:
a) Solos: A ciência dos solos no Brasil teve uma evolução constante ao longo
da Revolução Verde. De mero meio de suporte, o solo passou a ser compre-
endido como o principal veículo de fornecimento de nutrientes às plantas.
Além disso, a composição química, estrutura, dinâmica, profundidade e
interações deste com os microrganismos foram também avaliados por
meio da pesquisa científica, a qual evidenciou uma série de soluções téc-
nicas que permitiram o aumento da produtividade das culturas, dentre
elas, o plantio convencional, a ciência da fertilidade do solo (fertilizantes
químicos) e o dimensionamento dos maquinários e implementos para
situações específicas (dependentes da estrutura e textura do solo).
b) Relevo: A conformação dos terrenos para a atividade agropecuária também
foi massivamente estudada para melhor compreensão do comportamento
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
fatores pesquisados durante a Revolução Verde, isso em conjunto com as
culturas. Pesquisou-se, por exemplo, as adaptações de maquinários que
poderiam ser realizadas às nossas condições, em especial, dimensões de
rodados, massa dos lastros, relação de potência, dimensionamento de
motores e demais partes componentes, adaptação de colhedoras aos novos
espaçamentos e densidades de plantio, adaptação de pulverizadores, seme-
adoras, adubadoras, calcareadores, roçadeiras e outros implementos de
destaque. Ademais, o processo de gestão da mecanização agrícola foi des-
taque nesta área, por meio dos cálculos de Capacidade Total e Efetiva de
Trabalho e criação de protocolos de testes de eficiência com as máquinas,
o que permitiu com que os gestores nas propriedades rurais pudessem
programar suas atividades e elencar as máquinas mais adaptadas às exi-
gências solicitadas.
Mediante essas explanações, podemos concluir que houve uma densa mudança
de paradigmas produtivos e de maneira muito rápida, o que contribuiu defini-
tivamente para a evolução produtiva e econômica das atividades agropecuárias
no país. Os resultados produtivos atuais ainda são resultantes das práticas rela-
cionadas à Revolução Verde. Aliás, muitos autores já convencionam chamar o
atual período como a “Nova Revolução Verde”, dada a velocidade com que as tec-
nologias são desenvolvidas e inseridas no cotidiano da produção de alimentos.
Todavia, nem todos os pontos relacionados à Revolução Verde foram tão
promissores. A grande verdade é que essa revolução adotou um caráter bastante
tecnicista. Aliás, lendo o texto desta Unidade, você percebeu que em nenhum
momento mencionamos que as tecnologias desenvolvidas consideravam os pila-
res da sustentabilidade.
Essa é uma discussão que vamos deixar para nossa última Unidade, quando
colocaremos em nossa roda de discussão os conceitos ligados à sustentabilidade,
bem como as explanações sobre “Tecnologias Limpas”. Mas já considere que essas
tecnologias empregadas na Revolução Verde foram raciocinadas com amplo foco
no aumento de produção e produtividade, pouco considerando o ambiente e a
integração destes sistemas produtivos com o ser humano. Aliás, este é o último
ponto que iremos analisar sobre a Revolução Verde. Vamos continuar?
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
25%
51,9
0% _
1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Somente na última década (2000-2010) é que se verificou uma mudança
significativa nesse cenário de exclusão social e expropriação dos modelos pro-
dutivos, com os programas de transferência de renda e outros programas sociais
relevantes, mas nada suficientes para reverter a magnitude das mudanças sociais
promovidas pela Revolução Verde. É isso que faz com que este modelo seja polê-
mico e bastante questionável no que concerne à promoção da prosperidade da
população brasileira. E afirmo isso, caro(a) leitor(a), sem ter lhe explanado a res-
peito dos conflitos agrários derivados do processo de concentração das terras
e dos problemas ambientais das técnicas de cultivo e mesmo relacionados aos
excedentes populacionais nas grandes cidades, como poluição das águas, do solo
e do ar, falta de acesso à água potável, desmatamentos em áreas de preservação
ambiental, desmoronamentos, epidemias, dentre tantas outras consequências.
Para finalizarmos as discussões sobre a Revolução Verde, sugiro a leitura
de um de nossos textos complementares, intitulado “Críticas Ambientalistas à
Revolução Verde”, disposto após nossas Considerações Finais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse período histórico foi realmente efervescente, não é, caro(a) leitor(a)? Quantas
mudanças nós pudemos observar, em especial no Brasil, que se tornou líder em
muitos segmentos do Agronegócio.
Em apenas 50 anos, houve mudanças significativas nos modelos produti-
vos e em suas bases de sustentação, afinal, a Revolução Verde não teria a mesma
representatividade caso o Poder Público não intervisse, criando políticas e arti-
culando instituições que fomentaram a mecanização, a adoção de agrotóxicos, a
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Considerações Finais
Irineu Evangelista de Sousa, o Visconde de Mauá
Notável empresário, industrial, banqueiro, po-
lítico e diplomata brasileiro nascido em Arroio
Grande, município de Jaguarão, RS, um símbolo
dos capitalistas empreendedores brasileiros do
século XIX. Órfão de pai, viajou para o Rio de Ja-
neiro, RJ, em companhia de um tio, capitão da
marinha mercante e, aos 11 anos, empregou-se
como balconista de uma loja de tecidos. Passan-
do a trabalhar na firma importadora de Ricardo
Carruthers (1830), este lhe ensinou inglês, con-
tabilidade e a arte de comerciar. Aos 23 anos
tornou-se gerente e logo depois sócio da firma.
A viagem que fez à Inglaterra em busca de re-
cursos (1840), convenceu-o de que o Brasil de-
veria caminhar para a industrialização. Iniciando
sozinho a frente do ousado empreendimento de construir os estaleiros da Companhia
Ponta da Areia, fundou a indústria naval brasileira (1846), em Niterói, RJ, e, em um ano,
já tinha a maior indústria do país, empregando mais de mil operários e produzindo na-
vios, caldeiras para máquinas a vapor, engenhos de açúcar, guindastes, prensas, armas e
tubos para encanamentos de água. Da Ponta da Areia saíram os navios e canhões para
as lutas contra Oribe, Rosas e López. A partir de então, dividiu-se entre as atividades de
industrial e banqueiro. Foi pioneiro no campo dos serviços públicos: fundou uma com-
panhia de gás para a iluminação pública do Rio de Janeiro (1851), organizou as compa-
nhias de navegação a vapor no Rio Grande do Sul e no Amazonas (1852), implantou a
primeira estrada de ferro, da Raiz da Serra à cidade de Petrópolis RJ (1854), inaugurou o
trecho inicial da União e Indústria, primeira rodovia pavimentada do país, entre Petró-
polis e Juiz de Fora (1854), realizou o assentamento do cabo submarino (1874) e muitas
outras iniciativas. Em sociedade com capitalistas ingleses e cafeicultores paulistas, par-
ticipou da construção da Recife and São Francisco Railway Company, da ferrovia dom
Pedro II (atual Central do Brasil) e da São Paulo Railway (hoje Santos-Jundiaí). Iniciou a
construção do canal do mangue no Rio de Janeiro e foi o responsável pela instalação
dos primeiros cabos telegráficos submarinos, ligando o Brasil à Europa. No final da dé-
cada de 1850, o visconde fundou o Banco Mauá, MacGregor & Cia, com filiais em várias
capitais brasileiras e em Londres, Nova Iorque, Buenos Aires e Montevidéu. Liberal, abo-
licionista e contrário à Guerra do Paraguai, forneceu os recursos financeiros necessários
à defesa de Montevidéu quando o governo imperial decidiu intervir nas questões do
Prata (1850) e, assim, tornou-se persona non grata no Império. Suas fábricas passaram a
ser alvo de sabotagens criminosas e seus negócios foram abalados pela legislação que
sobretaxava as importações. Foi deputado pelo Rio Grande do Sul em diversas legislatu-
ras, mas renunciou ao mandato (1873) para cuidar de seus negócios, ameaçados desde
a crise bancária (1864). Com a falência do Banco Mauá (1875) o visconde viu-se obri-
101
A HERANÇA DA REVOLUÇÃO
IV
UNIDADE
VERDE: PRINCIPAIS TECNOLOGIAS
VINCULADAS AO AGRONEGÓCIO
Objetivos de Aprendizagem
■■ Conhecer as principais tecnologias que são aplicadas em nível de
campo, bem como conhecer os instrumentais que tornam isso
possível.
■■ Estabelecer o entendimento sobre a aplicabilidade dessas
tecnologias e construir o pensamento crítico sobre a escolha racional
dessas tecnologias.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ PRINCIPAIS TECNOLOGIAS VINCULADAS AO AGRONEGÓCIO
■■ Plantio Convencional
■■ Sistema de Plantio Direto
■■ Terraceamento
■■ Faixas de Retenção
■■ Adubação Verde
■■ Práticas de Correção de Solo
■■ Rotação de Culturas
■■ Outras práticas de Interesse
109
INTRODUÇÃO
Saliento que tive por objetivo apenas ilustrar as principais tecnologias, dando-
lhe um panorama de suas características principais. A escolha destas tecnologias
cabe, em nível operacional, aos Engenheiros Agrônomos, mas, em nível de ges-
tão da tecnologia, o Gestor em Agronegócios exerce papel fundamental, pois é
ele que escolhe as tecnologias mais rentáveis, de acordo com os recursos dispo-
níveis na propriedade rural.
Mais ao final desta Unidade, apresentaremos tecnologias mais recentes, como
é o caso da polêmica transgenia, além de citar outras técnicas que podem ser
utilizadas de acordo com o contexto. Quero aguçar sua curiosidade dando-lhe
esses aperitivos. Vamos então aos estudos em nossa Unidade IV.
Introdução
IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
os assuntos pertinentes a uma tec-
nologia em específico, mas iremos
abordar os assuntos principais para
que você, futuro(a) Gestor(a) em
Agronegócios, possa reconhecê-las
em sua atividade profissional.
PLANTIO CONVENCIONAL
©Agroads
são mais profundas, abaixo dos 30
cm). A Figura 29 exemplifica os
Figura 29 – Implementos utilizados no preparo primário
escarificadores e os subsoladores. dos solos em plantio convencional (de cima para baixo,
escarificador e subsolador)
Albuquerque Filho et al. (2014)
apontam as principais características dos tipos
©Agroads
de arados utilizados no preparo primário,
bem como as características do escarificador.
■■ Arado de disco: é recomendado para
solos duros, com raízes e pedras, solos
pegajosos, abrasivos e solo turfosos.
■■ Arado de aiveca: promove incorporação
de resíduo e boa pulverização do solo sob con-
dições ideais. Apresenta diferentes tipos de aiveca,
de acordo com o tipo de solo.
■■ Escarificador: aumenta a rugosidade do solo, deixando uma apreciável
quantidade de cobertura morta e também quebra a estrutura do solo a
uma profundidade de 20 cm a 25 cm. Com essas três características, esse
sistema aumenta a capacidade de infiltração de água no solo, diminui a
evaporação e quebra a camada compactada, abaixo da área de preparo
de solo, denominada “pé de arado”.
©SANTI et al.
pode optar pela utilização
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
de herbicidas sistêmicos que
visam eliminar essas plantas
invasoras em sua fase juvenil,
onde o controle é mais fácil.
Ademais, o mesmo ocorre
com entomoparasitas de solo
(larvas de insetos) e nematoi-
des, os quais são expostos ao
ambiente, sendo alvo fácil de
predadores e parasitas.
Figura 30 – Penetrômetro em prática de avaliação das camadas
Outro ponto interessante compactadas do solo
do plantio convencional é que o mesmo
permite, na ocasião de preparo do solo,
a incorporação de restos vegetais, que serão
posteriormente transformados em matéria
orgânica e a incorporação de adubos e cor-
retivos de solo, tudo em poucas operações.
Todavia, a maior desvantagem do
plantio convencional está na exposi-
ção do solo às intempéries, em especial,
à erosão hídrica. Pelo fato das partículas do
©Baldan
30 12
(ton/ha)
(%)
20 8
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
10 4
0 0
Convencional Plantio direto
Sistemas de Plantio
Figura 32 – Comparativo das variáveis “água disponível”, “perdas de solo” e “agregados de solo estáveis”
entre os sistemas de plantio convencional e direto
Fonte: INEP (2004)
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
integrado. Muitos gestores de sistemas variados de produção “acham” que estão
realizando o SPD corretamente, mas a cobertura vegetal tem estado em tão pouca
densidade que o solo, em muitos pontos, se encontra descoberto. Ademais, a
sucessão soja-milho-cultura de inverno não garante material vegetal suficiente
para a cobertura do solo.
Outro ponto negativo é o uso indiscriminado de herbicidas que dessecam
precocemente as coberturas de inverno. Dada a afobação em se querer plantar a
cultura de verão, muitas vezes não se permite que a cultura de inverno (por exem-
plo, a aveia – Avena spp.) atinja seu máximo dossel foliar, ou seja, sua máxima
produção de material vegetal. Dessa forma, ao se dessecar plantas que ainda não
atingiram seu máximo potencial produtivo em termos de folhas, prejudica-se a
“poupança” do SPD, em termos de cobertura.
Além disso, o uso de herbicidas também afeta a microbiota do solo, mesmo
sendo um veneno específico para vegetais. Qualquer agrotóxico pode afetar essa
microbiota e os herbicidas não são exceção. Veja o conjunto de resultados publi-
cados por Reis et al. (2008), que avaliaram o efeito da aplicação do herbicida
2,4-D (aquele que foi utilizado na Segunda Guerra Mundial, conforme ilustra-
mos nas unidades anteriores) na população de bactérias na zona radicular de
plantas de cana-de-açúcar:
DAA
Tratamento
15 30 45 60
Bactérias (log UFC g de solo seco) CV parcela (%) = 1,48
-1
Reis et al. (2008) afirmam que o 2,4-D reduziu a densidade populacional bac-
teriana em todas as épocas de avaliação (15, 30, 45 e 60 dias após a aplicação
- DAA), demonstrando efeito negativo nas bactérias do solo. Santos et al. (2004)
também verificaram efeitos distintos de formulações comerciais de glyphosate
sobre estirpes de bactérias fixadoras de nitrogênio da soja, sugerindo serem
decorrentes da ação de aditivos nas formulações dos herbicidas.
Dessa forma o SPD, quando mal manejado, não produz os benefícios aqui
discutidos, resultando em problemas para o sistema de produção justamente pela
falha em um de seus princípios: a manutenção da cobertura de solo.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 33 – Sistema de Terraços em nível aplicados em plantações de arroz na Ásia
TERRACEAMENTO
Somente a adoção do plantio direto nas áreas agricultáveis não é suficiente para
garantir a redução dos processos erosivos. Essa redução também está em fun-
ção da declividade do terreno. Em declividades maiores, somente a palhada não
conseguiria reduzir a energia cinética do escorrimento superficial de água, o que
poderia resultar na formação de processos erosivos variados.
Dessa forma, na década de 1980, surgiu uma tecnologia que visa segmentar
o terreno em rampas menores ao mesmo tempo em que disciplina as águas das
áreas agricultáveis, auxiliando em sua infiltração ou drenagem. Trata-se do sis-
tema de Terraceamento (Figura 33):
A Figura 33 ilustra um sistema de terraços em nível, os quais “cortaram” uma
área bastante declivosa e a segmentaram em patamares os quais são utilizados
para a produção de arroz no sistema de plantio e colheita manual. Caso não hou-
vesse o corte do terreno, o plantio seria em desnível acentuado e a cobertura do
arroz, que neste último caso obrigatoriamente deveria ser plantado em sistema
de sequeiro, não seria suficiente para barrar os efeitos da enxurrada, resultando
em severas erosões.
A
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
6 a 12 metros
3 a 6 metros
3 metros
Figura 34 – Diferenciação de bases de terraços (A – base larga; B – base média; e, C – base estreita)
Fonte: Machado e Wadt (2014)
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Um “canal” é a parte mais
baixa do terraço, onde a água
é barrada e drenada ou infil-
trada, enquanto que a parte
mais elevada do terraço se
chama camalhão. A Figura
35 nos ilustra este detalhe:
Figura 35 ilustra o programa criado por meio dos modelos matemáticos desen-
volvidos por Griebeler (2005) para ajuste dos terraços em nível de campo.
Embora seja simples operar este e outros programas semelhantes, não se
pode atribuir ao Gestor em Agronegócios o dimensionamento destes terra-
ços. Isso é atribuição exclusiva dos Engenheiros Agrônomos, Agrimensores e
Engenheiros Cartográficos. Contudo, uma vez que esses parceiros de trabalho
determinam as dimensões dos terraços, é papel do Gestor em Agronegócios pro-
gramar o uso do caixa da empresa rural para a execução desse serviço. Inclusive,
o Gestor em Agronegócios pode ser o profissional responsável pela interface
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©Griebeler
FAIXAS DE RETENÇÃO
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ção devem ser estreitas, de modo a não diminuir muito a área a ser plantada,
sendo que o espaçamento entre os cordões de contorno depende do tipo de solo,
da cultura a ser implantada e das chuvas da região. Na prática, quanto menor a
profundidade do solo e maior a declividade do terreno e a intensidade de preci-
pitação, menor deve ser o espaçamento entre os cordões de vegetação. Algumas
espécies recomendadas são: a cana-de-açúcar, a erva-cidreira e o capim-gordura
(ZONTA et al., 2012).
Junto com as faixas de retenção, é comum se observar a prática da ceifa de
plantas invasoras. De maneira diferente da capina, a ceifa considera o corte das
plantas invasoras, mantendo-as com reduzidas alturas da superfície do solo. Tal
fato propicia a manutenção dos sistemas radiculares dessas plantas por mais
tempo, o que serve de barreira física para os processos erosivos.
ADUBAÇÃO VERDE
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e o lablabe. Desta maneira, verifica-se que a adubação verde pode ser utilizada
satisfatoriamente como fitorremediadora, em especial, nos casos onde os solos
se encontram contaminados com herbicidas de elevado residual.
Por fim, o último aspecto a ser considerado para as adubações verdes centra-
se no fato destas contribuírem para sequestrar carbono da atmosfera. Atualmente,
não se verifica esse sequestro de maneira mais pronunciada devido ao fato da
adubação verde ainda não ser empregada em larga escala. Todavia, existe um
consenso de que a prática da adubação verde possui significativo potencial de
contribuição para sequestrar o carbono da atmosfera, em um cenário onde os pró-
prios empresários rurais visam compensar suas emissões por meio dessa prática.
A correção do solo pode ser compreendida como uma técnica que visa assegurar
o correto e completo fornecimento de nutrientes às culturas que são conduzi-
das sobre o mesmo. Para que este objetivo seja cumprido, dois pontos devem
ser observados:
a) A inserção planificada de fertilizantes que permitam a manutenção de
relações nutricionais equilibradas entre os nutrientes disponíveis, de
maneira que a absorção dos mesmos se dê de forma correta.
b) A inserção de condicionadores de solo que permitam que os nutrien-
tes inseridos e os já presentes no solo estejam disponibilizados em sua
máxima faixa de disponibilidade.
quisa também foi direcionada no sentido de encontrar fontes naturais para serem
industrialmente trabalhadas e fornecerem os nutrientes necessários às plantas.
Dessa maneira, após sucessivas pesquisas, chegou-se a algumas conclusões
bastante utilizadas nas atividades agropecuárias até os dias atuais:
a) A nutrição de plantas obedece a uma lógica: existem nutrientes que são
absorvidos de uma maneira elevada, sendo o caso do Nitrogênio, Fós-
foro, Potássio, Enxofre, Cálcio e Magnésio. Estes são os nutrientes mais
demandados nos processos metabólicos das plantas. A estes, nominou-
se de “Macronutrientes”. Por outro lado, existem outros nutrientes (Boro,
Cobre, Cobalto, Molibdênio, Zinco, Manganês, Ferro, Silício e outros de
menor destaque) que são essenciais ao metabolismo das plantas, porém
em baixíssimas concentrações. A estes, nominou-se de “Micronutrientes”.
b) Verificou-se que tanto Macro como Micronutrientes são absorvidos em
suas formas catiônicas ou aniônicas, o que significa que são absorvidos
somente em solução aquosa, em sua máxima biodisponibilidade (por
exemplo, o Nitrogênio não é absorvido em sua forma elementar – N2,
mas sim em sua forma aniônica, o nitrato NO3-).
c) Verificou-se, ainda, que o desenvolvimento vegetal obedece outra lógica. As
plantas se desenvolvem ao máximo em que a disponibilidade de nutrien-
tes permite. Se um dos nutrientes estiver em falta, a planta se desenvolverá
limitada por esta ausência. A isso denominou-se “Lei do Mínimo” ou
“Lei de Justus Von Liebig”, a qual é representada por meio da Figura 36.
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Figura 36 – Lei do Mínimo ou Lei de Justus Von Liebig
Fonte: Comunitexto (2013)
Grau de disponibilidade
Ferro, Cobre,
Manganês e Zinco
Molibdênio
e Cloro
Fósforo
Nitrogênio,
Enxofre e
Boro
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Potássio,
Cálcio e
Alumínio Magnésio
Assim, além de fornecer nutrientes, seria necessário adotar práticas que visem
regular o pH do solo, mantendo-o em uma faixa favorável à disponibilidade de
nutrientes. As diversas pesquisas apontaram para o uso de um condicionador
em específico, o Carbonato do Cálcio (CaCO3), mais conhecido como Calcário
Agrícola. A dissociação do Carbonato de Cálcio permite com que se libere Ca2+
à solução de solo ao mesmo tempo em que se captura os prótons H+ e Al3+, os
principais responsáveis pela elevação da acidez do solo. Estes ficarão indisponí-
veis às plantas. Ademais, dependendo da rocha de origem, o calcário também
pode trazer quantidades significativas de óxidos de magnésio (presentes em
maior quantidade quando a rocha de origem for a dolomita, daí o nome calcá-
rio dolomítico). Por isso dizemos que o calcário também fornece quantidades
significativas de Mg2+ às plantas.
Levando-se estes pensamentos em consideração, as necessidades nutricionais das
plantas são atendidas, no entanto, uma crítica válida a este modelo tecnológico
é a falta de critério com a qual se recomenda o uso destes fertilizantes. Existem
diretrizes técnicas para as recomendações, as quais são pautadas em análises de
solos. Tais análises trazem os níveis dos macro e micronutrientes presentes no
solo e através de cálculos e metodologias densamente estudadas desde 1970,
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cadeias produtivas.
A compostagem é a “reciclagem dos resíduos orgânicos”: é uma técnica
que permite a transformação de restos orgânicos (sobras de frutas e
legumes e alimentos em geral, podas de jardim, trapos de tecido, ser-
ragem, etc.) em adubo. É um processo biológico que acelera a decom-
posição do material orgânico, tendo como produto final o composto
orgânico.
É importante que se diga que o gesso agrícola não possui potencial para alte-
rações significativas do pH do solo, pois não se observa capturas dos íons H+ e
Al3+ tal como visto no calcário agrícola. Todavia, dada a conformação química
de sua molécula, o gesso agrícola tem especial poder de carrear os nutrientes
para a subsuperfície.
A Figura 38 ilustra a ação do gesso agrícola nas raízes de algodão plantado
no Cerrado Brasileiro. Note como a planta da direita possui um sistema radicu-
lar mais ramificado e distribuído nas quadrículas em comparação com a planta
da esquerda.
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Desta forma, podemos evidenciar como as tecnologias aplicadas ao agronegó-
cio, em especial as de correção de solos, são importantes no sentido de manter
condições para as plantas estabelecerem maiores produtividades.
©EMBRAPA
ROTAÇÃO DE CULTURAS
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FORRAGEIRA FORRAGEIRA
MILHO SILAGEM MILHO SILAGEM
4o ANO + PASTO +
FORRAGEIRA FORRAGEIRA
MILHO SILAGEM MILHO SILAGEM
5o ANO + + PASTO
FORRAGEIRA FORRAGEIRA
MILHO SILAGEM MILHO SILAGEM
6o ANO PASTO + +
FORRAGEIRA FORRAGEIRA
Figura 39 – Sistema de rotação de culturas proposto para a recuperação de uma área degradada
Fonte: EMBRAPA (2014)
Não existe uma fórmula para se instalar um sistema de rotação de culturas. Isso
varia de acordo com as explorações econômicas conduzidas na área e com os
fatores bióticos e abióticos que se encontram presentes. Uma sábia decisão é a
associação dos conhecimentos técnicos do Engenheiro Agrônomo, dos conhe-
cimentos de mercado do Gestor em Agronegócios e dos conhecimentos tácitos
do Agricultor, o qual poderá permitir a inserção de espécies complementares
entre si e que estabeleçam definitivamente os princípios da sustentabilidade nas
produções agropecuárias.
a. Transgenia
A transgenia foi uma tecnologia lançada ao mercado em 2003 com o lança-
mento da Soja Roundup Ready (Monsanto). Consiste na inserção de trechos do
genoma de outro organismo (organismo doador) em um organismo receptor
(neste caso, a planta de soja). Nos processos metabólicos, este material genético
estranho será lido da mesma maneira que o material genético nativo do orga-
nismo receptor, de forma a expressar sua característica específica.
No caso da Soja Roundup Ready, a característica expressada foi a resistên-
cia ao herbicida glifosato. Normalmente, este herbicida impediria a fabricação
de aminoácidos de cadeias aromáticas derivados do corismato. Estes aminoá-
cidos dependem da ação da enzima EPSPS (que já explanamos neste material).
O glifosato impede a ação desta enzima e bloqueia a cadeia de síntese dos ami-
noácidos, algo que não acontece com o indivíduo transgênico, que cria rotas
alternativas para esta síntese, tornando a planta resistente.
A transgenia hoje tem sido difundida em especial para o controle de lagartas
desfolhadoras e broqueadoras, como é o caso da lagarta do cartucho do milho
(Spodoptera frugiperda) e da lagarta das maçãs do algodoeiro (Heliothis virescens).
A tecnologia Bt (Bacillus thuringiensis) permite com que o milho, o algodão e
mesmo a soja expressem um gene transgênico que produz uma proteína crista-
lizada chamada genericamente de Cry, a qual, ingerida pelas lagartas, promove
o rompimento de seus tecidos internos, matando-as.
É interessante notar que a transgenia é uma tecnologia poupadora do uso de
inseticidas, o que para o ambiente é algo extremamente relevante, melhorando
sua qualidade. Contudo, existem ainda pontos obscuros no uso desta tecnolo-
gia, em especial, no que tange aos efeitos nocivos à saúde humana e a própria
erosão genética promovida sobre as plantas tradicionais, reduzindo seu cultivo
e estabelecendo uma contaminação de material genético no caso das plantas
de fecundação cruzada (milho, por exemplo, onde as principais preocupações
centram-se na contaminação de cultivares tradicionais pelo pólen transgênico,
reduzindo a variabilidade genética da cultura).
Dadas as vantagens e preocupações, ainda se considera como uma tecnolo-
gia válida o uso de transgênicos.
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b. Manejo integrado de pragas, doenças e plantas invasoras
Muitos dos princípios do Manejo Integrado de Pragas, Doenças e Plantas Invasoras
foram explanados ao longo das tecnologias anteriormente citadas neste material.
A adubação verde, rotação de culturas e adoção de práticas conservacionistas
permitem com que as pragas, doenças e plantas invasoras diminuam sua pres-
são sobre as plantas cultivadas.
Porém, o monitoramento destas doenças e pragas, a adoção de controles
diversificados e a própria adoção de princípios agroecológicos permitem com
que as culturas sejam conduzidas em ambientes mais favoráveis e produtivos,
elevando a qualidade dos processos e dos alimentos produzidos.
d. Demais tecnologias
1. Agroindustrialização.
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2. Rastreamento de produtos.
3. Uso do Enterprise Resource Planning (Planejamento de Recursos Empre-
sariais) – ERP nas cadeias produtivas.
4. Uso da biotecnologia na produção de cultivares mais resistentes às con-
dições bióticas e abióticas de produção.
5. Uso de indicadores químicos na tecnologia de aplicação de agrotóxicos.
6. Tecnologias de segurança do trabalho e saúde ocupacional (NR 31, NR
32 e NR 36).
7. Tecnologias de previsão do tempo.
8. Tecnologias de mecanização agrícola de baixo impacto.
9. Dentre outras.
Você deve ter sentido falta de alguma coisa, não é? Tecnologias importantes,
como a Agroecologia, Agricultura de Precisão e Agroenergia não foram citadas
no material (até agora). Deixaremos isso para a segunda metade da Unidade V,
onde abordaremos as “Tecnologias Limpas” com melhor propriedade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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com o processo de gestão da adoção das inovações, bem como de sua gestão ope-
racional, organizando a utilização das mesmas e os recursos que são necessários
para que os trabalhos sejam plenamente executados.
Nós não terminamos nossas discussões sobre as tecnologias aplicadas ao
Agronegócio. Em nossa próxima Unidade, estabeleceremos novas discussões a
respeito do tema, entretanto, sob um novo enfoque: o da Sustentabilidade.
Já não é possível considerar processos de desenvolvimento agropecuário sem
considerar seus impactos em nível ambiental, social, econômico, cultural e polí-
tico. Desta maneira, estabeleceremos uma discussão acerca das perspectivas da
sustentabilidade e, posteriormente, discutiremos sobre algumas tecnologias de
menor impacto: as tecnologias limpas.
1. Segundo Santiago e Rossetto (2013), os solos brasileiros são ácidos em sua maio-
ria. Ainda segundo estes autores, a acidez, representada basicamente pela pre-
sença de dois componentes - íons H+ e Al+3 -, tem origem pela intensa lavagem
e lixiviação dos nutrientes do solo, pela retirada dos nutrientes catiônicos pela
cultura sem a devida reposição e, também, pela utilização de fertilizantes de ca-
ráter ácido. Diante desta acidez e da falta de nutrientes no solo, os processos
de calagem e gessagem possuem grande importância. Sobre estes processos,
assinale a alternativa correta:
a) Tanto a calagem como a gessagem possuem o papel de alcalinizar o solo.
b) Somente a calagem possui o papel de alcalinizar o solo, tendo em vista que a
gessagem não possui potencial para essa alcalinização, embora apresente fun-
damental importância no transporte de nutrientes em profundidade.
c) A redução da acidez promovida pelos dois processos (calagem e gessagem) é
fundamental para o aumento na disponibilidade de macronutrientes (Cálcio,
Magnésio, Enxofre, Nitrogênio, Fósforo e Potássio).
d) A redução do pH do solo promovida pelos dois processos (calagem e gessagem)
é fundamental para o aumento na disponibilidade de macronutrientes (Cálcio,
Magnésio, Enxofre, Nitrogênio, Fósforo e Potássio).
e) Somente a gessagem possui o papel de alcalinizar o solo, tendo em vista que a
calagem não possui potencial para esta alcalinização, embora apresente funda-
mental importância no transporte de nutrientes em profundidade.
2. A rotação de culturas consiste em alternar espécies vegetais, no correr do tempo,
numa mesma área agrícola. As espécies escolhidas devem ter propósitos comer-
ciais e de manutenção ou recuperação do meio-ambiente (EMBRAPA, 2004). So-
bre a rotação de culturas, julgue os itens a seguir e assinale a alternativa correta.
I – Para a obtenção de máxima eficiência da capacidade produtiva do solo, o plane-
jamento de rotação deve considerar, além das espécies comerciais, aquelas destina-
das à cobertura do solo, que produzam grandes quantidades de biomassa, cultiva-
das quer em condição solteira ou em consórcio com culturas comerciais.
II – O melhor controle de pragas e doenças nos sistemas rotacionados se deve à ma-
nutenção de um mesmo padrão, considerando os sistemas radiculares das plantas.
III – Os sistemas de rotação de culturas podem ser imediatamente implantados, sem
considerar tempos de adaptação, as aptidões agrícolas das áreas ou mesmo a ade-
quação dos sistemas junto às características ambientais das microbacias onde as
propriedades rurais encontram-se inseridas.
IV – O uso da rotação de culturas conduz à diversificação das atividades na proprie-
dade, que pode ser exclusivamente de culturas anuais ou culturas anuais e pasta-
gens, o que demanda planejamento da propriedade a médio ou mesmo a longo
prazos. A escolha das culturas e do sistema de rotação deve ter flexibilidade, de
modo a atender às particularidades regionais e às perspectivas de comercialização
dos produtos.
Estão CORRETOS:
a) Somente o item I.
b) Somente o item II.
c) Somente os itens II e III.
d) Somente os itens I e IV.
e) Somente os itens I, II e IV.
3. A adubação é um processo que tem por objetivo inserir no solo os nutrientes
necessários e de forma equilibrada para que as culturas possam estabelecer seu
máximo desenvolvimento. Sobre o processo de adubação, assinale a alternativa
correta:
a) O máximo desenvolvimento das plantas, considerando sua adubação, leva em
conta o conceito da “Lei do Mínimo”, que diz que o desenvolvimento das plantas
é limitado pelo nutriente que estiver presente em mínimas quantidades no solo.
b) Para adubar uma área agrícola, necessita-se somente da recomendação técnica
que é fornecida pelos institutos de pesquisa. Isso representa uma economia con-
siderável, tendo em vista que as análises nutricionais do solo são extremamente
caras.
c) A amostragem de solo é condição essencial para uma boa adubação. Trata-se de
um processo simples no qual apenas uma amostra é capaz de revelar as condi-
ções nutricionais do solo de extensas glebas.
d) Os micronutrientes são assim chamados por serem nutrientes com ampla de-
manda pelas plantas, de maneira geral.
e) Todas as alternativas estão corretas.
MATERIAL COMPLEMENTAR
Em 2012, o programa Globo Rural, exibido pela Rede Globo de Televisão, demonstrou
em uma de suas reportagens a diferença entre o sistema de plantio convencional e
de plantio direto, ilustrando quais os princípios deste último sistema que permitem
concluir que se trata de um sistema mais sustentável. Confira a reportagem no link:
<http://www.youtube.com/watch?v=hkTj-M781BE>.
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
Professor Me. Tiago Ribeiro da Costa
SUSTENTABILIDADE E
V
UNIDADE
TECNOLOGIAS LIMPAS
Objetivos de Aprendizagem
■■ Alinhar e alicerçar os diferentes conhecimentos sobre
Sustentabilidade e Meio Ambiente para direcionar o aprendizado
sobre Tecnologias Limpas.
■■ Compreender os critérios que fazem com que as tecnologias possam
ser consideradas como “limpas”.
■■ Analisar os exemplos de tecnologias limpas que têm sido aplicados
no Agronegócio.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ As diferentes perspectivas da sustentabilidade
■■ A relação entre sustentabilidade e necessidades
■■ Tecnologias limpas
143
INTRODUÇÃO
Introdução
V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O que sei sobre sustentabilidade?
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Segundo este autor, a sustentabilidade pode ser encarada como toda ação des-
tinada a manter as condições energéticas, informacionais, físico-químicas que
sustentam todos os seres, especialmente a Terra viva, a comunidade de vida e a
vida humana, visando a sua continuidade e ainda a atender as necessidades da
geração presente e das futuras de tal forma que o capital natural seja mantido e
enriquecido em sua capacidade de regeneração, reprodução, e coevolução.
Outrossim, sem considerar todas as condições necessárias para o surgi-
mento dos seres, a sustentação da Terra Viva enquanto organismo, a sustentação
da comunidade e da vida humana, a continuidade do processo evolutivo e sem
considerar o atendimento racional das necessidades das atuais e futuras gera-
ções, qualquer discurso, segundo Boff (2012) é mera retórica.
Por meio das informações até aqui discutidas, depreendemos que os elementos
que devem estar presentes em uma conceituação mais ampla sobre sustentabili-
dade podem ser apresentados por meio das seguintes afirmações:
■■ O ser humano pode não estar no mesmo nível dos demais seres vivos,
considerando seu desenvolvimento cognitivo, mas faz parte de uma rede,
ou organismo natural altamente sensível à sua ação, e este ser humano é
(ou deveria ser) consciente deste fato. Essa consideração revela o novo
marco teórico-filosófico sobre a sustentabilidade, pautado basicamente
na visão holística.
■■ Ainda, de acordo com a visão holística, tanto o meio de atuação do ser
humano, entendido como “ambiente”, como as consequências desta atua-
ção, são inseridas em um contexto físico (ou seja, concreto) e/ou abstrato
(no nível das ideias), causando influências ou gerando influências a partir
ideias que ultrapassam a simploriedade com a qual o tema é tratado. Além disso,
você deve ter lido ou ouvido falar que a sustentabilidade, traduzida em um pro-
cesso de desenvolvimento sustentável, classicamente aborda somente três pilares:
o social, o econômico e o ambiental. E o pilar político? Isso será melhor escla-
recido por meio da próxima seção desta Unidade.
Para que possamos compreender os motivos que fazem com que o “político”
também seja um pilar da sustentabilidade, primeiramente é necessário compre-
ender sobre a força que impele a ação humana, ou seja, a necessidade.
Existem diversas discussões que tentam explicar de que forma a necessi-
dade humana influencia em sua ação. Uma delas tenta relacionar as necessidades
humanas, por meio da Teoria das Necessidades de Maslow, e a dualidade ple-
nitude-crise. Essa discussão é apresentada por meio da Leitura Complementar
intitulada “Dinâmica evolutiva da humanidade embasada na dualidade pleni-
tude-crise”, que se encontra ao final desta Unidade.
O excerto trazido por meio desta Leitura Complementar tem origem em
uma discussão sobre a evolução histórica do Empreendedorismo, mas que tam-
bém pode ser plenamente aplicado em nossa discussão sobre sustentabilidade e
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
desenvolvimento humano, onde o questionamento principal pode ser traduzido
pela seguinte pergunta:
Como se desenvolver considerando os prin-
cípios de sustentabilidade?
Trata-se de uma pergunta de difícil res-
posta, pois a sustentabilidade em si impõe,
de certa maneira, limitações às necessidades
humanas. Michellon (2006), em seu livro “O
dinheiro e a natureza humana: como chegamos
ao moneycentrismo?”, ao discutir sobre a natu-
reza humana, coloca, entre outras palavras, que
poucas perspectivas sobre sustentabilidade são
esperadas de civilizações que colocam suas neces-
sidades acima dos parâmetros coletivos. Tal fato, segundo o autor, é traduzido
ao extremo em sua expressão “deus Dinheiro”.
Em um cenário de limitações às necessidades humanas, somente duas ações
podem ser esperadas, isto considerando sociedades de princípios democráticos:
a ação individual sobre o coletivo (prosperidade individual ou de poucas socie-
dades) ou a ação coletiva sobre o individual (neste caso, a palavra-chave mais
aplicável seria “cessão”).
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TECNOLOGIAS LIMPAS
lhada: no momento em que escrevia este material, decidi olhar pela janela de
minha sala. Moro em um sobrado na extremidade da cidade de Maringá. Pela
janela, consigo observar várias áreas agrícolas produtoras de soja e milho no
verão e trigo no inverno. Por sorte, conheço os agricultores das propriedades
que enxergo de minha janela. Já executei alguns trabalhos com eles nas épocas
em que trabalhava como extensionista recém-formado.
O que me chamou a atenção foi a coloração do terreno: vermelha! Mas, para
quem pratica plantio direto, ter a coloração vermelha do solo tão evidente indica
algum erro metodológico. O que aconteceu é que, dada a insustentabilidade do
uso exclusivo de herbicidas para controle de plantas invasoras, a única saída foi
retroceder do plantio direto ao plantio convencional. Foi a única alternativa para
o controle dessas plantas invasoras (cortar e incorporar).
“- Meu Deus”, foi o que pensei, “estamos em pleno século XXI, com tecno-
logias sustentáveis à disposição, e esses agricultores estão ‘voltando no tempo’,
expondo seus solos às chuvas. E olha que estamos em Outubro, um mês já chu-
voso. Qual será a paisagem que vou enxergar em janeiro? Sulcos de erosões?
Tomara que não.”
O que quero dizer com essa exposição é que as soluções tecnicistas estão
presentes como “fantasmas vagando em nosso mundo”. E este paradigma precisa
ser revisto, tendo por consideração que temos condições de inserir tais tecno-
logias no campo. Algumas delas, inclusive, já foram discutidas neste material.
O objetivo aqui não é esgotar o assunto “Tecnologias Limpas”, mas apresen-
tar um panorama sobre as mesmas para que você, Gestor(a) em Agronegócios,
possa ter uma ideia e implementá-las caso julgue pertinente. Vamos a elas?
Tecnologias Limpas
V
a. Biodigestores
Os biodigestores podem ser encarados como “centrais catalisadoras” de decom-
posição de resíduos orgânicos sólidos. Esta decomposição é executada da mesma
forma que no processo de compostagem. Entretanto, naquele processo, não há
o confinamento do resíduo ou mesmo dos gases que são produzidos por meio
desta decomposição.
De maneira geral, a decomposição de resíduos sólidos orgânicos produz o
gás metano, que é liberado na atmosfera nos processos normais de composta-
gem. Já no biodigestor, existe o enclausuramento e o direcionamento destes gases
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
para uso agrícola, doméstico ou agroindustrial. Ao final do processo, caso bem
executado, o que sobra é um resíduo estabilizado (composto), o qual pode uti-
lizado como fertilizante na agricultura.
Muitos produtores rurais e mesmo consumidores possuem receios quanto
a este processo, levando-se em conta que dejetos suínos, equinos, caprinos e
mesmo de aves são utilizados como base para a fermentação. Dependendo do
estado sanitário destes animais, podemos ter em conjunto com esses dejetos lar-
vas de insetos, ovos de vermes, parasitas e outros materiais nocivos a nossa saúde.
Essa preocupação cai por terra considerando o próprio andamento do
processo, que é conduzido por temperaturas elevadas (geralmente se chega a
temperaturas de 40 a 45 ºC, o que é suficiente para eliminar a maioria dos pató-
genos). Este aumento de temperatura se deve ao processo fermentativo.
Ademais, em um processo de decomposição bem conduzido, um dos primei-
ros passos é a triagem e limpeza dos resíduos, retirando materiais prejudiciais.
Após isso, há uma homogeneização destes resíduos, o que intensifica, posterior-
mente, os trabalhos das bactérias no processo de decomposição.
Tecnologias Limpas
V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
gerir a problemática ambiental, utilizando-se dos instrumentos dispo-
níveis para isto, entre eles, a ISO 14.000.
Adicionamos a este pensamento que a ISO 14.000 não é o fim das preocupa-
ções ambientais da empresa e nem deve ser considerada da mesma forma, como
seu último patamar de qualidade. O que se quer dizer é que com um conjunto
de diretrizes que são adaptadas à realidade da empresa e comprovadas em sua
aplicação por meio do processo de auditagem, não são levados em consideração
todos os pontos críticos possíveis, em especial os de caráter local (considerando
o relacionamento entre empresa e comunidade).
Dessa forma, mesmo com essa certificação, a empresa deverá buscar outros
mecanismos para “fechar” todos os pontos críticos necessários e, somente assim,
poderá ser considerada como Social e Ambientalmente Responsável.
Toda empresa, seja ela rural ou urbana, deve cumprir os seguintes requisi-
tos para a instalação de um Sistema de Gestão Ambiental:
■■ Definição de política ambiental que expresse o comprometimento com a
melhoria contínua do desempenho ambiental e a prevenção da poluição.
■■ Estabelecimento de procedimentos para identificar os aspectos ambien-
tais que possam causar impacto ecológico significativo.
■■ Comprometimento com o atendimento à legislação ambiental brasileira
e aos requisitos dos mercados que se deseja atingir.
■■ Estabelecimento de objetivos e metas ambientais, bem como de progra-
mas para atingi-los.
Tal sistema de gestão ambiental preconizado pela norma ISO 14.001 faz parte de
um processo integrado de maior nível quando se considera a Gestão Ambiental
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
GESTÃO AMBIENTAL
Aspectos
Avaliação do Auditoria Rotulagem ambientais
desempenho Ambiental Ambiental em normas de
ambiental produtos
Avaliação de Produtos e
Avaliação da Organização
Processos
Figura 40 – Matriz de atuação da Norma ISO 14.000. As caixas ao lado esquerdo da figura são relacionadas
à aplicação do SGA (ISO 14.001)
Fonte: Tibor e Feldman (1996 apud ARAUJO, 2001)
Não é nossa intenção esgotar todos os assuntos possíveis sobre a ISO 14.000, mas
certamente esta é a certificação ambiental mais importante no cenário nacional
e internacional e exige um maior nível de detalhamento, conforme abordado.
Tecnologias Limpas
V
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mais considerando os malefícios dos produtos produzidos em modelos conven-
cionais de produção (citados em nossa quarta Unidade).
As imagens acima relacionadas apresentam as três principais certificadoras
de produtos orgânicos no Brasil. A ECOCERT Brasil, O Instituto Biodinâmico
e o Instituto Tecnológico do Paraná – TECPAR apresentam uma característica
relevante com relação às demais certificadoras: tratam-se de certificados aceitos
internacionalmente, em especial para as duas primeiras instituições.
Essa aceitação se deve pela acreditação dos certificados. Traduzindo em
outras palavras, os certificados emitidos por estas instituições são avalizados por
instituições internacionais, a exemplo da IFOAM – Federação Internacional de
Movimentos de Agricultura Orgânica, DAR – Deutsche Akkreditierungsrat, órgão
com alta competência de credenciamento de certificadoras da Alemanha e União
Europeia, USDA – United States Department of Agriculture, que garante aos pro-
dutos certificados acesso ao mercado norte-americano, e Demeter International,
que garante a certificação de produtos biodinâmicos com a marca DEMETER.
Cada instituição relacionada possui suas próprias metodologias de certifi-
cação e auditagem, contudo, tratam-se de metodologias convergentes no que
tange à desintoxicação do solo, a não utilização de adubos químicos e agrotóxi-
cos, ao atendimento das normas ambientais, em especial às Áreas de Preservação
Permanente, ao respeito às normas sociais e trabalhistas, ao bem-estar animal e
ao desenvolvimento de projetos de Responsabilidade Socioambiental.
Para maiores informações sobre as instituições certificadoras, acesse:
■■ ECOCERT: <www.ecocert.com.br>.
■■ IBD: <www.ibd.com.br>.
■■ TECPAR CERT: <www.tecpar.br/cert>.
d. Agroenergia
O Brasil é referência na produção de agroenergia. Programas como os do etanol
e do biodiesel atraem a atenção do mundo por ofertarem alternativas econômi-
cas e ecologicamente viáveis para a substituição dos combustíveis fósseis. Menos
poluente e mais barata, a geração de energia com o uso de produtos agrícolas
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explanado anteriormente.
Cada vez mais, em um sistema sustentável, a exigência da agroenergia será
condição necessária para integrar a matriz energética brasileira, poupando os
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recursos que ainda restam.
e. Agricultura de precisão
A Agricultura de Precisão representa um dos novos paradigmas relacionados a
tecnologias e processos produtivos mais limpos. Trata-se da utilização de tec-
nologias avançadas, tanto em nível gerencial como em nível operacional, que
visam utilizar racionalmente os recursos disponíveis para estabelecer uma pro-
dução de qualidade e com o máximo de produtividade.
Para que possamos interpretar essa ideia, imagine-se observando o modo
como se distribui calcário no campo. A distribuição geralmente é feita a lanço,
por meio de um distribuidor mecanizado. A quantidade a ser distribuída fora
calculada por meio de um modelo matemático específico e tendo como dados
de entrada os resultados de pH de uma amostra média de solos de um talhão.
Neste caso, corremos o risco de aplicar calcário acima das necessidades em subá-
reas que não necessitam de correção.
Com a agricultura de precisão, as amostragens são realizadas de maneira mais
detalhada no talhão. Geralmente este talhão é subdividido e nestas subdivisões,
outras subdivisões, de terceiro nível, podem ser realizadas. O importante é que
não teremos uma única amostra que tente retratar as condições médias do talhão.
Com um número maior de amostras, conseguimos maior detalhamento das
condições do campo e podemos aplicar o calcário de maneira mais aproximada
à real necessidade da porção segmentada do talhão.
Assim, a Agricultura de Precisão se revela como uma tecnologia poupa-
dora de insumos a qual necessita de ferramentas de elevado grau tecnológico
para ser conduzida. Essas ferramentas podem ser de diversas ordens, desde as
ferramentas físicas, com mapas, sistemas de posicionamento global, sensores,
amostradores de solos, instrumentos de detecção de alvos de interesse no agro-
ecossistema (identificação de pragas, doenças e plantas invasoras), até mesmo
as ferramentas computacionais, em especial, programas de tratamento de ima-
gens, mapeamentos e tratamentos estatísticos de dados.
A agricultura de precisão cada vez mais tem sido empregada nos agroecos-
sistemas com resultados satisfatórios, inclusive, se trata de uma tecnologia em
constante inovação. Os Veículos Aéreos Não Tripulados – VANTs, popularmente
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1 As normas para aeromodelismo podem ser acessadas por meio do seguinte link:
<http://www.apamodelismo.com.br/apa/normas/normas.htm>. Acesso em: 22 out. 2014.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegamos ao final das discussões desta última unidade. Por meio dela, pudemos
estabelecer o conhecimento sobre os pilares da sustentabilidade e compreender
sobre sua importância nos dias atuais como uma condição necessária para esta-
belecer novos padrões de desenvolvimento.
Verificamos que toda e qualquer proposta vinculada à sustentabilidade
precisa ser densamente discutida. O mesmo vale para a adoção das novas tec-
nologias. Além de inseri-las em um contexto mais complicado de se trabalhar,
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que é o contexto rural, onde as inovações possuem grandes resistências em sua
aplicação, devemos diagnosticar em quais situações devemos negociar as práti-
cas para que as mesmas sejam, no mínimo, experimentadas.
Ademais, analisamos algumas das principais tecnologias poupadoras de recur-
sos naturais e, neste contexto, a agricultura de precisão e a agroenergia ganham
destaque. A primeira, pelo aumento na eficiência de utilização dos insumos, esta-
belecendo aplicações personalizadas dos mesmos diante das reais necessidades
de uma área segmentada. A segunda, por sua vez, apresenta-se como estratégica
na matriz energética brasileira, atualmente depauperada considerando a derro-
cada de investimentos em hidroeletricidade.
Peço para que você analise com cuidado essas novas tecnologias e tendên-
cias, e sempre fique antenado(a) às inovações, afinal, elas podem ser decisivas
para a sustentabilidade do agronegócio e mesmo para a manutenção de seu
posto de trabalho.
Antes de finalizarmos, vamos a mais uma seção de atividades.
Logicamente, uma discussão mais aprofundada sobre esta teoria nos faria perceber que
a expressão cartesiana do modelo não é definitiva, no sentido de que as necessidades
humanas são infinitas e variáveis de acordo com a percepção de cada indivíduo.
A Teoria das Necessidades de Maslow se liga perfeitamente à discussão sobre plenitu-
de-crise. Fazendo um paralelo entre os dois assuntos, pode-se inferir que a plenitude
estende-se do início da realização de uma necessidade comum ao início da percepção
de que o atingimento desta necessidade já não é suficiente para se resolver uma nova
problemática que surge. A partir deste ponto tem-se o momento de crise.
Não entenda “crise” como algo ruim ou pejorativo. Afinal, um dos gênios científicos da
humanidade, Albert Einstein, colocara:
Não pretendamos que as coisas mudem, se sempre fazemos
o mesmo. A crise é a melhor bênção que pode ocorrer com as
pessoas e países, porque a crise traz progressos. A criatividade
nasce da angústia, como o dia nasce da noite escura. É na cri-
se que nascem as invenções, os descobrimentos e as grandes
estratégias. Quem supera a crise, supera a si mesmo sem ficar
‘superado’. Quem atribui à crise seus fracassos e penúrias, vio-
lenta seu próprio talento e respeita mais aos problemas do que
as soluções. A verdadeira crise, é a crise da incompetência. O
inconveniente das pessoas e dos países é a esperança de en-
contrar as saídas e soluções fáceis. Sem crise não há desafios,
sem desafios, a vida é uma rotina, uma lenta agonia. Sem crise
não há mérito. É na crise que se aflora o melhor de cada um. Fa-
lar de crise é promovê-la, e calar-se sobre ela é exaltar o confor-
mismo. Em vez disso, trabalhemos duro. Acabemos de uma vez
com a única crise ameaçadora, que é a tragédia de não querer
lutar para superá-la.
Fonte: <http://indulgy.com/post/tUROHHA2G1/einstein-on-the-beach>.
Esta colocação de Einstein é verdadeira, para o bem e para o mal. Essa é a segunda vez
neste texto que a frase “para o bem e para o mal” aparece. Isto não é uma coincidência.
Afinal, problematize: em momentos de crise, várias soluções foram adotadas e de fato
resolveram a problemática (“para o bem”). Entretanto, criaram uma problemática bem
maior (“para o mal”).
“Professor, não entendi... em qual situação uma solução foi adotada e eficaz mas
criou um problema maior?”
Não pude evitar pensar que essa pergunta esteja permeando seus pensamentos. E vou
respondê-la com o cerne de nossa discussão: o capitalismo.
Na visão clássica, embora as trocas comerciais, a monetarização e o acúmulo de reser-
vas (características pertinentes ao capitalismo) tenham sido concebidos antes do século
XV, o capitalismo, enquanto modelo socioeconômico nasceu naquele século. O modelo
feudal, que perdurou por toda a Idade Média, já não respondia a todas as necessidades
de uma população em pleno crescimento. Afinal, aquele modelo em que a posse de
terras denotava o poderio econômico dos indivíduos gerou conflitos, pois nem todos
detinham acesso às terras e, por consequência, aos meios de produção.
Fome, doenças, exclusão e conflitos sociais foram os sintomas de que a plenitude da
Idade Média estava com seus dias contados. Desta forma, uma nova crise fora instaurada
e algumas soluções foram traçadas. Uma delas, as Cruzadas, que perduraram do século
163
©historiadomundo
o cerne da nossa discussão deste mo-
mento. Lembra-se de que as Cruzadas
se compuseram como “uma das solu-
ções”? Figura 9 – Cruzadas na Alta Idade Média envolvendo os
“excedentes” populacionais
A solução que pôs fim ao Feudalismo foi
outra, e bastante conhecida pela nossa discussão da unidade anterior. O século XIV
apresentou diversos elementos que colocaram em xeque o modelo feudal, sendo um
deles a formação de rotas comerciais. Essas rotas cortavam o continente em várias di-
reções e serviram de canais de abastecimento para as localidades estratégicas daque-
le continente. Pessoas com visão e atitude empreendedora iniciaram-se no mercado
prestando serviços aos viajantes
nessas rotas, principalmente em
seus entroncamentos (formação
dos burgos – Figura 10).
Tratavam-se de serviços de esta-
lagem dos animais, alimentação
e hospedagem dos viajantes e de
reabastecimento de mantimen-
tos para a viajem. Dessa forma,
como o serviço era fundamental
e eram diversos viajantes e rotas,
estabelecia-se um mercado van-
tajoso e, pela primeira vez, lucra-
tivo. Era o início da formação do
conceito de lucro tal como co-
©not1.xpg
nhecemos hoje.
A presença deste elemento ca-
racterístico (lucro) foi importante Figura 10 – Burgos na Baixa Idade Média
©pt.wikipedia.org
para essa mudança de paradigma em que o acúmulo
de capital tornara-se mais importante na definição do
poderio econômico individual do que o acúmulo de
terras. Isso corrobora com a visão de historiadores, e
mesmo de teólogos, na situação histórica do surgimen-
to do capitalismo.
Esse reconhecimento também se faz por parte de Teó-
logos devido à instauração das Reformas Protestantes,
as quais ocorreram pouco depois, nos séculos XV e XVI.
Por sua vez, essas reformas, carreadas por João Calvino
(Figura 11) e Martim Lutero (Figura 12), Calvinismo no
Reino Unido e Luteranismo na Alemanha, respectiva-
mente, instituíram um modelo de Cristianismo religio-
so alternativo que pregava que a prosperidade (entre
outras palavras, obtenção de lucro) era sinal de reco-
nhecimento e predestinação para salvação.
Retornando o foco de nossa discussão para os benefí-
Figura 11 – Martim Lutero
cios e malefícios das soluções eficazes, de fato, a criação
do capitalismo possibilitou o crescimento e a prosperidade de muitas famílias, dando-
-lhes ocupação e a possibilidade de, por meio de seu trabalho, conquistar a soberania
social. Isso considerando a fase de transição feudalis-
mo-capitalismo (séculos XIV ao XVII) e a história euro-
peia, uma vez que o Oriente Distante (China e Japão)
encontrava-se sob influência do modelo feudal até o
século XIX.
Porém, como nenhuma solução é definitiva, o capi-
talismo perdeu sua plenitude precocemente, pois já
no século XVI, com a instauração do Mercantilismo
no Reino Unido, houve a concentração de capital nas
mãos de poucos e, pouco depois, no século XVII, com
a consolidação da Revolução Inglesa e da burguesia
no poder, houve a segmentação social entre aqueles
que detinham os meios de produção (burgueses) e
aqueles que prestavam serviços naqueles meios de
©historialivre
produção (trabalhadores).
Ao final do século XVIII, já no início da Revolução In-
dustrial, já se encontrava fortemente instaurado um Figura 12 – João Calvino
A capitalização daquele tempo era tamanha que até mesmo entes abstratos (Deus)
começaram a ocupar o segundo plano frente ao “deus dinheiro”, conforme Michellon
(2006). As consequências dessa dinâmica social se estendem, em maior ou menor grau,
até os dias de hoje, afinal, ainda são muitos os excluídos pela falta de competitivida-
de em um mercado tão seletivo. Os que possuem maior competitividade encontram
condições favoráveis para ampliar seu domínio sobre aqueles que não conseguem ser
competitivos, até o ponto de sua exclusão.
[...]
Fonte: COSTA, T. R. Empreendedorismo e Organizações Associativas. Maringá: Cesumar, 2012b.
196p.
1. “Trata-se de um modelo de agricultura que pode ser interpretado como um
sistema de manejo integrado de informações e tecnologias, fundamentado nos
conceitos de que as variabilidades de espaço e tempo influenciam nos cultivos,
o que exige um gerenciamento mais detalhado, em especial, na aplicação de
insumos diante das reais necessidades da área. Ferramentas como GNSS (Global
Navigation Satelite System), SIG (Sistema de Informações Geográficas), de ins-
trumentos e de sensores para medidas ou detecção de parâmetros ou de alvos
de interesse no agroecossistema (solo, planta, insetos e doenças), de geoesta-
tística e da mecatrônica são comumente utilizados em seu desenvolvimento”. O
trecho acima destacado faz alusão a uma modalidade de agricultura que tem se
desenvolvido muito nos últimos tempos. Mediante o exposto, assinale a alter-
nativa que apresenta o nome deste tipo de agricultura.
a) Agricultura Agroecológica.
b) Agricultura Convencional.
c) Cultivo Mínimo.
d) Agricultura de Precisão.
e) Agricultura Espacial.
2. O conceito de sustentabilidade abarca diferentes dimensões. A escola clássica,
ligada à sustentabilidade, subdimensiona o tema em uma tríade. Por sua vez, os
conceitos mais modernos ampliam este foco, gerando ao menos quatro pilares
da sustentabilidade. Um pilar, em particular, diz respeito à viabilidade das estra-
tégias de sustentabilidade em garantir renda aos atores envolvidos. Qual seria
o pilar em questão?
a) Ambiental.
b) Social.
c) Econômico.
d) Cultural.
e) Político.
167
Material Complementar
CONCLUSÃO
Prezado leitor,
A produção do livro “Novas Tecnologias Aplicadas ao Agronegócio” apresenta-se
como uma humilde contribuição literária aos seus estudos e ao seu futuro exercí-
cio profissional. Por meio deste material, muitos dos conceitos e do conhecimento
acerca deste tema estratégico foram tratados, sempre com um foco realista e inter-
disciplinar.
Espero que você possa ter construído conhecimento sobre a importância, as ações,
os atores envolvidos e as perspectivas dos assuntos abordados e, se você realmente
conseguiu este intento, terei cumprido minha missão em auxiliá-lo(a) em sua jor-
nada.
Contudo, sei que muitos conceitos e muitas das discussões realizadas neste ma-
terial não se acabam por aqui, podendo gerar novas dúvidas e levá-lo(a) a novos
questionamentos. Se você leu atentamente este material, e possui um espírito em-
preendedor, você certamente irá gostar de estar frente a estes questionamentos e
aos novos desafios, ou seja, você terá a atitude necessária para descobrir mais sobre
este mundo tão vasto e complexo relacionado ao Agronegócio.
Estarei sempre à sua disposição para lhe ajudar nestes assuntos. Entre em contato
em caso de dúvidas e sugestões, por meio do endereço: tiago.costa@unicesumar.
edu.br. Será um prazer conversar com você!
Desejo encontrá-lo(a) em uma próxima oportunidade para novamente construir-
mos o conhecimento.
Um grande abraço!
Prof. Tiago Costa
Eng. Agrônomo, Eng. de Segurança do Trabalho,
Me. Professor Assistente – Centro Universitário Cesumar
173
REFERÊNCIAS
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www.comunitexto.com.br/igo-lepsch-fala-sobre-morfologia-do-solo/#.VEjmuPl-
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COSTA, T. R. Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional. Maringá: Cesumar,
2012.
COSTA, T. R. Empreendedorismo e Organizações Associativas. Maringá: Cesumar,
2012b. 196p.
CNA. Os números do Agronegócio Brasileiro. Disponível em: <http://www.facul-
dadecna.com.br/agronegocio#.VEUwY_ldWSo>. Acesso em: 17 out. 2014.
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didade, na ausência na presença de gesso. Disponível em: <http://www.cpac.em-
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175
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ZONTA, J. H. Práticas de Conservação de Solo e Água. Embrapa – Circular Técnica
133. Campina Grande-PB: EMBRAPA, 2012. 24p.
179
GABARITO
UNIDADE I:
1) b; 2) d; 3) a.
UNIDADE II:
1) b;
2) UNIDADE DEMONSTRATIVA: É um método complexo e grupal que tem como
característica demonstrar, acompanhar, avaliar ou adotar uma ou várias atividades
agropecuárias ou sociais de comprovada eficiência, eficácia e rentabilidade, sem
necessidade de comparação; DIA DE CAMPO: É um método grupal e complexo que
permite a reunião de um grupo de pessoas, entre 50 a 100 participantes, em de-
terminada propriedade rural, onde estão sendo obtidos bons resultados em certas
práticas ou tecnologias, e que merecem ser conhecidos, possibilitando aos partici-
pantes a observação, discussão e análise das questões tecnológicas, econômicas,
sociais e ambientais, bem como a possibilidade de implementação das práticas ob-
servadas.
UNIDADE III:
1) b; 2) c; 3) a.
UNIDADE IV:
1) b; 2) d; 3) a.
UNIDADE V:
1) d; 2) c; 3) a.