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AVALIAÇÃO DO EFEITO DA REAÇÃO ÁLCALI-AGREGADO (RAA) EM

CONCRETOS ATRAVÉS DE ENSAIOS MECÂNICOS E DE EXPANSÃO

Rodrigo Santana Pereira


Graduando em Engenharia Civil – UNAERP, Campus Guarujá

Iolanda Maria da Silva


Graduanda em Engenharia Civil – UNAERP, Campus Guarujá
Iolanda_ortigara@hotmail.com

Willy Ank de Morais


Professor do curso de Engenharia Civil – UNAERP, Campus Guarujá
Wank@unaerp.br

Marcio de Morais Tavares


Coordenador do curso de Engenharia Civil – UNAERP, Campus Guarujá
mtavares@unaerp.br

Resumo: O concreto é o material mais comum na construção e consiste em um


compósito constituído de cimento, água e agregados como areia e pedra. A reação
álcali agregado (RAA) está ligada na reação do tipo do mineral presente no agregado,
no caso a sílica, dependendo da sua estrutura, seja ela amorfa (desorganizada) ou
cristalina (organizada) e pode ser reativa ou não. No caso amorfo, o potencial de RAA é
consideravelmente alto, para o cristalino o potencial dependerá de fatores externos
altos e para ambos os casos esses fatores são temperatura do ambiente, umidade, teor
de álcalis do cimento e porosidade. Trata-se de uma reação complexa de difícil
interpretação, uma vez que a pasta do cimento contém muitos produtos da reação
química da cura, caracterizada de aspectos físicos variados.

Palavras-Chave: concreto, estrutura, reação química.

1. Introdução

No concreto pode ocorrer a deterioração de sua estrutura com o meio ambiente


em que está presente. São muitos fatores associados à deterioração: as características
dos materiais constituintes do concreto sejam elas física ou químicas, a cura, exposição
a intempéries que acarretam a mudança do estado natural do concreto.
O acúmulo destas consequências geradas reflete no desempenho e durabilidade da
estrutura em campo e vida útil.
Segundo Costa, Lima e Silva (2009), RAA é a interação de íons alcalinos do
cimento com agregados constituídos de minerais siliciosos. A reação destes materiais
gera a expansão no concreto, formando sólidos no interior da estrutura, com ocorrência
de fissuras, desagregação, e geração de crateras onde escorre um gel de sílica.

2. Objetivo

O presente trabalho teve como principal objetivo estudar a reação álcali-


agregado através da expansão e compressão em prismas de concreto utilizando areia
como agregado miúdo proveniente de três diferentes fornecedores (Juquiá, Buritiba e
Mogi das Cruzes).

3. Justificativa

As reações denominadas Álcali-Agregado ou Álcali-Sílica são reações químicas


envolvendo íons alcalinos do cimento Portland, íons hidroxila e certos constituintes
siliciosos que podem estar presentes no agregado; resultando a importância da escolha
do cimento, dos agregados e da compatibilidade destes materiais.
Para Pan et al (2012), a RAA precisa pelo menos um mineral reativo na
composição do agregado, com os álcalis do cimento e água intersticial. Os fatores
influentes nessa patologia são: temperatura e porosidade inicial do concreto (CAPRA &
BOURNAZEL, 1998).
Qualquer estrutura de concreto é passível de ser afetada, pelo fato da RAA
depender de umidade, bem como barragens, blocos de fundações parciais ou
submersos e estruturas hidráulicas (FARAGE, 2000).
4. Revisão da literatura

Reação álcali agregado (RAA) é um processo químico entre o agregado


contendo sílica reativa reagindo com os álcalis do cimento. Nesta reação inclui
particularidade da RAA, como trincas de grande magnitude na superfície da estrutura
afetada, na maioria dos casos no sentido longitudinal da peça e finas trincas aleatórias
transversais.

4.1. Tipos de RAA


A RAA possui três tipos de reações: álcali-sílica, álcali-silicato, álcali-carbonato.
Na RAC (reação álcalis-carbonato), o agregado reativo é a dolomita que é proveniente

2
do calcário. A equação abaixo apresenta a reação química, a dedolomitização produto
característico da RAC:

𝐶𝑎𝑀𝑔(𝐶𝑂3 )2 + 2(𝑁𝑎, 𝐾)𝑂𝐻 → 𝑀𝑔(𝑂𝐻)2 + 𝐶𝑎𝐶𝑜3 + (𝑁𝑎, 𝐾)2 𝐶𝑂3


(Dolomita) (Álcali) (Brucita) (Calcita) (Álcali-Carbonato)

4.2. Expansão por RAA


Uma vez que o produto da expansão ocupe plenamente o interior dos poros,
passa a exercer pressões internas em suas paredes induzindo a expansão da matriz do
concreto (SILVEIRA, 1997), conforme ilustrado na Figura 1.

Figura 1 - Deslocamento devido a ação por RAA.


Fonte: IBRACON/ CPTI/ IPT.
5. Materiais e métodos
De acordo com Deslandes (1994) no início é preciso decidir o tema e o problema
a ser estudado e conforme Gil (1987) o surgimento de hipótese vem da intuição do
pesquisador, fundamentada na leitura sobre o assunto, e observação prévia.
O tanque de aço, que foi empregado no ensaio método acelerado de barras,
onde os prismas de concreto são imersos na soda cáustica com solução de 1N, a 80°C,
no período de 14 dias. Esse tanque possui proteção anódica, devido a ação corrosiva
3
da soda cáustica, com espessura de 1,40 mm, com dimensões de 20 cm lado x 20 cm
lado x 35 cm altura, com um volume de 14000 cm³, com peso de 3520 gramas.
Os três tipos de areias empregadas para a fabricação de concreto simples para
os prismas, são de Buritiba , Juquiá, e Mogi das Cruzes, com intuito de conhecer a
variação do concreto nos ensaios empregados. A pedra brita 01 da pedreira de Maria
Tereza.
Foi realizado ensaio de umidade e granulometria nos quais a homogeneização e
o quarteamento das amostras foram necessários. Foram pesados 1000 g para
obtenção da massa inicial e inseridas na estufa por 60 minutos para se obter o
resultado de amostra seca. Como agregado padrão do concreto simples, utilizou-se a
brita 01 e utilizado o cimento CPIII para todos os traços. Os prismas foram concretados
em fôrmas de madeira, para obtenção do formato geométrico das barras, ilustradas na
Figura 2.

Figura 2 - Fôrma dos prismas de concreto empregados como corpos de prova.

4
Como agregado padrão do concreto simples, utilizou-se a brita 01 e utilizado o
cimento CPIII para todos os traços. Os prismas foram concretados em fôrmas de
madeira, para obtenção do formato geométrico das barras (Fig. 2).
Os ensaios de compressão foram realizados em uma máquina de ensaios
mecânicos universais, datada de uma célula de carga com capacidade de 100.000 N.
No ensaio de compressão foram utilizadas três barras de concreto, cada uma com
agregados diferentes, os quais não foram submetidos ao ensaio de imersão. Os CP’s
foram posicionados conforme ilustrado pela Figura 3.
A superfície regular das extremidades do CP, em conjunto com um bom
alinhamento entre a peça e a prensa hidráulica garantem resultados mais precisos, uma
vez que a carga aplicada ao CP pela prensa é distribuída de forma uniforme.

Figura 3 – Arranjo empregado nos ensaios de compressão.

6. Resultados e discussão

6.1 – Ensaio de expansão.


Foram realizadas as medições nos respectivos corpos de prova, devidamente
secos (01 e 02 Juquiá, 03 Mogi e 04 Buritiba Mirim), após o ensaio de imersão. Tais
resultados estão expostos na Figura 4.

5
A barra 2 contendo areia de Juquiá, apresentou um aumento de 0,098% no seu
volume, sendo que as demais apresentaram um aumento de 0,018%. Esses dados
demostram que o agregado é inócuo e para melhor aferimento de aumento volumétrico
da barra, necessitaria de um método com mais dias para avaliação.

Expansão das Barras

mm

Figura 4 - Expansão das Barras no método acelerado.

6.2 - Ensaio granulométrico


O ensaio granulométrico ajuda apenas a conhecer o tamanho das partículas no
caso da areia e da pedra brita, que é um dos fatores que pode ser considerável para
RAA. Conforme ilustrado na Figura 5, estas são areias bem distintas no aspecto visual
em termos de cor, como apresentadas na Figura 5. Usando a sua origem como
referência e, consequentemente, seu aspecto visual, as areias e os respectivos CPs
obtidos, foram designados como:
A) Buritiba (Mirim);
B) Juquiá e
C) Mogi (Mirim).

6
Os resultados de tamanho médio das partículas e umidade são representados no
gráfico da Figura 6. A areia de Juquiá possui uma composição granulométrica maior
com TM (Tamanho Médio das partículas) de 6,68 mm, enquanto que a areia de Buritiba
é a mais “fina” com TM de 2,66 mm.

A B C

Figura 5 - Areias utilizadas na confecção dos CP’s: A) Buritiba; B) Juquiá e C) Mogi.

7
6,68

6
5,01
5

4
TM (mm)

3 2,66 Umidade (%)

2
1,34
0,79
1 0,45

0
Buritiba Juquiá Mogi

Figura 6 – Tamanho médio das partículas e umidade dos agregados miúdos.

7
6.3 - Ensaios de compressão.
No ensaio de compressão foram separados três CP’s, um com agregado de
Juquiá, um com agregado de Mogi das Cruzes, e outro com agregado de Buritiba. E as
barras usadas no ensaio método acelerado, obtendo um total de duas barras de cada
agregado.
O tratamento feito pela imersão em NaOH 1N durante 14 dias a 80° levou aos
corpos de prova (CPs) apresentarem uma resistência máxima à compressão de 15,1
MPa que é 8% menor que a resistência máxima antes do tratamento. A Figura 7
representa graficamente a distribuição da resistência à compressão dos diferentes CPs.

Figura 7 – Distribuição da resistência à compressão dos diferentes CPs.

As Figuras de 8 a 13 ilustram as curvas obtidas nos ensaios de compressão nos


CPs, respectivamente:
 Areia de Juquiá sem imersão e após imersão;
 areia de Buritiba sem imersão e após imersão;

8
 Areia de Mogi sem imersão e após imersão.

30
Tensão de Engenharia (MPa)

25

20

15

10

0
0 0,002 0,004 0,006 0,008 0,01 0,012 0,014 0,016
Deformação de Engenharia (mm/mm)

Figura 8 – Resistência à compressão do CP obtido pelo uso da areia de


Juquiá sem imersão (14,2 MPa).

30
Tensão de Engenharia (MPa)

25

20

15

10

0
0 0,002 0,004 0,006 0,008 0,01 0,012 0,014 0,016
Deformação de Engenharia (mm/mm)

9
Figura 9 – Resistência à compressão do CP obtido pelo uso da areia de
Juquiá após imersão (12,36 MPa).
30
Tensão de Engenharia (MPa)

25

20

15

10

0
0 0,002 0,004 0,006 0,008 0,01 0,012 0,014 0,016
Deformação de Engenharia (mm/mm)

Figura 10 – Resistência à compressão do CP obtido pelo uso da areia


Buritiba sem imersão (24,8 MPa).

30

25
Tensão de Engenharia (MPa)

20

15

10

0
0 0,002 0,004 0,006 0,008 0,01 0,012 0,014 0,016
Deformação de Engenharia (mm/mm)

10
Figura 11 – Resistência à compressão do CP obtido pelo uso da areia
Buritiba após imersão (22,3 MPa).
30
Tensão de Engenharia (MPa)

25

20

15

10

0
0 0,002 0,004 0,006 0,008 0,01 0,012 0,014 0,016
Deformação de Engenharia (mm/mm)

Figura 12 – Resistência à compressão do CP obtido pelo uso da areia


Mogi sem imersão (12,2 MPa).

30
Tensão de Engenharia (MPa)

25

20

15

10

0
0 0,002 0,004 0,006 0,008 0,01 0,012 0,014 0,016
Deformação de Engenharia (mm/mm)

11
Figura 13 – Resistência à compressão do CP obtido pelo uso da areia
Mogi após imersão (11,7 MPa).

A Figura 14 representa graficamente a distribuição da deformação verificada na


tensão máxima nos CPs testados. A deformação obtida nos CPs até a carga máxima,
escolhida por ser uma característica mais representativa de se medir e de caracterizar o
material do que a deformação total, ofereceu uma tendência similar ao ocorrido com a
resistência, porém em uma intensidade maior.

Figura 14 – Distribuição da deformação na tensão máxima dos diferentes CPs.

Neste caso houve uma queda de 16% na quantidade de deformação possível de


ser obtida nos CPs sem o tratamento. Deve-se lembrar que esta deformação foi medida
considerando-se o deslocamento do travessão da máquina de compressão (em torno
de 1,4mm) em relação ao comprimento inicial dos CPs (em torno de 253 mm).
A maior diferença foi verificada na quantidade de energia que os CPs podem
absorver até a carga máxima ou tenacidade aparente na carga máxima. A Figura 15

12
representa graficamente a Distribuição da tenacidade aparente na carga máxima (J)
dos diferentes CPs. Este parâmetro foi quantificado ao se obter a área sob a curva
tensão x deformação aparente (medida conforme descrito no parágrafo anterior) até o
ponto de carga máxima.

Figura 15 – Distribuição da tenacidade aparente na carga máxima (J)


dos diferentes CPs.

7. Conclusões

As barras aplicadas no ensaio de expansão, não apresentaram um crescimento


nos 14 dias de teste. As duas barras 1 e 2, ambas com agregado de juquiá,
apresentaram uma diferença no comprimento na barra, a barra 1 obteve uma diferença
de medição de 0.4%, e a barra 2 uma diferença de 0,6%, valor baixo para considerar
um agregado reativo.
As formas para os prismas de concreto, neste caso foi utilizado de madeira,
dificultou a geometria perfeita das barras, apresentando faces com curvaturas
milimétricas após a desforma. É provável que o uso de formas de metal, com sistema
13
de desforma por meio de parafusos, ou outro sistema que favorece a forma e desforma,
facilitaria a fabricação mais elaborada do prisma.
Os valores médios dos grãos das areias analisadas, estavam no intervalo de
0,42 mm a 2,0 mm, que confirma a granularidade de areia média, afirmando dados do
fornecedor, a média de umidade das amostras é de 4,8. O mesmo para a pedra brita 01
que tem valores até 19 mm, e o resultado do ensaio granulométrico foi de 14 mm,
confirmando que é pedra brita 01.
Trata-se de uma reação complexa e que necessita de vários métodos para
investigar o potencial reativo do agregado, embora que a melhor ação contra a RAA é a
análise dos agregados, antes do emprego na argamassa e concreto, conforme a Figura
uma residência com traços característicos de RAA, em Guarujá.
De uma forma geral, os dados obtidos nos ensaios apontam tendências
relativamente nítidas, que podem ser aprofundadas em estudos posteriores,
especialmente de caracterização da areia empregada nestes concretos.

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