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PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO

I) CONCEITO

Segundo Miguel Reale, princípios “são verdades fundantes de um sistema de conhecimento, como
tais admitidas, por serem evidentes ou por terem sido comprovadas, mas também por motivos de
ordem prática de caráter operacional, isto é, como pressupostos exigidos pelas necessidades da
pesquisa e da praxis.”.

II) PRINCÍPIOS, PECULIARIDADES E TÉCNICAS DE


PROCEDIMENTO (distinção)

Enquanto os princípios estruturam o tronco comum do processo, dizendo respeito a todos os


sistemas processuais, as peculiaridades apenas os completam com vistas a cada sistema,
responsabilizando-se por dar identidade a cada ramo do direito processual. A despeito de opiniões
em contrário, as peculiaridades seriam princípios específicos de um determinado segmento ou
compartimento do direito.

Já a técnica não se confunde nem atinge a escala ou dimensão dos princípios. Sua função se vincula
ao procedimento.

“É possível, então, dizer-se que os princípios são capazes de mostrar-se por meio de técnicas de
procedimento. E estas, em sentido contrário, são concebidas para dar lastro prático ao conteúdo
axiomático dos princípios.” (José Augusto Rodrigues Pinto – Processo Trabalhista de
Conhecimento – LTr).

Exemplo de técnica de procedimento: a oralidade, que se caracteriza pelo predomínio da palavra oral,
pela imediatidade do juiz, concentração dos atos do procedimento, irrecorribilidade das decisões
interlocutórias etc. (modos de condução do processo que concorrem para a celeridade da prestação
jurisdicional).

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III) CLASSIFICAÇÃO

Observação: A distribuição sistemática, em classes específicas, dos princípios fundamentais do


processo variará conforme seja o critério metodológico que se venha a adotar. Feita essa necessária
advertência, perfilha-se uma divisão dicotômica dos princípios em: princípios constitucionais e
princípios infraconstitucionais.

III.1 – PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

PRINCÍPIO SÍNTESE – PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL (due process of law),


consagrado expressamente no artigo 5º, LIV, da Carta Magna: trinômio vida-liberdade-
propriedade.

Observações:

►O princípio da regularidade do procedimento – que integra o do devido processo legal, mais amplo,
decorre do sistema da legalidade das formas.

►A regulamentação legal dos atos do procedimento não deflui apenas da necessidade de disciplinar-
se a atuação das partes em juízo, mas, igualmente, da preocupação do legislador no sentido de
impedir a instauração do que se poderia chamar de “ditadura do magistrado”.

DESDOBRAMENTOS DO PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL

a) Princípio da isonomia

CF, art. 5º, caput:


Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:

►Exame das prerrogativas dos entes públicos.

►Compatibilidade do princípio da proteção do hipossuficiente, no âmbito trabalhista, com o princípio


da igualdade.

b) Princípio do juiz natural

CF, art. 5º:


Inciso XXXVII – não haverá juízo ou tribunal de exceção;
Inciso LIII – ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;

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►A locução juiz natural não traduz, a rigor, a idéia que, por meio dela, se procura expressar. Melhor
seria que se falasse, por exemplo, em juízo preexistente.

►O princípio do juiz natural exprime a garantia de as pessoas serem julgadas por órgão instituído
anteriormente ao fato que motivou o ajuizamento da ação. A sua adoção coíbe a criação de tribunais
de exceção ou juízos ad hoc, ou seja, incumbidos de julgar, com discriminação, indivíduos ou
coletividades. Por força do aludido princípio, a definição do órgão julgador se dá com base sem
critérios objetivos, abstratos e predeterminados.

►A antiga cláusula do juiz natural não seria bastante para atingir a sua finalidade. Daí por que o
legislador constituinte conferiu aos integrantes da magistratura as garantias da vitaliciedade,
inamovibilidade e irredutibilidade de subsídio.

►Juízo natural e juízo especializado são expressões que não se confundem. Enquanto aquela
espelha o direito de o indivíduo ver-se julgado por órgão preexistente, esta revela a existência de
juízos cuja competência especial se justifica pelas peculiaridades das lides a serem compostas.

C) Princípio do promotor natural (controvérsia doutrinária e jurisprudencial)

CF, art. 5º:


Inciso LIII – ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;

JULGADOS DO STF:

HC 103.038 – 2ª Turma, rel. min. Joaquim Barbosa – Publicação: DJE 27.10.2011


Habeas Corpus. Violação do Princípio do Promotor Natural. Inocorrência. Prévia designação de promotor de justiça
com o expresso consentimento do promotor titular, conforme dispõem os artigos 10, inc. IX, alínea ‘f’, e 24 da Lei nº
8.625/93. Ordem denegada. O postulado do Promotor Natural “consagra uma garantia de ordem jurídica, destinada
tanto a proteger o membro do Ministério Público, na medida em que lhe assegura o exercício pleno e independente do
seu ofício, quanto a tutelar a própria coletividade, a quem se reconhece o direito de ver atuando, em quaisquer causas,
apenas o Promotor cuja intervenção se justifique a partir de critérios abstratos e pré-determinados, estabelecidos em
lei” (HC 102.147/GO, rel. min. Celso de Mello, DJe nº 22 de 02.02.2011). No caso, a designação prévia e motivada de um
promotor para atuar na sessão de julgamento do Tribunal do Júri da Comarca de Santa Izabel do Pará se deu em
virtude de justificada solicitação do promotor titular daquela localidade, tudo em estrita observância aos artigos 10,
inc. IX, alínea “f”, parte final, e 24, ambos da Lei nº 8.625/93. Ademais, o promotor designado já havia atuado no feito
quando do exercício de suas atribuições na Promotoria de Justiça da referida comarca. Ordem denegada.

RE 638.757-AgR – 1ª Turma, rel. min. Luiz Fux – Publicação: DJE 26.04.2013


AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. PENAL E PROCESSUAL PENAL. NULIDADE DO
JULGAMENTO PROFERIDO PELO TRIBUNAL DO JÚRI E INOBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DO PROMOTOR NATURAL.
ACÓRDÃO PROFERIDO PELO TRIBUNAL DE JUSTIÇA, CONTENDO DUPLO FUNDAMENTO: LEGAL E
CONSTITUCIONAL. NÃO INTERPOSIÇÃO SIMULTÂNEA DE RECURSO ESPECIAL. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 283 DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AGRAVO REGIMENTAL. ALEGAÇÃO DE CABIMENTO SOMENTE DE RECURSO
EXTRAORDINÁRIO POR ENTENDER QUE O TRIBUNAL DE ORIGEM TERIA ADOTADO O TEMA RELACIONADO À
OFENSA AO PRINCÍPIO DO PROMOTOR NATURAL COMO FUNDAMENTO AUTÔNOMO E SUFICIENTE PARA DECIDIR
A CONTROVÉRSIA. ARGUMENTAÇÃO INSUBSISTENTE. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. Tendo o tribunal de origem decidido a controvérsia com base em fundamento constitucional e legal, impunha-se a
interposição simultânea de recurso especial, sob pena de não o fazendo subsistir hígido o tema afeto à interpretação da
legislação ordinária. O conhecimento do extraordinário, assim, encontra óbice na Súmula 283 do Supremo Tribunal Federal.
2. In casu o acórdão recorrido assentou (folha 642): “Júri. Duplo homicídio duplamente qualificado. Atuação em
plenário de julgamento de promotor de justiça estranho à comarca e ao feito. Ferimento ao princípio do promotor
natural. Nulidade reconhecida. Embora não previsto expressamente em lei, o Princípio do Promotor Natural decorre de
dispositivos constitucionais e é admitido na doutrina e na jurisprudência, ainda que comportando alguma
relativização. No caso, a atuação em plenário de julgamento de um Promotor de Justiça estranho à Comarca e ao feito,

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sem regular designação e estando a titular da Promotoria em pleno exercício de suas funções, constitui ferimento ao
referido princípio e acarreta a nulidade do julgamento. De outra banda, estando o réu preso há quase onze meses e
pronunciado há cerca de sete meses, está caracterizado o excesso de prazo na formação da culpa, impondo-se a concessão
de habeas corpus de ofício. Apelo provido, por maioria. Habeas Corpus concedido de ofício, por maioria.”.
3. Agravo regimental no recurso extraordinário. Alegação de não cabimento de recurso especial, porquanto o acórdão recorrido
teria adotado a violação ao princípio do promotor natural como fundamento autônomo e suficiente ao prover o recurso de
apelação interposto contra a decisão proferida pelo Tribunal do Júri. Argumentação insubsistente, dado que, tendo em vista a
realidade processual e os fatos jurídicos ocorridos na sessão do Júri, o Tribunal estadual assentou a violação a regras
processuais e o vício no ato de designação do Promotor de Justiça que fora designação para atuar tão somente na assentada
em que o recorrido seria submetido a julgamento, o que viria patentear a ocorrência de nulidade após a pronúncia, razão pela
qual o recurso de apelação foi conhecido com base no artigo 593, III, “a”, do Código de Processo Penal.
4. A reiterada jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido de que “o princípio do Promotor Natural, tendo
presente a nova disciplina constitucional do Ministério Público, ganha especial significação no que se refere ao objeto
último decorrente de sua formulação doutrinária: trata-se de garantia de ordem jurídica destinada tanto a proteger o
membro da Instituição, na medida em que lhe assegura o exercício pleno e independente de seu ofício, quanto a
tutelar a própria coletividade, a quem se reconhece o direito de ver atuando, em quaisquer causas, apenas o Promotor
cuja intervenção se justifique a partir de critérios abstratos e pré-determinados, estabelecidos em lei” (Habeas Corpus
nº 67.759-2/RJ, Plenário, relator Ministro Celso de Mello, DJ de 01.07.1993).
5. Agravo regimental não provido.

HC 102.147-AgR – 2ª Turma, rel. min. Celso de Mello – Publicação: DJE 30.10.2014


“HABEAS CORPUS” – JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL CONSOLIDADA QUANTO À MATÉRIA
VERSADA NA IMPETRAÇÃO – POSSIBILIDADE, EM TAL HIPÓTESE, DE O RELATOR DA CAUSA DECIDIR,
MONOCRATICAMENTE, A CONTROVÉRSIA JURÍDICA – COMPETÊNCIA MONOCRÁTICA DELEGADA, EM SEDE
REGIMENTAL, PELA SUPREMA CORTE (RISTF, ART. 192, “CAPUT”, NA REDAÇÃO DADA PELA ER Nº 30/2009) –
ATRIBUIÇÃO ANTERIORMENTE CONSAGRADA NO ORDENAMENTO POSITIVO BRASILEIRO (LEI Nº 8.038/90, ART. 38;
CPC, ART. 557, § 1º-A) – AUSÊNCIA DE OFENSA AO PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE – IMPETRAÇÃO FUNDADA, EM
PARTE, EM RAZÕES NÃO APRECIADAS PELO TRIBUNAL APONTADO COMO COATOR – INCOGNOSCIBILIDADE, NO
PONTO, DO REMÉDIO CONSTITUCIONAL – ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE PROVAS NECESSÁRIAS À PRONÚNCIA DO
PACIENTE – CONTROVÉRSIA QUE IMPLICA EXAME APROFUNDADO DE FATOS E PROVAS – INVIABILIDADE DESSA
ANÁLISE NA VIA SUMARÍSSIMA DO “HABEAS CORPUS” – PROMOTOR NATURAL – POSTULADO QUE SE REVELA
IMANENTE AO SISTEMA CONSTITUCIONAL BRASILEIRO – A DUPLA VOCAÇÃO DESSE PRINCÍPIO: ASSEGURAR AO
MEMBRO DO MINISTÉRIO PÚBLICO O EXERCÍCIO PLENO E INDEPENDENTE DE SEU OFÍCIO E PROTEGER O RÉU
CONTRA O ACUSADOR DE EXCEÇÃO (RTJ 150/123-124) – OCORRÊNCIA DE OPINIÕES COLIDENTES
MANIFESTADAS, EM MOMENTOS SUCESSIVOS, POR PROCURADORES DE JUSTIÇA OFICIANTES NO MESMO
PROCEDIMENTO RECURSAL – POSSIBILIDADE JURÍDICA DESSA DIVERGÊNCIA OPINATIVA – PRONUNCIAMENTOS
QUE SE LEGITIMAM EM FACE DA AUTONOMIA INTELECTUAL QUE QUALIFICA A ATUAÇÃO DO MEMBRO DO
MINISTÉRIO PÚBLICO – SITUAÇÃO QUE NÃO TRADUZ OFENSA AO POSTULADO DO PROMOTOR NATURAL –
SIGNIFICADO DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA UNIDADE E DA INDIVISIBILIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO –
RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO.

ARE 819.474-AgR – 1ª Turma, rel. min. Roberto Barroso – Publicação: DJE 17.06.2015
DIREITO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. ALEGADA OFENSA AO
PRINCÍPIO DO PROMOTOR NATURAL. LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE MATÉRIA
CONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO ART. 93, IX, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
1. O Supremo Tribunal Federal assentou tratar-se de matéria infraconstitucional a questão relativa à afronta ao
princípio do promotor natural. Precedentes.
2. A decisão está devidamente fundamentada, embora em sentido contrário aos interesses da parte agravante.
3. Agravo regimental a que se nega provimento.

d) Princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional

CF, art. 5º:


Inciso XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;

►Raízes históricas (Carta Magna de João Sem Terra)

►Representa uma espécie de contrapartida estatal ao veto à realização, pelos indivíduos ou


coletividades, de justiça com as próprias mãos (v. Código Penal, art. 345)

►Jurisdição (poder/dever do Estado)

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e) Princípio do contraditório e da ampla defesa

CF, art. 5º:


Inciso LV: aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o
contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

►O contraditório se compõe de dois elementos: de um lado, a informação necessária dos atos do


processo às partes e, de outro, a possibilidade de reação das partes aos atos que lhes forem
contrários aos respectivos interesses.

►A concessão inaudita altera parte de certas medidas (exemplos: liminares e tutelas provisórias) não
implica violação do princípio do contraditório. Nas hipóteses aventadas, o contraditório se
manifestará, concretamente, no momento da citação do réu, que terá, então, a oportunidade de
responder à ação (ampla defesa) e participar do processo, ouvindo e sendo ouvido, produzindo
provas, aduzindo razões finais, interpondo recursos etc.

►O contraditório não é um princípio que está exclusivamente a serviço das partes. Atua também
como elemento de fundamental importância na formação do convencimento do julgador.

f) Princípio da publicidade

Constituição Federal:

Art. 5º, LX: a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social
o exigirem;

Art. 93, IX: todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob
pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou
somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o
interesse público à informação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

►Restrições constitucionais – (1) defesa da intimidade; (2) interesse social.

g) Princípio da motivação ou fundamentação das decisões

CF, art. 93, IX: todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões,
sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou
somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse
público à informação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

►Incidência do princípio no tocante às decisões administrativas e judiciais.

►A exigência de motivação das decisões se justifica por pelo menos três razões: necessidade de
demonstração do iter lógico percorrido pelo julgador na formação de seu convencimento; atendimento

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aos princípios da legalidade e da publicidade; demonstração da imparcialidade no julgamento do
feito.

h) Princípio da liceidade dos meios de prova

CF, art. 5º, LVI: são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;

i) Princípio da proibição de prisão civil por dívida

CF, art. 5º, LXVII: não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável
de obrigação alimentícia e a do depositário infiel;

►Inadmissibilidade da prisão civil do depositário infiel – jurisprudência atual do STF

Súmula vinculante nº 25: “É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do
depósito.”.

HC 96.772 – 2ª Turma, rel. min. Celso de Mello – Publicação: DJE 21.08.2009


"HABEAS CORPUS" - PRISÃO CIVIL - DEPOSITÁRIO JUDICIAL - REVOGAÇÃO DA SÚMULA 619/STF - A QUESTÃO DA
INFIDELIDADE DEPOSITÁRIA - CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (ARTIGO 7º, n. 7) - NATUREZA
CONSTITUCIONAL OU CARÁTER DE SUPRALEGALIDADE DOS TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS
HUMANOS? - PEDIDO DEFERIDO. ILEGITIMIDADE JURÍDICA DA DECRETAÇÃO DA PRISÃO CIVIL DO DEPOSITÁRIO
INFIEL, AINDA QUE SE CUIDE DE DEPOSITÁRIO JUDICIAL.
- Não mais subsiste, no sistema normativo brasileiro, a prisão civil por infidelidade depositária, independentemente da
modalidade de depósito, trate-se de depósito voluntário (convencional) ou cuide-se de depósito necessário, como o é o
depósito judicial. Precedentes. Revogação da Súmula 619/STF.
TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS: AS SUAS RELAÇÕES COM O DIREITO INTERNO BRASILEIRO
E A QUESTÃO DE SUA POSIÇÃO HIERÁRQUICA.
- A Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Art. 7º, n. 7). Caráter subordinante dos tratados internacionais em matéria
de direitos humanos e o sistema de proteção dos direitos básicos da pessoa humana. - Relações entre o direito interno
brasileiro e as convenções internacionais de direitos humanos (CF, art. 5º e §§ 2º e 3º). Precedentes.
- Posição hierárquica dos tratados internacionais de direitos humanos no ordenamento positivo interno do Brasil: natureza
constitucional ou caráter de supralegalidade? - Entendimento do Relator, Min. CELSO DE MELLO, que atribui hierarquia
constitucional às convenções internacionais em matéria de direitos humanos.
A INTERPRETAÇÃO JUDICIAL COMO INSTRUMENTO DE MUTAÇÃO INFORMAL DA CONSTITUIÇÃO.
- A questão dos processos informais de mutação constitucional e o papel do Poder Judiciário: a interpretação judicial como
instrumento juridicamente idôneo de mudança informal da Constituição. A legitimidade da adequação, mediante interpretação
do Poder Judiciário, da própria Constituição da República, se e quando imperioso compatibilizá-la, mediante exegese
atualizadora, com as novas exigências, necessidades e transformações resultantes dos processos sociais, econômicos e
políticos que caracterizam, em seus múltiplos e complexos aspectos, a sociedade contemporânea.
HERMENÊUTICA E DIREITOS HUMANOS: A NORMA MAIS FAVORÁVEL COMO CRITÉRIO QUE DEVE REGER A
INTERPRETAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO.
- Os magistrados e Tribunais, no exercício de sua atividade interpretativa, especialmente no âmbito dos tratados internacionais
de direitos humanos, devem observar um princípio hermenêutico básico (tal como aquele proclamado no Artigo 29 da
Convenção Americana de Direitos Humanos), consistente em atribuir primazia à norma que se revele mais favorável à pessoa
humana, em ordem a dispensar-lhe a mais ampla proteção jurídica.
- O Poder Judiciário, nesse processo hermenêutico que prestigia o critério da norma mais favorável (que tanto pode ser aquela
prevista no tratado internacional como a que se acha positivada no próprio direito interno do Estado), deverá extrair a máxima
eficácia das declarações internacionais e das proclamações constitucionais de direitos, como forma de viabilizar o acesso dos
indivíduos e dos grupos sociais, notadamente os mais vulneráveis, a sistemas institucionalizados de proteção aos direitos
fundamentais da pessoa humana, sob pena de a liberdade, a tolerância e o respeito à alteridade humana tornarem-se palavras
vãs.
- Aplicação, ao caso, do Artigo 7º, n. 7, c/c o Artigo 29, ambos da Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São
José da Costa Rica): um caso típico de primazia da regra mais favorável à proteção efetiva do ser humano.

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j) Princípio da duração razoável do processo

Constituição Federal:

Art. 5º, LXXVIII: a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que
garantam a celeridade de sua tramitação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Art. 93:
Inciso XII: a atividade jurisdicional será ininterrupta, sendo vedado férias coletivas nos juízos e tribunais de segundo grau,
funcionando, nos dias em que não houver expediente forense normal, juízes em plantão permanente; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)
Inciso XIII: o número de juízes na unidade jurisdicional será proporcional à efetiva demanda judicial e à respectiva população;
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
Inciso XIV: os servidores receberão delegação para a prática de atos de administração e atos de mero expediente sem caráter
decisório; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
Inciso XV: a distribuição de processos será imediata, em todos os graus de jurisdição. (Incluído pela Emenda Constitucional nº
45, de 2004)

III.2 – PRINCÍPIOS INFRACONSTITUCIONAIS

a) Da demanda ou da inércia jurisdicional

CPC/2015, art. 2º: O processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções
previstas em lei.

►A proibição legal de o juiz decidir ultra ou extra petita deflui do princípio da demanda. Há exceções
(a título meramente exemplificativo: CPC/2015, arts. 322, § 1º, 323, 536, caput, 537, caput e §
1º).

►O princípio da demanda não se contrapõe à regra que determina o impulso processual de ofício.

b) Da economia

CPC/2015:

Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe:
II - velar pela duração razoável do processo;

c) Da lealdade (CLT, arts. 793-A a 793-D; CPC/2015, arts. 77, 79, 80 e 81)

CLT:

Art. 793-A. Responde por perdas e danos aquele que litigar de má-fé como reclamante, reclamado ou interveniente.

Art. 793-B. Considera-se litigante de má-fé aquele que:


I - deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso;
II - alterar a verdade dos fatos;

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III - usar do processo para conseguir objetivo ilegal;
IV - opuser resistência injustificada ao andamento do processo;
V - proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo;
VI - provocar incidente manifestamente infundado;
VII - interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório.’

Art. 793-C. De ofício ou a requerimento, o juízo condenará o litigante de má-fé a pagar multa, que deverá ser superior a 1%
(um por cento) e inferior a 10% (dez por cento) do valor corrigido da causa, a indenizar a parte contrária pelos prejuízos
que esta sofreu e a arcar com os honorários advocatícios e com todas as despesas que efetuou.
§ 1º Quando forem dois ou mais os litigantes de má-fé, o juízo condenará cada um na proporção de seu respectivo interesse
na causa ou solidariamente aqueles que se coligaram para lesar a parte contrária.
§ 2º Quando o valor da causa for irrisório ou inestimável, a multa poderá ser fixada em até duas vezes o limite máximo
dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social.
§ 3º O valor da indenização será fixado pelo juízo ou, caso não seja possível mensurá-lo, liquidado por arbitramento ou pelo
procedimento comum, nos próprios autos.

Art. 793-D. Aplica-se a multa prevista no art. 793-C desta Consolidação à testemunha que intencionalmente alterar a
verdade dos fatos ou omitir fatos essenciais ao julgamento da causa.
Parágrafo único. A execução da multa prevista neste artigo dar-se-á nos mesmos autos.

CPC/2015:
Art. 77. Além de outros previstos neste Código, são deveres das partes, de seus procuradores e de todos aqueles que de
qualquer forma participem do processo:
I - expor os fatos em juízo conforme a verdade;
II - não formular pretensão ou de apresentar defesa quando cientes de que são destituídas de fundamento;
III - não produzir provas e não praticar atos inúteis ou desnecessários à declaração ou à defesa do direito;
IV - cumprir com exatidão as decisões jurisdicionais, de natureza provisória ou final, e não criar embaraços à sua efetivação;
V - declinar, no primeiro momento que lhes couber falar nos autos, o endereço residencial ou profissional onde receberão
intimações, atualizando essa informação sempre que ocorrer qualquer modificação temporária ou definitiva;
VI - não praticar inovação ilegal no estado de fato de bem ou direito litigioso.
§ 1o Nas hipóteses dos incisos IV e VI, o juiz advertirá qualquer das pessoas mencionadas no caput de que sua conduta
poderá ser punida como ato atentatório à dignidade da justiça.
§ 2o A violação ao disposto nos incisos IV e VI constitui ato atentatório à dignidade da justiça, devendo o juiz, sem prejuízo das
sanções criminais, civis e processuais cabíveis, aplicar ao responsável multa de até vinte por cento do valor da causa, de
acordo com a gravidade da conduta.
§ 3o Não sendo paga no prazo a ser fixado pelo juiz, a multa prevista no § 2o será inscrita como dívida ativa da União ou do
Estado após o trânsito em julgado da decisão que a fixou, e sua execução observará o procedimento da execução fiscal,
revertendo-se aos fundos previstos no art. 97.
§ 4o A multa estabelecida no § 2o poderá ser fixada independentemente da incidência das previstas nos arts. 523, § 1o, e 536, §
1o.
§ 5o Quando o valor da causa for irrisório ou inestimável, a multa prevista no § 2o poderá ser fixada em até 10 (dez) vezes o
valor do salário-mínimo.
§ 6o Aos advogados públicos ou privados e aos membros da Defensoria Pública e do Ministério Público não se aplica o
disposto nos §§ 2o a 5o, devendo eventual responsabilidade disciplinar ser apurada pelo respectivo órgão de classe ou
corregedoria, ao qual o juiz oficiará.
§ 7o Reconhecida violação ao disposto no inciso VI, o juiz determinará o restabelecimento do estado anterior, podendo, ainda,
proibir a parte de falar nos autos até a purgação do atentado, sem prejuízo da aplicação do § 2o.
§ 8o O representante judicial da parte não pode ser compelido a cumprir decisão em seu lugar.

Art. 78. É vedado às partes, a seus procuradores, aos juízes, aos membros do Ministério Público e da Defensoria Pública e a
qualquer pessoa que participe do processo empregar expressões ofensivas nos escritos apresentados.
§ 1o Quando expressões ou condutas ofensivas forem manifestadas oral ou presencialmente, o juiz advertirá o ofensor de que
não as deve usar ou repetir, sob pena de lhe ser cassada a palavra.
§ 2o De ofício ou a requerimento do ofendido, o juiz determinará que as expressões ofensivas sejam riscadas e, a requerimento
do ofendido, determinará a expedição de certidão com inteiro teor das expressões ofensivas e a colocará à disposição da parte
interessada.

Art. 79. Responde por perdas e danos aquele que litigar de má-fé como autor, réu ou interveniente.

Art. 80. Considera-se litigante de má-fé aquele que:


I - deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso;
II - alterar a verdade dos fatos;
III - usar do processo para conseguir objetivo ilegal;
IV - opuser resistência injustificada ao andamento do processo;
V - proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo;
VI - provocar incidente manifestamente infundado;
VII - interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório.

Art. 81. De ofício ou a requerimento, o juiz condenará o litigante de má-fé a pagar multa, que deverá ser superior a um por
cento e inferior a dez por cento do valor corrigido da causa, a indenizar a parte contrária pelos prejuízos que esta sofreu e a
arcar com os honorários advocatícios e com todas as despesas que efetuou.
§ 1o Quando forem 2 (dois) ou mais os litigantes de má-fé, o juiz condenará cada um na proporção de seu respectivo interesse
na causa ou solidariamente aqueles que se coligaram para lesar a parte contrária.

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§ 2o Quando o valor da causa for irrisório ou inestimável, a multa poderá ser fixada em até 10 (dez) vezes o valor do salário-
mínimo.
§ 3o O valor da indenização será fixado pelo juiz ou, caso não seja possível mensurá-lo, liquidado por arbitramento ou pelo
procedimento comum, nos próprios autos.

d) Da livre investigação das provas

CLT:

Art. 765. Os Juízos e Tribunais do Trabalho terão ampla liberdade na direção do processo e velarão pelo andamento rápido
das causas, podendo determinar qualquer diligência necessária ao esclarecimento delas.

CPC/2015:

Art. 370. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas necessárias ao julgamento do mérito.
Parágrafo único. O juiz indeferirá, em decisão fundamentada, as diligências inúteis ou meramente protelatórias.

e) Dispositivo

►Não se confunde com o princípio da demanda.

►Expressa a idéia de que as partes podem extinguir o processo mediante atos bilaterais (transação)
ou unilaterais (desistência da ação, renúncia ao direito em que se funda a ação) bem como a de que
o juiz, na instrução da causa, está, em regra, subordinado à iniciativa dos litigantes (com os
temperamentos dos arts. 765 da CLT e 370 do CPC/2015).

f) Da eventualidade

CPC/2015:

Art. 336. Incumbe ao réu alegar, na contestação, toda a matéria de defesa, expondo as razões de fato e de direito com que
impugna o pedido do autor e especificando as provas que pretende produzir.

IV) PRINCÍPIO CARACTERÍSTICO DO PROCESSO DO TRABALHO –


PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO

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V) AUTONOMIA DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO (sob os
prismas científico, doutrinário, legislativo e didático)

Observação: O direito como sistema. Fixação da autonomia apenas para efeitos


didáticos.

BIBLIOGRAFIA:

1. NERY JUNIOR, Nelson. Princípios do Processo Civil na Constituição Federal. Editora Revista dos
Tribunais.

2. TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Curso de Direito Processual do Trabalho. São Paulo: LTr, vol. I.

3. RODRIGUES PINTO, José Augusto. Processo Trabalhista de Conhecimento. Editora LTr.

4. BARBOSA GARCIA, Gustavo Filipe. Curso de Direito Processual do Trabalho. Rio de Janeiro:
Forense.

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