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Fala

Boa tarde! O meu trabalho apresenta um relato da utilização da


literatura marginal na formação do profissional de Letras. Esse
trabalho surgiu a partir das experiências de docência desenvolvidas
na monitoria de teoria da literatura e do grupo de extensão Gelit
(grupo de estudo de literatura e teoria). Mas por que a literatura
marginal¿ Bom, o primeiro motivo é que se percebeu que devido à
ênfase dada à história da literatura, no Ensino Médio, muitos
estudantes que ingressam no curso de Letras possuem pouco ou
nenhum conhecimento da literatura contemporânea brasileira,
incluindo a marginal. Primeiro cabe explicar o que seria essa história
da literatura: basicamente é a apresentação de características de
períodos e a enumeração de autores e obras clássicas em ordem
cronológica. Assim temos uma aula que segue mais ou menos um
molde: por exemplo, é apresentado o romantismo, com sua data de
início, a publicação de "Suspiros poéticos e saudades" de Gonçalves de
Magalhães em 1836 e de término, a publicação de Memórias póstumas
de Brás Cubas de Machado de Assis em 1881. Daí o professor escreve
na lousa as principais características: subjetivismo, nacionalismo,
pessimismo, escapismo, etc. Em seguida apresentam uma pequena
biografia de autores desse período como José de Alencar citando suas
principais obras: Iracema, o guarani, Senhora e por fim, há um
resumo dessas obras. Depois se inicia o período seguinte, que nesse
caso seria o realismo. Deu pra perceber que é algo bem chato, né¿
Além disso, com esse tipo de ensino, se deixa de lado algo muito
importante: a obra literária. Os alunos não leem mais os romances,
poemas etc, assim como conheceriam a literatura contemporânea
propriamente¿ E como priorizam essa “história”, o presente, o atual é
deixado de lado. Mas não são apenas os que acabam de ingressar no
curso que possuem lacunas relativas ao estudo dessa literatura, os
veteranos também. O curso de Letras possuí uma grade extensa,
para se ter um pouco dessa noção basta lembrar que é o professor
que apresenta todos aqueles períodos e autores, e à exiguidade de
tempo. Dessa forma, muitas vezes se prioriza os estudos dos autores
clássicos: o próprio José de Alencar, Machado de Assis, Raquel de
Queirós, Clarice Lispector etc. Por esses motivos, se pensou na
apresentação de um tipo específico da literatura contemporânea
brasileira aos alunos: a marginal. Porém, o que é essa literatura
marginal¿ Não é um conceito fixo e não há um grande consenso pelo
uso do termo. É aqui que entra a teoria da literatura. Literatura
marginal seria aquela que fala das pessoas marginalizadas, por
exemplo: o cortiço ou vidas secas seriam obras marginais¿ Ou seria
aquela feita pelas pessoas marginalizadas, mas quem seriam eles,
afinal o leque é muito amplo, poderiam ser as mulheres, os gays, os
negros, os deficientes e por aí vai¿ E se for feita por uma pessoa que
está à margem, mas o assunto é sobre fantasia, parecido com um
Harry Potter, ainda seria literatura marginal¿ A teoria da literatura
buscaria o porquê dessas perguntas e auxiliaria nas respostas. Porém
também se notou que algo tão importante como a teoria sofre uma
diminuição pelas cadeiras serem ministradas no semestre iniciais,
seria uma espécie de “introdução à literatura ou aos estudos
literários”. Diante disso, se pensou em apresentar textos de literatura
marginal para os graduandos de Letras, tentar demonstrar a
pertinência da teoria da literatura no curso e fora deste, além de
procurar construir com os colegas de curso uma análise do termo
marginal e contribuir para uma diversificação na formação e atuação
do profissional de letras. Para isso, houve a disponibilização de textos
de literatura marginal em suas diversas concepções, “hippie”,
“periférica” e textos teóricos aos e-mails dos alunos. Ocorreu a
divisão dos textos literários em dois grupos para os alunos
acompanharem o processo de modificação do termo com tempo:
anos 70, com textos de Ana Cristina César, Leminski etc. E dos anos
90 até hoje, com textos da Conceição Evaristo, tá aqui uma foto dela,
Ferréz e Sérgio Váz. Aconteceram reuniões semanais por meio do
GELIT para exposição de comentários e a realização de debates. Além
disso, professores do Departamento de Literatura da UFC foram
convidados e participaram de alguns encontros para aprofundar as
discussões. Os resultados foram bastante positivos, se notou que os
alunos passaram a ler mais da literatura marginal, assim como da
literatura brasileira como um todo, se percebeu que os estudantes
passaram a valorizar mais a teoria da literatura como um
conhecimento crítico, se observou que os alunos foram aperfeiçoando
suas análises e comentários e, por fim, fizeram uma avaliação do
termo marginal com conhecimentos da teoria e de outras áreas:
linguística, sociologia, antropologia. Para terminar a apresentação,
cabe ressaltar que esse foi apenas um exemplo de como a literatura
marginal e a teoria da literatura podem ser proveitosas na formação
do profissional de Letras e que, se poderia fazer um projeto
semelhante na sala de aula das escolas e universidades, já que o
resultado fora dela foi positivo. Futuramente se espera que essa
atividade possa contribuir para a diversificação da pesquisa
acadêmica e do ensino literário.

Obrigado! Boa tarde!

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