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SAÚDE COLETIVA Em lugar de considerar saúde e doença como componentes

de um sistema binário, do tipo presença/ausência,


1. CONCEITUAR SAÚDE. podemos, de forma mais adequada, concebê-las como um
Etimologicamente, saúde procede do latim sanitas, processo no qual o ser humano passa por múltiplas
referindo-se à integridade anátomo-funcional dos situações, que exigem de seu meio interno um trabalho de
organismos vivos (sanidade). Não se trata de conceito compensações e adaptações sucessivas.
unívoco, contém mais de uma significação, que podem ser O primeiro significado de bem-estar pode ser a noção
confundidas. subjetiva de sentir-se bem, não ter queixas, não apresentar
Da Antiguidade ao século XXI, superada a concepção sofrimento somático ou psíquico, nem ter consciência de
sobrenatural de saúde e enfermidade, concebia-se saúde qualquer lesão estrutural ou de prejuízo do desempenho
como a ausência de enfermidade (doença, deficiência, pessoal ou social (inclusive familiar e laboral). Aí, bem-estar
invalidez). Estado que se revelava equilíbrio do organismo, significa sentir-se bem e não apenas não se sentir mal.
com referência aos seus meios interno e externo. Gozar Mas bem-estar também significa condição de satisfação das
saúde significava não padecer enfermidade, estar em necessidades (conscientes ou inconscientes, naturais ou
harmonia consigo mesmo e com o meio. psicossociais). Nos seres humanos, implica na satisfação
Já ia avançado o século XX quando a concepção de saúde das necessidades biológicas, o bem-estar físico; das
foi mudada. A Organização Mundial da Saúde (OMS) a necessidades psicológicas, o bem-estar mental; e das
definiu não apenas como a ausência de doença, mas como necessidades sociais, o bem-estar social. E não apenas
a situação de pleno bem-estar físico, mental e social. satisfeitas todas essas necessidades, mas perfeitamente
Concomitantemente, doença foi conceituada como “falta ou (ou completamente) atendidas, como explicita a OMS. A
perturbação da saúde”. A definição consta no preâmbulo da identificação da saúde com bem-estar pode ter tido a
Constituição da Assembleia Mundial da Saúde, adotada finalidade de superar as dificuldades metafísicas da
pela Conferência Sanitária Internacional realizada em Nova definição negativa ou o propósito estratégico de dissociá-la
York (19/22 de junho de 1946) e assinada em 22 de julho de dos conceitos de enfermidade e invalidez. E estes dois
1946 pelos representantes de 61 Estados, com vigor a partir propósitos foram obtidos. Tem o mérito de incluir as
de abril de 1948, não emendada desde então. condições psicossociais como de saúde, mas, na prática,
revelou seu caráter utópico e sua inoperacionalidade.
É inegável que tal mudança constituiu um avanço. No plano
formal, porque é uma proposição positiva; no plano xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
essencial, porque superou as dicotomias entre corpo e A Constituição brasileira declara a saúde como direito social
mente, natural e social, saúde e enfermidade, promoção e (art. 6º) de todo cidadão e, consequentemente, dever do
profilaxia, profilaxia e terapêutica, terapêutica e reabilitação; Estado (art. 196). Na Constituição do Brasil, saúde significa
mas também porque possibilitou a emergência de políticas “políticas sociais e econômicas que visem à redução do
sanitárias mais úteis e eficazes. Além de situar a saúde risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal
como um estado positivo que podia ser promovido, e igualitário às ações e serviços para sua promoção,
buscado, cultivado e aperfeiçoado. proteção e recuperação” (art.196).
Se por um lado tal definição está mais próxima da realidade, E mais, saúde quer dizer assistência à saúde ou
por outro trouxe dificuldades à mensuração dos fenômenos “atendimento integral, com prioridade para as atividades
à que se refere, em face da necessidade de definir: o que preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais”, “com
se entende por “bem-estar”? Tais conceitos não apresentam participação da comunidade” (art.198, incisos II e III). Donde
unanimidade de opiniões e a quantificação é problemática. se depreende que a legislação brasileira chama de saúde
A definição da OMS é empregada como figura de retórica ao sistema social de atendimento à saúde das pessoas e
ou um ideal a se ter em perspectiva, enquanto, na prática, a das comunidades.
saúde é quase sempre quantificada em termos de presença
ou ausência de algum sinal, sintoma ou diagnóstico de 2. DIFERENCIAR CUIDADO INDIVIDUAL E
doença. Isto significa que a informação sobre falta de saúde CUIDADO COLETIVO.
é a mais utilizada, haja vista que é muito mais frequente
encontrar referências a coeficientes de mortalidade e No âmbito individual, o cuidado requer a identificação das
morbidade, e raramente a coeficientes de bem-estar físico, necessidades de saúde por meio da história e exame
mental e social. clínico, formulação do problema, elaboração, execução e
avaliação de um plano de cuidado. No que se refere ao
Mesmo que objetivamente, se avaliarmos o grau de bem- cuidado coletivo e gestão dos serviços de saúde, utilizam-
estar, felicidade e perfeição que um sujeito exterioriza a ele se os princípios da epidemiologia e do planejamento em
próprio, não conseguiríamos categorizar tais termos dentro saúde.
de um contexto que lhes empreste sentido, pois haveria
necessidade da linguagem e experiência íntima do sujeito. Na história da saúde, as ações individuais se constituíram
Dessa forma, só poderíamos falar em bem-estar, felicidade como opostas àquelas de cuidado coletivo, sendo que a
ou perfeição para um indivíduo que, dentro de suas crenças clínica se pautou tradicionalmente por saberes apriorísticos
e valores, desse sentido de tal uso semântico e, portanto, o que classificam, diagnosticam e tratam a partir da lógica da
legitimasse. disfunção. Já as ações de cuidados coletivos estiveram
guiadas por um olhar que esquadrinha os espaços sociais e
os comportamentos de risco, classifica os agravos comuns,
estratifica populações e propõe medidas que supostamente Os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), fixados na
trarão impactos nos indicadores de saúde e consequente Constituição Federal (CF) de 1988 e detalhados na Lei
mudança das condições de vida. As ações de cuidados Orgânica da Saúde (Lei nº 8.080/90) e na Lei nº 8.142/90,
coletivos, no entanto, não podem ser consideradas como foram o resultado de um longo processo histórico-social que
apartadas do atendimento clínico. buscava interferir nas condições de saúde e na assistência
prestada à população brasileira.
O coletivo não é a somatória de indivíduos com alguma
coisa em comum. Ele não está fora nem dentro da unidade Suas principais diretrizes, discutidas e desenvolvidas no
de saúde e das interpretações dos trabalhadores e usuários movimento de reforma sanitária, foram consagradas pela 8ª
do Sistema: o coletivo está “entre”, entre os trabalhadores, Conferência Nacional de Saúde de 1986, sendo hoje
entre o trabalho, entre os usuários e seus modos de andar consideradas conquistas sociais definitivas.
a vida. Atravessa e transversaliza as práticas chamadas
clínicas e as práticas ditas coletivas. Diversos autores propõem a divisão dos princípios
fundamentais do SUS em dois grandes grupos.
O cuidado coletivo é aquele que contribui para a qualidade
de vida, tomando a vida não como adequação a padrões de 3.1. DOUTRINÁRIOS (OU ÉTICOS)
bem viver com modos em série de comer, vestir, amar, Referem-se aos objetivos finalísticos do sistema, ou seja,
exercitar, mas como invenção permanente de si e dos são os ideais a serem alcançados indicando, portanto, uma
outros. Alguns exemplos do que se considera ações das características do sistema que se pretende construir e
coletivas de cuidado em saúde são a construção conjunta um caminho para sua construção. Estes incluem:
do diagnóstico da área (processo de territorialização),
atividades de promoção da saúde, de participação e 3.1.1. O direito universal à saúde
controle social, de educação em saúde e ações
intersetoriais. Entendido não só como a oferta de serviços e ações de
saúde, mas abrangendo também "políticas sociais e
Na perspectiva de se construir mudanças nas práticas de econômicas que visem à redução do risco de doença e de
saúde, o Ministério da Saúde, entre outras iniciativas, outros agravos" (CF), incluindo como "fatores determinantes
lançou a Portaria Nacional de Atenção Básica, apontando a e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o
Estratégia Saúde da Família como um caminho, cuja a saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda,
equipe que a compõe tem o desafio de desenvolver ações a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e
coletivas e individuais. No que se refere ao cuidado coletivo, serviços essenciais; os níveis de saúde da população
as atividades desenvolvidas pela ESF podem ser expressam a organização social e econômica do País" (Lei
classificadas da seguinte forma: no 8.080/90);

 Cuidados coletivos como práticas realizadas fora Para que o SUS venha a ser universal é preciso se
da unidade (extramuros): abarcam práticas realizadas desencadear um processo de universalização, isto é, um
extramuros à unidade de saúde, tais como visita domiciliar, processo de extensão de cobertura dos serviços, de modo
atividades junto às escolas da área de abrangência, e que venham, paulatinamente, a se tornar acessíveis a toda
encaminhamento do usuário na rede de atenção. a população.
 Ações de cuidado coletivo como realização de
grupos: nestes, as pessoas irão frequentar reuniões para Para isso, é preciso eliminar barreiras jurídicas,
adquirir conhecimentos e modificar seu modo de viver econômicas, culturais e sociais que se interpõem entre a
naquilo que, para equipe, não é saudável ou que pode população e os serviços. A primeira delas, a barreira
causar dano. jurídica, foi eliminada com a Constituição Federal de 88, na
 Cuidado coletivo como atendimentos individuais medida em que universalizou o direito à saúde, e com isso,
capazes de atingir várias pessoas: este é resultante das eliminou a necessidade do usuário do sistema público
ações individuais que são passadas para outras pessoas, colocar-se como trabalhador ou como “indigente”, situações
ou de cuidados prestados que interferem na família – como que condicionavam o acesso aos serviços públicos antes do
a assistência a crianças e idosos que estão sob os cuidados SUS.
de uma família, modificando, assim, o ambiente em que 3.1.2. A equidade
todos os familiares estão inseridos.
 Ações de cuidado coletivo a partir de mudanças na Compreendida como o reconhecimento das diferenças
história e na vida e a produção da autonomia: é a construção existentes nas necessidades de saúde, quer regionais ou
da ação de cuidado coletivo que se dá entre trabalhadores individuais, com o desenvolvimento de ações objetivando a
da equipe, setores sociais e famílias. justiça social, isto é, que reduzam a exclusão e beneficiem,
prioritariamente, aqueles que possuem piores condições de
saúde.
3. DESCREVER OS PRINCÍPIOS E DIRETRIZES
DO SUS E SUA APLICABILIDADE NA GESTÃO. A noção de equidade diz respeito à necessidade de se
“tratar desigualmente os desiguais” de modo a se alcançar
A valorização do direito à saúde se deu de forma ampla
a igualdade de oportunidades de sobrevivência, de
apenas na Constituição Federal de 1988, que conferiu o
desenvolvimento pessoal e social entre os membros de uma
merecido destaque aos direitos sociais, entre eles, o da
dada sociedade. O ponto de partida é o reconhecimento da
saúde e criou o Sistema Único de Saúde (SUS),
desigualdade entre as pessoas e os grupos sociais e o
regulamentado pelas Leis ns. 8.080/1990, 8.142/1990 e
reconhecimento de que muitas dessas desigualdades são
12.401/2011. Deste modo, a saúde é para a Constituição
injustas e devem ser superadas. Em saúde,
Federal de 1988 um bem fundamental e um direito de todos.
especificamente, elas se apresentam como desigualdades complexidade tecnológica dos serviços, isto é, o
diante do adoecer e do morrer, reconhecendo-se a estabelecimento de uma rede que articula as unidades mais
possibilidade de redução dessas desigualdades, de modo a simples às unidades mais complexas, através de um
garantir condições de vida e saúde mais iguais para todos. sistema de referência (SR) e contra-referência(CR) de
usuários e de informações. O processo de estabelecimento
3.1.3. O atendimento integral à saúde de redes hierarquizadas pode também implicar o
Mediante a articulação de ações e serviços preventivos e estabelecimento de vínculos específicos entre unidades (de
curativos, individuais e coletivos, necessários à efetiva distintos graus de complexidade tecnológica) que prestam
melhoria dos níveis de saúde da população. serviços de determinada natureza, como por exemplo, a
rede de atendimento a urgências/emergências, ou a rede de
Diz respeito ao leque de ações possíveis para a promoção atenção à saúde mental.
da saúde, prevenção de riscos e agravos e assistência a
doentes, implicando a sistematização do conjunto de 3.2.3. Integração
práticas que vem sendo desenvolvidas para o A integração entre as ações promocionais, preventivas e
enfrentamento dos problemas e o atendimento das curativas diz respeito à possibilidade de se estabelecer um
necessidades de saúde. A integralidade é (ou não), um perfil de oferta de ações e serviços do sistema que
atributo do modelo de atenção, entendendo-se que um contemple as várias alternativas de intervenção sobre os
“modelo de atenção integral à saúde” contempla o conjunto problemas de saúde em vários planos de sua “história
de ações de promoção da saúde, prevenção de riscos e (natural) social”, abarcando intervenções sobre condições
agravos, assistência e recuperação. de vida, riscos e danos à saúde.
Um modelo “integral”, portanto, é aquele que dispõe de Cabe registrar a distinção entre “integralidade” e
estabelecimentos, unidades de prestação de serviços, “integração”, termos que por vezes se confundem no debate
pessoal capacitado e recursos necessários, à produção de acerca da organização dos serviços de saúde. Se a
ações de saúde que vão desde as ações inespecíficas de integralidade é um atributo do modelo (algo que o modelo
promoção da saúde em grupos populacionais definidos, às de atenção à saúde “deve ser”), a integração é um processo,
ações específicas de vigilância ambiental, sanitária e algo “a fazer” para que o modelo de atenção seja integral.
epidemiológica dirigidas ao controle de riscos e danos, até Nesse sentido, a integração envolve duas dimensões: uma
ações de assistência e recuperação de indivíduos enfermos, dimensão vertical – proporcionada pelo estabelecimento da
sejam ações para a detecção precoce de doenças, sejam hierarquização dos serviços (SR e CR) – que permite a
ações de diagnóstico, tratamento e reabilitação. produção de ações de distintas complexidades (primária,
3.2. ORGANIZACIONAIS (OU OPERATIVOS) secundária, terciária) em função da natureza do problema
que se esteja enfrentando; e uma integração horizontal, que
Referentes aos processos que permitirão o cumprimento permite a articulação, no enfrentamento do problema, de
das principais diretrizes do SUS. Dentre eles, destacam-se: ações de distinta natureza (promoção, prevenção,
recuperação).
3.2.1. Descentralização
3.3. APLICABILIDADE NA GESTÃO
A descentralização de ações e serviços de saúde, com
direção única em cada esfera de governo e ênfase na Embora o SUS tenha sido institucionalizado a partir de um
municipalização. conceito amplo de saúde, opera ainda com o conceito de
saúde como ausência de doença, não desenvolvendo ações
Implica na transferência de poder de decisão sobre a que levem em conta fatores sociais, econômicos e
política de saúde do nível federal (MS) para os estados ambientais que afetam os determinantes sociais,
(SES) e municípios (SMS). Esta ocorre a partir da econômicos, culturais e políticos que interferem nas
redefinição das funções e responsabilidades de cada nível condições de vida e saúde da população.
de governo com relação à condução político administrativa
do sistema de saúde em seu respectivo território (nacional, Percebe-se nos dias atuais que os princípios do SUS muitas
estadual, municipal), com a transferência, concomitante, de vezes se restringem ao papel e que a efetivação dos
recursos financeiros, humanos e materiais para o controle mesmos não acontece. Quando os usuários buscam
das instâncias governamentais correspondentes. atendimento, muitas vezes deparam-se com as portas
fechadas, a precariedade, ou até mesmo a falta de
3.2.2. Regionalização e hierarquização materiais, e profissionais que foram acometidos pela
Dizem respeito à forma de organização dos comodidade, ou falta de comprometimento com seu fazer
estabelecimentos (unidades de unidades) entre si e com a profissional, ou mesmo por muito deles terem a formação
população usuárias. com visão hospitalocêntrica. Todos esses fatores
contribuem para que os princípios do SUS não sejam
A regionalização implica a delimitação de uma base cumpridos. Desta forma, acredita-se que se as
territorial para o sistema de saúde, que leva em conta a desigualdades sociais em saúde fossem reduzidas, os
divisão político-administrativa do país, mas também usuários do sistema seriam amplamente amparados através
contempla a delimitação de espaços territoriais específicos da proteção e promoção da saúde.
para a organização das ações de saúde, subdivisões ou
agregações do espaço político-administrativo. 4. DESCREVER O PROCESSO DE PLANEJAMENTO EM
SAÚDE (LEVANTAMENTO DE DADOS, ANÁLISE,
A hierarquização, por sua vez, diz respeito à possibilidade
DIAGNÓSTICO, PLANO DE INTERVENÇÃO, AVALIAÇÃO).
de organização das unidades segundo grau de
5. CONCEITUAR OS INDICADORES DE SAÚDE E Eles também devem evidenciar padrões relacionados à
EPIDEMIOLÓGICOS. estrutura, processo e resultado desejáveis de um sistema.
Fornecem uma base quantitativa para médicos, instituições
Indicadores de saúde são parâmetros utilizados prestadoras de serviços, fontes pagadoras e planejadores,
internacionalmente com o objetivo de avaliar, sob o ponto como o objetivo de atingir melhoria da assistência e dos
de vista sanitário, a higidez de agregados humanos, bem processos relacionados à assistência.
como fornecer subsídios aos planejamentos de saúde,
permitindo o acompanhamento das flutuações e tendências Os indicadores podem ser usados para:
históricas do padrão sanitário de diferentes coletividades
consideradas à mesma época ou da mesma coletividade em  Documentação da qualidade da assistência;
diversos períodos de tempo.  Comparação entre instituições e dentro de uma
mesma ao longo do tempo;
Em 1952, a Organização das Nações Unidas (ONU)  Avaliação;
convocou um grupo de trabalho com a finalidade de estudar  Estabelecimento de prioridades;
métodos satisfatórios para definir e avaliar o nível de vida  Demonstração da confiabilidade e transparência
de uma população. Esse grupo concluiu não ser possível dos serviços prestados frente à sociedade;
utilizar um único índice que traduza o nível de vida de uma  Melhoria contínua da qualidade.
população; é preciso empregar abordagem pluralista,
considerando-se, para tanto, vários componentes passíveis
6. DEMONSTRAR COMO É FEITO O CÁLCULO
de quantificação. Doze foram os componentes sugeridos:
DOS INDICADORES DE SAÚDE E EPIDEMIOLÓGICOS
saúde, incluindo condições demográficas; alimentos e
(INCIDÊNCIA E PREVALÊNCIA, COEFICIENTE DE
nutrição; educação, incluindo alfabetização e ensino
MORTALIDADE GERAL E PROPORCIONAL – SEXO,
técnico; condições de trabalho; situação em matéria de
IDADE E PATOLOGIA –, MORBIDADE, MORTALIDADE
emprego; consumo e economia gerais; transporte; moradia,
INFANTIL) E SUA APLICABILIDADE.
com inclusão de saneamento e instalações domésticas;
vestuário; recreação; segurança social e liberdade humana. A construção de um indicador é um processo cuja
complexidade pode variar desde a simples contagem direta
A utilização de indicadores de saúde permite o
de casos de determinada doença, até o cálculo de
estabelecimento de padrões, bem como o
proporções, razões, taxas ou índices mais sofisticados,
acompanhamento de sua evolução ao longo dos anos.
como a esperança de vida ao nascer.
Embora o uso de um único indicador isoladamente não
possibilite o conhecimento da complexidade da realidade 6.1. COEFICIENTE DE INCIDÊNCIA DA DOENÇA
social, a associação de vários deles e, ainda, a comparação
entre diferentes indicadores de distintas localidades facilita Representa o risco de ocorrência (casos novos) de uma
sua compreensão. doença na população. Pode ser calculado por regra de três
ou através da seguinte fórmula:
Para a Organização Mundial da Saúde, esses indicadores
gerais podem subdividir-se em três grupos:

 Aqueles que tentam traduzir a saúde ou sua falta


em um grupo populacional. Exemplos: razão de mortalidade Para compararmos o risco de ocorrência de doenças entre
proporcional, coeficiente geral de mortalidade, esperança populações usamos, dessa forma, o coeficiente de
de vida ao nascer, coeficiente de mortalidade infantil, incidência, pois este estima o risco de novos casos da
coeficiente de mortalidade por doenças transmissíveis; doença em uma população.
 Aqueles que se referem às condições do meio e
que têm influência sobre a saúde. Exemplo: saneamento 6.2. COEF. DE PREVALÊNCIA DA DOENÇA
básico;
Representa o número de casos presentes (novos + antigos)
 Aqueles que procuram medir os recursos materiais
em uma determinada comunidade num período de tempo
e humanos relacionados às atividades de saúde. Exemplos:
especificado. É representado por:
número de unidades básicas de saúde, número de
profissionais de saúde, número de leitos hospitalares e
número de consultas em relação a determinada população.

Dadas as inúmeras definições de saúde, a imprecisão delas O coeficiente de prevalência também é igual ao resultado
e a dificuldade de mensurá-la, os indicadores mais do coeficiente de incidência multiplicado pela duração
empregados têm sido aqueles referentes à ausência de média da doença. Dessa fórmula fica evidente que a
saúde. Esses indicadores são bastante abrangentes, prevalência, além dos casos novos que acontecem
embora tenham sido utilizados para comparar países em (incidência), é afetada também pela duração da doença, a
diferentes estágios de desenvolvimento econômico e social. qual pode diferir entre comunidades, devido a causas
Os indicadores de saúde podem e devem ser utilizados ligadas à qualidade da assistência à saúde, acesso aos
como ferramentas para auxiliar o gerenciamento da serviços de saúde, condições nutricionais da população,
qualidade. Indicadores de saúde da população associados etc. Assim, quanto maior a duração média da doença, maior
a indicadores econômicos, financeiros, de produção, de será a diferença entre a prevalência e a incidência.
recursos humanos, de qualidade da assistência A prevalência é ainda afetada por casos que imigram
propriamente dita, isto é, relacionados a determinadas (entram) na comunidade e por casos que saem (emigram),
doenças, auxiliam na avaliação de programas e de serviços.
por curas e por óbitos. Dessa maneira, temos como ♦ Mortalidade por causas: as estatísticas de mortalidade
“entrada” na prevalência os casos novos (incidentes) e os as vezes podem substituir as de morbidade quando estes
imigrados e como “saída” os casos que curam, que morrem não estão disponíveis. Porém não abrangem todo o
e os que emigram. espectro de doenças que acometem a população. Algumas
de alta incidência mas com baixa letalidade não aparecem,
Assim, a prevalência não é uma medida de risco de mas para as mais graves, com altas taxas de letalidade,
ocorrência da doença na população, mas pode ser útil para estas estatísticas podem constituir um retrato aproximado
os administradores da área de saúde para o planejamento da morbidade da população.
de recursos necessários (leitos hospitalares,
medicamentos, etc.) para o adequado tratamento da 6.5. COEF. DE MORBIDADE
doença.
A morbidade refere-se ao conjunto dos indivíduos que
Dois tipos de coeficientes de prevalência podem ser adquiriram doenças num dado intervalo de tempo. Denota-
utilizados: o coeficiente de prevalência instantânea ou se morbidade ao comportamento das doenças e dos
pontual ou momentânea (em um tempo especificado) e o agravos à saúde em uma população exposta.
coeficiente de prevalência por período ou lápsica (abrange
um período maior de tempo, por exemplo um ano). Seu coeficiente é dado pela relação entre o número de
casos de uma doença e a população exposta a adoecer. É
6.3. COEF. GERAL DE MORTALIDADE (CGM) discriminado em coeficiente de incidência e coeficiente de
prevalência. Muito útil para o objetivo de controle de
Representa o risco de óbito na comunidade. É expresso por doenças ou de agravos, bem como para estudos de análise
uma razão, e pode ser calculado, como todos os demais do tipo causa/efeito.
coeficientes, também através de regra de três simples (se
numa população de 70.000 habitantes tenho 420 óbitos, em
1000 habitantes terei “x”, sendo 1000 o parâmetro que
permitirá comparar com outros locais ou outros tempos):
A quantidade de casos de uma doença também permite
estimar sua importância para aquela população. Estão
relacionados à morbidade os termos:

 Surto: aumento repentino do número de casos,


Este coeficiente, no entanto, não é muito utilizado para
dentro de limites muito restritos, como uma série de casos
comparar o nível de saúde de diferentes populações, pois
de rubéola em uma creche ou vários bebês com infecção
não leva em consideração a estrutura etária dessas
respiratória em um berçário de hospital. Também pode ser
populações (se é predominantemente jovem ou idosa). Um
assim considerado o aumento do número de casos de uma
coeficiente geral de mortalidade alto para uma população
doença em uma área específica, considerada livre da
mais idosa significa apenas que as pessoas já viveram o
mesma. Por exemplo, um único caso de poliomielite no
que tinham para viver e, por isso, estão morrendo. Já para
Brasil seria suficiente para configurar um surto;
uma população mais jovem estaria significando mortalidade
 Endemia: ocorrência de certo número de casos
prematura.
controlados em determinada região;
Para comparação de duas ou mais populações com  Epidemia: aumento do número de casos de
diferentes estruturas etárias, ou de sexo, há necessidade de determinada doença, muito acima do esperado e não
padronizar os coeficientes, tendo como referência uma delimitado a uma região;
população padrão (geralmente a mundial, quando se  Pandemia: compreende um número de casos de
comparam diferentes países, ou nacional, quando se doença acima do esperado, sem respeitar limites entre
comparam diferentes locais do mesmo país). países ou continentes. Os exemplos mais atuais são a Aids
e a tuberculose.
6.4. COEF. DE MORTALIDADE PROPORCIONAL
6.6. COEF. DE MORTALIDADE INFANTIL (CMI)
É a distribuição proporcional dos óbitos em relação a
algumas variáveis de interesse. Por se tratarem de É uma estimativa do risco que as crianças nascidas vivas
proporções, multiplica-se por 100, e não por 1000. têm de morrer antes de completar um ano de idade. É
considerado um indicador sensível das condições de vida e
saúde de uma comunidade. Pode ser calculado por regra de
três ou através da seguinte razão:

♦ Mortalidade por sexo: padrão de mortalidade masculina


e feminina em um determinado lugar e tempo.
Pode ainda ser dividido em:
♦ Mortalidade por idade: mais utilizada de estatística de
 Coeficiente de mortalidade neonatal (óbitos de 0
mortalidade, principalmente por duas razões: a
a 27 dias inclusive) em relação ao total de nascidos vivos
probabilidade de morrer está relacionada a idade,
(por 1000). Este pode ainda ser subdividido em coeficiente
independente do sexo; e estas informações estão
de mortalidade neonatal precoce (0 a 6 dias inclusive) e
habitualmente disponíveis para a análise, pois são
coeficiente de mortalidade neonatal tardia (7 a 27 dias).
facilmente coletadas, com alto grau de precisão.
 Coeficiente de mortalidade pós-neonatal ou O primeiro diferencial, em relação à transição demográfica
infantil tardia (óbitos de 28 dias a 364 dias inclusive) em europeia e a latino-americana, é o momento histórico no
relação ao total de nascidos vivos (por 1000). qual ambas ocorreram. No modelo Europeu, aconteceram
significativos desenvolvimento social e aumento de renda.
Essa divisão deve-se à observação de que no período Na América Latina, em especial no Brasil, ocorreu um
neonatal predominam as causas ligadas a problemas da processo de urbanização sem alteração da distribuição de
gestação e do parto (causas perinatais e anomalias renda.
congênitas), e de que, no período pós-neonatal, prevalecem
as causas de morte relacionadas ao meio ambiente e às Entre os anos 1940 e 1960, o Brasil experimentou um
condições de vida e de acesso aos serviços de saúde declínio significativo da mortalidade, mantendo a
(doenças infecciosas, pneumonias, diarréia, por exemplo). fecundidade em níveis bastante altos, o que gerou uma
Dessa forma, nos países desenvolvidos, onde a mortalidade população jovem quase estável e com rápido crescimento.
infantil é baixa e problemas relacionados ao meio ambiente
já se encontram quase totalmente resolvidos, o componente A partir dos anos 1960, a redução da fecundidade, que se
neonatal predomina, enquanto em muitos países pobres iniciou nos grupos populacionais mais privilegiados e nas
ainda prevalece o componente pós-neonatal. regiões mais desenvolvidas, generalizou-se rapidamente e
desencadeou o processo de transição da estrutura etária.
No futuro, teremos uma população quase estável, porém
7. DESCREVER TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA NO mais idosa e com uma taxa de crescimento baixíssima ou
BRASIL. talvez até negativa.
Proposta nas primeiras décadas do século XX, a teoria da Ao observamos o que ocorre hoje com a população do
transição demográfica foi formulada à luz da relação entre o grupo etário de cinco a nove anos, poderemos ter uma ideia
crescimento populacional e o desenvolvimento melhor do futuro. Esse grupo declinou de 14 para 12% entre
socioeconômico. Segundo essa teoria, o desenvolvimento 1970 e 1990. Nesse período, a presença de crianças com
econômico e o processo de modernização das sociedades menos de cinco anos reduziu-se de 15 para 11%. No ano
estariam na origem das mudanças nas taxas de natalidade 2000, cada um desses grupos continuou a declinar e, hoje,
e de mortalidade verificadas em países europeus, com representam, cada um, 9% da população total.
consequentes mudanças nos ritmos de crescimento
populacional. Por outro lado, o grupo etário composto por pessoas acima
de 65 anos cresceu de 3,5, em 1970, para 5,5% em 2000.
A passagem de uma sociedade rural e tradicional com altas Em 2050, este grupo etário deverá responder por cerca de
taxas de natalidade e mortalidade para uma sociedade 19% da população brasileira. Estes fatos levarão a uma
urbana e moderna com baixas taxas de natalidade e drástica mudança de padrão na pirâmide populacional
mortalidade constituiria o esquema da transição. Durante brasileira.
essa passagem, as sociedades vivenciariam fases de
desequilíbrio demográfico, com um descompasso entre as Entretanto, é interessante observar o envelhecimento
taxas de mortalidade e de natalidade. A redução precoce dentro da própria população idosa, pois vemos que,
das taxas de mortalidade vis-à-vis às de natalidade enquanto 17% dos idosos de ambos os sexos tinham 80
promoveria ritmos acelerados de crescimento populacional. anos ou mais de idade, em 2050 corresponderão,
O equilíbrio seria retomado com a redução, em momento provavelmente, a aproximadamente 28%. Na população
posterior, das taxas de natalidade e, consequentemente, feminina, o percentual das mais idosas passará de 18 para
redução do ritmo de crescimento da população. cerca de 30,8%, assim, presenciaremos o “envelhecimento”
da população idosa.
Ao contrário do que se imagina comumente, o processo de
envelhecimento populacional resulta do declínio da A população mais idosa será, de modo eminente, feminina.
fecundidade e não do declínio da mortalidade. Uma No ano de 2000, para cada cem mulheres idosas, havia 81
população torna-se mais idosa à medida que aumenta a homens idosos; em 2050 haverá provavelmente cerca de 76
proporção de indivíduos idosos e diminui a proporção de idosos para cem idosas. No grupo acima de 80 anos,
indivíduos mais jovens, ou seja, para que uma determinada estima-se que, em 2050, teremos duas idosas para cada
população envelheça, é necessário haver também uma idoso.
menor taxa de fecundidade. A transição demográfica
É necessário também mencionar a urbanização
originou-se na Europa e seu primeiro fenômeno foi a
característica a este grupo: na década de 1940, apenas
diminuição da fecundidade, observada na
20% viviam em regiões urbanas, o que significa uma
Revolução Industrial, fato este anterior ao aparecimento da população predominantemente rural. Em menos de 40
pílula anticoncepcional. O aumento na expectativa de vida anos, ela passa a ser eminentemente urbana. Atualmente,
ocorreu de modo insidioso e lento e foi possível graças às cerca de 80% da população brasileira vive em centros
melhores condições sociais e de saneamento, além do uso urbanos.
de antibióticos e de vacinas.
A rápida urbanização da população altera de modo intenso
Na América Latina, principalmente nos países em as estruturas trabalhistas, o que gera maior custo de vida,
desenvolvimento, observa-se hoje um fenômeno maiores jornadas de trabalho e, principalmente, maior
semelhante ao ocorrido na Europa, porém, com implicações incorporação da mulher como força produtiva. Estes fatos
diferentes. tornam os familiares menos disponíveis para cuidar dos
idosos mais dependentes.
O segundo diferencial provém do fato de que a expectativa formato, semelhante ao dos países hoje desenvolvidos,
de vida média dos brasileiros aumentou em quase 25 anos, onde a proporção de idosos tende a superar a dos jovens.
nos últimos 50 anos, sem que tenhamos observado
melhoras significativas nas condições de vida e de saúde da Devem ser sublinhadas as consequências decisivas das
população. mudanças na estrutura etária para a sociedade e a
economia. Uma sociedade onde predominavam os jovens,
A mortalidade no Brasil começou a diminuir nos anos 1940, fecundidade alta e famílias grandes, uma idade mediana
quando a nossa revolução industrial iniciou-se. Entretanto, baixa e a esperança de vida menor do que sessenta anos é
a taxa de fecundidade somente iniciou a sua queda cerca muito diferente daquela que se estrutura a partir do
de 30 anos depois, e, após 30 anos de queda, no final do acelerado e generalizado declínio da fecundidade. A
século, chegou a seu nível mais baixo. transição demográfica no Brasil, como foi visto, ao contrário
daquela dos países mais desenvolvidos, tem sido rápida e
Na Europa, a queda na taxa de fecundidade iniciou-se no generalizada e a sociedade brasileira, sem dúvida, já está
final do século 19, cem anos após a queda na taxa de sentindo o seu impacto. Cresce rapidamente o peso relativo
mortalidade, assim, os países europeus tiveram mais tempo dos idosos, as famílias estão ficando cada vez menores e
para se prepararem, o que tornou a transição foi mais suave. com arranjos sociais extremamente diversificados, a
No Estado de São Paulo, atualmente, a taxa de fecundidade longevidade da população tem aumentado velozmente e a
já atinge níveis de reposição, com 2,2 filhos por mulher em população em idade ativa ainda permanecerá crescendo
idade fértil. O ciclo de envelhecimento, que na Europa teve nas próximas décadas.
a duração de quase dois séculos, aqui terminará em Como no caso das mudanças no tamanho da população,
meados do próximo século, o que representa metade do um ponto fundamental a ser levado em consideração é o
tempo. O resultado desse fenômeno poderá ser observado fato de que as mudanças na estrutura etária ocorrem de
na íntegra em 2025, quando o Brasil terá cerca de 32 forma desigual entre os diferentes estados e regiões do
milhões de pessoas com mais de 60 anos; seremos a sexta país, assim como entre os diferentes níveis de renda da
maior população de idosos no mundo. população. Em outras palavras, estados e regiões, ou
A transição demográfica acarreta a transição grupos sociais, se situam em momentos e fases diferentes
epidemiológica, o que significa que o perfil de doenças da da transição demográfica.
população muda de modo radical, pois teremos que
aprender a controlar as doenças do idoso. Em um país 8. DESCREVER TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA
essencialmente jovem, as doenças são caracterizadas por NO BRASIL.
eventos causados por moléstias infectocontagiosas, cujo
modelo de resolução é baseado no dualismo cura/morte. O No transcorrer dos últimos cem anos, os países
perfil de doenças no idoso muda para o padrão de doenças industrializados, polos centrais da economia mundial,
crônicas, portanto, o paradigma muda. observaram uma profunda transformação em seu perfil
epidemiológico, caracterizada pela gradual e progressiva
Além disso, observaremos maior taxa de utilização de queda das doenças infecciosas e parasitárias e pela
unidades de terapia intensiva, de hemodinâmica e métodos ascensão das doenças crônico-degenerativas e,
dialíticos. particularmente, das doenças cardiovasculares, como
principal causa de morte.
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Os países chamados 'em desenvolvimento', situados na
O notável crescimento da população brasileira na segunda
periferia do sistema econômico mundial, sofreram, também,
metade do século passado, e que ainda se prolongará nesta
nos últimos 30 a 40 anos, uma transformação em seus perfis
primeira metade do século XXI, mostra com clareza duas
de morbidade e de mortalidade semelhante, porém não
fases da transição demográfica. A primeira, com um
idêntica, àquela verificada nos países centrais.
acelerado crescimento demográfico em função do declínio
da mortalidade e da manutenção da fecundidade em um No Brasil, essas transformações tornaram-se evidentes a
patamar extremamente alto, até a segunda metade dos partir de 1960 e se acentuaram progressivamente de modo
anos sessenta. A segunda fase, imediatamente posterior, que, ao chegar à década dos noventa, o país apresentava
quando a fecundidade começa, também, a declinar e o ritmo um perfil epidemiológico polarizado, cujas causas e
de crescimento da população inicia a sua desaceleração. consequências para a atual política de saúde devem ser
analisadas.
A transição demográfica no Brasil tem sido muito mais
acelerada do que nos países desenvolvidos, não se Segundo a teoria de OMRAM, a humanidade teria
diferenciando, entretanto, do que vem passando outros atravessado três fases epidemiológicas ao longo da sua
países latino-americanos e asiáticos. Um bom indicador tem história:
sido o rápido declínio da fecundidade.
a) A 'Era da Fome das Pestilências', que durou desde o
As modificações na estrutura etária do Brasil têm sido início dos tempos históricos até o fim da Idade Média, foi
notáveis, indicando uma aceleração em direção a um maior caracterizada por altos índices de natalidade, altas taxas de
envelhecimento da população. As pirâmides etárias, entre mortalidade por doenças infecciosas endêmicas e
1950 e 2050, mostram, no século XXI, cada vez mais, a sua epidemias que assumiam, com frequência, caráter
passagem de uma forma típica de um país com forte pandêmico, devastando as populações. Nessa fase, a
predominância de sua população jovem, para um novo expectativa de vida estava em torno de 20 anos e o
crescimento demográfico foi lento.
b) A 'Era do Declínio das Pandemias', correspondendo muito alta a prevalência das antigas 'endemias rurais', tais
historicamente ao período que vai da Renascença até o como: a doença de Chagas e a esquistossomose. No caso
início da Revolução Industrial, foi caracterizada pelo da malária, enfrenta-se uma situação grave na Amazônia,
progressivo desaparecimento das grandes pandemias, onde se concentra 95,0% dos 533.360 casos confirmados
embora as doenças infecciosas continuassem a ser a em 1990/91. Acrescente-se a esses problemas os surtos de
principal causa de morte. Nesse período verificou-se uma dengue, em 1986/87 e em 1990/91; a reintrodução da
gradual melhora no padrão de vida e a expectativa de vida cólera12 em 1991 na Amazônia e sua penetração no
alcançou os 40 anos. Como as taxas de mortalidade Nordeste, em 1992; e o aumento na incidência e na
declinaram até níveis de 30 por 1000 e a natalidade prevalência da hanseníase, nos últimos 20 anos.
continuava acima de 40 por 1000, iniciou-se um longo
período de crescimento populacional. Verifica-se, assim, ao lado da permanência e do
agravamento de problemas sanitários antigos, o
c) A 'Era das Doenças Degenerativas e das Causadas reaparecimento de "velhos fantasmas" como a cólera.
pelo Homem' estende-se da Revolução Industrial até os
tempos modernos. Caracterizou-se por uma progressiva A esse quadro soma-se o novo drama da Síndrome da
melhora do padrão de vida das populações (habitação, Imunodeficiência Adquirida (SIDA/AIDS), cujo primeiro caso
saneamento, alimentação, educação) e um correspondente ocorreu em 1980 e cuja incidência vem aumentando em
declínio das doenças infecciosas, que se iniciou várias progressão geométrica, tendo atingido um total acumulado
décadas antes do aparecimento das sulfas e dos de 25.000 casos registrados em 1992, afetando não apenas
antibióticos e se acentuou após esses progressos da os chamados grupos de risco, mas a praticamente todos os
medicina. A expectativa de vida foi aumentando até atingir segmentos da população.
os 70 anos, nos meados deste século. As principais causas Desta forma, ao enfrentar o problema emergente do
de mortalidade passaram a ser doenças cardiovasculares e aumento da morbidade e da mortalidade pelas doenças
as neoplasias malignas. Nessa fase, houve uma crônico-degenerativas, cujo custo social vem sendo
desaceleração no crescimento demográfico. destacado, o Brasil defronta-se com a permanência ou até
Como a melhoria das condições de vida nos países em mesmo com o recrudescimento das doenças infecciosas e
desenvolvimento tem sido gradual e descontínua, o declínio parasitárias, ao contrário do que se deu nos países
das doenças infecciosas deu-se de forma mais lenta do que industrializados, onde as doenças crônicas só passaram a
nos países desenvolvidos e só se acentuou após o advento assumir papel preponderante após o virtual controle das
da era dos antibióticos e de outros avanços da medicina doenças transmissíveis.
moderna. Nessa fase, a queda rápida da mortalidade, Verifica-se assim, no Brasil, uma polarização
associada à persistência de taxas elevadas de natalidade, epidemiológica com a existência simultânea de elevadas
levou a uma aceleração do crescimento populacional. Com taxas de morbidade e mortalidade por doenças crônico-
o aumento gradual da expectativa de vida, a proporção de degenerativas e de incidência e prevalência de doenças
pessoas com mais de 60 anos passou a crescer de modo infecciosas e parasitárias, cuja mortalidade ainda é elevada
constante. De modo semelhante ao que ocorreu nos países em comparação com as taxas de países desenvolvidos e de
industrializados, as doenças cardiovasculares, as outros países da América Latina.
neoplasias malignas e as causas externas (sobretudo os
acidentes de trânsito) passaram a assumir maior
importância como causas de morte. Todavia, ao contrário
do que ocorreu nos países centrais, persistem ainda, nos
países 'em desenvolvimento', taxas comparativamente altas
de morbidade e de mortalidade por doenças infecciosas e
parasitárias.

 Dados do Brasil

As estatísticas de mortalidade no Brasil mostram que, até


1940, havia um nítido predomínio das doenças infecciosas
e parasitárias como principal causa de morte (43,5% do total
de óbitos). As doenças do aparelho circulatório
correspondiam a 14,5% e as neoplasias malignas a apenas
3,9% dos óbitos com causa definida. Trinta anos depois, em
1970, as doenças do aparelho circulatório já surgiam como
a primeira causa de mortalidade (24,8%); as doenças
infecciosas e parasitárias como a segunda (15,7%); e as
neoplasias malignas como a terceira (9,7%).

Dados de 1986 mostram que as Doenças do Aparelho


Circulatório já eram responsáveis por 33,5% dos óbitos,
vindo em segundo lugar as Causas Externas (14,85%) e,
em terceiro lugar, as neoplasias malignas (11,9%).

Embora as estatísticas de morbidade sejam deficientes no


Brasil, as estimativas mais recentes indicam que continua
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