Você está na página 1de 4

Argumentos Contra o Aborto

De acordo com esse argumento a vida tem prioridade sobre todas as coisas e
o direito à vida prevalecerá sobre qualquer outro. Segundo Alexandre de
Morais seria “o direito à vida o mais fundamental de todos os direitos, já que
se constitui em pré-requisito à existência e exercício de todos os demais
direitos”. O Brasil em sua Constituição Federal assegura o direito à vida a
todos os indivíduos, inclusive os não nascidos. Por ser também o Brasil
signatário de diversos tratados internacionais que asseguram o direito à vida
desde sua concepção seria errado descriminalizar o aborto no país, exceto
em caso já previsto em lei.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos garante em seu Art.3° que


“todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.” A
Declaração assegura que todos os Humanos são detentores do direito à vida.
Sendo então o único critério necessário para o indivíduo ser detentor do
direito à vida ser ele membro da espécie humana. Fica claro então que todos
aqueles que pertencem a espécie Homo Sapiens tem de ter resguardado seu
direito quanto a inviolabilidade de sua própria vida.

Em critica à tentativa daqueles que defendem a destituição do feto de sua


condição humana intrínseca o filosofo Olavo de Carvalho ironiza:

“Para o abortista, a condição de “ser humano” não é uma


qualidade inata definidora dos membros da espécie, mas uma
convenção que os já nascidos podem, a seu talante, aplicar ou
deixar de aplicar aos que ainda não nasceram. Quem decide se o
feto em gestação pertence ou não à humanidade é um consenso
social, não a natureza das coisas.”

Diz ele sobre as implicações práticas de adotar-se o relativismo quanto a


definição de membro pertencente a espécie humana:
“[...]se a condição de ser humano é uma convenção social, nada
impede que uma convenção posterior a revogue, negando a
humanidade de retardados mentais, de aleijados, de
homossexuais, de negros, de judeus, de ciganos ou de quem quer
que, segundo os caprichos do momento, pareça inconveniente.”

Para o escritor mexicano Recaséns Siches: “todo ser que possui vida é
indivíduo, ou seja, algo que não se pode dividir; sob pena de deixar de ser.
Os homens são indivíduos, mas são mais que isso; são pessoas, já que se
acrescentam ainda caracteres de unidade, identidade e continuidade.

O direito à vida não foi criado pelo ordenamento jurídico, posto ser um
direito natural, cabendo àquele apenas protegê-lo. Tanto assim que se pode
sentir perfeitamente que a vida é o valor maior de toda a realidade humana,
trazido de forma natural, e a todos.”

A vida seria então um valor a priori, universal em seu sentido mais amplo,
não cabendo então a quem quer que seja o direito de dispor dela como quiser.

O aborto seria também imoral por ferir o princípio da dignidade humana de


Kant. De acordo com Kant todos os seres racionais são destinatários de
respeito e dignidade sendo portanto então um fim em si mesmo.

Qualquer ser que possua vida, ou a capacidade de viver e de,


consequentemente, ser racional algum dia, deve existir “como um fim em
si mesmo, não apenas como um meio que possa ser usado de forma
arbitrária por essa ou aquela vontade”. Segundo Kant, esta é a mais
relevante diferença entre pessoas e coisas.

Para Rafael Gasparini Moreira:

“Dignidade significa um estado no qual um ser não pode ser


colocado em grau de importância inferior a nenhuma outra coisa
ou conjunto de coisas (ou seres) existentes; que deve ser
considerado um fim em si mesmo (um fim terminal) da Criação;
que não se pode pôr preço; que não pode ser medido por sua
utilidade no mundo, visto que ele é o fim de toda a utilidade. A
dignidade só é aplicável aos seres racionais, que são aqueles seres
suprassensíveis, simples e autodeterminados, que não podemos
provar que existem, mas que temos que pressupor que existem em
nós, por necessidade do próprio Direito. Como único ser racional
na Terra, só o homem possui dignidade intrínseca. A dignidade
de um homem só pode ser igualada à de outro homem, mas jamais
ultrapassada, o que implica que todos os homens possuem
exatamente o mesmo valor absoluto e o mesmo grau de
dignidade. E como só o ser racional possui dignidade, aqueles que
negam a racionalidade humana [...] negam ao mesmo tempo a sua
dignidade intrínseca [...].”

Por fim Caio Malpighi declara:

“[...] de acordo com a máxima universal de Justiça postulada por


Kant, a prática do aborto se coloca como uma conduta injusta,
na medida em que seria fruto de inclinações da gestante que,
valendo-se de sua razão instrumental, utilizaria a vida do feto
como um instrumento para se atingir uma finalidade (não ter um
filho), ao invés de colocar tal vida em potencial como um fim
em si mesmo.”

Referências

MORAES, Alexandre de. “Direito Constitucional”. 6ª ed., São Paulo:


Editora Atlas S.A., 1999, p. 60.

KANT. Immanuel. Groundwork. P. 414 apud Op. Cit. P. 154

MALPIGHI, Caio. O Aborto e a Filosofia do Direito. Disponível em:


<https://caiomalpighi.jusbrasil.com.br/artigos/412002240/o-aborto-e-a-
filosofia-do-direito>. Acesso em: 12/11/2017.
MOREIRA, Gasparini Rafael. Immanuel Kant, os direitos humanos e o
estatuto do nascituro. Petrópolis/RJ. 14/6/2013. Disponível em: <
http://www.reconstrucoes.blog.br/2013/06/immanuel-kant-os-direitos-
humanos-e-o-estatuto-do-nasciturno.html>. Acesso em: 12/11/2017.

CARVALHO, De Olavo. Lógica do Abortismo. Diário do


Comércio.14/10/2010. Disponível em: <
http://www.olavodecarvalho.org/logica-do-abortismo/>. Acesso em:
12/11/2017.

Você também pode gostar