Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
4
13.5. COMPETÊNCIA ........................................................................................................ 121
13.6. PRAZO PARA RESPOSTA DOS RÉUS ................................................................... 121
13.7. SENTENÇA............................................................................................................... 122
13.7.1. Prazo para julgar ................................................................................................ 122
13.7.2. Natureza da sentença ........................................................................................ 122
13.7.3. Reexame necessário.......................................................................................... 122
13.7.4. Apelação (efeitos) .............................................................................................. 123
13.7.5. Diferenças entre a LA e LACP ........................................................................... 123
13.7.6. Penhorabilidade salarial ..................................................................................... 124
13.7.7. Sucumbência ..................................................................................................... 125
14. ASPECTOS PROCESSUAIS DA LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA (8.429/92) 125
14.1. CONCEITO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA ................................................. 125
14.2. PREVISÃO LEGAL E SUMULAR .............................................................................. 126
14.2.1. CF Art. 37........................................................................................................... 126
14.2.2. Lei 8.429/92 ....................................................................................................... 126
14.3. CONSTITUCIONALIDADE DA LEI 8.429/92 ............................................................. 126
14.4. OBJETO DA AÇÃO CIVIL DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA ........................... 126
14.5. LEGITIMIDADE ATIVA .............................................................................................. 127
14.5.1. MP ..................................................................................................................... 127
14.5.2. PJ interessada ................................................................................................... 127
14.6. LEGITIMIDADE PASSIVA ......................................................................................... 127
14.6.1. Competência e a questão do agente político ...................................................... 128
14.7. SANÇÕES................................................................................................................. 129
14.8. PROCEDIMENTO ..................................................................................................... 131
14.8.1. Petição Inicial (Inquérito Civil) ............................................................................ 131
14.8.2. Notificação (§7º) ................................................................................................. 131
14.8.3. Defesa preliminar em 15 dias ............................................................................. 131
14.8.4. Decisão deve ser fundamentada ........................................................................ 132
14.8.5. Provas (regime do CPP) .................................................................................... 132
14.8.6. Sentença ............................................................................................................ 133
15. MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO ....................................................................... 133
15.1. PREVISÃO LEGAL E SUMULAR .............................................................................. 133
15.2. CONCEITO ............................................................................................................... 137
15.2.1. Líquido e certo ................................................................................................... 137
15.2.2. Não amparado por habeas corpus ou habeas data ............................................ 137
15.2.3. Contra ato .......................................................................................................... 138
15.2.4. Legal ou abusivo de direito................................................................................. 139
15.2.5. Praticado por autoridade pública ou afim ........................................................... 139
15.3. LEGITIMIDADE ......................................................................................................... 139
15.3.1. Legitimidade ativa para o MS individual ............................................................. 139
15.3.2. Legitimidade passiva .......................................................................................... 140
5
15.4. COMPETÊNCIA ........................................................................................................ 142
15.4.1. Funcional/hierárquico ......................................................................................... 142
15.4.2. Material .............................................................................................................. 143
15.4.3. Valorativo ........................................................................................................... 143
15.4.4. Territorial ............................................................................................................ 143
15.5. PROCEDIMENTO ..................................................................................................... 144
15.5.1. Liminar no MS .................................................................................................... 144
15.5.2. Informações ....................................................................................................... 144
15.5.3. Sentença ............................................................................................................ 144
15.5.4. Recursos ............................................................................................................ 145
15.5.5. Desistência ........................................................................................................ 146
15.5.6. Decadência ........................................................................................................ 146
15.5.7. Teoria do fato consumado .................................................................................. 146
6
TEORIA GERAL DO PROCESSO COLETIVO
*Fernando Gajardoni
1. EVOLUÇÃO HISTÓRICO-METODOLÓGICA
4) Direitos de 4ª Geração.
O fator histórico que originou a primeira dimensão foram as Revoluções Liberais (francesa e
americana). Século XVIII. É nesse momento que surge a ideia de controle do Estado Absolutista.
Surge o movimento do Liberalismo (Estado Liberal).
2) São os direitos de defesa do cidadão em face do Estado, exigindo uma abstenção por
parte deste.
3) São direitos conhecidos como liberdades negativas, pois impõem ao Estado um “não
fazer”.
4) Pela teoria das quatro status, tratam-se dos ‘DIREITOS DE DEFESA’ (status negativus
ou status libertatis).
O Estado se absteve completamente das relações privadas. Essa ausência estatal começou
a gerar graves distorções, uma eclosão de desigualdade social. Surge, então, a nova geração.
Não se trata de igualdade FORMAL (tratamento igualitário da lei para com todos), que já
havia sido consagrada nas revoluções liberais. A igualdade aqui é a material, ou seja, atuação do
Estado para igualar os cidadãos, dada a crescente desigualdade social existente à época. O
Estado liberal passa a ser social, dada a necessidade de intervenção nas relações particulares e
sociais.
Livro Masson: Surgimento dos chamados corpos intermediários, que consistiam em grupos, classes ou
categorias de pessoas, que se organizavam para lutar pelo reconhecimento dos interesses que tinham em
comum. O exemplo mais típico é o movimento sindical.
Obs.: O primeiro direito social a ser reconhecido em uma constituição foi o do trabalho (francesa);
posteriormente, os direitos sociais e econômicos chegaram à constituição do México (1917) e à Constituição
Alemã (de Weimar – 1919); a CF de 1934 foi a primeira a contemplar.
Mesmo com essas duas gerações, percebeu-se que não havia suficiente proteção do
homem. Isso porque se constatou que existiam direitos que não são individuais, mas são de
grupos, e que igualmente reclamavam proteção, uma vez que a ofensa a eles acabaria por
inviabilizar o exercício dos direitos individuais já garantidos anteriormente.
Conclusão que chegaram: Não adianta cada indivíduo ter seus direitos protegidos, pois
existem direitos coletivos que se forem violados acarretam na inviabilização de todos os demais
direitos.
Masson:
d) Direitos humanos de quarta dimensão: Não há consenso. Bobbio, por exemplo, aposta que ela é
composta pelo direito à integridade do patrimônio genético perante as ameaças do desenvolvimento da
biotecnologia. Bonavides, por sua vez, entende ser, principalmente, o direito à democracia, somado aos
direitos à informação e ao pluralismo.
8
e) Direitos humanos de quinta dimensão: Bonavides defende que o direito à paz deveria ser
deslocado da terceira para uma quinta dimensão.
3) 3º momento: Instrumentalismo.
Essa fase começou a ser percebida no Direito Romano, durando até meados de 1868.
Nessa fase, o processo não era considerado uma ciência autônoma. Havia uma confusão
metodológica entre direito material e direito processual. As regras processuais eram previstas nos
códigos de direito material (exemplo: CC/16).
Nessa época, o direito de ação se confundia com o direito material. O direito de ação
decorria diretamente da violação do direito material. A cada direito material violado
corresponderia, diretamente, uma ação dele decorrente e apta para resguardá-lo. Não provada a
violação, inexistia o direito de ação.
Quem começou com essa fase foi Oskar Von Bülow. Esse sujeito foi quem primeiro separou
as relações materiais (entre dois indivíduos - bilaterais) das processuais (indivíduo - Estado -
indivíduo - relação trilateral). O direito de ação passou a ser autônomo em relação ao direito
material. No Brasil, o autonomismo só teve destaque com Liebman, em meados do século XX.
Surge, então, um novo momento, com a finalidade de reaproximar direito material e direito
processual, sem acabar com a autonomia do processo. Tem origem em 1950. Essa teoria tem
como objetivo ver o processo como meio de acesso à justiça; um instrumento de serviço ao direito
material.
Parte-se da premissa de que não basta um processo eminentemente técnico e com primor
cientifico, plenamente apto a agradar seus operadores e estudiosos: roga-se por um processo
eficaz e célere, apto a solucionar as crises do direito material e benévolo aos que dele necessitam
diuturnamente como seus destinatários (os jurisdicionados).
9
Didier afirma que o processo e o direito material estão em uma relação circular, ou seja, o
direito material serve ao processo, assim como o processo serve ao direito material.
Essa fase começou com a obra denominada ‘Acesso à Justiça’ de autoria de Brian Garth
e Mauro Capelleti. Segundo os referidos autores, para possibilitar essa efetividade do processo e
viabilizar o acesso à justiça, os ordenamentos jurídicos deveriam observar três ondas
renovatórias:
1) Possibilitar a justiça aos pobres. Exemplo brasileiro: Defensoria Pública, Lei de Assistência
Judiciária.
2) Efetividade do processo: O processo deve ser de resultados. Menos técnico e mais efetivo.
Ainda está em andamento.
3.2) Existem bens cuja tutela individual é inviável do ponto de vista econômico,
sendo necessário, no caso, que se permita a determinados entes ou órgãos tutelar
esses direitos (legitimação extraordinária).
3.3) Existem bens ou direitos cuja tutela coletiva seja recomendável do ponto de vista
do sistema (veja que esta não está preocupada com o jurisdicionado e sim com o
judiciário). Potencializa a solução do problema.
Até então, o processo civil clássico era incapaz de tutelar essas três situações.
Art. 506. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não
prejudicando terceiros.
O processo coletivo, pela sua essência é altruísta, pois objetiva a beneficiar mais de um
indivíduo. Em antagonismo ao processo individual, que é egoísta, na medida em que só atinge as
partes nele presentes.
10
1.3. ORIGEM DO PROCESSO COLETIVO BRASILEIRO
1) Espécie de Ação Popular nas Ordenações do Reino. Nem sequer é citada, eis que
muito precária.
Essa Lei, nesses 31 anos, já sofreu tanto avanços quanto retrocessos profundos.
Houve uma tentativa de elaborar um Código Brasileiro de Processo Coletivo. Houve dois
grandes projetos: Um da USP (Ada); um da UERJ/UNESA (Aluísio Castro Mendes).
Em 2008, o Ministério da Justiça nomeou uma comissão de juristas (além dos dois acima,
entre outros o professor) que resolveu não levar adiante a ideia dos Códigos de Processo Coletivo
(dada a lentidão do parlamento em aprovar Códigos). A opção foi elaboração de uma Nova Lei de
Ação Pública (PL 5139/09, que já está na Câmara), que, a rigor, funcionará como um Código de
Processo Coletivo (Como hoje funciona o LACP + CDC + Microssistemas de processo coletivo).
Esse projeto entrou no pacote do pacto republicano, com expectativa que seja votado no primeiro
semestre de 2010, mas até agora nada.
U Estado X Estado
P Público
E Estado X indivíduo
O
11
Sempre se disse que Direito se divide em Direito Público e Privado. Esses direitos
metaindividuais (transcendem o indivíduo) pertencem ao DIREITO PRIVADO ou DIREITO
PÚBLICO?
Não se pode negar a carga de interesse social que permeia esses direitos, exatamente por
serem direitos de titularidade de várias pessoas. Nesse ponto, os direitos metaindividuais se
aproximam do Direito Público. Entretanto, esses direitos não são necessariamente
afetos/relacionados ao poder público. Exemplo: Uma entidade particular ingressa com ação
pleiteando que uma indústria pare de poluir o meio-ambiente.
Conclusão: Não se pode classificar nem como Direito Público e Direito Privado. Assim, a
‘summa diviso’ agora será entre direito público, direitos metaindividuais e direito privado.
No entanto, alguns autores (Hugo, Assagra, Mancuso, Nery) têm proposto uma nova
‘summa diviso’ (divisão de ramos): Direito Individual (público/privado) e Direito Coletivo ou
Metaindividual.
O processo coletivo é de interesse público primário, isto é confirmado pelo fato de que a
maioria dos processos coletivos tem como sujeito passivo o Estado.
Masson:
- Interesse público primário (propriamente dito): interesse geral da sociedade, o bem comum da
coletividade. Sinônimo de interesse geral, de interesse social.
A principal característica do interesse público é certa unanimidade social (= consenso coletivo), uma
conflituosidade mínima. Em outras palavras, o insigne jurista observa que, no plano supraindividual
(coletivo), não se verifica, manifestações contrárias aos valores e bens ligados ao interesse público, o que
exclui a possibilidade de que, no plano individual, até mesmo judicialmente, alguém se insurja contra uma
aplicação concreta daquele interesse.
O interesse público secundário não deve chocar-se com o interesse público primário, devendo atuar
como instrumento para sua consecução.
- Também se denomina interesse público aquele que limita a disponibilidade de certos interesses
que, de forma direta, dizem respeito a particulares, mas que, indiretamente, interessa à sociedade proteger,
de modo que o direito objetivo acaba por restringir, como, por exemplo, em diversas normas de proteção do
incapaz.
12
É o processo tradicional, onde a coletividade é a autora. Exemplo: MP, em nome próprio,
defendendo interesse da coletividade.
1ªC: (Dinamarco): Não existe ação coletiva passiva, pois não tem previsão legal para tanto.
No art. 5º LACP, traz os legitimados ativos; quanto aos passivos, não há previsão.
2ªC (Ada, Gajardoni): Existe sim, e a sua existência decorre do sistema processual
brasileiro, a partir de uma interpretação sistêmica.
A prática tem demonstrado que há situações em que a coletividade deve ser acionada.
Outro exemplo de interpretação sistêmica: exceção de pré-executividade, que também não tem
previsão legal.
Exemplo que comprova a segunda corrente: ação coletiva que visa impedir greve de
metroviários. O MP entra com ação pedindo que não façam greve. Aqui, dos dois lados haverá
coletividade (ação duplamente coletiva).
13
Assim, se a intervenção no processo de entes legitimados às ações coletivas pode se dar
como litisconsortes do autor ou do réu, é porque a demanda pode ser intentada pela classe ou
contra ela.
Além disso, o art. 107 do CDC contempla a chamada convenção coletiva de consumo,
afirmando que as “entidades civis de consumidores e as associações de fornecedores ou
sindicatos de categoria econômica podem regular, por convenção escrita, relações de consumo
que tenham por objeto estabelecer condições relativas ao preço, à qualidade, à quantidade, à
garantia e características de produtos e serviços, bem como à reclamação e composição do
conflito de consumo”. Caso a convenção coletiva firmada entre essas classes não seja observada,
de seu descumprimento se originará uma lide coletiva, que só poderá ser solucionada em juízo
pela colocação dos representantes das categorias frente a frente, em ambos os polos da
demanda.
Argumentam, ainda, que o sistema ope legis, em que a lei escolhe o adequado
representante passivo de uma determinada coletividade, deveria ser temperado com o sistema
ope judicis, em que o juiz também pode decidir, a luz do caso concreto, sobre a aptidão daquela
entidade que se apresenta em juízo.
Processo das ações de controle abstrato de constitucionalidade (ADI, ADC, ADO, ADPF).
14
3.2.2. Processo coletivo Comum
Todas as ações para tutela dos interesses e direitos metaindividuais não relacionadas ao
controle abstrato de constitucionalidade. Critério residual. Exemplos:
OBS: Somente alguns autores sustentam que ação coletiva á algo diverso da ação civil pública.
Dizem que a ação coletiva é aquela que tem fundamento no CDC.
Gajardoni: São ações diferentes. A ação de improbidade tem caráter sancionatório. A ACP tem
caráter apenas reparatório. Assim o objeto, a legitimidade e a coisa julgada são diferentes.
4) Ação popular;
5) MS coletivo;
São ações ajuizadas com o rótulo de ações coletivas, mas que, na verdade, não são
coletivas. São pseudocoletivas, ou seja, falsamente coletivas.
Trata-se da ação que é proposta pelo ente legitimado em lei (legitimado extraordinário),
mas que formula pedido certo e específico em prol de determinados indivíduos, que são
substituídos processualmente. Há, na verdade, uma pluralidade de pretensões reunidas em uma
mesma demanda. Exemplo comum é o de ação proposta por um ente associativo, deduzindo
pretensão em prol de seus associados. Como se vê, nas ações pseudocoletivas o grande
problema é o prejuízo que a demanda pode trazer ao contraditório e ao direito de defesa. Por isso,
a constatação desse prejuízo deve levar à inadmissibilidade da ação.
1) Princípio da indisponibilidade mitigada da ação coletiva (LACP, art. 5º, §3º; LAP, art. 9º);
2) Princípio da indisponibilidade da execução coletiva (LAP, art. 16; LACP, art. 15);
Esse princípio estabelece que o objeto do processo coletivo é irrenunciável pelo autor
coletivo.
Razão: O bem que está sendo objeto do processo não pertence ao autor coletivo, mas sim à
coletividade. O interesse público é indisponível.
OBS: Se a desistência for motivada e fundada, é possível que o juiz extinga o processo. Por isso,
diz que a indisponibilidade é MITIGADA.
Perceber que na LAP a sentença de segunda instância deve ser executada desde a sua
publicação. Na LACP, é desde o trânsito em julgado, o que parece ser mais correto, de acordo
com a doutrina.
16
É impossível não se proceder à execução da decisão de ação coletiva. Se o autor da ação
não tomar iniciativa para executar, a lei permite a outros legitimados, bem como ao MP proceder à
execução. Esse dispositivo tem a função de evitar corrupção: o réu da ação paga ao autor para
não executar.
OBS: Não há aqui a expressão “mitigada”. Consequência: Aqui não há a possibilidade nem de
desistência motivada.
Ideia por trás desse princípio: magistrado deve evitar, de todas as formas, a extinção do
processo sem apreciação do mérito. Deve fazer valer sempre o conteúdo em detrimento da forma.
Razão: uma decisão sem mérito é o fracasso do Estado-juiz que toma proporções ainda
maiores em se tratando de questões do interesse coletivo.
17
§ 4o A convenção de que trata o § 3o pode ser celebrada antes ou durante
o processo.
Ligar este princípio à instrumentalidade das formas, teoria das nulidades (ver início da
matéria) e ativismo judicial (ver aqui).
Por esse princípio, o processo coletivo tem preferência sobre o processo individual. Razão:
No processo coletivo, resolve-se um grande número de situações não tuteláveis por processos
individuais.
CDC Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará
coisa julgada:
§ 3° Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado com o
art. 13 da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985 (LACP), não prejudicarão as
ações de indenização por danos pessoalmente sofridos, propostas
individualmente ou na forma prevista neste código, mas, se procedente o
pedido, beneficiarão as vítimas e seus sucessores, que poderão proceder à
liquidação e à execução, nos termos dos arts. 96 a 99.
§ 4º Aplica-se o disposto no parágrafo anterior à sentença penal
condenatória.
A coisa julgada coletiva só beneficia os indivíduos; nunca prejudica. A coisa julgada negativa
(improcedência da ação) não impede que os indivíduos ajuízem suas ações individuais.
Quando a decisão do processo coletivo for de procedência, diz-se que ocorre o fenômeno
do transporte ‘in utilibus’ da coisa julgada coletiva. É a possibilidade de o autor individual se
utilizar da coisa julgada coletiva para proceder à liquidação e execução.
Exemplo: art. 94 CDC. Quando o indivíduo entra como litisconsorte na ação coletiva. Sendo parte
a coisa julgada ‘pega’. Ver abaixo...
Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de que
os interessados possam intervir no processo como litisconsortes, sem
prejuízo de ampla divulgação pelos meios de comunicação social por parte
dos órgãos de defesa do consumidor.
Não há como se negar que no processo coletivo o juiz tem maiores poderes que no
processo individual, na maioria dos casos com o objetivo de evitar a extinção do processo sem
resolução do mérito (princípio do interesse jurisdicional pelo conhecimento do mérito).
18
Esse ativismo decorre do americano “defining function” (função de definidor). Graças a
esse aumento dos poderes do juiz, ele fica autorizado a agir de quatro formas que no processo
individual não poderia:
Obs.: Ver caderno de Constitucional, pois aborda o ativismo de uma forma mais profunda.
Ainda que haja omissão probatória da parte, deve o juiz suprir essa lacuna, na busca da
verdade real. Outra regra, que deixa claro esse caráter inquisitivo da ação coletiva, é o art. 7º da
LACP:
O juiz pode alterar a ordem de atos processuais, bem como malear os prazos.
Exemplo de flexibilização: Pelo CPC, as partes têm prazo de 10 dias para se manifestar sobre
perícia. Na tutela coletiva, o juiz pode tranquilamente dilatar esse prazo.
Tudo isso com a finalidade de tutelar adequadamente o direito coletivo. Obviamente, sempre
respeitando o contraditório e todos os princípios do devido processo legal.
O judiciário, cada vez mais, faz opções que deveriam ser feitas pela Administração Pública.
E o principal palco para esse ativismo são as Ações Civis Públicas. O judiciário somente pode
19
intervir nas políticas públicas para implementar diretos e promessas fundamentais esculpidas na
CF (saúde por exemplo).
O STJ e o STF entendem que, devido ao aumento dos poderes do juiz no processo coletivo,
lhe é dado intervir na discricionariedade administrativa, desde que para analisar a legalidade dos
atos, bem como a razoabilidade e a proporcionalidade.
1ª Faceta do princípio: Não existe delimitação dos direitos sujeitos à tutela coletiva
(LCAP, art. 1º).
2ª Faceta do princípio: Qualquer ação pode ser coletivizada. O rol de ações coletivas
NÃO é taxativo (CDC, art. 83).
CDC Art. 83. Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este
código são admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar
sua adequada e efetiva tutela.
Exemplo: É possível ter uma ação possessória coletiva. Greenpeace ajuizando possessória
quando ocorre violação de meio-ambiente por esbulhadores.
20
4.8. PRINCÍPIO DA AMPLA DIVULGAÇÃO DA DEMANDA COLETIVA (CDC, ART. 94)
CDC Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim
de que os interessados possam intervir no processo como litisconsortes,
sem prejuízo de ampla divulgação pelos meios de comunicação social por
parte dos órgãos de defesa do consumidor.
Quando se ajuíza uma ação coletiva, ela pode afetar o interesse de indeterminadas
pessoas. É, por isso, que a demanda deve ser amplamente divulgada, vale dizer, para que todos
interessados tomem conhecimento e, querendo, ingressem como litisconsortes (assistente
litisconsorcial) ou saiam da ‘incidência’ daquela ação (“right to opt out”).
OBS2: A nova Lei vai prever que essa divulgação se dará através de comunicação direta existente
entre os interessados e o réu da ação. Exemplo: Ação coletiva contra empresa de telefonia. A
divulgação da existência dessa ação será feita pela própria conta que é enviada aos usuários-
interessados.
21
LAP
(4.717/65)
Estatuto
da Cidade ECA
(12.257/09 (8.069/90)
) LACP
(art.21)
NORMA DE CPC
REENVIO
CDC (art.
90) Estatuto
MS do Idoso
coletivo
(10.0741/0
(12.016/09 3)
)
LIA
(8.429/92)
O processo coletivo brasileiro adota a teoria do diálogo das fontes normativas (Cláudia Lima
Marques).
No entanto, tudo que trata de processo coletivo parte de dois diplomas centrais: CDC e
LACP.
O CDC (art. 90) fala: Aplica-se a mim tudo que tem na LACP.
A LACP (art. 21), por sua vez: Aplica-se a mim tudo o que tem no CDC.
Exemplo: Posso aplicar a inversão do ônus da prova (regra do CDC) em uma ACP sobre
dano ambiental.
Entretanto, além do núcleo central, cada um dos outros temas é tratado por Lei Específica
(LIA, Estatuto da Cidade, Idoso, Deficiente, Ação popular, ECA, 6938/81 – meio ambiente–, etc.).
Pelo princípio em análise, todas as normas paralelas devem se comunicar com o núcleo.
Como se não bastasse, as normas paralelas também se comunicam entre si, formando um total
diálogo das fontes. Na falta de norma da lei específica, busca-se no núcleo. Se não há norma
aplicável no núcleo, busca-se nas demais leis que formam o microssistema.
22
Interpenetração recíproca.
O CPC só é aplicável subsidiariamente, vale dizer, quando não existe norma aplicável em
nenhuma lei do microssistema processual coletivo (exemplo: nenhuma fala de prazo de apelação,
vamos então ao CPC, 15 dias)
Exemplo1: inversão do ônus da prova do art. 6º, VIII CDC em qualquer ação coletiva (STJ).
O que deve ser feito? Primeiro vai no CDC. Lá também não tem nada.
Vou agora atrás das demais normas que compõem o microssistema. Chegando na LAP, no
art. 19, eu encontro a regra do reexame. (OBS: MS coletivo tem regras próprias, portanto aqui não
se aplica)
Pergunto: Tem reexame necessário na Ação Civil Pública? Sim, quando for julgada
improcedente, nos termos da Lei de Ação Popular. Reexame necessário “invertido”.
A grande polêmica surge, por aqui, quando se indaga: além do controle legislativo também
há controle judicial da adequada representação, permitindo ao juiz, na análise do caso concreto,
considerar o autor incapaz de prosseguir na demanda.
* Um dos requisitos para a admissibilidade é a existência entre os interessados que se pretende tutelar, de
uma comunhão de questões de fato e de direito. Qualquer representante ou integrante dos grupos, classe
ou categoria interessada tem legitimidade para propor a ação.
23
** Aqui, a condição de representante de interesses metaindividuais e a capacidade para bem representá-lo
em juízo, é controlada pela lei (ope legis), que a presume de modo absoluto (iuris et de iure): desde que o
autor seja um dos órgãos ou entidades previstas nos respectivos diplomas legais, e preencha requisitos
nela especificados (caso das associações), não cabe ao julgador contestar sua representatividade
adequada.
Seguindo a corrente de Ada, quais critérios o juiz pode utilizar para controlar a
representação adequada de TODOS os legitimados do art. 5º da LACP?
O Controle deve ser feito de acordo com a finalidade institucional do autor coletivo.
Exemplos:
No Estado do Rio de Janeiro, o Ministério Público ajuizou ação civil pública contra a
Federação das Empresas de Transporte de Passageiros questionando o fato da operadora do
sistema de vale-transporte ter deixado de informar aos consumidores, na roleta do ônibus, o saldo
do vale-transporte eletrônico, passando a exibir apenas um gráfico quando o usuário passava pela
roleta.
A Turma, por maioria, reiterou que o Ministério Público tem legitimidade para propor ação
civil pública que trate da proteção de quaisquer direitos transindividuais, tais como definidos no
art. 81 do CDC.
Isso decorre da interpretação do art. 129, III, da CF em conjunto com o art. 21 da Lei n.
7.347/1985 e arts. 81 e 90 do CDC e protege todos os interesses transindividuais, sejam eles
decorrentes de relações consumeristas ou não.
24
Ressaltou a Min. Relatora que não se pode relegar a tutela de todos os direitos a
instrumentos processuais individuais, sob pena de excluir do Estado e da democracia aqueles
cidadãos que mais merecem sua proteção.
Este tema é bastante polêmico, não sendo posição pacífica no STJ. É importante
conhecer o precedente, mas sem esquecer que não se trata de entendimento consolidado.
2) Art. 134 da CF/88: Defensor público ingressa com ACP para discutir preço plano de saúde
de idosos. Pela 1ª corrente o juiz deve tocar a ação, pois a Defensoria está dentro do
controle do legislador e o juiz nada pode fazer. Pela segunda corrente, o juiz pode
controlar e excluir a Defensoria do polo ativo, tendo em vista que quempaga plano de
saúde não é necessito econônico.
A decisão que havia negado a legitimidade da DP em ACP que tratava do plano de saúde,
por considerar que não se tratava de hipossuficientes, foi uma análise de pertinência temática
(funções institucionais). Claro que este posicionamento não se manteve, tendo em vista que há
outras vulnerabilidades e não apenas a econômica.
CDC Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das
vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:
I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste
código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares
pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;
II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste
código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo,
categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por
uma relação jurídica base;
25
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os
decorrentes de origem comum.
Difusos
Naturalmente coletivos
Direitos ou interesses
Metaindividuais
(divisibilidade)
1.1) Difusos;
Interesses: São as pretensões não tuteladas por norma jurídica EXPRESSA, muito embora
tenham proteção jurídica.
Direitos: São as pretensões expressamente tuteladas pela lei. Para processo coletivo essa
distinção é inútil, nos termos do art. 81. Em razão disso, muitos autores sequer fazem essa
diferenciação.
26
Os direitos naturalmente coletivos se subdividem em Direitos Difusos e Direitos Coletivos
“stricto sensu”.
Características:
Exemplos
Características:
2) Os titulares são ligados entre si ou com a parte contrária, por uma RELAÇÃO
JURÍDICA BASE, anterior à lesão.
No primeiro caso: Advogados ligados entre si através da inscrição na OAB, formando uma
classe; no segundo caso: todos os contribuintes de determinado tributo (ligados à parte contrária),
formando um grupo de pessoas.
Exemplos
1) Súmula 643 do STF: Direito ao regular reajuste das Mensalidades Escolares. Não
há como determinar ao certo os titulares, porém é possível determinar o grupo
(estudantes da escola ‘x’). Baixa conflituosidade interna: ninguém quer pagar mais
a mensalidade. Baixa abstração: mensalidade, concreto.
27
2) Ações de sindicato para a tutela do interesse de trabalhadores. Há relação jurídica
entre os trabalhadores: estar vinculado a uma empresa.
Esses direitos, na realidade, são individuais. Cada pessoa tem a sua relação jurídica e tem o
direito a uma tutela jurisdicional própria, porém, em virtude da multiplicidade de sujeitos
titularizando relações jurídicas idênticas (massificação/padronização das relações jurídicas), esses
direitos individuais acabam tomando dimensões coletivas, motivo pelo qual o ordenamento trata-
os como se coletivos fossem.
Fundamentos:
O que levou o legislador a admitir que se tutelem por ações COLETIVAS pretensões
INDIVIDUAIS? Cinco fundamentos:
2) Economia processual;
3) Redução do custo judiciário: evidente que o julgamento de uma ação é menos oneroso
que julgar milhares de causas idênticas.
5) Aumento do acesso à justiça: com a tutela coletiva, permite-se que sejam tutelados
bens de valor antieconômico (exemplo de leite). Se não tivesse ação coletiva, ninguém
iria ingressar no judiciário para discutir, individualmente, 0,1 ml a menos de leite na
caixa. Onda renovatória do processo civil, conforme Brian Garth e Mauro Cappelletti.
Características:
28
4) Natureza individual dos direitos.
Exemplos:
1) Pílulas de farinha (Microvlar): Cada mulher tem o seu direito. No entanto, em virtude da
multiplicidade de mulheres na mesma situação, todos esses direitos podem ser
tratados em uma única ação coletiva. É a opção do sistema: dar tratamento de direito
coletivo para direitos individuais que são homogêneos.
Há quem adote a ideia de este direito ser coletivo (ter natureza coletiva) também e não
individual (Hermes Zanetti e Didier), visando a ampliação da tutela coletiva. Em sentido contrário
(Zavascki), outros afirmam que seria coletivo por uma ficção jurídica, representando um grupo.
5.3.1. Gráfico 01
EXISTÊNCIA DE NÃO ligados por uma SIM ligados por uma IRRELEVANTE o que
RELAÇÃO JURÍDICA circunstância de fato. relação jurídica base. importa é que sejam
decorrentes de ORIGEM
COMUM
5.3.2. Gráfico 02
29
5.4. OBSERVAÇÕES FINAIS RELACIONADAS AO OBJETO DO PROCESSO COLETIVO
OBS1: Nelson Nery: Na prática, o mesmo fato pode dar ensejo a ações coletivas para
tutela de diferentes interesses (difusos, coletivos e individuais homogêneos), de modo que isto só
30
se revelará pelo exame do caso concreto, conforme a pretensão buscada pelo autor (petição
inicial). Ou seja, é o TIPO DE PRETENSÃO que classifica o direito como difuso, coletivo ou
individual homogêneo.
Exemplo: Bateau Mouche. Esse mesmo fato pode ensejar: Ação do MPF para obrigar todas as
embarcações a ter salva-vidas suficientes (interesse difuso); Associação dos trabalhadores
embarcados pedindo a instalação de coletes nos barcos (interesse coletivo); associação de
famílias das vítimas pedindo indenização (interesse individual homogêneo).
CDC Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará
coisa julgada:
I - ERGA OMNES, exceto se o pedido for julgado improcedente por
insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá
intentar outra ação, com idêntico fundamento valendo-se de nova prova, na
hipótese do inciso I do parágrafo único do art. 81 (direitos difusos);
II - ULTRA PARTES, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe,
salvo improcedência por insuficiência de provas, nos termos do inciso
anterior, quando se tratar da hipótese prevista no inciso II do parágrafo
único do art. 81; (direitos coletivos)
III - ERGA OMNES, apenas no caso de procedência do pedido, para
beneficiar todas as vítimas e seus sucessores, na hipótese do inciso III do
parágrafo único do art. 81 (individuais homogêneos).
§ 1° Os efeitos da coisa julgada previstos nos incisos I (direitos difusos) e II
(direitos coletivos) não prejudicarão interesses e direitos individuais dos
integrantes da coletividade, do grupo, categoria ou classe.
§ 2° Na hipótese prevista no inciso III (individuais homogêneos), em caso de
improcedência do pedido, os interessados que não tiverem intervindo no
processo como litisconsortes (nos individuais homogêneos, se intervir como
litisconsorte perde a tutela individual, ver acima exemplo do burraldo)
poderão propor ação de indenização a título individual.
§ 3° Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado com o
art. 13 da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985 (LACP), não prejudicarão as
ações de indenização por danos pessoalmente sofridos, propostas
individualmente ou na forma prevista neste código, mas, se procedente o
pedido, beneficiarão as vítimas e seus sucessores, que poderão proceder à
liquidação e à execução, nos termos dos arts. 96 a 99. (transporte in
utilibus)
§ 4º Aplica-se o disposto no parágrafo anterior à sentença penal
condenatória.
LACP Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da
competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado
improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer
legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se
de nova prova. (Redação dada pela Lei nº 9.494, de 10.9.1997)
LAP Art. 18. A sentença terá eficácia de coisa julgada oponível "erga
omnes", exceto no caso de haver sido a ação julgada improcedente por
deficiência de prova; neste caso, qualquer cidadão poderá intentar outra
ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.
O que vamos falar aqui não se aplica a LIA e ao MS coletivo, essas duas ações tem
regime de coisa julgada próprio, específico, particular.
Os limites objetivos da coisa julgada coletiva são iguais aos do processo individual,
previstos no art. 502 a 508 do CPC/2015. Ou seja, somente a PARTE DISPOSITIVA da decisão é
atingida pela imutabilidade da coisa julgada.
Art. 503. A decisão que julgar total ou parcialmente o mérito tem força de lei
nos limites da questão principal expressamente decidida.
§ 1o O disposto no caput aplica-se à resolução de questão prejudicial,
decidida expressa e incidentemente no processo, se:
I - dessa resolução depender o julgamento do mérito;
II - a seu respeito tiver havido contraditório prévio e efetivo, não se
aplicando no caso de revelia;
III - o juízo tiver competência em razão da matéria e da pessoa para
resolvê-la como questão principal.
§ 2o A hipótese do § 1o não se aplica se no processo houver restrições
probatórias ou limitações à cognição que impeçam o aprofundamento da
análise da questão prejudicial.
Quanto aos limites subjetivos, o tratamento é bem diverso. Não se aplica aqui o art. 506
do CPC/2015 (efeito inter partes), mas sim os arts. 103 e 104 do CDC; 16 da LACP e 18 da LAP,
que preveem os limites “ultra partes” e “erga omnes” da coisa julgada.
Art. 506. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não
prejudicando terceiros.
32
Entretanto, conforme a melhor doutrina, a peculiaridade, aqui, decorre da chamada coisa
julgada “secundum eventum probationis”, ou seja, só há coisa julgada quando ocorre o
esgotamento das provas.
Na realidade, o que é secundum eventum litis não é a formação da coisa julgada, mas sim
sua extensão para a esfera jurídica individual dos interessados, vale dizer, somente no caso
de procedência a coisa julgada atinge os direitos individuais dos sujeitos (transporte in utilibus da
coisa julgada coletiva para o plano individual).
Ou seja, ela é secundum eventum litis na extensão subjetiva da coisa julgada e não no
modo de produção.
REGIME JURÍDICO DA COISA JULGADA ERGA COISA JULGADA ULTRA SEM FORMAÇÃO DE
COISA JULGADA OMNES (TODOS). PARTES (ATINGE TODO COISA JULGADA.
O GRUPO).
Impede outra ação coletiva. Não impede nova ação
Impede outra ação coletiva. coletiva.
SECUNDUM EVENTUM
PROBATIONIS)
SECUNDUM EVENTUM
PROBATIONIS)
INDIVIDUAIS Procedente ou x x
HOMOGÊNEOS Improcedente (qualquer
fundamento). Pro et contra.
De outro ângulo:
Procedente Faz coisa julgada Efeitos erga omnes Efeitos ultra partes
material
Improcedente – com Faz coisa julgada Efeito erga omnes Efeito ultra partes
provas suficientes material
Obs: impede somente Obs: impede somente
nova propositura de nova propositura de
ação coletiva. Não ação coletiva. Não
33
impede, entretanto, que impede, entretanto, que
as vítimas intentem as vítimas intentem
ações individuais pelos ações individuais pelos
danos individualmente danos individualmente
sofridos (art. 103, §1º sofridos (art. 103, §1º
CDC). CDC).
Improcedente por Não faz coisa julgada Qualquer legitimado do Qualquer legitimado do
insuficiência de provas material art. 82 CDC poderá art. 82 CDC poderá
intentar novamente a intentar novamente a
ação coletiva, bastando ação coletiva, bastando
possuir nova prova. possuir nova prova.
“Coisa julgada ultra partes” - há autores que não diferenciam esse fenômeno dos efeitos
erga omnes (Antonio Gidi). Para eles, não deveria haver distinção entre erga omnes e ultra partes,
deveria ter uma expressão que dissesse valer a decisão para todos os interessados.
Exemplo:
Ação coletiva contra o Microvilar é julgada procedente. Nesse caso, os titulares do direito
atingido podem usar a coisa julgada coletiva em seu benefício (transporte ‘in utilibus’).
Ação coletiva contra o Microvilar julgada improcedente. Nesse caso, não há repercussão na
esfera individual das mulheres prejudicadas, vale dizer, podem perfeitamente ingressar com a
respectiva ação individual.
34
EXCEÇÃO (onde a coisa julgada pode prejudicar): Art. 94 do CDC. Se o sujeito se habilita
como litisconsorte na ação coletiva, a coisa julgada vai lhe atingir de qualquer forma (procedente
ou improcedente), pois o sujeito será parte da ação. Ou seja, não poderá ingressar com ação
individual no caso de improcedência da coletiva.
CDC Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim
de que os interessados possam intervir no processo como
litisconsortes, sem prejuízo de ampla divulgação pelos meios de
comunicação social por parte dos órgãos de defesa do consumidor.
Hugo Nigro diz que esse dispositivo se aplica, além dos individuais homogêneos, aos
coletivos.
Não se aplica de forma alguma aos direitos difusos (não há como ser litisconsorte do MP em
ação que versa sobre o meio ambiente, por exemplo).
A Associação de Defesa da Saúde ajuizou, na Justiça Estadual de São Paulo, ação civil
pública contra a empresa "XXX" pedindo que ela fosse condenada a indenizar os danos morais e
materiais causados aos consumidores que adquiriam o medicamento "YY", que faria mal ao
coração, efeito colateral que teria sido omitido pela fabricante. Trata-se, portanto, de demanda
envolvendo direitos individuais homogêneos.
O pedido foi julgado improcedente em 1ª instância sob o argumento de que a autora não
conseguiu provar o alegado (insuficiência de prova). Houve apelação para o TJSP, que manteve a
sentença. A associação não recorreu contra o acórdão, que transitou em julgado.
35
A associação recorreu contra a decisão do juiz afirmando que só haveria coisa julgada se a
primeira ação coletiva tivesse sido julgada procedente. Como foi julgada improcedente, não
haveria coisa julgada.
Interpretando o inciso III em conjunto com o § 2º do art. 103, o STJ chegou à seguinte
conclusão:
De acordo com o art. 104 do CDC, para o autor da ação individual já proposta aproveitar o
transporte “in utilibus” da coisa julgada coletiva deverá requerer a suspensão da sua ação
individual em 30 dias a contar da ciência do ajuizamento da ação coletiva. Se não pedir a
suspensão, não será beneficiado pela decisão coletiva.
O réu deve avisar na ação individual que existe ação coletiva, “dever de informar”. E se
não houver o aviso do réu? Ainda que o autor perca a individual, ele poderá se beneficiar da
procedência da coletiva.
Uma vez requerida a suspensão, o processo individual fica parado por prazo indeterminado
até o julgamento da coletiva.
Mas essa suspensão é faculdade da parte ou o juiz pode determinar de ofício? Pela
literalidade do art. 104, é uma faculdade da parte.
Porém o STJ, decidiu que “ajuizada a ação coletiva atinente à macrolide geradora de
processos multitudinários, suspendem-se, obrigatoriamente, as ações individuais, no aguardo do
julgamento das ações coletivas, o que não impede o ajuizamento de outras individuais”.
Fundamento do STJ: Aplicação analógica do antigo art. 543-C do CPC (sobrestamento dos
recursos repetitivos), atual art. 1.036 do CPC/2015.
36
para julgamento de acordo com as disposições desta Subseção, observado
o disposto no Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal e no do
Superior Tribunal de Justiça.
§ 1o O presidente ou o vice-presidente de tribunal de justiça ou de tribunal
regional federal selecionará 2 (dois) ou mais recursos representativos da
controvérsia, que serão encaminhados ao Supremo Tribunal Federal ou ao
Superior Tribunal de Justiça para fins de afetação, determinando a
suspensão do trâmite de todos os processos pendentes, individuais ou
coletivos, que tramitem no Estado ou na região, conforme o caso.
§ 2o O interessado pode requerer, ao presidente ou ao vice-presidente, que
exclua da decisão de sobrestamento e inadmita o recurso especial ou o
recurso extraordinário que tenha sido interposto intempestivamente, tendo o
recorrente o prazo de 5 (cinco) dias para manifestar-se sobre esse
requerimento.
§ 3º Da decisão que indeferir o requerimento referido no § 2º caberá apenas
agravo interno. (Redação dada pela Lei nº 13.256, de 2016)
§ 4o A escolha feita pelo presidente ou vice-presidente do tribunal de justiça
ou do tribunal regional federal não vinculará o relator no tribunal superior,
que poderá selecionar outros recursos representativos da controvérsia.
§ 5o O relator em tribunal superior também poderá selecionar 2 (dois) ou
mais recursos representativos da controvérsia para julgamento da questão
de direito independentemente da iniciativa do presidente ou do vice-
presidente do tribunal de origem.
§ 6o Somente podem ser selecionados recursos admissíveis que contenham
abrangente argumentação e discussão a respeito da questão a ser decidida
Portanto, temos no Brasil hoje, graças ao STJ, dois modelos de suspensão das ações
individuais no aguardo da coletiva. Ficaria assim:
1ª C (Ada/Gajardoni): Não pode, pois a coisa julgada individual (específica) deve prevalecer
sobre a coisa julgada coletiva (que é genérica).
OBS: Nos difusos e coletivos a improcedência por falta de provas permite a nova propositura da
coletiva, mediante duas condições:
37
2) Preliminar de cabimento da nova ação (indicando que a primeira foi improcedente,
indicando a existência de novas provas etc.).
A nova propositura pode ser feita inclusive pelo legitimado que propôs a ação primitiva.
A nova propositura da ação coletiva por falta de provas não depende de expressa
manifestação judicial neste sentido na primitiva ação. Ou seja, não há necessidade (embora seja o
mais conveniente) que o juiz assim sentencie na primeira demanda: “julgo improcedente por falta
de provas”. A ausência de lastro probatório que provocou a improcedência deve decorrer do
próprio conteúdo da decisão.
Atenção: Na ação coletiva para a tutela dos DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS não
há coisa julgada “secundum eventum probationis”, de modo que improcedente a coletiva fecha-se
as portas para TODAS as ações coletivas. Sobram apenas as ações individuais.
Exceção: Na Justiça do Trabalho há precedentes indicando que as ações coletivas ajuizadas por
sindicatos julgadas improcedentes obstam as pretensões individuais dos sindicalizados. Ou seja,
a coisa julgada coletiva atinge as pretensões individuais, seja a coletiva procedente ou
improcedente. É um entendimento que vai de encontro ao espírito do processo coletivo e ao
princípio da máxima eficácia da tutela coletiva (transporte da coisa julgada “in utilibus”).
OBS: transporte in utilibus da sentença penal condenatória (art. 103, §4º CDC). Exemplo: crime
ambiental, crime contra o SFN. A condenação só vale contra o condenado, o que se quer dizer é
que não podemos atingir terceiros pelo transporte in utilibus.
Art. 103
§ 3° Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado com o
art. 13 da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985 (LACP), não prejudicarão as
ações de indenização por danos pessoalmente sofridos, propostas
individualmente ou na forma prevista neste código, mas, se procedente o
pedido, beneficiarão as vítimas e seus sucessores, que poderão proceder à
liquidação e à execução, nos termos dos arts. 96 a 99. (transporte in
utilibus)
§ 4º Aplica-se o disposto no parágrafo anterior à sentença penal
condenatória.
LACP Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da
competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado
improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer
legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se
de nova prova. (Redação dada pela Lei nº 9.494, de 10.9.1997)
1) Inconstitucionalidade (Cássio Scarpinella): esse dispositivo foi criado por MP, que não
atendia relevância e urgência, contaminando a lei convertida.
38
2) neficácia (Ada): são ineficazes porque não houve alteração concomitante do art. 103 do
CDC, que não contém tal restrição. O 103 CDC por ser específico prevalece sobre o 16
LACP.
CDC Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará
coisa julgada:
I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por
insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá
intentar outra ação, com idêntico fundamento valendo-se de nova prova, na
hipótese do inciso I do parágrafo único do art. 81;
II - ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo
improcedência por insuficiência de provas, nos termos do inciso anterior,
quando se tratar da hipótese prevista no inciso II do parágrafo único do art.
81;
III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar
todas as vítimas e seus sucessores, na hipótese do inciso III do parágrafo
único do art. 81.
Confusão (Nery Jr): o legislador confundiu aqui dois institutos de processo civil que não se
compatibilizam, quais sejam: COMPETÊNCIA e COISA JULGADA. Se uma decisão de um juiz
vale em qualquer lugar (ex.: divórcio), por que essa sentença coletiva não valeria? Falta de
razoabilidade. Se já fica difícil nos individuais homogêneos imagine-se nos difusos, exemplo: dano
ambiental em toda costa brasileira. Ao encontro destas considerações, o entendimento de Nelson
Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery, ad litteram:
(...) não há limitação territorial para a eficácia 'erga omnes' da decisão proferida em ação
coletiva, quer esteja fundada na LACP, quer no CDC. De outra parte, o Presidente da República
confundiu os limites subjetivos da coisa julgada, matéria tratada na norma, com jurisdição e
competência, como se, v.g., a sentença de divórcio proferida por juiz de São Paulo não pudesse
valer no Rio de Janeiro e nesta última comarca o casal continuasse casado! O que importa é
quem foi atingido pela coisa julgada material. No mesmo sentido: José Marcelo Menezes Vigliar,
RT 745/67. Qualquer sentença proferida por órgão do Poder Judiciário pode ter eficácia para além
de seu território. Até a sentença estrangeira pode produzir efeitos no Brasil, bastando para tanto
que seja homologada pelo STJ. Assim, as partes atingidas por seus efeitos onde quer que
estejam no planeta Terra. Confundir jurisdição e competência com limites subjetivos da coisa
julgada é, no mínimo desconhecer a ciência do direito.
Obs.: Por a explicação deste julgado (feita pelo Dizer o Direito) ser, extremamente, didática, irei
colar aqui, mesmo que repita alguns pontos já abordados.
39
Falar em “eficácia subjetiva” significa estudarmos “para quem” a sentença proferida na
ACP produz efeitos, isto é, as pessoas que são atingidas juridicamente pelo que foi decidido.
Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da
competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado
improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer
legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se
de nova prova. (Redação dada pela Lei nº 9.494/97)
Esse artigo foi alterado pela Lei n. 9.494/97, com o objetivo de restringir a eficácia subjetiva
da coisa julgada, ou seja, ele determinou que a coisa julgada na ACP produza efeitos apenas
dentro dos limites territoriais do juízo que prolatou a sentença.
A doutrina critica bastante a existência do art. 16 e afirma que ele não deve ser aplicado
por ser inconstitucional, impertinente e ineficaz.
O art. 93 do CDC, que se aplica também à LACP, traz regra diversa, já que prevê que,
em caso de danos nacional ou regional, a competência para a ação será do foro da Capital do
40
Estado ou do Distrito Federal, o que indica que essa decisão valeria, no mínimo, para todo o
Estado/DF.
Interessante também transcrever trecho do voto do brilhante Min. Luis Felipe Salomão, no
REsp 1.243.887⁄PR (STJ. Corte Especial, julgado em 19/10/2011):
A apontada limitação territorial dos efeitos da sentença não ocorre nem no processo
singular, e também, como mais razão, não pode ocorrer no processo coletivo, sob pena de
desnaturação desse salutar mecanismo de solução plural das lides.
A prosperar tese contrária, um contrato declarado nulo pela justiça estadual de São Paulo,
por exemplo, poderia ser considerado válido no Paraná; a sentença que determina a reintegração
de posse de um imóvel que se estende a território de mais de uma unidade federativa (art. 107,
CPC) não teria eficácia em relação a parte dele; ou uma sentença de divórcio proferida em
Brasília poderia não valer para o judiciário mineiro, de modo que ali as partes pudessem ser
consideradas ainda casadas, soluções, todas elas, teratológicas.
A questão principal, portanto, é de alcance objetivo ("o que" se decidiu) e subjetivo (em
relação "a quem" se decidiu), mas não de competência territorial.”
Assim, os efeitos e a eficácia da sentença prolatada em ação civil coletiva não estão
circunscritos a lindes geográficos, mas aos limites objetivos e subjetivos do que foi decidido (STJ.
Corte Especial. REsp 1.243.887⁄PR, Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 19/10/2011) (STJ. 3ª
Turma. AgRg no REsp 1326477/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 06/09/2012). (STJ. 2ª
Turma. REsp 1.377.400-SC, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 18/2/2014. Info 536).
2º corrente: o art. 16 da LACP é válido, porém, só se aplica a ações civis públicas que
envolvam direitos individuais homogêneos.
Logo, esse art. 16 não vale para ACPs que tratem sobre direitos difusos e coletivos “stricto
sensu” (STJ. 3ª Turma. REsp 1.114.035-PR, Rel. originário Min. Sidnei Beneti, Rel. para acórdão
Min. João Otávio de Noronha, julgado em 7/10/2014).
Para essa segunda corrente, o art. 16 da LACP somente se aplica aos direitos individuais
homogêneos porque estes podem ser divididos, ou seja, o tratamento pode ser diferente para
cada um dos titulares. Por outro lado, os direitos difusos e coletivos, “stricto sensu” são
41
indivisíveis, de forma que não há lógica em alguém dizer que uma decisão envolvendo o meio
ambiente, por exemplo (direito difuso), irá valer apenas para determinados limites territoriais.
De igual forma, se uma sentença determina a uma empresa que retire do mercado
determinado produto considerado lesivo à saúde dos consumidores isso irá beneficiar beneficiará,
de forma indistinta, todo o universo de consumidores que poderiam vir a consumi-lo, onde quer
que se encontrem.
É interessante destacar duas observações feitas pelo Min. João Otávio de Noronha para
defender seu entendimento: i) o STF negou a medida cautelar para declarar o art. 16
inconstitucional (ADI 1576 MC); ii) ao contrário do que se comumente afirma, a invalidade do art.
16 da LACP ainda não foi assentada pela Corte Especial, considerando que no julgamento do
REsp 1.243.887⁄PR, a conclusão de que esse dispositivo não poderia ser aplicado foi mero obiter
dictum feito pelo Min. Luis Felipe Salomão, não tendo integrado a decisão.
Imagine que se adote a 2ª corrente. O juiz decidiu uma ACP envolvendo direitos individuais
homogêneos e este processo chegou até o STJ, por meio de recurso especial. Após o STJ decidir
o recurso, os efeitos dessa decisão serão nacionais pelo fato de STJ abranger todo o país?
NÃO. O simples fato de a causa ter sido submetida à apreciação do STJ, por meio de
recurso especial, não faz com que os efeitos da sentença prolatada na ACP passem a ter alcance
nacional. O efeito substitutivo do art. 1.008 do CPC/2015, decorrente do exame meritório do
recurso especial, não tem o condão de modificar os limites subjetivos da causa.
Ex.: se a sentença foi proferida por um juiz de direito de Limeira (SP), os efeitos da decisão
somente valerão para os titulares dos direitos individuais homogêneos de Limeira (SP), mesmo
tendo o STJ confirmado a sentença.
O art. 16 da LACP (Lei 7.347/1985), que restringe o alcance subjetivo de sentença civil aos limites
da competência territorial do órgão prolator, tem aplicabilidade nas ações civis públicas que
envolvam direitos individuais homogêneos. Ressalte-se, no entanto, que se trata de tema ainda
polêmico, havendo decisões em sentido contrário, conforme vimos acima. Imagine agora que o
juiz decidiu uma ACP envolvendo direitos individuais homogêneos e este processo chegou até o
STJ, por meio de recurso especial. Após o STJ decidir o recurso, os efeitos dessa decisão serão
nacionais? NÃO. O simples fato de a causa ter sido submetida à apreciação do STJ, por meio de
recurso especial, não faz com que os efeitos da sentença prolatada na ACP passem a ter alcance
nacional. Assim, os efeitos da ACP continuariam restritos aos limites da competência territorial do
juiz prolator da sentença. Ex.: se a sentença foi proferida por um juiz de direito de Limeira (SP), os
efeitos da decisão somente valerão para os titulares dos direitos individuais homogêneos de
Limeira (SP), mesmo tendo o STJ confirmado a sentença.
42
Logo após a decisão acima explicada (REsp 1.114.035-PR), a 3ª Turma do STJ deparou-
se com o seguinte caso concreto:
O MPF ajuizou, na seção judiciária do Distrito Federal, ação civil pública contra a União, o
Banco Central e o Banco do Brasil. Na ação, intervieram, como assistentes do autor, algumas
entidades de classe de âmbito nacional. A lide proposta pelo MPF versava sobre direitos
individuais homogêneos. O juiz julgou procedente o pedido e, após passar pelo TRF, a questão
chegou, por meio de recurso especial, até o STJ.
Em tese, NÃO. Neste julgado (REsp 1.319.232-DF), o Min. Paulo de Tarso Sanseverino
concorda e menciona expressamente a decisão proferida no julgado anterior (REsp 1.114.035-
PR), no entanto, diante das peculiaridades do caso concreto (ter sido a ação proposta contra a
União, no Distrito Federal e contendo a participação de entidades de caráter nacional), a eficácia
da coisa julgada deverá ter abrangência nacional. Reconheço que tudo isso parece ser
contraditório, mas até que haja uma definição mais segura sobre o tema, é preciso que você
guarde as diferenças entre os casos concretos porque isso pode ser cobradoexatamente dessa
forma nas provas.
CPC/2015
Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:
V - Reconhecer a existência de perempção, de litispendência ou de coisa
julgada;
Exemplo1: irmão para defender a posse de uma propriedade que possui em condômino
com o outro irmão: este não poderá ingressar novamente com a ação, em que pese não haja
identidade de partes, pois a relação material já foi decidida.
Exemplo2: Gajardoni e a ação de aposentadoria rural. O indivíduo entra com uma ação para
reconhecer a aposentadoria comum e para juntar a aposentadoria rural e contar para tal fim. É
improcedente porque ele não prova. Depois o advogado entra de novo, só que com uma ação de
aposentadoria específica rural. O pedido é diferente, entretanto a relação jurídica material é a
mesma. Gajardoni indeferiu pela teoria da identidade da relação jurídica material.
CPC 2015
Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:
V - reconhecer a existência de perempção, de litispendência ou de coisa
julgada;
§ 3o O juiz conhecerá de ofício da matéria constante dos incisos IV, V, VI e
IX, em qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto não ocorrer o trânsito
em julgado.
44
7.2.2. Identidade PARCIAL dos elementos da ação individual
Conexão (CPC/2015 art. 103) ou continência (CPC/2015 art. 56). Sendo possível, deve ser
promovida a reunião das causas, para julgamento conjunto. Em não sendo possível, uma delas
deve ser suspensa, evitando-se decisões contraditórias.
Art. 55. Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quando lhes for
comum o pedido ou a causa de pedir.
Art. 56. Dá-se a continência entre 2 (duas) ou mais ações quando houver
identidade quanto às partes e à causa de pedir, mas o pedido de uma, por
ser mais amplo, abrange o das demais.
NÃO HÁ.
Nunca uma individual será idêntica a uma coletiva. As partes nunca serão iguais; os
pedidos nunca serão iguais. Essa é a regra do art. 104 do CDC: A ação coletiva não induz
litispendência na ação individual. Ou seja, não há coisa julgada ou litispendência entre ação
individual e ação coletiva.
Isto porque na ação para defesa dos difusos/coletivos o pedido é um bem ou direito
metaindividual em detrimento de um pedido específico na defesa do direito individual (art. 95
CDC).
45
Exemplo: Associação de defesa das mulheres entra com ação coletiva contra o Microvlar; de outra
banda, uma mulher entra contra o Microvlar. Ambas as ações têm como causa de pedir a pílula de
placebo (fato jurídico – causa de pedir remota) e o direito à indenização pelo dano moral
provocado (fundamento jurídico – causa de pedir próxima). Ambas têm o mesmo pedido:
Indenização.
Consequência: art. 104 do CDC: Suspensão da demanda individual. Para a lei é facultativa.
Para o STJ é obrigatória, o judiciário pode suspender por conta própria. REsp 1110549/RS
(Caso: DPE/RS e TJ/RS x Plano Bresser. Ver caderno Processo Civil)
Art. 104. As ações coletivas, previstas nos incisos I (aponta os difusos, mas
devemos ler como coletivos, ou seja, inciso II) e II (aponta os coletivos, mas
devemos ler como individuais homogêneos, ou seja, inciso III) e do
parágrafo único do art. 81, não induzem litispendência para as ações
individuais, mas os efeitos da coisa julgada erga omnes ou ultra partes a
que aludem os incisos II (coletivos) e III (individuais homogêneos) do artigo
anterior não beneficiarão os autores das ações individuais, se não for
requerida sua suspensão no prazo de trinta dias, a contar da ciência nos
autos do ajuizamento da ação coletiva.
Aqui há um erro. Na primeira parte do artigo, ele não fala do inciso III, que fala dos
individuais homogêneos. Quando o art. 104 do CDC, fala dos incisos I e II do art. 81, na verdade
quis indicar o art. II e III, de modo que só haverá suspensão da ação individual conexa, se
pendente ação coletiva para tutela dos coletivos e individuais homogêneos. Ou seja, se a conexa
for para tutela dos DIFUSOS, não há suspensão, pois não terá nada a ver uma com a outra!
Não necessariamente são coletivas de mesma natureza. Ação coletiva genérica (exemplo:
AP x ACP).
É possível.
Mesmas partes: Os legitimados ordinários podem ser os mesmos (parte material), mesmo
que os legitimados extraordinários sejam diferentes (parte processual).
Coisa julgada: é possível, mas não posso esquecer que a coisa julgada nos difusos e
coletivos é secundum eventum probationis, isto porque se uma delas foi julgada por falta de
provas, a ação poderá ser reproposta.
46
Para os individuais homogêneos, o sistema não permitiu a coisa julgada eventum
probationis, portanto, sendo julgada por falta de provas (aqui se trata de coisa julga pro et contra),
somente restará as ações individuais.
Fundamento: A extinção pode acabar com a ação que estava mais bem instruída (princípio
do máximo benefício). Além disso, a extinção de um processo permite que o legitimado ingresse
no outro como interveniente, o que acabará gerando mais tumulto do que a reunião dos feitos.
Tem prevalecido nos tribunais.
Exemplo: Pedidos diferentes e causas de pedir iguais. Como, por exemplo, ações contra
um prefeito que meteu a mão na grana da prefeitura: uma ACP pelo MP e uma Ação Popular. A
causa de pedir é a mesma.
ATENÇÃO!
47
Toda continência é também uma conexão. Isso porque em toda continência a causa de
pedir é igual e isso já é conexão. Mas, tecnicamente, houve mera conexão ou efetivamente
ocorreu continência?
Requisitos da continência:
O polo ativo da segunda ação (proposta em Salvador) é mais amplo e abrange não apenas
os pescadores de São Francisco do Conde/BA, mas também de outros municípios. O aspecto
subjetivo da litispendência nas ações coletivas deve ser visto sob a ótica dos beneficiários
atingidos pelos efeitos da decisão, e não pelo simples exame das partes que figuram no polo ativo
da demanda. Assim, considera-se que há partes iguais porque os moradores de São Francisco do
Conde/BA serão atingidos pelo resultado das duas demandas. Não se considera como partes,
para fins de continência, a Colônia e a Federação de pescadores.
Competirá ao juízo da ação de objeto mais amplo o processamento e julgamento das duas
demandas. Logo, a competência será da Vara de Salvador.
Prevenção.
O CPC/73 previa dois critérios de prevenção do juiz e, ainda, tínhamos o critério da LACP,
quais sejam:
1) Art. 106 do CPC/73 (mesma comarca): O juiz que primeiro deu despacho positivo (“cite-
se”).
Art. 106. Correndo em separado ações conexas perante juízes que têm a
mesma competência territorial, considera-se prevento aquele que
despachou em primeiro lugar.
2) Art. 219 do CPC/73 (comarcas diversas): Processo onde houve a primeira citação válida.
48
Art. 219. A citação válida torna prevento o juízo, induz litispendência e faz
litigiosa a coisa; e, ainda quando ordenada por juiz incompetente, constitui
em mora o devedor e interrompe a prescrição.
LACP
Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde
ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar
a causa.
LAP Art. 5º
§ 3º A propositura da ação PREVENIRÁ a jurisdição do juízo para todas as
ações, que forem posteriormente intentadas contra as mesmas partes e sob
os mesmos fundamentos.
Lembrando: se considera a ação proposta quando é dado o despacho inicial (um só juiz na
comarca) ou quando ocorre a distribuição (mais de um juiz).
ATENÇÃO!
OBS1: há autores que enxergam um juízo universal das ações coletivas (não é o mesmo efeito
do “juízo universal da falência”, isso porque aqui só caem as coletivas – TODAS coletivas).
Atenção: para o estudo deste tema, devemos desconsiderar o art. 16 da ACP. Se aplicada
com rigor a regra do art. 16 da LACP, fica impossível a unificação para julgamento conjunto das
ações coletivas relacionadas. Uma vez que, nesses casos, a decisão só valeria nos limites da
competência territorial do órgão prevento. Bizarro! .
Vamos explicar a súmula com um exemplo concreto: O Ministério Público do Estado de São
Paulo ingressou com uma ação civil pública, na Justiça estadual, contra “B”, conhecida rede de
fast food, questionando o fato dessa rede vender kits de lanches infantis acompanhados de
brinquedos. O MPE-SP formulou os seguintes pedidos:
49
1) “B” deve ser proibida de comercializar lanches infantis em conjunto com a entrega de
brinquedos; e também
2) “B” deve ser compelida a oferecer a venda separada dos brinquedos, para que, assim, não
obrigue as crianças a comprar o lanche para ganhar os brindes.
Algum tempo após essa primeira ação, o Ministério Público federal ajuizou outra ACP, na
Justiça Federal de São Paulo, contra “B” e também contra a rede de fast food “M”. O MPF-SP fez
os seguintes pedidos alternativos:
1) “B” e “M” devem ser proibidas de comercializar lanches infantis em conjunto com a entrega
de brinquedos; ou então
2) “B” e “M” devem ser compelidos a oferecer a venda separada dos brinquedos.
Apesar de o juízo estadual ser prevento, neste caso, o instituto da prevenção não pode ser
utilizado para definir a competência. Isso porque estando o MPF na lide, a causa deve tramitar
obrigatoriamente na Justiça Federal.
Para fins de competência, o MPF é considerado como órgão da União, de modo que a sua
presença atrai a competência para a Justiça Federal, nos termos do art. 109, I, da CF/88
(lembrando que a competência da Justiça estadual é residual). Assim, o critério a ser adotado
nesse caso é a presença do MPF (órgão da União).
Será competente a Justiça Federal, ainda que o juízo federal não seja prevento. Dessa feita,
o STJ tem entendido, de modo reiterado, que, em tramitando ações civis públicas promovidas por
integrantes do Ministério Público estadual e federal nos respectivos juízos e, em se mostrando
consubstanciado o conflito, caberá a reunião das ações no juízo federal (CC 112.137/SP).
Vejamos algumas manifestações do STJ sobre o tema e que podem ser cobradas nas
provas:
ALERTA: As regras que veremos a seguir se aplicam a todos os processos coletivos, salvo
MS coletivo, que segue as regras próprias da LMS.
4) Critério territorial;
OBS1: Houve tentativa legislativa de criar foro especial para as Ações de Improbidade (alteração
no CPP, declarada inconstitucional na ADI 2797). Ver administrativo - improbidade.
OBS2: Se admitido o cabimento da Ação de Improbidade contra agentes políticos, Hugo Nigro
adverte que eventual perda do cargo não poderá ser decretada pelo juiz de 1º grau, se a forma de
desinvestidura do cargo tiver previsão constitucional.
OBS3: Apesar da regra geral, o STF já pronunciou na Pet. 3211, que, SE COUBER Improbidade
Administrativa contra Ministro do STF, só ele (STF) pode julgar.
OBS4: exceção – art. 102, II, N da CF. Competência do STF em julgar causas no interesse de
toda magistratura. Ou seja, se tem uma ACP pela associação nacional dos magistrados, vai ser
excepcionalmente julgada no STF.
Veremos:
1) Justiça Eleitoral;
2) Justiça do Trabalho;
3) Justiça Federal;
4) Justiça Estadual.
51
8.2.1. Justiça Eleitoral (art. 121 CR)
Em tese, cabe processo coletivo na justiça eleitoral (causa de pedir: questões político-
partidárias ou relativas a sufrágio). Não existem exemplos fáticos, um exemplo hipotético seria um
ACP devido ao desvio do repasse do fundo partidário.
Exemplo: ACP contra poluição de rio da União. Quem julga? A princípio é a JE. Se o ente federal
demonstrar interesse, aí sim vai pra JF. Se ficar comprovado o interesse, permanece na JF. Do
contrário, volta para a JE.
OBS1: Súmula 150 do STJ: Quem julga a existência do interesse federal é a JF (ver Competência
em processo civil - Fredie).
Somente um juiz federal poderá dizer se um desses entes poderá ou não estar em juízo.
Se tem um processo na justiça estadual e um ente federal pede para intervir, o juiz estadual não
pode fazer nada, ele terá que remeter ao juiz federal para que este diga se o ente federal pode ou
não intervir.
Exemplo: ACP ambiental. IBAMA (autarquia federal) diz que tem interesse na causa por conta da
repercussão nacional. Não sendo algo absurdo, o juiz estadual não poderá decidir, ele remete ao
juiz federal. Este último, entendendo ter interesse da União, o processo prossegue, caso contrário,
exclui o IBAMA da lide e devolve para o juiz estadual, este, por sua vez, conclui que o IBAMA tem
sim interesse na causa. O que ele pode fazer? NADA. Nem ao menos suscitar conflito, isso
porque a Súmula atribui unicamente ao Juiz Federal a competência de decidir quanto ao interesse
da União, autarquias e etc.
52
OBS2: muitos relacionam a competência da JF com a natureza do bem debatido, ver na CF os
bens da União (art. 20). Cuidado, o que define não é a natureza do bem e sim o ente envolvido,
vale dizer, o bem pode ser da União, não obstante ela não ter interesse na causa. O que define é
a participação da União, autarquia ou EP no processo.
OBS3: súmula 42 STJ. Só relembrando: a competência para julgar causa em que participe
sociedade de economia mista não é da JF. Não consta do art. 109.
A simples presença do MPF na lide faz com que a causa seja da Justiça Federal? Em outras
palavras, todas as ações propostas pelo Parquet federal serão, obrigatoriamente, julgadas
pela Justiça Federal?
53
Na doutrina há duas correntes:
2ªC: qualquer justiça. O MPF não é autarquia da União. É independente. O MPF poderia
ajuizar uma ação na JE quando não tivesse como réu União, autarquias, fundações e
EPs. O MPF poderia ajuizar ação contra o governo estadual, poderia ajuizar na justiça
do trabalho.
OBS4: Art. 109, V-A CRFB. IDC incidente de deslocamento de competência. Embora
atualmente só exista casos referentes a crime, pode-se ter o IDC em sede de ACP. Exemplo:
ACP para obrigar o estado a melhorar as condições carcerárias.
Não é o fato de ter índio no processo que traz a competência para JF. É a causa de
pedir = direitos dos povos indígena. Pode haver ACP.
Critério residual.
No âmbito nacional esse critério só tem uma utilidade: definir competência do JEC.
Como o art. 3º, I da Lei 10.259/01, prevê que não cabe ação coletiva nos Juizados (nem nos
da Fazenda Pública) o critério valorativo perde toda sua utilidade na análise dos direitos difusos e
coletivos. Art. 2º, §1, I da lei 12153/09.
CDC
Art. 93. Ressalvada a competência da Justiça Federal, é competente para a
causa a justiça local:
I - no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de âmbito
local;
II - no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos de
âmbito nacional ou regional, aplicando-se as regras do Código de Processo
Civil aos casos de competência concorrente.
1) Dano local: A competência é do foro do local do dano (regra idêntica ao art. 2º da LACP).
LACP Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local
onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funcional para processar e
julgar a causa.
Parágrafo único A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para
todas as ações posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de
pedir ou o mesmo objeto. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de
2001)
STJ: a competência para processar e julgar ação civil pública é absoluta e se dá em função
do local onde ocorreu o dano. EDcl. No CC 113.788/DF.
O art. 93 do CDC não define o que é dano regional e o que é dano nacional. Não há uma
solução única para o problema. A doutrina e jurisprudência adotam a solução casuística. Somente
no caso concreto, é possível mensurar a extensão do dano.
Outra crítica: O que o DF teria a ver com um dano causado a 10 Estados (dano nacional)
que se localizam a quilômetros de distância da capital federal? Ou ainda, várias cidades dentro de
um estado, mas a quilômetros e quilômetros de distância da capital (dano regional)?
55
Competência concorrente: Como prevê o próprio art. 93, aplicam-se ao caso as regras de
prevenção do CPC.
Art. 93...
II - no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos de
âmbito nacional ou regional, aplicando-se as regras do Código de
Processo Civil aos casos de competência concorrente.
Âmbito regional (várias localidades de um mesmo Será competente o foro da justiça estadual na
estado). Capital do Estado.
Âmbito nacional (em mais de um Estado) Será competente o foro da justiça estadual na
Capital do Estado ou o foro do Distrito Federal, pois
possuem competências concorrentes.
LACP Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local
onde ocorrer o dano (ou perigo do dano), cujo juízo terá competência
funcional para processar e julgar a causa.
Parágrafo único A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para
todas as ações posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de
pedir ou o mesmo objeto.
ECA Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão propostas no foro do
local onde ocorreu ou deva ocorrer a ação ou omissão, cujo juízo terá
competência absoluta para processar a causa, ressalvadas a competência
da Justiça Federal e a competência originária dos tribunais superiores.
56
OU SEJA, não interessa a extensão do dano (local, regional ou nacional). Qualquer comarca
atingida seria competente.
ATENÇÃO: Para essa corrente, na regra concernente aos direitos individuais homogêneos
(art. 93 do CDC) a competência seria relativa; na regra dos direitos naturalmente coletivos (art. 2º
da LACP), a competência seria absoluta.
Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da
competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado
improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer
legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se
de nova prova.
Ou seja, a decisão só vale para quem reside dentro dos limites territoriais do órgão prolator
da decisão.
Desproporcional, pois leva a uma situação esdrúxula onde se exigirá uma ação coletiva em
cada comarca brasileira onde a mesma conduta esteja provocando danos, o que vai totalmente
contra o sentido do processo coletivo de molecularização das demandas.
Ineficaz, pois a alteração legislativa se mostrou capenga, visto que o art. 103 do CDC (que
também fala da eficácia subjetiva da ação coletiva) NÃO FOI ALTERADO pela Lei de 1997. Ou
seja, as decisões continuam não sendo limitadas a qualquer território, bastando, para tanto,
aplicar ao caso a norma do CDC, o que é perfeitamente possível pelo princípio do microssistema
(Nery, Hugo Nigro).
CDC Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará
coisa julgada:
I - ERGA OMNES, exceto se o pedido for julgado improcedente por
insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá
intentar outra ação, com idêntico fundamento valendo-se de nova prova, na
hipótese do inciso I do parágrafo único do art. 81 (difusos);
II - ULTRA PARTES, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe,
salvo improcedência por insuficiência de provas, nos termos do inciso
anterior, quando se tratar da hipótese prevista no inciso II do parágrafo
único do art. 81 (coletivos stricto sensu);
III - ERGA OMNES, apenas no caso de procedência do pedido, para
beneficiar todas as vítimas e seus sucessores, na hipótese do inciso III do
parágrafo único do art. 81 (individuais homogêneos).
57
A jurisprudência PREGAVA a absoluta validade da limitação do art. 16 da LACP. Ou seja,
quanto à ACP, os efeitos da coisa julgada limitavam-se ao território do órgão julgador (EREsp.
399.357 - Corte especial - de 05/10/2009).
Houve uma brecha nesses julgados: aplicação do art. 512 do CPC/73 (atual art. 1.008 do
CPC/2015), que prevê o efeito substitutivo do julgamento do recurso.
Ou seja, quando a ação coletiva fosse julgada em 2º grau, seus efeitos deverão atingir todos
que se encontram nos limites territoriais de sua competência. Concluindo: Decisão de 1º grau
valeria somente para a comarca; decisão de Tribunal valeria para a região; decisão de tribunal
superior vale para todo o país.
O que isso poderia gerar? O poder público poderia deixar de recorrer das ações, mesmo
quando for sucumbente, a fim de não ver expandida a eficácia da coisa julgada coletiva.
Havia posição dentro do próprio STJ entendendo que essa limitação não se aplicaria ao
CDC, mas somente à LACP (que não trata de direitos individuais homogêneos). Nesse caso,
prevaleceria a regra do CDC quando a ação coletiva tratasse de individuais homogêneos (STJ
REsp. 411.529).
O STF já entendeu que essa limitação não se aplica a órgãos jurisdicionais com
competência em todo o território nacional (RMS 23.566 - Informativo 258).
O relator do caso foi o ministro Luís Felipe Salomão e a decisão se deu em julgamento
submetido ao rito dos recursos repetitivos (543-C do CPC/73), fazendo com que o precedente
gere efeitos em outros processos que tenham a mesma causa de pedir em relação aos limites
objetivos e subjetivos das sentenças proferidas em processos coletivos.
58
Por fim, em 2014, o STJ manifestou-se no sentindo de que o referido artigo aplica-se,
apenas, aos direitos individuais homogêneos (conforme informativo 552 do STJ, explicado acima).
ATENÇÃO! Em prova para DP, a questão já foi cobrada mais de uma vez, sempre se
entendendo que este artigo não deve ser aplicado. Vide DPEPR, DPEDF, DPEES.
CDC Art. 82. Para os fins do art. 81 (defesa dos direitos coletivos lato
senso), parágrafo único, são legitimados concorrentemente:
...
IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que
incluam entre seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos
protegidos por este código, dispensada a autorização assemblear.
§ 1° O requisito da pré-constituição pode ser dispensado pelo juiz, nas
ações previstas nos arts. 91 e seguintes, quando haja manifesto interesse
social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela
relevância do bem jurídico a ser protegido.
Lei 9494/97 Art. 2o-A. A sentença civil prolatada em ação de caráter coletivo
proposta por entidade associativa, na defesa dos interesses e direitos dos
seus associados, abrangerá apenas os substituídos que tenham, na data da
propositura da ação, domicílio no âmbito da competência territorial do órgão
prolator. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)
Parágrafo único. Nas ações coletivas propostas contra a União, os Estados,
o Distrito Federal, os Municípios e suas autarquias e fundações, a petição
inicial deverá obrigatoriamente estar instruída com a ata da assembleia da
entidade associativa que a autorizou, acompanhada da relação
nominal dos seus associados e indicação dos respectivos endereços.
(Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)
Os sindicatos podem propor ações coletivas em favor da categoria que representam? SIM.
A CF/88 autoriza que os sindicatos façam a defesa, judicial ou extrajudicial, dos direitos e
interesses individuais e coletivos da categoria que representam. Veja:
SIM. A doutrina afirma que, quando o inciso III do art. 8º da CF/88 fala em “direitos e
interesses coletivos”, está utilizando a palavra “coletivo” em sentido amplo, de forma que os
sindicatos podem defender direitos difusos, coletivos (stricto sensu) e individuais homogêneos da
categoria.
Porque o sindicato, quando atua na defesa dos direitos supraindividuais da categoria, age
como substituto processual (legitimado extraordinário) e não como representante processual.
O substituto processual não precisa da autorização dos substituídos porque esta foi dada
pela lei (no caso do sindicato, esta autorização foi dada pela CF/88, art. 8º, III). É a posição
pacífica do STJ:
Ocorre quando alguém, em nome próprio, pleiteia em juízo interesse alheio (de outrem).
Confere-se legitimidade a alguém para discutir em juízo direito que não é dele. A legitimidade
extraordinária somente é admitida de forma excepcional no CPC. A legitimação extraordinária
somente pode ser estabelecida por meio de lei ou, em alguns casos, como uma decorrência lógica
do sistema.
SIM. A CF/88 autoriza que as associações façam a defesa, judicial ou extrajudicial, dos
direitos e interesses individuais e coletivos de seus associados (art. 5º, XXI, da CF/88).
A associação precisa da autorização dos associados para propor a ação na defesa de seus
interesses?
SIM. O inciso XXI do art. 5º da CF/88 exige que as associações tenham sido expressamente
autorizadas. Veja:
Art. 5º (...)
XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm
legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;
Ocorre que o juiz somente aceitou a execução proposta pelos filiados que haviam
autorizado expressamente o ajuizamento da ação. Quanto aos associados que não assinaram a
autorização, a execução não foi conhecida pelo juiz sob o argumento de que os efeitos da
sentença judicial transitada em julgado somente alcançam os associados (Promotores) que, na
data da propositura da ação de conhecimento, autorizaram expressamente que a associação
ingressasse com a demanda. Em suma, para o magistrado, somente tem direito de executar a
decisão os filiados que autorizaram a propositura da ação.
Sustentaram que o art. 5º, XXI da CF/88 não exige que se colha uma autorização
individual dos filiados para cada ação ajuizada pelas associações, sob pena de se esvaziar a
atribuição de tais entidades na defesa dos seus membros.
61
Aduziram, ainda, que a associação atuou na qualidade de substituto processual, razão
pela qual não seria necessária a autorização, considerando que isso já consta expressamente de
seu estatuto.
Art. 5º (...)
XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm
legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;
Logo, no caso concreto, como não foi aprovada na assembleia geral da entidade, somente
os associados que apresentaram, na data da propositura da ação de conhecimento, autorizações
individuais expressas, puderam executar o título judicial proferido na ação coletiva.
Conforme deixou claro o STF, essa autorização é um traço que distingue a legitimidade
das entidades associativas (art. 5º, XXI) em relação à legitimidade das entidades sindicais (art. 8º,
III).
Art. 5º (...)
LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:
(...)
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente
constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos
interesses de seus membros ou associados;
Quadro-resumo:
62
Vale ressaltar que o STJ tem firme posição em sentido contrário, ou seja, para ele as
associações não precisam de autorização expressa dos seus filiados. Nesse sentido:
Cumpre esclarecer, no entanto, que o STJ terá que se curvar ao entendimento do STF,
considerando que a matéria é constitucional (envolve a interpretação do art. 5º, XXI, da CF/88) e a
decisão foi proferida pelo Plenário sob a sistemática da repercussão geral.
Nestas causas, em regra, não pode o particular intervir como assistente, a uma por questão
de ordem pragmática (comprometimento do exercício da jurisdição) e, a outra, pela ausência de
interesse em virtude da possibilidade do transporte in utilibus da coisa julgada coletiva para a
esfera particular.
63
Lei 7853/89 Art. 3º As ações civis públicas destinadas à proteção de
interesses coletivos ou difusos das pessoas portadoras de deficiência
poderão ser propostas pelo Ministério Público, pela União, Estados,
Municípios e Distrito Federal; por associação constituída há mais de 1 (um)
ano, nos termos da lei civil, autarquia, empresa pública, fundação ou
sociedade de economia mista que inclua, entre suas finalidades
institucionais, a proteção das pessoas portadoras de deficiência.
§ 5º Fica facultado aos demais legitimados ativos habilitarem-se como
litisconsortes nas ações propostas por qualquer deles.
Acresça-se ainda a necessidade de o novo pedido compor demanda conexa com aquela já
ajuizada, de modo que, se fosse proposto em ação autônoma, seria imperiosa a reunião dos
feitos. Caso assim não fosse, o terceiro interveniente estaria escolhendo o juiz da causa, violando
o princípio do juiz natural.
Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de que
os interessados possam intervir no processo como litisconsortes, sem
prejuízo de ampla divulgação pelos meios de comunicação social por parte
dos órgãos de defesa do consumidor.
64
qualificada. Não obstante o embate doutrinário, o art. 94, do CDC é claro ao tratar o particular
interveniente como litisconsorte, o que elimina problemas de ordens práticas.
Ademais, em crítica ao modelo adotado pelo art. 94, do CDC, aduz Antônio Gidi que “Muito
mais adequado seria se adotasse o mesmo tratamento que dispensou para os casos de defesa
coletiva de direitos superindividuais (difuso e coletivo), em que vedou a intervenção do particular
na ação coletiva, mas impediu a formação de coisa julgada erga omnes ou ultra partes nos casos
de improcedência por insuficiência de provas”.
Lei 6385/76 Art. 31 - Nos processos judiciários que tenham por objetivo
matéria incluída na competência da Comissão de Valores Mobiliários, será
esta sempre intimada para, querendo, oferecer parecer ou prestar
esclarecimentos, no prazo de quinze dias a contar da intimação.
A jurisprudência vem permitindo tal intervenção em qualquer ação coletiva, desde que a
causa seja relevante e tenha o auxiliar do juízo representatividade. Há no Código Modelo de
Processo Coletivo, de proposta de Antônio Gidi, previsão expressa do referido instituto, visto como
recomendável.
Ressalta-se que o CPC/2015 trouxe previsão expressa, no art. 138, acerca do amicus
curiae. Em razão do microssistema (visto acima), pode-se dizer que se aplica ao processo
coletivo, quando não houver previsão na lei.
65
§ 1o A intervenção de que trata o caput não implica alteração de
competência nem autoriza a interposição de recursos, ressalvadas a
oposição de embargos de declaração e a hipótese do § 3o.
§ 2o Caberá ao juiz ou ao relator, na decisão que solicitar ou admitir a
intervenção, definir os poderes do amicus curiae.
§ 3o O amicus curiae pode recorrer da decisão que julgar o incidente de
resolução de demandas repetitivas
Reza o art. 6º, §5º, da LAP pela possibilidade de qualquer cidadão se habilitar como
litisconsorte (assistente litisconsorcial) do autor da ação popular. Em homenagem ao princípio da
isonomia, também se deve admitir àquele que tenha interesse jurídico na vitória processual dos
réus que possa assisti-los.
66
§ 3º A pessoa jurídica de direito público ou de direito privado, cujo ato seja
objeto de impugnação, poderá abster-se de contestar o pedido, ou poderá
atuar ao lado do autor, desde que isso se afigure útil ao interesse público, a
juízo do respectivo representante legal ou dirigente.
LIA Art. 17. A ação principal, que terá o rito ordinário, será proposta pelo
Ministério Público ou pela pessoa jurídica interessada, dentro de trinta dias
da efetivação da medida cautelar.
§ 3o No caso de a ação principal ter sido proposta pelo Ministério Público,
aplica-se, no que couber, o disposto no § 3o do art. 6o da Lei no 4.717, de 29
de junho de 1965.
Duas razões embasam a concepção RESTRITIVA (não cabe) na interpretação do art. 125,
II, do CPC/2015, na tutela coletiva:
A vedação à denunciação da lide ganha ainda mais força nas causas de consumo em
decorrência da proibição trazida pelo art. 88, do CDC e da regra de responsabilidade objetiva do
fornecedor.
Segundo Didier, não obstante a literalidade do art. 88, do CDC quanto à vedação da
denunciação da lide, o art. 7º, do mesmo diploma introduz no sistema consumerista a regra da
responsabilidade solidária entre os fornecedores, deixando claro o equívoco do legislador ao
intitular “denunciação da lide” instituto que, em verdade, é “chamamento ao processo”. Assim,
somente é admissível nas causas de consumo, inclusive as coletivas, o chamamento ao processo
expressamente autorizado pelo art. 101, II, do CDC (intervenção em contrato de seguro), muito
embora trate a norma, na maioria das vezes, de denunciação da lide. Assim, tendo em vista
67
inexistir qualquer proibição em tese, a possibilidade de denunciação da lide deve ser aferida no
caso concreto, sopesando-se os interesses em jogo.
Há que se frisar que o STJ não se importa com essa distinção. Leva ao pé da letra a
proibição de denunciação à lide do CDC.
O regime de liquidação e execução coletivo deve ser dividido em dois grupos: execução dos
direitos difusos e coletivos; execução dos direitos individuais homogêneos.
Vejamos:
68
execução, deverá fazê-lo o Ministério Público, facultada igual iniciativa aos
demais legitimados (exemplo: defensoria).
2) Destinatário da indenização: sendo o poder público lesado, o dinheiro vai para o poder
público. No caso de outros bens (meio ambiente, etc.), essa grana vai para o FDD
(Fundo de Defesa dos Direitos Difusos/Fundo de Bens Públicos Lesados), previsto no
art. 13 da LACP. O fundo é regulamentado pela Lei 9.008/95.
Cada ente tem seu fundo e as leis que regulamentam tal fundo.
No âmbito federal, quem gere esse fundo é o Conselho Federal, órgão do Ministério da
Justiça, com sede em Brasília, composto de membros da sociedade civil.
Onde é aplicada o dinheiro? Era para ser aplicado na reparação do dano causado, porém,
como o fundo é revertido em verba pública, acaba restando dificultado ou quase inviabilizado o
manejo desse dinheiro, tendo em vista a burocratização inerente ao uso de dinheiro público (lei
orçamentária etc.).
CDC Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará
coisa julgada:
[....]
§ 3° Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado com o
art. 13 da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985 (LACP), não prejudicarão as
ações de indenização por danos pessoalmente sofridos, propostas
individualmente ou na forma prevista neste código, mas, se procedente o
pedido, beneficiarão as vítimas e seus sucessores, que poderão proceder à
liquidação e à execução, nos termos dos arts. 96 a 99.
Art. 98. A execução poderá ser coletiva, sendo promovida pelos legitimados
de que trata o art. 82, abrangendo as vítimas cujas indenizações já tiveram
sido fixadas em sentença de liquidação, sem prejuízo do ajuizamento de
outras execuções.
69
§ 1° A execução coletiva far-se-á com base em certidão das sentenças de
liquidação, da qual deverá constar a ocorrência ou não do trânsito em
julgado.
§ 2° É competente para a execução o juízo:
I - da liquidação da sentença ou da ação condenatória, no caso de
execução individual;
II - da ação condenatória, quando coletiva a execução.
A sentença em processo de interesse difuso e coletivo pode ser usada pelo particular
(transporte in utilibus da coisa julgada). O particular pega a sentença e entra com uma ação de
execução.
Aqui, tem uma diferença do processo individual: Não basta provar o ‘quantum debeatur’
(quanto é devido); o indivíduo deve provar o ‘an debeatur’ (existência da dívida), ou seja, deve
demonstrar o nexo de causalidade entre o a ação danosa e o prejuízo por ele sofrido.
É, por isso, que Gajardoni entende que não deveria ser usado o termo liquidação.
Deveríamos usar o termo habilitação. Ou como diz Dinamarco: “liquidação imprópria”.
3) Competência: Foros concorrentes - juízo da condenação (art. 98, §2º, I do CDC) e juízo de
domicílio do lesado (art. 101, I do CDC).
Art. 98. A execução poderá ser coletiva, sendo promovida pelos legitimados
de que trata o art. 82, abrangendo as vítimas cujas indenizações já tiveram
sido fixadas em sentença de liquidação, sem prejuízo do ajuizamento de
outras execuções.
[...]
§ 2° É competente para a execução o juízo:
I - da liquidação da sentença ou da ação condenatória, no caso de
execução individual;
II - da ação condenatória, quando coletiva a execução.
70
ser promovida no domicílio do autor. Note-se que
nesse último caso, ocorrerá uma cisão entre o juízo
da ação condenatória e o da liquidação.
Lembrando: ação coletiva que se preocupa com a pretensão individual. Ou ainda, direitos
acidentalmente coletivos.
Tudo que foi falado na execução da pretensão individual derivada serve para cá, transporte
in utilibus e tal.
Competência: Foros concorrentes: juízo da condenação (art. 98, §2º, I do CDC) e juízo de
domicílio do lesado (art. 101, I do CDC).
Art. 98. A execução poderá ser coletiva, sendo promovida pelos legitimados
de que trata o art. 82, abrangendo as vítimas cujas indenizações já tiveram
sido fixadas em sentença de liquidação, sem prejuízo do ajuizamento de
outras execuções.
[...]
§ 2° É competente para a execução o juízo:
I - da liquidação da sentença ou da ação condenatória, no caso de
execução individual;
II - da ação condenatória, quando coletiva a execução.
71
Art. 101. Na ação de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e
serviços, sem prejuízo do disposto nos Capítulos I e II deste título, serão
observadas as seguintes normas:
I - a ação pode ser proposta no domicílio do autor;
Em vez de cada mulher executar sua sentença (que já deve estar liquidada), elas se juntam
e vão até um legitimado extraordinário do art. 82, a fim de que esse promova a execução da
pretensão individual coletiva.
Abelha Rodrigues: “pseudo-execução coletiva”. Isso porque serve esta execução para
beneficiar os indivíduos e não a coletividade.
10.2.3. Execução da pretensão coletiva residual: “fluid recovery” (reparação fluída) - (art.
100 do CDC)
1) Legitimados: Legitimados do art. 82 CDC (somente os que teriam legitimidade para ação
de conhecimento) e 5º LACP.
CDC Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados
concorrentemente:
I - o Ministério Público,
II - a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal;
III - as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta,
ainda que sem personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa
dos interesses e direitos protegidos por este código;
IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que
incluam entre seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos
protegidos por este código, dispensada a autorização assemblear.
§ 1° O requisito da pré-constituição pode ser dispensado pelo juiz, nas
ações previstas nos arts. 91 e seguintes, quando haja manifesto interesse
72
social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela
relevância do bem jurídico a ser protegido.
Art. 98. A execução poderá ser coletiva, sendo promovida pelos legitimados
de que trata o art. 82, abrangendo as vítimas cujas indenizações já tiveram
sido fixadas em sentença de liquidação, sem prejuízo do ajuizamento de
outras execuções.
[...]
§ 2° É competente para a execução o juízo:
...
II - da ação condenatória, quando coletiva a execução.
O fluid recovery foi criado precipuamente para os casos onde o dano é relevante somente
se coletivamente considerado, mas individualmente não existe o menor interesse dos lesados em
exigir reparação.
Exemplo do leite vendido 0,1ml a menos (lembrar: uma das ondas renovatórias do
processo civil, proposta por Cappelletti é coletivização do processo. Aqui, seria tendo em conta as
pretensões que individualmente consideradas, em tese, não se teria interesse do ponto de vista
econômico. Na coletivização do processo ainda se encontra: defesa de bens de legitimidade
indeterminada e melhor prestação do ponto de vista do sistema judiciário. As outras ondas
renovatórias são: justiça aos pobres e efetividade do processo).
Critérios para estimativa do valor a ser liquidado e executado como ‘fluid recovery’:
b) Gravidade do dano
73
E se depois de a dívida paga, aparecem outras vítimas até então desconhecidas?
PROBLEMA. Tirar do FDD ou cobrar de novo da empresa? Difícil.
1) Se o dano for ao patrimônio público (que como regra é bem difuso) o destinatário do valor
devido é o poder público lesado.
A ordem é a seguinte:
a) Individuais;
b) Coletivos;
c) Difusos.
O art. 1º D da Lei 9.494/97 diz que a Fazenda NÃO paga honorários em execução, quando
não houver oposição de embargos.
Lei 9494/97 Art. 1o-D. Não serão devidos honorários advocatícios pela
Fazenda Pública nas execuções não embargadas. (Incluído pela Medida
provisória nº 2.180-35, de 2001)
OBS: Conforme entendimento do STF, o privilégio da Lei não se aplica às execuções de quantias
consideradas de pequeno valor (não se submetem ao sistema de precatório). Explica-se: O
privilégio tem razão de ser quando a execução se sujeita a precatórios, tendo em vista que, nesse
caso, a demanda executiva não é motivada pelo inadimplemento da Fazenda, mas sim pela regra
decorrente do sistema dos precatórios, que exige a ação de execução para que o crédito seja
incluído na ordem cronológica no orçamento da Fazenda (RE 420.816).
Resumindo:
• o art. 1º-D da Lei 9.494/97 é válido apenas para as execuções contra a Fazenda Pública
envolvendo a sistemática de precatórios (art. 100, caput);
74
• o art. 1º-D da Lei 9.494/97 NÃO se aplica no caso execuções contra a Fazenda Pública
cobrando dívidas de pequeno valor (§ 3º do art. 100 da CF/88), nas quais o precatório é
dispensado.
11. PRESCRIÇÃO
Art. 21. O prazo é de 05 anos. Neste caso, ocorre a prescrição coletiva. Assim, o
cidadão não poderá entrar, entretanto a pretensão individual é válida.
Exemplo: prefeito mete a mão na grana. Depois de 05 anos, cidadão não pode mais entrar com a
AP, entretanto, a prefeitura pode entrar com outra ação.
LAP Art. 21. A ação prevista nesta lei prescreve em 5 (cinco) anos.
A grande diferença é que no primeiro é a partir do término (caso seja reeleito, apenas
ao final do segundo mandato começa a contar), no segundo, o sujeito ainda se encontra no cargo.
75
CUIDADO: neste último caso, o prazo da demissão é contado do conhecimento da infração e
não do momento em que o sujeito deixa o cargo.
ATENÇÃO: A pretensão de REPARAÇÃO dos prejuízos ao erário causados pelo agente público é
IMPRESCRITÍVEL (CF/88, art. 37, §5º).
O prazo é decadencial de 120 dias. Não poderá mais o MS coletivo, mas a ação
individual ainda é válida.
1ªC: Edis Milaré. A ACP não tem caráter patrimonial, por isso ela não tem prazo
prescricional. Gajardoni: não é correto, só pensar nas ações do CDC que, geralmente, são
patrimoniais, muito embora seja um argumento interessante. Minoritária.
2ªC: Doutrina. A ACP prescreve de acordo com o direito material subjacente. Vou no CC,
em caso de responsabilidade civil; vou na Lei de Crimes ambientais, para tais pretensões, etc.
Discussão dos expurgos inflacionários: vou no CC, para Gajardoni, o prazo é de 20 anos, porque
na época nem existia CC/02 nem CDC (1985). Majoritária.
76
Entretanto, para o STJ vê duas situações em que as ACPs são imprescritíveis:
Dano ambiental, fundamento: o ambiente deve ser protegido por todos sempre.
CF Art. 37
§ 5º - A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por
qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao erário,
ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento.
De acordo com o art. 995, do CPC/2015, nas demandas individuais, os recursos não
impedem a eficácia da decisão.
Por sua vez, nos litígios coletivos, dispõe o art. 14, da LACP:
LACP Art. 14. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos recursos, para
evitar dano irreparável à parte.
Assim, como a norma confere tal poder ao juiz, muito embora não se trate de poder
discricionário, entende-se, a contrário sensu, que neste sistema os recursos têm efeito
devolutivo, como regra. Segundo Didier, é preciso que a parte interessada peça a concessão de
efeito suspensivo (em sentido contrário, Nelson Nery), podendo tal efeito ser deferido tanto pelo
juízo a quo, quanto pelo ad quem.
A norma do art. 14, da LACP recebeu interpretação restritiva junto ao STJ para o qual esta
norma destina-se apenas às instâncias ordinárias, não alcançando a interposição de recursos
especiais e extraordinários (AgRg nº 311.505).
77
Exceção: na AÇÃO POPULAR a apelação tem efeito suspensivo quando interposta contra
sentença que julgar procedente a demanda (efeitos suspensivo ope legis), nos termos do art. 19,
da LAP.
LAP Art. 19. A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência
da ação está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito
senão depois de confirmada pelo tribunal; da que julgar a ação
PROCEDENTE caberá apelação, com efeito suspensivo. (Redação dada
pela Lei nº 6.014, de 1973)
CPC/2015 Art. 496. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo
efeito senão depois de confirmada pelo tribunal, a sentença:
I - proferida contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e
suas respectivas autarquias e fundações de direito público;
II - que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução
fiscal.
§ 1o Nos casos previstos neste artigo, não interposta a apelação no prazo
legal, o juiz ordenará a remessa dos autos ao tribunal, e, se não o fizer, o
presidente do respectivo tribunal avocá-los-á.
§ 2o Em qualquer dos casos referidos no § 1o, o tribunal julgará a remessa
necessária.
§ 3o Não se aplica o disposto neste artigo quando a condenação ou o
proveito econômico obtido na causa for de valor certo e líquido inferior a:
I - 1.000 (mil) salários-mínimos para a União e as respectivas autarquias e
fundações de direito público;
II - 500 (quinhentos) salários-mínimos para os Estados, o Distrito Federal,
as respectivas autarquias e fundações de direito público e os Municípios
que constituam capitais dos Estados;
III - 100 (cem) salários-mínimos para todos os demais Municípios e
respectivas autarquias e fundações de direito público.
§ 4o Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença
estiver fundada em:
I - súmula de tribunal superior;
II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior
Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos;
III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas
repetitivas ou de assunção de competência;
IV - entendimento coincidente com orientação vinculante firmada no âmbito
administrativo do próprio ente público, consolidada em manifestação,
parecer ou súmula administrativa.
Quatro são as correntes que tratam acerca do regime jurídico do reexame necessário em
sede de ação coletiva:
3C) aplica-se, por analogia, a regra da lei de ação popular (Patrícia Mara dos Santos; Luiz
Manoel Gomes Júnior);
4C) aplicam-se ambos os regimes, porque não são incompatíveis (Didier). Para este
doutrinador, condenada a Fazenda Pública em ACP, há remessa necessária; julgada
improcedente a ACP ou extinto o processo por carência de ação, envolva ou não ente
público, há, também, remessa necessária (reexame invertido).
78
LAP Art. 19. A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência
da ação está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito
senão depois de confirmada pelo tribunal; da que julgar a ação procedente
caberá apelação, com efeito suspensivo.
b) pedido de suspensão de liminar, que só pode ser formulado por pessoa jurídica de direito
público interno ou MP.
Em 1981 foi editada a Lei 6.938/81 (Lei nacional do meio ambiente), que vigora até hoje. O
art. 14, §1º falava que o MP poderia ajuizar, a bem da tutela do direito, uma tal “ação civil pública”.
Por que esse nome? Para ser uma ação civil correlata à ação penal pública, também
atribuição do MP.
Duas primeiras conclusões: A ACP surgiu tendo apenas o MP como legitimado; prestava-se
apenas à proteção do meio ambiente.
Para regulamentar essa ACP foi elaborado um projeto de lei, por dois grupos de juristas: um
formado por membros do MP/SP (Nelson Nery, Edis Milaré etc.); outro por membros da USP
(Dinamarco, Ada, Kazuo).
79
Desse projeto surge a Lei 7.347/85 (Lei de Ação Civil Pública).
A consolidação da ACP se deu definitivamente com a CR/88, que em seu art. 129, III
expressamente a previu como uma das atribuições do MP.
Súmula 329 do STJ: Interesse difuso. Tinha muita gente que dizia que a defesa do
patrimônio público deveria ser feita pela própria entidade lesada.
STJ Súmula: 329 O Ministério Público tem legitimidade para propor ação
civil pública em defesa do patrimônio público.
80
Art. 11. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer
ou não fazer, o juiz determinará o cumprimento da prestação da atividade
devida ou a cessação da atividade nociva, sob pena de execução
específica, ou de cominação de multa diária, se esta for suficiente ou
compatível, independentemente de requerimento do autor.
Conforme Marinoni, as Tutelas podem ser divididas em dois grandes grupos: preventivas e
ressarcitórias/reparatórias.
1) Tutela preventiva: É a tutela que visa impedir a ocorrência de dano. Ela visa evitar, inibir o
dano. Subdivide-se em (gênero):
1.2) Tutela da remoção do ilícito: Depois do ilícito, porém antes do dano. Afastar o ato
ilegal e/ou danoso, evitando ou diminuindo o dano.
MP ingressa com ACP para obstar que esse medicamento entre no Brasil (tutela inibitória).
MP ingressa com ACP para impedir a comercialização, pois o remédio já entrou no Brasil (o
ilícito da importação já ocorreu). A tutela aqui é de remoção do ilícito.
MP ingressa com ACP para pedir reparação dos danos pela comercialização do remédio
(tutela ressarcitória).
Na ACP essas tutelas são cumuláveis. Pode haver a cumulação dos três pedidos, por
exemplo: a indústria já tem remédio sendo comercializado e ingerido (ressarcitória); tem remédio
em estoque (remoção do ilícito); tem remédio na iminência de entrar no Brasil (inibitória) - três
tutelas.
O dano moral coletivo é uma espécie de dano moral atinge interesse não patrimonial, de
classe específica ou não de pessoas. Atingem vários direitos da personalidade ao mesmo tempo.
As vítimas são conhecidas ou cognoscíveis, o que os diferencia dos danos difusos. São os direitos
individuais homogêneos e os coletivos em sentido estrito. A indenização é destinada para as
vítimas, já que podem ser identificadas.
O CDC admite expressamente a reparação dos danos morais coletivos, no seu art. 6, VI
(“a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e
difusos”). Geralmente, tem sido admitido na jurisprudência nacional, nas searas trabalhista e
ambiental.
81
Apesar de existir previsão normativa expressa da possibilidade de dano moral ou
extrapatrimonial coletivo (art. 1º da Lei 7.347/85), a doutrina se divide acerca da sua viabilidade. A
corrente favorável (José Rubens Morato Leite, André Ramos, Gisele Góes e Carlos Alberto Bittar
Filho, Hugo Nigro Mazzilli) sustenta não se poder restringir o dano moral às pessoas físicas. A
coletividade seria passível de ser indenizada por dano moral, o qual não necessita ser a dor física,
podendo ser o desprestígio do serviço público, do nome social ou mesmo o desconforto da moral
pública. O dano moral coletivo seria a violação de um determinado círculo de valores coletivos.
Entretanto, em precedente posterior, o Colendo STJ admitiu-os no famoso caso das pílulas
de farinha (Microvlar - cartelas de comprimidos sem princípio ativo, utilizadas para teste de
maquinário, que acabaram atingindo consumidoras e não impediram a gravidez indesejada).
Precedente: STJ, REsp 866.636/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3ª Turma, j. 29.11.2007, DJ
06.12.2007, p. 312). No mesmo sentido, recente precedente da 2ª Turma do STJ.
Segundo o Min. Herman Benjamin: É possível a reparação por dano moral nas tutelas de
interesses transindividuais como na hipótese de interrupção no fornecimento de energia elétrica a
Município, pois o dano moral coletivo atinge interesse não patrimonial de classe específica ou não
de pessoas, devendo ser averiguado de acordo com as características próprias aos interesses
difusos e coletivos, distanciando-se quanto aos caracteres das pessoas físicas que compõem
determinada coletividade ou grupo determinado ou indeterminado de pessoas. (REsp
1197654/MG, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 01/03/2011,
DJe 08/03/2012).
Em síntese, é possível dividir o dano moral coletivo em dano moral difuso (quando não
individualizáveis os lesados, devendo a indenização reverter para um Fundo), dano moral coletivo
(de certa categoria) e dano moral individual homogêneo (quando individualizáveis os lesados, em
futura liquidação de sentença).
OBS.: Não confundir dano moral coletivo com DANOS SOCIAIS (Fonte - Curso CEI – 2ªFase
DPE/RN).
Trata-se de uma nova espécie de dano reparável, que não se confunde com os danos
materiais, morais e estéticos, e que decorre de comportamentos socialmente reprováveis, que
diminuem o nível social de tranquilidade. De acordo com Antônio Junqueira de Azevedo, os danos
sociais são aqueles que causam um rebaixamento do nível de vida da coletividade, relacionados a
condutas socialmente reprováveis. Toda a sociedade é atingida; as vítimas são indeterminadas e
indetermináveis.
O julgado mais representativo é o caso da AMIL, apreciado pelo TJSP. A AMIL nega
cobertura reiterativamente, é condenada em R$ 50.000,00 de dano moral individual para a vítima
(valor existencial pelo caro valor objeto de contrato) e, de ofício (há uma discussão se poderia,
mas a reforma do CPC traz que toda matéria consumerista pode ser conhecida de ofício pelo juiz),
em 5 milhões de dano difuso, em claro caráter pedagógico.
82
Segundo explica Flávio Tartuce, os danos sociais são difusos e a sua indenização deve ser
destinada não para a vítima, mas sim para um fundo de proteção ao consumidor, ao meio
ambiente etc., ou mesmo para uma instituição de caridade, a critério do juiz.
Outros exemplos dados por Junqueira de Azevedo: o pedestre que joga papel no chão, o
passageiro que atende ao celular no avião, o pai que solta balão com seu filho. Tais condutas
socialmente reprováveis podem gerar danos como o entupimento de bueiros em dias de chuva,
problemas de comunicação do avião causando um acidente aéreo, o incêndio de casas ou de
florestas por conta da queda do balão etc.
Portanto, em uma ação individual por danos morais, o juiz ou Tribunal não poderia, de
ofício, condenar o autor do ilícito a indenizar a coletividade por danos sociais. Para que haja
condenação por dano social, é indispensável que haja pedido expresso, sob pena de violar os
princípios da demanda, da inércia e, fundamentalmente, da adstrição/congruência, o qual exige a
correlação entre o pedido e o provimento judicial a ser exarado pelo Poder Judiciário.
Vale frisar que, ainda que haja pedido de condenação em danos sociais em uma demanda
individual, o pleito não poderá ser julgado procedente, pois esbarraria na ausência de legitimidade
para postulá-lo. Isso porque, na visão do STJ, a condenação por danos sociais somente pode
ocorrer em demandas coletivas e, portanto, apenas os legitimados para a propositura de ações
coletivas poderiam pleitear danos sociais. Portanto, não é possível discutir danos sociais em ação
individual.
12.2.3. Análise específica de três bens/direitos tuteláveis pela Ação civil pública
No que diz respeito ao meio ambiente natural, de acordo com o art. 14 da lei 6983/81, e com
o art. 3º da lei 9605/95, adota-se a teoria do risco da atividade (lembrar que difere da teoria do
risco integral - não admite excludentes de responsabilidade: caso fortuito ou força maior). Ver
administrativo.
83
Lei 6.983/81 Art. 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela
legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas
necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos
causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os
transgressores:
...
§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o
poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar
ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por
sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade
para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados
ao meio ambiente.
Bem que não é tombado pode ser objeto de ACP, para a proteção do patrimônio histórico e
cultural?
Tombamento nada mais é que um atestado administrativo de que determinado bem tem
valor histórico ou cultural.
Resposta: É perfeitamente possível. Qual a diferença entre a ACP contra imóvel tombado e
não tombado? É a prova.
Se o imóvel for tombado não será preciso provar seu valor histórico, que já é presumido.
Se o bem não for tombado, o valor histórico deve ser provado, sob pena de improcedência
da ação.
O CDC teve um papel fundamental na LACP, pois acrescentou esse inciso (norma de
encerramento que havia sido vetada na promulgação da LACP), tornando a ACP um instrumento
de proteção de QUALQUER interesse difuso, coletivo ou individual homogêneo.
OBS: Apesar da confusão provocada pelas sucessivas MPs, o STJ entende que o inciso IV
continua em vigor (REsp 706.791).
84
Em 2014, duas leis (12.966/14 e 13.004/2014) acrescentarem, respectivamente os incisos
VII e VIII, ao art. 1º da LACP. Vejamos:
A nova Lei n.° 12.966/2014 foi editada para acrescentar mais um inciso ao art. 1º da Lei
n.° 7.347/85 e estabelecer, de forma expressa, que a ação civil pública poderá também prevenir e
reparar danos morais e patrimoniais causados:
• à honra e à dignidade
• de grupos raciais, étnicos ou religiosos.
Assim, por exemplo, caso uma rede de televisão mantenha programas que exponham
pessoa ou grupo ao ódio ou ao desprezo por motivos fundados na raça, na etnia ou na
religiosidade, o Ministério Público (ou outro legitimado) poderá ajuizar ação civil pública contra a
emissora pedindo o fim da exibição e a sua condenação em danos morais coletivos.
Outra mudança de destaque é que agora, pela nova Lei, fica expressamente previsto que
as associações tenham como finalidade institucional a proteção dos direitos de grupos raciais,
étnicos ou religiosos são legitimadas para ajuizar ação civil pública.
A nova Lei n.° 13.004/2014 foi editada para acrescentar mais um inciso ao art. 1º da Lei
n.° 7.347/85 e estabelecer, de forma expressa, que a ação civil pública poderá também prevenir e
reparar danos morais e patrimoniais causados ao PATRIMÔNIO PÚBLICO E SOCIAL.
A alteração não tem nenhuma utilidade prática. Mesmo antes da Lei já era PACÍFICO que
a ACP também poderia ser utilizada para a proteção do patrimônio público e social.
Apesar de o art. 129, III, da CF/88 e de a súmula falarem apenas em Ministério Público era
perfeitamente possível que outros legitimados pudessem ajuizar ACP com esse objetivo. Ex: ACP
ajuizada pela União com o objetivo de proteger o patrimônio público e social (art. 5º, III, da Lei
n. 7.347/85).
Outra mudança é que agora, pela nova Lei, fica expressamente previsto que as
associações que tenham como finalidade institucional a proteção ao patrimônio público e social
são legitimadas para ajuizar ação civil pública.
Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação
principal e a ação cautelar: principal e a ação cautelar:
(...) (...)
V - a associação que, concomitantemente: V - a associação que, concomitantemente:
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) a) esteja constituída há pelo menos 1 (um)
ano nos termos da lei civil; ano nos termos da lei civil;
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, b) inclua, entre as suas finalidades
a proteção ao patrimônio público e social, institucionais, a proteção ao meio ambiente,
ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem ao consumidor, à ordem econômica, à livre
econômica, à livre concorrência, aos direitos concorrência, aos direitos de grupos raciais,
de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou étnicos ou religiosos ou ao patrimônio
ao patrimônio artístico, estético, histórico, artístico, estético, histórico, turístico e
turístico e paisagístico. paisagístico.
Parágrafo único. Não será cabível ação civil pública para veicular
pretensões que envolvam tributos, contribuições previdenciárias, o
Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS ou outros fundos de
natureza institucional cujos beneficiários podem ser individualmente
determinados. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)
Por razões de ordem político-financeira, três bens/direitos não podem ser tutelados por
ACP:
a) Matéria tributária;
86
b) Contribuições previdenciárias;
c) FGTS.
obs: REsp 1.101.808. O MP entrou com uma ação contra um município para vedar a concessão
de isenções a entidade. A tese de defesa era que o MP não poderia discutir a matéria tributária
em sede de ACP. STJ permitiu a discussão, sob o fundamento da defesa do patrimônio público.
CDC Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados
concorrentemente:
I - o Ministério Público,
II - a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal;
III - as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta,
ainda que sem personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa
dos interesses e direitos protegidos por este código; (lembrar do ECA
Conselho Tutelar pode ajuizar ACP? Prevalece que sim)
IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que
incluam entre seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos
protegidos por este código, dispensada a autorização assemblear.
§ 1° O requisito da pré-constituição pode ser dispensado pelo juiz, nas
ações previstas nos arts. 91 e seguintes, quando haja manifesto interesse
social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela
relevância do bem jurídico a ser protegido.
87
Disjuntiva: Um legitimado não precisa de prévia autorização do outro. A exemplo da ADI,
ADC, ADPF etc.
Três posições:
Art. 18. Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo
quando autorizado pelo ordenamento jurídico.
Parágrafo único. Havendo substituição processual, o substituído poderá
intervir como assistente litisconsorcial.
Art. 5º
§2º Fica facultado ao Poder Público e a outras associações legitimadas nos
termos deste artigo habilitar-se como litisconsortes de qualquer das partes.
§5° Admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da
União, do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses e direitos
de que cuida esta lei.
OBS: o MPF presente arrasta a competência para a Justiça Federal, conforme vimos
anteriormente.
88
12.3.3. Análise dos legitimados
OBS: Para análise individual de cada legitimado adotar-se-á a posição de que é possível o
controle judicial da representação (princípio da representação adequada).
Qual a finalidade institucional do MP? É baseado nessa finalidade que será feito o controle
‘ope iudicis’ da representação.
O art. 127 da CF/88 prevê que entre as finalidades institucionais do MP: defesa de
interesses sociais e de interesses individuais indisponíveis (além da defesa da ordem jurídica e do
regime democrático).
Assim, somente em relação a esses temas o MP pode ajuizar ACP. Exemplos de interesse
social:
a) Segurança Pública;
b) Meio-ambiente;
OBS: o interesse social não precisa ser indisponível, podendo, portanto, ser PATRIMONIAL.
Exemplo: valor da prestação da moradia popular.
a) Saúde;
Por outro lado, é possível explicitar alguns interesses de não cabimento da atuação
ministerial:
a) Mensalidade de TV a cabo;
b) Tarifa de condomínio;
89
Hipóteses duvidosas (Gajardoni entende cabível):
b) Plano de saúde.
OBS1: Alguns autores dizem (com razão) que sempre que o interesse for difuso ou coletivo, o MP
tem legitimidade. Sempre há nesses casos interesse social.
No Estado do Rio de Janeiro, o Ministério Público ajuizou ação civil pública contra a
Federação das Empresas de Transporte de Passageiros questionando o fato da operadora do
sistema de vale-transporte ter deixado de informar aos consumidores, na roleta do ônibus, o saldo
do vale-transporte eletrônico, passando a exibir apenas um gráfico quando o usuário passava pela
roleta.
A Turma, por maioria, reiterou que o Ministério Público tem legitimidade para propor ação
civil pública que trate da proteção de quaisquer direitos transindividuais, tais como definidos no
art. 81 do CDC.
Isso decorre da interpretação do art. 129, III, da CF em conjunto com o art. 21 da Lei n.
7.347/1985 e arts. 81 e 90 do CDC e protege todos os interesses transindividuais, sejam eles
decorrentes de relações consumeristas ou não.
Ressaltou a Min. Relatora que não se pode relegar a tutela de todos os direitos a
instrumentos processuais individuais, sob pena de excluir do Estado e da democracia aqueles
cidadãos que mais merecem sua proteção.
Este tema é bastante polêmico, não sendo posição pacífica no STJ. É importante
conhecer o precedente, mas sem esquecer que não se trata de entendimento consolidado.
OBS2: Qual a Justiça competente para processar a ACP ajuizada pelo MP? Duas correntes:
2ª C (STJ REsp. 440.002): MPF é equiparado a um ente federal. Logo, a ação ajuizada pelo
MPF fixa a competência da JF. Crítica: O MPF sempre puxaria para a JF a competência,
querendo.
RE 216446/MG – O MP tem legitimidade para promover ação civil pública sobre direitos
individuais homogêneos quando presente o interesse social.
517 STJ
90
523 STJ
528 STJ
532 STJ
552 STJ
91
valores inferiores ao devido), o Ministério Público poderá ajuizar uma ação civil pública em favor
dessas pessoas?
Aqui é o cerne da questão. O STJ entendia que não, ou seja, o MP não teria legitimidade
para pleitear a indenização decorrente do DPVAT em benefício do segurado. Por isso, a Corte
editou a Súmula 470, que tinha o seguinte texto:
O Plenário do STF entendeu que o Ministério Público tem sim legitimidade para defender
contratantes do seguro obrigatório DPVAT (RE 631.111/GO, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em
06 e 07/08/2014. Repercussão Geral).
Para o STF, o objeto (pedido) dessa demanda está relacionado com direitos individuais
homogêneos. Assim, podem ser defendidos pelos próprios titulares (segurados), em ações
individuais, ou por meio de ação coletiva.
O Ministério Público possui legitimidade ativa para ajuizar essa ação coletiva (no caso,
ação civil pública) porque estamos diante de uma causa de relevante natureza social (interesse
social qualificado), diante do conjunto de segurados que teriam sido lesados pela seguradora.
Desse modo, havendo interesse social, o Ministério Público é legitimado a atuar, nos
termos do art. 127 da CF/88:
Como bem observado pelo Min. Teori Zavascki, “o seguro DPVAT não é um seguro
qualquer. É seguro obrigatório por força de lei e sua finalidade é proteger as vítimas de um
recorrente e nefasto evento da nossa realidade moderna, os acidentes automobilísticos, que
tantos males, sociais e econômicos, trazem às pessoas envolvidas, à sociedade e ao Estado,
especialmente aos órgãos de seguridade social. Por isso mesmo, a própria lei impõe como
obrigatório (...)”
Logo, pela natureza e finalidade desse seguro, o seu adequado funcionamento transcende
os interesses individuais dos segurados. Há, portanto, manifesto interesse social nessa
controvérsia coletiva. Em outras palavras, trata-se de direitos individuais homogêneos, cuja tutela
se reveste de interesse social qualificado, autorizando, por isso mesmo, a iniciativa do Ministério
Público de, com base no art. 127 da Constituição, defendê-los em juízo mediante ação coletiva.
Como a decisão do STF, proferida em sede de repercussão geral, foi no sentido contrário
ao que decidia o STJ, este Tribunal decidiu, acertadamente, cancelar a Súmula 470.
Agora, tanto o STF como o STJ entendem que o Ministério Público detém legitimidade
para ajuizar ação coletiva em defesa dos direitos individuais homogêneos dos beneficiários do
seguro DPVAT, dado o interesse social qualificado presente na tutela dos referidos direitos
subjetivos. STJ. 2ª Seção. REsp 858.056/GO, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 27/05/2015 (Info
563). STF. Plenário. RE 631.111/GO, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 06 e 07/08/2014.
92
568 STJ
Mesmo antes do advento destas duas leis (desde 1990 – CDC), a Defensoria Pública já era
considerada, embora com algumas resistências, legitimada coletiva, mormente na seara
consumeirista, com fulcro no art. 82, III, do CDC, combinado com o art. 4º, da LC 80/94. O STJ
assim já se manifestava (Resp 555.111, de 05/09/06). A legitimidade da defensoria surgiu com a
Lei 11.448/07.
CDC Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados
concorrentemente:
III - as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta,
ainda que sem personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa
dos interesses e direitos protegidos por este código;
LC 80/94
Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras: ....
VII – promover ação civil pública e todas as espécies de ações capazes
de propiciar a adequada tutela dos direitos difusos, coletivos ou individuais
homogêneos quando o resultado da demanda PUDER beneficiar grupo de
pessoas hipossuficientes;
Finalidade institucional
93
A EC 80/14 constitucionalizou o art. 1º da LC 80/34, prevendo expressamente que a
Defensoria Pública promoverá a defesa dos direitos individuais e coletivos.
1ª C (Restritiva - Concurso do MP): A defensoria só pode propor ação civil pública quando
estivermos diante da hipossuficiência econômica. Fundamento: Interpretação restrita do art. 134
da CF (antes da EC 80/2014), que remete ao art. 5º, LXXIV, que trata de insuficiência de recursos.
b) Funções atípicas: Defesa não relacionada à falta de recursos. Exemplo: Réu penal
(milionário) citado por edital ou que não constitui advogado (curadoria especial). Essa
defesa é relacionada a uma hipossuficiência técnica/jurídica ou organizacional
(coletividade). Ex.: Ação Civil da Defensoria para discutir contrato de arrendamento
mercantil. O STJ entendeu que, ainda que o contratante não seja pobre, de um ponto de
vista jurídico seria hipossuficiente técnico.
OBS.: Após a EC 80/2014, esta classificação, para alguns autores, perdeu o sentido. Para
aprofundar ver Princípios Institucionais.
Quais os direitos ou interesses metaindividuais podem ser tutelados via ACP pela
Defensoria?
Três correntes:
LC 80/94
Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras:
94
....
VII – promover ação civil pública e todas as espécies de ações capazes de
propiciar a adequada tutela dos direitos difusos, coletivos ou individuais
homogêneos quando o resultado da demanda PUDER beneficiar grupo de
pessoas hipossuficientes;
VIII – exercer a defesa dos direitos e interesses individuais, difusos,
coletivos e individuais homogêneos e dos direitos do consumidor, na forma
do inciso LXXIV do art. 5º da Constituição Federal;
XI – exercer a defesa dos interesses individuais e coletivos da criança e do
adolescente, do idoso, da pessoa portadora de necessidades especiais, da
mulher vítima de violência doméstica e familiar e de outros GRUPOS
SOCIAIS VULNERÁVEIS que mereçam proteção especial do Estado;
A legitimidade da Defensoria para a ACP é irrestrita, ou seja, a instituição pode propor ACP
em todo e qualquer caso?
Apesar de não ser um tema ainda pacífico, a resposta que prevalece é que NÃO. Assim, a
Defensoria Pública, ao ajuizar uma ACP, deverá provar que os interesses discutidos na ação têm
pertinência com as suas finalidades institucionais.
95
Segundo a jurisprudência, a Defensoria Pública só tem legitimidade ativa para ações
coletivas se elas estiverem relacionadas com as funções institucionais conferidas pela CF/88, ou
seja, se tiverem por objetivo beneficiar os necessitados que não tiverem suficiência de recursos
(CF/88, art. 5º, LXXIV).
No julgamento da ADI 3943 (STF. Plenário. Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 6 e
7/5/2015. Info 784), diversos Ministros manifestaram esse mesmo entendimento.
A Min. Cármen Lúcia, em determinado trecho de seu voto, afirmou: “Não se está a afirmar
a desnecessidade de a Defensoria Pública observar o preceito do art. 5º, LXXIV, da CF, reiterado
no art. 134 — antes e depois da EC 80/2014. No exercício de sua atribuição constitucional, é
necessário averiguar a compatibilidade dos interesses e direitos que a instituição protege com os
possíveis beneficiários de quaisquer das ações ajuizadas, mesmo em ação civil pública.”
O Min. Roberto Barroso corroborou essa conclusão e afirmou que o fato de se estabelecer
que a Defensoria Pública tem legitimidade, em tese, para ações civis públicas, não exclui a
possibilidade de, em um eventual caso concreto, não se reconhecer a legitimidade da Instituição.
Em tom descontraído, o Ministro afirmou que a Defensoria não teria legitimidade, por exemplo, no
caso concreto, para uma ação civil pública na defesa dos sócios do “Yatch Club”. E dando outro
exemplo extremo, afirmou que a Defensoria não teria legitimidade, no caso concreto, para ajuizar
uma ação civil pública em favor dos clientes “Personnalité” do Banco Itaú.
O Min. Teori Zavascki segue na mesma linha e afirma que existe uma condição implícita
na legitimidade da Defensoria Pública para ações civis públicas que é o fato de ela ter que
defender interesses de pessoas hipossuficientes, sendo esta uma condição imposta pelo art. 134
da CF/88.
A Min. Rosa Weber também deixou claro que a Defensoria Pública tem legitimidade para
propor ações civis públicas, mas que o juízo poderá aferir, no caso concreto, sua adequada
representação.
96
ATENÇÃO. Não confunda: não se está dizendo que a Defensoria Pública só pode propor ACP se
os direitos discutidos envolverem apenas pessoas “pobres” (rectius: hipossuficientes). Essa era a
tese da CONAMP, que foi rechaçada pelo STF. O que estou afirmando é que, para a Defensoria
Pública ajuizar a ACP aquele interesse discutido na lide tem que, de algum modo, favorecer seu
público-alvo (hipossuficientes), ainda que beneficie outras pessoas também que não sejam
necessitadas.
É o caso, por exemplo, de consumidores de energia elétrica, que tanto podem abranger
pessoas com alto poder aquisitivo, como hipossuficientes:
Ao julgar o recurso extraordinário sob a repercussão geral, o STF firmou a seguinte tese: A
Defensoria Pública tem legitimidade para a propositura de ação civil pública em ordem a promover
a tutela judicial de direitos difusos e coletivos de que sejam titulares, em tese, as pessoas
necessitadas.
Finalidade institucional
De todos os legitimados, esse grupo é o que tem a finalidade institucional mais ampla.
Na realidade não são todos os entes administrativos que têm essa legitimidade universal. A
análise deve ser casuística. A União talvez seja a única legitimada universal; já a Petrobrás, por
exemplo, que legitimidade teria para discutir relações de consumo?
97
O art. 82, III do CDC traz como legitimados os órgãos administrativos despersonalizados de
defesa do consumidor. Esse foi um inciso desenhado para o PROCON, que costuma ser uma
pasta da Prefeitura (município).
CDC
Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados
concorrentemente:
...
III - as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta,
ainda que sem personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa
dos interesses e direitos protegidos por este código; (lembrar do ECA
Conselho Tutelar pode ajuizar ACP? Prevalece que sim)
4) Associações
Constituição ânua: A associações deve estar constituída há mais de ano. O objetivo dessa
condição é evitar as denominadas associações ad hoc. Essa constituição ânua também é exigida
para a propositura de MS coletivo (CF, art. 5º, LXX, ‘b’)
OBS: O §4º do art. 5º diz que o juiz pode, em casos excepcionais (ex: dimensão do dano),
dispensar a constituição ânua.
LACP Art. 5º
§ 4.° O requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz,
quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou
característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido.
Leading Case: ADESF (Associação de defesa dos fumantes) tinha menos de 01 mês, mas
foi admitida.
O art. 2º-A, §único da Lei 9.494/97 limita, profundamente, o cabimento da Ação Coletiva
ajuizada por associação, para defesa dos interesses individuais homogêneos contra o poder
público, exigindo vários requisitos. O caput é um dispositivo parecido com o art. 16 da LACP. A
grande dificuldade, porém, está no parágrafo único, que pede a relação de todos os associados e
seus endereços. VER CONSIDERAÇÔES ACIMA.
98
Informativo 546 STJ
Entes sem personalidade jurídica: Em algumas situações a lei permite que entes
desprovidos de personalidade jurídica de direito material possam ser réus em ações coletivas, nos
termos do art. 12, VII, do CPC. Para tanto lhes basta a chamada personalidade judiciária, a
exemplo do que ocorre com os consórcios, condomínios de apartamentos e espólio.
Citação dos atingidos pelo ato impugnado: Se o resultado do processo coletivo atingir
direitos subjetivos de terceiros, a citação destes é indeclinável. Assim, o STJ, em uma ACP cujo
pedido consistia em mandar desfazer um parcelamento irregular de solo decidiu pela
imprescindibilidade de citação dos adquirentes dos lotes para a formação de litisconsórcio
necessário (princípio do devido processo legal).
Estado: União, Estados, Municípios e DF em várias vezes concorrem para o ato lesivo
gerador de ação coletiva. Todavia, tem-se feito restrições à indiscriminada inclusão de pessoas
jurídicas de direito público interno no polo passivo das ACPS. Alguns tribunais estão sopesando a
participação do ente público no ato lesivo, uma vez que sua condenação equivaleria à
condenação da própria vítima (o povo) pelo ressarcimento dos danos provocados. Segundo o STJ
(Resp nº 12.640), se estão identificados os causadores do dano a interesses transindividuais, não
se deve admitir que estes denunciem à lide as Fazendas Públicas. Ao mesmo tempo deve-se ter
cautela para não retornar aos tempos de irresponsabilidade estatal.
99
1ª C: O autor da ACP escolhe o réu. É caso de litisconsórcio passivo facultativo e simples. O
STJ ignora o microssistema, aplica o CPC. É uma aberração tratando-se de processo coletivo.
Isto porque não se pode aplicar o CPC subsidiariamente à LACP e sim todas leis de processo
coletivo. Entretanto, seguindo o raciocínio do STJ: as hipóteses de ACP não se enquadram no Art.
114 do CPC/2015. Solução: entende-se que o litisconsórcio é passivo, facultativo e simples.
*MP: art. 5º §1º LACP, se não for parte, atuará como fiscal da lei (custus legis).
LACP
Art. 5o Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:
...
§ 1º O Ministério Público, se não intervier no processo como parte, atuará
obrigatoriamente como fiscal da lei.
O inquérito tem previsão legal em dois dispositivos da Lei de Ação Civil Pública: art. 8º, §1º
e art. 9º.
100
O CNMP editou a Resolução 23/07, que pretende disciplinar, de modo uniforme, para todos
os MPs, o inquérito civil.
O inquérito civil deve ser um paralelo do inquérito policial. Fundamento: Ambos são
procedimentos apuratórios para a formação do convencimento do MP.
12.4.2. Características
3) Não obrigatório: O MP pode ingressar com uma ACP sem inquérito civil.
O Ministério Público ajuizou ação civil pública contra o réu “A”, então Prefeito, pela suposta
prática de improbidade administrativa. As provas que embasaram a ação de improbidade proposta
pelo MP foram obtidas em inquérito civil. Ao se defender, o réu alegou, dentre outras questões,
que, antes da propositura da ação de improbidade, o MP deveria ter aberto um procedimento
administrativo prévio. Essa discussão chegou ao STJ, que não acolheu a tese de “A”. Segundo a
Primeira Turma, o inquérito civil, como peça informativa, pode embasar a propositura de ação civil
pública contra agente político, sem a necessidade de abertura de procedimento administrativo
prévio.
4) Público: Por analogia ao art. 20 do CPP, o promotor pode decretar o sigilo. Entretanto, a
decretação desse sigilo é sujeita a mandado de segurança, para que o investigado tome
conhecimento da investigação.
Há vozes, na DPE, que defendem a possibilidade IQ pela DP, aplicando-se a teoria dos
poderes implícitos.
É controvertido.
1ªC: Não. Autores oriundos do MP entendem que pode para qualquer assunto.
2ªC: Sim. Quando a CF trata do IC, ela trata junto com a ACP (129, III), assim, ela liga um
ao outro. Ou seja, o IC por suas regras só se presta a investiga problemas referentes a
interesses meta individuais.
1) Instauração:
101
- Se dá por meio de portaria do MP. Conforme a Resolução, a portaria deve ser numerada
e deve indicar (delimitar), fundamentadamente, o objeto da investigação. Essa portaria pode ser
baixada de três formas distintas:
1-Ofício.
2-Representação.
3-Requisição do PGJ/PGR
- Presidência: A instauração é feita pelo membro do MP. Por conta dessa presidência, o
membro está sujeito às hipóteses de impedimento e de suspeição.
OBS: O fato de o promotor ter presidido o Inquérito não o impede de promover a ACP. Também
não impede o fato de o promotor estar incluso na coletividade atingida pelo fato investigado.
Algumas leis estaduais preveem recurso administrativo contra o IC abusivo (ver lei do
Estado). É pacífico que cabe MS para trancamento de Inquérito Civil abusivo, tal como no crime
cabe HC. Quem julga esse MS? Depende da Constituição Estadual (no caso de MP). É lá que
estão as regras de prerrogativa de foro. Na falta de menção, cabe à primeira instância julgá-lo.
- Efeito da instauração nas relações de consumo (Art. 26, §2º, III do CDC): A
instauração do inquérito obsta a decadência nas relações de consumo.
- Denunciação caluniosa (Art. 339 do CP): É crime de denunciação caluniosa dar causa a
inquérito civil, imputando ao investigado a prática de crime, sabendo-o inocente.
O acusado pode ficar calado, ao abrigo do princípio do nemo tenetur se detegere? Sim. Ele
não precisa fornecer provas contra si mesmo.
E as testemunhas?
102
OBS: art. 342 do CP. Mentir para o promotor é crime de falso testemunho?
LACP Art. 10. Constitui crime, punido com pena de reclusão de 1 (um - cabe
suspensão condicional do processo) a 3 (três) anos, mais multa de 10 (dez)
a 1.000 (mil) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTN, a
recusa, o retardamento ou a omissão de dados técnicos indispensáveis à
propositura da ação civil, quando requisitados pelo Ministério Público.
Obviamente, essa afirmação sofre uma restrição: O MP não pode ter acesso às informações
protegidas por sigilo constitucional, que dependem de ordem judicial (reserva de jurisdição).
Estamos falando dos sigilos:
Mas a CF/88 expressamente menciona que o MP tem poder para investigar crimes?
NÃO. A CF/88 não fala isso de forma expressa. Adota-se aqui a teoria dos poderes
implícitos. Segundo essa doutrina, nascida nos EUA (Mc CulloCh vs. Maryland – 1819), se a
Constituição outorga determinada atividade-fim a um órgão, significa dizer que também concede
todos os meios necessários para a realização dessa atribuição. A CF/88 confere ao MP as
funções de promover a ação penal pública (art. 129, I). Logo, ela atribui ao Parquet também todos
os meios necessários para o exercício da denúncia, dentre eles a possibilidade de reunir provas
para que fundamentem a acusação. Ademais, a CF/88 não conferiu à Polícia o monopólio da
atribuição de investigar crimes. Em outras palavras, a colheita de provas não é atividade exclusiva
da Polícia.
Desse modo, não é inconstitucional a investigação realizada diretamente pelo MP. Esse é
o entendimento do STF e do STJ.
103
Qual é o fundamento constitucional?
Além da doutrina dos poderes implícitos, podemos citar como fundamento constitucional
que autoriza, de forma implícita, o poder de investigação do MP:
A Lei Complementar n. 75/1993, também de forma implícita, autoriza a realização de atos
de investigação nos seguintes termos:
Parâmetros que devem ser respeitados para que a investigação conduzida diretamente
pelo MP seja legítima
104
3) Devem ser observadas as hipóteses de reserva constitucional de jurisdição, ou seja,
determinadas diligências somente podem ser autorizadas pelo Poder Judiciário nos casos em que
a CF/88 assim exigir (ex: interceptação telefônica, quebra de sigilo bancário etc);
4) Devem ser respeitadas as prerrogativas profissionais asseguradas por lei aos advogados;
5) Deve ser assegurada a garantia prevista na Súmula vinculante 14 do STF (“É direito do
defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já
documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia
judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa”);
Não há prazo previsto em lei, a Resolução do MP prevê o prazo de 01 ano, que pode ser
prorrogado.
4) Conclusão
Opções do MP:
Quando faz isso, o MP deve remeter esse arquivamento para seu órgão
superior, no prazo de 03 dias.
Nesse julgamento, o órgão (CSMP ou CCR/MPF) pode tomar uma de três medidas:
1ª:Homologar o arquivamento;
Ou seja, o arquivamento não faz nenhuma espécie de coisa julgada. É o fim do óbice
ao prazo decadencial lá previsto no CDC (ver acima).
Nesse caso, o PGJ nomeará outro membro do MP para propor a ACP. Não nomeia o
mesmo para preservar a independência funcional daquele que promoveu o arquivamento.
Esse nomeado agirá por delegação, de forma que estará obrigado a promover a ACP.
Ele não atuará em nome próprio, mas sim como longa manus do procurador geral.
1) Previsão legal
LACP Art. 5º
§ 6° Os órgãos PÚBLICOS legitimados poderão tomar dos interessados
compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais,
mediante cominações, que terá eficácia de TÍTULO EXECUTIVO
EXTRAJUDICIAL. (Incluído pela Lei nª 8.078, de 11.9.1990) (Vide
Mensagem de veto) (Vide REsp 222582 /MG - STJ)
2) Natureza do termo
Outra corrente: Natureza de reconhecimento jurídico do pedido. O que está sendo discutida
nessa apuração é o interesse coletivo. Se assim o é, ele não pertence ao órgão celebrante do
termo, mas sim à coletividade. Logo, é um interesse indisponível. Prova disso é que o órgão
celebrante não pode abrir mão do conteúdo da obrigação, mas apenas pode negociar a forma de
cumprimento.
3) Legitimação
Conforme o art. 5º, §6º, quem pode celebrar o TAC são os órgãos públicos. Ou seja,
somente as associações (dentre as legitimadas para propor ACP) não podem celebrar TAC.
FRISE-SE: Um legitimado não depende da concordância dos outros.
106
EPs e SEMs não podem.
5) Eficácia
6) Objeto
A celebração é condicionada pela multa. Essa multa tem natureza muito parecida com a
astreinte. A multa funciona como pressão para o acusado.
Aqui, o acordo não fica sujeito a controle do órgão superior do MP, mas sim do juiz.
Grosso modo, é um TAC parcial. Não impede a propositura da ACP contra outros
investigados, ou para alcançar outros pedidos.
Exceção: Os MPs têm admitido esse TAC para fins de reparação do dano, se o funcionário
responsável for raso e a Administração já o tiver sancionado eficazmente.
107
Para Mazzilli, o acordo EXTRAJUDICIAL é uma garantia mínima, motivo pelo qual se
qualquer outro colegitimado coletivo não o aceitar poderá desconsiderá-lo e buscar diretamente
os remédios jurisdicionais cabíveis. Por esse motivo, o STJ já reconheceu a legitimidade do MP
em defender o meio ambiente, apesar de o causador do dano já ter assumido compromisso de
ajustamento de conduta perante outro órgão estatal (Resp 265.300).
Na seara individual, há quem diga (Mazzilli) ser possível ao indivíduo recusar o acordo
(judicial ou extrajudicial) por meio de ações individuais (exceptio male gesti processus).
Por sua vez, José Marcelo Vigliar discorda ao afirmar que o terceiro titular de direito
individual que se sinta afetado com o acordo celebrado não poderá recorrer da sentença que
homologa acordo judicial em ação coletiva, por não possuir interesse recursal, na medida em que
a coisa julgada coletiva se estende às causas individuais in utilibus.
e) mandamentais;
A tutela principal será tratada ao longo de todo o material, abrindo-se aspas neste
momento para a tutela cautelar, uma das formas da tutela de urgência.
Segundo Didier, embora o art. 4º, da LACP mencione o termo “ação cautelar”, não se trata
de tutela cautelar, mas, sim, de tutela inibitória, que possui natureza satisfativa, tendo em vista
que o dispositivo visa obter providência judicial que impeça a prática de ato ilícito e, por
consequência, a ocorrência de um dano. A menção ao termo “ação cautelar” possui justificativa
histórica, haja vista que o instituto genérico da antecipação de tutela, de natureza satisfativa,
apenas foi introduzido no CPC/73 em 1994, aceitando a jurisprudência, à época, o uso da ação
cautelar satisfativa, com finalidade inibitória.
108
Art. 4o Poderá ser ajuizada ação cautelar para os fins desta Lei, objetivando,
inclusive, evitar dano ao patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao
consumidor, à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos, à
ordem urbanística ou aos bens e direitos de valor artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico. (Redação dada pela Lei nº 13.004, de
2014)
Art. 12. Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem justificação
prévia, em decisão sujeita a agravo.
§ 1º A requerimento de pessoa jurídica de direito público interessada, e para
evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia pública,
poderá o Presidente do Tribunal a que competir o conhecimento do
respectivo recurso suspender a execução da liminar, em decisão
fundamentada, da qual caberá agravo para uma das turmas julgadoras, no
prazo de 5 (cinco) dias a partir da publicação do ato.
§ 2º A multa cominada liminarmente só será exigível do réu após o trânsito
em julgado da decisão favorável ao autor, mas será devida desde o dia em
que se houver configurado o descumprimento.
É cabível tutela cautelar liminar, seja no bojo do processo coletivo, seja em procedimento
autônomo. Portanto, em matéria de tutela coletiva, admite-se o ajuizamento das cautelares
instrumentais, das “cautelares satisfativas” (a exemplo da tutela inibitória, do art. 4º, da LACP),
bem como a concessão de tutela antecipada.
A disciplina das astreintes segue a mesma linha dos processos individuais. Contudo, nesta
matéria o art. 12, §2º, da LACP (repetido por outros diplomas legais) inovou ao disciplinar
expressamente que a multa cominada liminarmente apenas será exigível do réu APÓS o trânsito
em julgado da decisão favorável ao autor (se a decisão for desfavorável, não há falar em
astreintes), sendo devido desde o dia em que houver configurado o descumprimento.
Art. 12. Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem justificação
prévia, em decisão sujeita a agravo.
§ 2º A multa cominada liminarmente só será exigível do réu após o trânsito
em julgado da decisão favorável ao autor, mas será devida desde o dia em
que se houver configurado o descumprimento.
109
Antecipação da tutela: Não bastasse a regra genérica do art. 300, do CPC/2015, o art. 84,
§3º, do CDC, inserido no microssistema de processo coletivo, permite que o juiz conceda a tutela
liminarmente ou após justificação prévia. Embora a norma em destaque não disponha
expressamente, a antecipação da tutela supõe pedido do autor, à luz do princípio da demanda.
Art. 84. Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de fazer
ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou
determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao
do adimplemento.
...
§ 3° Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado
receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela
liminarmente ou após justificação prévia, citado o réu.
Liminares: A liminar é uma decisão dada no início da lide que tanto pode ter como
finalidade assegurar uma providência acautelatória (natureza cautelar), como antecipar
provisoriamente alguns efeitos práticos da sentença (natureza satisfativa). Desde que presentes
os pressupostos gerais de cautela, o juiz pode conceder mandado liminar, com ou sem
justificação prévia, nas ações coletivas, sejam estas ações principais; ou cautelares instrumentais
ou satisfativas.
As hipóteses de vedação de liminar nas ações coletivas são depreendidas das normas do
art. 1º, da Lei 8437/92 e art. 5º, 7º, §2º e 22, §2º, da Lei 12016/09.
Lei 8437/92 Art. 1° Não será cabível medida liminar contra atos do Poder
Público, no procedimento cautelar ou em quaisquer outras ações de
natureza cautelar ou preventiva, toda vez que providência semelhante não
puder ser concedida em ações de mandado de segurança, em virtude de
vedação legal.
a) contra ato do poder público de que caiba recurso administrativo com efeito suspensivo,
independente de caução;
Não obstante as restrições feitas às tutelas de urgência, o STF tem entendido que as
mesmas podem justificar-se a partir de um juízo de ponderação, em casos excepcionais (QO em
ACaut nº 1810; ACaut nº 1550). Para o Supremo, todas as restrições impostas à concessão de
liminares em MS, ACPS ou ações cautelares devem ser entendidas, pois, cum granus salis, isto é,
desde que não levem ao perecimento do direito (ADInMC nº 975-3, STF, Pleno). Segundo Nelson
Nery, a vedação da lei para a concessão de liminares somente poderá ser aplicada pelo juiz se
não ofender o princípio constitucional do direito de ação.
12.5.2. Lei 8.437/92, art. 2º: Quando o réu for a Fazenda Pública, é vedada a concessão de
liminar em ACP inaudita altera pars.
111
NÃO. Com o objetivo de facilitar a propositura de ações coletivas, o legislador isentou o
autor da ACP de adiantar as custas processuais afirmando ainda que não haverá condenação em
honorários advocatícios, custas e despesas processuais. Isso está previsto tanto no art. 18 da Lei
n. 7.347/85 como no art. 87 do CDC. Veja:
Art. 18. Nas ações de que trata esta lei, não haverá adiantamento de custas,
emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem
condenação da associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorários
de advogado, custas e despesas processuais.
Art. 87. Nas ações coletivas de que trata este Código não haverá
adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer
outras despesas, nem condenação da associação autora, salvo comprovada
má-fé, em honorário de advogados, custas e despesas processuais.
na defesa de direitos individuais homogêneos da categoria que representa. O STJ entende que é
cabível o ajuizamento de ação civil pública em defesa de direitos individuais homogêneos não
apenas relacionados com matérias de direito do consumidor, mas também em relação a outros
direitos. Assim, deve ser reconhecida a legitimidade do sindicato para ACP em defesa de
interesses individuais homogêneos da categoria que representa. Sendo permitido o ajuizamento
de ACP, não há porque não aplicar em favor do sindicato autor o art. 18 da Lei n. 7.347/85, com a
isenção de custas.
Na regra do CPC/2015, a apelação tem duplo efeito (Art. 1.012). Devolutivo e, como regra,
suspensivo.
Na ACP, o art. 14 traz outra regra: quem define se haverá ou não efeito suspensivo é o
juiz da causa.
Art. 14. O juiz PODERÁ conferir efeito suspensivo aos recursos, para evitar
dano irreparável à parte.
112
12.5.5. Reexame necessário em sede de ACP
Na lei de ACP não há dispositivo sobre isso. Logo se busca a regra no microssistema. No
CDC, também não tem regra. Busca-se na Lei de Ação Popular (art. 19) e no art. 4º, §1º da Lei
7.853/89 (Deficiente), que preveem o reexame necessário sempre quando em favor da
COLETIVIDADE (sempre que a ACP for julgada improcedente) – “reexame necessário invertido”.
LAP Art. 19. A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência
da ação está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito
senão depois de confirmada pelo tribunal; da que julgar a ação procedente
caberá apelação, com efeito suspensivo.
PODE: Fundamentos: O art. 201 do ECA expressamente permite; uma das finalidades
institucionais do MP é a defesa de interesse individual indisponível.
O grande problema é dar a essas ações o nome de ACP, que trata de interesses
metaindividuais.
Gajardoni: Está com a primeira posição. Entretanto, diz que há uso errado da ACP, que foi
criada para tutela de interesses metaindividuais, coletivos. Os promotores costumam entrar com
ACP quando podem entrar com ação individual de fazer, de entregar coisa etc. Ele quando está
julgando, recebe e converte de ofício.
Pode haver inversão do ônus da prova por conta da aplicação do microssistema. Previsão
no art. 6º, VIII, CDC. 972902/RS.
Tanto o STF quanto o STJ admitem que a ACP discuta constitucionalidade, porém
somente no controle concreto difuso.
O pedido da ACP não é uma inconstitucionalidade, mas sim uma providência concreta, que
terá como fundamento a inconstitucionalidade de uma lei.
STJ e STF: As ações coletivas, dentre elas a Ação Civil Pública, podem ser utilizadas
como instrumento de controle difuso concreto de constitucionalidade.
A ACP não pode ser utilizada como sucedâneo da ADI, pois neste caso haveria uma
usurpação da competência do STF. Ou seja, na ação civil pública, a inconstitucionalidade só pode
estar na causa de pedir. Havendo essa usurpação, caberia uma Reclamação diretamente no STF,
dizendo que aquela ACP estaria sendo usada como espécie de ADI. Não pode.
Mas a ACP não tem efeitos erga omnes? Sim, mas o que vai ter efeito erga omnes é o
conteúdo da decisão (o pedido), que no caso não é a inconstitucionalidade, porque esta é
analisada incidenter tantum, ou seja, ela é analisada incidentalmente na causa de pedir. O pedido
é de efeito concreto. Ver Processo Coletivo.
Ex: ACP no RJ onde se pediu a inconstitucionalidade dos bingos. Mandaram Reclamação para o
STF, mas ele decidiu que não havia usurpação, pois o pedido era o fechamento dos bingos.
13.1. GENERALIDADES
13.1.1. Conceito
Para Gajardoni, o melhor conceito é dos administrativistas. De acordo com Hely Lopes
Meirelles, é um mecanismo constitucional de controle da legalidade/lesividade dos atos
administrativos em geral. A ação popular garante o direito subjetivo a um governo honesto, por
isso, pode-se dizer que a ação popular é uma ação de caráter cívico administrativo.
Segundo Gajardoni, é possível ver na ação Popular uma forma de participação popular na
administração. Isto porque, em que pese o Brasil adotar um sistema de democracia indireta
(representativa), o próprio sistema abre certos poros, visando possibilitar que o cidadão participe
diretamente da administração.
Art. 5º
...
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise
a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado
participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio
histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de
custas judiciais e do ônus da sucumbência;
13.1.3. Previsão legal
114
Lei nº 4.717/65, e mais: integrando o microssistema, ela vai utilizar dispositivos da LACP e
do CDC também.
CF Art. 5º
...
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise
a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado
participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio
histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de
custas judiciais e do ônus da sucumbência;
1) Patrimônio público
2) Moral administrativa
3) Meio ambiente
Ou seja, cabe contra entidade de direito privado, desde que receba dinheiro público. Se o
poder público concorrer com menos de 50%, a Ação Popular se restringirá a repercussão nos
cofres públicos. O ataque sobre o ato lesivo só atinge o dinheiro público. (Isso se repete na lei de
improbidade administrativa)
Trata-se de padrões éticos e de boa fé no trato com a coisa pública. Exemplo: art. 37, §1º
CF.
Exemplo do Gajardoni: a candidata que se elegeu prefeita e pintou toda cidade de rosa. De fato,
as coisas precisavam ser preservadas, e não houve dano. Entretanto, houve violação da
moralidade, visto que ela estava se promovendo.
OBS: o rol do objeto da AP é taxativo. Fora disso não cabe AP. STJ REsp 818725/SP. Neste
caso, haviam dito que a AP servia para defender interesse do consumidor, o STJ disse que não
porque o rol da AP é taxativo.
Cabe contra “ato ilegal lesivo” (conforme CF art. 5º LXXIII e Art. 1º da LAP).
CF Art. 5º
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise
a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado
participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio
histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de
custas judiciais e do ônus da sucumbência;
LAP Art. 1º Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação
ou a declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio da União, do
Distrito Federal, dos Estados, dos Municípios, de entidades autárquicas, de
sociedades de economia mista (Constituição, art. 141, § 38), de sociedades
mútuas de seguro nas quais a União represente os segurados ausentes, de
empresas públicas, de serviços sociais autônomos, de instituições ou
fundações para cuja criação ou custeio o tesouro público haja concorrido ou
concorra com mais de cinquenta por cento do patrimônio ou da receita
ânua, de empresas incorporadas ao patrimônio da União, do Distrito
Federal, dos Estados e dos Municípios, e de quaisquer pessoas jurídicas ou
entidades subvencionadas pelos cofres públicos.
13.3.1. “Ato”
116
1) Ato administrativo: A ação popular cabe contra ato administrativo. No sistema, a regra
geral, é que a AP cabe contra ato administrativo. 90% das ações populares são para
atacar contratos administrativos, nomeações, portarias, decretos.
Para alguns autores a AP para defesa do meio ambiente e patrimônio histórico, seria uma
ACP ajuizada pelo cidadão. Ou seja, para eles nada mais é do que uma ACP, que neste caso se
chama AP (porque se trata de ato de particular). Tais autores inclusive utilizam as regras da ACP
quando tratam deste caso.
Exceções: leis de efeitos concretos. Aquelas que, por si, só operacionalizam o ato
administrativo. Por exemplo: lei que concede anistia tributária. Quando isso acontece, pode-se
lesar o patrimônio público, portanto cabe AP.
13.3.2. “Ilegal”
117
e) o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica o ato visando a
fim diverso daquele previsto, explícita ou implicitamente, na regra de
competência.
Esse rol é exemplificativo. Vide art. 3º da LAP. Ou seja, caberá o AP mesmo quando não se
violem os elementos do ato, mas tenham-se outros vícios.
13.3.3. “Lesivo”
Hermes Zaneti Jr. aponta, conforme julgados da 1ª e 2ª turma do STJ (4ª em sentido
contrário), assim como o STF, no sentido de a jurisprudência dispensar a comprovação de
prejuízo econômico ao erário público para o ajuizamento da AP. Como no caso de lesão à
moralidade administrativa.
O art. 4º traz um rol de atos que a LAP PRESUME sejam lesivos ao patrimônio público.
13.4. LEGITIMIDADE
1) Mas o que é cidadão? Cidadão é a qualidade daquele que pode votar, estão superadas
as discussões sobre “votar e ser votado”. O maior de 16 pode votar, portanto, pode
oferecer ação popular.
Art. 1º, § 3º A prova da cidadania, para ingresso em juízo, será feita com o
título eleitoral, ou com documento que a ele corresponda.
Se o indivíduo não vota três vezes consecutivas e não justifica, ele não pode votar na
quarta, sem pagar multa e etc. Não poderá também oferecer ação popular.
O estrangeiro pode ajuizar AP? Como regra, não podem ajuizar ação popular. Todavia,
existe uma exceção, qual seja, o português quando haja reciprocidade.
OBS: Não podem ajuizar os conscritos, pois também não podem votar.
3) Suspensão e cassação dos direitos políticos (art. 12 e 15 da CF). Não podem ajuizar.
Lembrar das posições na ACP (correntes: extraordinária, autônoma – dependendo, etc. ver
acima).
119
Art. 6º §5º estabelece a possibilidade de formação de litisconsórcio entre cidadãos. Ou
seja, posso ter mais de um autor/cidadão ajuizando concomitantemente a AP.
O litisconsórcio é ativo, facultativo, inicial ou ulterior e unitário, porque a decisão deve ser
idêntica, o objeto é indivisível.
O art. 6º coloca todo mundo que participou do ato lesivo como réu. São todos aqueles,
pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado, que de qualquer forma participaram do
ato ou se beneficiaram diretamente dele.
Como a legitimidade passiva é muito grande, permite-se essa correção, o que vem a
coadunar com a natureza do processo, isto porque dificilmente estariam desde o início todos os
litisconsortes passivos integrados à lide, como se disse, devido a amplitude da legitimidade
passiva.
120
2) “Posição da pessoa jurídica lesada”: Art. 6º, §3º da LAP
O que define o que a PJ irá fazer é a gestão política da PJ. Exemplo: Se é ajuizada uma
AP sobre atos praticados no governo Lula. Dilma (sucessora) no poder, a União irá defender o
ato, ou seja, contestar. No caso de vitória do Aécio, este iria ir para o polo ativo da ação. No caso
de um aliado político que não do PT, provavelmente iria abster-se.
1º: órgão opinativo. Custus legis. (Gajardoni: captio diminutio do MP, tem papel muito mais
relevante).
13.5. COMPETÊNCIA
LAP
Art. 7º A ação obedecerá ao procedimento ordinário, previsto no Código de
Processo Civil, observadas as seguintes normas modificativas:
...
IV - O prazo de contestação é de 20 (vinte) dias, prorrogáveis por mais 20
(vinte), a requerimento do interessado, se particularmente difícil a produção
de prova documental, e será comum a todos os interessados, correndo da
entrega em cartório do mandado cumprido, ou, quando for o caso, do
decurso do prazo assinado em edital.
13.7. SENTENÇA
Cuidado com a regra do Art. 7º, VI, parágrafo único. Há uma sanção maior do que em outros
processos, ou seja, se ele não obedecer ao prazo ele não é promovido.
Será sempre DESCONSTITUTIVA. O ato jurídico vai ser extinto pela sentença. Entretanto,
pode ter também eficácia CONDENATÓRIA. Art. 11.
Não há nenhum outro tipo de sanção na sentença da popular, isso significa que o juiz tira o
ato do mundo jurídico, desconstitui o ato. Fora isso, se ele percebe que o indivíduo se apropriou
de patrimônio púbico e etc. descobre que o cara é um ladrão e tal, não pode fazer nada, deve
encaminhar para o MP (não é possível aplicação de sanções da Ação de Improbidade em sede de
AP).
Na LACP vimos que o juiz que dá o efeito que achar pertinente. Aqui não.
ACP AP
Amplitude Mais ampla: direitos coletivos lato Mais restrita: direitos difusos.
sensu (direitos difusos, coletivos,
individuais homogêneos)
123
Objeto Tutela preventiva (inibitória ou de “Ato ilegal lesivo ao patrimônio
remoção do ilícito) ou reparatória público”
(moral ou material), dos
seguintes bens ou direitos
metaindividuais:
Tutela preventiva (inibitória ou de
remoção de ilícito) ou
ressarcitória dos seguintes bens
LACP Art. 1º e direitos:
l - ao meio-ambiente; Art. 5º CF
Temos como certo que a impenhorabilidade salarial tem como exceção a dívida alimentar.
Temos aqui outra exceção: art. 14, §3º
124
LAP Art. 14. Se o valor da lesão ficar provado no curso da causa, será
indicado na sentença; se depender de avaliação ou perícia, será apurado na
execução.
§ 3º Quando o réu condenado perceber dos cofres públicos, a execução
far-se-á por desconto em folha até o integral ressarcimento do dano
causado, se assim mais convier ao interesse público.
13.7.7. Sucumbência
Se o autor popular perder, de acordo com o art. 10 e 13 da LAP e art. 5º, LXXIII CF, haverá
isenção de sucumbência, salvo má-fé (será condenado no décuplo das custas).
CF LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que
vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o
Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao
patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé,
isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;
Se houver vitória do cidadão, ou seja, procedência, haverá sucumbência normal (do réu no
caso).
125
Enfim, trata-se de condutas ilegais qualificadas pela imoralidade do administrador.
14.2.1. CF Art. 37
Essa lei também integra o microssistema das ações coletivas. Não há súmulas sobre
improbidade.
1ª Corrente (Cássio Scarpinella Bueno, Gajardoni): ação civil por improbidade é uma coisa
e ACP é outra, pois a legitimidade é diferente, o objeto é diferente, a coisa julgada é diferente, o
procedimento é diferente.
ADI 2.182 discute a constitucionalidade formal da lei 8429/92. Alega-se que a LIA teria
desobedecido o processo legislativo, previsto no art. 65 da CF. O julgamento da ADI 2.182
demorou 07 anos. E no dia 13/05/2010, o STF por 7x1 declarou constitucional a LIA (não há vício
no processo legislativo).
O problema foi o seguinte: o projeto saiu da Câmara e foi para o Senado. Ele foi
emendado, deveria, portanto, voltar para a primeira casa para manter ou não a emenda, quando
ele voltou, a primeira casa aprovou algo diferente do que tinha sido emendado que nem era o que
a Câmara queria no primeiro momento e nem o que a segunda casa aprovou, era uma terceira
mudança. Ou seja, deveria ter novamente retornado ao Senado. STF: esse terceiro texto
aprovado pela casa estaria abrangido pelo que foi emendado pelo Senado, não há
inconstitucionalidade formal.
ADI 4.295 ajuizada pelo PMN. Ainda não teve o mérito julgado. O PMN alega a
“overbreadth doctrine” – Teoria da nulidade da norma pela excessiva abertura do texto. Isso
porque sendo uma lei sancionatória, não poderia ter com dispositivos tão abstratos e tal. Ou seja,
alega a inconstitucionalidade material. Gajardoni: não vê possibilidade do STF declarar a nulidade,
nem mesmo modulando os efeitos.
A AIA somente protege direitos DIFUSOS (neste sentido, se aproxima da ação popular,
inclusive a Ada Pelegrini diz que esta nada mais é do que uma ação popular com legitimidade
distinta).
São os seguintes atos que são atacados pela defesa dos interesses e direitos difusos (=
improbidade):
1) Art. 9º: Atos que geram enriquecimento ilícito do agente. Somente por DOLO.
126
2) Art. 10: Atos que causam prejuízo ao erário. DOLO ou CULPA grave.
3) Art. 11: Atos que violem os princípios da administração. Somente DOLO (STJ).
O STJ diz, em justificativa a ser somente DOLO no art. 11, que “nem toda ilegalidade é
uma improbidade. De acordo com o tribunal, a improbidade deve ter o interesse/móvel/dolo de
vilipendiar, de ofender de ir de encontro à moralidade administrativa”. Se o indivíduo não publica o
ato por desatenção, sem ter a intenção de não publicar, não ofende o princípio da publicidade.
MP: esse tipo do art. 11 é o que a gente pode utilizar de tipo de reserva (Nelson Hungria:
“soldado de reserva”), ou seja, vai ser aplicado quando não couber o art. 9º ou 10.
Dica (MP): no final da peça “caso sua excelência não vislumbre o desvio de dinheiro, no
mínimo está configurada a violação ao princípio x. Nesse sentido, pede-se a aplicação do art. 11
(...)”.
O art. 12 da LIA vai aplicar sanções mais graves no 9º, diminuindo a gravidade das sanções
no 10 e 11.
Art. 17. A ação principal, que terá o rito ordinário, será proposta pelo
Ministério Público ou pela pessoa jurídica interessada, dentro de trinta dias
da efetivação da medida cautelar.
14.5.1. MP
14.5.2. PJ interessada
OBS1: defensoria não pode. Completamente fora das finalidades institucionais (defesa dos
hipossuficientes). No RS pode! Há julgados nesse sentido.
Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, todo aquele
que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por
eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma
de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas
entidades mencionadas no artigo anterior.
Regra geral, a AIA é ajuizada em 1ª instância (não tem foro por prerrogativa de função,
quem quer que seja), e no local do dano (art. 2º da LACP, aplicação integrativa do microssistema).
Obs.: existe uma grande probabilidade de que a atual composição da Corte modifique esse
entendimento.
14.7. SANÇÕES
Por aplicar sanções, diz-se que estamos diante do direito administrativo sancionatório. Por
conta disso, muitos confundem inclusive com ação penal (diferença, aqui as sanções são de
natureza penal).
Observações:
129
Perda de bens e valores SIM. Em desfavor do SIM, se houver, sempre NÃO.
acrescidos ilicitamente agente e talvez do terceiro. será em desfavor do
terceiro.
Ressarcimento integral do SIM, se houver dano. Em SIM, em desfavor do SIM, se houver dano
dano desfavor do agente e do agente e do terceiro. pelo terceiro.
terceiro.
3. Perda do cargo público – existe um dispositivo na LIA (art. 20) que estabelece a
perda do cargo só ocorrerá após o trânsito em julgado da sentença condenatória.
4. Pena de suspensão dos direitos políticos – não pode votar e nem ser votado.
Também, de acordo com o art. 20, da LIA, esta pena só se efetiva com o trânsito em
julgado.
5. Mitigação desses efeitos pelo advento da LC 135/10 (lei da ficha limpa), que deu
nova redação ao art. 1º, l, da LC 64/90.
130
Art. 1º, (...), l) os que forem condenados à suspensão dos direitos políticos,
em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado,
por ato doloso de improbidade administrativa que importe lesão ao
patrimônio público (art. 10, LIA) e enriquecimento ilícito (art. 9º, LIA), desde
a condenação ou o trânsito em julgado até o transcurso do prazo de 8 (oito)
anos após o cumprimento da pena;
De acordo com Lei de Ficha Limpa, caso o agente seja condenado em 2ª instancia
(colegiadamente) à suspensão dos direitos políticos por ato doloso, conforme art. 9º ou
art. 10, da LIA, automaticamente, estará inelegível, embora ainda se preservem os
seus direitos políticos para votar e propor ação popular. Portanto, a lei de ficha limpa
não antecipou a pena de suspensão dos direitos políticos, mas mutilou
antecipadamente o seu exercício (inelegibilidade).
14.8. PROCEDIMENTO
Art. 17. A ação principal, que terá o rito ordinário, será proposta pelo
Ministério Público ou pela pessoa jurídica interessada, dentro de trinta dias
da efetivação da medida cautelar.
Caso o juiz não faça a defesa preliminar, o réu pode alegar nulidade ao fim do processo?!
131
Temos duas posições:
Alegar esse vício em momento oportuno (na primeira oportunidade em que falar nos
autos); e
1) Rejeitar (mérito) / indeferir (sem mérito): pode fazer isso a qualquer tempo. O recurso
cabível neste caso será a apelação.
OBS: no processo civil, em regra, da decisão que manda citar o réu, não cabe recurso, aqui
caberá AGRAVO, nos termos do §10º do art. 17.
Art. 17
§ 12. Aplica-se aos depoimentos ou inquirições realizadas nos processos
regidos por esta Lei o disposto no art. 221, caput e § 1o, do Código de
Processo Penal. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 2001)
Art. 17
§ 4º O Ministério Público, se não intervir no processo como parte, atuará
obrigatoriamente, como fiscal da lei, sob pena de nulidade.
132
14.8.6. Sentença
Recurso cabível: apelação (art. 14 da LACP quem decide o efeito suspensivo é o juiz da
causa).
LACP - Art. 14. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos recursos,
para evitar dano irreparável à parte.(efeito suspensivo ope judicis)
LAP Art. 19. A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência
da ação está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito
senão depois de confirmada pelo tribunal; da que julgar a ação
PROCEDENTE caberá apelação, com efeito suspensivo. (Redação dada
pela Lei nº 6.014, de 1973)
Voltando à LIA...
§ 2º A Fazenda Pública, quando for o caso, promoverá as ações
necessárias à complementação do ressarcimento do patrimônio público.
§ 5o A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas as
ações posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou
o mesmo objeto. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)
§ 11. Em qualquer fase do processo, reconhecida a inadequação da ação
de improbidade, o juiz extinguirá o processo sem julgamento do mérito.
(Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 2001)
Art. 18. A sentença que julgar procedente ação civil de reparação de dano
ou decretar a perda dos bens havidos ilicitamente determinará o pagamento
ou a reversão dos bens, conforme o caso, em favor da pessoa jurídica
prejudicada pelo ilícito.
133
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente
constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos
interesses de seus membros ou associados;
- Disciplinar dois temas que até então não tinham previsão legal, embora existentes na
prática, quais sejam, o MS originário (MS que começa nos tribunais superiores) art. 16 e art. 18 e
o MSC (art. 21 e art. 22).
Art. 16. Nos casos de competência originária dos tribunais, caberá ao relator
a instrução do processo, sendo assegurada a defesa oral na sessão do
julgamento.
Parágrafo único. Da decisão do relator que conceder ou denegar a medida
liminar caberá agravo ao órgão competente do tribunal que integre.
Art. 21. O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por partido
político com representação no Congresso Nacional, na defesa de seus
interesses legítimos relativos a seus integrantes ou à finalidade partidária,
ou por organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente
constituída e em funcionamento há, pelo menos, 1 (um) ano, em defesa de
direitos líquidos e certos da totalidade, ou de parte, dos seus membros ou
associados, na forma dos seus estatutos e desde que pertinentes às suas
finalidades, dispensada, para tanto, autorização especial.
Parágrafo único. Os direitos protegidos pelo mandado de segurança coletivo
podem ser:
I - coletivos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os transindividuais, de
natureza indivisível (difusos e coletivos em sentido estrito), de que seja
titular grupo ou categoria de pessoas ligadas entre si ou com a parte
contrária por uma relação jurídica básica;
II - individuais homogêneos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os
decorrentes de origem comum e da atividade ou situação específica da
totalidade ou de parte dos associados ou membros do impetrante.
Sustentou-se durante muitos anos que não cabia a aplicação do CPC ao MS.
Nos últimos anos, entretanto, este quadro mudou e passou-se a admitir a aplicação
subsidiária do CPC em praticamente todos os temas (embargos infringentes, intervenção de
terceiros).
d) Súmulas:
STF - 101; 266 a 272; 304; 392; 405; 429; 430; 433; 474; 506; 510 a 512; 597; 622 a 632;
701.
STJ – 41; 105; 169; 177; 202; 206; 212; 213; 333; 376; 460.
15.2. CONCEITO
Fato: deve ser incontroverso, ou seja, provado de plano. Não depende de dilação
probatória, uma vez que este fato está comprovado através de uma prova pré-constituída (direito
líquido e certo)
Paralelo entre MS e ação monitória: ambos são processos documentais, pois dependem
de prova pré-constituída.
Fundamentos jurídicos: pode ser controverso, ou seja, pode ser um direito intrincado (não
é pacífico)
Art. 6º, §§ 1º e 2º da Lei do MS, uma vez que a prova está em poder da autoridade
coatora, deve ser alegado em sede de preliminar.
Art. 6o (...)
§ 1o No caso em que o documento necessário à prova do alegado se ache
em repartição ou estabelecimento público ou em poder de autoridade que
se recuse a fornecê-lo por certidão ou de terceiro, o juiz ordenará,
preliminarmente, por ofício, a exibição desse documento em original ou em
cópia autêntica e marcará, para o cumprimento da ordem, o prazo de 10
(dez) dias. O escrivão extrairá cópias do documento para juntá-las à
segunda via da petição.
§ 2o Se a autoridade que tiver procedido dessa maneira for a própria
coatora, a ordem far-se-á no próprio instrumento da notificação.
137
O MS é uma medida residual, por isso só cabe em casos em que não é possível HC e HD.
O HC foi forjado para o cabimento de concessão liberdade (ir e vir). Está previsto no CPP.
O habeas data é regulamentado pela Lei 9.507/97, art. 7º, é concedido para garantia ao
direito de informação própria. Portanto, é utilizado para obter informação própria. Caso queira
informação de terceiro deve ser impetrado MS.
Divide-se em:
Entende-se que a parte pode abrir mão da via administrativa, expressamente, para
impetrar MS, vez que o ato é exequível.
Há exceção da exceção, ou seja, há uma hipótese em que mesmo que tenha recurso
administrativo com efeito suspensivo e sem caução caberá MS. É a hipótese do ato omissivo,
entendimento sumulado (429 STF)
Ato legislativo: em regra, não cabe MS contra ato legislativo (Súmula 266 STF).
- Leis de efeitos concretos: são leis que por si só já operalizam prejuízo, ou seja, não
precisam de um ato administrativo posterior para causar prejuízo, a exemplo de leis proibitivas
(Lei do Fumo);
Ato judicial: em regra, não cabe MS contra ato judicial (art. 5º, II e III, súmula 267 e 268
STF)
Súmula 267 STF - Não cabe mandado de segurança contra ato judicial
passível de recurso ou correição.
Súmula 268 STF - Não cabe mandado de segurança contra decisão judicial
com trânsito em julgado.
138
Exceção: cabe nos seguintes casos
Contra decisão que não possui recurso previsto em lei (sucedâneo recursal), antes do
trânsito em julgado. São exemplos: JEC e JEF
No caso de decisão do STF, mesmo que não exista recurso previsto em lei, não cabe MS.
Contra decisão teratológica (monstruosa), não possui substrato material, cabe, inclusive,
após o trânsito em julgado. Por exemplo, no caso de petição inicial em que o juiz sentencia e
manda citar o réu depois.
Abuso de poder (direito): refere-se aos atos discricionários, deve escolher dentro daquilo
que protege o interesse público. Quando faz a opção que não atende ao interesse público
caracteriza ato abuso de poder, cabendo MS contra ela.
15.3. LEGITIMIDADE
b) Entende-se que o MS é uma ação personalíssima, por isso a morte do autor gera a
extinção do processo;
e) Art. 3º
139
Parágrafo único. O exercício do direito previsto no caput deste artigo
submete-se ao prazo fixado no art. 23 desta Lei, contado da notificação.
Toda previsão da legitimidade passiva (MSI e MSC) está no art. 1º, §§ 1º e 2º, da Lei do
MS.
§ 1o Equiparam-se às autoridades, para os efeitos desta Lei, os
representantes ou órgãos de partidos políticos e os administradores de
entidades autárquicas, bem como os dirigentes de pessoas jurídicas ou as
pessoas naturais no exercício de atribuições do poder público, somente no
que disser respeito a essas atribuições.
§ 2o Não cabe mandado de segurança contra os atos de gestão comercial
praticados pelos administradores de empresas públicas, de sociedade de
economia mista e de concessionárias de serviço público.
Indica os dois porque o art. 7º, II, manda notificar o coator e deve avisar o órgão de
representação da pessoa jurídica.
Tecnicamente, a autoridade coatora é qualquer um dos dois casos acima, mas desde que
seja capaz de desfazer o ato.
Ato coator praticado diversas vezes em áreas distintas, inclusive por executores
distintos. O prejudicado, se quiser, pode impetrar um MS contra cada ato ou
apenas um MS contra o superior hierárquico de todos os outros;
140
MS no ato complexo (decisão é fruto da vontade de órgãos distintos). Súmula 627
Ato composto: uma pessoa pratica o ato e outra homologa (autoridade coatora), a
exemplo de demissão de servidor público;
II Grupo
III Grupo
141
Em princípio, não cabe MS contra bancos privados, pois a atividade não é
delegada, mas sim autorizada, entretanto, se a discussão for sobre o
sistema financeiro de habitação o banco age exercendo atribuição do poder
público. Neste caso, cabe MS.
IV Grupo
15.4. COMPETÊNCIA
15.4.1. Funcional/hierárquico
Observações:
A regra geral do sistema é que não haja foro privilegiado em processo civil. Porém, o MS é
uma exceção.
142
MS contra ato do colégio recursal, para atacar sua competência RMS 17524/BA, será o TJ
ou TRF da região.
O STF, no julgamento 574386/BA, entendeu que não cabe MS, contrariando a súmula do
STJ.
15.4.2. Material
b) Justiça Eleitoral – julga desde que a matéria seja a do art. 121, CF. Basicamente, o MS
de matéria eleitoral será julgado pela JE.
c) Justiça Federal e Justiça Estadual – o que define a competência entre elas é o status da
autoridade, ou seja, se a autoridade coatora for federal (JF); se autoridade coatora for estadual
(JE).
Para definir quem é competente nestes casos, verifica-se o status não da autoridade, mas
sim de quem autoriza à atividade.
Por exemplo, MS contra energia elétrica – União autoriza – Justiça Federal; porém, se
resolver entrar com qualquer outra ação (cautelar, tutela antecipada, obrigação de fazer ou não
fazer), o réu será a concessionária (particular), portanto, a competência será da justiça estadual.
Ex2: MS em matéria de ensino superior – pode ser explorado pela União, Estados/DF e
Municípios, bem como particulares (pede autorização para o MEC – União).
MS Outras ações
Universidade Federal Justiça federal Justiça federal
Universidade Estadual Justiça estadual Justiça estadual
Universidade Municipal Justiça estadual Justiça estadual
Universidade Particular Justiça federal Justiça estadual
15.4.3. Valorativo
Nem a Lei 9.099/95 (art. 8º), nem a Lei 10.059 (art. 3º, § 1º), tão pouco a Lei 12.153 (art.
2º), admite MS nos juizados em 1ª Grau
15.4.4. Territorial
143
O que define a competência é o domicílio funcional da autoridade coatora, pouco
importando onde o ato tenha sido praticado. É absoluta, causa de nulidade.
15.5. PROCEDIMENTO
MP (10 dias)
Sentença
15.5.1. Liminar no MS
Art. 7º, III - que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido (liminar),
quando houver fundamento relevante e do ato impugnado puder resultar a
ineficácia da medida, caso seja finalmente deferida, sendo facultado exigir
do impetrante caução, fiança ou depósito, com o objetivo de assegurar o
ressarcimento à pessoa jurídica.
Antes da nova Lei do MS, era pacífico o entendimento de que era vetado a exigência de caução
para conceder a liminar.
Art. 7º, § 2o Não será concedida medida liminar (cabe MS) que tenha por
objeto a compensação de créditos tributários, a entrega de mercadorias e
bens provenientes do exterior, a reclassificação ou equiparação de
servidores públicos e a concessão de aumento ou a extensão de vantagens
ou pagamento de qualquer natureza.
O STF, no julgamento da ADC 4, entendeu que estas limitações são constitucionais, salvo
em matéria previdenciária.
15.5.2. Informações
b) Não há revelia pela falta de apresentação, eis que a presunção de legitimidade do ato
administrativo se sobrepõe a presunção de veracidade da revelia.
c) Natureza
15.5.3. Sentença
144
Art. 13. Concedido o mandado, o juiz transmitirá em ofício, por intermédio
do oficial do juízo, ou pelo correio, mediante correspondência com aviso de
recebimento, o inteiro teor da sentença à autoridade coatora e à pessoa
jurídica interessada.
Parágrafo único. Em caso de urgência, poderá o juiz observar o disposto no
art. 4o desta Lei.
15.5.4. Recursos
b) Em 1º grau cabe: agravo - liminar (art. 7º, §1º), apelação (sem efeito suspensivo, salvo
no caso do art. 14, § 3º, casos em que não cabe liminar contra o poder público) e embargos de
declaração.
d) MS originário (foro privilegiado) já começa nos tribunais, cabe: agravo para o colegiado
(agravo interno) em duas situações:
Cabe ROC (art. 18 LMS): é julgado pelo STJ ou pelo STF, depende da origem do MS
originário.
Ordem denegada
145
Cabe Resp ou RE quando concede a ordem.
15.5.5. Desistência
Não aplica o art. 267, § 4º, CPC, não depende de concordância da outra parte. STJ possui
vários precedentes a respeito.
15.5.6. Decadência
O art. 23, LMS, é claro no sentido de que o MS só pode ser impetrado no prazo de 120
dias.
Natureza jurídica:
2ªC – (Leonardo Carneiro da Cunha) prazo extintivo com natureza própria (minoritária). É
melhor porque a decadência do MS não acarreta a perda do direito, mas apenas da via, nada
impedindo que a parte postule o mesmo direito pela via comum.
O prazo é constitucional.
Termo inicial:
b) Ato preventivo – não há prazo, eis que o ato ainda não foi praticado;
c) Ato omissivo – se houver prazo legal para manifestação do coator conta-se do fim
do prazo; se não houver prazo legal para a prática do ato não corre o prazo de 120
dias, pois o ato omissivo é permanente.
Por esta teoria entende-se que o juiz extinguirá o processo, sem o julgamento do mérito
toda vez que, já concedida a liminar, for observado, ao tempo do julgamento da ação, que a
concessão ou não da ordem não alterará a situação de fato, já consumada. Nestes casos,
extingue-se o MS sem análise do mérito. Por exemplo, a criança que cursou a primeira série por
força de liminar.
Obs.: O STJ, não aceita a aplicação desta teoria, em caso de candidato que participou de fase de
concurso por força de liminar.
146