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A ideia de bloqueios econômicos, sociais e institucionais ao crescimento econômico do

brasil não é nova. Porem o problema é posto novamente: o não desenvolvimento no


crescimento. Para José de Souza Martins o que bloqueia o desenvolvimento social e politico da
sociedade brasileira é a modalidade de crescimento econômico. O próprio capitalismo.

Cardoso trabalhou a hipótese de que a acumulação de capital gerado na exploração do


trabalho escravo entrara em contradição justamente com essas relações de trabalho. Dai a
necessidade de abolir o escravismo. Sendo assim, essa interpretação difundida em diversos
trabalhos suscitava o questionamento: que classe assumiria o projeto de promover o
desenvolvimento das condições para que a reprodução do capital passasse a ocorrer de modo
capitalista. Mas para Cardoso, o escravismo se desenvolvera no corpo do próprio processo de
expansão mundial do capital. Portanto, a contradição entre o capital e o escravismo não tinha
a radicalidade da contradição que opusera o capital às relações feudais. Sendo assim, os
próprios fazendeiros estariam em condições de personificar as necessidades de reprodução
capitalista do capital.

As grandes mudanças sociais e econômicas do Brasil contemporâneo não estão


relacionadas com o surgimento de novos protagonistas sociais e políticos, portadores de um
novo e radical projeto politico e econômico. As mesmas elites responsáveis pelo patamar de
atraso em que se situavam numa situação histórica anterior protagonizaram as
transformações sociais.

AS LUTAS SOCIAIS NO CAMPO E O ESTADO DE COMPROMISSO

Durante a os anos de 1950, trabalhadores rurais de varias regiões manifestaram-se


politicamente. O surgimento das Ligas Camponesas no Nordeste ganham destaque na
imprensa, que se encarregaram de destacar a dimensão estritamente politica do fato. O que
pesaria decididamente no modo como os militares acabaram interpretando o movimento
camponês das Ligas, como episodio de uma revolução agraria comunista.

A principal consequência imediata da investida comunista no campo foi a mobilização


da igreja católica numa ampla cruzada de conscientização e organização sindical dos
trabalhadores rurais.

O período também é marcado pela tomada de consciência por importantes setores da


elite – bispos e clero, principalmente - de que a questão da miséria era uma questão politica.
Situação esta que poderia ser resolvida com uma revolução. Ou com reformas sociais.
Rejeitam a revolução, pois ela desmobiliza a estrutura hierárquica, como concessão apresenta-
se as reformas. Por ser mera concessão o problema persiste, pois se mantem as estruturas
clientelistas.

A polarização politica da época, demarcada pela Guerra Fia, o anticomunismo oficial, e


sobretudo o pacto politico tácito de 1946, definiram a chave de leitura dos acontecimentos do
país.

A INTERVENÇAÕ MILITAR NA QUESTÃO AGRÁRIA: A ALIANÇA ENTRE CAPITAL E


TERRA

Essa tradição cíclica é bem caracterizada pela identificação dos governos militares com
o desenvolvimento econômico, especialmente o desenvolvimento industrial, a repressão
politica e a precedência da centralização do poder nacional em relação ao poder regional nos
estados. E pela identificação dos governos civis e oligárquicos com interesses rurais, com um
certo liberalismo politico e o fortalecimento dos estados (e, portanto, das oligarquias antigas e
novas). A cíclica alternância entre oligarquias (governos descentralizados) e militares (governos
centralizados).

Primeiro caso: a República foi proclamada pelos militares numa espécie de golpe de
Estado antecipatório contra o movimento republicano baseado nas províncias e nas
oligarquias. Depois, na Revolução de 1930, foi posto no poder uma aliança de militares e
oligarquias regionais marginalizadas – logo após a Revolução, por exemplo, vários coronéis
sertanejos foram presos na tentativa de desmantelar as bases do poder local.

Para Fausto a revolução de 1930 deve ser entendida como o resultado de conflitos
intraoligárquicos fortalecidos por movimentos militares dissidentes, que tinham como objetivo
golpear a hegemonia da burguesia cafeeira. Contudo, em virtude da incapacidade das demais
frações de classe para assumir o poder de maneira exclusiva e, com o colapso político da
burguesia do café, abriu-se um vazio de poder. A resposta para essa situação foi o Estado de
Compromisso. Vargas não estendeu aos trabalhadores rurais os direitos legais das Leis do
Trabalho de 1942.Para José de Souza Martins, Vargas não quis ou não pode enfrentar os
grandes proprietários de terra e seus aliados. No seu governo se estabeleceu as bases de um
contrato tácito, ainda vigente, onde, proprietários de terra não dirigem o governo, mas não
são por eles contrariados.

No intervalo entre golpes, 1946-1964, houve enfraquecimento politico das oligarquias.


Com isso, a composição do Congresso estava mudando claramente em favor de uma
representação política mais sensível às necessidades de reformas sociais. Em suma, entrava
em discussão a base material das classes, a questão da propriedade e o fundamento das
relações politicas, até então predominantemente apoiadas no monopólio da propriedade de
terra.

No fim das contas, o problema era mesmo o de saber quem consuziria o processo de
implantação das reformas sociais. Não havia na elite uma classe antagônica – uma burguesia
industrial, por exemplo – oposta aos interesses do latifúndio, que pudesse levar adiante
reformas sociais que não afetassem opções politicas e ideológicas fundamentais.

Às lutas dispersas e frágeis do campo foi dada uma dimensão que concretamente não
tinham. A de uma revolução agrária comunista. Portanto, identificadas com a opção ideológica
contraria àquela em que nos situávamos desde o fim da segunda guerra.

Essas circunstâncias alteraram a possibilidade dos arranjos dos interesses de classe


que em outras sociedades fizeram da reforma agrária um passo essencial para sua respectiva
modernização. Desde o sec. XIX, com a ascensão da burguesia em vários países, foi a reforma
do direito de propriedade e a democratização do acesso à propriedade, de maneira a abolir
privilégios nele baseados, dinamizar o mercado e incrementar a igualdade jurídica que
dinamizaram a economia capitalista e acentuaram o papel transformador do mercado.

No brasil dos anos cinquenta e sessenta, portanto, a questão agraria emergiu em meio
as relações de classes que não se combinavam no sentido de fazer dela uma fator de mudança
e de modernização social e econômica.

O golpe não seria possível sem a ação ideológica de proprietários de terra que levaram
pras ruas a ideia de resistência às reformas sociais, invocando para isso a sacralidade dos
valores da tradição. Marcha da Familia com Deus pela Liberdade

Quando no poder, o regime militar propôs uma politica de ocupação favorecida da


região amazônica. Portanto, uma politica de concessão de incentivos fiscais aos empresários.

No modelo brasileiro o empecilho à reprodução capitalista do capital na agricultura


não foi removido por uma reforma agrária, mas pelos incentivos fiscais. O empresário pagava
pela terra, em compensação recebia gratuitamente, sob a forma de incentivo fiscal, o capital
de que necessitava para torna a terra produtiva. O regime militar comprometeu – no sentido
de assegurar sua posição junto aos proprietários de terra - os grandes capitalistas com a
propriedade fundiária e suas implicações politicas. Estabelecia-se uma aliança social e
econômica.

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