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A Definição Bíblica de Heresia

George Gillespie

Um Tratado sobre Múltiplas Questões, cap. 9 .

O Apóstolo diz: Pois também deve haver heresias, para que os que são aprovados
se manifestem entre vocês, ou como outros leem, para que os que são aprovados
entre vocês sejam manifestos (1 Coríntios 11:19).

O que se entende na Escritura pela palavra heresias, e como devemos entender que
deve haver heresias, a fim de que a parte piedosa , ou aqueles que são aprovados, se
manifeste?

Por heresias, aqui, alguns não entendem nada mais que divisões e partidos; e
concebem que heresias, no que diz respeito à opinião ou à doutrina, não estão em
questão por aqui; como Crisóstomo, Erasmus e outros. Por este raciocínio , as
verdadeiras divisões e partidos revelam quem são os aprovados, e quem não, antes
que se tornem opiniões heréticas; ou seja, os sectários não são aprovados, e
aqueles que realmente forem aprovados não serão deles, mas irão se manter
imaculados e limpos. Por isso; em Tito 3:10, o heretikon [herege] é representado
pela Bíblia Tigurina como sectarum authorem, beirando o factiosum; ou seja, um
homem que é autor de seitas (ou facções), após a primeira e a segunda
admoestação rejeita-o. E eles leem em 1 Coríntios 11:19, oportet enim et sectas in
vobis esse [de fato, é certo que existem divisões entre vocês].

Às vezes, a palavra heresis é tomada no Novo Testamento como seita, (note) seja
quando de fato era uma, ou quando acreditava -se que era de alguma opinião
herética, como em Atos 5:17; 15:5; 24:5; 26:5; 28:22. O apóstolo usa a palavra
heresis duas vezes em suas epístolas, e em ambos os lugares faz certa diferença e
distinção entre heresias e divisões, ou disputas e variações, 1 Coríntios 11:18 -19;
Gálatas 5:20. Pois nem toda divisão, conflito ou variação, é heresia; portanto, no
texto que falo agora, entendo que a heresia seja um pouco mais do que uma
divisão.

O 1 Coríntios 12:25 árabe, que no grego e em nossas traduções é 1 Coríntios


11:19; repete a palavra cismas do verso anterior e, além disso, acrescenta a palavra
heresias, lendo-se skismata kai heresis [cismas e heresias], pois devem surgir
cismas e heresias entre vocês, a fim de que os que são piedosos dentre vocês
possam ser conhecidos. Parece que aqueles que entendem a palavra heresias apenas
como divisões, não observaram como surgiu o discurso do Apóstolo; pois, depois
que ele falou de suas skismata, ou divisões cismáticas, contrárias ao domínio do
amor, ele acrescenta dei gar kai hereseis, etc., pois também deve haver heresias
entre vocês. Ele diz: Em parte acredito nisso, que há divisões entre vocês; p ois não
deve haver apenas cismas, mas algo pior do que isso, também deve haver heresias.
Se você está se perguntando agora: "O que é heresia?" Eu devo, sem qualquer
seguimento implícito de escritores, fundamentar minha resposta na própria
Escritura. Responderei primeiro negativamente, e então positivamente.
Negativamente

I. A heresia não deve se estender em tão em grande medida que seja


estendida como todos os erros que podem ser confundidos nas
Escrituras, felizmente, mesmo que esse erro seja mantido de forma
tenaz; nem ainda deve ser tão restrita a ponto de nenhum erro ser
considerado herético, além do que é destrutivo para algum artigo
fundamental da fé Cristã; por este artigo fundamental entende-se que
sem este conhecimento de tal verdade é impossível obter a salvação.
Quando Pedro, o mártir, define heresia; ele não faz menção de um erro
fundamental, mas de um erro contrário às Escrituras (Loc. Com., Classe.
2, Capítulo 4, Seção 50). Então Calvino (Institutas, Livro 4, Capítulo 2,
Seção 5), entende como herético, tudo quanto à violação da Igreja com
falsas doutrinas. Walæus (1:57) diz que as igrejas heréticas de qualquer
erram algo em sua fundação, ou simplesmente em outras coisas acima
desta base. Quando Pedro fala de tais heresias que tira m o próprio
fundamento, Jesus Cristo, ele acha muito pouco chama-las de heresias
simples, ele as chama de heresias condenáveis [2 Pedro 2:1]. Mas se
você entender por verdades fundamentai s todos os princípios triviais e
substanciais (não quero dizer apena s os primeiros rudimentos, ou o ABC
de um catecismo, que antes de tudo, damos aos primeiros iniciantes; me
refiro a toda as verdades que são comumente colocadas nas confissões
da fé e nos catecismos maiores e mais completos das igrejas reformadas;
ou todas as verdades que todo e qualquer um que vive em uma igreja
reformada verdadeiramente cristã é ordenado e obrigado a aprender e
conhecer; da mesma forma que esperam ser salvos , na dispensação
comum de Deus), neste sentido, posso ceder que uma heresia é sempre
contrária a alguma verdade fundamental.

Uma coisa disputar é o poder soberano e absoluto de Deus, e sobre quais


verdades quando não cridas tornam a possibilidade de alguém ser salvo
absolutamente e completamente impossível; essa questão é dificilmente
determinada pelas Escrituras, eu duvido ser possível; nem sei qual é a
edificação de tal prospecção; certamente sei que é uma questão muito
batida. Outra coisa é disputar quais são as verdades que, em uma igreja
onde o evangelho é verdadeiramente pregado, todo e qualquer um,
chegando a anos de conhecimento e discernimento, tendo os meios e a
oportunidade de aprendizado, é obrigado a saber; e que de acordo com a
vontade revelada e a dispensação ordinár ia de Deus, devem aprender,
pois estes desejam ou esperam ter uma verdadeira comunh ão com Cristo
no sacramento da Ceia Do Senhor, e foram aceitos e eternamente salvos
por Deus.

II. Não devemos pensar que nenhum homem, além daquele que é
admoestado de forma consistente ou jurídica e depois continua com
persistindo em seu erro, é herege. Visto que onde é dito: Ao homem que
é um herege, após a primeira e segunda admoestação, rejeita -o (Tito
3:10), é indicado que ele já era um herege antes de tal admoestação.
Positivamente

I. É um erro de algum ministro ou membro de uma igreja; quero dizer, de


uma igreja verdadeira, ou de uma congregação que finge e professa ser
uma verdadeira igreja. Pois Pedro e Paulo, ao predizerem que as
heresias viriam (2 Pedro 2:1; 1 Coríntios 11:19) acrescentam en humin
[entre vocês] ou seja, entre vocês Cristãos. Assim, também se
levantarão entre vocês homens que falam coisas perversas (Atos 20:30).
Portanto, a Escritura não dá o nome de herege a todos os que estão
completamente fora da Igreja Visível; a estes ela chama pagão,
incrédulo, de fora ou algo similar.

II. É um erro voluntário e deliberado, tanto na primeira ideia como no que


se refere a este (o que é próprio dos autores de heresias), bem como na
sua manutenção ou adesão dele (o que é comum a todos os hereges). Isto
eu retiro do próprio nome que a E scritura dá; pois heresis vem de
hereomai [eu escolho]. Portanto, não damos o nome dos hereges a tais
Cristãos que são obrigados, em tempo de perseguição, a professar tal
erro; que possivelmente seria uma heresia formal, caso fosse professado
voluntariamente e sem compulsão. De fato, deveriam morrer, e suportar
os maiores tormentos, antes de professarem o que sabem que é um erro.
Mas este pecado, pecado deles, não é propriamente chamado de heresia,
pois um herege faz livre e voluntariamente aquilo que está em seu erro.
E, a este respeito e consideração, Tertu liano pensa que um herege é
chamado autokatakritos [condenado por si mesmo] em Tito 3:11, porque
ele escolheu o que é condenável. O A póstolo ordenou rejeitar um
herege. Podem dizer que se eu rejeitá-lo, eu o perco, eu destruo sua
alma. O Apóstolo diz que não, sua perdição é por si mesmo, pois ele
escolheu seus próprios caminhos, e sua alma se deleita em suas próprias
abominações. Esta interpretação é muito mais confiável e segura do que
dizer que um herege é chamado autokatakritos, ou autocondenado,
porque ele vai contra sua própria luz, e contra os princípios recebidos e
reconhecidos por ele mesmo; esse raciocínio é acompanhado de muitas
consequências perigosas.

III. É tanto um erro voluntário como uma rejeição da verdade. Um herege


troca a luz pela escuridão, e a escuridão pela luz; o bem pel o mal e o
mal pelo bem; ele escolhe o erro como verdade e considera a verdade
como erro. Os que são ouvidos a espíritos sedutores e doutrinas dos
demônios se afastam da fé (1 Timóteo 4:1); resistem à verdade (2
Timóteo 3:8) ; e desviam os ouvidos da verdade (2 Timóteo 4:4). Seu
curso tem um término a quo [tal qual], bem como ad quem [para tal].

IV. É um erro confessado e sustenta do, e que, por isso, torna-se um


escândalo e uma armadilha para os outros. Pois, embora existam
heresias (assim como outros tipos de pecado) a espreita e escondidos
nos pensamentos, isso pertence apenas ao julgamento de Deus, e não ao
dos homens. As heresias de que são faladas ( 1 Coríntios 11:9), tornam-
se certamente conhecidas, e visivelmente perceotíveis , mesmo entre os
homens. Os hereges são pessoas escandalosas, a serem evitadas e
rejeitadas (Romanos 16:17; Tito 3:10). O que é impossível de acontecer,
a menos que seus erros sejam revelados.

V. É um erro contraditório a alguma verdade essencial e substancial, seja


um fundamento ou uma dedução imprescindível, derivada da Sagrada
Escritura. Nunca houve nenhum herético no mundo cristão que fosse
contra o que está de forma literal e silábica nas E scrituras. O herege
mais condenável alegará que subscreve a Escritura em vez de uma
Confissão de Fé, e assim não subscreva todas as verdades
imprescindivelmente dedutíveis das palavras da Escritura. Mas eu não
chamo todo erro, que é contrário alguma verdade dedutivamente
fundamentada nas Escrituras, de heresia. Assim como as Escrituras não
consideram todos os que pecam como praticantes de iniquidade, não
consideram que todos os que se erram sejam hereges. Embora não exista
nenhum pecado ou erro que em sua verdadeira natureza seja
desculpável, nem todo pecado é um pecado grosseiro e hediondo, e nem
todo erro é uma heresia. As heresias são mencionadas como males
maiores do que os cismas (1 Coríntios 11:18-19), o que não poderia ser
verdade se todos os erros fossem heresias.

VI. É um erro mantido de forma facciosa, que rompe a Igreja e retira


discípulos depois, a respeito disso Agostinho falou: Errare potero,
hæreticus non erro [eu posso errar, mas não posso ser um herético]. Os
hereges são enganadores e sedutores, se esforçam para perverter os
outros e derrubar sua fé (2 Timóteo 3:13; Atos 20:30; 2 Timóteo 2:17-
18; Romanos 16:17-19; 2 Pedro 2:2). Todos os hereges conhecidos e
notáveis também são cismáticos, fazem uma ruptura e fortalecem seu
próprio partido se afastando, ou ajuntando discípulos e seguidores para
si, tanto que a palavra heresis costumava ser usada como seita (Atos
5:17; 15:5; 24:5; 26:5). Por isso, os donatistas fo ram condenados como
hereges, mesmo que Cipriano não tenha sido a imputado como herege .
Vincentius Lirinensis, Advers. Hæret. [Contra os Heréticos], Capítulo
11, diz: "O estranho sobre as coisas é que os autores de uma mesma
opinião são julgados católicos, mas os seus seguidores como hereges; os
mestres são absolvidos, os discípulos são condenados ; os escritores
desses livros são filhos do reino, mas o inferno deve receber os
assertivos ou mantenedores destes". O último ingrediente que se
encontra na heresia é sugeri do pelo intérprete árabe, 1 Coríntios 11:19,
onde ele junta cismas e heresias, como já foi dito; de fato, no original a
partícula kai [e], e o surgimento do discurso, estabelece heresia como
algo transporta o cisma em seu seio. O Apóstolo diz: Eu acredito, em
parte, pelo que eu ouço de seus cismas, que também deve haver
heresias, isto é, cismas e um pouco mais. Calvino (Institutas, Livro 4,
Capítulo 2, Seção 5) diz que romper a comunhão com a Igreja e a criar
divisão é algo comum aos hereges e cismáticos: Os hereges quebram
uma banda de comunhão da Igreja, que é a doutrina; os cismáticos
quebram outra, que é o amor, embora às vezes concordem com a mesma
fé.

Diante de todas essas observações Bíblicas, podemos fazer uma definição de


heresia neste sentido:

Heresia é um erro grosseiro e perigoso, voluntariamente


sustentado e facciosamente mantido por alguma pessoa, ou
pessoas, dentro da Igreja Visível, em oposição a alguma verdade
fundamental ou substancial, ou a verdades baseadas e extraídas
da Sagrada Escritura por deduções imprescindíveis.

Em seguida, por que o Apóstolo disse que deve haver heresias? Esta não é uma
necessidade simples ou absoluta, mas uma pós-hipótese [o que vem depois de
uma suposição]. Quero dizer, não só na suposição baseada na malícia de
satanás ou na corrupção dos homens, mas uma suposição procedente da
presciência, eterna e infalível, de Deus. E não só isso, mas sim pela suposição
de que o decreto eterno permite que satanás e homens corrompidos introduzam
heresias na Igreja, propondo, no mais sábio e santo conselho de Sua vontade,
desestabilizar (por assim dizer) Sua Igreja por essas heresias; isto é, ordená -las
e anulá-las, para o louvor de Sua graça e misericórdia, manifestando tais como
são os aprovados; e pela glória de Sua justiça, ao enviar fortes delírios sobre os
que não receberam o amor da verdade, e que antes têm prazer na injustiça. As
coisas são assim, ou seja, a malícia de s atanás e a corrupção dos homens são do
tal decreto de Deus, e de tal presciência; portanto deve haver heresias. Assim
também devemos entender o Mateus 18:7: É necessário que venham as ofensas.
Essas coisas eu concordo; mas me inquietam de certa forma.

O que aqui vejo é o bom uso que Deus, em Sua mais sábia e soberana
providência, pode fazer, e faz, com as heresias. Elas são para que os que são
aprovados possam ser revelados ; por hoi dokimoi [os que são aprovados] não
podemos entender nada além do que os santos verdadeiros e sinceros,
aprovados e aceitos por Deus; ou vere pii [verdadeiramente piedosos], como
afirmou Bullinger sobre o sentido que a palavra é usada (Romanos 16:10; 2
Coríntios 10:18; 2 Timóteo 2:15; Tiago 1:12). A palavra corretamente usada
como dinheiro bom, ou prata bem refinada (argurion) é transferida para os
santos com referência especial à sua mortificação, ou refinação da escória de
suas corrupções, assim nota-se o que andar no Espírito e não na carne. A
palavra contrária é hoi adokimoi [reprovado, rejeitado, desobediente, que deve
ser afastado como escória de prata] (1 Coríntios 9:27; 2 Coríntios 13:5-6).

Mas como é que por a parte piedoso é manifesta meio, ou por causa, das
heresias? Certamente, o Apóstolo não quer dizer que os autores e os seguidores
das heresias sejam da parte piedosa, pois ele chama a heresia de obra da carne
(Gálatas 5:20) e considera o herege reprovado, alguém que é condenado por si
só (Tito 3:10). Portanto, certamente ele quer dizer que hoi dokimoi [os
aprovados] são conhecidos por isso como personagens: Eles odeiam, evitam e
resistem às heresias; defendendo a fé com fervor; e les se mantêm firmes à
verdade de Cristo, sem hesitar. E aqueles que se prendem ou aderem a heresias,
são assim conhecidos como adokimoi [não aprovados], são como a prata ruim.

Portanto, todo aquele que se encaixa ou se envolve com heresias , ou com


hereges; sim, qualquer um que não se apegue à fé, ipso facto [por essa atitude],
declara que não é da parte piedosa de Paulo: Como a linguagem Do Espírito
Santo vai contra a voz dos sectários de nossos dias! Não é só nessa Escritura,
mas em diversas outras Escrituras, O Espírito Santo distingue aqueles que são
aprovados por Deus, por terem se convertido da verdade as falsas doutrinas, e
por terem crido em espíritos sedutores, como o daqueles que levam u ma vida
ímpia.

Em Deuteronômio 13:3, quando um falso profeta surgiu, um sinal ou milagre


aconteceu, qual era o motivo de Deus permitir aquilo? "O Senhor, O Deus de
vocês, os provará para saber se vocês amam O Senhor, O Deus de vocês, com
todo o seu coração, com toda a sua alma". Assim, eles ouviram o falso profeta,
exatamente quando seu sinal ou milagre aconteceu, e ficaram c onhecidos por
aquilo, por não terem amado a Deus com todo seu coração.

Novamente, os que são eleitos não são enganados pelos falsos cristos e falsos
profetas (Mateus 24:24); e, segundo o domínio do oposto, os que são enganados
por eles, e vão em seu erro até o fim, não são eleitos, mas reprovados (Gálatas
5:20-21).

A heresia é uma obra da carne, e é contada entre as coisas que tornam a pessoa
incapaz de herdar o reino de Deus. Portanto, aqueles que caminham no Espírito,
e não na carne, e são feitos para serem participantes da herança dos santos na
luz, não apenas não são hereges, mas resistem e se opõem à heresia,
considerando esta uma obra da carne ( João 8:31). Os que são discípulos de
Cristo, de fato, permanecem em S ua Palavra; os que não permanecem em Sua
Palavra, não são seus discípulos (1 João 2:24; 2 João 1: 9). Os que têm
comunhão com O Pai e com O Filho permanecem na doutrina de Cristo; os que
não permanecem na doutrina de Cristo não têm comunhão com O Pai e com O
Filho: o mesmo é dito em outras Escrituras.

Portanto; se deve haver heresias para que fique mais claro quem é aprovado, e
quem não é; surgirão pensamentos em nossos corações acusando a providência
Divina neste caso particular, mesmo com esse motivo. Justino, o Mártir,
respondeu à seguinte dúvida (Quæst. Et Respons. Ad Orthod. [Perguntas e
Respostas a Respeito da Ortodoxia], Questão 1): Se Deus tirou as idolatrias, as
superstições e as falsas religiões dos pagãos, aboliu o culto judeu, por que Ele
permitiu que as heresias entrassem na Igreja Cristã? Ele dá a seguinte solução:
Embora as heresias entrem na igreja através da negligência e da preguiça dos
homens, pois enquanto os homens dormiam, o inimig o semeava o joio entre o
trigo (Mateus 13:25) a providência de Deus não foi preguiçosa em sua função,
de maneira alguma. Pois Ele previu e determinou que as heresias viessem, e
avisou claramente em Sua Palavra sobre estas . Ele acrescenta: O mesmo Deus
que destruiu as religiões pagã e judaica, também destruirá as heresias, depois
de tolera-las por algum tempo. Embora não tenhamos conhecimento claro do
que Deus pretende fazer nas heresias, não devemos critica -Lo, mas
humildemente e reverentemente adorarmos os mais sábios e santos (embora
secretos e insondáveis) desígnios de Deus.

Se pudéssemos ver um pouco de veneno mortal em alguma droga , que um


médico qualificado e aprovado está fazendo uso, não devemos censurar o
médico de forma precipitada; pois ele sabe desabilitar o que é venenoso em si
mesmo e fazer deste um ingrediente do remédio mais soberano. Ou, se
pudéssemos entrar na loja de um minucioso artífice, ou engenheiro, e víssemos
alguns instrumentos feios e perversos; os quais pensamos que não servem para
nada de bom, e sim para o mal; ainda assim é tolice censurar o artífice, que
sabe fazer um excelente uso dessas coisas, embora não saibamos o qual.

Quão mais insensato e pecaminoso é ter pensamentos que elevem nossos


corações contra a sabedoria e a providência de Deus, mesmo que não
conheçamos o que Ele pretende? Somos, acima de tudo, indesculpáveis por
acusar Sua providência; agora q ue Ele nos deu a conhecer em Sua Palavra que
Ele revelará quem é aprovado e quem não é por através de heresias. Crisóstomo
diz: Portanto, nenhum homem poderia questionar “Por que Cristo permitiu
isso?” Paulo diz que esta permissão não deve te ofender, se v ocê for um
aprovado, pois é assim que você será mais claramente manifesto.

No entanto; tudo isso não pode servir de desculpa para hereges, sectários, e
nem para aqueles que os toleram. Porque o que Cristo diz in genere [em geral]
sobre os escândalos vale in specie [em particular] para as heresias. É necessário
que as heresias venham, mas ai daquele por quem elas vierem. E acrescento, ai
daquele que não se esforça para acabar com elas , de acordo com seu cargo e
chamando. O texto que agora falo (1 Coríntios 11:19) não se refere à vontade
do mandamento de Deus, que é a regra do nosso deve r; mas à vontade do
decreto de Deus, ou ao conselho secreto de Sua vontade. É do propósito de
Deus permitir heresias, e anulá -las para este fim, para que as suas graças
brilhem mais, e que mesmo as heresias (em oposição às intenções de satanás e
dos hereges) possam manifestar os que são aprovadas. Tertuliano diz no início
uma obra (de Præser Adv. Hær.): Scilicet quos non potuerint depravare . Ele
também diz: Assim como as heresias não podem perverter e depravar, nenhum
outro é aprovado.

Mas duas coisas podem ser objetadas aqui.

I. Acaso um escolhido, justificado e regenerado não pode cair e ser


infectado por uma heresia, através de truques humanos e armadilhas
astutas, sendo enganados? Se assim for, então as heresias não revelam
quem é aprovado, quem não é.

II. Acaso muitos dos que não são aprovados por Deus não podem ser
preservados da contaminação das heresias e ainda tomarem frente para
resistirem e se oporem a elas? Se assim for, então a preservação e a
resistência às heresias, não pode demonstrar se alguém é aprovado por
Deus.
Estas objeções não são mais contra mim do que contra o texto das Escrituras.

À primeira, eu respondo:

Uma pessoa regenerada pode ser tentada e atraída para a heresia,


assim como pode ser tentada e atraída a outros grandes pecados. Em
qualquer pessoa, a heresia não consome o estado da graça de forma
diferente do que outras obras da car ne; adultério, fornicação,
embriaguez, ou algo parecido. Olhe para uma pessoa eleita e
justificada; enquanto está em algum grande pecado (por exemplo:
Noé, Ló, Davi, Pedro); mesmo assim você deve olhar para uma
pessoa, eleita e justificada, como sendo enve nenada por uma heresia.
Mas então, essa pessoa (sendo eleita, justificada e regenerada) não
pode se supor que ela viverá e morrerá naquele estado pecaminoso;
Deus certamente curará seus pensamentos, e resgatará su a alma da
armadilha do diabo para o arrependimento; pois os eleitos não podem
ser enganados a ponto continuarem e morrerem em heresia, Mateus
24:24.

Enquanto ele continua em um pecado tão gro sseiro ou uma heresia,


você pode realmente dizer que, por esse tempo, ele é adokimos [não
aprovado ou como escória e prata não refinada]; no sentido em que a
palavra é utilizada pelo Apóstolo, quando ele fala em levar seu corpo
à sujeição, para que ele mesmo não seja encontrado adokimos. A
antiga tradução inglesa diz: Para que eu mesmo não seja reprovado;
o que é uma palavra muito suave, a nova tradução diz: Para que eu
mesmo não seja um náufrago. Beza: Ne ipse rejectaneus fiam [Para
que eu mesmo não seja rejeitado]. O termo é usado no mesmo
sentido em 2 Coríntios 13:5: Acaso vocês não sabem que Jesus
Cristo está em vocês, a não menos que estejam reprovados? . Beza:
Nisi rejectanei estis [A menos que sejam rejeitados]. H. Stephanus
Expones Ajdovkimo: Minime probus non probandus; Item
adulterinus non sincerus [De modo algum um homem virtuoso pode
não ser comprovado assim; assim como um homem falso pode ser
encontrado em mentira]. E ele cita Aristóteles: Adokimon hepoiase
nomisma [O comportamento cria um não aprovado]. Nesse sentido,
mesmo uma pessoa eleita e regenerada, pode supostamente ser
mantenedor ou seguidor de heresia; por enquanto, tal pessoa é
certamente um adokimos [não aprovado, muito reprovado; a ser
rejeitado e descartado ao forno como escória e prata não refinada].
Nada demais; pois, naquele aspecto , ele não age de acordo com suas
graças, mas com suas corrupções e, por seu grande pecado, ofende de
forma extrema e extinguem perigosamente, O Espírito Santo que uma
vez lhe foi entregue.

À outra objeção, eu respondo:

a. Embora a revelação completa e perfeita (de quem é aprovada, quem não é)


esteja reservada ao grande e último dia; e não exista instituição,
congregação ou Igreja Visível neste mundo que esteja sem hipócritas;
certamente a Palavra Do Senhor tem sido e será cumprida; em grande
medida, de acordo com o conhecimento que a Igreja pode ter de seus
membros nesta vida, nos tempos de heresias e cismas, descobrimos quem
são os aprovados, que não são.

b. Devemos lembrar que não é do escopo deste texto nos dar uma nota de
distinção entre aqueles que são aprovados e todas as falsificações, ou
cristãos não aprovados; mas entre aqueles que são aprovados e aqueles que
são os fomentadores ou seguidores de heresias. Assim, aqueles que são
realmente aprovados por Deus, continuam na verdade de Cristo, são
fundamentados e estabelecidos, mantendo -se firmes na fé, defendem esta;
Este é um dos personagens encontrados em todos os que são aprovados.
Agostinho diz: Até agora, são hereges benéficos para a Igreja; pois, por
sua vez, os que são aprovados por Deus e os homens Espirituais são
agitados a reivindicar, revelar e ma nter a verdade; a fim de que se tornem
mais manifestos do que de poderiam ter sido de outra maneira . Por outro
lado, quem se afasta da verdade, da doutrina de Cristo, por heresias,
declara-se infalivelmente como não aprovados, apesar de qualquer profissão
ou demonstração de santidade que tenham.

Qualquer que seja a marca alva daqueles que são aprovados (o que também
é válido, como expliquei), certamente essa marca negra não pode faltar do
outro lado. Aquele que supõe que qualquer pessoa que seja de uma crença
ou facção herética seja santa, espiritual, mortificada e aprovada, ou que
anda no Espírito, e não na carne; supõe o que é impossível. N ão duvido que
Deus tenha revelado muitos professantes não aprovados e não mortificados,
que fingiam ter piedade, através das heresias e cismas daqueles tempos. A
fim de que eu possa transferir para o nosso tempo o que Crisóst omo
observou por conta própria ( Ad eos qui Scandalizati Sunt [Para Aqueles que
Foram Escandalizados], Livro 1, Capítulo 19): "Quantos estão vestidos com
uma capa e uma máscara de piedade; a quantos pensava -se que eram
grandes, e não eram assim, foi neste tempo (quando tantos caíram e fizeram
deserção) que foram rapidamente revelados , e sua hipocrisia foi detectada.
Eles mostraram o que eram, não o que eles, falsamente fingiam ser.

De maneira alguma isto é um assunto de menor importância , mas muito benéfico e


a edificante para aqueles que o observarem; até mesmo para distinguir os que estão
vestidos com roupas de carneiro e não considerar , promiscuamente, aqueles lobos
(tão escondidos) dentre as verdadeiras ovelhas. Pois esse tempo tornou-se um
forno, que descobre a falsa moeda de cobre, derretendo o chumbo, refinando os
metais preciosos. Isto também foi o que Paulo quis dizer quando disse: Porque
também deve haver heresias entre vocês, para que os que os aprovados possam se
manifestar.

Vincentius Lirinensis também registrou este propósito, que quando quase todo
mundo estava infectado com a heresia ariana, alguns sendo ob rigados a isso, outros
enganados; ainda assim, todo verdadeiro amante e adorador de Cristo foi
preservado puro disso.
FONTE: https://purelypresbyterian.com/2017/05/06/the -biblical-definition-of-
heresy/

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