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A CARGA DA DEUSA por Doreen Valiente

Ouçam vós as palavras da Grande Mãe, que desde os dias antigos foi chamada entre os
homens de Ártemis, Astarte, Dione, Melusine, Aphrodite, Cerridwen, Diana, Arianrhod, Bride e
por muitos outros nomes.
Sempre que vós tiverdes quaisquer necessidades, uma vez ao mês, e melhor seria quando a lua
estiver cheia, então vós deveis vos reunir em algum local secreto e adorar o meu espírito, eu
que sou a Rainha de todas as bruxarias. Lá vós deveis vos reunir, vós que estais ardorosos para
aprender toda a feitiçaria, mas que ainda não aprendeis os seus segredos mais profundos; a
estes eu vou ensinar aquilo que ainda é desconhecido. E vós deveis ser livres de toda servidão;
e como sinal de que vós sois realmente livres, vós deveis apresentar-vos nus em seus ritos; e
vós deveis dançar, cantar, comer, tocar música e fazer amor, tudo em meu louvor.
Pois meu é o êxtase do espírito e minha é a alegria do mundo; pois a minha lei é o amor para
todos os seres. Mantenhais puro vosso mais elevado ideal; empenhai-vos sempre na sua
direção; não deixais nada parar-vos ou desviar-vos. Pois minha é a porta secreta que se abre
sobre a Terra da Juventude e minha é a taça do vinho da vida e o Caldeirão de Cerridwen, que
é o Graal Sagrado da imortalidade. Eu sou a Deusa Graciosa, que dá o presente da alegria para
o coração do homem. Sobre a terra eu dou o conhecimento do espírito eterno; e além da morte,
eu dou paz e liberdade e vos reuno com aqueles que partiram antes de vós. Eu não peço nada
em sacrifício; pois eu sou a Mãe de tudo o que vive e meu amor recai por sobre a terra.
Ouçam vós as palavras da Deusa Estelar. Ela em cuja poeira dos pés estão as hostes do céu e
cujo corpo circunda o Universo.
Eu, que sou a beleza dos campos verdes, a Lua alva entre as estrelas, o mistério das águas e o
desejo do coração do homem, chamo pelas vossas almas. Levantem-se e venham à mim. Pois
eu sou o alma da natureza, que dá vida ao universo. De mim tudo vêm e a mim tudo deve
retornar; e ante a minha face, amada pelos Deuses e pelos homens, deixe teu ser divino mais
profundo se envolver pelo êxtase do infinito.
Deixem meu culto acontecer na terra que se regozija; pois todos os atos de amor e prazer são
meus rituais. E portanto deixem que haja beleza e força, poder e compaixão, honra e humildade,
júbilo e reverência dentro de vós.
E aqueles que pensam em me procurar, saibam que a vossa busca e vosso anseio devem
beneficiar-vos apenas se vós souberdes o mistério; se o que vós procurardes, vós não achardes
dentro de vós mesmos, então nunca encontrarão fora. Pois eu tenho estado convosco desde o
início e eu sou aquela que é alcançada ao final do desejo

CARGA DE LILITH
Você que é a pérola negra brilhante do mal, deixa o escudo da escuridão que cobre sua beleza
temível se abrir largamente em minha honra que sou seu fiel filho reconhecendo minha
invocação e me abençoado com sua presença ímpia.
Lilith poderosa deixa-me sentir o êxtase arrebatador do toque dos seus lábios frios. Deixe-me
saciar-me pelo poder de sua presença majestosa e iniciar-me nos mistérios da Lua Negra.
Abra-se para mim, mãe da noite, da mesma maneira que eu abro todas as portas de minha alma
para você e em nome de Satã inunda minha existência inteira com suas águas escuras da
Sedução , mostrando-me o coração escondido dos mistérios da luxuria
Lilith, acompanha-me e limpa-me com as chamas de sua luxúria satânica e eleva-me para
transformar-me num dos seus filhos eleitos. Coloque sob eu a proteção das sombras famintas
de Gamaliel e em nome do dragão de sete cabeças destrave todas suas portas para mim.
O temível Ama Lilith concede-me suas bênçãos e permite-me incorporar sua escuridão fértil e
deixa-me partilhar todos os segredos.
Mãe de todas as perversões é para sua maior glória que eu derramo as lágrimas da vida e o
vinho de minhas veias enquanto eu imploro agora para me conceder a entrada ao reino da noite
imortal.
Guia meu eu oculto através do trajeto tortuoso e ardente no qual pisei em teu nome.
Abençoe-me com as asas do dragão da ascensão kliffotica e deixe-me tornar-me uno com a luz
negra do furioso caos.
O grande Lilith abre seu ventre cheio sangue e conceda-me a entrada em seu reino de desejos
ímpios e de sonhos ilegais.
Oh mãe dos impulsos não naturais no homem e senhora dos ímpios e lascivos, abra sua porta
proibida e permita que eu me afogue em seus elixires batismais de sua fornicação.
Deixe meu sangue da vida misturar-se harmoniosamente com o vinho escuro de seu ventre e
deixe-me tornar-me una com suas partículas e as do poderoso Lúcifer.
Deusa do inferno em nome de Satã abre suas portas fechadas e concede-me a entrada à
moradia das sombras sinistras da noite.
Lilith, me posto a ti.
- Autor Desconhecido -

A FEITICEIRA DE ÉVORA
A feiticeira de Évora é uma das personagens mais populares e misteriosas do folclore e das
lendas da magia, especialmente na esfera da cultura popular. Sua biografia é dispersa, incerta,
cheia de contradições.
Até onde conduzem as pesquisas, não pode ser considerada uma figura histórica; no entanto,
sua fama é suficiente para considerá-la um arquétipo mítico de um certo tipo de bruxa, o da
feiticeira.
É possível que a primeira bruxa de Évora tenha sido tão poderosa e influente que seu nome
tornou-se sinônimo para os praticantes de bruxaria que vieram muito depois e também fizeram
fama desde o antigo oriente Médio e a Ásia Menor. Essas bruxas foram chamadas de "bruxas
das Yeborath ou Iebora".
A idéia de uma bruxa que alcançou não somente a Península Ibérica mas também toda a região
costeira do Mar Mediterrâneo ao longo de séculos; "Bruxa de Évora" tornou-se algo como um
título de prestígio.
As pesquisas sobre esta feiticeira indicam que boa parte de sua fama nasce junto com a fama
de um outro feiticeiro controverso: Cipriano da Antioquia que viveu no século III da Era cristã
(Ano 200).
Segundo as lendas, pois as biografias desses personagens não têm registros históricos
precisos, o nome "Bruxa de Évora" aparece pela primeira vez, no contexto do estudo da História
da Bruxaria, ligado ao nome do Santo feiticeiro. Ela teria sido uma das mestras do mago e ele,
seu discípulo mais prestigiado, herdeiro de seus feitiços e grimórios.
- Segue um link para uma leitura mais completa com relação à figura da Bruxa de Évora.

Luz e trevas
Muito se fala sobre luz e trevas e suas vantagens e desvantagens. Ser não só um bruxo, mas
uma pessoa iluminada ou sombria é uma consciência que seus pregadores não compreendem a
não ser dentro de suas limitações rasas.
A magia nos ensina sobre o equilíbrio presente na natureza, onde a vida balança a morte e
vice-versa. O dia necessita da noite assim como a luz necessita das trevas e clamar ser uma
pessoa iluminada sem nenhuma gota de trevas é ignorância ou hipocrisia.
A pessoa capaz de odiar com todas as suas entranhas é capaz de entregar um amor grandioso
que transcende as limitações humanas. Aquele que possui os meios de curar um veneno é o
mesmo capaz de envenenar toda uma população.
O ser que é incapaz de transitar pelos opostos é um ser incapaz de ambos, insensível e apático.

Carta para uma bruxa


Caminho na noite escura;
Guiado pelo uivo dos ventos e sob a luz da lua.
Caminho sempre em frente sem olhar pra trás;
Eu sou filho das trevas,
Pouca coisa me assusta.
Deixo em cada obscuro canto;
Tudo o que um dia me causou pranto.
Me liberto, de todas as vezes em que na cara foi me negado recanto.
Hoje é grande minha artilharia;
Eu nasci na magia e me criei na feitiçaria.
Com uma mistura de beladona, hibisco e verbena;
Ao redor de um círculo de rubis, obsidianas e turquesas.
Eu construí meu porto seguro, minha fortaleza.
Com Lilith à minha esquerda, Circe à minha direita e Hécate sob minha cabeça,
Eu encontrei a força que precisava, enalteça!
E nunca se esqueça.
Nessa noite, sóbria e mórbida, eu acreditava que andava só;
Mas à medida que meus olhos se acostumavam com a escuridão,
Eu vi que ao meu lado caminhavam outras irmãs e irmãos.
E meu reflexo no espelho d`água me levou ao encontro da divindade que eu tanto procurava.
Sob os mantos sacros do sacerdócio eu nada encontrei,
Sob os dogmas e imposições eu só me frustrei,
Mas quando a divina fagulha em minha essência eu encarei;
Era lá que a divindade estava.
E enfim, a lua sorriu pra mim: Cheia, minguante, crescente e nova;
Fui guiado pelas estradas traçadas pelas velhas bruxas cujos mistérios não eram graus e
hierarquias;
Cujo ultimato não era nenhuma esmola;
Mas sim a beleza de pertencer a si mesmo;
De caminhar livre, empoderado, com um sorriso no rosto e orgulhoso do próprio sagrado.
E se você sente que de alguma forma isso te toca;
Se dispa do véu da ignorância, pessoa, fica nua.
Infla o peito e vai sim uivar pra lua.
Porque Nietzsche já dizia;
Você não precisa andar a esmo;
Afinal, "nunca é alto o preço a se pagar pelo privilégio de pertencer a si mesmo.

Feitiço contra o Assediador Sexual


Ingredientes
• Uma corda de espessura média equivalente à sua altura. (Você pode medir abrindo os braços
na horizontal e o tamanho da corda entre uma mão e outra será igual à sua estatura).
• Três velas negras
• Incenso de ópium ou benjoim
• Um pó com sete tipos de pimenta moídas
• Uma caixa de madeira
1. Queime incenso de ópium ou benjoim e deixe as três velas negras queimando em forma de
triângulo onde você deverá estar sentada no centro.
2. Pegue a corda e coloque entre as mãos. Esprema-a e canalize toda a sua raiva, ódio e medo
para o objeto. Visualize em detalhes o assediador, quando mais detalhadamente conseguir
visualizar, mais poderoso será o seu feitiço.
3. Chame pelos espíritos de todas as feiticeiras já mortas para te auxiliarem. Chame pelas
mulheres que já morreram pelas mãos do abuso. Peça a ajuda delas para que esse ato jamais
se repita novamente. Você também pode chamar pelas matriarcas da sua família e pedir por
auxilio. O importante é invocar toda a ancestralidade feminina que conseguir. Quando sentir que
está empoderada o suficiente, comece o feitiço.
4. Você dará nove nós na corda. A cada nó dado você dirá o encantamento equivalente.
• Nó numero um, diante de mim e das minhas iguais meu assediador não tem poder algum.
• Nó número dois, por todo o mal causado amaldiçoado está e nenhuma má ação contra mim
virá hoje ou depois.
• Nó número três, reservo-te tormentas de todas as feiticeiras que antes de mim reinaram e
pelas que hoje vivem na lei no três vezes três.
• Nó número quatro, se teu membro enrijece quando eu digo não, tua vida é ceifada pelo meu
bruxedo atro.
• Nó número cinco, tuas entranhas eu apodreço com todo meu afinco.
• Nó número seis, em terra de feiticeira nenhum homem desrespeita uma mulher, seja ele da
plebe ou dos reis.
• Nó número sete, sou rainha de mim e nada que eu faça ou vista ao perigo me compromete.
• Nó número oito, sou protegida pelas minhas iguais no círculo das feiticeiras. Não serei
intimidada por nenhum sujeito.
• Nó número nove, tranco, laço, amarro e enterro meu trabalho para que ele na terra sempre se
renove.
5. Coloque a corda dentro da caixa e cubra-a com a mistura das pimentas. Lacre da maneira
que preferir, com a cera das velas ou com cadeado e correntes. Enterre em um cemitério perto
da lápide de uma mulher idosa.
6. Agradeça aos espíritos que te derem força e tome um banho de limpeza com ervas como
alecrim e eucalipto para renovar as energias. Ascenda incensos de flores no local e transmute a
densidade que restar em alegria e leveza.

Covil dos Feiticeiros

Curiosidade 2: A feitiçaria nunca foi exclusiva, pelo contrário, ela sempre foi inclusiva. Ao lado
da chamada Alta Magia com seu ouro, prata e pedras preciosas, caminha a Folk Magic ou
Magia Popular. Dentre as mais diversas formas de se praticar magia, hoje vamos falar o
POW-WOW.
Derivado de tradições mais antigas e trazida para os EUA por colonos alemães, o Pow-Wowing
tem origem com os holandeses da Pensilvânia, principalmente com os mais humildes e os
menonitas (vertente docristianismo que surgiu na mesma época do protestantismo). Acredita-se
que a magia do Pow-Wowing seja derivada de práticas pré-reformadas que foram aceitas pela
Igreja Católica, motivo pelo qual geralmente trabalham-se com entidades cristãs como santos e
afins. O Pow-Wow executou uma série de funções protetoras e curativas, como contra-atacar
maldições e curar doenças.

A maioria dos encantamentos são tirados da Bíblia, certas passagens acredita-se terem poderes
particulares para exercer influência sobrenatural, incluindo a passagem do Livro de Ezequiel (16:
6) usada pelos "Blood-Stoppers" (uma outra forma de Folk Magic que falaremos e uma
oportunidade no futuro).

Um dos nomes notórios dentro da Pow-Wow é a alemã Anna Maria Jung, que recuou para as
montanhas após a morte de seu marido na Revolução Americana e se tornou uma santa mulher.
Ela era chamada "Mountain Mary" ou "Barricke Mariche" pelos habitantes locais. Seu domínio
sobre as ervas e raízes trouxeram muito peregrinos à sua casa em busca de cura.

DICA DE PRÁTICA

Contra vômito - Queime a bexiga de um porco até virar pó e engula tudo.

Encantamento para parar sangramento - "Este é o dia em que ocorreu a lesão. Sangue, você
deve parar, até que a Virgem Maria traga outro filho." Repita estas palavras três vezes.

Parar um incêndio sem água - Escreva as seguintes palavras em cada lado de um prato e jogue
no fogo e ele cessará imediatamente: SATOR, AREPO, TENET, OPERA, ROTAS.

O mago

Um ser de extrema sabedoria e inteligência, um mestre na arte da magia. Sua etimologia é


encontrada no termo "magi" de origem persa que significa "homem sábio". Nos tempos antigos,
um mago era um homem que dominava a física, química e astronomia. O termo é comumente
associado a Zaratustra por conta de sua origem persa. Em suma, podemos definir o mago como
um grande estudioso das filosofias ocultas, seu poder vêm através de seus estudos.

O BRUXO - Entender essa definição exige alguns níveis de conhecimento histórico, pois seu
significado mudou de acordou com os tempos. Nos tempos antigos bruxas eram formadas por
clãs familiares, cada clã possuía sua forma de praticar bruxaria e não eram análogas entre si;
não possuíam uma forma cerimonial de ritualizar e se guiavam apenas pelas forças da natureza
e de seus ancestrais. Atualmente, a bruxaria abrange um culto aos Deuses, uma ritualística
inspirada nos ritos da Golden Down e hierarquias sacerdotais que não existiam no passado.
Existe uma discussão sobre a etimologia da palavra “bruxa“ e apesar de ser incerta, acredita-se
que haja alguma relação com vocábulos Gaulês "brixtia" proveniente da deusa gaulesa Bricta.
Há também uma possível relação com alguns vocábulos proto-celtas, como "brixto" e "brixtu", os
dois com significados que envolve magia ou feitiços. Há outra sugestão de etimologia de “bruxa”
derivado do Latim "broscia". Outra interpretação nos leva às línguas ibéricas, motivo pelo qual
somente línguas descendentes possuem essa palavra como o português “bruxa”, espanhol
“bruja”, catalão “bruixa”. Em suma um bruxo é um praticante de magia que entende o ritmo da
natureza e trabalha de acordo com seus ciclos, seu poder é guiado por ela.

O FEITICEIRO - É uma pessoa que possui maestria na arte dos feitiços, em manipular a forma
da magia em algo concreto que deseje. Encontramos sua etimologia no latim "facticius" que
significa “não pertencente ao mundo natural, artificial, de imitação”, e do verbo "facere" que
significa “fazer”. É um ser que domina todas as formas de manipulação mágica, divinação,
criação, destruição, cura, etc...Por questões geológicas e culturais encontramos o termo em
diversas culturas para designar as pessoas que lidam com o sobrenatural, mas igual aconteceu
com os termos relacionados à bruxaria, o feiticeiro foi deturpado na atualidade, deixando de ser
uma pessoa com poderes sobrenaturais e diminuído para um ser que profana a magia e que
utiliza seu poder de forma inescrupulosa e fútil. Em suma podemos encontrar uma simetria entre
o bruxo e o feiticeiro pois ambos possuem características em comum quando se trata de seus
poderes e domínios nos conceitos do passado com uma diferença apenas geográfica. Na
atualidade o feiticeiro é um mestre nas práticas da magia, não se atendo ao sacerdócio atribuído
ao bruxo e tento seus poderes ligados à manifestação cultural da magia, ou seja, ele utiliza de
diversas técnicas de magia para agregar sua prática pessoal.

CARGA DA DEUSA NEGRA


A Deusa Negra fala conosco pelas bocas de Lilith, Kali, Tiamat, Hekate, Nix, Madonna Negra,
Nêmesis, Morgana, Cerridwen, Perséfone, Ereskhigal, Arianrhod, Durga, Inanna e muitas
outras.
Eu sou as trevas por trás e por baixo das sombras.
Eu sou a ausência de ar que espera no início de cada respiração.
Eu sou o fim antes que a vida recomece, a deterioração que fertiliza o que vive.
Eu sou o poço sem fundo, o esforço sem fim para reivindicar o que é negado.
Eu sou a chave que destranca todas as portas.
Eu sou a glória da descoberta, pois eu sou o que está escondido, segregado e proibido.
Venha a mim na Lua Negra e veja o que não pode ser visto, encare o terror que é só seu.
Nade até mim através dos mais negros oceanos, até o centro de seus maiores medos. Eu e o
Deus das trevas o manteremos em segurança.
Grite para nós em terror e seu será o poder de suportar o insuportável.
Pense em mim quando sentir prazer e eu o intensificarei. Até o dia em que eu terei o maior
prazer de encontrá-lo na encruzilhada entre os mundos.
Sabedoria e a capacidade de dar poderes são os meus presentes.
Ouça-me, criança, e conheça-me por quem eu sou. Eu tenho estado com você desde o seu
nascimento e ficarei com você até que você retorne a mim no crepúsculo final.
Eu sou a amante apaixonada e sedutora que inspira o poeta a sonhar.
Eu sou aquela que te chama ao fim de sua jornada. Quando o dia se vai, minhas crianças
encontram seu descanso abençoado em meus braços.
Eu sou o útero do qual todas as coisas nascem.
Eu sou o sombrio, silencioso túmulo; todas as coisas devem vir a mim e suportar a morte e o
renascer para o todo.
Eu sou a Bruxa que não será governada, a tecelã do tempo, a professora dos mistérios.
Eu corto as linhas que trazem minhas crianças até mim. Eu corto as gargantas dos cruéis e
bebo o sangue daqueles sem coração. Engula seu medo e venha até mim, e você descobrirá a
verdadeira beleza, força e coragem.
Eu sou a fúria que dilacera a carne da injustiça.
Eu sou a forja incandescente que transforma seus demônios internos em ferramentas de poder.
Abra-se a meu abraço e domínio.
Eu sou a espada resplandescente que te protege do mal.
Eu sou o cadinho no qual todos os seus aspectos se misturam em um arco-íris de união.
Eu sou as profundezas aveludadas do céu noturno, as brumas rodopiantes da meia-noite,
coberta de mistério.
Eu sou a crisálida na qual você irá encarar o que te apavora e da qual você irá florescer vibrante
e renovada.
Procure por mim nas encruzilhadas e você será transformada, pois uma vez que você olhe para
meu rosto não existe volta.
Eu sou o fogo que beija as algemas e as leva embora.
Eu sou o caldeirão no qual todos os opostos crescem para se conhecer de verdade.
Eu sou a teia que conecta todas as coisas.
Eu sou a curadora de todas as feridas, a guerreira que corrije todos os erros a seu tempo.
Eu faço o fraco forte. Eu faço humilde o arrogante. Eu ergo o oprimido e dou poderes ao
desprivilegiado. Eu sou a justiça temperada com compaixão.
Eu sou você, eu sou parte de você, estou dentro de você.
Me procure dentro e fora e você será forte. Conheça-me, aventure-se nas trevas para que você
possa acordar com equilíbrio, iluminação e plenitude.
Leve meu amor consigo a toda parte e encontre o poder interior para ser quem você quiser.
- Adaptado e traduzido do texto original de Lynne O'Connor. -

IYAMI OXORONGÁ
Existe um grande mistério ao redor das Ajes e das Iyamis, um certo erro de conceito
associando-as apenas às forças destrutivas e malévolas da natureza, mas seu amplo alcance
vai muito além disso. Esse texto vai para entendermos um pouco sobre as Mães Ancestrais e
desmistificar o que muitos falam com relação a elas, uma vez que elas são formadas de luz e
sombra e não somente do lado destrutivo que tantos gostam de apontar.
Todos os ancestrais femininos, as Ìyagbà ou Ìyámi, têm sua instituição em sociedades como
Egbé Eleye, Egbé Ògbóni e Egbé Gèlèdé, consideradas secretas pelo fato de os seus
conhecimentos serem transmitidos apenas a iniciados. As Iyami Oxorongá representam o poder
ancestral feminino e os elementos místicos da mulher em seu duplo aspecto: protetor e
generoso, perigoso e destrutivo. Todos os orixás femininos são detentores deste poder.
As Iyami são zeladoras da existência e guardiãs do destino: por isso sua boa vontade, essencial
à continuidade da vida e da sociedade, deve ser cultivada. Pertencem a um grupo de seres
espirituais chamados Ajogùn, cujas funções incluem carregar o ebó para alimentar-se dele ou,
mais precisamente, do sofrimento humano do qual está impregnado. Ao processarem as
energias dos ebós, possibilitam a cura, a superação de dificuldades e a atração de bens
necessários. Sua relação com os poderes mágicos lhes possibilita também neutralizar os efeitos
negativos de pensamentos, palavras e ações destrutivas que uma pessoa dirija contra outra ou
contra si mesma.
A expressão Ìyámi, "Minha(s) Mãe(s) ou Zeladora(s)" designa um orixá cujo poder é tão grande
que todos se referem a elas sempre no plural, aludindo a uma coletividade. Quando se quer
saudá-las basta pronunciar um de seus nomes, pois elas representam uma coletividade de
seres relacionados a todos os elementos fundamentais para a sobrevivência dos homens: por
isso traí-las significa trair a própria essência vital humana.
A natureza, que inclui os seres humanos, possui uma ligação energética entre os mundos visível
e invisível e recebe o toque divino das Mães. Água, ar, terra e fogo constituem elementos
através dos quais se pode chegar a elas. Assim sendo, pode-se evocá-las com água, obi e
orobô em rios, mares, encruzilhadas, estradas, ao pé de um peregun, na mata ou no quintal de
casa, entre tantos locais possíveis, dado o fato de pertencerem à natureza, particularmente à
terra.
Essas feiticeiras com grande poder mágico, podem assumir diferentes formas. Intervêm na
existência humana no plano individual (na saúde física, psíquica e espiritual, no casamento e na
sexualidade) e no plano social (no trabalho e nas amizades). Elas apóiam as pessoas em sua
tarefa de organizar pensamentos e conhecimentos para melhor atingir objetivos, atraindo sorte e
favorecendo conquistas materiais.
Promovem mudanças no plano emocional, facilitando que um homem nervoso se acalme e um
impaciente torne-se paciente. Intervindo nos destinos, protegem as pessoas de danos causados
por inimigos e por falhas próprias. Como harmonizam relações, favorecem casamentos. Sendo
portadoras de axé, favorecem a aquisição e a manutenção da energia vital; protetoras e
zeladoras de tal energia, orientam as pessoas quanto à melhor maneira de realizar seu destino.

IRON PENTACLE
Dentre muitas ferramentas produzidas pela Tradição Feri, os trabalhos com os Pentagramas são
os que se fazem mais populares ultimamente e não sem espanto, já que sua eficácia é
definitivamente absoluta para aqueles que sabem como usá-la. O Pentagrama de Ferro quando
elaborado por Victor Henry Anderson estava unido com o Pentagrama de Pérola, juntos
formavam o Decagrama. Victor ensinava os dois juntos, já que um fatidicamente leva ao outro,
mas no tempo que Starhawk apresentou os pentagramas para a comunidade pagã em geral
eles já haviam sido separados em dois pentagramas distintos.
A energia gerada pelo pentagrama de ferro é Mana, a forma mais crua de energia, densa, cheia
de vitalidade e poder, nutre e preenche o ser através do Unihipili e desperta forças primitivas,
inatas em cada pessoa, uma vez que nos fala de aspectos selvagens de nós mesmos.
SEXO - Representa a força criativa do universo, é adentrar na corrente Divina de criação, é o
orgasmo no qual nos abrimos para a dança Universal do acasalamento e participamos
ativamente de sua construção e destruição. Um momento que acontece a todo momento. É o
encontro, o prazer, a força natural que compele a criação. Sexo é ao mesmo tempo a peça
chave para o controle ou liberdade da humanidade. De todos os anseios fundamentais da
humanidade, este é o que tem sido mais temido, o que tem sido submetido aos maiores
controles e repressões e é em contrapartida o mais libertador, o mais curador de todos. Mas se
o sexo foi reprimido e negado, foi também venerado em muitas partes do mundo, indo desde
procissões cerimoniais com um falo de mármore, ereto em Delos, nos templos Lingam/Yoni na
Índia, no misticismo tântrico entre muitos outros. Todo ritual primitivo de fertilidade é uma
celebração do poder e prazer do Sexo. Sexualidade, criatividade e espiritualidade são a mesma
energia, com a mesma origem e com o mesmo objetivo. São inseparáveis, negar um é negar o
outro. Mas nesta questão tem-se que te muito cuidado, sexo é feito com respeito, com entrega e
presença, não é somente a satisfação de uma necessidade, é olhar nos olhos do outro e se
reconhecer neste olhar, sentir prazer com a troca e aceitar o outro ao invés de negá-lo como
temos visto muito ultimamente. Se antes existia uma negação do ato sexual, hoje existe uma
exarcebação do mesmo, sem respeito, sem entrega e sem verdade.
ORGULHO - É reconhecer nosso próprio valor e é a capacidade de viver integro, sem reservas,
permitindo que a nossa verdadeira natureza brilhe, sem precisar se comparar ao outro, é um
estado de completa inocência, viver completamente o momento, orgulhando-se de si mesmo,
está muito ligado ao amor-próprio.
SELF - É um conceito estranho a muitos na língua portuguesa, é o reconhecimento do seu
verdadeiro potencial bem como das limitações, saber quem se é em relação com o outro e com
o universo, é aquilo por trás de cada papel que atuamos no dia a dia, nossa parcela de
individualidade. Esta ponta do Pentagrama está muito associada com a Responsabilidade, em
se responsabilizar por cada ato, por si mesmo e é isso que o liga diretamente com o Poder.
PODER - Aqui considerado como Poder Interior, é acessar o nosso potencial e expressá-lo
através de ações, de trabalho e serviço. É a ação equilibrada e centrada, é a projeção de nossa
essência no mundo que provoca mudanças e que transforma. O poder interior é o poder fazer, o
poder escolher, o poder agir. O verdadeiro poder vem de dentro, das nossas camadas mais
profundas e é o resultado de muito trabalho e crescimento, é a habilidade de moldar, de criar, de
manifestar e estruturar, psíquica e fisicamente.
PAIXÃO - É a vibração expressiva da vida, a intensidade que dá cor, profundidade e vitalidade a
nossa existência. Paixão é a habilidade, o sentimento de estar aberto a experiência da vida e a
cada aprendizado que o viver pode trazer, abraçando a alegria intensa bem como o sofrimento
profundo. É o incorporar do êxtase. É a ânsia do encontro, é a busca, o sentimento visceral,
motivador de partir em busca, é a intensidade de reconhecer a possibilidade de vir-a-ser.
Cada ponta do Pentagrama de Ferro representa um estado de nossa consciência que quando
isolada das outras pontas se apresenta pouco útil no desenvolvimento saudável de nosso ser,
de nossa psique. Quando conectamos cada ponta podemos entender como o conceito atua na
realidade e como evolui, de um estado para o outro, criamos uma relação. Isso nos abre a
possibilidade de reconhecer como cada ato no mundo reflete em mim e como isso me afeta,
positiva ou negativamente.

GOOFER DUST
É uma das mais polêmicas receitas do Hoodoo da região sudeste dos Estados Unidos por se
tratar de um material de amaldiçoar (hexing ou crossing).
Geralmente as receitas do Goofer Dust variam de acordo com cada feiticeiro, mas ingredientes
como pele de cobra e terra de cemitério estão presentes em praticamente todas elas. Algumas
fontes históricas, como as entrevistas realizadas por Harry M. Hyatt, indicam que o pó de Goofer
pode ser sinônimo de sujeira de cemitério, motivo pelo qual esse ingrediente está nas variações
da receita.
Outros ingredientes podem incluir cinzas, enxofre, sal, ossos em pó, animais peçonhentos,
esterco seco, ervas e finos detritos de ferro preto encontrados em torno de bigornas ou afins. O
resultado geralmente varia em cores de um cinza amarelado fino para um negro intenso
dependendo da fórmula, e pode ser misturado com sujeira local para ocultar sua implantação.
A palavra Goofer vem do Kikongo "kufwa", que significa "morrer". Entre os praticantes de
hoodoo mais antigos, esta derivação é muito clara, porque goofer não era apenas usado como
nomenclatura de fórmulas, mas era também um verbo (amaldiçoar ou envenenar) e um
substantivo (maldição ou veneno).
Até a década de 1930, o "goofering" era um sinônimo regional para o hoodoo, e na Carolina do
Norte, pelo menos, o significado do termo foi ampliado além dos feitiços de dano, doença e
morte para incluir feitiços de amor com intenção dominante.
Vale ressaltar que o Goofer Dust é extremamente mais agressivo que o Hot Foot Powder, pois
este último é usado apenas para afastar alguém indesejado da sua vida e não necessariamente
amaldiçoar essa pessoa.
Não existe um consenso com relação à receita clássica desse pó, então deixarei duas versões
que acho pertinentes. Importe frisar que esse pó não deve ter contato direto com a pele, então
sempre use luvas quando for fazer ou manuseá-lo. Muitos conjuradores alertam sobre manter
ele em um local que não seja sua moradia por precaução.
RECEITA 1
Ingredientes Clássicos
- Terra de cemitério
- Enxofre em pó
- Pele de cobra venenosa seca e moída
RECEITA 2
Possíveis adições
- Enochips Ritro - para amaldiçoar inimigos.
- Cicuta - para aniquilar situações negativas.
- Hortênsia - combater inimigos em disputas.
- Fallopia japonica - para controlar a magia de um adversário.
- Corda-de-viola ou Glória-da-manhã - para atar as ações de um inimigo.
- Urtiga - desviar uma maldição para outra pessoa.
- Páprica - para amaldiçoar inimigos também.
- Erva Selo-de-Salomão - para controlar a magia de um adversário também.
- Absinto ou losna - para machucar fisicamente um inimigo.
- Erva-mate - para romper relacionamentos.
MODO DE PREPARO
Uma vez que você tiver todos os ingredientes, você precisa triturá-los juntos até ele se tornar um
pó bem fino e armazená-los em um recipiente hermético, um pequeno frasco de vidro por
exemplo. Marque-o claramente como Goofer Dust, assim como com a Água de Guerra, o Hot
Foot Powder e outros itens perigosos que não podem ser usados de forma errada.
Certifique-se de limpar cuidadosamente a área de trabalho depois de criar o Goofer Dust. Limpe
todas as ferramentas usadas, o altar e/ou áreas de preparação, mesmo o exterior do recipiente
para garantir que tudo esteja contido onde devidamente para sua própria segurança. Isso vale
fisicamente e energeticamente.
PS1: O ideal pra quem for trabalhar com esse tipo de receita é elaborar a sua própria através de
estudos com plantas e peçonhas e outras variações de outros feiticeiros. O motivo é que dizem
que quando elaboramos nossas próprias receitas existe uma afinidade energética nossa com os
ingrediente escolhidos.
PS2: Muitas bruxas não gostam de trabalhar com Goofer Dust, mas para quem domina seu
poder ele é uma ferramenta poderosa de ataque/proteção. Claro que quando usado
devidamente.

- A Bruxaria Tradicional de Gemma Gary e a conexão com o Azoetia de Andrew Chumbley -


Recentemente, percebi uma semelhança entre esses dois livros, mas se a Gemma Gary estava
inspirada pelo Azoetia ou não, eu não sei. Talvez Chumbley tenha sido influenciado pela
Bruxaria Tradicional da Cornualha. O que estou falando é que ambos os livros compartilham
semelhanças com "Quatro Quadrantes" (Azoetia) ou os "Espíritos Familiares das estradas
cardinais", etc. Como você preferir nomear. Como o Azoetia de Chumbley foi publicada, até
onde eu sei, primeiro e é a mais antiga das duas, começarei com isso.
No Azoetia, intitulado como "Saudação aos quadrantes do círculo", Chumbley refere-se aos
"deuses" de cada quadrante com uma cor específica e direção cardinal da seguinte forma:
LESTE
Senhores da Torre de vigia do Leste!
Os Deuses vermelhos do nascer do dia!
SUL
Senhores da Torre de vigia do Sul!
Os Deuses brancos do meio-dia!
OESTE
Senhores da Torre de vigia do Oeste!
Os Deuses cinzas do crepúsculo!
Norte
Senhores da Torre de vigia do Norte!
Os Deuses negros da noite!
Obviamente, estas não são as conjurações completas, mas o todo é muito reminiscente ao
Ritual Menor do Pentagrama da Golden Down (incluindo até mesmo o aspecto da "Estrela de
Cinco Pontos"). Ao contrário da Gemma Gary, Chumbley utiliza o sistema de elementos da
Golden Dawn: o ar para o Leste, a Água para o Oeste, o Fogo para o Sul e a Terra para o Norte.
A versão da Gemma encontrada em seu livro é a seguinte:
LESTE
Eu conjuro os espíritos vermelhos do Leste.
SUL
Eu conjuro os espíritos brancos do Sul.
Oeste
Eu conjuro os espíritos cinzas do Oeste.
Norte
Eu conjuro os espíritos negros do Norte.
O Espírito Familiar do Leste é a Serpente Vermelha (Serpente da Terra ou Força Animadora na
Natureza); no Sul temos a Lebre Branca; no Oeste, o Sapo Cinzento e no Norte o Corvo Negro.
O Leste está associado ao elemento de fogo e ao amanhecer, que também é o mesmo horário
do dia dado no Azoétia. O Sul está associado ao elemento da terra e ao meio-dia, que é, mais
uma vez, o mesmo que com o Azoétia em termos de horas do dia. O Oeste está associado ao
elemento de água e ao crepúsculo; o mesmo no Azoétia. O Norte está associado ao elemento ar
ou melhor, ao vento e à meia noite. No Azoetia, diz "da noite", que pode ser interpretado como
meia-noite, mas eles estão tão próximos que eu acho que não discutiria demais sobre o
assunto. As cores associadas são as mesmas em ambos, como você pode perceber, a versão
da Gemma Gary é muito diferente da Wicca e da Golden Dawn. Isso torna este sistema muito
único nesta perspectiva.
Esta é apenas uma pequena publicação curiosa e não têm o objetivo de combinar os dois
sistemas ou de confundir os diferentes métodos. Também é muito possível que ambos os
sistemas tenham recebido informações dos Espíritos antes de serem introduzidos em qualquer
um dos caminhos.
PEARL PENTACLE
Assim como o Pentáculo de Ferro, o Pentáculo de Pérola é umas das ferramentas essenciais
usadas na tradição Feri, lembrando que eles costumavam ser um único pentáculo. Este é um
fato muito importante, já que caracteriza um sendo essencial ao outro. Enquanto o Pentáculo de
Ferro representa as qualidades pertinentes de cada um, ou seja, pertencentes ao universo
individual, o Pentáculo de Pérola se expande para o conceito de comunidade, despertando
conceitos que acontecem inter-relacionalmente, sendo um complemento para o Pentáculo de
Ferro, como se fossem polares. Quando unidos no Decagrama, representam a união divina
necessária para despertar completamente a consciência de nossa natureza Divina.
O Pentáculo de Pérola trabalha a nivel de Uhane, ou seja, nosso self humano, discursivo, nosso
self relacional, racional e inteligente. Seus conceitos são para serem pensados, refletidos e
meditados de maneira mais intelectual, pois esta é a sua energia e ela flui diferente da do
Pentáculo de Ferro que é cheio de energia, rápido, denso e quente; assim como Uhane é
diferente de Unihipili. A energia gerada pelo Pentáculo de Pérola é Mana-Mana, o impulso
criativo, a abrangência intelectual o fluxo de inspiração que faltava para que possamos abraçar
a causa do mundo e vivê-la. Assim como Uhane reflete também nossos limites energéticos, o
Pentáculo de Pérola vem para nos fazer refletir sobre o que cabe a nós fazer e de que maneira
podemos agir em sintonia com a Divindade e o Cosmos. Mas Uhane é também comunicação, é
a parte de nós que primeiro entra em contato, com outra pessoa ou outro lugar e é assim que o
Pentáculo de Pérola se mostra, nos orientando sobre como podemos nos relacionar melhor com
tudo ao redor. Suas pontas são mais complexas do que a do Pentáculo de Ferro pois refletem
padrões sociais mas que também foram corrompidos e precisam ser curados.
AMOR:
Amor é a energia que mantém tudo girando, em atração. O Amor nos coloca em movimento de
aproximação, de contato com cada coisa e o resultado não poderia ser mais óbvio: Sexo.
Porém, amor e sexo são conceitos que precisam ser muito refletidos e trabalhados uma vez que
são considerados forças vitais. A sexualidade no sentido de encontro e prazer que a vida
propõe, o êxtase do encontro acaba se abrangendo, neste sentido, até respirar se torna um ato
sexual, já que nos conecta com tudo o que existe ao redor. Amor é o que mantém esta corrente
fluindo, um estado profundo de atração que nos leva sempre ao orgasmo do encontro cósmico.
CONHECIMENTO:
Quando analisamos o conceito de Conhecimento com certo olhar crítico o primeiro ponto a ser
considerado é o "reconhecimento", de si e do outro. Primeiro é reconhecer-se diferente, único e
neste processo reconhecer-se divino. A ponta do conhecimento nos leva a trabalhar esse nível
de consciência, abandonando assim pré-conceitos, ou seja, você age com conhecimento de
causa, você estuda, reflete, pensa, analisa e interage, não como um impulso, mas como algo
que leve em consideração o outro. Conhecimento está ligado a ponta do Self no Pentáculo de
Ferro e isso já nos leva a outra questão para refletirmos: “Conheça a ti mesmo!”. É interessante
pensar que Conhecimento se destaque como uma ponta de uma ferramenta que trabalha a
interação social, nos direciona para agir em prol da educação, do saber, de estar sempre aberto
a aprender algo novo, não deixar que seu conhecimento fique estagnado.
SABEDORIA:
Sabedoria é algo visceral, parte do reconhecimento de nossa divindade inata, e
consequentemente da divindade inata do outro. Podemos agir com sabedoria, de acordo com a
natureza dos Deuses. Um sábio é aquele que já experienciou muita coisa; é aquela pessoa que
sabe falar a coisa certa na hora certa, nos remetendo aos nossos pais, avós e anciãos de nossa
comunidade. Sabedoria significa estar atento a cultura popular, ao senso comum, se abrir ao
que isso quer dizer, sendo cientifico ou não, existe algo de verdade no que o povo diz. Trabalhar
com a Sabedoria é pensar no conhecimento que existe em nosso DNA, nas espirais que
refletem os padrões cósmicos, na maneira como o corpo por si só sabe estar alinhado com os
padrões naturais de vida. Algo que foge de nossa consciência, mas que pode ser acessado por
ela, isto é a Sabedoria do Pentáculo de Pérola, reconhecer os padrões que refletem o Cosmos.
LEI:
Se Sabedoria é reconhecer os padrões, Lei é agir de acordo com eles. Circulando o Pentáculo
de Pérola conseguimos ter um relance de como as pontas interagem. Sabedoria leva
diretamente à Lei. Não as “leis dos homens”, mas uma lei cósmica que rege o universo. Este é
um conceito que muitas vezes empacamos ao trabalharmos, pois nos remete ao nossos sistema
de leis, falho, corrupto, controlador; e isso nos dá medo de nos submeter às leis do Cosmos e
perdermos o livre-arbítrio de agir de acordo com a nossa vontade. Este é exatamente o ponto
chave: a verdadeira Lei confere poder a pessoa, poder pessoal, o poder agir de acordo com a
sua vontade, se levarmos em consideração todo o trabalho deste Pentáculo e do de Ferro.
Podemos entender que a nossa vontade está alinhada com a vontade divina. Lei neste caso é
uma questão de ordem natural.
LIBERDADE:
Existem muitas controvérsias na interpretação desta ponta do Pentáculo. No Pentáculo de Ferro
essa é ponta do Poder que nos remete ao poder interior, a um reconhecimento da força de si
mesmo estando ligado diretamente ao Self, já no Pentáculo de Pérola, a Liberdade se relaciona
ao Poder do outro Pentáculo uma vez aqui temos o nosso Poder mediado com o Poder do outro,
o poder compartilhado, poder fazer algo junto com o outro, é uma nova abordagem de Poder
que transforma-se em Liberdade. Aqui nesta ponta o Poder faz referencia a “estar em harmonia
com os outros Poderes dos Cosmos". Já Liberdade diz respeito a agir livremente, de acordo
com a Lei e o Amor, é reconhecer suas potencialidades sem fronteiras e exercer seu potencial
total.
O ideal de se trabalhar em comunidade não indica necessariamente que devemos sofrer com
interações não saudáveis caso elas surjam. Parte de se construir uma comunidade saudável é
aprender a estabelecer limites claros, uma característica do Uhane, quando e como dizer não,
por exemplo.

QUEBRANDO UMA MALDIÇÃO NA LUA MINGUANTE


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Você vai precisar de:
- Três velas negras
- Meio metro de corda naval
- Um caldeirão ou recipiente de ferro
- Pimenta caiena em pó
- Salsa desidratada triturada
- Pólvora
- Carvão moído
- Algum líquido inflamável
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Esse feitiço deve ser feito em um dia de Saturno na hora noturna de Marte no período da lua
minguante, ou seja, no sábado às dez da noite ou às cinco da madrugada. Porém há algumas
etapas a serem seguidas para o preparo do pó usado nesse feitiço. O ideal é ter esse preparo
pronto, pois ele necessita de uma configuração astrológica própria para melhor concentrar seu
poder. O dia de Saturno traz resoluções e finalizações, combinado com a hora de Marte que é a
ação rápida e de certa forma violenta faz uma combinação perfeita para esse tipo de feitiço. A
lua minguante desfaz e ceifa qualquer tipo de intenção que for trabalhada.
Em um dia da Lua, na hora noturna de Júpiter no período de lua cheia (segunda-feira às oito da
noite ou às três da madrugada) junte a pimenta, a salsa, a pólvora e o carvão e macere-os até
chegarem a uma consistência fina, similar a um pó e depois reserve para quando for utilizá-lo no
feitiço da quebra de maldição. Enquanto macera a mistura, imbua ele com o poder de romper
toda maldição, bruxedo e malefício a ti causado. O dia da Lua aumenta a sua sensibilidade e
favorece a magia, a hora de Júpiter expande o poder dos ingredientes usados e a lua cheia é o
período em que as feiticeiras estão no auge de seu poder.
No dia em que for realizar o feitiço atente-se se com a configuração do horário de verão pois
este é um trabalho que deve ser feito com a lua alta no céu, uma vez que estamos usando ela
como âncora para o feitiço; o mesmo vale para o preparo do pó.
No dia de Saturno na hora da Lua (sete da noite ou duas da madrugada) você dará início ao
processo do feitiço. Nesse momento você fará nós contínuos com a corda naval até ela virar
uma bola emaranhada. Esse emaranhado de nós representa o malefício lançado sobre ti.
Envolva ele em um tecido negro e espere a hora de Marte para iniciar a quebra. Enquanto
espera mantenha-se em resguardo longe de companhias e qualquer tipo de interação com o
mundo afora. Medite, concentre seu poder através da visualização do seu objetivo.
Quando a hora de Marte entrar você começará a quebra da maldição. Disponha as três velas
em formato triangular com o caldeirão ou recipiente de ferro no centro. Ascenda as velas no
sentido anti-horário entoando o encantamento correspondente para cada vela.
"Um, a vitória é minha e a derrota é tua. Eu sou, eu faço"
"Dois, jamais caminho só e os espíritos da noite estão ao meu lado. Eu sinto, eu encanto"
"Três, meu poder sobrepõe o teu e teu malefício chega ao fim. Eu posso, eu aconteço"
Em seguida pegue o emaranhado de nós, coloque-o dentro do caldeirão e embebede-o com o
liquido inflamável. Verta um pouco da cera das três velas na ordem que as ascendeu e então
ateie fogo. Na chama visualize a maldição sendo quebrada, atire um punhado generoso do pó e
repita em alto e bom tom o seguinte encantamento até o fogo se apagar e toda a corda ter
virado cinzas. Esse é o momento em que você deve liberar o seu poder interior e fazer a magia
acontecer.
"Oacidlam assed otrebil em, ocitief uet ocafsed"
Quando tudo estiver reduzido a pó, você irá guarda-lo dentro de um tecido negro e ainda na
lunação minguante só que em um dia do Sol na hora de Júpiter (domingo às seis da tarde ou à
uma da madrugada) você deverá jogar as sobras em água corrente. Importante que essa
finalização não seja feita dentro de sua residência. O dia do Sol traz vitória e a hora de Júpiter
novamente nos traz resoluções ligadas à justiça.
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OBS: Como o feitiço é realizado em um sábado e finalizado no domingo, não deixe passar uma
semana entre essas etapas. Faça tudo no mesmo final de semana.

INTRODUÇÃO À BÚSSOLA DAS BRUXAS - por KELDEN


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No livro "ABC of Witchcraft", Doreen Valiente observou que "o círculo mágico é parte de uma
herança geral das práticas mágicas, que é mundial e de idade incalculável". - The ABC’s of
Witchcraft by Doreen Valiente, pg. 64
Certamente, o círculo mágico é uma parte da herança, ou conceito, da bruxaria. Olhando para o
passado, encontramos muitos exemplos na arte e no folclore das bruxas reunidas em círculos
para dançar, festejar e trabalhar a magia. E, é claro, hoje muitos de nós continuamos essa
tradição de várias maneiras.
Dentro do domínio da Bruxaria Tradicional existe o conceito da "bússola das bruxas"* Conforme
definido pela autora Gemma Gary, "O ritual da Bússola das Bruxas é uma delineação e
marcação do campo de trabalho como sagrado e separado do espaço mundano. A Bússola é
muitas vezes popularmente descrita como um espaço entre os mundos em que as bruxas
invocam e comungam com a Divindade, espíritos e forças invocadas. É a criação de um limiar
mágico onde as velhas encruzilhadas de poder são conjuradas." - The Devil’s Dozen by Gemma
Gary, pg. 65
Como o Stang, a Bússola parece ter se originado com Robert Cochrane e sua tradição de
bruxaria. Embora provavelmente tenha sido inspirado por outros conceitos e práticas, antes de
Cochrane não parece haver nenhuma referência a uma "Bússola das Bruxas" (pelo menos por
esse nome e da maneira que ele definiu) em registro escrito.
Conforme descrito em sua tradição, a Bússola consiste em três anéis criados em torno de um
ponto central fixo.
Cada anel representa um estágio diferente no ciclo da vida. Assim, eles são construídos
trabalhando de fora, movendo-se para o centro como uma passagem simbólica através desses
estágios até o Outro Mundo.
- O primeiro anel representa a vida e é feito de sal.
- O segundo anel representa a morte e o renascimento e é feito de cinzas de salgueiro e
madeira de bétula.
- O terceiro anel apresenta o rio que atravessamos no nosso caminho para o Outro Mundo e é
feito de água, vinho, vinagre e sal.
Uma vez dentro do anel mais íntimo, as velas são acesas em cada um dos quatro quadrantes
(na ordem do norte, sul, leste e oeste) com o Stang erguido no centro.
No centro da Bússola, onde as quatro direções se encontram, é o Castelo ou o lugar onde os
mundos se conectam e o "gateway" com o qual o poder flui. Este castelo tem quatro paredes,
cada uma correspondendo com uma direção, vento e elemento diferente. Além disso, as quatro
direções estão associadas a quatro deuses ou reis diferentes.
- Direção: Norte - Vento: Boreas - Elemento: Ar - Rei: Tettens
- Direção: Sul - Vento: Noto - Elemento: Terra - Rei: Carenos
- Direção: Leste - Vento: Euro - Elemento: Fogo - Rei: Lucet
- Direção: Oeste - Vento: Zéfiro - Elemento: Água - Rei: Node
Além disso, como o Stang, o design e o propósito da bússola parece ter evoluído ao longo do
tempo.
Das influências mencionadas acima, uma das mais notáveis foi a Magia Cerimonial. Sabemos
que ao longo do tempo, através de vários canais, a Magia Cerimonial influenciou muito a Wicca
e a Bruxaria Tradicional. Ao examinar os vários círculos usados pelos magistas cerimoniais,
percebemos que, no seu núcleo, há um anel mágico formado em conjunto com as quatro
direções cardinais. Ao retirar os vários acessórios, esta mesma estrutura básica pode ser
encontrada em círculos da Wicca e nas Bússolas Tradicionais.
As coisas tendem a diferir nos detalhes mais finos, como ferramentas e imagens usadas, bem
como as energias específicas conjuradas. Por exemplo, na Wicca clássica, o círculo é lançado
usando o Athame e as torres de vigia são invocadas nos quatro quadrantes. Em comparação a
isso, o ritual da Bússola de Cochrane usa um conjunto diferente de ferramentas, o Stang , os
ventos e castelos e diferentes energias (os quatro Reis).
Existem várias razões para fazer uso dos Círculos e Bússolas, incluindo proteção, aumento de
poder, criação de espaço sagrado e comunhão com deidades/espíritos. No entanto, dessas
intenções, são os dois últimos o foco principal da Bússola das Bruxas.
Em seu livro "Treading the Mill" o autor Nigel Pearson explica que, "Ao contrário de Tradições
mais modernas, dentro do Ofício Tradicional, ao invés de chamar os Poderes e os espíritos para
a bússola, a bússola é usada como um portal para outros mundos, para se encontrar outros
Seres cara a cara, ou simplesmente pela jornada em si, ao invés de preenchê-lo de fora." -
Treading the Mill by Nigel Pearson, pg. 21
Em suma, os círculos mágicos desempenham um papel importante na prática mágica e há muito
se associaram às bruxas. Na Bruxaria Tradicional, trabalhamos com o que é conhecido como
uma Bússola. Esse conceito, que provavelmente foi criado por Robert Cochrane, evoluiu ao
longo do tempo e o ritual por trás disso tornou-se bastante diversificado do seu formato original.
Ainda assim, o objetivo principal da Bússola é criar um espaço sagrado no qual comungamos
com nossos deuses. A Bússola tem muitas semelhanças com o círculo na Wicca, pois
compartilham a influencia da Magia Cerimonial. Há diferenças entre os dois, no entanto, é difícil
desenhar comparações cruzadas devido à variabilidade entre indivíduos e tradições. Portanto, é
difícil generalizar e o melhor a se fazer é examinar diferenças e semelhanças caso a caso.
*Essa tradução é de cunho pessoal, portanto pode haver divergências quanto ao termo pois
também já li em outro momento o termo "Compasso das Bruxas".
A História por trás da Bola de Cristal
A bola de cristal é tão disseminada quanto misteriosa. É exibida na janela dos médiuns locais;
faz aparições em filmes, livros e está inserida na cultura pop moderna; para aqueles momentos
em que você precisa de um toque de clarividência em seus textos, ela está até mesmo na tela
do seu smartphone como papel de parede. Mas como a bola de cristal ganhou sua presença
sedutora é menos clara do que o passado e o futuro que ela diz prever.
Em seu livro "Crystal Ball: Stones, Amulets, and Talismans for Power, Protection, and
Prophecy", Sybil Ferguson escreveu: "Provavelmente há tantas definições de bolas de cristal
quanto há pessoas de crença". De acordo Northcote W. Thomas, em seu livro "Crystal Gazing:
Its History and Practice, with a Discussion of the Evidence for Telepathic Scryin", nos tempos
pré-industriais, a divinação com cristais era comumente praticada pelos Paneassa, Iroqueses,
Incas, Egípcios, Persas, Chineses e pelas pessoas de Yucatán.
É muito provável, no entanto, que o primeiro uso registrado de cristais como ferramentas de
adivinhação nos remeta aos druidas da Gália, Grã-Bretanha e Irlanda, que viveram durante a
Idade do Ferro e foram praticamente aniquilados pelo cristianismo em 600 a.c. Muito do que se
sabe sobre os Druidas, a classe de profissionais que se deslocavam nas florestas para realizar
cerimônias de feitiçaria, vem das narrações orais de Júlio César e do filósofo romano Plínio, o
Velho.
Os primeiros adivinhos de cristais, ou specularii, preferiam um mineral verde-marinho chamado
Berilo, que foi polido em esferas para melhorar as propriedades reflexivas. (Uma bola nasce) O
Berilo acredita-se ser um cristal mais carregado magneticamente do que outros minerais e,
sendo assim mais propício para se conectar com as energias psíquicas da lua.
Os primeiros adeptos dessa mancia olhavam profundamente para o cristal, entrando em um
transe meditativo que permitia o subconsciente se abrir e relevar os segredos do passado,
presente ou futuro. (Embora a opinião popular nos faça acreditar que os adivinhos só são bons
para saber o que vai acontecer, verdadeiras bolas de cristal podem ver em qualquer direção
cronológica, dependendo da habilidade do vidente.) Este ato de contemplar uma superfície
reflexiva ou translúcida para obter informações proféticas passou a ser conhecido como
"scrying" e, embora seja uma palavra melodicamente estranha para ser dita em voz alta, a
prática pode ser usada literalmente em qualquer coisa, incluindo sangue, água, espelhos e até
mesmo unhas oleosas, embora bolas de cristal sejam o veículo mais comum para este tipo de
adivinhação.
Muitas culturas utilizam alguma forma de cura ou adivinhação com cristais, mas a associação
mais óbvia com a bola de cristal vem da Idade Média, que durou desde o tempo em que os
Druidas desapareceram até o Renascimento no século XV. Mesmo sendo uma história pouco
difundida, a bola de cristal foi pensada para ser usada em todo o período medieval pelos
anglo-saxões, tanto como um meio de magia e um acessório de moda chamativo (um tipo de
"bling", por assim dizer). Ferguson sugere que o lendário Merlin escolheu adquirir uma bola de
Berilo para quando o rei Arthur precisasse de uma leitura emergencial.
Durante este tempo, as bolas de cristal, envoltas em aparatos de arame, foram usadas como
símbolos de poder, status de classe e, possivelmente, como talismãs mágicos que afastavam a
doença e o mal. Durante as escavações de sepulturas medievais em Kent, esses amuletos
foram encontrados em vários túmulos de mulheres ricas (e alguns homens), entre os joelhos,
juntamente com outras posses que indicavam sua riqueza. O "Oxford Illustrated Dictionary of
Medieval England" sugere que as bolas de cristal poderiam apontar para associações com
cultos pagãos.
Após o seu período de significância na Idade Média, a bola de cristal ganhou reconhecimento
notável no século XVI através de John Dee, o conselheiro real da rainha Elizabeth I. Dee era
ocultista, mas não teve sorte como médium. Depois de conhecer Edward Kelley, os dois
começaram a realizar "sessões de scrying", durante as quais eles pretendiam ver e se
comunicar com anjos (e às vezes demônios) através de uma bola de obsidiana negra. Dee
manteve notas fastidiosas sobre essas conversas vinculadas à bola, acreditando que os anjos
eram uma linha direta para com Deus e eventualmente levando-o a criar a linguagem Enochiana
ou "angélica". No entanto, seu companheiro de jornada afirmou ter recebido uma mensagem de
um anjo de que os dois homens deveriam compartilhar tudo, incluindo suas esposas. Pouco
tempo depois, o relacionamento deles se dissolveu definitivamente (embora exista uma parte
dos registros que confirma que essa suposta troca de esposas ocorreu).
Como uma médium moderna e de alto perfil, Jeane Dixon foi presenteada com uma bola de
cristal ainda quando era muito jovem, desenvolveu poderes de visão e tornou-se uma
celebridade psíquica por suas precisas previsões políticas: mais notoriamente, quando ela
preveu corretamente em uma edição de 1956 da revista "Parade" que um presidente democrata
seria eleito e depois assassinado (o presidente John F. Kennedy). Isso não quer dizer que ela
sempre estivesse correta em suas suposições; haviam previsões escandalosamente erradas.
Ela ficou certa de que Alec Baldwin ficaria profundamente doente em 1997, que Ellen
DeGeneres entraria em choque na inauguração presidencial, e que 1958 viveríamos o início da
Terceira Guerra Mundial. Dixon, ao que parece, levava sua bola de cristal a festas, parando para
dar uma leitura ocasional para os convidados. Durante o horário de trabalho na Nixon, Dixon
atuou como conselheira depois de prever corretamente um ataque terrorista e, em seguida,
juntou-se ao grupo de astrólogos de Nancy Reagan. Após sua morte, a bola de cristal de Dixon
foi leiloada em quase US$ 12.000.
Talvez a descrição mais difundida da bola de cristal venha da imagem de uma mulher,
geralmente considerada uma "cigana", envolvida em lenços vibrantes e coberta de cascatas de
braceletes, brincos e anéis, declamando contos do futuro e do passado sobre um pano de mesa
de veludo.
De um certo modo, esta imagem não é imprecisa. Vindo para a Europa à partir do norte da
Índia, os romanos foram perseguidos quase que instantaneamente porque, entre outras coisas,
a Igreja Católica não estava muito feliz deles praticarem adivinhação. Estando constantemente
em movimento, Roma adotou uma forma de espionar sempre que o momento se fazia oportuno,
e é assim que a trupe de carnaval com leitores de bola de cristal provavelmente começou. Na
década de 1930, "Gypsy-Americans" praticamente controlavam a indústria da adivinhação,
embora não sem uma luta encoberta por seus estigmas. Em uma pequena cidade da Virgínia, a
adivinhação só foi considerada legal em 2014, e em Nova York, uma lei instituída em 1967 ainda
pode afetar o fluxo de dinheiro desses adivinhos.
Uma vez que a bola de cristal tornou-se mais visível como resultado da Roma itinerante, os
magos de palco do início do século XX embarcaram na moda da adivinhação para realizar atos
de C.G., ou "Crystal Gazing", para um público impressionado. O artista mais conhecido foi,
talvez, "Alexander, O homem que sabe". No auge de sua carreira, de acordo com vários
biógrafos, Alexander era o mentalista mais bem pago no mundo (um artista que afirmava ter
aumentado o poder cognitivo). Armado com sua bola de cristal, Alexander respondia às
perguntas do público que estavam seladas em envelopes antes do show. Sua destreza em
leituras com a bola de cristal é questionável, porque após sua aposentadoria, ele publicou "The
Life and Mysteries of The Celebrated Dr. Q", onde muitos dos truques mentalistas e psíquicos
foram revelados, incluindo como enganar clientes crédulos e o público.
A analogia de "gazing into the crystal ball" é usada em esportes, tecnologia, negócios e política,
entre outras áreas, para se referir à previsão de eventos futuros. Esta é outra simplificação
excessiva da prática moderna de se ler uma bola de cristal, que, como a maioria das formas de
adivinhação, pode servir como um dispositivo de cura para o cliente, e não somente como um
preditor do futuro. Uma curandeira, Gina Jean, diz que o ponto se de usar uma bola de cristal é
para empoderamento e orientação, ao invés de uma espiada no futuro.
Hoje você verá que a que maioria dos videntes que não leem bolas de cristal exclusivamente,
em vez disso, o orbe de adivinhação é usado como um gatilho para outros tipos de augúrios,
como tarô, horóscopo ou quiromancia. De acordo com o astrólogo nova iorquino, Kim Allen, sua
bola de cristal adiciona um pingo de "misticismo" às suas sessões de consultoria. Allen usa dois
tipos de bolas: uma feita de quartzo de cristal claro e brilhante, a outra de obsidiana escura e
esfumaçada. O primeiro pode ampliar o que alguém está sentindo e o que este necessita de
direcionamento, enquanto o último revela pessoas ou coisas que precisam ser removidas de
suas respectivas vidas. Allen instrui seus clientes a escolher a bola para a qual eles são
atraídos, e então ela pede que eles passem suas mãos sobre a bola para carregá-la
energeticamente. À maneira que a energia é impregnada, Allen vê símbolos que refletem uma
imagem maior, ao invés de ver eventos distintos que ocorreram no passado ou que ainda não se
desenvolveram. Depois de uma leitura, Allen limpa a bola com Florida Water, enterra-a no sal
marinho por três a quatro dias e, em seguida, deixa-a na mesa de cabeceira por cerca de uma
semana para recuperar sua conexão com a bola.
Apesar de sua história duradoura, a bola de cristal continua a ser uma das imagens culturais
mais poderosas e sempre presentes quando pensamos no misticismo espiritual. Nós pensamos
nisso não só como um meio de encontrar uma visão, mas também como uma imagem
firmemente enraizada do léxico cultural, dado que a magia e a feitiçaria estão tendo um aumento
de popularidade.
Por uma boa razão: essas práticas dão voz aos marginalizados e abraçam aqueles que se veem
sem uma comunidade. Além de que não é mais tão errado abraçar o próprio psiquismo: você
pode usar sua clarividência, seja customizada perto do coração em sua jaqueta ou presa com
orgulho em sua gola, que ainda estará na moda, mas isso é assunto para outra matéria.

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