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27,
Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica,
F´ 27, n. 1, p. 37 - 61, (2005
(2005))
www.sbfisica.org.br
Sobre o princ´
princıpio oes∗
ı́pio da relatividade e suas implicaç˜
implica¸cões
(Uber das Relativt¨
atsprinzip und die aus demselben gezogenen Folgerungen)
A. Einstein
Publicado em Jahrbuch der Radioaktivität
Radioaktivit¨at und Elektronik
E lektronik 4, 411-462 (1907)
A equa
equa¸cão
çao
˜ de mo movim
vimen
ento
to de Newton
Newton mant´
mantém
em sua teoria e experimento ´eé removida formalmente pela su-
forma, quando mudamos para um sistema de coorde- posiç˜
posi¸cão
ao de H.A. Lorentz e Fitzgerald, de acordo com a
nadas, que está
est´a em movimento uniforme de translaç˜
transla¸cão
ao qual os corpos em movimento sofrem uma determinada
em relaç˜
rela¸cão
ao ao primeiro, de acordo com as equaç˜
equa¸cões
oes contraç˜
contra¸cão
ao na dire dire¸cão
ç˜ao do mo movivime
ment nto.
o. Tal suposi
suposi¸cão
çao
˜
ad hoc, no entantentanto, o, surgiu
surgiu apenas como um artif artif´ıcio
ı́cio
x
= x − vt para salvar a teoria, pois o experimento de Michelson
y
= y e Morley de fato demonstrou que fenômenos fenˆomenos seguem o
z
= z princı́pio
princ´ıpio da relativid
re latividade,
ade, mesmo
m esmo em ˆambitos
âmbitos inespera-
dos para a teoria de Lorentz. Assim parecia que a teoria
Enquanto nos ativermos `aà id´ i déia
eia de que toda to da a Fı́
F´ısica
s ica de Lorentz deveria ser abandonada e reposta por uma
poderia ser fundamentada pelas equaç˜ equa¸cões
oes de movimento
movimento teoria cujos
cuj os fundamentos
fund amentos correspon
corr esponderiam
deriam ao princı́pio
princ´ıpio
de Newton, não n˜ao caberia dúvida
d´
uvida de que as leis da na- da relatividade, pois tal teoria teria prontamente pre-
tureza seriam as mesmas, independentemente dos sis- visto o resultado negativo do experimento de Michelson
temas de coordenadas movimentando-se relativamente e Morley.
de maneir
maneiraa unifor
uniforme,
me, (sem
(sem aceler
acelera¸ aç˜
cão
ao).). Essa
Essa ind inde-
e- Mostrou-se, porém,
por´em, de maneira surpreendente,
surpreendente, que
pendência
pendˆencia do movimento em relaç˜ rela¸cão
ao ao sistema de co- apenas uma definiç˜
defini¸cão ao mais precisa do tempo seria su-
ordenadas utilizado, que chamaremos de “princ´ “princıpio
ı́pio da ficiente para superar o problema. Seria necessária necess´aria ape-
ap e-
relatividad
relatividade”, e”, foi subitamen
subitamente te questionad
questionadaa pelas bri- nas a consta
constata¸ taç˜
cão
ao de que a grande grandeza za auxili
auxiliar
ar intro
intro--
lhantes
lha ntes corrobo
corr obora¸
raç˜
cões
oes para a eletrodinâmica
eletrodinˆamica dos cor- duzida por H.A. Lorentz, chamada de “tempo local”,
pos em movimento
movimento de H.A. Lorentz Lorentz [1]. Tal teoria está est´a poderia ser definida simplesmente como “tempo” geral.
baseada na suposiç˜
suposi¸cão
ao de um ´eter
éter luminoso em repouso Atend
Atendo-so-see a essa
essa defini¸
definiç˜ cão
ao de tempo,
tempo, verifiverifica-
ca-se
se que
e sem movimentos internos e suas equaç˜ equa¸cões
oes básicas
b´asicas não
n˜ao as equaç˜
equa¸cões
oes básicas
b´asicas da teoria de Lorentz correspondem
são
s˜ao tais que se transformam em equaç˜ equa¸cões
oes da mesma ao princ´
princıpio
ı́pio da relatividade, desde que as equaç˜ equa¸cões
oes de
forma, quando as equaç˜
equa¸cões
oes de transformaç˜
transforma¸cão ao acima sãos˜ao transformaç˜
transforma¸cão ao acima
acim a sejam
seja m substitu
subst itu´ıdas
ı́das por
p or outras
outr as cor-
aplicadas. respond
responden entes
tes ao novonovo conceit
conceitoo de tempo. A hip´ hipotese
ótese
Desde a aceitaç˜
aceita¸cão
ao dessa teoria esperava-se que se- de Lorentz e Fitzgerald passa a ser uma conseqüˆ conseq¨uên enccia
ria poss´
possıvel
ı́vel demonstra
demonstrarr um efeito
efeito do movimen
movimento to da compulsóri
compuls´ oriaa dessa
dessa teoria.
teoria. Somen
Somente te o concei
conceitoto de um
Terra relativo ao ´eter éter em fenômenos
fenˆomenos ´optió ptico
cos.
s. O pró-
pr´o- ´eter
éter luminal como transportador de forças for¸cas elétri
el´etricas
cas e
prio Lorentz demonstrou em seu trabalho, como con- magnéticas
magn´eticas não n˜ao cabe na teoria descrita aqui, pois cam-
seqüˆ
seq¨uênci
enciaa de suas
sua s hipótes
hip´oteses
es básic
b´asicas,
as, que nenhum
nen hum efeito
efei to pos
po s eletrom
ele tromagn´
agnétic
eticos
os são
s˜ao descritos agora não n˜ao como esta-
devido a esse movimento relativo da Terra sobre o cami- dos de alguma substância,
substˆancia, mas como entes que existem
nho ´optico
óptico seria esperado, desde que os cálcul c´alculos
os se independentemente,
indep endentemente, análogos an´alogos `aà “matéria
“mat´eria ponder´
pond erável”,
avel”,
limitassem aos termos nos quais a relaç˜ rela¸cão
ao v/c da ve- tendo com ela em comum a caracterı́stica caracter´ıstica da inércia.
in´ercia.
locidade relativa `aà velocidade da luz no vácuo v´acuo fosse li- A seguir tenta-se resumir, como um todo, os tra-
near. No entanto, o resultado negativo do experimento balhos surgidos até at´
e agora da fusãofus˜ao da teoria de H.A.
de Michelson e Morley [2] mostrou que efeitos de se- Lorentz e do princı́pio
princ´ıpio da relativid
r elatividade.
ade.
gunda ordem (proporcion
(proporcionaisais a v 2 /c2 ) tamb´
tam bémem estavam
es tavam Nas primeiras duas partes do presente trabalho são s˜ao
ausentes, embora devessem estar presentes de acordo tratados os fundamentos cinemáticos,cinem´aticos, bem como suas
com a teoria de Lorentz para a situaç˜ situa¸cão
ao estudada. aplicaç˜
aplica¸cões
oes `as
às equaç˜
equa¸cões
oes básicas
b´asicas da teoria de Maxwell e
´ bem conhecido o fato de que tal contradiç˜
É
E contradi¸cão ao entre Loren
Lorentz.
tz. Nesse
Nesse prop´ ósito ative-me aos trabalhos 1 de
proposito
∗
Traduç˜
Tradu¸cão
ao de Peter A. Schulz,
Schulz, Instituto de Fı́sica
F´ısica Gleb Watgahin, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil.
1
Os estudos de E. Cohn sobre o tema também
tamb´em são
s˜
ao relevantes, mas não
n˜
ao os utilizo aqui.
Copyright
Copyright by the Sociedade Brasileira de Fı́sica.
F´ısica. Printed in Brazil.
38 Einstein
A esse conjunto de leituras de todos os relógios, sin- material P ocupa uma certa posição em S , isto é, co-
cronizados de acordo com a regra acima, que podemos incide com um certo ponto Π, que está em repouso em
imaginar arranjados em pontos individuais do espaço relação a S . A totalidade de posições dos pontos Π em
em repouso em relação ao sistema de coordenadas, relação ao sistema de coordenadas S chamaremos de
chamaremos de tempo pertencente ao sistema de co- posição e a totalidade das interrelações de posições de
ordenadas ou, abreviadamente, o tempo desse sistema. pontos P chamaremos de forma cinemática do corpo
O sistema de coordenadas usado, juntamente com em relação a S no tempo t. Se o corpo está em repouso
a régua unitária de medida e os relógios usados para em relação a S , sua forma cinemática será idêntica à
determinar o tempo do sistema, será chamado de “Sis- forma geométrica.
tema referencial S ”. Vamos supor que as leis fı́sicas É claro que observadores em repouso no sis-
são conhecidas em relação ao sistema referencial S , que tema referencial S podem determinar apenas a forma
está inicialmente em repouso em relação ao Sol. De- cinem´ atica em relação a S de um corpo que se movi-
pois disso, o sistema referencial S é acelerado durante menta em relação a S , mas não a forma geométrica
um intervalo de tempo por meio de um agente externo, desse corpo.
retornado logo após a um estado não acelerado. Como No que segue não iremos usualmente diferenciar
serão as leis fı́sicas se as aplicarmos aos processos rela- explicitamente formas geométrica e cinemática; uma
tivos ao referencial S que agora está em um outro estado afirmação de significado geométrico refere-se à forma
de movimento? cinemática ou geométrica, dependendo se aquela se refe-
Nós faremos a mais simples das suposições, que é re ao sistema de referência S ou não, respectivamente.
também sugerida pelo experimento de Michelson e Mor-
§3. Transformações de coordenadas e tempo
ley: as leis da Fı́sica s˜ ao independentes do estado de
movimento do sistema referencial, ao menos se o sis- Sejam S e S ’ sistemas referenciais equivalentes, isto
tema n˜ a acelerado.
ao est´ é, ambos possuem réguas de mesmo comprimento e
Sobre essa suposição, que chamaremos de “princı́pio relógios que avançam à mesma razão, quando esses são
da relatividade”, bem como sobre o princı́pio da cons- comparados entre si em um estado de repouso rela-
tância da luz, basear-nos-emos no que segue. tivo. É óbvio, então, que todas as leis fı́sicas válidas
em relação a S serão válidas de mesmo modo em S ’
§2. Comentários gerais sobre espaço e tempo também, desde que S e S ’ estejam em repouso relati-
vamente um ao outro. O princı́pio da relatividade re-
1. Consideremos um grupo de corpos rı́gidos não quer também essa equivalência total se S ’ está em movi-
acelerados e com a mesma velocidade (portanto em mento de translação uniforme em relação a S . Portanto,
repouso uns em relação aos outros). De acordo com especificamente, a velocidade da luz no vácuo tem que
o princı́pio da relatividade concluı́mos que as leis de ter o mesmo valor numérico em relação a ambos os sis-
acordo com as quais esses corpos podem ser agrupa- temas.
dos, uns em relação aos outros, não se modificam com Seja um evento pontual determinado pelas variáveis
a modificação dos estados de movimento comum aos x, y, z, t em relação a S , e pelas variáveis x’, y’, z’, t’ em
corpos. Dessa conclusão segue que as leis da geome- relação a S ’, sendo que S e S ’ estão se movendo sem
tria determinam os possı́veis arranjos dos corpos rı́gidos aceleração relativamente entre si. Precisamos buscar
em movimento não acelerado sempre da mesma forma, as equações que relacionam as variáveis de um sistema
independentemente do estado de movimento comum. com as do outro.
Afirmações sobre a forma de um corpo em referenciais Primeiramente podemos afirmar que essas equações
não acelerados têm, portanto, um significado claro. A precisam ser lineares em relação a essas variáveis, pois
forma do corpo nesse sentido será chamada de “forma isto é requerido pela homogeneidade do espaço e tempo.
geométrica”. Essa obviamente não depende do estado Disso resulta, em especial, que os planos de coordenadas
de movimento do sistema referencial. de S ’ são planos se movendo uniformemente em relação
2. De acordo com a definição de tempo dada em a S , embora em geral não sejam planos perpendicu-
§1, uma afirmação sobre o tempo tem significado ape- lares entre si. Se escolhermos, no entanto, a posição
nas em relação ao sistema referencial em um estado de do eixo x’ de tal forma que em relação a S ele tenha
movimento especı́fico. Pode ser, portanto, inferido (e a mesma direção que o movimento translacional de S ’,
será demonstrado no que segue) que dois eventos pon- então, por razões de simetria, os planos de coordenadas
tuais espacialmente distantes, que são simultâneos em S ’ têm que ser mutuamente perpendiculares do ponto
um sistema referencial S , são em geral não simultâneos de vista do referencial S . Podemos e iremos escolher as
em um sistema referencial S ’ em um estado de movi- posições dos dois sistemas de coordenadas de tal modo
mento diferente. que o eixo x de S e o eixo x’ de S ’ coincidam em todos
3. Considere um corpo constituı́do de pontos ma- os instantes de tempo e que o eixo y ’ de S ’ no referen-
teriais P movendo-se de algum modo em relação a um cial S seja paralelo ao eixo y de S . Além disso, deve-
sistema referencial S . No instante t de S cada ponto mos escolher o instante no qual as origens dos sistemas
40 Einstein
de coordenadas como o instante inicial em ambos os Como as origens das coordenadas de S e S ” coinci-
sistemas. Dessa forma as equações de transformações dem permanentemente, os eixos têm direções idênticas
lineares procuradas serão homogêneas. e os sistemas são “ equivalentes”, essa substituição é a
Das posições agora conhecidas dos planos de coorde- identidade5 , de modo que
nadas de S ’ em relação a S , concluı́mos imediatamente
que os seguintes pares de equações são equivalentes: ϕ(v) · ϕ(−v) = 1.
x = 0 e x − vt = 0
Além disso, como a relação entre y e y’ não pode
y = 0 e y = 0 depender do sinal de v , temos
z = 0 e z = 0
Três das equações de transformação procuradas ϕ(v) = ϕ(−v).
têm, portanto, a forma:
Portanto6 , φ(v ) = 1 e as transformações passam a
x
= a(x − vt) ser
y
= by v
z
= cz t
= β t − 2 x
c
Como a propagação da velocidade da luz no espaço x
= β (x − vt) (1)
vazio é c em relação a ambos os referenciais, as duas y
= y
equações z
= z
2 2 2 2 2
x + y + z = c t
na qual
e
x 2 + y 2 + z 2 = c 2 t 2
1
β = .
têm que ser equivalentes. Dessa equivalência e das ex- 1 − v2
c2
pressões para x’, y’, z’ concluı́mos, após um cálculo
simples, que as equações de transformação têm que ter
a forma Se resolvermos as Eqs. (1) para x, y , z, e t, obtere-
mos as mesmas equações, com a exceção de que as quan-
v tidades “linha” são substituı́das pelas correspondentes
t
= ϕ(v) · β · t − 2 x
c “sem linha” e vice versa, além de v ser substituı́do por
x
= ϕ(v) · β · (x − vt) -v. Isso também é conseqüência direta do princı́pio da
relatividade e do fato de que em relação a S ’, S realiza
y
= ϕ(v) · y uma translação paralela com velocidade -v na direção
z
= ϕ(v) · y do eixo X ’.
Em geral, de acordo com o princı́pio da relativi-
nas quais dade, qualquer relação correta entre grandezas “linha”
1 (definidas com relação a S ’) e “sem linha” (definidas
β = . em relação a S ) ou entre grandezas de apenas um tipo
v2
1 − c2 levam novamente a uma relação correta se os sı́mbolos
“sem linha” são substituı́dos por sı́mbolos “linha” ou
Agora iremos determinar a função de v, ainda in- vice-versa e se v é substituı́d o por -v.
determinada nas expressões acima. Se introduzirmos
um terceiro sistema, S ”, que é equivalente a S e S ’,
§4. Conseqüências das equações de transformação
movendo-se com velocidade -v em relação a S ’ e orien-
sobre os corpos rı́gidos e relógios
tado em relação a S ’ da mesma forma que S ’ está ori-
entado em relação a S , obteremos, após duas aplicações
das equações que acabamos de encontrar, 1. Considere um corpo em repouso relativo a S ’.
Sejam x1 ’, y1 ’, z1 ’ e x2 ’, y2 ’, z2 ’ as coordenadas de
t
= ϕ(v) · ϕ(−v) · t dois pontos materiais de um corpo em relação a S ’.
De acordo com as equações de transformação derivadas
x
= ϕ(v) · ϕ(−v) · x
acima, as seguintes relações entre x1 , y1 , z1 e x2 , y2 ,
y
= ϕ(v) · ϕ(−v) · y z2 , coordenadas desses dois pontos no sistema referen-
z
= ϕ(v) · ϕ(−v) · z cial S , mantêm-se para todos os tempos t de S :
5
Essa conclusão é baseada na suposição fı́sica de que o comprimento de uma régua e o perı́odo do relógio não sofrem uma alteração
permanente se esses objetos são colocados em movimento e então levados ao repouso novamente
6
φ(v ) = - 1 está obviamente fora de questão.
Sobre o princı́pio da relatividade e suas implicaç˜
oes 41
2
razão 1: 1 − vc . O movimento relativo de sistemas
2
y
=
uy t
ux = vux
sistema S ? 1+ c2
O relógio considerado completa um perı́odo nos v2
tempos tn = ν n , na qual n cobre os números inteiros
1 − c2
0 uy = uy (3)
e x’ = 0 para o relógio o tempo todo. Usando as duas 1+
vux
c2
primeiras equações de transformação, obtemos para os v2
tempos tn, durante os quais o relógio completa um 1 − c2
perı́odo, visto de S : uz = vux
uz
1+ c2
β A lei dos paralelogramos das velocidades é válida,
tn = βtn = n.
ν 0 portanto, apenas em primeira aproximação. Se es-
crevermos
Portanto, observado do sistema S , o relógio com-
2
pleta ν = ν 0
= ν 0 1 − vc perı́odos por unidade de
β 2 u2 = u2x + u2y + u2z
tempo, ou dito de outra forma: a marcação de um u2
= 2
ux + uy + uz 2 2
relógio movendo-se uniformemente com velocidade v
relativa a um sistema de referência é mais lenta de uma
e designarmos por α o ângulo entre o eixo x’ (v) e a
2
razão 1: 1 − vc , se observada desse sistema, do que
2
direção de movimento do ponto em relação a S ’ (u’),
do mesmo relógio em repouso relativo ao sistema. teremos
2
A fórmula ν = ν 0 1 − vc tem uma aplicação muito
2
vu senα 2
2
c
atômico, cuja freqüência é determinada somente pelo
ı́o n, nós podemos considerar esse ı́on como um relógio Dessa última expressão vemos que a adição de duas
de uma certa freqüência ν 0 , que pode ser determinada, velocidades menores que c sempre resulta em uma ve-
por exemplo, pela investigação da luz emitida por ı́ons locidade menor que c , isto é, se definirmos v = c – k,
idênticos em repouso em relação ao observador. Essa k’ = c – λ, com k e λ positivos e menores que c, então
7
N.T.: trata-se de um efeito de raios catódicos “ kanalstrahlen”, ver Braz. J. Phys. 29, 401 (1999) (N.T.).
8
Veja também, § 6, Eq. (4a).
42 Einstein
1 − Wc v 2
1 − cos ϕ vc
T = l . ν = ν .
W − v 1 − v2
c2
A velocidade v pode assumir qualquer valor menor
que c. Portanto, se assumirmos W > c, podemos 2. Se uma fonte de luz de freqüência ν 0 relativa a um
sempre escolher v tal que T < 0. Esse resultado sig- sistema que se move junto com essa fonte de tal forma
nifica que terı́amos que considerar a possibilidade de que a linha conectando a fonte ao observador forma um
um mecanismo de transmissão pelo qual o efeito al- ângulo φ com a velocidade da fonte de luz em relação a
cançado precederia a causa. Ainda que esse resultado, um sistema em repouso relativo ao observador, então a
na minha opinião, não contenha nenhuma contradição freqüência ν da fonte percebida pelo observador é dada
de um ponto de vista puramente lógico, provocará sim pela equação
um conflito com o caráter de toda a nossa experiência
adquirida, que me parece prova suficiente da impossi-
1 − v2
bilidade da hipótese W > c. c2
ν = ν 0 .
1 − cos ϕ vc
§6. Aplicação das equações de transformação a alguns
Essas últimas duas equações expressam o princı́pio
problemas de óptica
de Doppler em sua forma geral; a última equação
mostra como a freqüência observável da luz emitida (ou
Suponha que uma componente de uma onda plana
absorvida) por raios de canal depende da velocidade de
de luz que se propaga no vácuo é proporcional a
movimento dos ı́ons que formam os raios e da direção
lx + my + nz
de observação.
senω t − Se os ângulos entre a direção de propagação (direção
c
do raio) e a direção do movimento relativo de S ’ em
em relação ao sistema S e relação a S (ou seja, com o eixo x e x’, respectiva-
mente) são denominados φ e φ’, [quando medidos em
S e S’, respectivamente]10 , então a Eq. de l ’ toma a
senω
t −
l x + m y + n z
c forma
9
No original aparece l em vez de λ (N.T.).
10
O trecho entre colchetes falta no original, mas é necessário acrescentar para dar sentido à frase. Comparar a equação a seguir com
a expressão para l em (4) (N.T.).
Sobre o princı́pio da relatividade e suas implicaç˜
oes 43
senω
t −
x
V 1 ∂X ∂N ∂M
ux ρ + = −
ou a c ∂t ∂y ∂z
x 1
uy ρ +
∂Y
=
∂L ∂ N
−
(5)
senω t − , c ∂t ∂z ∂x
V
1 ∂Z ∂M ∂L
dependendo se o processo se refere a S ’ ou S , respecti- uz ρ + = −
vamente. c ∂t ∂x ∂y
As equações de transformação levam a
v 1 ∂L ∂Y ∂Z
ω = βω 1 + = −
V
c ∂t ∂z ∂y
1 ∂M ∂Z ∂ X
= − (6)
ω ω
V v
c ∂t ∂x ∂z
= β 1+ 2 1 ∂N ∂X ∂ Y
V V
c = −
c ∂t ∂y ∂x
Aqui V ’ deve ser considerada como uma função de
ω’, como conhecido da óptica de corpos estacionários.
Nessas equações12 , (X , Y , Z ) é o vetor “intensidade
Dividindo essas equações, obtemos
de campo elétrico”, (L, M , N ) é o vetor “intensidade
V + v
de campo magnético”, ρ = ∂X ∂x
+ ∂∂yY + ∂∂zZ é a densidade
V = . de carga multiplicada por 4π e (ux , uy , uz ) é o “vetor
1 + V c v
velocidade da eletricidade”.
Essa equação também poderia ser obtida direta-
Essas equações, juntamente com a suposição de que
mente do teorema de adição de velocidades [12]. Se V ’
as cargas elétricas são imutáveis e ligadas a pequenos
for considerada conhecida, essa última equação resolve
corpos rı́gidos (ı́ons, elétrons), fornecem os fundamen-
o problema completamente. No entanto, se somente a
tos da eletrodinâmica de Lorentz e a óptica dos corpos
freqüência (ω) em referência ao sistema “estacionário”
em movimento.
S é considerada conhecida, como no experimento bem
conhecido de Fizeau, então as duas equações anteriores Se essas equações, que são válidas em relação ao
têm que ser utilizadas juntamente com a relação entre sistema S , forem transformadas pela aplicação das
ω’ e V ’ para poder determinar as três incógnitas ω’, V ’ equações de transformação (1) para o sistema em movi-
e V . mento S ’, que se move em relação a S como nas con-
Além disso, se G ou G’ é a velocidade de grupo em siderações anteriores, obteremos as seguintes equações
relação a S ou S ’, respectivamente, então, de acordo
com o teorema de adição das velocidades,
1
∂ X
∂N ∂M
ux ρ + = −
G +v
c ∂t ∂y
∂z
G = .
1 + Gc v
2 1
∂ Y
∂L ∂N
uy ρ + = − (5 )
Como a relação entre G ’ e ω’ pode ser obtida da c ∂t ∂z
∂x
−
11 V
Porque G = 1 dV
1+
V dω
12
As Eqs. (5) são as componentes da lei de Ampere e as Eqs. (6) as componentes da lei de Faraday. É interessante conservar a
notação original, bem como a terminologia como “ vetor velocidade da eletricidade” em vez de densidade de corrente (N.T.)
44 Einstein
uy
= (9) ε em um dado instante t de S ?
β 1 − ucx v
2
Da última das equações em (1) temos que a seguinte
uz
uz
= relação para t constante é válida:
β 1 − ucx v
2
Essas equações têm a mesma forma das Eqs. (5) dx dy dz = βdxdydz.
e (6). Por outro lado, de acordo com o princı́pio da
relatividade, os processos eletrodinâmicos obedecem às
mesmas leis tanto em relação ao sistema S ’ como em Em nosso caso a Eq. (8) significa
relação ao sistema S . Disso concluı́mos que X , Y , Z
X
= X 0 senΦ III. Mecânica de um ponto material
v
Y
= β Y 0 − N 0 senΦ
(elétron)
c
v
Z
= β Z 0 + M 0 senΦ §8. Derivação das equações de movimento de um
c
ponto material (lentamente acelerado), ou do elétron
Em um campo eletromagnético move-se uma
L
= L0 senΦ
v partı́c ula com carga elétrica ε (que será chamada daqui
M
=Z 0 senΦβ M 0 + em diante de “elétron”) e sobre sua lei de movimento
c
v pode-se dizer o que segue:
N = β N 0 − Y 0 senΦ
Se o elétron encontra-se em repouso em um dado
c
l x +my +n z
instante de tempo em relação ao sistema S ’ (não acele-
Φ = ω t − . rado), seu movimento em relação a S ’ dar-se-á de
c
acordo com as seguintes equações, no instante de tempo
Da condição de que as funções X ’ etc. têm que seguinte,
satisfazer as Eqs. (5’) e (6’), segue que a direção de
propagação da onda, campo elétrico e campo magnético d2 x0
são vetores mutuamente perpendiculares no sistema S ’ µ 2 = εX
dt
que as oscilações elétricas são paralelas ao eixo Z . Nesse elétron em relação a S ’ e µ uma constante que chamare-
caso impomos que mos de massa do elétron.
46 Einstein
K x =
ẏ ż
ε X + N − M
dx0
Dessas equações e definindo dt
= ẋ0 , etc. deduzi- c c
mos:
K y =
ż ẋ
ε Y + L − N
(12)
c c
dx0
β (ẋ0 − v) K z =
ẋ ẏ
ε Z + M − L .
= etc., c c
β 1 − vcẋ
dt
2
0
cı́clicas, que serão cancelados no caso particular em é a energia eletromagnética contida no volume conside-
questão. Omitindo o ı́ndice em x0 , obteremos as rado. De acordo com o princı́pio da energia, o primeiro
seguintes equações, que no caso considerado são equiva- termo na Eq. (13) é igual à energia fornecida pelo
lentes às equações acima: campo eletromagnético ao portador de carga elétrica
Sobre o princı́pio da relatividade e suas implicaç˜
oes 47
µẋ
por unidade de tempo. Se cargas elétricas estão rigida- Portanto, a grandeza ξ = 2
desempenha o papel
1− vc2
mente ligadas a pontos materiais (elétrons), então sua
parte no termo acima se iguala à expressão do momento linear de um ponto material e, de acordo
com as Eqs. (11), temos
ε (X ẋ + Y ẏ + Z ż) , dξ
= K x
na qual (X , Y , Z ) representa o campo elétrico externo, dt
isto é, o campo menos a parte correspondente à carga como na mecânica clássica. A possibilidade de intro-
do elétron em si. Utilizando as Eqs. (12) essa expressão duzir um momento linear do ponto material é baseada
torna-se no fato de que nas equações de movimento a força, isto
é, o segundo termo da Eq. (15), pode ser representada
K x ẋ + K y ẏ + K z ż. como uma derivada temporal.
Além disso, vemos imediatamente que nossas
Portanto, o vetor (K x , K y , K z ) designado como equações de movimento para o ponto material podem
“força” no último parágrafo (seção) tem a mesma ser colocados na forma de equações lagrangianas de
relação com o trabalho realizado como na mecânica movimento; pois, de acordo com as Eqs. (11), temos
newtoniana.
Assim, se sucessivamente multiplicarmos as Eqs.
(11) por ẋ, ẏ, ż, somarmos os termos e integrarmos so- d ∂H
= K x ,
bre o tempo, deveremos obter a energia cinética do dt ∂ ẋ
ponto material (elétron): etc. na qual colocamos
µc2
q 2
H = − µc2
(K x ẋ + K y ẏ + K z ż)dt = + const. (14)
1 −
c2
+ const.
q2
1 − c2 As equações de movimento também podem ser re-
presentadas de acordo com o princı́pio de Hamilton
Assim fica demonstrado que as equações de movi-
mento (11) estão de acordo com o princı́pio da energia. t1
Vamos agora mostrar que elas também estão de com o (dH + A)dt = 0,
princı́pio de conservação do momento.
t0
Multiplicando a segunda e a terceira das Eqs. (5)
e depois a segunda e terceira das Eqs. (6) por na qual t e as posições inicial e final são invariantes e
N
4π
, − 4M
π
, − Z , Y , somando os termos e integrando so-
4π 4π
A representa o trabalho virtual
bre um volume em cuja fronteira os campos se anulam,
obtemos A = K x ∂x + K y ∂y + K z ∂z .
Finalmente estabeleceremos ainda as equações de
movimento canônicas de Hamilton. Isso é feito ao intro-
d 1
(Y N − ZM )dω +
dt 4πc duzirmos as “coordenadas de momento” (componentes
ρ u y u z do momento linear) ξ , η, ζ , definindo, como feito acima,
X + N − M dω = 0 (15)
4π c c
∂H µẋ
ou, de acordo com as Eqs. (12), ξ = = , etc.
∂ ẋ
1 − q2
c2
§10. Sobre a possibilidade de um teste experimental prática) acessı́veis à observação. O senhor W. Kauf-
da teoria de movimento do ponto material. mann inferiu a relação entre Ae e Am para radiação
A investigação de Kaufmann β emitida por grãos de brometo de rádio com notável
cuidado [13]. Ambas as figuras foram tiradas desse ar-
Uma perspectiva de comparação com experiências tigo.
dos resultados derivados na última seção existe somente Seu aparelho, cujas partes principais estão
no caso em que os pontos materiais carregados eletrica- esboçadas em tamanho real na Fig. 1, consiste essen-
mente movem-se com velocidades cujos quadrados não cialmente de uma cápsula de bronze a prova de luz, H ,
são desprezı́veis em relação a c 2 . Essa condição é satis- colocada em um recipiente de vidro evacuado, com um
feita no caso de raios catódicos mais rápidos e raios de grão de rádio colocado numa pequena roda, O, no fundo
elétrons (radiação β ) emitido por substâncias radioati- A da cápsula. Os raios β que emanam do rádio passam
vas. através da lacuna entre as placas de capacitor, P 1 e P 2 ,
Existem três grandezas caracterı́sticas de feixes atravessam o diafragma D, cujo diâmetro é de 0,2 mm,
(raios) de elétrons cujas relações mútuas podem ser colidindo depois em uma placa fotográfica. Os raios são
objeto de investigação experimental mais detalhada, a defletidos, tanto pelo campo elétrico formado entre as
saber: o potencial gerador ou a energia cinética do feixe, placas do capacitor, quanto por um campo magnético
a capacidade de ser defletido por um campo elétrico ou na mesma direção (produzido por um grande magneto
por um campo magnético. permanente), que deflete perpendicularmente a essa
De acordo com a Eq. (14), o potencial gerador Π é direção. Assim os raios com a mesma velocidade mar-
dado pela fórmula cam um ponto na placa, enquanto que um aglomerado
de partı́culas com velocidades diferentes marcam uma
curva na mesma placa.
1
Πε = µ − 1 c2 .
1 − q2
c2
Para calcular as duas outras grandezas, usamos a
última das Eqs. (11) para o caso em que o movimento
é momentaneamente paralelo ao eixo X. Designando
por ε o valor absoluto da carga do elétron, obtemos
d 2 z ε
q 2 q
− 2 = 1 − 2
Z + M .
dt µ c m
Se as únicas componentes do campo defletor são Z e
M e, portanto, o desvio se dá no plano XZ , o raio de cur-
2 2
vatura R da trajetória é dado por qR = ddtz . Assim, 2
ε
1 − q2
c2
Ae =
µ q 2
ε
1 − q2
c2
Am = . Figura 1 -
µ cq
A Fig. 2 mostra essa curva19 que na escala para
No caso dos raios catódicos as três grandezas Π, a abscissa e a ordenada, representa a razão entre
Ae e Am são possı́veis candidatos para medições; no Am (abscissa) e Ae (ordenada). As pequenas cruzes
entanto, nenhuma investigação com raios catódicos su- acima da curva calculadas de acordo com a teoria
ficientemente velozes foi até agora realizada. No caso da relatividade, se o valor de ε/µ for tomado como
da radiação β , apenas as grandezas Ae e Am são (na 1, 878 × 107 .
19
As unidades dadas no gráfico representam milı́metros na placa fotográfica. A curva desenhada não é exatamente a curva observada,
ma a curva “reduzida a deflexões infinitesimalmente pequenas”
Sobre o princı́pio da relatividade e suas implicaç˜
oes 49
Figura 2 - D(x , y , z , t )
4π c c
Apenas com disponibilidade de um corpo de obser-
vações mais amplo será possı́vel decidir com confiança ou, já que o princı́pio da conservação de energia é válido
se esses desvios sistemáticos são devidos a uma fonte no sistema S ’ também, em uma notação simplificada
de erros ainda não identificada no experimento, ou de-
vido à circunstância que os fundamentos da teoria da
dE = βdE + βv
K x dt .
(16)
relatividade não correspondem aos fatos.
Deve ser mencionado também, que as teorias de
Abraham [15] e de Bucherer [16], para o movimento Vamos agora aplicar essa equação ao caso em que
do elétron, levam a curvas que estão significativamente o sistema considerado move-se uniformemente, de tal
mais próximas à curva experimental, que à curva obtida forma, que como um todo esteja em repouso em relação
da teoria da relatividade. No entanto, a probabilidade a S ’. Então, desde que as partes do sistema se movem
de que essas teorias estejam corretas é, na verdade, pe- tão lentamente em relação a S ’ , que os quadrados
quena, na minha opinião, porque suas hipóteses básicas, das velocidades sejam desprezı́veis em relação a c2 ,
relacionadas à dimensão do elétron em movimento, não podemos aplicar os princı́pios da mecânica newtoniana
são sugeridas por sistemas teóricos que dêem conta de em relação a S ’. Portanto, de acordo com o teorema do
conjuntos mais amplos de fenômenos. centro de massa, o sistema considerado (ou, mais pre-
cisamente, seu centro de massa) pode permanecer em
repouso permanentemente apenas se para cada t’
V - Sobre a mecânica e a termodinâmica
dos sistemas
K x = 0.
§11. Sobre a dependência da massa Mesmo assim, o segundo termo do lado direito da
em relação à energia Eq. (16) não desaparece necessariamente, pois a in-
tegração sobre o tempo é feita entre dois valores es-
Consideraremos um sistema fı́sico encapsulado por
pecı́fi cos de t e não de t’.
um invólucro impenetrável à radiação. Suponha que o
Se considerarmos, no entanto, que no inı́cio e no fi-
sistema flutue livremente no espaço e não esteja su-
nal do intervalo de tempo considerado nenhuma força
jeito a nenhuma força, exceto aos efeitos das forças
age sobre o sistema de corpos, então esse termo se anula
elétricas e magnéticas do espaço circundante. Através
e obtemos simplesmente
desse último, energia pode ser transferida ao sistema
na forma de trabalho e calor. Essa energia pode sofrer
dE = β · dE .
conversões de algum tipo no interior do sistema. A
energia absorvida pelo sistema, de acordo com a Eq. Em primeiro lugar concluı́mos dessa equação que a
(13), é dada pela seguinte expressão, quando relativa energia de um sistema em movimento (uniforme), que
ao sistema referencial S , não é afetado por forças externas, é uma função de duas
variáveis, a saber: a energia E 0 do sistema relativa ao
ρ sistema referencial movendo-se junto a ele 20 e a veloci-
dE = dt (X α ux + Y α uy + Z α uz ) dω,
4π dade de translação q do sistema. Assim obtemos
20
Aqui, como no que seguirá, usamos um sı́mbolo como o ı́ndice “0” para indicar que a quantidade em questão se refere a um sistema
de referência que está em repouso em relação ao sistema fı́sico considerado. Como o sistema fı́sico considerado está em repouso em
relação a S ’, podemos substituir E ’ por E 0 aqui.
50 Einstein
c2
O decaimento radioativo de uma substância é acom-
Disso segue que panhado pela emissão de enormes quantidades de ener-
gia. Será que a redução de massa em tais processos não
1 seria grande o suficiente para ser detectada?
E = E 0 + ϕ(q ), O senhor Planck escreveu o seguinte a respeito disso:
q2
1 − c2 “De acordo com J. Precht [17], 1 átomo-grama de rádio
cercado por uma camada suficientemente espessa de
na qual φ(v) é uma função de q desconhecida por agora. chumbo, libera 134,4 × 225 = 30.240 gramas calorias
O caso no qual E 0 é igual a zero, ou seja, que a energia por hora. De acordo com (17) isso implica em uma
do sistema em movimento é somente função da veloci- diminuição da massa de
dade q , já foi examinado em § 8 e § 9. Da Eq. (14) segue
imediatamente que devemos colocar
30240 · 419 · 105 −6
g = 1, 41 × 10 mg
9 · 1020
µc2
ϕ(v) = + const. por hora ou 0,012 mg por ano. Essa quantidade é ob-
q2
1 − c2 viamente ainda muito pequena, especialmente em vista
do elevado peso atômico do rádio, que deve estar ainda
e com isso obtemos fora do intervalo experimental acessı́vel hoje em dia.” A
questão óbvia que se impõe é se seria possı́vel alcançar
esse ob jetivo por meio de métodos indiretos. Se M é o
c2
E =
E 0
µ+ 2
, (16a) peso atômico de um átomo que está se desintegrando e
c q2
1 − c2
m1 , m 2 , etc., são os pesos atômicos dos produtos finais
da desintegração radioativa, então temos que ter
na qual a constante de integração foi omitida. Uma
comparação dessa expressão para E com a expressão E
para a energia cinética de um ponto material na Eq. M − m = ,
(14) mostra que as duas expressões apresentam a c2
mesma forma: no que se refere à dependência da energia na qual E significa a energia produzida durante a desin-
em relação à velocidade de translação, o sistema fı́sico tegração de um átomo grama. Isso pode ser calcu-
sob consideração comporta-se como um ponto material lado se a energia liberada por unidade de tempo du-
de massa M , onde M depende do conteúdo de energia rante a desintegração estacionária e a constante de
E 0 do sistema, de acordo com a fórmula desintegração média do átomo forem conhecidas. Se
o método pode ser aplicado com sucesso depende prin-
cipalmente da existência de reações radioativas para as
E 0
M = µ + 2 . (17) quais M M m não é muito pequena comparada a 1. No
−
c
exemplo do rádio mencionado acima obtém-se – se o
Esse resultado é de importância extraordinária, do tempo de vida médio for tomado como 2600 anos –
ponto de vista teórico, pois a massa inercial e a energia aproximadamente
do sistema fı́sico aparecem nele como objetos do mesmo
tipo. Em relação à inércia, uma massa µ é equivalente
12 · 10 6 · 2600
a uma quantidade de energia de magnitude µc2 . Já que
M − m
=
−
= 0, 00012.
M 250
podemos atribuir arbitrariamente a origem de energia
para E 0 , não estamos em condições de nem ao menos Portanto, se o tempo de vida do rádio foi esti-
distinguir entre a massa “real” e a massa “aparente” do mado com razoável precisão, poderı́amos checar nossas
sistema sem arbitrariedades. Parece muito mais natural relações se conhecêssemos os pesos atômicos envolvidos
considerar qualquer massa inercial como uma reserva de com uma precisão de cinco casas. Isso, obviamente, é
energia. impossı́vel. No entanto, é possı́vel que processos ra-
De acordo com o nosso resultado, a lei de con- dioativos ainda sejam detectados, para os quais uma
servação da massa aplica-se a um dado sistema fı́sico porcentagem significativamente mais alta da massa do
apenas no caso em que sua energia permanece cons- átomo original seja convertida em energia de uma varie-
tante. Nesse caso a conservação da massa é equivalente dade de radiações do que no caso do rádio. Ao menos
ao princı́pio de conservação de energia. Certamente as parece razoável imaginar que a energia produzida du-
mudanças experimentadas pelas massas dos sistemas rante a desintegração de um átomo varie, de substância
Sobre o princı́pio da relatividade e suas implicaç˜
oes 51
βv ρ
para substância, ao menos tanto quanto a constante de
X a ux + Y a uy + Z a uz dω · dt
decaimento21 . c2 4π
Está tacitamente implı́cito na discussão acima, que ou
essa mudança na massa poderia ser medida por um ins-
trumento que usualmente utilizamos para medir mas-
sas, ou seja, uma balança e, portanto, a relação v
dGx = β 2 dE + β
K x dt .
(18)
c
E 0
M = µ + Novamente, deixemos o corpo mover-se sem acele-
c2 ração, de modo que se encontre permanentemente em
seria válida, não somente para a massa inercial, mas repouso em relação a S ’. Temos, novamente, que
também para a massa gravitacional, ou, em outras
palavras, a inércia de um sistema e o peso são es-
tritamente proporcionais sob todas as circunstâncias. K x = 0.
Nós terı́amos que assumir também, por exemplo, que
a radiação contida em uma cavidade possui não ape- Embora os limites de integração temporal depen-
nas inércia, mas também peso. Essa proporcionalidade dam de x’, o segundo termo do lado direito da equação
entre a massa inercial e a gravitacional é válida, no en- acima desaparece no caso do corpo não estar sujeito a
tanto, sem exceção para todos os corpos com a precisão forças externas, antes e após a mudança em questão.
possı́vel até agora, de modo que devemos assumir sua Teremos então
validade geral até prova em contrário. Iremos encon-
trar um novo argumento em favor dessa suposição na
v
última secção desse artigo. dGx = β 2 dE .
c
§12. Energia e momento de um sistema em movimento
Dessa relação segue que o momento de um sistema
Como na secção anterior, iremos uma vez mais con- não exposto a forças externas é função apenas de duas
siderar um sistema que flutua livremente no espaço variáveis, a saber: a energia E 0 do sistema relativa-
e está encapsulado por uma pelı́cula impermeável mente ao referencial movendo-se junto a ele e a veloci-
à radiação. Novamente iremos designar os campos dade de translação q desse último. Assim
eletromagnéticos externos, que intermedeiam as tro-
cas de energia com outros sistemas, por X a , Y a , Z a , q
∂G c2
etc. Podemos aplicar a esse campo externo o mesmo = .
∂E 0
raciocı́nio que nos levou à fórmula (15) e assim obter
1 − q2
c2
uy
G =
q E 0
µ+ 2
. (18a)
ρ
u
dGx = β X a +
N a − z M a dω · dt +
q2 c
4π c c 1 − c2
21
A primeira verificação experimental documentada da relação massa-energia em reações nucleares é de 1932. (N.T.)
52 Einstein
sim os limites de integração para a integração temporal na qual V 0 é o volume de um sistema averiguado em um
em relação a S ’ dependem da posição dos pontos de sistema referencial que se move juntamente com aquele.
aplicação das forças. Dividiremos a integral acima em Eqs. (16b) e (18b) tomam então a forma
três integrais:
q2
c2
E 0
E = µ + 2
+ c2
p0 V 0 (16c)
t1 t2 t2 vx
c
β β β
−
c2 1 − q2
1 − q2
c2 c2
K x dt =
+ + .
t1 vx t1 t2
−
β c2 β β
G =
q
µ+
E 0 + p0 V 0
.
(18c)
c2
A segunda dessas integrais se anula porque tem
1 − q2
c2
como limites instantes de tempo constantes. Se, além
disso, as forças K ’x variam de modo arbitrariamente
rápido, as outras duas integrais não podem ser calcu-
§13. O volume e a pressão de um sistema em
ladas, de modo que não se pode falar, em hipótese al-
movimento. Equações de movimento
guma, da energia ou momento do sistema ao aplicar os
princı́pios usados aqui [18]. No entanto, se essas forças Para determinar o estado do sistema considerado
variarem pouco durante os intervalos de tempo da or-
usamos as grandezas E 0 , p0 , V 0 , que são definidas em
dem de vx c
, podemos definir
2 relação ao sistema referencial que se move junto com o
sistema fı́sico. Podemos, no entanto, ao invés de usar
t1 t1 essas grandezas, utilizar as grandezas correspondentes
β β
v
que são definidas com respeito ao mesmo sistema refe-
( K x )dt = K x dt = x K x . rencial do momento G . Para fazer isso precisamos exa-
c2
t1
−
vx t1
−
vx minar como o volume e a pressão se modificam com a
β c2 β c2
introdução desse novo sistema referencial.
Após manipulação similar da terceira integral obte- Considere um corpo em repouso com relação ao sis-
mos tema referencial S ’. Considere V ’ como sendo o volume
Sobre o princı́pio da relatividade e suas implicaç˜
oes 53
forças que exercem pressão, precisamos partir das K y = K y = p sy = p · sy = p · s · cos m
β β
equações de transformação que se aplicam às forças em 1 1
geral. Como definimos as forças em movimento em §8 K z = K z = p sz = p · sz = p · s · cos n,
β β
de tal modo que elas podem ser substituı́das por forças
de campos eletromagnéticos sobre cargas elétricas, na qual s é a magnitude do elemento de superfı́cie e
podemos restringir-nos a determinar as equações de l , m , n são os cossenos de sua direção normal com
transformação dessas últimas22 . respeito a S . Assim obtivemos o resultado de que a
Consideremos a carga elétrica ε em repouso em pressão p’ com relação ao referencial que se move junto
relação a S ’ . De acordo com as Eqs. (12), a força com o corpo pode ser substituı́do, com respeito a outro
agindo sobre ela é dada pelas equações sistema referencial, por uma outra pressão de mesma
magnitude e que também é perpendicular ao elemento
de superfı́cie. Na nossa notação temos então
K x = εX K x = εX
v p = p 0 . (22)
K y = ε Y − N K y = εY
c As Eqs. (16c), (20) e (22) permitem que deter-
minemos o estado de um sistema fı́sico usando as
v grandezas E , V , p, que são definidas em relação ao
K z = ε Z + M K z = εZ .
c mesmo sistema do momento G e a velocidade q , ao invés
de usar E 0 , V 0 , p 0 que se referem ao sistema referencial
Dessas equações e as relações (7a) segue que
que se move junto ao sistema fı́sico. Por exemplo, se
para um observador que se move junto com o sistema, o
K x
= K x estado do sistema considerado está completamente de-
K y
= β · K y (21) terminado por duas variáveis (E 0 e V 0 ), ou seja, se as
K z
= β · K z equações de estado do sistema podem ser consideradas
como relações entre p0 , V 0 e E 0 , então, com a ajuda
Essas equações permitem calcular as forças quando das equações mencionadas acima, a equação de estado
elas são conhecidas em relação ao sistema referencial pode ser colocada na forma
que se move junto ao sistema fı́sico considerado.
Agora consideramos a força de pressão agindo so- ϕ(q,p,V,E ) = 0.
bre um elemento de superfı́cie s’, que está em repouso
relativo a S ’: Analogamente, a Eq. (18c) pode ser colocada na
forma
K x
= p s · cos l = p · sx
E + pV
K y
=
p s · cos m = p · sy G = q , (18d)
c2
K z
= p s · cos n = p · sz ,
que, combinada com as equações que expressam o
na qual l , m , n representam os cossenos da direção
princı́pio de conservação do momento
normal (com sentido para o interior do corpo) e
sx , sy , sz são as projeções de s’. Das Eqs. (2) temos
dGx
que = K x , etc.,
dt
22
Essa circunstância também justifica o procedimento usado na investigação precedente, na qual introduzimos apenas interações de
natureza puramente eletromagnética entre o sistema considerado e suas vizinhanças. Os resultados são válidos em geral.
54 Einstein
determina completamente o movimento translacional Uma parte desses valores deve ser alocada ao campo
do sistema como um todo, se, além das grandezas
eletromagnético e o resto ao corpo sem massa, que está
K x , etc., conhecemos E , V , p como função do tempo; sujeito a forças devidas à sua carga [19].
ou ainda, se ao invés dessas três funções, se conhecemos
três dados equivalentes relacionados às condições sob as
§15. A entropia e a temperatura de corpos em
quais o movimento do sistema se realiza. movimento
§14. Exemplos
Das variáveis que determinam o estado de um siste-
O sistema a ser considerado consiste de radiação ma, utilizamos até agora a pressão, volume, energia,
eletromagnética, que está limitada por um corpo oco velocidade e momento, mas não foram discutidas ainda
sem massa, cujas paredes equilibram a pressão de ra- grandezas térmicas. A razão para isso é que para o
diação. Se nenhuma força externa age sobre o corpo movimento de um sistema é irrelevante que tipo de
oco, aplicamos as Eqs. (16a) e (18a) ao sistema como energia é fornecido, de modo que não há motivo para
um todo (incluindo o corpo oco). Teremos assim: distinguir entre calor e trabalho mecânico. Agora, no
E 0 entanto, queremos introduzir também grandezas térmi-
E = cas.
q2
1 − c2 Consideremos que o estado de um sistema em movi-
q E 0 E mento seja completamente determinado pelas quanti-
G = 2
= q 2 , dades q , V e E . Obviamente, nesse caso temos que
c c
1 − q2
c2 considerar que o calor fornecido, dQ , seja igual ao au-
na qual E 0 é a energia da radiação em relação ao sis- mento de energia total menos o trabalho produzido pela
tema referencial que se move junto com o sistema fı́sico pressão e que é usado no aumento do momento, de
em consideração. modo que23
No entanto, se as paredes do corpo oco são comple-
tamente flexı́veis e extensı́veis, de modo que a pressão
de radiação exercida do interior tem que ser equilibrada dQ = dE + pdV − qdG. (23)
por forças externas exercidas por corpos não perten-
centes ao sistema considerado, é necessário aplicar as Após definirmos dessa forma o calor fornecido a um
Eqs. (16c) e (18c) e inserir o resultado do valor de sistema em movimento, podemos introduzir uma tem-
pressão de radiação bem conhecido peratura absoluta T e a entropia η do sistema em movi-
mento considerando processos cı́clicos reversı́veis do
1 E 0 mesmo modo como nos livros-texto de termodinâmica.
p0 = ,
3 V 0 Para processos reversı́veis, a equação
obtemos
1 q2 dQ = T dη (24)
E 0 1 + 3 c2
E = 1 − q2 também é válida no presente contexto.
c2
4 O próximo passo é derivar as equações relacionando
q 3 E 0 as grandezas dQ , η, T e as grandezas correspondentes
G = .
c2
1 − q2 dQ 0 , η 0 , T 0 , que se referem ao sistema de referência que
c2
se movimenta junto com o sistema fı́sico considerado.
A seguir vamos considerar o caso de um corpo sem No que se refere à entropia, estarei repetindo a argu-
massa eletricamente carregado. Se forças externas não mentação do senhor Planck [20], chamando a atenção
agem sobre o corpo, podemos novamente aplicar as ao fato de que os sistemas de referência “linha” e “sem
fórmulas (16a) e (18a). Designando por E 0 a energia linha” devem ser entendidos como os sistemas referen-
elétrica relativa ao sistema de referência que se move ciais S ’ e S .
junto ao sistema fı́sico considerado, teremos “Imaginemos que um corpo é levado, por meio de
um processo reversı́vel e adiabático, de um estado, no
E 0
E = qual esteja em repouso em relação ao sistema referen-
q2
1 − c2
cial “sem linha”, para um segundo estado, no qual ele
se encontra em repouso em relação ao sistema referen-
q E 0
G = . cial “linha”. Se a entropia do corpo para o sistema
c2
1 − q2
“sem linha” no estado inicial é η1 e no estado final é
c2
23
Essa equação, como várias outras, apresenta um erro tipográfico no original, que está corrigido nessa tradução. No presente caso
aparece qdQ em vez de qdG no original (N.T.)
Sobre o princı́pio da relatividade e suas implicaç˜
oes 55
η2 , então, por causa da reversibilidade e da natureza transformação para a pressão e temperatura da ra-
adiabática do processo, η1 = η2 . O processo é igual- diação de corpo negro)[20] e chega a resultados que
mente reversı́vel e adiabático para o sistema referencial são idênticos aos discutidos aqui. Surge, portanto, a
“linha”, portanto temos também que η 1 = η2 .”
questão de como os fundamentos de seu estudo se rela-
“Agora, se η1 não for igual a η1 , mas, digamos,
cionam com os do presente trabalho.
η1 > η1 , isso significaria que: a entropia de um corpo é
Partimos do princı́pio de conservação de energia e
maior para um sistema referencial em relação ao qual o do princı́pio de conservação do momento. Se as com-
corpo está em movimento, do que para o sistema refe- ponentes da resultante das forças agindo sobre o sis-
rencial em relação ao qual se encontra parado. Essa tema são chamadas F x , F y , F z , podemos formular da
proposição, no entanto, requer também que η2 > η2 ,
seguinte maneira os princı́pios que usamos para proces-
pois no último estado o corpo está em repouso no refe- sos reversı́veis e um sistema cujo estado é definido pelas
rencial “linha” e em movimento no referencial “sem variáveis q , V , T :
linha”. Nota-se que essas duas desigualdades estão
em conflito com as duas igualdades estabelecidas. Do
mesmo modo não se pode ter η1 > η1 e, conseqüente-
são válidas, obtemos finalmente, levando em conta (25) Dado que o lado direito dessa equação também tem
e (26), que24 que ser um diferencial total e levando em conta (29),
segue que
T
q 2
= 1 − (27)
T 0 c2
d ∂H d ∂H d ∂H
Portanto, a temperatura de um sistema em movi- = F x = F y = F z
dt ∂ ẋ dt ∂ ẏ dt ∂ ż
mento é sempre menor em relação a um sistema referen-
cial que se move relativamente a ele, do que em relação a
um sistema referencial em repouso em relação ao mesmo
sistema fı́sico.
∂H ∂H
= p = η.
§16. A dinâmica dos sistemas ∂V ∂T
e o princı́pio de mı́nima ação
No seu tratado “Sobre a dinâmica dos corpos em Essas são, no entanto, as equações deriváveis a par-
movimento”, o senhor Planck começa a partir do tir do princı́pio da mı́nima ação, que o senhor Planck
princı́p io de mı́n ima ação (bem como das equações de utilizou como ponto de partida.
24 T 1
Muitos anos depois, Einstein retoma o problema e chega a um resultado diferente: T 0
= (N.T.).
q2
1−
c2
56 Einstein
no argumento seguinte. Se alguém usa o tempo local σ Essa equação é válida acima de tudo se ξ e τ estão
para uma estimativa temporal de processos ocorrendo abaixo de certos limites. É óbvio que é válida para τ
em elementos espaciais individuais de Σ, então as leis arbitrariamente longo se a aceleração γ for constante
obedecidas por esses processos não podem depender em relação a Σ, porque a relação entre σ e τ tem que
da posição desses elementos espaciais, isto é, de suas ser linear. A Eq. (30) não é válida para ξ arbitrari-
coordenadas, se não apenas os relógios, mas também amente grande. Do fato de que a escolha da origem
as réguas usadas nos diversos elementos espaciais são das coordenadas não deve afetar a relação, temos que
idênticos. concluir que, estritamente falando, a Eq. (30) deve ser
Em vista disso, não devemos nos referir simples- substituı́da por
mente ao tempo σ como o “tempo” de Σ, porque de
acordo como a definição dada acima, dois eventos pon- γξ
§19. O efeito de campos gravitacionais sobre relógios que substituir t’ pelo tempo local σ. No entanto, não
podemos simplesmente definir
Se um relógio mostrando o tempo local está locali-
zado em um ponto P com potencial gravitacional Φ, ∂ ∂
então, de acordo com (30a) sua leitura será (1+ Φ )vezes = ,
c 2 ∂t
∂σ
Φ
maior do que o tempo τ , isto é, ele corre (1 + c )vezes 2
porque um ponto que está em repouso relativo a Σ
mais rápido do que um relógio idêntico localizado na
muda sua velocidade relativa a S ’ durante o intervalo
origem das coordenadas. Imagine um observador lo-
de tempo dt’ = d σ e a essa mudança corresponde mu-
calizado em algum lugar do espaço que percebe as in-
danças no tempo das componentes de campo relativas
dicações dos dois relógios de um certo modo, por exem-
a Σ. Temos, então, de acordo com (7a) e (7b)
plo, opticamente. O tempo ∆τ que passa entre o ins-
tante em que o relógio indica um tempo e o instante
em que essa indicação é percebida pelo observador é ∂X ∂X
∂L ∂L
= =
independente de τ . Assim, para um observador situ- ∂t
∂σ ∂t ∂σ
= + N = − Z
corre (1+ cΦ )vezes mais rápido que o relógio na origem
2 ∂t
∂σ c ∂t
∂σ c
do sistema de coordenadas. Nesse sentido poderı́amos ∂Z
∂Z γ ∂N ∂N γ
1 ∂N γ
+ Y = −
∂X ∂ Y
1
∂X
∂N ∂ M
c ∂σ c ∂η ∂ξ
ρ ux + = − , etc.
c ∂t
∂y
∂z
γξ
e Multiplicamos essas equações por 1 + c2
e defini-
mos para fins de abreviação
1 ∂L
∂Y ∂Z
= − , etc.
c ∂t
∂z ∂y
∗
γ ξ
De acordo com isso, podemos imediatamente igualar X = X 1 +
c2
as grandezas ρ’, u’, X ’, L’, x’, etc., relativas à S ’,
às correspondentes grandezas ρ, u, X , L, etc., relati- ∗
γ ξ
Y = Y 1 + 2 , etc.
vas a Σ; se nos limitarmos a um perı́odo infinitesimal- c
mente curto29 , que está infinitesimalmente perto ao ins-
ρ ∗
γξ
= ρ 1+ 2 .
tante do repouso relativo de S ’ e Σ. Além disso, temos c
27
Enquanto assumirmo s que a Eq. (31) também é válida para campos gravitacionais não homo gêneos.
28
Trata-se da primeira predição de Einstein do que foi chamado depois de desvio para o vermelho gravitacional de linhas espectrais
(N.T.).
29
Essa restrição não afeta o intervalo de validade dos nossos resultados, porque as leis a serem derivadas não podem depender do
tempo inerentemente.
Sobre o princı́pio da relatividade e suas implicaç˜
oes 59
Desprezando então termos quadráticos em γ , obte- Disso segue que os raios de luz que não se propagam
mos as equações ao longo do eixo ξ são defletidos pelo campo gravita-
cional. Pode ser facilmente verificado que a mudança
na direção é de cγ senϕ por cm de trajetória da luz, na
1 ∂X ∗
∂N ∗
∂ M ∗ 2
ρ uξ +∗
= − qual φ representa o ângulo entre a direção da gravidade
c ∂σ ∂η ∂ζ e a do raio de luz.
1
ρ uη +∗
∂Y ∗
=
∂L ∗
−
∂N
∗
1 ∂N ∗
∂X ∂Y
∗ ∗ que não há previsões para comparar essa teoria com a
= − . experiência.
c ∂σ ∂η ∂ξ
Se multiplicarmos sucessivamente as Eqs. (31a) e
∗ ∗
Na página 462 os subscritos nas grandezas uξ e uς [7] A. Einstein, Ann. d. Phys. 18, 639 (1905).
devem ser adicionados. Além disso, aproximadamente [8] A. Einstein, Ann. d. Phys. 23, 371 (1907).
no meio dessa página um erro de sinal precisa ser cor- [9] M. Planck, Sitzungsber. d. Kgl. Preuss. Akad. d. Wis-
rigido: a equação deve ser: sensch. XXIX, 1907.
γ ξ
[10] Kurd von Mosengeil, Ann. d. Phys. 22, 867 (1907).
ησ = ητ 1 − 2 . [11] J. Stark, Ann. d. Phys 21, 401 (1906).
c
[12] M. Laue, Ann. d. Phys 23, 989 (1907).
Uma carta do senhor Planck induziu-me a acrescen-
¨
[13] W. Kaufmann, “ Uber die Konstitution des Elektrons”
tar o seguinte comentário suplementar com o propósito
(Sobre a constituição do elétron). Ann. d. Phys. 19
de evitar mal entendidos, que poderiam facilmente
(1906).
ocorrer:
Na seção “princı́pio da relatividade e gravitação” [14] M. Planck, Verhandl. d. Deutschen Phys. Ges. VIII,
no. 20 (1906); IX, no 14 (1907).
um sistema referencial em repouso em um campo gra-
vitacional homogêneo, temporariamente constante, é [15] M. Abraham, G¨
ottt. Nachr. 1902.
tratado como fisicamente equivalente a um sistema refe- [16] A.H. Bucherer, Math. Einf¨ urung in die Elektronen-
rencial sem gravitação e uniformemente acelerado. O theorie (Introdução Matemática à Teoria do Elétron),
conceito “uniformemente acelerado” necessita um es- Leipzig, 1904, p. 58.
clarecimento adicional. [17] J. Precht, Ann. d. Phys. 21, 599 (1906).
30
Publicado no Jahrbuch der Radioaktivität und Elektronik 5, 98-99 (1908)
31
Essas correções já estão incluı́das na tradução (N.T.)
Sobre o princı́pio da relatividade e suas implicaç˜
oes 61
[18] A. Einstein, Ann. d. Phys. 23, §2 (1907). dinâmica de sistemas em movimento). Sitzungsber. d.
kgl. Preuss. Akad. d. Wissensch (1907).
[19] A. Einstein, Ann. d. Phys. 23, 373 (1907).
[21] Esse atigo.
[20] M. Planck, Zur Dynamic bewegter Systeme (Sobre a