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DE NOVO 7 X 1....

Não sou de escrever sobre questões do futebol. Tenho algumas razões para isto. Primeiro, pois
talvez não seja um entendedor tão destacado do esporte em questão, tendo em vista não
acompanhar tão de perto seus detalhes. Segundo, o futebol, na sua forma social vigente, é
muito mais uma questão mercadológica, onde reina a tática do lucro, a garra da vitória a
qualquer custo inclusive em prejuízo da qualidade e da criatividade do jogo. Por fim, o futebol
comporta um aspecto etnocêntrico, viciante e fundamentalista (religioso, mesmo) que nos faz
olhar apenas para o time/seleção que torcemos, como se fosse a única coisa que prestasse, o
único bem, enquanto o resto é imprestável, errado. Como é difícil aplaudir o adversário. Na
verdade, inimigo, como a mídia adora demonstrar, comparando o esporte frequentemente
com um guerra, onde o entusiasta torcedor acaba entendendo que se trata da vitória do bem
contra o mal.

Devo dizer que não sou contra o futebol em si. Trata-se de um jogo interessante, divertido;
não vejo nenhum problema no torcer em si. O problema é a cooptação mercadológica e
midiática em cima do futebol. O problema é que o futebol acaba sendo mais uma forma de
valorizar o capital no capitalismo.

Mas voltemos ao famoso Alemanha 7 x 1 Brasil da copa de 2014. Muitos torcedores fanáticos
já devem estar desistindo de ler este artigo, pois entendem que este assunto já se esgotou,
que é coisa de gente sem patriotismo ficar repetindo essa história. Chega dizem eles, temos
uma nova copa para vencer (e a Alemanha já foi tarde....bem o Brasil também não está mais).
Ainda falando de futebol, quem diria, penso que é fundamental falar do 7 x 1, tendo em vista
que nada foi feito em função da situação que estamos conversando, nem no futebol e muito
menos na política e economia, onde estamos levando de goleada cada vez mais,
especialmente depois do golpe de 2016.

Quais foram as mudanças efetivas que o futebol brasileiro passou depois do jogo do Minerão?
Nenhuma mudança estrutural foi efetivamente implantada. A CBF encontrou uma válvula de
escape, chamada Tite, para escamotear os problemas graves dos clubes e dos campeonatos
pelo Brasil afora. Não houve qualquer debate nacional junto aos torcedores sobre o futebol
que queremos. Mas isto não é exclusividade do futebol. O governo vampiro atual congelou os
investimentos em saúde e educação sem qualquer conversa com a população e o governo
municipal nem se preocupou em debater a questão da reforma do ponto de ônibus central
com a população (será que era mesmo necessário?). Os donos do poder econômico no Brasil
também estão procurando um candidato válvula de escape.

Os gramados brasileiros continuam perdendo seus valores para o futebol estrangeiro, sem
qualquer constrangimento da CBF, que gosta desta lógica entreguista, pois certamente existe
algum alto retorno financeiro nessa história. Bastaria uma regra simples, de proteção de
nossos valores (jogar em campeonatos de âmbito nacional antes de aportar em grandes clubes
estrangeiros) para melhorar a qualidade do esporte nacional. Como também investimento de
qualidade na formação humana e esportiva da garotada, desde as escolas públicas para
incentivar e vincular esporte e educação. O problema é que esta perspectiva entra em
contradição com a privatização do futebol e seus lucros fáceis através das escolinhas
particulares de futebol, onde os empresários do futebol ganham muito com a mercadoria
jogador. O 7 x 1 não para de acontecer também na política entreguista do PSDB e do PMDB,
como é o caso das privatizações realizadas no Estado de SP e na União.
Enfim, acabei falando do futebol. Mas no fundo futebol é política. Temos situações
devidamente comprovadas de jogadores que não foram convocados para a seleção por seu
perfil político: contrário ao governo e destoante da cúpula do futebol brasileiro. Os próprios
jogadores são alienados em manifestações políticas. Por exemplo, os argentinos ficam
brigando entre si sobre a forma de jogo, e não falam nada sobre o jogo fraudulento do
governo Macri (e muito menos apoiam a causa do aborto que envolveu aquele país). Neste
sentido, precisamos refletir sobre o 7 X 1, tanto no futebol, como na política. Aliás, deixo para
outra oportunidade para debater as lições do 7 X 1 na questão política.

Flavio Eduardo Mazetto. flaviomazz@gmail.com

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