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As críticas ao carnaval em nossa cidade.

Instalou-se pelas redes sociais uma gritaria geral contra o pretenso fracasso do
carnaval na cidade de Itapira. A comprovação seria o sucesso de cidades vizinhas, com
suas ruas cheias de foliões em intensa agitação. Informa-se também que no passado (não
se determina exatamente quando) o carnaval desta cidade foi melhor e que o mesmo foi
deteriorado. Alguns chegam mesmo a cravar a sentença no sentido de se copiar a
solução de Águas de Lindóia com seus “maravilhosos” trios elétricos que tanta
animação projetam; ou seja, a solução estaria na adesão daquilo que é exatamente o
responsável pela deterioração que tanto criticam.
Não estou aqui defendendo a política municipal sobre cultura, que precisaria
apontar em outra direção, mas que envolveria a mudança na própria dinâmica política
da administração atual. Posso criticar profundamente a política cultural da
administração passada, pois quando participamos do carnaval com um bloco sofremos
algumas retaliações em vista dos temas que levamos para a avenida. Todavia, entendo
que este não é o enfoque central da questão, esperando também que os críticos via redes
sociais, e suas fotos comparativas, também não estejam simplesmente alentando fatos
para proteger este ou aquele candidato eleitoral.
Na verdade, o carnaval passou por uma mudança efetiva na sua lógica,
transformando-se completamente em um produto vendável, uma mercadoria para
atender à lógica daqueles que podem pagar mais. É estupidamente coerente (com a
lógica do carnaval mercadoria) a lógica das cidades ficarem disputando os clientes para
comprarem seu carnaval. A mídia reproduz uma ideia sobre o carnaval mais animado e
divertido e as administrações municipais tentam, com toda sua verba e planejamento, se
adequar ao carnaval hegemônico que a rede globo e seus patrocinadores pretendem
vender. O carnaval do RJ e SP são produtos elaborados com a intenção de gerar lucros.
O sambódromo é um supermercado para vender corpos programados e cores
diversificadas para clientes ávidos em adrenalina e que desejam baladas em alta
voltagem. Os festejos dos trios elétricos são territórios delimitados pelos preços dos
abadás, onde os cantores “top” fazem de tudo para agradar o cliente. Nada se diga da
“criatividade” das melodias e letras para o carnaval. Músicas com várias “letras” que se
repetem indefinidamente e com prazo de validade juntamente com o fim do carnaval.
Músicas, corpos, cores, gestos, sensualidade: tudo feito para vender, bem ao gosto do
capital e sua fome de acumulação.
Não me acusem de moralismo. Não é isto que estou falando. A questão não é a
nudez, as músicas com segundas intenções ou os gestos repetidos mecanicamente sem
saber a finalidade dos mesmos. O problema é a lógica de tal evento. “Hoje, o desfile das
escolas de samba e dos blocos carnavalescos internacionalizou-se e ganharam um
caráter puramente empresarial. Enfim, na era das privatizações até o carnaval foi
vendido. O festejo popular atual virou um negócio muito lucrativo”.
Assim, não se trata de simplesmente importar o jeito dos trios elétricos para
Itapira. Bem, é lógico que tal solução é bem fácil: basta arrumar uma verba do governo,
os comerciantes ficarão contentes, a população vai pular entusiasmada, mas não
resolveremos o problema do carnaval, pois este não é apenas pular ou desaguar nossa
ânsia de liberdade sem controles e limites. Podemos até ter ruas cheias, mas estaremos
reproduzindo a logica que leva os bicheiros de SP a ficar se estapeando por notas
medíocres para quesitos absurdos.
Retomar o carnaval em Itapira, não é apenas retomar uma questão de nossa
cidade. É um problema cultural e mercantil. Trata-se de pensar efetivamente que modelo
de carnaval queremos. Trata-se de um grande desafio: revolucionar o carnaval no
sentido da pura e simples brincadeira, sem qualquer necessidade de suntuosidade (que é
diferente de beleza), de altos custos (que é diferente de criatividade), sem qualquer
necessidade de astros e estrelas (pois a festa é do anonimato). Eis aqui um caminho para
pensarmos e não sairmos em defesa de um modelo que é uma caricatura monstruosa da
própria necessidade do capital: fazer festa com a exploraçao da classe explorada.

Flavio Eduardo Mazetto (cientista político e professor) flaviomaz@yahoo.com.br

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