Nenhum consumidor gosta de pagar impostos. Na verdade estamos sempre
buscando uma fórmula que nos livre do ônus dos impostos e taxas. E afirmamos categoricamente que eles são muitos e elevados. Quando se trata dos empresários, daí a choradeira é gigantesca e a acusação é de que no Brasil se paga muito imposto, o que onera os custos de produção, impedindo maiores investimentos, restringindo, portanto, o aumento da contratação de mão-de-obra. Esse seria o grande problema responsável pelo fraco desempenho econômico, afetando o crescimento dos setores produtivos. A Associação Comercial de São Paulo, numa forma “patriótica” (???) de combater a praga dos altos impostos, criou um mecanismo de acompanhamento das cifras que castigam impiedosamente os trabalhadores brasileiros. Existe um painel na capital paulista que, em tempo real, registra o quanto o governo já abocanhou dos bolsos da população durante o ano. Neste momento (junho/10) a cifra já ultrapassou a casa dos R$ 560 bilhões. Existe também um portal na internet com diversas informações complementares, que na verdade nos ajudam a entender um pouco melhor toda esta preocupação com impostos. Cada habitante já pagou mais de R$ 2.800,00 neste ano. De acordo com a Associação daria para construir mais de 26 milhões de casas populares (de 40m2 – nossa será que os empresários são adeptos de casinhas tão simples assim!!!), mais de 44 milhões de salas de aula equipadas ou então mais de 6 milhões de km de rede de esgoto, entre outras possibilidades. Essa campanha da Associação Comercial, recorrentemente apresentada na mídia como um escândalo do governo contra os contribuintes, deixa de lado, propositalmente, a questão principal no tocante aos impostos. Se formos tratar apenas de números poderíamos sacar aqui outros dados que relativizariam o tal estrangulamento contributivo que atormenta os brasileiros. Existem 20 países no mundo com porcentagem de impostos mais descabidos do que no Brasil. Entre estes a maioria são países conhecidos como ricos, desenvolvidos. A arrecadação por pessoa no Brasil é apenas a 49ª no mundo. Todavia, ainda não estamos no cerne do problema. A campanha dos empresários escamoteia informações fundamentais. Primeiro: a maior parte dos impostos no Brasil é indireta, ou seja, quem paga essa conta são os trabalhadores, as classes mais baixas. Os tributos incidem na sua maior parte sobre a folha de salários e sobre bens e serviços. No fundo, o consumidor final é quem paga a conta. Os impostos sobre a propriedade representam percentuais muito pequenos, como também as transações financeiras são tributadas de forma bastante reduzida. Segundo: o Estado arrecada porque precisa se financiar. Uma arrecadação alta, a principio, não seria um grande problema. A Dinamarca, por exemplo, que tem uma carga tributária muito maior que no Brasil, mas investe quase cinco vezes mais em educação. Neste sentido, a questão é mudar as coisas em duas direções. 1) tributar o capital, a propriedade, o faturamento, ou seja, redirecionar a fonte de arrecadação, atingindo os donos dos meios de produção e o lucro, possibilitando, inclusive, aumentar a arrecadação; 2) alterar o destino dos impostos, deixando de utilizar dinheiro público para favorecer o mercado financeiro, não construindo estradas para as concessionárias com dinheiro do BNDES, retirando subsídios do agronegócio, cancelando a emissão de títulos da dívida pública para socorrer o capital em seus momentos de crise, tornando possível construir as casas populares, fazer saneamento básico, dar condições reais para os alunos estudarem e outras possibilidades reais. Na verdade a carga tributária é uma expressão da luta de classes na disputa pelo dinheiro público. Isto aprofundaremos em outro artigo. Flavio Eduardo Mazetto – flaviomaz@yahoo.com.br