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Nenhuma disciplina pode prescindir de desenvolver o foco na oralidade e na produção textual.

São duas perspectivas que devem caminhar juntas e que definem a própria identidade da
educação, entendendo este foco da maneira mais ampla possível tendo em vista privilegiar o
processo de comunicação, capacitando o indivíduo a entender sua existência na sociedade,
inclusive levando-o a questionar e criticar papeis sociais e mesmo a lógica do mercado de
trabalho. Neste sentido, penso que a educação nunca deve estar subsumida ao mercado de
trabalho como foco fundamental. Não estamos aprendendo para ser uma peça da
engrenagem social, especialmente no capitalismo, o que me leva a discordar do trecho do
material de estudo na página 09. Como apresenta o mesmo material, quando cita Paulo Freire,
a educação é um processo de leitura do mundo, que deve ser questionado e transformado.

No que se refere a oralidade, muitas vezes, se apresenta uma certa ditadura do texto em
detrimento da fala, ficando na estratégia de chamada oral, pois a fala dos alunos é vista como
bagunça ou confusão. Vejo que os próprios alunos não estão sendo preparados para esta
importante tarefa, pois nos anos seguintes da escolaridade entendem debate como falação
sem referência ao escutar o outro. Mesmo assim, percebi sequencias didáticas em que os
alunos são convidados a contar suas experiencias em relação a um texto que acabaram de ler.

Nesta mesma sequência, logo depois da fala dos alunos, foi sugerido que os alunos
escolhessem escrever dois gêneros textuais diferentes: uma carta e uma recriação da lenda
para aspectos modernos (estavam trabalhando com mitos gregos). Foi bastante interessante,
pois os alunos podiam escolher e se animaram, até fazendo os dois gêneros. Foi importante a
atividade não ficar apenas numa reescrita do texto ou resumo, pois incentivou a criatividade
dos alunos, além de conhecerem estratégias diferentes para apresentar suas ideias.

Por último, penso que existe ainda um desequilíbrio no que se refere à oralidade e produção
textual. Em alguns momentos até parece existir uma desconfiança da fala, muito em função
das exigências do mercado de trabalho, as quais já apontei acima como problemáticas. Ou
seja, diante dessa autoridade do mercado a educação muitas vezes sucumbe. Todavia, como
pode se constatar em Décio Saes, este é um aspecto que acaba interditando a escola para as
classes populares, tendo em vista que estas fazem muito mais uso da oralidade, quando são
exigidas em exagero na produção textual. Conforme o autor: “Defende que o debate sobre a
escola deveria focar o padrão de ensino: feita para a classe média, a escola não aproveita a
inclinação das crianças pobres às atividades práticas e à linguagem oral e, por isso, incentiva a
evasão escolar”. O autor não sugere que tais classes não devem desenvolver a produção
textual, mas que a escola deveria se adaptar as crianças das classes trabalhadoras que ao
chegarem na educação formal tem mais dificuldades com o aspecto escrito e acabam
abandonando a escola. Trata-se de um aspecto que não pode ser descurado se quisermos
fazer uma escola realmente inclusiva. Com uma escola que equilibre oralidade e produção
textual podemos gerar uma educação muito mais integral e crítica do que temos atualmente.

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