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Compra de votos e VOTO COMPRADO.

Ainda estamos distantes de uma efetiva democracia no processo eleitoral. A história da República comporta
diversos mecanismos que atrapalham uma almejada democracia popular. O “voto de cabresto” foi uma destas
práticas, pois o coronel (geralmente um grande fazendeiro) garantia a eleição de seus preferidos através do abuso de
autoridade, dos capangas e da manipulação do voto. Através da coação violenta se produzia a perpetuação de certo
político por anos no poder. A esta forma de controle se adicionou a conhecida compra de voto, onde o político
inescrupuloso compra o desespero de eleitores através de bens, mercadorias ou simplesmente dinheiro. Continua
valendo o “voto de cabresto”, pois o essencial é manter o “reinado” de certos grupos políticos. Tal instrumento vem
sendo sistematicamente combatido, através de leis e apelos à consciência dos eleitores. Certamente houve algum
avanço, mas não a eliminação deste procedimento nojento para a democracia.

Recentemente, nova prática ganha crescente interesse. Tem uma larga vantagem sobre as outras acima
citadas, pois é inteiramente legal e prevista na legislação eleitoral, que inclusive disciplina seu alcance. É uma nova
forma de “voto de cabresto”, que chamamos de “VOTO COMPRADO”, pois faz relação com a quantidade de recursos
que os candidatos arrecadam para realizar uma campanha mais “turbinada” tendo em vista conquistar mais
eleitores. Apenas muda o capataz: agora o poder econômico para bancar uma campanha.

Sabemos que as atuais eleições são um grande jogo de marketing e que o poder econômico e financeiro dos
candidatos para levar adiante sua campanha tem um peso significativo na possível eleição. Assim, quanto mais
recursos um candidato conquista mais provável sua eleição. Trata-se do VOTO COMPRADO, a relação entre os
recursos arrecadados pelo candidato e os votos obtidos. Quanto mais alto o preço de cada voto, mais forte a relação
de “voto de cabresto” existente.

Falamos muito dos campeões de votos, mas quem seria o campeão quando se fala de voto comprado. Para
nossa surpresa, entre os candidatos a deputado estadual, um conhecido da região demonstra o que é um candidato
“gastão”.

Barros Munhoz é o candidato que mais gastou com a eleição entre os 20 mais votados (ver prestação de
contas no portal do TSE). É também aquele que teve o maior custo por voto, ou seja, trata-se do candidato cujo preço
do voto foi o mais caro. Lembrem-se, estou falando de VOTO COMPRADO e não compra de voto. O mais
estarrecedor, é que Barros Munhoz ganha até dos candidatos a deputado Federal. Entre os 10 mais votados, apenas
Paulinho da Força tem o voto comprado mais caro.

O gráfico abaixo apresenta o total de recursos arrecadados e compara com o total de votos recebidos:
A relação entre votos obtidos (foi o sexto mais votado) e o gasto de campanha é bastante desproporcional.
Barros Munhoz gastou muito mais que seus concorrentes para obter aproximadamente a mesma quantidade de
votos. Isto fica mais claro e perturbador no gráfico a seguir, onde dividimos o total de gastos pela quantidade de
votos recebidos:

O gasto por voto de Munhoz, no caso R$ 7,35, é pelo menos duas vezes mais do que o segundo mais “gastão”
e pelo menos 30 (TRINTA) vezes mais caro do que o custo de R$ 0,24 (o menor entre os 12 mais votados).

Neste sentido, o deputado precisa gastar muito mais que seus concorrentes para ser eleito, devendo fazer
altos investimentos para conseguir efetivamente sua eleição. Não se trata simplesmente de um candidato que pela
sua personalidade ou carisma seja automaticamente reconhecido pela população. Pelo contrário, deve investir
maciçamente na sua imagem para conseguir uma vaga na assembleia legislativa. É claro que não estamos
desconsiderando o voto pragmático do qual Munhoz se beneficia pelo seu estilo de fazer uma política clientelista e
estruturada na ideia de que sem sua ajuda a cidade de Itapira não teria verbas para sustentar os serviços públicos e
as supostas benesses para o povo. Devemos lembrar que Munhoz foi eleito com 47,05% (um número expressivo, é
óbvio) dos votos dos Itapirenses (votos totais e não apenas pela lógica ilógica dos votos válidos). Todavia, 52,95% dos
Itapirenses não comungam com sua forma de fazer política.

Por fim, uma lição matemática e política: como ficaria Munhoz sem toda essa grana? Mantidos os custos por
votos, o “deputado amigo de Itapira” não se sairia tão bem: teria apenas 5.767 votos, considerando o menor valor
gasto entre os 12 mais votados para estadual (42.397/7,35). O resultado seria bastante constrangedor, pois o
deputado nem eleito seria se tivesse um caixa menos qualificado para o VOTO COMPRADO (o mesmo aconteceria se
ele gastasse na média dos 12 primeiros).

Duas conclusões: Barros Munhoz vence as eleições pelo poder do VOTO COMPRADO, um mecanismo
prejudicial para a vida política brasileira (cálculos mostram que todo gasto com as eleições superou duas vezes os
valores gastos com a copa do mundo- de acordo com a revista Congresso em Foco). Para quem trabalha o deputado?
É o que veremos no próximo artigo sobre as relações entre doação de campanha e os interesses sociais que se
explicitam na atividade política dos deputados.

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