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Transversal

Princípios básicos de
geoprocessamento
para seu uso em
saneamento
Guia do profissional em treinamento Nível 2
Promoção Rede de Capacitação e Extensão Tecnológica em Saneamento Ambiental - ReCESA

Realização Núcleo Sudeste de Capacitação e Extensão Tecnológica em Saneamento Ambiental - Nucase

Instituições integrantes do Nucase Universidade Federal de Minas Gerais (líder) | Universidade Federal do Espírito Santo |
Universidade Federal do Rio de Janeiro | Universidade Estadual de Campinas

Financiamento Financiadora de Estudos e Projetos do Ministério da Ciência e Tecnologia | Fundação Nacional de Saúde do Ministério
da Saúde | Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades

Apoio organizacional Programa de Modernização do Setor Saneamento-PMSS

Patrocínio FEAM/Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

Comitê gestor da ReCESA Comitê consultivo da ReCESA


· Ministério das Cidades · Associação Brasileira de Captação e Manejo de Água de Chuva – ABCMAC
· Ministério da Ciência e Tecnologia · Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – ABES
· Ministério do Meio Ambiente · Associação Brasileira de Recursos Hídricos – ABRH
· Ministério da Educação · Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública – ABLP
· Ministério da Integração Nacional · Associação das Empresas de Saneamento Básico Estaduais – AESBE
· Ministério da Saúde · Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento – ASSEMAE
· Banco Nacional de Desenvolvimento · Conselho de Dirigentes dos Centros Federais de Educação Tecnológica – Concefet
Econômico Social (BNDES) · Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia – CONFEA
· Caixa Econômica Federal (CAIXA) · Federação de Órgão para a Assistência Social e Educacional – FASE
· Federação Nacional dos Urbanitários – FNU
· Fórum Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas – Fncbhs
· Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras
– Forproex
· Fórum Nacional Lixo e Cidadania – L&C
· Frente Nacional pelo Saneamento Ambiental – FNSA
· Instituto Brasileiro de Administração Municipal – IBAM
· Organização Pan-Americana de Saúde – OPAS
· Programa Nacional de Conservação de Energia – Procel
· Rede Brasileira de Capacitação em Recursos Hídricos – Cap-Net Brasil

Parceiros do Nucase
· Cedae/RJ - Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro
· Cesan/ES - Companhia Espírito Santense de Saneamento
· Comlurb/RJ - Companhia Municipal de Limpeza Urbana
· Copasa – Companhia de Saneamento de Minas Gerais
· DAEE - Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo
· DLU/Campinas - Departamento de Limpeza Urbana da Prefeitura Municipal de Campinas
· Fundação Rio-Águas
· Incaper/ES - Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural
· IPT/SP - Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo
· PCJ - Consórcio Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí
· SAAE/Itabira - Sistema Autônomo de Água e Esgoto de Itabira – MG
· SABESP - Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
· SANASA/Campinas - Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento S.A.
· SLU/PBH - Serviço de Limpeza Urbana da prefeitura de Belo Horizonte
· Sudecap/PBH - Superintendência de Desenvolvimento da Capital da Prefeitura de Belo Horizonte
· UFOP - Universidade Federal de Ouro Preto
· UFSCar - Universidade Federal de São Carlos
· UNIVALE – Universidade Vale do Rio Doce
Transversal

Princípios básicos de
geoprocessamento
para seu uso em
saneamento
Guia do profissional em treinamento Nível 2
Conselho Editorial Temático SAA
Valter Lúcio de Pádua - UFMG
Edumar Coelho - UFES
Iene Christie Figueiredo - UFRJ
Bernardo Arantes do Nascimento Teixeira - UFSCAR

Conselho Editorial Temático SEE


Carlos Augusto de Lemos Chernicharo -UFMG
Ricardo Franci Gonçalves - UFES
Edson Aparecido Abdul Nour - UNICAMP
Isaac Volschan Júnior - UFRJ

Conselho Editorial Temático Temas Transversais


Léo Heller - UFMG
Emília Wanda Rutkowski - UNICAMP
Sérvio Túlio Alves Cassini - UFES

Profissionais que participaram da elaboração deste guia


Consultores: Brener Henrique Maia Rodrigues (estagiário) | Carla Araújo Simões (conteudista)
Christiny Schuery Amaral (colaboradora) | Douglas Sathler (conteudista) | João Gilberto de
Souza Ribeiro (conteudista) | Izabel Cristina Chiodi de Freitas (validadora)

Créditos
Consultoria pedagógica Cátedra da Unesco de Educação a Distância – FaE/UFMG
Juliane Corrêa | Sara Shirley Belo Lança

Projeto Gráfico e Diagramação Marco Severo | Rachel Barreto | Romero Ronconi

É permitida a reprodução total ou parcial desta publicação, desde que citada a fonte.
Apresentação da ReCESA

A criação do Ministério das Cidades no de estruturação da Rede de Capacitação


Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em e Extensão Tecnológica em Saneamento
2003, permitiu que os imensos desafios urbanos Ambiental – ReCESA constitui importante
passassem a ser encarados como política de iniciativa nesta direção.
Estado. Nesse contexto, a Secretaria Nacional
de Saneamento Ambiental (SNSA) inaugurou A ReCESA tem o propósito de reunir um conjunto
um paradigma que inscreve o saneamento de instituições e entidades com o objetivo de
como política pública, com dimensão urbana coordenar o desenvolvimento de propostas
e ambiental, promotora de desenvolvimento pedagógicas e de material didático, bem como
e da redução das desigualdades sociais. Uma promover ações de intercâmbio e de extensão
concepção de saneamento em que a técnica e tecnológica que levem em consideração as
a tecnologia são colocadas a favor da prestação peculiaridades regionais e as diferentes políticas,
de um serviço público e essencial. técnicas e tecnologias visando capacitar
profissionais para a operação, manutenção
A missão da SNSA ganhou maior relevância e e gestão dos sistemas de saneamento. Para
efetividade com a agenda do saneamento para a estruturação da ReCESA foram formados
o quadriênio 2007-2010, haja vista a decisão Núcleos Regionais e um Comitê Gestor, em nível
do Governo Federal de destinar, dos recursos nacional.
reservados ao Programa de Aceleração do
Crescimento – PAC, 40 bilhões de reais para Por fim, cabe destacar que este projeto ReCESA
investimentos em saneamento. tem sido bastante desafiador para todos nós.
Um grupo, predominantemente formado
Nesse novo cenário, a SNSA conduz ações por profissionais da engenharia, mas, que
em capacitação como um dos instrumentos compreendeu a necessidade de agregar outros
estratégicos para a modificação de paradigmas, olhares e saberes, ainda que para isso tenha sido
o alcance de melhorias de desempenho e necessário “contornar todos os meandros do rio,
da qualidade na prestação dos serviços e a antes de chegar ao seu curso principal”.
integração de políticas setoriais. O projeto Comitê gestor da ReCESA
Nucase Os guias

O Núcleo Sudeste de Capacitação e Extensão A coletânea de materiais didáticos produzidos


Tecnológica em Saneamento Ambiental pelo Nucase é composta de 42 guias que serão
– Nucase tem por objetivo o desenvolvimento utilizados em oficinas de capacitação para
de atividades de capacitação de profissionais profissionais que atuam na área do saneamento.
da área de saneamento, nos quatro estados da São seis guias que versam sobre o manejo de
região sudeste do Brasil. águas pluviais urbanas, doze relacionados aos
sistemas de abastecimento de água, doze sobre
O Nucase é coordenado pela Universidade sistemas de esgotamento sanitário, nove que
Federal de Minas Gerais – UFMG, tendo como contemplam os resíduos sólidos urbanos e três
instituições co-executoras a Universidade terão por objeto temas que perpassam todas
Federal do Espírito Santo – UFES, a Universidade as dimensões do saneamento, denominados
Federal do Rio de Janeiro – UFRJ e a Universidade temas transversais.
Estadual de Campinas – UNICAMP. Atendendo
aos requisitos de abrangência temática e de Dentre as diversas metas estabelecidas pelo
capilaridade regional, as universidades que Nucase, merece destaque a produção dos
integram o Nucase têm como parceiros, em seus Guias dos profissionais em treinamento,
estados, prestadores de serviços de saneamento que servirão de apoio às oficinas de
e entidades específicas do setor. capacitação de operadores em saneamento
Coordenadores institucionais do Nucase que possuem grau de escolaridade variando
do semi-alfabetizado ao terceiro grau. Os
guias têm uma identidade visual e uma
abordagem pedagógica que visa estabelecer
um diálogo e a troca de conhecimentos
entre os profissionais em treinamento e os
instrutores. Para isso, foram tomados cuidados
especiais com a forma de abordagem dos
conteúdos, tipos de linguagem e recursos de
interatividade.
Equipe da central de produção de material didático – CPMD
Apresentação da
área temática:
Temas transversais

A concepção da série sob a denominação de


Temas Transversais partiu do pressuposto que
enxergar a integralidade do saneamento requer
abordar todos os seus componentes de uma
forma conjunta, alterando a lógica de setori-
zação, pois vislumbrar o específico dificulta a
visão do todo.

Os temas que compõem a série foram defi-


nidos por meio de consulta aos serviços de
saneamento, prefeituras, instituições de ensino
e pesquisa e profissionais da área da Região
Sudeste, buscando apreender aqueles mais
relevantes para o desenvolvimento do projeto
NUCASE na região. Os temas abordados nesta
série dedicada aos temas transversais incluem:
Qualificação de gestores; Uso de geoproces-
samento em saneamento; Saneamento básico
integrado às comunidades rurais e populações
tradicionais, Gerenciamento de lodo gerado nas
estações de tratamento de água e de esgotos,
Qualificação de Instrutores e Monitores.

Certamente há muitos outros temas importan-


tes a serem abordados, mas considera-se que
este é um primeiro e importante passo para que
se tenha material didático, produzido no Brasil,
destinado aos profissionais da área de sane-
amento, que raramente têm oportunidade de
receber treinamento e atualização profissional.
Coordenadores da área temática temas transversais
Sumário

Introdução...................................................................................10
Princípios de Cartografia.............................................................12
A representação cartográfica da Terra.................................13
Sistema de coordenadas Geográficas..................................16
Sistemas de projeção..........................................................18
Escala.................................................................................21
Cartografia Temática e Digital............................................ 22
Geoprocessamento e suas aplicações.......................................... 29
Aplicações do geoprocessamento...................................... 33
Os Recursos de Geoprocessamento............................................. 46
Organização da base de dados alfanumérica
e cartográfica.................................................................... 47
Imagens de Satélites e Fotografias Aéreas.......................... 52
Tratamento de dados......................................................... 57
As Três Gerações de Softwares................................................... 67
Exemplos de softwares de geoprocessamento................... 69
Para saber mais.......................................................................... 79
Introdução

Caro profissional,

Você já parou para pensar como o é feito o Propomos, neste guia, demonstrar como o
planejamento do saneamento básico no seu Geoprocessamento poderá ser utilizado por
município? Muitas vezes adotamos medidas você na gestão do saneamento básico e como
que nem sempre são pensadas de maneira essa ferramenta poderá auxiliar no planeja-
integrada à região, restringindo-se à reme- mento desse setor no seu município. O guia
diação do problema. No Brasil, e em muitos contém textos, atividades, figuras e infor-
outros países, a erradicação das carências em mações que serão utilizadas durante toda a
abastecimento de água, a ampliação das ações oficina. Esperamos que ele seja útil a você
para que a população mais pobre não conviva como profissional responsável pela gestão em
mais com esgoto a céu aberto e inundações, e saneamento básico e como cidadão preocu-
tenha acesso aos serviços de coleta e à dispo- pado com a preservação do meio ambiente
sição final adequada de resíduos sólidos são e com a saúde da população.
questões sociais, ambientais e de saúde públi-
ca urgentes. O tema central da nossa oficina é Desejamos-lhes bons estudos, muitas e frutí-
o Geoprocessamento, que pode ser definido feras trocas de experiências e debates que
como um conjunto de conceitos, métodos e lancem luzes ao seu cotidiano de trabalho no
técnicas aplicados na tentativa de resolver um planejamento do saneamento!
determinado problema. Nesses quatro dias,
vamos discutir como essa ferramenta poderá E, para iniciarmos, sugerimos que você faça a
nos auxiliar na gestão do saneamento básico. atividade a seguir, demonstrando seus conhe-
Vamos trocar experiências, esclarecer dúvidas, cimentos prévios sobre o tema deste guia.
relembrar o que já foi esquecido, aprender
coisas novas e conhecer outras pessoas que
fazem trabalhos semelhantes.

Discutiremos os seguintes conceitos-chave:


princípios de cartografia; geoprocessamento
e suas aplicações; os recursos de geoproces-
samento; as três gerações de softwares.

10 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Atividade

Utilizando uma fotografia aérea, desenhe no papel vegetal quais


são os tipos de ocupação existentes na imagem. Crie também uma
legenda com uma simbologia desenvolvida por você. Reflita sobre
os seguintes pontos:

Quais são os principais elementos a serem observados para a gestão


das águas urbanas?
Algum ponto na imagem poderá sofrer inundações no período chuvo-
so? Por que?

Informe mais alguns itens que você considere importante para a


gestão de resíduos (sólidos e líquidos).

Agora que realizamos a atividade inicial e vimos como o contexto geográfico que envolve
um determinado problema pode ser observado, vamos compreender a representação carto-
gráfica e apreender alguns conceitos relevantes da cartografia.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 11


OBJETIVOS: Princípios de Cartografia
- Definir as
noções e os
conceitos sobre a
cartografia.

- Entender os
Para compreendermos e melhor utilizar as ferramentas do geoproces-
principais concei-
samento é necessário introduzir os conceitos básicos de cartografia.
tos relacionados à
representação do Desta maneira, teremos a fundamentação teórica necessária para
planeta. discutirmos não apenas um desenho, mas sim um mapa, com todas as
suas possibilidades funcionais e interpretativas, segundo as exigên-
cias cartográficas necessárias e garantindo, com isso, consistência
nas análises das informações produzidas.

Você já parou para pensar sobre a importância dos mapas no nosso


dia-a-dia? Reflita e tente imaginar como os materiais cartográficos
podem nos ajudar no desenvolvimento de nossas tarefas e mais
especificamente no saneamento. Certamente, o mapa nos auxilia a
melhor compreender o espaço ao nosso redor.

A cartografia é formada por um conjunto de técnicas que se destinam


a representar fatos e fenômenos observados na superfície da Terra
por meio de uma simbologia própria. Pode ser definida, também,
como um conjunto de estudos e operações científicas, artísticas e
técnicas, baseado nos resultados de observações diretas ou de análise
de documentação, com vistas à elaboração, preparação e utilização
de cartas, mapas planos e outras formas de expressão. Por meio da
cartografia quaisquer levantamentos (ambientais, socioeconômicos,
educacionais, de saúde etc) podem ser representados espacialmente,
retratando sua dimensão territorial, facilitando e tornando mais eficaz
sua compreensão. Todo produto cartográfico deve ser útil e válido para
uma determinada aplicação, em um determinado instante do tempo.

A cartografia é a Ciência e Arte que se propõe representar através


de mapas, cartas e outras formas gráficas (computação gráfica) os
diversos ramos do conhecimento do homem sobre a superfície e o
ambiente terrestre. Ciência quando se utiliza do apoio científico da
Astronomia, da Matemática, da Física, da Geodésia, da Estatística e

12 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


de outras ciências para alcançar exatidão satisfatória. Arte, quando recorre às leis estéticas
da simplicidade e da clareza, buscando atingir o ideal artístico da beleza.

Vamos conhecer um pouco sobre a gênese de um mapa e as principais noções de carto-


grafia, e entender a aplicabilidade dessa ferramenta no saneamento. A atividade a seguir
ajudará a compreender como a ferramenta geoprocessamento pode ser muito eficiente na
sistematização de informações no espaço geográfico.

Ao longo da oficina iremos identificar vários usos que o geoprocessamento poderá ter no
âmbito da gestão de resíduos sólidos, no manejo das águas pluviais - drenagem urbana,
coleta, tratamento e distribuição das águas, coleta e tratamento de esgoto. Contudo, Profis-
sional, é necessário que haja um maior envolvimento com os conceitos cartográficos para
que possamos desenvolver um trabalho melhor. Deste modo, o texto a seguir mostrará quais
são as formas que o nosso planeta pode assumir nos estudos cartográficos.

A representação cartográfica da Terra

O formato e as dimensões do nosso planeta são temas que vêm sendo pesquisados ao longo
dos anos em várias partes do mundo. Muitas foram as interpretações e conceitos desenvol-
vidos para definir qual a melhor representação da Terra. Sabe-se hoje, que a Terra tem, na
verdade, uma forma bastante complexa. Entretanto, podemos simplificá-la para fins carto-
gráficos sem que isto cause prejuízos significativos. O Sistema Geodésico Brasileiro (SGB) é
composto pelas redes altimétricas, planimétricas e gravimétricas. A evolução do SGB pode
ser dividida em duas fases distintas: uma anterior e outra posterior ao advento da tecnologia
de observação de satélites artificiais com fins de posicionamento. As formas de interesse
para representação cartográfica estão demonstradas na atividade a seguir.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 13


Relacione a coluna dos conceitos com a coluna das imagens:

Superfície topográfica ou terrestre: é a forma


real da Terra, com todas as irregularidades
(topos e vales) resultantes do movimento das
placas tectônicas, processos erosivos, etc.

Geóide: é uma generalização da forma da


superfície topográfica sendo a figura que
mais se aproxima da verdadeira forma do
planeta, pois traduz bem o globo terrestre. É
um modelo matemático de desenvolvimento
complexo, pois a sua forma exata depende
de características da superfície da Terra.

Elipsóide de revolução: é a forma matemática


usada para as representações cartográficas, a
que confere maior precisão na representação
da Terra. É uma semi-elipse rotacionada em
seu eixo menor em 360º.

Plano: é a forma mais simplificada de todas


servindo apenas para a representação local
até um raio aproximado de 50 km onde ainda
é possível desconsiderar a curvatura da Terra.

Esfera: é uma simplificação do geóide; é usada


em trabalhos que não demandam elevados
níveis de precisão cartográfica.

14 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Você sabia?

No Brasil, a tecnologia de observação por satélite possibilitou, por exemplo, a expansão


do SGB à região amazônica, o que permitiu o mapeamento sistemático daquela área.
Desde 1969, utilizamos o datum SAD 69 para referenciar o nível zero, entretanto está
em discussão a mudança para o SIRGAS 2000.

O datum horizontal ou planimétrico é um sistema de referência padrão adotado por um


país, uma região ou por todo o planeta, em que são referenciadas as posições geográficas
(latitude / longitude ou coordenadas métricas).

Você sabia?

A palavra cartografia tem origem na língua portuguesa, tendo sido registrada pela
primeira vez em 1839 numa correspondência, indicando a idéia de um traçado de mapas
e cartas. Hoje entendemos cartografia como sendo a ciência e arte que permitem a
representação geométrica, plana, simplificada e convencional da totalidade ou de parte
da superfície terrestre, apresentada nos mapas, cartas ou plantas.
Fonte: Atlas Geográfico Escolar IBGE 2002.

Após lermos alguns conceitos sobre a forma do planeta, veremos como a informação no
espaço poderá nos auxiliar a compreender um determinado contexto. Para isso vamos
realizar a seguinte atividade:

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 15


Atividade

Profissional, o mapa abaixo é um recorte do mapa Inundação e


Pavimentação 1998/2000 (IBGE, 2000). Com base nas informações
nele contidas explique a relação entre a porcentagem de ruas pavi-
mentadas e as ocorrências de inundações.

Na realização da atividade anterior, vimos que um mapa contém muitas informações que
podem ser utilizadas para visualizarmos, por exemplo, a relação entre inundações e percentual
de áreas pavimentadas. Na seqüência vamos saber o que são as linhas imaginárias ao redor
da terra. Você sabe por que existem essas linhas? Você conhece os conceitos de coordenada
geográfica, latitute, longitude e de hemisfério? Profissional, vamos saber como tudo isso
está relacionado ao geoprocessamento e ainda como poderá ser utilizado no nosso trabalho
enquanto gestor municipal.

Sistema de coordenadas Geográficas

Para que cada ponto da superfície do planeta possa ser localizado no mapa, foi criado um
sistema de linhas imaginárias chamado de Sistema de Coordenadas Geográficas. A coorde-
nada geográfica de um ponto específico da superfície da Terra é obtida pela interseção de
um meridiano e um paralelo.
Nesse sistema os círculos imaginários chamados de paralelos nos indicam a latitude, que é

16 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


a distância, em graus, de um paralelo à linha do Equador. As latitudes variam de 0º (linha do
Equador) a 90º (pólos), devendo ser indicada a posição no hemisfério Sul (S) ou no hemisfério
Norte (N). Os Meridianos são linhas imaginárias que cortam a terra no sentido Norte – Sul,
ligando um pólo ao outro. O Meridiano Greenwich (0º) é considerado o meridiano de origem
e a sua gradação vai até 180º tanto para Leste (E) quanto para Oeste (W).

Coordenada geográfica: corresponde a um par de


valores angulares medidos sobre um sistema de coor-
denadas esféricas, definindo a posição de um ponto na
superfície terrestre.

Fonte: Mendes e Cirilo (2001)


Você sabia?

A linguagem gráfica é uma das mais antigas e foi a primeira forma de linguagem escri-
ta utilizada pelo homem. Desde cedo, o homem da antiguidade sentiu a necessidade
de se posicionar no espaço para garantir a sobrevivência (onde estão os alimentos, a
água, os inimigos, etc). Informações como essas não podiam ser guardadas apenas na
memória das pessoas, de forma que começou a existir a descrição do espaço físico
por meio de símbolos.

Na próxima atividade veremos alguns exemplos de coordenadas geográficas na superfície


do planeta.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 17


Atividade

No recorte do mapa brasileiro de “Bacias Hidrográficas” (IBGE, 2000),


qual é a coordenada geográfica da cidade de Vitória (ES). Encontre
também as coordenadas geográficas em outros mapas disponibi-
lizados pelos instrutores. Discuta com o grupo qual a importância
de sabermos a localização exata de um dado ponto na superfície do
planeta, discuta também os outros exemplos que nos foram dados.

Profissional, tente exercitar os conceitos e as informações adquiridos nesta atividade. É


importante que haja uma indicação exata dos locais que deverá, por exemplo, receber a
instalação de uma Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) ou ainda onde é preciso realizar
uma ação de drenagem para ajudar a conter os processos erosivos beneficiando toda uma
comunidade. Assim, sempre que você for trabalhar utilizando mapas é importante observar
esses dados, que ajudam a localizar e a resolver uma diversidade de problemas.

Sistemas de projeção

É relativamente fácil representar a superfície “esférica” da Terra em um “globo terrestre” uma


vez que as formas e as proporções entre a superfície real e o globo são conservadas. Mas
para desenhá-la sobre um plano para a confecção de um mapa ocorrem distorções variadas.
Podemos dizer que não existe nenhuma solução perfeita para resolver este problema, e isto
pode ser rapidamente compreendido se tentarmos fazer coincidir a casca de uma laranja

18 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


com a superfície plana de uma mesa. Para fazer o contato total entre as duas superfícies, a
casca de laranja teria que ser deformada. Embora esta seja uma simplificação grosseira do
problema das projeções cartográficas, ela expressa claramente a impossibilidade de uma
projeção livre de deformações.

Para ilustrar as dificuldades descritas anteriormente, vamos realizar a atividade a seguir

Atividade: embrulhando a bola

Em grupo, tente envolver uma bola com um jornal velho nas


formas de um cilindro, de um cone e de um plano. Após isso, o
grupo irá envolver toda a bola com o jornal e relatará o que acon-
teceu e quais as dificuldades foram encontradas.

O sistema de projeção foi criado para representar os pontos da superfície


curva da Terra em uma superfície plana com o mínimo de deformações. As
superfícies de projeção podem ser planas, cilíndricas ou cônicas, e ainda
podem ser secantes ou tangentes à superfície do elipsóide. É importante
lembrar que qualquer projeção de uma superfície curva para uma plana
irá conter deformações, mesmo que resguarde alguma propriedade, seja
na forma, no comprimento ou na área. Por exemplo, um sistema que
conserve a distância, forçosamente deformará as demais (área e forma)
e vice-versa. Portanto, um sistema de projeção atenderá a um objetivo
específico e caberá ao usuário definir e escolher qual a melhor opção.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 19


O ponto de tangência em todas as superfícies de projeção conferirá sempre a menor defor-
mação da representação. À medida que a representação se afaste deste ponto, maiores serão
as deformações. Quando as superfícies de projeção são secantes ao elipsóide, se tem dois
pontos de contato conferindo uma distribuição das deformações e ter-se-á, então, maior
precisão quanto maior for a aproximação dos pontos de tangência.

A Projeção Universal Transversa de Mercator (UTM)

Trata-se da projeção adotada no Mapeamento Sistemático Brasileiro e é um dos mais utilizados no


mundo pela cartografia sistemática internacional. Isto se deve a algumas características, a saber:
∙∙ a superfície de projeção é um cilindro cujo eixo é perpendicular ao eixo polar
terrestre. É uma projeção que mantém os ângulos e as formas das pequenas
áreas;
∙∙ o cilindro de projeção é secante ao elipsóide de revolução, conferindo dois
pontos de contato onde há um menor nível de deformações em uma faixa de
até 6º (faixa máxima em que é permitido desconsiderar a curvatura da Terra).
∙∙ por ser transverso mapeia praticamente todo o globo terrestre com exceção
das calotas polares;
∙∙ o elipsóide é dividido em 60 faixas de 6º onde não há deformações (porções
então consideradas planas e subordinadas ao sistema de coordenadas planas
cartesianas). A vantagem é que é possível trabalhar com coordenadas métricas,
facilitando os cálculos a serem desenvolvidos. A desvantagem é que existem
territórios que abrangem mais de uma faixa. Nesse caso, o usuário pode decidir
trabalhar com mais de uma faixa ou com o sistema de coordenadas geográficas.

Esquema do sistema de coordenadas UTM

20 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Concluída a atividade e desenvolvido o assunto relacionados ao sistema de projeção, vamos
entender a relação entre a superfície real e a cartográfica determinada pela escala.

Escala

Os mapas oferecem uma visão reduzida do território, sendo necessário indicar qual é o
tamanho real da superfície representada no mapa. Essa informação é indicada pela escala
que significa a relação entre a medida de uma porção territorial representada no papel e
sua medida real na superfície terrestre.

As escalas podem ser maiores ou menores conforme a necessidade de se observar um espa-


ço com maior ou menor detalhamento. No planejamento do saneamento de um município,
podemos utilizar um mapa regional (menor escala) para vislumbrarmos as possíveis relações
com os municípios limítrofes; utilizamos também o mapa do próprio município para enten-
dermos a dinâmica municipal (maior escala) e ainda podemos utilizar um mapa de um bairro
específico e a planta de uma estação de tratamento de efluentes que terão escalas ainda
maiores. Assim quanto maior for a escala maior será o nível de detalhamento de um mapa.

As escalas empregadas como referências de um mapa podem ser numéricas ou gráficas.


As escalas gráficas apresentam a vantagem da rápida compreensão, além de acompanhar
qualquer tipo de ampliação ou redução que possam vir a serem feitas em meio digital ou
através de cópias xerográficas do desenho.

Veja o exemplo:
E = 1:5.000 (escala numérica) ou (escala gráfica)

Entre as escalas seguintes, qual pode ser considerada “maior”? E “menor”?


Por que?

(A) 1:100 (B) 1:1.000 (C) 1:250.000

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 21


Como interpretar uma escala?

E = 1: 1.000 significa que o elemento representado é 1000 vezes menor do que o real.

E = 1:1 significa que o elemento está representado em tamanho natural.

E = 1:100 - o elemento é representado 100 vezes menor que o real.

Escalas mais empregadas:


∙∙ 1:100, 1:200, 1:250, 1:500 - Ex.: desenho de edificações, terraplenagem.
∙∙ 1:500, 1:1.000, 1:2.000 - Ex.: desenho de um aterro sanitário, sítio, vila, planta
cadastral urbana.
∙∙ 1:5.000, 1:10.000 - Ex.: planta de cidades de pequeno ou médio porte, redes
de drenagem urbana. Acima disso: planta regional (região metropolitana,
grandes cidades), estadual, do país.

Atividade

Para os cálculos de escalas e distâncias nos mapas, usa-se uma regra


de três (pois é uma relação de proporção) que pode ser simplificada
pelo uso da seguinte fórmula:

D=d/E
Sendo:
D = valor na realidade (em cm);
d = valor medido no desenho (em cm);
E = escala

Ao consultarmos uma carta na escala 1:250.000 verificamos a exis-


tência de um canal medindo 1,2 cm. Qual é o seu tamanho real?

Cartografia Temática e Digital

A cartografia temática está voltada para confecções de mapas a partir de um determinado


tema proposto, contando, atualmente, com os recursos da cartografia digital que foram bem
ampliados nas últimas três décadas.

22 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Distinção entre mapas e cartas

Não existe uma diferença rígida entre os conceitos de mapa e carta. É, portanto, difícil
estabelecer uma separação definitiva entre os significados dessas designações. A palavra
mapa teve origem na Idade Média, quando era empregada exclusivamente para designar
as representações terrestres. Depois do século XIV, os mapas marítimos passaram a ser
denominados cartas, como, por exemplo, as chamadas “cartas de marear” dos Portugueses.
Posteriormente, o uso da palavra carta generalizou-se e passou a designar não só as cartas
marítimas, mas, também, uma série de outras modalidades de representação da superfície
da Terra, causando certa confusão.

Mapa
Definição simplificada: Representação dos aspetos geográficos, naturais ou artificiais da
Terra destinada a fins culturais, ilustrativos ou científicos. (Oliveira, 1980). Representação
gráfica, em geral uma superfície plana e numa determinada escala, com a representa-
ção de acidentes físicos e culturais da superfície da Terra, ou de um planeta ou satélite. As
posições dos acidentes devem ser precisas, de acordo com um sistema de coordenadas.
Serve, igualmente, para denominar parte ou toda uma superfície da esfera celeste. O mapa,
portanto, pode ou não ter caráter científico especializado e é, frequentemente, construído
em escala pequena, cobrindo um território mais ou menos extenso.

Carta
Definição simplificada: Representação precisa da Terra, permitindo as medições de distâncias,
direções e a localização de pontos. Representação dos aspetos naturais e artificiais da Terra,
destinada aos aspectos práticos da atividade humana, principalmente as avaliações precisas das
distâncias, direções e as localizações geográficas de pontos, áreas e detalhes. Representação
plana, geralmente em escalas média ou grande, de uma superfície da Terra, subdividida em folhas,
de forma sistemática, obedecendo a um plano nacional ou internacional. Nome tradicionalmente
empregado na designação do documento cartográfico de âmbito naval. É empregado no Brasil,
também como sinônimo de mapa em muitos casos. Assim, a carta é comumente considerada
como uma representação similar ao mapa, mas de caráter especializado construído com uma
finalidade específica e, geralmente, em escalas média ou grande; De 1:100.000 ou maior.

Resumindo:
∙∙ Carta: predomina até 1990
∙∙ Mapa: usado para diversas situações após o aparecimento da cartografia digital
e dos SIG’s, há indicações de que seja uma tendência atual.
∙∙ Carta: maior rigor científico
∙∙ Mapa: ilustração (Cartografia temática)

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 23


Neste texto, a distinção entre mapa e carta é um tanto convencional e subordinada à idéia da
escala, notando-se, entretanto, certa preferência pelo uso da palavra mapa. Na realidade, o
mapa é apenas uma representação ilustrativa e pode perfeitamente incluir o caso particular da
carta como já acontece com os povos de língua inglesa. Entretanto, entre os engenheiros cartó-
grafos brasileiros observa-se o contrário, isto é, o predomínio do emprego da palavra carta.

Para efeitos deste guia estaremos adotando a designação de “MAPA”, para todos os produtos
que permitam a espacialização do território, em todos os seus aspectos tanto os artificiais
quanto os naturais.

Semiologia Gráfica

Acreditando-se a cartografia como um meio de comunicação para as análises urbanas,


torna-se essencial o coerente tratamento das informações gráficas garantindo a correta
interpretação dos dados. Um mapa deve ser construído, e não apenas desenhado, obser-
vando as propriedades inerentes à percepção visual.

A definição dos objetivos a serem alcançados com o mapa e o público a que ele se destina,
precede a etapa de escolha dos signos e do tratamento gráfico. É com base nessa definição
que são escolhidos a escala e o formato do mapa. Mapas de trabalho (ainda não usados
para apresentação) e sendo a leitura feita por técnicos exigem apresentações diferenciadas
daqueles mapas de apresentação para um público com perfil diversificado. Para a cartografia
de trabalho, muitas vezes, é aconselhável a adoção de representações que são usuais entre
os técnicos uma vez que certos signos e tratamentos gráficos já possuem significados que
fazem parte da linguagem gráfica dos especialistas. Exemplo disso é o Mapa de Declividades,
no qual são representadas diferentes classes de declividade, ordenadas, sendo a variação de
valor a mais adequada. Contudo, é usual entre os técnicos adotar variações de cores frias às
cores quentes. O tratamento gráfico da informação deve basear-se em sistema monossêmico
quando um mapa é destinado a diferentes públicos e quando a cartografia é de apresentação
ou comunicação, o que torna a metodologia da Semiologia Gráfica um importante recurso.

O mapa é um instrumento construído com a linguagem gráfica, usando símbolos carregados


de significados, que devem ser trabalhados de forma a refletir a realidade. A atividade de
mapeamento, entretanto, por mais simples e direta que seja, envolve várias interpretações
da realidade, no que diz respeito à escala, à projeção e simbologia. E essas transformações
ultrapassam a experiência normal ou o horizonte de percepção da maioria dos indivíduos.

A teoria da Semiologia Gráfica pode ser empregada na construção de mapas ou gráficos


para serem “vistos”, e não para serem “lidos”, de forma que a percepção deve ser imediata e

24 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


a apreensão deve ser clara. Buscando respostas a essas duas questões essenciais “navega-
se” através dos diferentes níveis de leitura do documento e são realizadas interpretações
analíticas e sintéticas das informações. Aplicar a metodologia da Semiologia Gráfica é reali-
zar a transcodificação da linguagem escrita para a linguagem gráfica, evitando o “ruído” na
comunicação, buscando signos que realmente representem as características mapeadas.

A tarefa essencial da representação gráfica é a de transcrever as três relações fundamentais


– de diversidade (≠), ordem (O) e proporcionalidade (Q) – entre objetos através das relações
visuais de mesma natureza.

Profissional, as figuras a seguir demonstram os diferentes modos de implantação existentes


de acordo com o nível de organização das variáveis e com o tipo de variável visual.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 25


26 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2
Elementos de Identificação em Mapas Temáticos

Existem alguns elementos de identificação externa imprescindíveis em mapas temáticos. São eles:

∙∙ Título: O mapa temático expõe um tema que deverá ser declarado no título.
O título, além de dizer do que se trata, deve especificar o local e a data do
estudo. Dessa forma, ele deverá responder perguntas como “O que?”, “Onde”
e “Quando”. No mapa ele deve ser inserido na parte superior da folha e com
destaque para rápida visualização ao leitor.

∙∙ Escala: A escala é um elemento indispensável para a composição de qualquer


mapa. É através dela que podemos ter noção das proporções reais das feições
representadas, além de calcular distâncias, áreas, etc. de acordo com as
dimensões verdadeiras. Existem dois tipos de escala: a escala numérica e a
gráfica. A escala numérica é representada por uma expressão numérica da
proporção existente entre as dimensões que estão representadas no desenho
e as dimensões reais. Já a gráfica apresenta em barras o quanto vale cada
centímetro representado no mapa. As duas escalas podem compor um mapa,
podendo ser inseridas na parte inferior. Contudo, é preciso ficar atento a um
detalhe: a escala que não pode faltar em nenhum mapa, principalmente, que
esteja em meio digital, é a gráfica. Isto porque quando transformamos nossos
mapas em figuras para inseri-las em outros documentos, inevitavelmente as
dimensões da folha do mapa original são ajustadas (ampliadas ou reduzidas).
Com isso, o tamanho das feições também é alterado proporcionalmente,
alterando, portanto, a escala original. Para não perder as informações de
escala, a escala gráfica, por ser um “desenho” quando admitida nos mapas,
também sofre as alterações que todo o mapa sofreu e, com isso, as proporções
permanecem da maneira com que foram concebidas. Já para a escala numérica
o mesmo não ocorre. Por tratar-se de um número não há a referência das
dimensões e, por isso, as proporções são perdidas.

∙∙ Orientação: A orientação (norte – sul – leste – oeste) indica as direções do


mapeamento. Normalmente, é indicada pelo símbolo da rosa dos ventos e é colocada
na porção superior do mapa. Além do símbolo, são partes integrantes da orientação
do mapa as coordenadas, sejam elas geográficas (lat/long) ou métricas (UTM). As
coordenadas geográficas devem apresentar especificada a porção dos hemisférios
compreendida pela área do mapa (se norte ou sul – positivo ou negativo; se leste
ou oeste – positivo ou negativo). Elas devem aparecer na parte externa da área do
mapa e devem identificar, no mínimo, quatro pares de coordenadas.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 27


∙∙ Legenda: A legenda traduz as informações simbolizadas no mapa. Ela é de
fundamental importância para a compreensão do mapa pelo leitor. É importante
apresentar as simbologias adotadas por meio de uma hierarquia das formas
geométricas (ponto, linha e polígono). Além disso, existem algumas convenções
adotadas para representar feições admitidas na maioria dos mapas como, por
exemplo, a hidrografia que sempre deve aparecer na cor azul.

∙∙ Fonte: A fonte consiste em informar ao leitor a origem das informações


mapeadas. Dessa forma, todas as bases cartográficas adquiridas ou que foram
usadas como fontes para extrair informações devem ser referenciadas, da
maneira mais completa possível (inclusive com data), no mapa. Essa informação
facilitará pesquisas posteriores e as próprias análises dos mapas gerados.

∙∙ Autor, órgão ou instituição e data de elaboração: Junto à fonte, o autor


responsável, bem como o órgão a que está subordinado e a data de elaboração
do mapa devem ser citados. Todas estas informações devem aparecer na parte
inferior do mapa, normalmente, à direita.

Atividade

Em um mapa fornecido pelos instrutores identifique os seguintes


elementos:
∙∙ Título
∙∙ Escala
∙∙ Orientação
∙∙ Legenda
∙∙ Fonte
∙∙ Autor

Profissional, o objetivo desta unidade foi entender os conceitos clássicos de cartografia.


A Terra apresenta diferentes formas e cada uma delas irá depender de como serão
representadas com o objetivo de facilitar, e muito, a vida de um cartógrafo e de outros
profissionais. Vimos que as características da superfície terrestre podem ser projetadas
sobre um plano (mapa) e quais são as complicações existentes. Além disso, foi possível
discutir a utilização das informações “endereçadas” no mapa com a utilização do sistema
de coordenadas. E por fim, foi possível compreender a relação entre espaço real e plano
de representação, utilizando a escala. Assim, na próxima unidade, discutiremos sobre
a importância do geoprocessamento e como poderemos aplicar essas técnicas para
auxiliar na resolução das principais demandas no saneamento básico.

28 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Geoprocessamento e OBJETIVOS:

- Compreender
suas aplicações as possibilidades
de aplicação do
geoprocessamen-
to nas atividades
de saneamento
Profissional, sabemos das dificuldades no dia-a-dia da gestão urbana
básico em suas
e, principalmente, na gestão do saneamento básico. Este capítulo
quatro dimensões
tem a função de ajudar a compreender o que é Geoprocessamento e principais quais
reforçar a importância estratégica da sua aplicação para tomada de sejam: abasteci-
decisão de uma forma geral. Para tanto vamos procurar compreender mento de água,
também o conceito relacionado à micro-bacia urbana e as manei- esgotamento
ras de utilizar essa unidade de análise no planejamento das nossas sanitário, manejo
atividades nos municípios. de águas pluviais
e resíduos
sólidos;
O geoprocessamento pode ser definido como um conjunto de
tecnologias voltado à coleta e tratamento de informações espaciais - Orientar, a busca
para um objetivo específico. Assim, as atividades que envolvem o por especialistas
geoprocessamento são executadas por sistemas específicos para em diversos
cada aplicação. Esses sistemas são mais comumente tratados temas, de modo
como Sistemas de Informação Geográfica (SIG). a maximizar a
utilização da
tecnologia mais
apropriada.
Atividade: tempestade de ideias

O que é geoprocessamento?
Quais são os elementos que compõem essa ferramenta?
Para que serve o geoprocessamento e qual a sua importância?
No seu trabalho você utiliza o geoprocessamento?

A representação e análise de dados espaciais disponíveis em meio


digital é uma ferramenta que proporciona um novo olhar sobre a
superfície terrestre gerando ganho nos conhecimentos e na produção
de novas informações acerca da realidade a ser estudada.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 29


Assim, o termo Geoprocessamento, que surgiu com o sentido do processamento de
dados georreferenciados, ganhou o significado de implantar um processo que propicie um
progresso, um avanço na grafia ou representação da Terra. Não é somente representar, mas
é associar a esse ato um novo olhar sobre o espaço, um ganho de informação. O vocábulo
“Geoprocessamento” é conhecido, em outras línguas, por “Geomatic”, termo guarda-chuva
que diz respeito a instrumentos e técnicas para a obtenção de dados espaciais, bem como
a teorias relativas à automação aplicada na obtenção de informações espaciais. Existe, em
português, o termo “geomática”, mas que é compreendido como associado somente à etapa
de aquisição e tratamento de dados, e não à análise.

O geoprocessamento, segundo a maioria dos autores da área, engloba processamento


digital de imagens, cartografia digital e os sistemas informativos geográficos (ou
sistemas de informação geográfica, ou mesmo sistema geográfico de informação). A carto-
grafia digital refere-se à automação de projetos, captação, organização e desenho de mapas;
enquanto que o sistema geográfico de informação refere-se à aquisição, armazenamento,
manipulação, análise e apresentação de dados georreferenciados, ou seja, um sistema de
processamento de informação espacial (Moura, 1999).

Por ser uma técnica de caráter multidisciplinar e transversal há uma variedade de usos e apli-
cações, além da integração de diferentes temas e abordagens. Por esta razão, na maioria das
vezes, é um instrumento utilizado em situações estratégicas, posto o interesse cada vez mais
crescente de se conhecer o território e os fenômenos que ali se desenvolvem sob diferentes
aspectos. Dessa forma, o Geoprocessamento auxilia, especialmente, no planejamento e na
gestão por permitir uma visão holística da realidade de forma sistematizada, considerando
as interrelações dos diferentes componentes e entidades que a constitui.

O holismo significa que o homem é um ser indivisível, que não pode ser entendido através
de uma análise separada de suas diferentes partes.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Administra%C3%A7%C3%A3o_Hol%C3%ADstica

O Plano Municipal de Saneamento Básico é um importante instrumento de planejamento e


gestão local integrada, na perspectiva de se superar a forma de abordagem setorial e estanque,
tradicionalmente utilizada para se planejar e implementar ações e serviços de saneamento.
Para isso, é fundamental a compreensão de que esse tipo de plano é, sobretudo, um processo
absolutamente dinâmico que requer a produção, divulgação e atualização sistemáticas de
dados e informações confiáveis. Uma vez incorporado à normalidade institucional de governo,
esse processo é capaz de gerar indicadores e índices setoriais que revelam as condições da
realidade local em termos de salubridade ambiental e de qualidade de vida. Nesse sentido

30 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


a Bacia Hidrográfica é uma importante unidade de análise para ajudar a desenvolver plane-
jamento eficiente e com a ajuda do Geoprocessamento é possível identificar os problemas
e escolher as alternativas para sua solução.

Promover intervenções sem refletir sobre possíveis consequências é negar o uso de ações
planejadas e atestar um conhecimento insatisfatório e superficial da realidade vigente. O
planejamento bem sucedido requer, prioritariamente, uma visão de conjunto com o conhe-
cimento do todo. Assim, o uso das técnicas de geoprocessamento permite obter um melhor
entendimento da integração dos constituintes de uma determinada realidade, além de possi-
bilitar a construção de cenários futuros e a simulação de paisagens antes que as intervenções
se concretizem. É, portanto, a oportunidade de aperfeiçoar e planejar ações uma vez que
se torna possível visualizar as possíveis alterações no território, de maneira mais efetiva,
tendo em vista o conhecimento de causa e consequência, alcançando, com isso, resultados
mais satisfatórios. É dessa forma que o Geoprocessamento vem se destacando como uma
importante ferramenta no auxílio à tomada de decisões.

A Bacia Hidrográfica Virtual é um software desenvolvido pelo NUCASE com o intuito de ilustrar
os diversos problemas e as possíveis soluções referentes ao saneamento. Vamos realizar a
atividade a seguir com essa interessante ferramenta multimídia.

Você sabia?

Bacia hidrográfica é uma área natural cujos

Fonte: www.manage.uff.br
limites são definidos pelos pontos mais altos
do relevo, divisores de água ou espigões dos
montes ou montanhas e que tem função de
reservatório de água e sedimentos. Dentro da
Bacia a água da chuva é drenada superficial-
mente por um curso de água principal até sua
saída, no local mais baixo do relevo, ou seja,
na foz do curso de água.
Vista aérea de uma bacia hidrográfica

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 31


O objetivo desta atividade é que você identifique os principais proble-
mas e soluções, relacionados ao saneamento nos três municípios
fictícios tomando como unidade de planejamento a bacia hidrográfica.

Os cenários podem ser visualizados na mídia educativa da Bacia


Hidrográfica Virtual (BHV), onde estão descritos os vários aspectos
relacionados às cidades, inclusive as principais informações sobre
os serviços de saneamento básico existentes. Cada cenário propõe
um roteiro de atividade que o grupo deverá realizar.

Na atividade anterior vimos que a bacia hidrográfica sofre intervenção não só de fatores
físicos, químicos e biológicos, mas, sobretudo, por elementos humanos nas diferentes formas
de atividades, como agricultura, pesca, pecuária, indústria, serviços etc. O planejamento e
gestão do saneamento implicam na necessidade de informações básicas diversificadas que
envolvam a localização espacial, bem como a variabilidade temporal.

Agora, vamos apontar alguns benefícios do Sistema de Informação Geográfica, conforme


estudos de Mendes e Cirilo (2001):
∙∙ a criação de um banco de dados georreferenciado, estabelecendo uma fonte
única que relaciona todos os aspectos ambientais, sociais e econômicos;
∙∙ a facilidade de atualização permanente das informações armazenadas,
executada pelos órgãos competentes, possibilitando ao mesmo tempo o
acesso de interessados a consultas e análises;
∙∙ a possibilidade de manutenção automática da base cartográfica;
∙∙ a flexibilidade para imediata reprodução de plantas cartográficas, cadastrais
e de mapas temáticos para todos os usuários, com igual nível de atualização
e de confiabilidade;
∙∙ a viabilização de entrada de dados em grande quantidade e de naturezas
diversas, formando uma fonte inesgotável de consultas para fundamentar
decisões dos gestores;
∙∙ o processamento rápido e eficiente de todos os dados de origem e características
diversas, uma vez estabelecida a interrelação entre todos os planos de
informações, fundamentais na codificação espacial;
∙∙ a produção imediata de mapas, em qualquer escala e delimitação arbitrada
pelo usuário, de qualquer área de interesse;
∙∙ a identificação da posição geográfica com as respectivas coordenadas de
todas as informações armazenadas;
∙∙ a possibilidade de seleção de cartas temáticas conforme interesse do usuário;

32 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


∙∙ a possibilidade de agregação e desagregação de informações a partir de um
lote, quadra, bairro, setor, zona, bacia ou qualquer área desejada, de forma
imediata e precisa, a partir da estruturação adequada do banco de dados
georreferenciados.

Aplicações do geoprocessamento

Profissional, a análise dos serviços de saneamento poderá ser realizada com o entendimento
dos processos físicos, sociais e econômicos que interagem com o mesmo. Esses processos
serão simulados com base na utilização de modelos, com finalidade de se verificar o cenário
e as estratégias de planejamento e desenvolvimento do setor.

O geoprocessamento é capaz de manejar as funções inseridas no saneamento, em diversas


regiões, de uma forma simples e eficiente, permitindo economia de recursos, de tempo e
mais precisão na tomada de decisões. Esta ferramenta permite agregar dados de diferentes
fontes – imagens de satélite, mapas cadastrais, mapas topográficos, mapas de solos etc –
e diferentes escalas com dados descritivos. O resultado, geralmente, é apresentado sob a
forma de mapas temáticos com as informações desejadas.

Antes de abordarmos a aplicação do geoprocessamento vamos assistir ao vídeo Planeta


Minas Meio Ambiente. Trata-se de uma reportagem da Rede Minas em que acadêmicos e
gestores discutem sobre o saneamento básico. É interessante observar quais os problemas
são apresentados no vídeo e quais as soluções são pensadas no âmbito do planejamento.

Vamos ver ao longo deste tópico alguns exemplos da utilização do geoprocessamento auxi-
liando na tomada de decisões em diversas áreas, com destaque para a área de saneamento.

Mapeamento de riscos e de vulnerabilidades

Vamos fazer a leitura do texto sobre Mapa de Riscos Múltiplos da prefeitura municipal de
Santo André (SP).

Em Santo André, a prefeitura tem atuado em conjunto com a Defesa Civil. A Defesa Civil pode
ser entendida como gestora de riscos urbanos, por meio de ações voltadas para a proteção
da vida em situações adversas. A Política Nacional da Defesa Civil a define como um conjunto
de ações preventivas - assistenciais e reconstrutivas - e de socorros com objetivo de evitar
e/ou minimizar os desastres. Assim, a minimização dos riscos é bastante importante quando
pensamos em salvar vidas. A Defesa Civil não trabalha sozinha. O apoio da comunidade é
fundamental para o sucesso das ações preventivas e emergenciais. Por isso, a Defesa Civil

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 33


coordena, articula e arregimenta a população de modo que ela seja uma grande parceira na
diminuição da probabilidade de ocorrências e, também, na redução das vulnerabilidades e no
fortalecimento da capacidade de ação em períodos de emergências. O objetivo é envolver a
comunidade em suas ações de forma permanente e sistemática, uma vez que a conscientização
da população e sua devida capacitação para emergências são fundamentais ao bem-estar e
segurança da própria comunidade. Nessa perspectiva de prevenção são desenvolvidos vários
planos como os Núcleos de Defesa Civil (NUDECs), Operação Chuvas de Verão, Alarme Solidário
e o Mapa de Riscos, que são ferramentas essenciais no combate aos perigos.

Como as obras e serviços executados para diminuir riscos de enchentes na prefeitura de


Santo André (SP) poderiam estar em um mapa? Tente imaginar como seria essa distribuição
no espaço caso essas obras fossem realizadas no seu município.

∙∙ Construção de novas galerias nas ruas Araci (Curuçá), Adolfo Bastos (Vila
Bastos) e Dominicanos (Jardim Santo André)
∙∙ Manutenção dos piscinões, tanques de retenção e limpeza mecânica do córrego
Guarará
∙∙ Saneamento Integrado do Núcleo Sacadura Cabral
∙∙ Obras contra enchentes na Região Central
∙∙ Obras de galeria e canalização da Avenida Capitão Mário Toledo de Camargo
∙∙ Reservatório de Detenção e Microdrenagem da Vila América
∙∙ Drenagem da Rua Eduardo Ramos
∙∙ Obras de combate a enchentes no bairro Casa Branca
∙∙ Obras de combate a enchentes na Vila Pires
∙∙ Drenagem da Rua Camilo Castelo Branco - Sacadura Cabral
∙∙ Remoção do esgoto lançado no Tanque Bom Pastor
∙∙ Obras de contenção das margens do Rio Tamanduateí - Avenida dos Estados
∙∙ Obras de canalização do Córrego Apiaí - da Rua Baependi até a Rua Amambaí
∙∙ Muro de contenção das margens do Córrego Jundiaí
∙∙ Microdrenagem nas ruas Peru, Silva Teles e Belém - Vila Assunção

Fonte: http://www.semasa.sp.gov.br/

34 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Guia do profissional em treinamento - ReCESA 35
A título de exemplo, a figura a seguir, demonstra o resultado da utilização de técnicas de
geoprocessamento para a avaliação de inundações e de movimentos de massa.

Inundação e Movimentos de Massa (deslizamentos)

Saneamento Básico

Belo Horizonte (MG) realizou um diagnóstico sobre o saneamento básico no município com
base em Índices de Salubridade Ambiental (ISA), que o próprio município desenvolveu. Utili-
zando a ferramenta de geoprocessamento foi possível visualizar em mapas quais seriam as
áreas onde as intervenções deveriam ser primeiramente realizadas.

A partir dos diagnósticos setoriais foi calculado o ISA, e estabeleceu-se uma análise compa-
rativa entre as 98 bacias elementares que compõem o território do Município. Além disso, o
ISA foi calculado, pela primeira vez, para cada uma das 256 sub-bacias de Belo Horizonte.
Os índices setoriais foram definidos para cada tipo de serviço, com pesos diferenciados de
acordo com a maior carência de atendimento ou mesmo com a fragilidade dos indicadores
adotados, e o ISA a partir do somatório ponderado desses índices setoriais.

36 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Na sua construção, tanto os indicadores e índices setoriais, como o próprio ISA assumiram
uma variação teórica de zero a um, sendo que, quanto mais próximo da unidade, melhor é
a realidade do atendimento por determinada ação ou serviço, menor é carência, menores
os riscos sanitários e mais ambientalmente adequada e salubre é a região avaliada.

Atividade

A seguir temos um mapa que mostra a situação da disposição dos resí-


duos sólidos urbanos em Minas Gerais. Faça uma análise comparando os
municípios e quais as regiões do Estado, em geral, têm a disposição mais
adequada. Cada grupo, após a análise, deverá propor uma solução para o
problema explicitando como o uso do geoprocessamento pode auxiliar.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 37


O Plano Diretor de Abastecimento de Água da Região Metropolitana de Belo Horizonte
subdividiu o sistema em 39 Zonas de Abastecimento - ZA’s – para atendimento da evolução
das demandas de produção x consumo.

Em relação à distribuição de água, Belo Horizonte conta com 6.412.535 km (fevereiro de


2006) de rede implantada. Está quase universalizado o abastecimento em Belo Horizonte e a
água distribuída apresenta boa qualidade. As áreas não cobertas pelo serviço se restringem
às áreas de risco, algumas vilas e favelas.

O Plano Municipal de Saneamento de Belo Horizonte (2006) mostra que as demandas impor-
tantes por investimentos no abastecimento de água do Município se referem à:
∙∙ regularização e padronização de ligações prediais em áreas de urbanização
precária, de forma a se eliminar o risco sanitário dos ramais a céu aberto,
muitas vezes mergulhados em valas de esgoto;
∙∙ garantia de um programa permanente de melhorias operacionais e de atualização
tecnológica, destacando-se os aspectos ligados ao controle e à redução de perdas.

A figura a seguir é um recorte do mapa de rede de abastecimento de água de Belo Horizonte.


A cidade foi subdividida em sub-bacias o que facilita as ações a serem implantadas.

38 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Hoje uma das maiores carências de infra-estrutura de saneamento em Belo Horizonte corres-
ponde ao atendimento por coleta e interceptação de esgotos sanitários. O Mapa Diagnóstico
do Sistema de Esgotamento Sanitário retrata a situação de forma bastante clara. Evidencia-se
uma ausência quase que completa de interceptores na região da bacia do Ribeirão Isidoro,
tributário do Ribeirão da Onça, bem como no extremo sul do Município, na região do Barreiro,
merecendo destaque as sub-bacias dos córregos Jatobá, Olaria e Bonsucesso, regiões densa-
mente ocupadas, atendidas por redes coletoras que lançam uma carga poluidora elevada
nesses cursos d’água. Observa-se ainda uma descontinuidade importante no sistema que
impede as várias sub-bacias, já integralmente atendidas por coleta e interceptação, de terem
Estações de Tratamento de Esgotos como destino final de seus efluentes.

Assim como Belo Horizonte, o município de Contagem é também carente dessa infra-estrutura
e, por estar contido parcialmente nas porções de montante das bacias dos ribeirões Arrudas
e Onça, contribui significativamente para a poluição dos cursos d’água da capital. Desta
forma, em função da ausência da coleta, e/ou ausência ou descontinuidade do sistema de
interceptação, grande parte dos córregos do Município, canalizados ou não, encontram-se
poluídos por lançamentos de efluentes de origem industrial e, principalmente, domiciliar.
Existe um grande número de ligações clandestinas e lançamentos de esgoto na rede de
drenagem natural ou construída, alguns desses implantados pela própria companhia de
saneamento - COPASA, apesar de o sistema ser, oficialmente, o sistema separador absoluto.

Montante, em hidráulica, é todo o ponto referencial ou seção de rio compreendidos


entre o observador e a cabeceira de um curso d’água, ou seja, rio acima em relação a
esse observador.

Jusante, em hidráulica, é todo o ponto referencial ou seção de rio compreendidos


entre o observador e a foz de um curso d’água, ou seja, rio abaixo em relação a esse
observador.

Você sabia?

O programa Caça-Esgoto destina-se a identificar e eliminar todos os lançamentos de


esgotos indevidos em redes pluviais e cursos d’água. Este Programa promoverá uma
destinação ambientalmente adequada para os esgotos sanitários e proporcionará uma
melhoria nas condições operacionais das Estações de Tratamento de Esgotos por meio
do alcance de um regime de vazão propício ao funcionamento do sistema de tratamento.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 39


Atividade

Observe o recorte do mapa da rede de esgotamento sanitário de Belo


Horizonte e crie uma legenda com base nas informações gráficas
que compõem a figura.

40 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Saúde Pública – Para as secretarias e outros órgãos responsáveis pela saúde pública, é
fundamental reconhecer e identificar áreas onde há endemias para que estas sejam alvos
diretos de intervenções emergenciais e/ou preventivas. Quando a investigação das causas
dessas doenças se torna objeto de estudo, o geoprocessamento oferece uma série de ferra-
mentas que possibilitam relacionar tais áreas endêmicas com fatores que podem influenciar
a sua ocorrência, como é o caso da incidência de dengue no município de Belo Horizonte,
conforme a figura a seguir.

Incidência de dengue por setor censitário no município de Belo Horizonte


versus ocorrência de deposições clandestinas

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 41


Endemias – Brasil, 2000

42 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Meio Ambiente – São muitas as aplicações para a área de meio ambiente. Para citar algumas
delas, têm-se o monitoramento de regiões passíveis de queimadas e ao desmatamento, como
a Amazônia; a identificação de locais que apresentem propensão à extração de determina-
dos minérios; a localização e delimitação de Áreas de Proteção Ambiental, dentre outras.

Pode-se apontar pelo menos cinco grandes dimensões dos problemas ligados aos Estudos
Ambientais, onde é grande o impacto do uso da tecnologia de Sistemas de Informação
Geográfica: Mapeamento Temático, Diagnóstico Ambiental, Avaliação de Impacto Ambiental,
Ordenamento Territorial e os Prognósticos Ambientais. Nessa visão, os estudos de Mapea-
mento Temático visam caracterizar e entender a organização do espaço como base para o
estabelecimento das ações e estudos futuros. Exemplos seriam levantamentos temáticos
(como geologia, geomorfologia, solos, cobertura vegetal), dos quais o Brasil ainda é bastante
deficiente, especialmente em escalas maiores. Tome-se, por exemplo, o caso da Amazônia,
onde o mais abrangente conjunto de dados temáticos existente é o realizado pelo projeto
RADAM, no qual os dados foram levantados na escala 1: 250.000 e compilados na escala
1:1.000.000 (Medeiros e Câmara, 2009).

Desde 1988, o INPE vem produzindo estimativas anuais das taxas de desflorestamento da
Amazônia Legal. A figura a seguir, permite a realização de uma estimativa dos níveis de
desflorestamento na Amazônia.

imagens/amazonia_reduzida.JPG
Fonte: http://www.inpe.br/noticias/galeria_

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 43


Aplicações diversas – Para se ter uma idéia do leque de aplicações do Geoprocessamento,
a figura a seguir demonstra as áreas de concentração para envios de trabalhos para o XII
Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto. Profissional, observe a diversidade de áreas
com trabalhos apresentados.

44 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Vimos neste capítulo como o Geoprocessamento pode ser útil em diversas áreas do conhe-
cimento. Além disso, aprendemos que os sistemas de informações geográficas aplicados
ao saneamento podem oferecer suporte à gestão do abastecimento de água, esgotamento
sanitário, águas pluviais -drenagem e resíduos sólidos; suporte e planejamento das ações
de intervenção porventura necessárias; possibilidade de composição de informações para o
desenvolvimento de estudos, planos e programas; dados e instrumentos de processamento
capazes de identificar a situação presente e projeção futura sobre o balanço oferta-demanda
por água ao nível de bacias hidrográficas, bem como auxiliando a análise para outras unidades
territoriais. Ainda observamos exemplos de algumas cidades brasileiras onde foi possível
planejar a priorização de recursos com o auxilio do geoprocessamento.

Na próxima unidade vamos procurar entender os recursos do geoprocessamento.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 45


OBJETIVOS: Os Recursos de
- Esclarecer as
etapas básicas Geoprocessamento
constituintes para
o desenvolvimen-
to de projetos
com aplicações
Para usufruir de maneira adequada dos recursos do Geoprocessamen-
do geoprocessa-
to, o desafio é mostrar as possibilidades existentes ressaltando as
mento.
potencialidades e limitações, de modo que o gestor, futuro usuário,
possa ter autonomia e conhecimentos técnicos necessários para ajudar
na tomada de decisões acerca da criação, do desenvolvimento e da
finalização dos estudos em que a componente espacial está inserida.

O geoprocessamento, em termos práticos, é parte de um conjunto


de tecnologias, que, trabalhando integradamente, ajuda a represen-
tar, simular, planejar e gerenciar a superfície terrestre. Neste tópico,
trataremos com maior detalhamento cada recurso que a ferramenta
dispõe e suas respectivas possibilidades de aplicação.

É importante definir os objetivos para o desenvolvimento dos projetos


a serem elaborados. A definição desses objetivos para o uso de ferra-
mentas do geoprocessamento é tão importante quanto para qualquer
outro tipo de estudo. Colocar de maneira clara e objetiva os motivos
que levaram o usuário a optar por aplicar tais técnicas exige, dele
mesmo, esclarecimentos sobre as possíveis aplicações da ferramenta,
bem como suas limitações de uso. Além disso, torna-se imprescindível
o esclarecimento sobre qual produto cartográfico que se almeja obter.

Atividade

Com a ajuda dos instrutores acessar um dos programas de geopro-


cessamento e visualizar algumas das principais ferramentas que
podem ser utilizadas para o planejamento da superfície terrestre.

46 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Você sabia?

A expressão georreferenciamento não pode ser confundida com a de geoprocessa-


mento. São consideradas informações georreferenciadas aquelas que necessariamente
apresentem coordenadas (sejam elas geográficas ou métricas) e um sistema de proje-
ção cartográfica. Estes requisitos garantem a precisão da localização de qualquer
objeto que se queira mapear. Dessa forma, a expressão georeferenciamento pode ser
entendida como o procedimento usado em ambiente informatizado capaz de atribuir
adequadamente a localização geográfica de um dado qualquer. Trata-se de apenas um
dos procedimentos técnicos utilizados em geoprocessamento. O geoprocessamento
engloba, portanto, vários outros recursos sendo um deles o de georreferenciamento.

Organização da base de dados alfanumérica e cartográfica

Organizar a base de dados alfanumérica e cartográfica significa construir e consolidar todos


os dados cartográficos e alfanuméricos (secundários ou não) até então adquiridos. O objetivo
é que, a partir de então, todas as informações levantadas e devidamente tratadas possam ser
representadas espacialmente. Tal representação se fará em diferentes camadas de feições
que irão associar o desenho cartográfico aos seus respectivos atributos.

Atributo: informação alfanumérica contida em uma base de dados diretamente associada


ao arquivo de dados geográficos. São as características descritas do elemento mapeado.

Para entender sobre a organização dos dados, vamos fazer a leitura do texto seguinte que
aborda como o ser humano realiza a modelagem das informações.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 47


Visão Sistêmica
As pessoas modelam todo o tempo, embora que contam com a ajuda de alguns dispositi-
não se pense nisso. A imagem do mundo ao vos adicionais como microscópios, telescópios,
redor de todos, isto é, criada pelos olhos, é um máquinas fotográficas, dispositivos de monitora-
modelo. Definitivamente é mais simples que mento em longo prazo, imagens de satélite etc.
o mundo real, porém representa algumas de
suas características importantes (pelo menos é Deve ser enfatizado que todos os modelos
o que se pensa). O modelo é uma representa- são incompletos, porque sempre são mais
ção ou abstração da realidade. simples que a realidade. Em outras pala-
vras, algumas características do mundo real
O olho humano raramente pode distinguir ob- são ignoradas e/ou simplificadas no modelo.
jetos menores que 1mm. Provavelmente por Apesar das limitações, os modelos são ferra-
essa razão são modelados objetos maiores e mentas essenciais de auxílio ao entendimento
com menos detalhes. Por outro lado, se fosse das interações dos processos físicos em geral
possível ver todos os detalhes a uma distância, e das variáveis do saneamento em particular.
por exemplo, de 5km, o cérebro seria carregado Se o comportamento de um determinado pro-
com uma quantidade de informações enorme. cesso físico é entendido, fica mais fácil predi-
A habilidade do olho para focar em objetos indi- zer seu comportamento quando determinadas
viduais, enquanto a vizinhança sai um pouco do condições são variáveis. Sendo constituído um
foco, provavelmente explica a simplificação de modelo que leva em conta as características
uma imagem que o cérebro esteja analisando. essenciais dos objetos do mundo real, e situ-
ações já ocorridas são reproduzidas a conten-
Na escala temporal, as pessoas também só re- to pelo modelo, simulações de novos eventos
gistram eventos de duração apropriada. Os movi- que possam vir a ocorrer podem ser realizadas,
mentos lentos escapam da capacidade de reso- com possibilidade de que essas simulações
lução. Por exemplo, é difícil ver como uma árvore reproduzam adequadamente as situações do
cresce, tem-se que voltar para o mesmo ponto mundo real.
de observação para ver a mudança. Por outro
lado, não se percebem os fenômenos do mundo Quando o desempenho do mundo real é com-
real se as dinâmicas temporais forem muito rápi- preendido e seu comportamento é predito,
das. No contexto hidrológico, é comum utilizar-se adquire-se informação adicional para controlar
de representações matemáticas (ou físicas) que o sistema. Nesse contexto, os modelos podem
modelam essa dinâmica temporal. ser usados para identificar os componentes
mais sensíveis que influenciam o comporta-
Sempre que houver necessidade de se repre- mento dos sistemas. Modificando esses com-
sentar a realidade, em escala espaço-temporal, ponentes pode-se conduzir o sistema eficaz-
precisa se entender as capacidades humanas mente para um comportamento desejado.

48 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


De qualquer forma, é necessário comparar nado por um estímulo, a precipitação, e através
permanentemente os resultados do modelo de diversos fenômenos do ciclo hidrológico,
com o mundo real. Nesse quadro, a arte na transforma essa precipitação em vazão. Esta
construção de modelos é a escolha do nível transformação depende de diversas caracte-
certo de simplificação que atende às metas de rísticas da bacia, tais como solo, vegetação,
um determinado estudo. topografia, grau de impermeabilização, entre
outros. Os fenômenos que regem o compor-
Exemplificando os conceitos anteriores, tem-se tamento desses sistemas são a infiltração, o
uma bacia hidrográfica que é um sistema acio- escoamento superficial, percolação etc.

O geoprocessamento permite acessar a variabilidade espacial de forma bastante efetiva, mas


existem dificuldades de acompanhamento da dinâmica temporal. A maioria dos modelos
matemáticos utilizados em recursos hídricos considera a variabilidade temporal. Logo, a
união entre as duas ferramentas surge naturalmente.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 49


O objetivo desta atividade é que você perceba a relação da imper-
meabilização do solo na bacia com a vazão do curso de água.

Ao abrir a BHV nível III - Na cidade de TARUIRA clique no link “esco-


amento superficial” e realize o jogo homônimo.

O que você pode perceber a respeito do uso do solo nesta atividade?


Discuta com os outros participantes da oficina.

Na seqüência vamos abordar os mecanismos existentes para coletar os dados e transformá-


los em informação espacial para auxiliar na gestão urbana.

Coleta ou Aquisição de dados primários ou secundários

O levantamento dos dados é uma das etapas mais importantes de geoprocessamento. A


confiabilidade dos dados e a consistência de suas análises estão diretamente relacionadas
à aplicação de procedimentos de aquisição que respeitem condições tecnicamente aceitá-
veis. Dessa forma, uma falha na aquisição ou um erro no dimensionamento da técnica a ser
utilizada pode comprometer todo o trabalho.

Para iniciar qualquer aplicação de geoprocessamento é indispensável a existência de uma


base cartográfica a ser trabalhada. Apesar da grande dificuldade de aquisição de dados
vetoriais (seja pelo alto custo na produção dessa informação, ou até mesmo pelo caráter
estratégico da mesma que impede a sua disseminação para o público externo) alguns dados
já se encontram disponíveis gratuitamente e em diferentes escalas (a maioria com baixo
nível de detalhamento) em sítios de instituições públicas nacionais (como o Ministério do
Meio Ambiente, Agência Nacional das Águas, IBGE, CPRM, EMBRAPA etc.) e estaduais (em
Minas Gerais IGAM, FEAM, GEOMINAS, dentre outros). Nestes sítios, o usuário pode baixar
as informações de interesse e começar a montar a base cartográfica a ser trabalhada.

IBGE http://www.ibge.gov.br/home/
CPRM http://www.cprm.gov.br/
EMBRAPA http://www.embrapa.br/
IGAM http://www.igam.mg.gov.br/
FEAM http://www.feam.br/
GEOMINAS http://www.geominas.mg.gov.br/
ANA http://www.ana.gov.br/
MMA http://www.mma.gov.br/sitio/

50 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Base cartográfica: conjunto de dados geográficos vetoriais e, portanto, passível à mani-
pulação (edição, simbolização, etc).

Caso o usuário não encontre nenhuma informação específica desejada em meio digital,
restam algumas outras opções para obtê-la: por meio da captura de dados via GPS (Global
Positioning System ou Sistema de Posicionamento Global); por meio de recursos de sensoria-
mento remoto a partir de imagens de satélite ou fotografias aéreas; por meio da vetorização
ou digitalização de figuras (fontes secundárias) já publicadas.

GPS (Sistema de Posicionamento Global)

Você sabia?

GPS - Global Positioning System - é um sistema de navegação por satélite criado e


controlado pelo Departamento de Defesa dos EUA (DOD - Department of Defense) para
fins militares, inicialmente. É capaz de determinar a posição do usuário em tempo real
a qualquer instante e em qualquer lugar do mundo. Para isso, basta que o aparelho
receptor capte os sinais emitidos de ao menos 4 satélites que, uma vez codificados e
processados, poderão fornecer posições em 3 dimensões (X,Y,Z) e ainda a faixa de fuso
horário na qual se encontra o receptor, bem como informações de tempo e velocidade.

Esse sistema é constituído por três segmentos: o espacial (no qual se encontram 24 satélites
em órbita com cobertura em todo o globo terrestre); o controle em terra (constituído por uma
rede de estações de monitoramento localizadas por todo o planeta cuja principal função é
atualizar a mensagem de navegação transmitida pelos satélites); e o segmento do usuário,
formado por todos os receptores GPS e a comunidade

Constelação de Satélites na GPS de navegação


órbita da Terra

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 51


O sistema GPS é capaz de fornecer posições geográficas com baixa, média ou alta precisão
de acordo com o instrumental utilizado na coleta e processamento dos sinais, com objetivos
diversos. O GPS de navegação pode conferir precisão de 20 a 30 metros, aproximadamente,
dependendo das condições de trabalho. Já o GPS diferencial, permite que o usuário obte-
nha resultados com precisão de alguns metros ou poucos milímetros, pelo processamento
contínuo de correções dos sinais e, consequentemente, redução substancial da maior parte
dos erros de posicionamento.

Mas lembre-se: a precisão na captura desses dados bem como a escolha dos equipamentos a
serem utilizados deverá estar em sintonia com os objetivos do trabalho inicialmente proposto.

Você sabia?

Os sinais dos satélites dificilmente penetram em vegetação muito densa, vales estrei-
tos, cavernas ou na água. Montanhas altas ou edifícios próximos também afetam sua
precisão. Isto significa que quanto menor for a interferência do ambiente físico, maior
será a qualidade na captação de sinais.

Atividade: prática de GPS

Na área externa vamos manusear um aparelho GPS e procurar visu-


alizar as principais funções desse equipamento.

Imagens de Satélites e Fotografias Aéreas

Outras fontes que possibilitam a extração de dados de interesse são as imagens de saté-
lites ou radar e fotografias aéreas. Por meio do aparato tecnológico que o sensoriamento
remoto dispõe, torna-se possível fotografar ou criar imagens de toda a superfície terrestre
registrando seus componentes constituintes e suas diversas manifestações.

As fotografias aéreas são obtidas a partir de levantamento aerofotogramétrico em que uma


câmera apropriada ou sensores são acoplados às aeronaves que sobrevoam a localidade
de interesse. As fotografias aéreas conferem alta resolução e, uma vez, submetidas aos
tratamentos adequados (como correção de deformações de borda, por exemplo) permitem
a construção de bases cartográficas com elevado nível de detalhamento. Entretanto, a quali-

52 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


dade dos dados adquiridos irá variar de acordo com os tipos de sensores usados e com os
parâmetros de aquisição, tais como altura de vôo, condições atmosféricas, etc.

Levantamento Fotografia aérea (2005/2006)


aerofotogramétrico da região leste do município de
Belo Horizonte.

Já as imagens de satélite são obtidas a partir de satélites que estão em órbita e que trans-
formam a energia refletida pelos alvos na superfície em informações sobre a natureza e/ou
condições desses alvos. A qualidade das imagens também depende das características dos
satélites e das condições atmosféricas no momento da criação da imagem. Satélites de alta
resolução como IKONOS II (4mx4m) obtêm imagens com um maior nível de detalhamento
quando comparados com as imagens CBERS (20m x 20m).

Atividade: vamos comparar!

A partir das características citadas acima, identifique quais os satélites


que originaram as imagens, a seguir:

Satélite:
Fonte: http://www.cabecadecuia.com/imagem/materias

Resolução:
/2eb58bcd12c4407f311ab392aa29c1ec.jpg

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 53


Satélite:

Resolução:

Assim, a partir da interpretação destas imagens torna-se possível construir uma base carto-
gráfica confiável a ser trabalhada. Veja as ilustrações de obtenção de dados a partir de uma
imagem de alta resolução:

dc_inauguration_jan20_2009_dgl.jpg
Fonte: http://www.digitalglobe.com/downloads/featured_images/
Imagem de alta resolução

Vetorização das feições

54 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Modelo digital do terreno.

Mapa de declividade

Você sabia?

Podemos adquirir imagens de vários satélites pela internet gratuitamente. Sitios como
do INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (www.inpe.br) possibilitam que
quaisquer usuários façam download das imagens desejadas.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 55


Fontes secundárias
O usuário pode também lançar mão de outras fontes de dados já publicados e acessíveis ao
público externo. Caso o material esteja em papel (mapa analógico) é necessário capturá-lo
por scanner e disponibilizá-lo em meio digital. Nesse caso, a partir do georreferencia-
mento do mapa “fonte”, é possível digitalizar as feições e armazená-las já como um dado
cartográfico e alfanumérico. As fontes secundárias em geral trazem dados populacionais e
demográficos, informações compiladas por órgãos tais como: IBGE, Organização Mundial
de Saúde, Ministério das Cidades – que podem ser utilizados para fazer os mapas.

Você sabia?

Atenção ao padrão de exatidão cartográfica

O Padrão de Exatidão Cartográfica (PEC) estabelece um limite admissível de erro que um


mapa pode apresentar, segundo o seu padrão. Em planimetria, para mapas de padrão
“A”, ele é definido como 0.2mm na escala do mapa, enquanto que em altimetria ele é
definido como metade do valor da curva de nível. Esse valor é de 0.5mm na escala do
mapa para o padrão “B” e de 0.8mm para o padrão “C”.

Significa dizer que se tivermos que digitalizar uma feição qualquer a partir de um mapa
na escala 1:100.000, para atendermos ao padrão cartográfico do tipo A (0,2 mm), pode-
remos alcançar um erro máximo de até 20 metros, em planimetria. Já em altimetria,
se um mapa apresentar curvas de nível com equidistância de 10 metros, o erro pode
chegar a até 5 metros, e um mapa com curvas de 50 em 50 metros pode apresentar
erro altimétrico de até 25 metros.

Nesse momento, o profissional deverá avaliar se o erro que poderá ter é aceitável para a
sua aplicação ou não. Caso o estudo exija maior detalhamento e, portanto, maior exatidão,
caberá ao profissional utilizar outras bases cartográficas com um maior detalhamento e que
confira menor erro ao mapeamento que será realizado.

56 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Utilizando uma fotografia aérea desenhe em papel vegetal ou algum
outro papel transparente os seguintes itens:
∙∙ Cursos d’água;
∙∙ Vias (férreas, ruas, estradas etc)
∙∙ Áreas degradadas;
∙∙ Zonas florestadas;
∙∙ Cultivo temporário e permanente;
∙∙ E outros elementos que julgar importante.

Crie uma simbologia e não se esqueça de fazer uma legenda, colo-


car escala, o título do seu mapa e outros elementos de pertinência
cartográfica. Posteriormente, vamos saber como é possível realizar
um trabalho parecido, porém com a ajuda do computador.

Tratamento de dados

O tratamento das informações obtidas consiste em submetê-las a alguns procedimentos que


associará ao seu conjunto de atributos a componente espacial. Para isso, o usuário deverá
seguir algumas etapas importantes para trabalhar com a informação de maneira confiável
e de acordo com padrões cartográficos aceitáveis, a saber:
∙∙ 1ª etapa: Georreferenciamento;
∙∙ 2ª etapa: Vetorização (digitalização);
∙∙ 3ª etapa: Edição do banco de dados associado.

O georreferenciamento consiste em atribuir à fonte onde serão extraídos os dados (imagens


de satélites, mapas topográficos escaneados, etc) coordenadas (geográficas ou UTM) para
que seja obtida a sua localização geográfica precisa. Uma vez dispostas adequadamente, o
próximo passo requer extrair dessas fontes as informações pretendidas. Para isso, é preciso
iniciar o processo de vetorização ou digitalização, que nada mais é que desenhar em meio
digital as feições de interesse. Cada tema deverá ser vetorizado em camadas separadas para
organização dos dados e maior capacidade de manuseio das informações posteriormente.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 57


Estruturação das camadas de informação

Plano de informação: conjunto de feições geográficas similares que é organizado por


assunto (ex. solo, vias e rios) e se estende por toda a área geográfica definida por um
mapa. É também conhecido por layers, camada de informação.

As informações separadas em camadas, também denominadas de planos de informação ou


layers (são todos sinônimos) é a maneira mais adequada para organizá-las. A vantagem é
que a composição de mapas é enriquecida pelo número de combinações de informações
que poderão ser feitas.

Vamos Ao Exemplo:
Precisamos digitalizar um mapa topográfico do IBGE para extrair informações como a hidro-
grafia, a topografia, estradas, e vegetação. Para isso, deveremos criar arquivos diferentes
para cada assunto. As cartas topográficas do IBGE são encontradas em bibliotecas públicas,
nas universidades e podem ser adquiridas no sítio do IBGE, www.ibge.gov.br

58 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Guia do profissional em treinamento - ReCESA 59
A distinção dos arquivos por tema vem acompanhada da atribuição da forma geométrica que
os dados receberão. Há três formas geométricas para representar um vetor: ponto (pontual),
linha (linear) e polígono (zonal). Observando o mapa podemos atribuir para o tema hidro-
grafia (representada pelos cursos d’água) e as estradas a forma linear. Já a vegetação pode
ser representada por polígonos.

Com relação à topografia, temos duas feições representantes: as curvas de nível (linear) e
os pontos cotados (pontual). Como representar um mesmo tema com formas geométricas
diferentes? Basta criar arquivos diferentes para cada um deles. Se tivéssemos lagoas ou
represas representadas no mapa (zonais e não lineares como os cursos d’água), deveríamos
proceder da mesma forma, criando arquivos distintos.

E, por fim, a última etapa listada – edição de um banco de dados associado, consiste em atri-
buir aos desenhos cartográficos as suas características. Essas informações, ou características
das feições representadas são denominadas de atributos. Esses atributos são armazenados
em um banco de dados que está diretamente associado ao desenho. Portanto, se quisermos
saber qual o nome dos cursos d’água do nosso exemplo, é só consultar o banco de dados
que teremos a resposta. Ou ainda, se quisermos saber a que altitude determinada sede está
localizada, a informação estará também no banco de dados associado.

Você sabia?

A imensa coleção de dados hoje disponível é, na verdade, um labirinto de informações


que muitas vezes não significa ganho de conhecimento nas análises espaciais. Muitos
sistemas são, na verdade, “bando de dados” e não “banco de dados”.

∙∙ Representação do relevo:
Nas cartas topográficas o relevo é representado pelas curvas de níveis e pontos cota-
dos com altitudes referidas ao nível médio do mar (datum vertical). Portanto, é preciso
esclarecer alguns conceitos relacionados à interpretação das cartas topográficas, a saber:
∙∙ Ponto Cotado: é a projeção ortogonal ou perpendicular de um ponto do terreno
no plano da carta com a indicação da sua altitude.
∙∙ Curvas de Nível: são isolinhas de altitude, ou seja, linhas que representam
todos os pontos do terreno de mesma altitude. As curvas de nível constituem
a forma mais utilizada para representação do relevo nas cartas topográficas.
∙∙ Equidistância: é a separação entre curvas de nível consecutivas.
∙∙ Curvas de Nível Mestra: São as curvas de nível mais grossas e numeradas que ocorrem
de 5 em 5 curvas. A quinta curva é sempre a curva mestra nas cartas topográficas.

60 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


∙∙ Obtendo altitudes
Se o ponto é cotado, basta ler o seu valor; se o ponto coincide com a curva de nível mestra
basta ler a cota da curva; se o ponto coincide com uma curva de nível intermediária, basta
deduzir a cota da curva a partir da equidistância já definida.

∙∙ Obtendo coordenadas UTM


Para encontrar a coordenada E, deve-se identificar o valor da linha vertical da quadrícu-
la UTM nas laterais do mapa (acima ou abaixo). Por exemplo, 650.000 m ou 650 km. Já
a coordenada N corresponde ao valor identificado na linha horizontal da quadrícula (à
esquerda ou à direita). Por exemplo, 7850000m ou 7850km.

∙∙ Obtendo comprimentos de distâncias


Para fazer a medição real da feição de interesse que está representada no mapa, basta
multiplicar o valor da feição no desenho pelo denominador da escala do mapa. Por exemplo,
se tivermos um objeto com 2,8 cm no desenho e a escala do mapa for 1:50.000, temos:
2,8 x 50.000 = 140.000 cm ou 140 km.

Atividade

Obter as informações de altitude, coordenadas UTM, e distância em


mapas topográficos em pontos estabelecidos pelos instrutores.

Representação dos dados


Existem dois tipos de representação de uma feição ou componente em meio digital, utilizados
em Geoprocessamento: a vetorial e a matricial (raster). O formato vetorial é representado por
pontos, linhas ou polígonos, conforme vimos anteriormente, atribuindo uma configuração
bidimensional da feição representada. A eles estão associados seus atributos em um banco
de dados alfanumérico e suas coordenadas (um par para os pontos, pelo menos dois pares
para as linhas e três para os polígonos). Já os formatos matriciais ou rasterizados fazem uso
de células ou pixels em suas representações. As feições mapeadas são identificadas por um
agregado de pixels representativos de pontos, linhas ou polígonos. Para cada pixel existe
um valor atribuído, ou um índice.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 61


Representação vetorial e matricial

Para o vetor, quanto maior for o detalhamento necessário para representar uma feição,
maior será o número de vértices inserido no desenho e maior será o tamanho do arquivo
digital gerado. Contudo, em muitas situações, é possível digitalizar a mesma feição com
um número de vértices menor e respeitando todos os seus traçados constituintes. Esse
é o procedimento de generalização cartográfica aplicado em meio digital que respeita a
geometria e os contornos do desenho sem que haja vértices em excesso, obtendo arquivos
menores com tempo de processamento também menor.

Para o raster, quanto maior for a resolução de uma imagem (melhor definição), menor será o
tamanha das células (pixel) e maior será o arquivo digital gerado (pelo maior número de pixels).

62 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Atividade

Na tabela a seguir, marque “V” para Vetor e “M” para Matriz entre
os parênteses.

Fonte: INPE (noções básicas de Geoprocessamento e Modelagem de dados em SIG)


Características

Resolução ( ) ( )

Boa resolução e não há distorções. Perda de Resolução.

Relações Espaciais ( ) ( )
entre
os objetos Relação topológica entre os obje- Relacionamento espacial deve
tos disponíveis. ser inferido pois não é explícito
(o software não entende que um
conjunto de pixels forma um
polígono, por exemplo).

Armazenamento ( ) ( )
de Atributos e asso-
ciação à um banco Facilita associar atributos a A informação é atribuída a cada
de dados elementos gráficos bem como pixel constituinte da imagem.
armazená-los internamente.

Álgebra de Mapas ( ) ( )

Possibilidade de cruzamento limi- Facilidade no cruzamento pixel a


tada dos planos de informação. pixel com um nível de detalhamento
maior para os resultados.
Representa melhor os fenômenos
com variação contínua no espaço.

Escalas de trabalho ( ) ( )

Adequado tanto a grandes quanto Mais adequado para pequenas


a pequenas escalas. escalas (1:25.000 e menores).

Vantagens e desvantagens da representação vetorial x matricial

Álgebra de Mapas: trata-se do cruzamento dos planos de informações (layer) feito para
obter resultados referentes aos relacionamentos espaciais entre as feições até então
não percebidos em outras formas de representação gráfica.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 63


A escolha pela representação matricial dos planos de informação se dá, normalmente, pela
necessidade de, a posteriori, cruzar as informações e obter resultados com um maior nível
de detalhamento possível, pixel a pixel. Sabendo que para cada pixel está atribuído um
valor associado às especificidades existentes em cada feição, inferimos um maior grau de
detalhamento desse tipo de representação quando comparado com vetor cuja capacidade
de generalização é maior, garantindo assim, resultados mais satisfatórios.

Contudo, resta ao usuário avaliar em cada situação qual o melhor formato a ser trabalhado
reconhecendo as especificidades inerentes a cada um, bem como suas limitações e vantagens.

Você sabia?

Podemos adquirir softwares livres gratuitamente pela internet, como o spring, terra view
(www.inpe.br), saga (http://www.lageop.ufrj.br/saga.php), dinâmica (www.csr.ufmg.br).

Análises Espaciais
As análises espaciais são admitidas a partir dos múltiplos cruzamentos de informações que
podem ser feitos para analisar os diferentes relacionamentos espaciais existentes entre elas,
podendo alcançar resultados dificilmente percebidos sob outras formas de representação
gráfica. Esses relacionamentos podem ser trabalhados nos softwares da terceira geração
(os SIG), conforme já exposto anteriormente. Alguns exemplos dos processos de análise
espacial típicos de um SIG estão sendo apresentados na tabela a seguir:

Análise Pergunta Geral Exemplo


Condição “O que está...” “Qual a população dessa cidade?
Localização “Onde está...?” “Quais as áreas com declividades acima de 20%?”
Tendência “O que mudou?” “Essa terra era produtiva 5 anos atrás?
Roteamento “Por onde ir?” “Qual o melhor caminho para o metrô?”
Padrões “Qual o padrão...?” Qual a distribuição da dengue em Fortaleza?”
“Qual o impacto para as futuras gerações se continuar-
Modelos “O que acontece se...?” mos a viver nesse modelo insustentável, desmatando,
poluindo, desrespeitando os limites da natureza?

Vamos ao clássico exemplo sobre a cólera em Londres que marcou época porque o “geopro-
cessamento” foi feito manualmente:

Tomemos um exemplo concreto para explicitar os conceitos acima sobre análise espacial.
Em 1854, Londres estava sofrendo uma grave epidemia de cólera, doença da qual à época

64 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


não se conhecia a forma de contaminação. Numa situação onde haviam ocorrido mais de
500 mortes, o médico John Snow teve um “estalo”: colocar no mapa da cidade a localização
dos doentes de cólera e dos poços de água (naquele tempo, a fonte principal de água dos
habitantes da cidade). Com a espacialização dos dados, o doutor Snow percebeu que a maio-
ria dos casos estava concentrada em torno do poço da “Broad Street” e ordenou que fosse
lacrado, o que contribuiu e muito para debelar a epidemia. Esse caso forneceu evidência
empírica para a hipótese (depois comprovada) de que a cólera é transmitida por ingestão de
água contaminada. Esta é uma situação típica onde a relação espacial entre os dados muito
dificilmente seria inferida pela simples listagem dos casos de cólera e dos poços. O mapa
do doutor Snow passou para a História como um dos primeiros exemplos que ilustram bem
o poder explicativo da análise espacial.
fonte: http://www.dpi.inpe.br/spring/portugues/tutorial/analise.html

Você sabia?

A cólera é uma doença causada pelo vibrião colérico (Vibrio cholerae), uma bactéria
em forma de vírgula ou bastonete, que se multiplica rapidamente no intestino humano
produzindo uma potente toxina que provoca diarréia intensa. Ela afeta apenas os seres
humanos e a sua transmissão é diretamente por ingestão oral a partir da contaminação
da água por dejetos fecais de doentes.

As relações espaciais entre fenômenos geográficos


Os diferentes fenômenos geográficos, ao se distribuirem sobre a superfície da terra, estabe-
lecem padrões de ocupação. Ao representar tais fenômenos, o Geoprocessamento procura
determinar e esquematizar os mecanismos implícitos e explícitos de interrelação entre eles.
Esses padrões de interrelação podem assumir diferentes formas, a saber:
∙∙ correlação espacial: um fenômeno espacial está relacionado com o entorno de
forma tão mais intensa quanto maior for a proximidade de localização. Diz-se
informalmente que “coisas próximas são parecidas”;
∙∙ correlação temática (de variáveis): as características de uma região geográfica
são moldadas por um conjunto de fatores. Assim, o clima, as formas geológicas,
o relevo, o solo, a vegetação, formam uma totalidade interrelacionada. Deste
modo, é possível traçar pontos de correspondência entre o relevo e o solo e
a vegetação de uma região;
∙∙ correlação temporal: a fisionomia da Terra está em constante transformação,
em ciclos variáveis para cada fenômeno. Cada paisagem ostenta as marcas
de um passado mais ou menos remoto, apagado ou modificado de maneira
desigual, mas sempre presente;

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 65


∙∙ correlação topológica: de particular importância na representação computacional,
as relações topológicas como adjacência, pertinência, interseção etc., permitem
estabelecer os relacionamentos entre os objetos geográficos.

Relações topológicas (topologia): trata-se das relações espaciais baseadas na mate-


mática de conjuntos (pertinência, intersessão, união, vizinhança etc) existente entre as
feições representadas

Nesta unidade , aprendemos que a utilidade do geoprocessamento reside em sua capacidade


de propiciar a elaboração de modelos para o mundo real a partir de bases de dados digitais
simulando o efeito de um processo específico, no tempo, para um determinado cenário. Na
próxima unidade iremos identificar alguns dos principais softwares que podem nos ajudar
na gestão urbana e principalmente no saneamento ambiental.

66 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


As Três Gerações OBJETIVOS:

- Mostrar alguns
de Softwares programas de
geoprocessamen-
to que poderão
ser utilizados para
análise de dados
Todos os procedimentos, até então trabalhados aqui, não são contem-
e informações
plados por todos os softwares disponíveis no mercado. Há distinções
ambientais.
entre as funcionalidades dos programas e cada uma delas deve ser
compreendida para que o usuário faça a melhor escolha dentro dos
propósitos do trabalho que irá desenvolver. Por isso, este tópico tem
como finalidade esclarecer as especificidades de três gerações de
softwares de geoprocessamento, bem como suas potencialidades e
limitações. Portanto, de acordo com a evolução, três grupos serão
descritos e caracterizados para que o usuário consiga ter maior
autonomia na escolha de suas aplicações.

Os recursos de Geoprocessamento se aplicam tanto na organiza-


ção e elaboração de banco de dados cartográficos e alfanuméricos
(Cartografia Digital), como nos recursos básicos de interrelação entre
esses dados (Desktop Mapping), ou mesmo no estudo das relações
topológicas (Sistemas de Informações Geográficas). Tendo em vista a
expressiva gama de softwares hoje disponível no mercado, é impor-
tante conhecermos suas limitações e potencialidades, procurando
classificá-los entre os três grupos aqui mencionados.

A cartografia digital pode ser elaborada com os recursos de um CAD


- Computer Aided Design, apresentando as vantagens do trabalho
em níveis de informação, da construção de mapas em escala real (1:1)
e da precisão que se pode obter da elaboração de mapas e cálculo de
áreas. Avançando um pouco para um geoprocessamento completo,
temos os recursos do “Desktop Mapping”, também conhecido por
“Computer Mapping”, que apresentará a possibilidade de associação
de dados cartográficos e alfanuméricos, assim como a geração de
cartas temáticas básicas resultantes das consultas de informações
no banco de dados. No “topo de linha” estão os SIG’s- Sistemas de
Informações Geográficas, apresentando os recursos existentes nos
CADs, nos Desktop Mappings, e acrescentando a possibilidade de se

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 67


trabalhar com relações topológicas, ou seja, mapeamento de informações espaciais resul-
tantes de relações que vêm da matemática dos conjuntos (interseção, união, vizinhança...).

Apresentando um exemplo bastante simples das possibilidades de trabalho com os recursos


de relações topológicas, temos:
Em um mapeamento são representadas informações sobre uma mancha de
expressiva cobertura vegetal e, além disto, sobre áreas de declividades acima
de 30%. É possível elaborar um mapa temático que resulte da interseção entre
as manchas de cobertura vegetal e de declividades?

Pode-se dizer que sim, pois a maioria dos softwares apresenta recursos de “inteligência
espacial” que irão gerar novos elementos gráficos a partir dos já existentes. É a produção
de uma nova informação, de conhecimento!

Destaca-se, ainda, como principal ferramenta dos SIG’s a existência de modelos de análise
espacial que permitem não somente recuperar informações de um banco de dados, mas,
sobretudo, gerar informações antes não visualizáveis. Os aplicativos de melhores recursos
entre os SIG’s são aqueles abertos à formulação de novos modelos de análise espacial, ou seja
aqueles que atuam como Expert Information Systems – sistemas de informações elaborados
pelo conhecimento especialista, que se destinam a responder questões tais como: what it?
(O que?) – para a construção de predições e cenários. A diferenciação entre um Desktop
Mapping e um SIG está no fato de que o primeiro se destina a responder a duas perguntas
básicas, obtidas da consulta do banco de dados: “Tal característica, onde está localizada?”
ou “Em tal lugar, qual é a característica?“.

O aspecto mais fundamental dos dados tratados em um SIG é a natureza dual da informa-
ção: um dado geográfico possui uma localização geográfica (expressa como coordenadas
em um mapa) e atributos descritivos (que podem ser representados num banco de dados
convencional). Outro aspecto muito importante é que os dados geográficos não existem
sozinhos no espaço: tão importante quanto localizá-los é descobrir e representar as relações
entre os diversos dados.

Banco de dados geográfico: repositório de dados geográficos (descritivos e/ou geomé-


tricos) que possa ser acessado através de aplicativos de um Sistema de Informação Ge-
ográfica (SIG).

68 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Numa visão abrangente, pode-se indicar que um SIG tem os seguintes componentes:
∙∙ Interface com usuário;
∙∙ Entrada e integração de dados;
∙∙ Funções de processamento gráfico e de imagens;
∙∙ Visualização e plotagem;
∙∙ Armazenamento e recuperação de dados (organizados sob a forma de um
banco de dados geográficos).

Esses componentes se relacionam de forma hierárquica. No nível mais próximo ao usuá-


rio, a interface homem-máquina define como o sistema é operado e controlado. No nível
intermediário, um SIG deve ter mecanismos de processamento de dados espaciais (entrada,
edição, análise, visualização e saída). No nível mais interno do sistema, um sistema de
gerência de bancos de dados geográficos oferece armazenamento e recuperação dos dados
espaciais e seus atributos.

Contudo, é importante que o usuário saiba em que grupo suas ferramentas de trabalho se
encaixam, assim como fazer a devida escolha ao determinar os recursos que realmente serão
necessários para seu mapeamento, tendo em vista os conceitos de planejamento sustentável.
Dessa forma, aconselha-se:
∙∙ Hoje se trabalha dentro dos conceitos de Planejamento Sustentável, ou seja:
a adequação dos investimentos aos produtos a serem obtidos.
∙∙ O melhor software é aquele que o usuário domina e consegue explorar a
maioria de seus recursos;
∙∙ Ao dimensionar uma compra, o usuário deve ter clareza sobre qual a metodologia
de trabalho e os objetivos no uso do geoprocessamento, para não correr o
risco de supervalorizar os instrumentos em detrimento das ações necessárias;

Destaca-se, portanto, que o principal passo na montagem de um sistema é o desenvolvimento


de uma boa metodologia de organização e manipulação de dados espaciais.

Exemplos de softwares de geoprocessamento

Na seqüência vamos saber informações sobre alguns softwares de geoprocessamento que


poderão ser utilizados por você nas atividades de planejamento em saneamento. Contudo,
lembramos que existem outros softwares que também poderão ser utilizados, neste guia
serão mostrados apenas alguns.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 69


Sistema de Análise Geo-Ambiental - S.A.G.A.

SAGA/UFRJ é um sistema geográfico de informação (SGI), desenvolvido pelo LAGEOP, visando


aplicações ambientais em equipamentos de baixo custo. O módulo de ANÁLISE AMBIENTAL
visa satisfazer uma necessidade atual, principalmente daqueles que lidam rotineiramente
com a área ambiental, qual seja: a possibilidade de analisar dados georreferenciados e
convencionais, fornecendo como resultados mapas e relatórios que irão apoiar o processo
de tomada de decisão.

O módulo de ANÁLISE AMBIENTAL possui três funções básicas: assinatura, monitoria, e


avaliação ambiental. A assinatura é usada para definir as características e a planimetria da
área(s) delimitada(s) pelo usuário.

A monitoria é o acompanhamento da evolução de características e fenômenos ambientais


através da comparação de mapeamentos sucessivos no tempo. Esse processo permite definir
e calcular as áreas alteradas e o destino dado a elas. A avaliação é o processo de superpo-
sição de mapas, através de um esquema de pesos e notas, para a geração de estimativas de
riscos e potenciais, sob forma de um novo mapa. Inumeráveis combinações de dados podem
ser realizadas por esse esquema. O módulo de ANÁLISE AMBIENTAL pode ser considerado
o cerne do sistema SAGA/UFRJ, responsável pela sua extraordinária e versátil capacidade
de ser utilizado nos mais diversos ramos da pesquisa ambiental, tendo sido testado com
sucesso em mais de 50 bases de dados de usuários de todo o Brasil.

IDRISI

O Idrisi é um software para processamento de imagens em formato raster, desenvolvido


pela Graduate School of Geography da Clark University, que reúne ferramentas nas áreas
de processamento de imagens, sensoriamento remoto, sistema de informação geográfica,
geoestatística, apoio a tomada de decisão e análise de imagens geográficas (EASTMAN,2003).
O Idrisi Andes versão 15 contém funcionalidades direcionadas às aplicações em SIG e também
ao processamento de imagens. São mais de 200 módulos que permitem analisar, processar
e visualizar os mais variados tipos de dados.

MapInfo

A principal característica do Mapinfo é sua capacidade de permitir associação entre dados alfa-
numéricos (tabulares) e vetoriais (desenho), e consequente espacialização dos dados de um
projeto, possibilitando, assim, novas análises. É muito utilizado para a geração de mapas temá-
ticos, tornando–se uma poderosa ferramenta de análise e apresentação de dados e resultados.

70 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


O MapInfo permite trabalhar com arquivos provindos da maioria dos softwares de banco de
dados (access, excel, oracle), abrindo-os diretamente. Também é capaz de trabalhar com
arquivos vetoriais provindos de outro software, através da importação desses arquivos ou
de sua conversão para formato MapInfo (*.tab).

O Mapinfo organiza seus dados em forma de tabelas. Cada tabela é um grupo de arquivos
Mapinfo que constitui um mapa ou de banco de dados. Esses arquivos estão associados
uns aos outros de forma que, para a leitura e manipulação do mapa ou banco de dados, é
necessário que todos os arquivos Mapinfo estejam disponíveis. Os arquivos Mapinfo básicos
e suas funções podem ser indicados como:
*.tab: descreve a estrutura da tabela, a organização e formato dos dados tabulares;
*.dat: contém os dados tabulares, o conteúdo de cada tabela. Caso você este-
ja trabalhando com arquivos provindos de outros softwares, sua tabela será
composta pela junção do arquivo *.dat com o arquivo de origem, que pode ser
*.xls, *.dbf, *tif, *.jpg, entre outros.
*.map: descreve objetos gráficos
*.id: arquivo que vincula os objetos gráficos (*.map) aos dados tabulares (*.dat).

Vamos assistir a alguns vídeos que mostram o funcionamento do MapInfo, vá ao sítio abaixo:
http://www.geograph.com.br/site/MapInfo_Professional_videos.asp#

ArcGIS

A última versão do ArcGIS é a 9.3. A ESRI tem uma parcela dominante do mercado de software
de SIG, havendo um uso do seu software por cerca de 77% dos profissionais da área. O lança-
mento do ArcGIS constituiu uma grande mudança nas vendas de software da ESRI, alinhando
todos seus clientes e servidores sob uma única arquitetura de software , desenvolvida usando
a base do Windows e desenhado para armazenar dados no formato geodatabase.

O ArcGIS Desktop foi desenvolvido para combinar o esquema de uso do ArcView 3.x com a
funcionalidade completa disponível nos produtos posteriores da ESRI, como o ArcINFO 7.x. Outra
grande diferença é a linguagem de programação disponível para personalizar ou estender o
software para as necessidades do usuário. Na transição para o ArcGIS, a ESRI aumentou o supor-
te a aplicações específicas de linguagem de script (Arc Macro Language - AML) em favor das
Aplicações Visuais Básicas e acesso aberto aos componentes ArcGIS usando padrões Microsoft.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 71


Alguns pontos positivos do ArcGis:

a. Facilidade de uso: oferece ferramentas de mapeamento, análise e gerenciamento de


dados, utilizadas em todos os níveis da família ArcGIS e facilmente customizadas;

b. E xtremamente funcional: incorpora poderosas ferramentas de edição,


cartografia avançada, administração de dados aprimorada e análises espaciais
sofisticadas;

c. Escalável: desenvolvido em estruturas modernas de componentes orientados


a objetos, permitindo que os softwares que compõem a família ArcGIS,
compartilhem os mesmos aplicativos, interfaces de usuário e conceitos de
operação;

d. Habilitado para a Internet: o ArcGIS pode ser utilizado para a obtenção de


dados geográficos pela Internet ou Intranet;

e. Facilidade de customização: construído sob padrões abertos de mercado, o


ArcGIS é rico em funcionalidades, com extensa documentação e completamente
customizável com as linguagens padrões mais utilizadas pelos profissionais
de informática.

Dentro do pacote ArcGIS, deve-se destacar o ArcMap, com funções variadas. Além de cons-
trução de mapas e análises, ArcMap permite criar e editar dados geográficos, assim como
também dados tabulares. Com o ArcMap, você pode editar em uma interface de usuário
comum. O ArcMap também contêm ferramentas sofisticadas de edição de dados CAD.

MicroStation

O MicroStation é um sistema CAD multiplataforma muito difundido em todo o mundo. Através


de seus modeladores 2D e 3D de alta precisão, pode gerar imagens renderizadas, animações,
interfaces com bancos de dados e utiliza duas linguagens de programação (MDL e UCM) e aplica-
tivos de registro de imagens (georreferenciamento). Além disso, possui aplicativos topográficos,
como o Geoterrain e aplicativos de análises espaciais, a exemplo o MicroStation Geographics.

O MicroStation Básico compreende operações vetoriais com topologias, fazendo desenhos


bidimensionais com precisão, manipulação e edição de elementos. Pode ser usado em diver-
sas áreas, como a arquitetura (para a confecção de plantas e projetos), as engenharias, a
geografia, a geologia, a biologia, entre outras.

72 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


O MicroStation Descartes é indicado para trabalhos relacionados ao manuseio de imagens,
a saber: georreferenciamento, composição de mosaicos, conversão de dados vetoriais em
matriciais e vetorização automática e semi-automática.

O MicroStation Geographics desenvolve funções de SIG integradas à plataforma MicroStation.


Esse sistema possui ferramentas para introduzir, validar, administrar, analisar e visualizar
informações geográficas, permitindo uma variada e extensa combinação de vetores, imagens
e dados tabulares.

O MicroStation possui ainda o aplicativo topográfico Geoterrain que desenvolve modelos


digitais de elevação, através dos quais podem ser feitos cálculos precisos de terraplana-
gem, cortes de taludes e seus respectivos volumes, possibilitando inúmeras aplicações nas
engenharias, por mineradoras, bem como análises geomorfológicas.

Atividade

Estamos quase terminando a oficina. Nesta última atividade vamos


relembrar o mapa que foi desenhado no primeiro dia. Agora, com a
ajuda dos instrutores, vamos fazer o mesmo desenho utilizando um
dos softwares que acabamos de ler sobre eles.

O reencantamento da cartografia
As novas tecnologias de georeferenciamento, experiências, com o conseqüente crescimento
associadas a processos participativos, têm da capacidade de medir altitudes e coordena-
permitido a distintas comunidades se reconhe- das, que os mapas foram tornando-se mais
cerem e a seus territórios, em um processo “objetivos”.
simbólico onde os mapas são também a afir-
mação de sua existência. Considera-se que a fundação da tradição
cartográfica científica ocidental seja derivada
Na história das representações espaciais, os das teorias clássicas gregas a respeito da
mapas começaram, não por acaso, como fic- forma da terra. O pensador greco-egípcio
ção, um meio de se pensar o mundo a partir Claudius Ptolomeu sistematizou, no século II
da crença e dos mitos, e não da geografia. Foi a.c, as bases teóricas para o desen-volvimento
através de um longo processo de observação cartográfico, consubstanciadas nas obras
do mundo, de elaboração de instrumentos e Almagest e Geografia, que também serviram a

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 73


seus contemporâneos romanos na produção A evolução da cartografia ocidental é parte de
de mapas de caminhos e no planejamento de um movimento mais geral de “desencantamento
cidades. do mundo”, conceito weberiano de análise do
processo de modernização que levaria à dife-
Após o colapso do Império Romano, os avan- renciação técnica, à racionalização dos “domí-
ços obtidos anteriormente foram abandona- nios essenciais à vida humana” - direito, religião,
dos e a cartografia passou a ser instrumental ciência, política, economia e arte.
para a Igreja, como comenta John Noble Wil-
ford: “Os mapas produzidos na Europa eram A partir da segunda metade do século XX, os
mais eclesiásticos que cartográficos, mais avanços da aerofotogrametria, e, na década de
simbólicos que realisas. Eles refletiam mais a 1970, das Tecnologias de Informação Espacial
doutrina cristã que os fatos observáveis”. Mui- (TIES) e dos Sistemas de Informação Cartográ-
tas vezes, incluíam a localização do Paraíso, fica (SIGs), seguidos pela popularização do uso
do Jardim do Éden. de aparelhos receptores do Sistema de Posicio-
namento Global (GPS, Global Positioning Sys-
A grande virada “realista”, ou “objetivista”, pare- tem), reforçam essa tendência de “objetivação”
ce ter ocorrido com as demandas surgidas em dos mapas em seus diferentes usos.
função das grandes navegações, quando pas-
sariam a ser essenciais mapas e cartas que As experiências de mapeamento participativo
servissem ao novo empreendimento. no Brasil parecem seguir essa evolução e tra-
balham com perspectivas como delimitação de
Até que ponto o desenvolvimento da cartogra- territórios/territorialidades identitárias; desenvolvi-
fia possibilitou os chamados descobrimentos mento local; planos de manejo em Unidades de
são perguntas que continuam a ser feitas pelos Conservação e fora delas; etnozoneamento em
historiadores. terras indígenas e sua identificação e demarca-
ção; zoneamento em geral; educação ambien-
Parece ser evidente que uma nova era carto- tal; planos diretores urbanos; mapeamento por
gráfica consolidou-se, mais secular e científica, autodeclaração individual; identificação espacia-
ao fim da Idade Média, com a recuperação dos lizada de indicadores e equipamentos sociais; e
escritos de Claudius Ptolomeu e do trabalho de gerenciamento de bacias hidrográficas.
projeção cartográfica para fins de navegação
de Gerardus Mercator. A elaboração de mapas nesses contextos ou
com essas finalidades pressupõe, em larga
Itália e Holanda firmaram-se como países centrais medida, a “racionalização técnico-científica” e a
na elaboração e disseminação de mapas e, a “objetividade”, uma vez que eles são utilizados
partir daí, cada Estado europeu com pretensão pelas agências governamentais responsáveis
colonial fundou sua academia de cartografia. pela implantação de políticas públicas.

74 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


As organizações da sociedade civil, os movimen- eficácia dessa forma de atuação. A FVPP, uma
tos sociais e as comunidades interessadas utili- organização não governamental criada pelo Mo-
zam-se desses mapas para melhor encaminhar vimento de Defesa da Transamazônica e do Xin-
suas demandas e cumprir os requisitos necessá- gu (MDTX), instalou em 2004 um laboratório de
rios à implementação de medidas pelo Estado. Por georreferenciamento em sua sede. Com o labo-
exemplo, para dar início aos procedimentos para a ratório e uma equipe técnica, essa ONG utilizou-
criação de reservas extrativistas ou de desenvolvi- se de práticas de mapeamento participativo em
mento sustentável, é necessário que a população procedimentos de demarcação de Unidades de
tradicional ou sua representação encaminhe ao Conservação, elaboração de Planos de Uso e
Instituto Chico Mendes uma solicitação formal, que de Manejo e Planos Diretores Municipais.
deve incluir a área pretendida. Assim, se essa área
estiver devidamente descrita em um mapa, melhor O principal objetivo da FVPP tem sido o de for-
para o bom andamento dos procedimentos admi- matar as demandas das comunidades em lin-
nistrativos do poder público. guagem cartográfica e com isso fazer com que
obtenham benefícios garantidos pela legislação
No âmbito da reforma agrária, cada projeto de por meio de políticas públicas pró-populações
assentamento deve contar com um Plano de tradicionais.
Desenvolvimento do Assentamento (PDA), a
ser elaborado pelos beneficiários, que pode- Um exemplo é a criação do Mosaico de Unida-
rão contratar, livremente, assessoria técnica. des de Conservação da Terra do Meio (Altami-
O PDA tem como um de seus componentes ra) e da reserva extrativista Verde para Sempre
obrigatórios a “organização espacial, incluindo (Porto de Moz), onde a fundação teve relevante
plano de parcelamento, se for o caso, e a loca- papel utilizando-se de práticas de mapeamento
lização coletiva das habitações”, que servirão participativo. Foi responsável pela construção
para orientar o posterior serviço de medição e dos mapas (localização, caracterização ocupa-
demarcação topográfica. cional, infraestrutura, produção, comercializa-
ção, conflitos existentes, organização local) para
diagnóstico socioeconômico da reserva.
Mapeamento participativo
No que tange à confecção de planos de manejo
Em diferentes políticas públicas, as atividades florestal comunitário no Ibama (Instituto Brasileiro
destacadas anteriormente pressupõem práti- do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais), a
cas de mapeamento participativo em proces- FVPP tem atuado em projetos de assentamento
sos de disputas territoriais. do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Re-
forma Agrária), onde elaborou mapas para duas
A atuação da Fundação Viver, Produzir e Pre- áreas - uma de 600 hectares e outra de 900 hec-
servar (FVPP) de Altamira (PA) é um exemplo da tares -, nos municípios de Pacajá e Anapu.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 75


Já no que se refere aos planos diretores muni- oficinas com contextos de disputas políticas
cipais, “o papel do laboratório foi de construir de afiliação identitária - não somente indígena
informações georreferenciadas sobre cada um - e territorial, capacitam lideranças locais em
desses municípios, tratando de temas como mapeamento e utilização de GPS. Os pesqui-
mapas de solo, altitude, desmatamento, hidro- sadores e as lideranças combinam elementos
via, relevo, evolução da ocupação do território, simbólicos e iconográficos com a moderna
mapeamento da área urbana, entre outros”. tecnologia de informação geográfica e, assim,
produzem os mapas.
Outra forma de mapeamento, os chamados
“automapeamentos”, são também classificados O Projeto Nova Cartografia Social Amazônia
como participativos. Podem ser consideradas (PNCSA) é a mais ampla articulação de experi-
práticas desse a elaboração de mapas nativos ências dessa natureza no Brasil, tendo produzido
ou indígenas, muitos destes decorrentes de re- fascículos com mapas, além de livros e vídeos.
leituras de pinturas ou peças de artes visuais por Seu objetivo geral consiste em “mapear esforços
pesquisadores que consideram sua funcionali- mobilizatórios, descrevendo-os e georreferen-
dade e empregabilidade para as comunidades. ciando-os, com base no que é considerado re-
A maioria desses descreve o firmamento rela- levante pelas próprias comunidades mapeadas.
cionado a uma paisagem terrestre, à história e
litologia de um povo, ou ainda, a seres bestiais Tal trabalho pressupõe o treinamento e a capa-
e uma paisagem específica, situada em locais citação dos membros dessas próprias comu-
identificados e representa-dos simbolicamente. nidades, que constituem os principais respon-
sáveis pela seleção e escolha do que deverá
Os automapeamentos que mais se destacam constar do fascículo e dos mapas produzidos.
se aproximam de “cópias” do conhecimento
espacial oral não cartografado. O chamado As oficinas de mapas realizadas nas próprias
mapa da cidade de Tenochtitlán (1524), onde aldeias e/ou comunidades, consoante uma
a disputa iconográfica entre astecas e espa- composição definida pelos representantes
nhóis é representada, pode ser considerado delas mesmas, delimitam perímetros e con-
um exemplo. Ou, ainda, aqueles que somen- solidam as informações obtidas por meio da
te são elaborados como mapas permanentes observação direta e de diferentes tipos de re-
a partir do trabalho de antropólogos em uma latos, contribuindo para dotar suas reivindica-
situação de contato, de encontro ou conflito ções de uma descrição etnográfica precisa.
entre culturas, em que uma delas domina téc-
nicas cartográficas. As comunidades são os sujeitos dos mapea-
mentos e identificam-se, por exemplo, como
Mapas desse tipo têm sido elaborados no Bra- “Quilombolas da Ilha do Marajó”; “Mulheres
sil por universidades ou ONGs que, a partir de do Arumã do Baixo Rio Negro”; “Ribeirinhos e

76 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Artesãos do Rio Japeri”; “Povos dos Faxinais”, dade envolvida com o mapeamento, em que é
“Cipozeiros de Garuva”. destacado o que merece ser destacado, es-
condido o que não deve ser mostrado.
A identidade acionada, a delimitação de quem
faz parte do grupo e, ainda, sua territorialidade, Lima & Chamo, em uma etnografia sobre o
são muitas vezes objetivadas no processo de mapeamento, explicitam esse processo: o pri-
automapeamento. Trata-se aqui não da aplica- meiro mapa elaborado foi submetido a nume-
ção de uma categoria censitária, populacional rosas consultas junto aos representantes das
ou autoevidente na legislação e em políticas organizações indígenas. Complementações se
públicas (“pobres abaixo da linha de pobreza”, fizeram necessária. Nesse ínterim as visitas à
“populações rurais e urbanas”, dentre outras), sede do PNCSA se amiudaram, bem como fo-
mas de comunidades que buscam se fazer ver ram realizadas novas visitas a aldeias onde as
e se reconhecer em um contexto de disputas informações foram consideradas insuficientes.
simbólicas e também políticas’. Além de acrescentarem informações relevan-
tes, os indígenas escolheram e entregaram à
Nesse projeto, a elaboração de mapas realça o equipe de pesquisa os desenhos, croquis ou
equilíbrio entre a “representação icônica”, como imagens a serem utilizados na simbologia do
um signo que estabelece semelhança (ou ana- mapa. Em razão disso, produziram também os
logia) com o objeto que busca representar, e a ícones para as legendas.
“representação simbólica”, que guarda na arbi-
trariedade a relação com o que representa, com Dessa maneira são mostradas, em um mapa,
a utilização de letras, números ou sinais gráficos. as “formas de violência”, como “ameaça con-
tra liderança”, “lesão corporal”, “tentativa de ho-
A importância da representação icônica reside na micídio”, “homicídio”, “casa queimada”, “dano à
possibilidade de ser uma demons-tração inequí- criação”, “roubo de criação” e “pistolagem”. A lis-
voca das características exclusivas do grupo e de tagem que agrega as “formas de violência” de-
sua representação do ter-ritório. Assim, uma cruz talha o que é vivido como violência pelo grupo,
pode representar um “cemitério” em um mapa ou classifican-do-a e plotando-a no território.
“ameaça de morte” em outro. O desenho de um
boi, um “conflito com o agronegócio” ou apenas As comunidades, a partir do domínio de me-
uma “fazenda”. O significado do ícone é atribuído todologias e tecnologias e do apoio de pes-
pela comunidade e lido pelos outros a partir de quisadores, têm dado visibilidade a si mesmas
seu índice e de suas legendas. e a seus territórios por meio de um processo
simbólico de constituição delas mesmas e dos
O mesmo ocorre com o índice e as legendas mapas que as representam, em um contexto
de cada mapa, que são como um guia de lei- de disputas políticas territoriais. A representa-
tura da realidade local, realizado pela comuni- ção cartográfica resultante é uma leitura parti-

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 77


cular da realidade plotada em um mapa. Nesse política de mapeamentos es-tabelece-se uma
sentido, os “mapas são territórios”, e mais, são disputa entre distintas representações do es-
territórios em disputa em uma verdadeira guer- paço, ou seja, uma disputa cartográfica que
ra simbólica de mapas. articula-se às próprias disputas territoriais”.

Como bem assinalam Acselrad e Coli, “se ação Jornal Le Monde Diplomatique Brasil
Ano 2, Número 23, Junho/2009
Págs. 36 e 37
política diz especificamente respeito à divisão Mapas e Identidades
Artigo de Aurélio Vianna Jr. (Doutor em Antropologia social e,
do mundo social, podemos considerar que na desde 2004, Oficial da Fundaçao Ford no Brasil)

Chegamos ao fim da oficina.

Esperamos que os temas abordados tenham acrescentado informações úteis a você como cida-
dão e como trabalhador. A seguir, estão as bibliografias utilizadas na elaboração deste guia e que
você poderá consultar caso queira aprofundar seus conhecimentos sobre “Geoprocessamento”.

78 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Para Saber Mais...

ANDRADE, LUÍS ANTONIO DE. - Proposta Metodológica para a Confecção de Carta-Imagem


de Satélite. Artigo da Quadricon Com. e Rep. LTDA

BANKER, MUCIO PIRAGIBE RIBEIRO DE. Cartografia Noções Básicas DHN, 1965.

COELHO, ARNALDO GUIDO DE SOUZA, Uso Potencial dos sensores Remotos. Revista Brasileira
de Cartografia. n. 10.

Especificações e Normas Gerais para Levantamentos Geodésicos (Coletânea das Normas


Vigentes), Fundação IBGE - 1996

GARCIA, GILBERTO J. Sensoriamento Remoto, Princípios e Interpretação de Imagens, Ed.


Nobel, 1982.

Manuais Técnicos em Geocîencias no 2 - Manual de Normas, Especificações e procedimentos


Técnicos para a Carta Internacional do Mundo ao Milionésimo, Fundação IBGE, 1993.

Manuais Técnicos em Geocîencias no 3 - Introdução à Interpretação Radargeológica, Funda-


ção IBGE, 1995.

MELLO, MAURO PEREIRA DE, Cadernos de Geociências n. 1, Fundação IBGE, 1988

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