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Tempo

ISSN: 1413-7704
ISSN: 1980-542X
EdUFF - Editora da UFF

Cazetta, Felipe
"Pátria-Nova e Integralismo Lusitano" propostas
autoritárias em contato por meio de revistas luso-brasileiras
Tempo, vol. 24, núm. 1, Janeiro-Abril, 2018, pp. 41-54
EdUFF - Editora da UFF

DOI: 10.1590/TEM-1980-542X2018v240103

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=167055382003

Como citar este artigo


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Artigo
Pátria-Nova e Resumo: Os intelectuais têm laços de sociabilidade
dinâmicos, que por vezes transcendem os limites da
proximidade geográfica. Ao identificarem a partilha de
Integralismo

Artigo
projetos, estabelecem contatos entre si, com o intuito de
estreitar relações ou, ao menos, apresentar os aspectos

Lusitano: comuns entre as correntes de pensamento para fortalecer


vínculos. Assim, este artigo apresenta a consonância de
valores, projetos e códigos por meio de correspondências
propostas estabelecidas entre as revistas Política, de viés conservador
e simpático ao fascismo em Portugal, e o grupo patrianovista,

autoritárias representante do monarquismo orgânico no Brasil.


Palavras-chaves: transnacionalidade; sociabilidade; conserva-
dorismo; intelectuais.
em contato por
meio de revistas Pátria-Nova and Integralismo Lusitano: author-
itarian proposals in contact through Portuguese-
Brazilian magazines
luso-brasileiras Abstract: The intellectuals have dynamic sociability ties,
which sometimes transcend the geographical limits. To
identify the sharing of projects, establish contacts among
Felipe Cazetta [1] themselves in order to strengthen relations or, at least,
present the commonalities between the currents of thought
in order to strengthen ties. Thus, this article presents the
shared values, identities and codes through correspondence
established between reviews Política, conservative, friendly
bias to fascism in Portugal, and the Patrianovista group,
representative of organic monarchism in Brazil.
Keywords: transnationality; sociability; conservatism;
intellectuals.

Artigo recebido em 9 de fevereiro de 2017 e aprovado para publicação


em 17 de maio de 2017.
[1] Departamento de História da Universidade Estadual de Montes Claros –
Montes Claros (MG) – Brasil. E-mail: felipecazetta@yahoo.com.br

DOI: 10.1590/TEM-1980-542X2018v240103

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A situação do conservadorismo monárquico luso-brasileiro nos
primeiros anos do século XX

A
abertura do século XX foi crítica para alguns grupos políticos portugueses e bra-
sileiros que se firmaram na oposição ao liberalismo e à república. A democracia
descontentava esses grupos refratários ao convocar à participação nas esferas de
decisão política elementos supostamente despreparados. Por oferecer a oportunidade da
população, externa aos círculos aristocráticos, de eleger seus representantes, a liberal-de-
mocracia foi entendida como “[…] a mentira democrática que igualava o seu voto de pessoa
honrada e consciente aos de ce voyou qui passe…” (Raposo, 1929b, p. 32).
A rejeição ao liberalismo revestiu projetos de diferentes colorações ideológicas, acolhendo
setores monárquicos radicais em Portugal e no Brasil durante a ascensão da república, ou ante-
rior a esta, com a adoção do constitucionalismo monárquico. De acordo com tais convicções,
o poder era domínio restrito da elite hereditária, imbuída dos mecanismos de funcionamento
e articulação do Estado. Portanto, o lugar da população deveria ser fora das instâncias decisó-
rias institucionais, caso contrário abriria espaço para a corrupção das formas de governar em
vista da quebra da tradição e da organização hereditária sustentada pela monarquia.
Em função da exigência da participação popular, a democracia seria constituída por
vícios irremediáveis, tais como a carência de capacidades para a escolha dos representantes,
segundo simpáticos ao rei corporativista. Em Política, periódico herdeiro do Integralismo
Lusitano (IL), portanto defensor dos projetos de monarquia orgânica, sublinhava: “O poder
da democracia não reconhece a inteligência, a honestidade, o valor pessoal, não procura o
bem da nação nem a felicidade dos indivíduos, só se curva perante o número, é pertença
exclusiva das maiorias ignorantes e brutais” (Pyrrait, 1929, p. 10).
Assim, esboçava-se a rejeição à participação popular, por lhe serem atribuídas qualidades
inferiores, em detrimento da aristocracia, selecionada pela tradição e pela hereditariedade.
Configurava-se, portanto, a adesão ao conservadorismo com o intuito de preservar o sistema
monárquico e combater a democracia e os demais modelos adeptos do constitucionalismo.
Conforme será visto, grupos como o IL – inserido na composição do periódico quinzenal Política
– e a Ação Imperial Patrianovista Brasileira (AIPB) acreditavam que a Constituição significava
a restrição do poder que pertencia ao rei por direito hereditário e com respaldo na tradição.
Coerente a essas bases havia a aversão às agremiações partidárias, que contrariavam os anseios
corporativos presentes nas propostas políticas sustentadas por dividir o país em agremiações
em disputa, conspirando contra a unidade da nação, segundo o discurso desses grupos.
Em mesma via da publicação portuguesa, o periódico Monarquia, vinculado à AIPB, expu-
nha a rejeição aos regimes constitucionais. Eram refratários às repúblicas e às monarquias
constitucionais, de maneira similar aos integralistas lusitanos, em função da possibilidade
da formação de partidos em seu interior, ao disputarem pelos votos o poder que deveria
estar centralizado no rei, segundo os patrianovistas.

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A Monarquia que nascesse do conluio de um partido pretenso “monárquico”,
morreria do conluio de partidos./ Não aceitamos tal monarquia. Se a quisés-
semos, já a teríamos feito há muito tempo./ A verdadeira Monarquia Integral
orgânica terá de nascer das forças vivas da Nação, como reza o nosso Manifesto
de Abril que repisa a nossa atitude de 1928 […], antes de qualquer outro movi-
mento NACIONAL no Brasil depois de 1889. (Monarquia, 1956, p. 3).

Os colaboradores das publicações citadas volveram críticas não apenas ao republica-


nismo, mas a todo o suporte liberal-constitucionalista — abrangendo em seus ataques a
monarquia do pós-1820 em Portugal e os adeptos da restauração da monarquia aos moldes
de d. Pedro II no Brasil. A derrubada da república seria um meio para retirar seus respecti-
vos países da crise, sendo a monarquia orgânica o fim a ser alcançado. Diferenciavam-se dos
outros monarquistas, que buscavam a deposição da república e a restauração do regime
anterior como objetivo último.
Para os integralistas lusitanos e os patrianovistas no Brasil, a substituição da república
por uma monarquia constitucional não traria mudanças, pois ambos apresentavam vícios
em comum, segundo a concepção destes. Os projetos sustentados, portanto, sublinhavam
a necessidade de consolidação da monarquia orgânica como alternativa aos regimes ante-
riores. Desse modo, constata-se a consonância de propostas sustentadas por Política e pelo
movimento Pátria-Nova.

Contatos de monarquistas orgânicos pelas páginas de Política e Monarquia

Política foi lançado em 15 de abril de 1929 e, conforme sugerido pelo subtítulo, foi constituído
pelas juntas escolares do IL. Este movimento, o IL, foi formado na primeira metade dos anos
1910 com proposta de monarquia corporativa, de centralização política e descentralização
administrativa, com fortes influências doutrinárias de Charles Maurras e da Ação Francesa.
A primeira geração do movimento português foi composta por estudantes da Universidade
de Coimbra, posteriormente exilados na Bélgica por ações frustradas contra a recém-im-
plantada república. A experiência do degredo reforçou o contato com a literatura conser-
vadora que circulava na Europa.
Para o IL, as disputas entre monarquia constitucional e república liberal, independen-
temente do grupo vitorioso, conservariam os problemas existentes. Caso a república fosse
substituída pela monarquia constitucional, os atores mudariam, mas o cenário político
permaneceria o mesmo em função de seus divisores comuns: o liberalismo e o constitucio-
nalismo. Tal distinção quanto aos projetos resultou em choques entre os integralistas e as
demais correntes políticas realistas ao longo da I República portuguesa (1910-1926). Portanto,
tinha projeto político definido sobre as bases do corporativismo monárquico, distancian-
do-se das demais propostas de restauração monárquica.

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O movimento, que tinha António Sardinha (1887-1925) como principal expoente, teve
trajetória fragmentada, com dissoluções, deserções e retomadas. Em função da preocupação
em estabelecer a definição de seu eixo doutrinário, órgãos de divulgação foram elaborados
sob formatos variados, entre os quais periódicos como o Política, constituído nos finais da
década de 1920, portanto após o desaparecimento de António Sardinha.
Ao longo das publicações de Política, compreendidas entre os finais dos anos 1920 e o
início da década de 1930, observa-se a progressão na incorporação de juntas escolares inte-
gralistas em áreas importantes de Portugal. Se em seu primeiro número havia somente a par-
ticipação da Junta Escolar de Lisboa do IL, em sua 11a edição, de 30 de abril de 1930, houve
a apresentação da Junta do Porto e, na subsequente, a adesão da Junta Escolar de Coimbra.
As bases do IL não se fizeram presentes apenas no batismo do periódico, mas foram
defendidas e sustentadas pelos próprios colaboradores ao longo de seus números. Cunha
Leão ratificava os fundamentos orgânicos e cristãos sob os pilares do tradicionalismo, que
deveria erigir a monarquia projetada. Ao remeter-se às fontes de sua argumentação, refe-
ria-se ao “[…] integralismo [que] pesquisou na história e no sentimento português aquilo
que era genuinamente nosso e próprio ao nosso modo de ser fundindo-o num corpo uno,
da máxima pureza, da máxima harmonia, de autêntica estrutura lusitana” (Leão, 1929, p.
5). O integralismo funcionou como pilar do nacionalismo sustentado pela tradição e pela
religiosidade entre os colaboradores do periódico, que eram provenientes, em parcela con-
siderável, do grupo chefiado por António Sardinha.
Por ser um periódico que representava a transição geracional do IL, já se observava em
suas páginas a progressiva simpatia ao fascismo que atingiu as fileiras integralistas. Portanto,
mais que retratar a herança doutrinária do IL, Política dividiu-se entre veículo de fascização
das fileiras integralistas em seu interior, e elemento de perpetuação do dogmatismo passa-
dista e restauracionista, evidenciado entre os seguidores de António Sardinha, mentor do
IL (Pinto, 1994, p. 93).
Durante a vigência do periódico, os anseios pela monarquia orgânica eram explícitos,
mas partilhavam espaços com as progressivas demonstrações de simpatia a Salazar. Era
frequente nas páginas de Política a exposição da crença de coincidência entre os interesses
da ditadura e os projetos políticos publicados na revista, ou seja, a rejeição à democracia,
aos regimes constitucionais e ao liberalismo. Ainda que se mantivesse fiel ao monarquismo
orgânico, Hipólito Raposo, integralista de primeira geração, afirmou:

Esta curta experiência de Ditadura, embora incompleta e imperfeita, contra-


prova a certeza de que, practicamente um regimen constitucional toda a vida da
Nação paralisa ou se comprime na escravidão a uma assembleia de ambiciosos,
de irresponsáveis e de ignorantes na sua maior parte. (Raposo, 1929a, p. 1).

Até a interdição de Política, no final de março de 1931, os choques entre a militância de


Rolão Preto, integralista de primeira geração e futuro líder do Nacional Sindicalismo nos anos

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1930, e os interesses de Salazar em absorver as juntas escolares do IL não se fizeram salientes
em suas páginas. Os conflitos tomaram relevo entre os anos 1932 e 1933 com a intensificação
da mobilização dos camisas-azuis e a organização do nacional-sindicalismo. O movimento
rivalizava e oferecia resistência em ser absorvido pela União Nacional, partido único da dita-
dura, criado em 1930. Preto passou a atacar Salazar por distanciar o Estado Novo dos moldes
de mobilização vistos em regimes fascistas, além do progressivo afastamento dos homens de
28 de Maio da atual ditadura: “Em Portugal a situação nacionalista não coincide, repetimo-lo,
com o poder saído da Revolução. Nenhum dos homens que constituem o actual Governo da
Ditadura contribuiu, de perto ou de longe, para o Movimento de 28 de Maio” (Preto, 1934).
A resposta de Salazar às críticas repercutiu na prisão e no exílio de Rolão Preto e Alberto
Monsaraz, chefe e secretário-geral do nacional-sindicalismo, respectivamente.
Durante a circulação do periódico Política, porém, havia o interesse das juntas em cola-
borar com Salazar, levado para o interior do nacional-sindicalismo, fato que posteriormente
fragilizou a liderança de Rolão Preto em vista de sua hegemonia interna não contar com
unanimidade. Por outro lado, o investimento de parcela relevante das juntas escolares do IL
ao apoiar — e posteriormente aderir a — o salazarismo se fez pela crença na ditadura como
portadora do antiliberalismo e da mensagem cristã, consonantes com as propostas do movi-
mento. Essas bases eram similares aos princípios defendidos pelo patrianovismo, fundado
em São Paulo entre o final dos anos 1920 e o início da década de 1930.
As fontes sobre o movimento brasileiro são esparsas e de difícil acesso, tendo em vista
a inexistência, salvo melhor juízo, de um arquivo que sistematize e centralize o acervo de
periódicos, folhetos, documentos em geral da AIPB. Em função desse aspecto, o material
coletado e disponível neste artigo relacionado com o patrianovismo diz respeito somente
à segunda fase do movimento, ou seja, de 1945 a 1972. Esses documentos, divididos entre
boletins e panfletos majoritariamente, estão no Arquivo Público e Histórico de Rio Claro.
Sob os devidos cuidados quanto ao exame, em função da atualização teórica exercida
pelo movimento chefiado em sua criação por Arlindo Veiga, é possível alcançar fragmentos
da teoria da primeira fase da AIPB (1928-1937) para compreender o diálogo mantido com a
revista Política. O patrianovismo tinha em sua estrutura de formação doutrinária caracterís-
tica como a ideologia de extrema direita, com suporte no projeto de Estado centralizador,
calcado no corporativismo e na feição antiliberal, acompanhada do viés cristão e monár-
quico como alternativa à república liberal, portanto, aspectos que o aproximaram do IL.
O catolicismo foi inerente às concepções teóricas e políticas de Veiga dos Santos, o que o
levou a participar, também, do Centro Dom Vital e a colaborar com a revista A Ordem. A reto-
mada à militância católica brasileira foi mobilizada pela reação à Proclamação da República,
em que a AIPB utilizou de tal insatisfação para arregimentar adeptos à proposta monar-
quista em vista da ruptura do pacto entre o Trono e a Cruz. Assim, Arlindo Veiga Santos
relacionava o declínio da nacionalidade com a adoção do regime liberal e republicano. Desse
modo, o patrianovismo era revestido pelo tradicionalismo com o intuito de retornar ao pas-
sado colonial, no qual a Igreja ocupou posição privilegiada nos assuntos políticos e sociais.

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As páginas dos periódicos associados a Arlindo Veiga dos Santos mantinham combate
ao liberalismo e à democracia e, por isso, recriaram narrativa histórica em torno do período
colonial. Nesse recorte da história do Brasil, “[…] a vida municipal se entende como vizinhos
que se estimam, se entreajudam e conspiram todos para o bem comum […]”. No entanto, com
o advento da república, a “norma era a divisão do povo, explorado, em sua ingenuidade pelo
partido único, apenas nominalmente diferenciado em todas as províncias” (Monarquia, 1955,
p. 1). Desse modo, a população foi enganada pelos partidos democráticos, que defendiam o
princípio liberal. Na citação anterior, transparece o elitismo intelectual de Veiga dos Santos
diante da apresentação da ingenuidade como aspecto predominante ao povo.
Para sanar a suposta deterioração do país, promovida pela república e pela democracia
liberal, Arlindo Veiga fixou as bases da AIPB na família e na monarquia. No entanto, esta
última teria de assumir o formato orgânico. O que se propunha era a monarquia corporativista.
Maria Tereza Malatian identifica na origem dos fundadores da AIPB proximidade com
os responsáveis pela formação do IL e, posteriormente, pelas juntas escolares integralistas
mantenedoras de Política. Ambas são provenientes das universidades, portando de elitismo
intelectual, embora seja considerada a proveniência economicamente modesta de Arlindo
Veiga dos Santos (Malatian, 1990, p. 33).
Em virtude da influência católica dos integrantes, as ações do grupo patrianovista foram
consonantes com a Reação Católica iniciada nos anos 1920 no Brasil e na década anterior
em Portugal. Tais investidas, em ambos os países, eram revestidas pelas tentativas de arre-
gimentar a intelectualidade laica em torno da Igreja e penetrar em áreas da educação, da
cultura e, indiretamente, da política, com o intuito de levar a doutrina católica para além
da esfera religiosa (Malatian, 1990, p. 33).
No projeto sustentado por Arlindo Veiga dos Santos, transpareciam os pontos comuns
com o monarquismo orgânico defendido pelo IL. Eram esses encontrados na leitura autori-
tária feita por meio de suas doutrinas e posicionamentos ideológicos do cristianismo, além
de advogarem em prol de projetos tradicionalistas de nacionalismo político.
Retomando algumas características, o IL foi um movimento calcado em bases da tra-
dição e defensor da monarquia orgânica. Arlindo Veiga dos Santos, também respaldado na
tradição como base para o progresso do país, afirmava em Monarquia:

Toda política verdadeira se funda na Tradição. Isso não quer dizer que seja fós-
sil e retrógrada como dizem os agentes da antinação. A Tradição é a base para
o progresso real, pois é acervo de valores espirituais realistas que plasmavam
na lama da Nação através de sua formação histórica. (Monarquia, 1958, p. 3).

Em sua defesa da tradição, nesses termos, discernia-a do saudosismo, ou do imobilismo


em relação ao desenvolvimento do país. Ao contrário, afirmava-a como pilar para o progresso
do Brasil, por ser a responsável pela manutenção dos verdadeiros laços identitários do país.
Próxima a essa argumentação estiveram as palavras de António Sardinha para a doutrina

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do IL. Em defesa da tradição, o português a enxergava não como “passadismo”, mas como
elemento norteador para o futuro, justamente por preservar as raízes do Portugal medieval.
Desse modo, Sardinha forneceu à tradição aspectos de dinamismo, mas também continui-
dade. No excerto de Ao ritmo da ampulheta, dissertou:

Filosófica e historicamente nosso conceito de tradição equivale a dinamismo e


continuidade. Estamos, por isso, bem longe de nos confinarmos numa idéia sau-
dosista da sociedade que foi ou das gerações que passaram. Pelo contrário, aber-
tos às solicitações clamorosas deste instante de febre, olhamos o futuro com
um alto desejo de o prepararmos, melhor e mais belo do que é a actualidade
tão horizontal e espessa em que vivemos. (Sardinha, 1978, p. 22).

Outro vetor de aproximação entre o IL e a AIPB pode ser encontrado nos projetos de
Estado apresentados. Os movimentos eram adeptos do corporativismo como forma ideal
de organização política, social e econômica. Destaca-se a semelhança dos termos utilizados
por António Sardinha e Arlindo Veiga na defesa de suas respectivas propostas.
Em Aliança Peninsular, cuja primeira edição data de 1924, António Sardinha defendia o Estado
antiparlamentar em seu formato tradicional. Nesse projeto político, a administração seria des-
centralizada, por meio do municipalismo. Porém, tal situação administrativa não se encontra-
ria em assuntos políticos, pois o poder estaria centralizado nas mãos do monarca. Portanto, a
fórmula seria: Estado centralizado politicamente, mas descongestionado administrativamente.

Nuevo Estado en la patria vieja! Estado orgánico en la sociedad organizada, o mejor toda-
vía: estado antiparlamentario y descentralizado, tan fuerte y unitario en lo político pro-
piamente dicho como descongestionado y simplificado en lo económico y admi-
nistrativo. (Sardinha, 1930, p. 323).

Em defesa de seu formato de império orgânico, Arlindo Veiga dos Santos, em estatuto
de 1928, estabelecia a descentralização administrativa como projeto de organização esta-
tal por meio da autonomia dos municípios. É necessário firmar que aos assuntos políticos,
tal como disposto nas propostas do IL, estaria o domínio tão somente do rei. Desse modo,
mantinha-se o modelo sustentado por António Sardinha, ou seja:

Nova Divisão Administrativa – Concentração Política e Descentralização Administrativa.


Capital no Centro do Império: Divisão do País em províncias menores puramente
administrativas. Educação contra o mau espírito regionalista e a favor do
Município, célula do Estado Imperial – Fundamentação em bases sólidas da
Unidade Nacional, sem prejuízo das legítimas liberdades provinciais e, sobre-
tudo, da Autonomia dos Municípios, células políticas do Estado Imperial […].
(Programa Patrianovista – Estatuto de 1928. Monarquia, 1955, p. 4).

Embora houvesse o reforço pela instauração da monarquia orgânica com a retomada da


tradição, os patrianovistas no Brasil não se respaldavam em uma memória afetiva da qual

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presenciaram o declínio do império. Segundo Malatian (2001, p. 41), os integrantes do grupo
não tinham idade compatível para manter saudosismo da monarquia que não viveram. A
causa central desse investimento em uma monarquia corporativa estaria, portanto, no des-
crédito com a república liberal e laica, oposição influenciada pelo catolicismo. Assim, o con-
servadorismo e o catolicismo eram elementos de coesão, evidente no IL e na AIPB. O horror
da participação popular na política e a fragmentação do poder aristocrático pela democra-
cia eram divisores comuns entre os grupos abordados.
As similaridades e os pontos de consonância são salientes e ligam os dois movimentos
separados pelo Oceano Atlântico. Todavia, parece precipitado atribuir filiação e batismo
do grupo patrianovista derivados do IL, tal como Malatian (1990, p. 35) o fez, visto que as
fontes não apontam para esse indício.
Ciente da criação do grupo patrianovista no ano 1928, sob a denominação inicial de
Centro Monarquista de Cultura Social e Política Pátria-Nova (Domingues, 2006, p. 521), e de que
o primeiro contato com o periódico Política ocorreu em junho de 1930, a tese da pesquisa-
dora torna-se inviável. O conhecimento dos patrianovistas brasileiros pelos integralistas
portugueses se revelou em coluna do periódico Política, em que os redatores ofereceram sua
simpatia e qualificaram Pátria-Nova como interessante movimento, do qual falariam em seu
próximo número (Redacção, 1930b, p. 14).
Em seu 16o número, em dezembro de 1930, o órgão da Junta Escolar do Integralismo Lusitano
apresentou artigo de Couto de Magalhães, publicado originalmente em Pátria-Nova. Neste, o
autor estabelecia duras críticas ao modelo republicano com o intuito de comprovar sua falên-
cia e debilidade à nação (Magalhães, 1930). O contato entre os órgãos tornou-se mais concreto
no número posterior, acusado por Política quando em transcrição de Pátria-Nova apresentou:

Só agora os patrianovistas paulistanos estão conhecendo a figura assombrosa


de António Sardinha e pesa-lhes não tê-lo conhecido mais cedo. Dahi este n.
ser uma revelação. Sem que cogitássemos da coisa, o integralismo é patriano-
vismo, e patrianovismo é integralismo: só que o integralismo é patrianovismo
português, e patrianovismo é integralismo brasileiro. (Redacção, 1930a, p. 7).

O reconhecimento das semelhanças entre os dois movimentos foi apresentado pela AIPB
em forma textual bastante contundente e legitimado pelo IL ao ser publicado no órgão ofi-
cial da junta escolar do grupo português. Os contatos mantiveram-se em outras publicações,
como pode ser constatado na edição de dezembro de 1933 de Integralismo Lusitano: Estudos
Portugueses (Res et verba…, 1933, p. 542), porém não se repetiram em Política.
Uma explicação para o silêncio de diálogos posteriores entre o órgão patrianovista e
Política pode ser encontrada no encerramento do periódico português nos primeiros meses do
ano 1931. Não há qualquer sinalização de desentendimento em relação a rumos teóricos, ou
apropriações indevidas de projetos entre os movimentos em contato, o que fica visível na nota
amistosa feita por de Integralismo Lusitano: Estudos Portugueses (1933, p. 542) ao patrianovismo

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alguns anos depois. Desse modo, é afastada a hipótese de conflito teórico-doutrinário e pos-
terior ruptura, e fortalecida a explicação de ausência de tempo para maiores diálogos, por
parte do Política, em vista de sua extinção nos primeiros meses de 1931.
Embora não se confirmem as suposições de hereditariedade do grupo de Arlindo Veiga
dos Santos em relação ao IL feitas por Malatian (1990, p. 35), a hipótese está longe de ser
infundada, haja vista as convicções, os valores e os códigos compartilhados. Ao se rejeitar
que a AIPB foi criada a partir das ideias do IL, há um novo problema: como esses vínculos
foram consonantes e similares, sem um contato prévio entre Arlindo Veiga dos Santos e o
IL para a fundação do movimento monarquista orgânico brasileiro?
A matriz cristã, com forte viés autoritário dos dois grupos, nos leva a crer na difusão
desses códigos comuns, realizada pela iniciativa da Reação Católica. Esse movimento ocor-
reu em Portugal, concomitante à Proclamação da República, em 1910. No Brasil, a resposta
foi mais tardia e tomou vigor com o Centro Dom Vital e seu órgão de divulgação doutriná-
ria, a revista A Ordem, no início da década de 1920. Não é demasiado lembrar que o Partido
Comunista do Brasil e a Semana de Arte Moderna surgiram também em 1922, mesmo período
da formação, no país, da revista A Ordem e da consolidação do Centro Dom Vital. Tais gru-
pos e organizações acusam a ampliação da politização das elites intelectuais, tanto das cor-
rentes ideológicas de esquerda quanto das de direita.
No entanto, as realizações de Jackson de Figueiredo – a publicação da revista A Ordem
assim como a consolidação do Centro Dom Vital –, supracitadas, foram o ponto alto de um
processo iniciado alguns anos antes. Por iniciativa de figuras eclesiásticas, como o padre Júlio
Maria e o arcebispo de Olinda, d. Sebastião Leme, a Reação Católica estivera centrada em
discursos, conferências e artigos apresentados pelo primeiro no Rio de Janeiro, São Paulo e
Minas Gerais, no Nordeste e, novamente, no Rio de Janeiro com a nomeação de d. Sebastião
Leme para o arcebispado na capital federal (Batista, 2006, p. 35). Tais esforços associavam-
-se à necessidade de retirar a intelectualidade católica da passividade quanto aos assuntos
da Igreja desde a Proclamação da República no Brasil. Em 1916, d. Sebastião Leme publicou
sua carta pastoral para mobilizar forças e retomar os modelos de ordem e autoridade então
estabelecidos antes da Proclamação da República. Nesse sentido, a Igreja insurgia-se con-
tra a Constituição de 1891 em função da separação entre Estado e Igreja.
Conforme dito, além da separação entre poder secular e temporal, a Constituição bra-
sileira, assim como a portuguesa, destituía a Igreja Católica do monopólio religioso, visto
que o país deixou de ter religião oficial, além de concorrer sobre a emissão de registros civis,
como o casamento. O Estado passaria também a regulamentar a criação de cemitérios públi-
cos, competência antes restrita à instituição católica. Com o intuito de recuperar seus pri-
vilégios, a Reação Católica lançou-se aos terrenos da política e da educação com o objetivo
de atingir a intelectualidade laica católica.
É válido destacar que Arlindo Veiga dos Santos participou com publicações de arti-
gos ao órgão do Centro Dom Vital, o A Ordem. Estava inserido nas propostas de militância

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católica e retaliação ao liberalismo estabelecido na república brasileira, conforme indica o
artigo assinado por Arlindo Veiga Miranda na referência do início do texto, e ao fim, como
Arlindo Veiga dos Santos:

[…], os patrianovistas – prevendo tudo quanto tinha forçosamente aconte-


cer, dados os êrros que já vinham do liberalismo imperial e se aggravaram
pela infanda apostasia esposada pela república para poder durar no Brasil –
cogitaram de criar elementos de tradição, único alicerce firme e verdadeiro
da Nação que deseje subsistir, uma doutrina totalizadora, de organização e
ordem. (Miranda, 1930, p. 249).

Os autores da revista A Ordem tinham contato com a literatura conservadora e católica


europeia, conforme se constata pelas referências a Charles Maurras em texto de autoria de
Santiago Dantas (1930, p. 199), por exemplo. Maurras representou impacto após sua ade-
são à Action Française, consolidando a fundação doutrinária do movimento no monarquismo
orgânico, que irradiou seus tentáculos para os pensadores do IL, conforme já dito.
Desse modo, há indícios da partilha de valores e projetos, em que patrianovistas e inte-
gralistas mantinham diálogo direta ou indiretamente pela leitura de artigos, permuta de
obras e correspondências. Assim, não viram dificuldades em estabelecer os laços de socia-
bilidade, mesmo diante das distâncias geográficas consideráveis que os separavam.
É fundamental compreender a importância que tais contatos ou investidas significam na
projeção dos movimentos entre seus pares ou entre movimentos rivais na luta ou confirma-
ção da hegemonia das propostas apresentadas. Do mesmo modo, é importante compreender
como o reflexo dessas aproximações atuam sobre o corpo teórico da doutrina dos respecti-
vos movimentos. Assim, entende-se sociabilidade como categoria em que os indivíduos se
colocam em contato por meio de, e visando a construir, formas de pensar e de ver o mundo,
dotadas de sentido compartilhado pelo grupo. Para as análises levantadas, tais aproxima-
ções são coerentes com o projeto de União Peninsular lançado por António Sardinha e per-
petuado ora com maior, ora menor frequência entre as gerações integralistas posteriores.
No interior das obras de Sardinha, coexistiam, em tensão, dois projetos: a representação
do português brando, ligado à pequena propriedade agrícola do século XV, e a imagem do
ímpeto cruzadístico além-mar, incorporado na campanha das grandes navegações, inaugu-
radas no século XVI (Cardoso, 1982, p. 1400). Essas narrativas históricas sustentadas pelo
IL nortearam a construção e a legitimação de seu aparato teórico-doutrinário. Na segunda
perspectiva, há “[…] uma imagem gloriosamente épica, que praticamente invertia aqueles
valores anteriores, optando agora pelo intervencionismo, pelo peninsularismo, pelo impe-
rialismo e, necessariamente, pela centralização” (Cardoso, 1982, p. 1403).
Conforme atualizava seus projetos políticos, uma representação sucedia à outra como
narrativa hegemônica. Essas alterações ocorriam pela necessidade encontrada pelos inte-
gralistas de modificar a imagem e a identidade buscadas ao movimento, à medida que o

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contexto político fornecia novas possibilidades de alianças e estratégias de se aproximar
do ou alcançar o poder.
Os anseios de realização da monarquia orgânica foram progressivamente colocados
em questão no início dos anos 1920 em função dos obstáculos oferecidos pela adesão de d.
Manuel II (então escolhido como rei da monarquia orgânica integralista) ao Pacto de Paris,
que reconhecia os princípios constitucionais na possibilidade de restauração monárquica.
Assim, novos projetos que utilizavam igualmente a ideia do corporativismo ganharam
espaço no interior do IL, mobilizados pela ascensão dos movimentos de massa de extrema
direita ascendentes na Europa do entreguerras. O ideário de Portugal como império marí-
timo assumiria configuração de mobilização das “massas” populares, inserindo o país na
corrida imperialista que se dera no período.
Embora Miguel Cardoso (1982, p. 1403) exponha, ao analisar a retórica imperialista ins-
crita na composição ideológica do grupo: “Estoutra visão sucedeu a primeira nomeadamente
no percurso ideológico de António Sardinha, rejeitada mais ou menos completamente pelos
seus companheiros de primeira geração […], mas bem acolhida pela segunda geração […]”, per-
cebe-se, na passagem da hegemonia de uma retórica sobre a outra, elementos de continuidade.
Ainda que se desloquem as intenções políticas, antes encontradas na perspectiva isolacionista,
para os anseios expansionistas, houve a manutenção do combate ao pensamento liberal e indi-
vidualista, e a aversão ao comunismo, respaldadas na religiosidade. Portanto, a concorrência
do viés ideológico de mobilização de massas, e expansionista aos moldes fascistas, não desa-
tivou os interesses de parte das fileiras integralistas de instauração da monarquia orgânica.
Nesses termos, a investida do IL com o intuito de expandir suas áreas de contato para
além dos limites de Portugal era coerente com seus anseios. Em contrapelo, para a AIPB, o
reconhecimento de sua existência por um movimento estrangeiro congênere fortalecia sua
legitimidade e seus projetos políticos. Portanto, os espaços de contato correspondiam a
intencionalidades recíprocas, coerentes não apenas com o estreitamento de relações como
com a operacionalidade e a difusão de seus anseios.

Considerações sobre a história transnacional aplicada à


sociabilidade intelectual

A figura do intelectual, e de seus diálogos, ganha centralidade em nossas análises em função


da especificidade que estabelece o contato entre si e de suas teorias e diálogos. O espaço de
mediação induzido e provocado não é, portanto, gratuito, mas representa a chance concreta
de atualizar e ampliar suas propostas e doutrinas dentro de relativo controle dessas alterações.
Desse modo, a formação e a interação dos intelectuais se fazem “[…] em conexão com
outros atores sociais e organizações, intelectuais ou não, e tendo intenções e projetos no
entrelaçamento entre o cultural e o político” (Gomes e Hansen, 2016, p. 12). A consolidação

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da visão de mundo intelectual e do intelectual se faz horizontal, em via de mão dupla, pelas
apropriações de códigos e significados, alterando-os e inserindo-os nos projetos específicos,
em formato dinâmico, trans-histórico (Chartier, 2002, p. 24-25) e transnacional.
Se a formação e a interação são revestidas por especificidades ao abordar os intelectuais,
os espaços de sociabilidade não são diferentes. Estes são constituídos com a intencionalidade
de atuar na sociedade de forma pontual ou abrangente. São organizados de forma razoa-
velmente institucionalizada e agem em redes de partilha de valores, identidades e visões de
passado e projeção de futuro por meio de suas definições, experiências e intencionalidade
de alteração ou manutenção do contexto em que se inserem. Essas sociabilidades intelec-
tuais podem resultar em solidariedades, mas também em competição entre os indivíduos
ou grupos em diálogo (Gomes e Hansen, 2016, p. 24).
Determinada pelos limites existentes nas ambições de seus projetos, a sociabilidade inte-
lectual pode assumir horizontes transnacionais. Diante do que já foi dito sobre a formação
dos intelectuais e suas visões de mundo, é vetada a análise da consolidação de doutrinas a
partir da argumentação de hereditariedade ou filiação. Os grupos intelectuais colocam-se
em contato dispostos a ampliar suas áreas de ação, em vista da atualização teórico-doutri-
nária, ou mesmo em iniciativa efetiva e prática, com consequências políticas, sociais, cul-
turais de maneira estendida e transnacional.
Portanto, ao estabelecer esses vínculos e apresentar o diálogo entre IL e AIPB, os exa-
mes transcendem a simples detecção de laços consanguíneos ou de paternidade. Tais análi-
ses apresentam, pois, os aspectos de sociabilidade com fluidez e permeabilidade ampliadas,
consideradas as ambições inseridas em suas concepções doutrinárias e vetores políticos,
com suas expectativas de atuarem, ou influenciarem para além dos limites nacionais, por
meio da partilha de experiências e laços de reciprocidade.
Isso não deve implicar conclusões globais ou homogeneizantes das concepções e correntes
intelectuais. O tratamento das especificidades dos contextos de origem deve ser observado
ao se articular às análises a história transnacional (Gruzinski, 2012, p. 55). Todavia, trata-
-se de derrubar, igualmente, os muros criados por histórias nacionais e propor alternativa
às leituras que supõem certa dependência intelectual de regiões situadas na “periferia” de
um suposto eixo eurocêntrico, sedentas pela “transferência” de conteúdos desses polos de
criação do pensamento.
A formação de projetos políticos não se faz circunscrita e presa aos limites nacionais, tam-
pouco pela importação, mas alimenta-se por fronteiras permeáveis, que, à medida que per-
mitem a passagem de conteúdos, o deformam a seu modo, tornando-se, assim, instrumento
operacional aos interesses internos. Assim, o pesquisador que tem como proposta a análise
da historia intelectual, entre outros objetos, deve estar preparado para compreender trajetó-
rias que desprezem limites nacionais rigorosos. Deve comportar-se como a espécie de eletri-
cista, abordado por Gruzinski (2004, p. 176), atento às conexões internacionais e interconti-
nentais, interditadas ou obscurecidas pela historiografia nacional que bloqueou esse trânsito.

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