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2011
Matt Ferchen
RESUMO
O artigo foca as relações de negócios e investimentos entre China e América Latina na década de 2000. Há
três interpretações principais, distintas e relacionadas, sobre esse conjunto de relações: para a primeira,
a América Latina, uma região com recursos naturais abundantes, exporta produtos primários para uma
China em expansão, mas carente de tais recursos. Sustentam essa interpretação aqueles, incluindo muitos
representantes proeminentes do governo, que afirmam as relações econômicas entre China e América
Latina serem fundamentalmente complementares, tendo um efeito positivo para ambas as partes. Em
contrapartida, outros observadores têm destacado que o que é visto como complementaridade é na verdade
apenas uma forma renovada de dependência latino-americana. Esses autores alegam que, apesar da
rápida expansão dos negócios e investimentos trazer benefícios no curtoprazo para ambos os lados, essa
natureza de relações baseada em commodities reforça os padrões disfuncionais de desenvolvimento da
América Latina que muitos países da região há muito tempo renunciaram e têm tentando deixar para trás
há mais de meio século. Tomando essa discussão como referência, apresenta-se, em primeiro lugar, uma
visão geral das relações de comércio e investimentos entre China e América Latina, destacando o papel
importante da demanda chinesa por commodities latino-americanas. Em segundo, descreve-se as diferentes
interpretações sobre o que conduz essa relação comercial e quais são as suas conseqüências. Em terceiro,
apresenta-se o argumento, por nós defendido, sobre como nós deveríamos entender o que tem conduzido as
relações econômicas entre China e América Latina e o que está em jogo. Conclui-se explorando as
implicações das nossas descobertas para a idéia de que a China oferece um modelo único de economia
política doméstica e internacional.
PALAVRAS-CHAVE: negócios; investimentos; dependência; China; América Latina.
Recebido em 15 de novembro de 2010. Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 19, n. suplementar, p. 105-130, nov. 2011
Aprovado em 30 de novembro de 2010.
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ferro, cobre ou soja. Como resultado, vertentes primários. O rápido aumento das importações
teóricas de complementaridade ou de de matérias-primas feitas pela China de países
dependência também ficam aquém das da América Latina, África e outros lugares é um
expectativas por não proverem uma maior dos principais indicadores de um aumento súbito
compreensão mais completa das relacionadas das commodities, que tem apresentado elevados
conseqüências econômicas e políticas da volumes e preços de certos minerais, de energia
expansão das relações econômicas entre China e de produtos agrícolas. Esse rápido incremento
e América Latina. Este artigo, por-tanto, de preços tem sido a base econômica, e também
demonstrará como aparentemente o senso política, que sustenta os renovados laços da
comum de que a América Latina simplesmente China com muitas nações em desenvolvimento
possui os recursos naturais “necessários” ao não só da América Latina, mas também de outras
rápido desenvolvimento econômico da China partes do globo.
atrapalha a compreensão de detalhes importantes
Essa tendência de intensa demanda da China
sobre o momento e as razões para a rápida
por commodities, muitas das quais foram
elevação nas exportações de commodities dos
direcionadas para abastecer o capital intensivo
países latino-americanos ricos em recursos
do país, crescimento e desenvolvimento da
naturais para a China no início dos anos 2000.
indústria de base, tem somente sido exposta pela
Suposições de que a demanda chinesa por resposta da China à crise financeira global. Em
matéria-prima da América Latina e de outros particular, o pacote de estímulos e as políticas
lugares é simplesmente uma função natural do de relaxamento da concessão de crédito da China
rápido e constante desenvolvimento econômico estimularam investimentos ainda maiores em
da China nos últimos mais de 30 anos são infraestrutura, desenvolvimento da propriedade
incompletas, na melhor das hipóteses, e enga- e indústria de base. Mesmo antes da crise
nosas, na pior. Esse tipo de compreensão não financeira havia preocupações dentro e fora da
leva em conta importantes mudanças na China de que seu afastamento de uma trajetória
economia política doméstica da China no início leve para uma pesada trajetória de
dos anos 2000, as quais foram acompanhadas desenvolvimento estava criando potenciais
por um aumento abrupto dos laços de comércio resultados desestabilizadores, especialmente no
e investimentos com o mundo em campo de segurança energética. Essas
desenvolvimento e outros países grandes advertências têm somente se intensificado à luz
produtores de commodi-ties, como a Austrália. da resposta chinesa à crise financeira.
De maneira mais específica, iniciando por volta
No entanto, essa mudança no padrão domés-
de 2002 e 2003, e revertendo tendências que
tico de crescimento da China e seu papel funda-
estavam em vigor desde o começo das reformas
mental em conduzir o crescimento súbito das
no final da década de 1970, a economia chinesa
commodities têm estado visivelmente ausente na
entrou em um período de acelerado uso de capital
academia, na mídia e em análises governamentais
intensivo para o cresci-mento de sua indústria
sobre a expansão das relações da China com
de base. Isso, na verdade, alavancou a demanda
regiões do mundo com abundantes recursos
por matérias-primas, incluindo uma variedade de
naturais. O fracasso em identificar essa origem
minerais, mentais e fontes de energia, para suprir
da expansão da demanda chinesa por recursos
sua indústria de base. Para satisfazer essa
naturais da América Latina e de outros lugares
demanda a China tem crescentemente se voltado
tem também impedido uma compreensão mais
para os países ricos em commodities da América
acurada sobre as consequências potenciais para
Latina, África e outros lugares. Assim, a
o longo-prazo da saúde e da estabilidade dos laços
demanda chinesa por matérias-primas – que
de investi-mento e comércio, sem mencionar o
exigiu em si a manutenção de laços estreitos com
político, da China com parceiros ricos em
países-chave, ricos em commodities, na trajetória
recursos. O laço político, por sua vez, tem
de desenvolvimento da indústria de base da última
facilitado um descompasso entre as altas
década –, funciona como pilar de sustentação
expectativas e o aumento dessas sobre o papel
de seu relacionamento com muitos dos maiores
que a China vai continuar desempenhando na
e mais importantes países latino-americanos e
promoção do crescimento da América Latina e
outros grandes produtores de produtos
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AS RELAÇÕES ENTRE CHINA E AMÉRICA LATINA
dos muitos desafios que a China enfrenta para II.COMÉRCIO E INVESTIMENTOS ENTRE
manter seu ritmo acelerado de desenvolvimento. CHINA E AMÉRICA LATINA: OS FATOS
O último resultado é uma subavaliação de como ESTILIZADOS
o recente e súbito aumento das relações entre
Antes de explorar as explicações mais comuns
China e América Latina está sustentado em bases
sobre a expansão dos laços econômicos entre
estreitas e fundamentos econômicos mais frágeis
China e América Latina e as interpretações con-
do que o comumente entendido.
correntes sobre as conseqüências desses laços,
A estrutura deste artigo é a seguinte. Primeiro, apresento primeiramente um retrato básico das
apresentarei uma visão geral das relações de relações de comércio e de investimento entre a
comércio e investimentos entre China e América China e a América Latina. A força motriz por trás
Latina, destacando o papel importante da demanda dos laços econômicos em expansão entre a China
chinesa por commodities latino-americanas. e a América Latina é a demanda chinesa por
Segundo, descreverei e avaliarei as diferentes minérios, energia e commodities agrícolas. Em
interpretações sobre o que conduz esse relaciona- troca de suas exportações de matérias primas, a
mento comercial e quais são as conseqüências América Latina importa uma variedade de bens
para a relação. Na seqüência, apresentarei então chineses manufaturados (ver o Gráfico 1). Além
o meu argumento sobre como nós deveríamos disso, o rápido aumento dos laços comerciais, em
entender o que tem conduzido as relações econô- escala e velocidade (e, em menor extensão, do
micas entre China e América Latina e o que está investimento), entre a América Latina e a China é
em jogo segundo minha compreensão. Na de origem relativamente recente, decolando
conclusão exploro as implicações das minhas apenas nos anos mais recentes da década de 2000
descobertas segundo a idéia de que a China (ver o Gráfico 2). Entender a natureza baseada
oferece um modelo único de economia política em comodities da relação econômica e o momento
doméstica e internacional. inicial são ambos cruciais para qualquer avaliação
geral da direção e saúde, em longo termo, dos
laços econômicos e políticos entre a China e a
América Latina.
A China exporta
A A. Latina exporta manufaturas de
produtos primários média e alta
e recursos tecnologias
naturais
manufaturados
Importações Exportações
Apesar da crescente atenção acadêmica pres- importância muito maiores que o FDI chinês na
tada ao investimento estrangeiro direto (FDI, na região. Certamente, enquanto a China recuperou-
sigla em inglês) chinês na América Latina e outros se rapidamente da crise financeira, ela também
países, a expansão dos fluxos de comércio entre aumentou o investimento direto, não-portfólio, na
China e América Latina têm sido de magnitude e América Latina, especialmente no Brasil
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(GRAHAM, 2010; POMFRET, 2010). Entretanto, esperam ver o comércio e o investimento com a
mesmo esse maior investimento tem sido China expandir-se além dos interesses chineses
principalmente em matérias primas como energia em matérias primas, as commodities continuam a
e minérios. Assim, enquanto líderes representar o fundamento da relação entre eles.
governamentais e de negócios na América Latina
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AS RELAÇÕES ENTRE CHINA E AMÉRICA LATINA
em 2008, dez commodities em apenas seis países recursos energéticos, tem sido de longe o maior
latino-americanos contaram por 74% das motor do crescimento da demanda global geral.
exportações da região para a China e 91% das Por exemplo, entre 2000 e 2008, a China foi
exportações gerais de commodities da região para responsável por dois terços do crescimento total
a China (GALLAGHER & PORZECANSKI, global na demanda por aço e alumínio, e por um
2009, p. 5). percentual ainda maior na demanda global por
cobre (WYK, 2010, p. 6).
O comércio entre a China e a América Latina
é, portanto, largamente caracterizado pela Assim, o retrato que emerge da relação
exportação de recursos naturais, especialmente comercial da China com a América Latina pode
metais, minérios e produtos agrícolas, da América ser capturado por três pontos principais. Primeiro,
Latina para a China. Em retorno, a China exporta, os laços comerciais e de investimento entre a
em larga medida, bens manufaturados de média e China e a América Latina cresceram rapidamente
alta tecnologia (ver o Gráfico 1)7. Como região, desde apenas o início do novo milênio. Segundo,
a América Latina presenciou um aumento a expansão de laços econômicos entre a China e
consistente na exportação de produtos primários a América Latina conferiu à China um papel de
como parcela das exportações globais totais, indo crescente proeminência como fonte de demanda
de 26,7% em 1999 para 38,8% em 2009 para as exportações latino-americanas.
(BÁRCENA et alii, 2010, p. 13). Para um número Finalmente, os laços comerciais e de investimento
de países latino-americanos, a concentração de entre a China e a América Latina são baseados na
exportações de recursos naturais específicos em demanda chinesa por um conjunto relativamente
geral, e à China, em particular, é bastante limitado de recursos naturais, de um número
acentuada. Por exemplo, no Chile, as exportações relativamente pequeno de países, geralmente, sul-
de commodities constituem quase 60% das americanos. Esse retrato básico da natureza e
exportações totais do país (BÁRCENA et alii, direção das relações de comércio e investimento
2010, p. 13). Por sua vez, as exportações chilenas entre a China e a América Latina é geralmente
para a China são dominadas especificamente pelo consensual por observadores dentro e fora da
cobre, que constitui 76% de suas exportações China e da América Latina. Entretanto, diferentes
gerais para esse país (VOLPON, 2010, p. 79)8. avaliações sobre ao que está conduzindo essa
Brasil, Venezuela, Colômbia e Peru também têm relação e quais podem ser as implicações para
altas concentrações de exportações de ambos os lados são, ambas, mais abertas à
commodities, notavelmente minério de ferro e interpretação e à controvérsia.
petróleo, como percentual de suas exportações
III. O QUE CONDUZ A CRESCENTE RELAÇÃO
gerais para a China (VOLPON, 2010, p. 79-80;
COMERCIAL E DE INVESTIMENTO DA
GARCÍA-HERRERO & FUNG, 2008). A
CHINA COM A AMÉRICA LATINA?
demanda da China, especialmente por minerais e
As explicações para a natureza da relação
econômica entre a China e a América Latina
baseada em commodities convergem a uma
7 O México é a mais notável exceção a esse padrão, pela descoberta similar, mas problemática.
estrutura de sua economia exportadora manufatureira Nomeadamente, a maioria das análises
tender a colocar o país em competição com as exportações acadêmicas, midiáticas e de negócios dos laços
chinesas para o mercado norte-americano. Além disso, e
econômicos chineses e latino-americanos
diferentemente de muitas economias latino-americanas, o
México possui um significativo deficit comercial com a apresentam uma correlação simples entre uma
China. Em 2008, a China constituiu 7,7% das importações China em rápido crescimento e carente de
mexicanas, mas apenas 1% das exportações, implicando recursos, de um lado, e uma América Latina rica
um deficit comercial geral superior a US$ 24 bilhões em recursos, de outro. Detalhes do que está
(FERCHEN & GARCÍA-HERRERO, 2010, p. 142-143). especificamente conduzindo a demanda chinesa
Como região, a América Latina, em 2008, teve um deficit
por commodities latino-americanas são freqüen-
comercial de 2,4% com a China (EGHBAL, 2009).
temente limitados e/ou simplistas. Ao contrário,
8 Além disso, a contribuição das exportações de cobre
o senso comum de que a América Latina
chilenas para sua economia geral aumentou de 5,6% do
simplesmente tem do que a China “precisa”
Produto Interno Bruto (PIB) em 1996 para 16,3% em
2010. Ver Anderson (2010). substitui freqüentemente uma análise mais
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cuidadosa. Quando há uma análise mais detalhada primas para alimentar e sustentar o rápido
dos recursos específicos da demanda chinesa, os crescimento econômico do país. Especificamente,
argumentos para o que está conduzindo a esses argumentos focam a escassez de
demanda e sustentando sua estabilidade são muito commodities da China (freqüentemente em termos
freqüentemente subdesenvolvidas ou espúrias. É per capita, em vez de absolutos) versus sua relativa
certamente verdadeiro, no sentido mais amplo, abundância na América Latina. Como argumentou
que o desenvolvimento econômico chinês está um analista de mercado: “A China é destituída da
conduzindo a demanda do país por uma gama de maior parte das principais commodities, incluindo
recursos naturais da América Latina e outros minério de ferro, cobre, petróleo e madeira. O
lugares. Entretanto, é necessário entender as país simplesmente não pode continuar a crescer
forças específicas que impulsionam a demanda 9% ao ano [...] sem assegurar um suprimento
chinesa se desejamos apreender o momento e a estável de commodities” (BETHEL, 2009). Outra
estabilidade das relações econômicas da China análise usa uma lógica similar para explicar o
com a América Latina. Nesta seção eu detalho os interesse chinês nas commodities latino-
tipos mais comuns de explicação para as americanas: “Os 30 anos de desenvolvimento
exportações de commodities latino-americanas econômico ininterrupto na China têm aumentado
para a China, das afirmações mais óbvias das as necessidades do país por matérias primas para
“forças básicas de mercado” para as mais satisfazer a demanda por milhares de Empresas
sofisticadas análises de “ciclos de negócios”. de Propriedade Estatal [SOEs, na sigla em inglês],
corporações privadas e milhões de consumidores
Muitas explicações para os altos níveis de laços
cada vez mais sofisticados. Isso é um resultado
comerciais e de investimento entre a China e a
da escassez de recursos domésticos da China,
América Latina enfatizam o papel das forças
somada à sua inabilidade de explorá-las e seu
básicas de mercado. Uma versão comum desse
desejo de preservá-las para uso futuro
argumento, descrevendo o aumento geral dos
(MINGRAMM et alii, 2009, p. 5)9. Assim, outra
laços econômicos entre a China e a América
explicação de aparente senso comum para as
Latina, simplesmente afirmam em linhas gerais
demandas chinesas por matérias primas de países
que o crescimento chinês abasteceu a demanda
em desenvolvimentos ricos em recursos da
para as exportações latino-americanas. Por
América Latina (assim como da África e de outros
exemplo, como afirmou o resultado de um grupo
lugares) é que a economia da China confia nessas
de estudos sobre as relações em expansão entre
injeções de commodities para manter um padrão
China e América Latina: “Em geral, o investimento
de crescimento rápido longamente sustentável10.
e as atividades comerciais da República Popular
da China na América Latina têm sido orientadas Tais argumentos, conectando o crescimento
para assegurar acesso a produtos que a China tem chinês à sua “demanda” ou “requisitos” por
necessidade para seu crescimento econômico” recursos naturais, implícita ou explicitamente
(CENTER FOR HEMISPHERIC POLICY, 2007). aceitam essa demanda como “natural”. Analistas
Outros simplesmente ligam o “crescimento
econômico explosivo” chinês à demanda por
commodities latino-americanas (RATLIFF, 2009).
9 A Organização Econômica para Cooperação Econômica
Nessa visão, os laços econômicos em expansão
são simplesmente uma função básica da e o Desenvolvimento (OECD, na sigla em inglês) aplicou
majoritariamente a mesma lógica em sua explicação do
“necessidade” econômica chinesa rapidamente
crescente apetite chinês por commodities africanas: “A
crescente por matérias primas oriundas da demanda em expansão por energia e outros recursos
América Latina. naturais é essencial para sustentar o crescimento
econômico da China, e a abundância desses recursos na
Uma versão levemente mais detalhada, mas África tem naturalmente determinado a recente evolução
ainda assim incompleta dessas explicações das da relação econômica chinesa com a África” (OECD, 2008,
“forças básicas de mercado” para a expansão dos p. 110; sem grifo no original).
laços China-América Latina, vai um passo além 10 Lógica parecida foi evocada em um experto atestado
dos argumentos básicos de demanda-necessidade congressional: “A busca chinesa global pelas commodities
para especificar a importância das diferentes necessárias para sustentar sua rápida expansão econômica
vantagens comparativas. Aqui, os analistas forma o alicerce de sua relação com a América Latina”
enfatizam o papel do apetite chinês por matérias (ERIKSON, 2008).
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acadêmicos chineses que estudam a América principais think tanks econômicos da América
Latina na Academia Chinesa de Ciências Sociais Latina, a Comissão Econômica para a América
(CASS, na sigla em inglês) e em outros think tanks Latina e o Caribe (Cepal), elogiou o papel positivo
também, consistentemente, retratam a relação dos laços comerciais sinolatino-americanos à luz
sino-latino-americana nos mesmos termos de da crise financeira. Ambos os relatórios da Eclac
benefício mútuo. Por exemplo, o vice-Diretor do de 2009 e de 2010, amplamente citados na
Instituto de Estudos Latino-Americanos da CASS imprensa chinesa, argumentaram que a forte
argumentou que “tanto a China quanto a América demanda chinesa por commodities latino-
Latina pertencem ao Terceiro Mundo e a americanas teve um papel fundamental para
cooperação entre os lados beneficiará a paz minimizar os efeitos negativos da crise global
mundial e o desenvolvimento” (SHIXUE, 2005, financeira e para fornecer um forte motor que
p. 15)13. Assim, o governo chinês e alguns dos conduzisse uma recuperação regional rápida
seus principais analistas acadêmicos de relações (LATIN AMERICA MUST TAKE, 2009;
com a América Latina usam a linguagem da BÁRCENA et alii, 2010). Conforme o relatório
complementaridade para enfatizar uma da Cepal de 2009 declarou, “de certa forma, o
estabilidade e uma igualdade fundamentais mercado interno chinês resgatou as exportações
carregadas de similares históricos e metas de latino-americanas” (LATIN AMERICA MUST
desenvolvimento. TAKE, 2009). Assim a visão de uma relação sino-
latino-americana complementar e, portanto,
A linguagem da complementaridade e benefício
mutuamente benéfica, é um tema central não só
mútuo é retribuída por alguns, embora claramente
na diplomacia pública chinesa mas também entre
não todos, os líderes latino-americanos bem como
importantes líderes e centros de pesquisa latino-
por alguns essenciais institutos de pesquisa
americanos.
daquele continente14. Em particular o governo
brasileiro, sob a liderança do Presidente Luiz A linguagem dos laços “Sul-Sul”, promovida
Inácio Lula da Silva, adotou a linguagem dos pelo governo chinês e pelos think tanks e
vínculos “Sul-Sul” para descrever as relações geralmente retribuída por suas contrapartidas
sinobrasileiras que crescem rapidamente. Além da latino-americanas, tem um papel central no
associação em comum ao G20, sem mencionar estabelecimento de expectativas sobre a natureza
ao ainda mais exclusivo BRICs, o Brasil tem e o futuro desenvolvimento das relações
promovido sua relação com a China como tanto econômicas e políticas sino-latino-americanas.
mutuamente benéfica quanto um meio de Algumas dessas expectativas são explícitas,
promover formas de liderança internacional enquanto outras são mais implícitas. Por definição,
alternativas (aos EUA)15. Por sua vez, um dos se a interação da China com a América Latina é
“Sul-Sul”, e portanto entre a China como um país
em desenvolvimento e a América Latina como
uma região de países em desenvolvimento, ela
13 A avaliação de Shixue do que conduziu os vínculos
deveria ser qualitativamente distinta das relações
econômicos da China à América Latina encaixa-se nessa
“Norte-Sul”. As relações “Norte-Sul” são assim
positiva pespectiva de complementaridade. Ele diz que
“a China também enfrenta uma falta de recursos naturais, o contraste implícito (e apenas às vezes mais
em grande parte devido à sua enorme população e ao seu explícito). Seja a referência às relações Estados-
rápido crescimento econômico” (SHIXUE, 2008, p. 34). América Latina, seja às relações Europa-América
14 De todos os grandes países latino-americanos o México Latina, as relações Norte-Sul situam-se, na
é o menos provável de ver a relação nestes termos. Duas comparação histórica, como relações de
das principais razões são porque o México tem um grande exploração e de desigualdade. Portanto, se os
déficit comercial com a China e porque ele compete com a laços econômicos e políticos sino-latino-
China como base manufatureira para exportações para o americanos são Sul-Sul, o argumento que eles são
mercado norte-americano.
inerentemente também de vínculos “ganha-ganha”
15 Para uma abrangente visão global das relações deve ser por causa de sua natureza mais igual, de
comerciais, de investimento e diplomáticas sino-brasileiras não exploração e, em última análise, estável.
sob a perspectiva brasileira, ver Dey-Chao e Wyk (2010, Alguns críticos dessa perspectiva ressaltam
p. 50-51). Para mais sobre os detalhes e os desafios da
cooperação sino-brasileira como parte do BRICs, ver
preocupações sobre a real igualdade da relação.
Michael Glosny (2010). Em contraste, este artigo realça os riscos de
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entanto, argumentos do tipo “dependência” são benéfica e complementar é, para outros, tanto
colocados no nível do que é tido como a natureza “assimétrica” como próxima demais dos padrões
assimétrica ou desequilibrada dos laços de historicamente traumáticos de desenvolvimento
comércio e de investimento entre a China e a que muitos na região trabalharam tão duramente
América Latina. por tanto tempo para superar.
Alguns exemplos recentes demonstram como Entretanto, tão importantes quanto alguns
os temas de dependência são utilizados para desses argumentos relacionados à dependência,
descrever a relação econômica da América Latina para entender como as relações sino-latino-
com a China. Por exemplo, um relatório argumenta americanas são avaliadas, são argumentos
que “o padrão existente de comércio [entre a China relacionados a como a América Latina pode ser
e a América Latina] revela assimetrias crescentes capaz de controlar mais efetivamente os benefícios
que estão aprofundando a dependência histórica de sua atual relação de exportação de commodities
latino-americana por exportações de commodities com a China. Os relatórios da Comissão
de baixo valor agregado” e, portanto, que a Econômica para a América Latina e o Caribe
“relação assumiu um tom ‘Norte-Sul’” (VOLPON, (Cepal) acima mencionados, que ressaltam como
2010, p. 79-80). a demanda chinesa por exportações latino-
americanas teve um papel crucial ao ajudar a
Outras, ecoando as preocupações dos depen-
América Latina a resistir à crise financeira, são
dentistas originais, salientam as distorções
indicativos de como mesmo os céticos latino-
domésticas e internacionais que resultam da
americanos podem ver um lado positivo naquilo
natureza commodities-manufaturados da relação
que foi, por muito tempo, visto como padrões de
comercial sino-latino-americana. Evan Ellis
desenvolvimento historicamente disfuncionais.
(2008), autor de um livro sobre as relações China-
América Latina, preocupa-se que, dentro dos Outro estudo importante nesse aspecto,
países latino-ame-ricanos, o retorno corrente das embora focando mais diretamente nas críticas à
exportações de commodities é apropriado, dependência, é um relatório do Banco Mundial
principalmente, por elites econômicas ou políticas. sobre ciclos de expansão e contração de
Ao mesmo tempo, Ellis também se preocupa com commodities na América Latina (SINNOTT,
o fato de que, em um nível comparativo NASH & DE LA TORRE, 2010). O relatório vai
internacional, as exportações chinesas de muito além das críticas à dependência acima
manufaturados são um condutor mais estável para descritas ao argumentar que os ganhos privados
o crescimento da própria China do que as e governamentais advindos da explosão de
exportações de commodities o são para a América exportações baseadas em recursos naturais, se
Latina (idem, p. 286-288). Assim, o que alguns canalizados e utilizados de maneira efetiva, podem
caracterizam como uma relação mutuamente fortalecer um desenvolvimento sustentável de longo
prazo na região. Focando as críticas anteriores
quanto à dependência e à explosão de commodities,
são mais normalmente ouvidos com relação à África. Para o relatório aponta que o argumento dos termos de
um argumento sobre como conceitos do gênero de troca de Prebisch pode ser contrabalançado por
“neodependência” ou “interdependência pós-colonial” políticas cambiais apropriadas e diversificação de
podem lançar luz sobre a relação da China com a África, exportação (idem, p. 48-50, 60).
ver Rupp (2008). Apesar das críticas, certos líderes
governamentais e corporativos acolhem um potencial Não obstante, ao tornar público o relatório,
aumento do investimento chinês na América Latina em um de seus autores e Economista-Chefe do Banco
ferrovias, autoestradas, pontes e infraestrutura de portos. Mundial, Augusto de la Torre, chama atenção para
Para mais sobre a visão positiva brasileira acerca de
uma hipótese elementar sobre a qual esses outros
potencial investimento futuro da China em infraestrutura
no país, ver The Beijing Axis (2010). Um aumento do achados mais otimistas foram baseados:
desenvolvimento de infraestrutura chinesa na região “presumindo que a demanda asiática por
também tem o potencial de produzir uma espécie de efeito exportação de soja da Argentina, minério de ferro
de “aprisionamento” pelo qual a infraestrutura financiada do Brasil, cobre do Chile, peixes e minerais do
e construída pela China cria ligações com a América Latina Peru e outras commodities latino-americanas
que poderiam resistir aos choques de curto prazo na
continue, a região está em uma ótima posição para
demanda ou na oferta (eu agradeço a Jean-Marc Blanchard
por essa sugestão). lucrar sobre seus recursos naturais” (AGUILAR,
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mudanças. Essas mudanças afetaram não só o milênio a China começa uma reversão dramática,
padrão de desenvolvimento doméstico chinês mas inesperada e não planejada em direção a uma
também afetaram significativamente a relação produção industrial pesada. Entre 1985 e 2002 o
econômica e política da China com a comunidade crescimento industrial chinês foi constante, mas,
global. Muitos economistas apontam que desde depois de 2002, a economia da indústria pesada
os primeiros anos do século XXI a economia da China experimentou uma explosão
doméstica da China e sua relação com a economia extraordinário. A proporção total do PIB foi
global tornaram-se crescentemente “desequilibra- responsável por praticamente todo esse aumento.
das”20. Enquanto o crescimento total continuou No espaço de cinco anos, o tamanho relativo da
em ritmo acelerado a uma média de quase 10%, produção industrial pesada (aço, metais, químicos,
outros componentes do padrão de desenvol- energia eólica, produção de papel e todos os
vimento chinês mudaram dramaticamente. Fora setores intensivos em eletricidade) na economia
da China, entre as mais discutidas dessas praticamente triplicou. Isso não teve precedentes
mudanças estão o aumento do superavit comercial na história econômica da China (CÂMARA
chinês e, com ele, da participação do país em EUROPÉIA DE COMÉRCIO, 2009).
reservas estrangeiras 21. No entanto, dentro da
Evidências dessa transformação começaram
China é o aumento no desenvolvimento industrial
a aparecer por volta do ano de 2001, quando a
pesado, muito do qual tem ido alimentar a rápida
China testemunhou um aumento inesperado da
urbanização e o desenvolvimento de infraestrutura
intensidade e do crescimento da demanda total
conduzidos pelo Estado, que tem impactado no
de energia23. Durante todo o período de reforma
volume e no preço de entrada de commodities
do final dos anos 1970 até 2011, a intensidade
latino-americanas essenciais (especialmente
energética da China esteve em declínio na medida
minerais e energia). Simplificando, a América
em que o país passava da indústria pesada para a
Latina se vinculou a um boom de commodities
manufatura leve24. Enquanto o país cresceu a
conduzido pela China, que por seu turno foi
uma taxa média acima de 9% durante esse período,
abastecido em parte substancial por uma
o crescimento energético permaneceu à média de
decolagem na produção industrial pesada chinesa.
apenas 4%. Por volta de 2001 esse cenário
Desde o início de suas políticas de “reforma e começou a mudar conforme a intensidade de
abertura” ao final dos anos 1970, a China energia acentuou-se, e o aumento da demanda por
distanciou-se do modelo de desenvolvimento energia disparou para 13% ao ano, ultrapassando
industrial pesado de capital intensivo do “Grande assim o crescimento global do PIB (ROSEN &
Salto” da Era de Mao em direção a uma
dependência de manufatura leve de trabalho
intensivo 22. No entanto, logo após a virada do
de desenvolvimento industrial sob o poder de Mao, ver
Naughton (2008).
20 Avaliar esses desequilíbrios tornou-se um ponto de
23 A ascensão da China em 2001 à Organização Mundial
contenda dentro e fora da China. Para exemplos de pesquisa
de Comércio (OMC) foi, de modo claro, parte de um
relacionada, ver Yongding (2007), McKinnon e Schnabl
esforço estratégico maior para inserir firmemente a China
(2009) e Pettis (2010a).
na economia global. Juntamente com os esforços chineses
21 Enquanto a China experimentou de modo consistente posteriores à crise financeira do Leste Asiático para manter
superavits comerciais entre 1% a 1,5% do PIB, de 1982 a reservas em moeda suficientes para permitir uma resposta
2002, os excedentes dispararam na última década. Iniciando política independente para potenciais choques monetários,
por volta de 2003, os superavits começaram a subir e, em a entrada da China na OMC é notável como parte de um
2007, atingiram 11% do PIB (ANDERSON, 2009, p. 25). esforço político concertado para dar continuidade à
Com a conta de capital fechado da China e a taxa de câmbio reforma da economia chinesa. Mais pesquisas precisam
controlada, esses excedentes traduziram-se em reservas ser conduzidas sobre a conexão entre os fatores políticos
cambiais, rapidamente crescentes, de quase US$ 2,5 e econômicos por trás das mudanças dramáticas na
trilhões em 2009. Essa cifra representa cerca de 50% do trajetória de desenvolvimento da China no início dos anos
PIB da China e aproximadamente 5-6% do PIB global, 2000.
que em termos históricos só foi igualado pelos Estados 24 Para um claro resumo da reversão da China para um
Unidos na década de 1920 e pelo Japão no final da década
padrão de desenvolvimento de indústria pesada intensiva
de 1980 (PETTIS, 2010b).
em energia, ver Rosen e Houser (2007). Para mais sobre a
22 Para uma explicação do modelo do “Grande Impulso” intensidade energética chinesa, ver Andrews-Speed (2009).
118
REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 19, Nº SUPLEMENTAR: 105-130 FEV. 2011
HOUSER, 2007, p. 6-7)25. O fator-chave que Conforme a produção da indústria pesada dentro
conduziu o aumento na intensidade e na demanda da China subiu, também subiu a demanda por uma
energética foi o incremento na manufatura gama de commodities de insumos importados para
industrial pesada de produtos como o aço, o alimentar a demanda florescente.
cimento e os químicos (ver o Gráfico 3).
O caso do aço e do minério de ferro exemplifica produção chinesa de aço bruto cresceu anualmente
de maneira clara como o rápido aumento na a uma taxa de 18,3% (em comparação com 4,3%
produção doméstica chinesa de indústria pesada no resto do mundo) (WYK, 2010, p. 7). A
levou a uma explosão global em commodities importadora líquida de aço em 2002, a China
minerais específicas26. Apenas entre 2002 e 2005, tornou-se a maior produtora mundial de aço em
a produção chinesa de ferro e aço, como 2007, respondendo por 37% da produção mundial
porcentagem do PIB, aumentaram de de aço bruto daquele ano (YONGDING, 2009, p.
aproximadamente 1,5% para mais de 3% (idem, 8). E em 2010 a China já era responsável pela
p. 8). Começando no princípio dessa década, a produção de quase metade do aço do mundo
(WYK, 2010, p. 7). Para colocar em perspectiva
a velocidade dessa transição, em 2002 a
importação chinesa de aço ultrapassava sua
25 Dentro da China, alguns estudiosos e autoridades
exportação em 450%, mas em 2006 a exportação
expressaram-se com alarme sobre como o rápido aumento excedia a importação em 230% na medida em que
na demanda por recursos energéticos exacerbou
a China se tornou o maior produtor e exportador
preocupações de segurança energética. Por exemplo, ver
Daojiong (2006). de aço no mundo (ROSEN & HOUSER, 2007, p.
13) 27. Enquanto a maior parte dessa rápida
26 Além de ser o principal consumidor de minério de
ferro, em 2008 a China tornou-se o consumidor número
um de cobre, alumínio, níquel, zinco e estanho e o número
dois no consumo de petróleo. Por causa da crise financeira 27 Como o economista do UBS Jonathan Anderson aponta,
a demanda chinesa por commodities enfraqueceu-se no a transição da China para uma posição de exportador
início de 2009 mas recuperou-se rapidamente depois disso. líquido de aço implicou primeiro o controle das fatias de
Ver Wyk (2010, p. 6). mercado estrangeiras dentro da China e então a expansão
119
AS RELAÇÕES ENTRE CHINA E AMÉRICA LATINA
120
REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 19, Nº SUPLEMENTAR: 105-130 FEV. 2011
121
AS RELAÇÕES ENTRE CHINA E AMÉRICA LATINA
aumentos da poupança não têm sido impulsionados comerciais antes da crise financeira, elas
pelas famílias, mas pelo aumento da poupança claramente tem-se tornado uma grande
empresarial, a qual subiu, aproximadamente, de preocupação. Em muitos aspectos o investimento
15% para 26% do PIB entre 2000 e 2007 (idem, estatal chinês, seja por meio de canais de
p. 27). Isso significa que o aumento das poupan- investimento diretos ou indiretos, tem se traduzido
ças empresariais, muitas das quais são empresas em um aumento da produção industrial pesada,
estatais, tem sido canalizado para mais inves- tendo como resultado final uma “corrida do ouro
timentos. No nível microeconômico, as possibili- na indústria pesada” (ROSEN & HOUSER, 2007,
dades crescentes de lucros da indústria pesada p. 12).
foram reforçadas por políticas governamentais
VIII. EFEITOS DA RESPOSTA CHINESA À
locais destinadas a aumentar as taxas de cres-
CRISE FINANCEIRA: EXCESSO DE
cimento local e atrair investimentos. Por exemplo,
CAPACIDADE E AUMENTO DE INSTA-
como parte da competição para promover o
BILIDADE
crescimento, governos locais têm frequentemente
oferecido insumos subsidiados, incluindo terra, Se as condições para essa corrida do ouro na
água e eletricidade, para uso industrial produção industrial pesada, e as condições para a
(EUROPEAN CHAMBER OF COMMERCE, necessidade de matérias-primas, estavam postas
2009, p. 14). Ilustrando o impacto dessas políticas antes da crise financeira global, elas somente têm
nas margens de lucro da indústria pesada, no final sido exacerbadas pela resposta chinesa à crise.
dos anos 1990 os lucros desse tipo de indústria Particularmente, o crédito tornou-se ainda mais
pairaram perto de zero, mas em 2007 subiram barato e mais abundante como resultado do pacote
entre 4% e 7% em indústrias como as de aço, de estímulo chinês de quatro trilhões de Yuan,
vidro e cimento, superando muito as homólogas acompanhado das políticas expansionistas de
manufaturas leves (ROSEN & HOUSER, 2007, crédito promovidas por autoridades locais e
p. 10, 12). centrais na esteira da crise financeira 34 . O
resultado foi uma rápida recuperação na taxa de
Em indústrias pesadas como a do ferro,
crescimento da China, que inspirou alguns a
autoridades do governo central chinês têm-se
elogiarem o pacote de estímulo chinês como o
preocupado com o investimento excessivo há
“padrão ouro” global. Entretanto, o pacote de
muito tempo, bem como com a falta de
estímulo e a frouxa política monetária chinesa têm
concentração industrial (YAP, 2009). No entanto,
levado a uma preocupação generalizada sobre a
tal supercapacidade doméstica tem sido estimulada
formação de bolhas de capacidade (em indústrias
e absorvida por oportunidades para a exportação.
pesadas como o aço e o cimento) e de ativos (nos
Além de subsídios à exportação de determinados
mercados de ações e imobiliário)35. Além disso,
produtos industriais pesados, a exportação de
há um consenso geral dentro e fora da China de
excessos da capacidade industrial pesada tem sido
que, a fim de ajudar a solucionar os desequilíbrios
auxiliada pelas políticas cambiais do governo
domésticos e internacionais, a China deve afastar-
central. Mantendo o valor do Yuan baixo, a China
se de sua dependência da demanda externa e
tem efetivamente permitido a seus produtores
avançar em direção a um padrão de crescimento
aumentarem a participação no mercado global em
baseado no consumo 36. Na realidade, porém, a
determinados setores econômicos (ANDERSON,
resposta chinesa à crise financeira tem feito pouco
2009)33. Entretanto, se as exportações da indústria
pesada causaram pouco atrito com os parceiros
122
REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 19, Nº SUPLEMENTAR: 105-130 FEV. 2011
para corrigir esses desequilíbrios e, em vez disso, de grande parte do consumo de aço interno (cf.
tem estimulado ainda mais o investimento YAP & CAMPBELL, 2010; YAP & ZHANG, 2010).
excessivo na indústria pesada e em outras Na década de 1990, as autoridades do governo
manufaturas que dependem das exportações e, central preocuparam-se com a falta de
portanto, da demanda externa. consolidação da indústria de aço chinês e
declararam suas intenções de interromper a
Mais uma vez, o setor siderúrgico fornece um
capacidade excessiva e concentrar a produção em
exemplo perfeito de preocupações com a
um número limitado de grandes empresas estatais
capacidade excessiva, assim como dá sinais de
de aço (NAUGHTON, 2009a, p. 3-4). Apesar dos
que o setor já pode estar submetido a um
profundos desafios na implementação efetiva dessa
realinhamento dirigido pelo Estado, o qual está
agenda, esforços iniciados em 2010 para controlar
afetando a demanda por minério de ferro.
o setor siderúrgico estão começando a engrenar,
Enquanto no resto do mundo a produção de aço
em parte por causa de preocupações elevadas
decresceu aproximadamente 21% em 2009, a
sobre os efeitos do excesso de aço e de outra
chinesa aumentou 13,5% (BURNS, 2010). Além
capacidade industrial pesada nas relações
disso, das 700 milhões de toneladas de aço
comerciais, assim como o uso de energia
produzidas na China em 2009, somente 560
doméstico chinês, para não mencionar a ansiedade
milhões foram consumidas internamente (CHINA
sobre o superaquecimento do mercado imobiliário
MINING ASSOCIATION, 2010). Na primeira
do país. Os esforços da China para controlar a
parte de 2010, com a economia chinesa
produção de aço e para resfriar o mercado
respondendo rapidamente ao pacote de estímulo
imobiliário superaquecido conduziram a uma
e à inundação de crédito barato, a produção de
montanha russa em 2010 para importações,
aço e a exportação continuaram a crescer a taxas
preços e transporte de minérios de ferro do Brasil
de mais de 200% comparadas com o ano anterior
e de outros fornecedores-chave na América Latina
(YAP & ZHANG, 2010). Com o excesso de
e em outros lugares (YAP & CAMPBELL, 2010).
capacidade dependente da diminuição da demanda
externa dos países mais industrializados da IX. CONCLUSÕES
América do Norte e da Europa, as tensões
No final das contas, as relações entre China e
comerciais têm sido rápidas de acompanhar. De
América Latina são mais bem compreendidas
fato, “entre os numerosos produtos feitos na
como complementares ou dependentes? Essas
China influenciados por atritos no comércio
perspectivas claramente representam dois lados
internacional, a indústria siderúrgica chinesa tem
da mesma moeda, capturando uma tensão básica
sido a mais atingida” (THE CHINA SOURCING,
entre o otimismo e a ansiedade que a rápida
2010). A supercapacidade não tem sido apenas
expansão das relações econômicas entre China e
uma fonte de preocupações comerciais, mas é
América Latina gerou. Embutidos nesse cenário,
cada vez mais uma preocupação para os
entretanto, estão suposições mais complexas sobre
planejadores do governo chinês, que desejam
os benefícios relativos e a sustentabilidade da
reduzir o consumo doméstico excessivo de
recente florescida relação comercial e de
fontes de energia que tem acompanhado o
investimento China-América Latina. A comple-
aumento da produção industrial pesada (CHINA
mentaridade implica equilíbrio e estabilidade: a
MINING ASSOCIATION, 2010).
América Latina, com abundância de recursos
O resultado foi que em 2010 as autoridades naturais, continuará a fornecer a matéria-prima
do governo central chinês começaram a decretar necessária para abastecer a trajetória de desenvol-
medidas para reduzir a produção interna de aço e vimento chinesa, que parece inevitavelmente
diminuir os incentivos para exportar o excesso ascendente. A dependência implica um senso de
de capacidade. Essas medidas começaram a tomar desigualdade e uma falta de sustentabilidade: a
forma em meados de 2010, com a China América Latina está caindo em velhos hábitos de
revogando uma redução de 9% da taxa sobre o dependência excessiva de exportação de produtos
valor agregado para as exportações de aço e, primários enquanto a China move-se para a
posteriormente, procurando restringir o progressão do desenvolvimento industrial e
crescimento do crédito como parte de um esforço manufatureiro. No entanto, este artigo demonstra
maior para desacelerar o mercado imobiliário que as questões sobre a saúde e a sustentabilidade
superaquecido, que é a principal fonte de demanda dos laços econômicos entre China e América
123
AS RELAÇÕES ENTRE CHINA E AMÉRICA LATINA
Latina somente podem ser respondidas prestando Mais surpreendente, entretanto, é como,
atenção mais cuidadosa às particularidades do freqüentemente, mesmo aqueles que são sensíveis
surto de commodities liderado pela China. a uma perspectiva mais crítica de dependência
estão dispostos a assumir o fim do surto de
Avaliações sobre a saúde e a sustentabilidade
commodities como uma possibilidade remota.
dos laços econômicos China-América Latina
Como um estudo recente nota, “debates sobre o
requerem uma nova ênfase em alguns conhecidos
desenvolvimento na América do Sul têm, por cerca
bem fatos, assim como o destaque de alguns
de meio século, girado precisamente em torno do
fenômenos bem menos discutidos, mas igual-
imperativo de quebrar a dependência regional em
mente importantes. Primeiramente, a decolagem
exportações de matérias-primas, especialmente
dos laços econômicos entre China e América
tendo em conta os efeitos deslocados da doença
Latina tem sido impulsionada pela demanda chinesa
holandesa e outros problemas estruturais associa-
por commodities latino-americanas. Exportações
dos com tal modelo. A celebração das oportunida-
latino-americanas para a China, e o crescente
des de exportação fornecida pela emergência
investimento chinês na América Latina, têm sido
chinesa tem, conseqüentemente, algo de estranho
dominadas pela demanda chinesa por minerais,
nela” (PHILLIPS, N., 2010, p. 188-189).
energia e commodities agrícolas latino-ame-
ricanas. Em segundo lugar, o momento específico Os relatórios da Cepal e do Banco Mundial
da decolagem de importações chinesas das (e discutidos acima são exemplos perfeitos de como
investimento nas) matérias-primas da América aqueles que compreendem melhor do que a
Latina é de crucial importância. A América Latina maioria essas preocupações históricas estão,
não tem sido simplesmente esboçada nos ventos todavia, dispostos a pôr de lado a possibilidade
do milagre econômico chinês dos últimos 30 anos de que a demanda chinesa por commodities pode
ou mais, mas, em vez disso, tem pegado uma ser propensa à instabilidade. Salientar como os
fase específica do ciclo de desenvolvimento países e empresas latino-americanos exportadores
chinês, que em aspectos fundamentais tem sido de commodities têm uma oportunidade, bem como
bastante diferente do que veio anteriormente. A uma obrigação, de manejar os ganhos do surto
crescente demanda por commodities latino- de commodities de uma maneira sustentável, justa
americanas e de outros países ricos em recursos e responsável é perfeitamente razoável. Contudo,
tem correspondido a uma mudança na trajetória a falha em melhor entender as raízes da demanda
de desenvolvimento doméstico chinês, afastando- chinesa por commodities específicas e os sérios
se da manufatura leve e média baseada em trabalho desafios enfrentados pela China na regulamentação
intensivo e aproximando-se da (super)produção dos mercados responsáveis por tais demandas
industrial pesada com capital intensivo. pode muito bem servir como base para
expectativas frustradas quanto à estabilidade
Com esses dois fatos básicos em mente é mais
chinesa como motor do crescimento da América
fácil acender uma luz sobre o elefante na sala: o
Latina. Se as expectativas daqueles que estão
que acontece se e quando o surto de commodities
beneficiando-se mais da complementaridade
dirigido pela China terminar ou tornar-se propenso
forem decepcionadas, então haverá também alto
a maior volatilidade? Naturalmente, a perspectiva
potencial para aprofundamento de atritos
de complementaridade nos leva para longe,
comerciais com aqueles na América Latina e
mesmo para contemplar esta questão, já que ela
Caribe que já se encontram competindo cada vez
não somente assume a continuação suave do
mais com as importações da China. Em última
rápido desenvolvimento ascendente chinês, como
análise, se parciais quanto à perspectiva da
também assume a continuação do papel latino-
dependência ou da complementaridade, muitos do
americano como um fornecedor de matérias-
que estão participando ou observando o surto
primas necessárias para abastecer esse desenvol-
contínuo nas relações China-América Latina
vimento. E aqueles que reconhecem que a América
parecem ser pegos de surpresa em um ciclo de
Latina pode estar vinculada a uma fase específica
do crescimento chinês (a idéia de que o surto de
commodities da China é simplesmente parte de
um “superciclo de commodities” secular e
virtuoso) distraem-se de qualquer preocupação 37 Para mais sobre os “superciclos” de commodities
sobre como o surto pode acabar 37. seculares e a China, ver Rogers (2007; 2008).
124
REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 19, Nº SUPLEMENTAR: 105-130 FEV. 2011
expectativas crescentes que são reflexo mais de crescentemente sido expressas por proeminentes
uma mentalidade de corrida do ouro do que de funcionários do governo chinês, bem como do
uma sóbria reflexão. ramo de negócios40.
Mesmo se tais expectativas crescentes são em O que permanece, então, é uma incompa-
parte orientadas pelo que o economista, ganhador tibilidade potencialmente volátil entre as altas e
do prêmio Nobel, Paul Krugman chamou de crescentes expectativas de um surto de commo-
“extrapolação ingênua das tendências passadas”, dities em curso, de um lado, e a possibilidade real
este artigo também deixou claro que um enfoque de que setores específicos da economia chinesa
mais cuidadoso na política econômica interna (por exemplo, a indústria siderúrgica e/ou o
chinesa demonstra os vários desafios enfrentados mercado imobiliário) enfrentem correções
pela China na manutenção de seu ritmo acelerado governamentais ou induzidas pelo mercado, as
de crescimento (KRUGMAN, 1994). Preocupa- quais terão um impacto sobre a demanda por
ções com os desequilíbrios econômicos internos importações de commodities. O argumento
e externos, com as bolhas de capacidade e ativos, apresentado aqui não é que a economia chinesa
e com a inflação, são apenas algumas das muitas enfrenta uma crise iminente, mas simplesmente
questões no centro das discussões e debates que certos setores da economia, no centro da
chineses e internacionais sobre a saúde e o futuro demanda chinesa por várias commodities latino-
da economia chinesa. Esses grandes desafios americanas, enfrentam sérios desafios e são
econômicos estão muito amarrados à demanda reconhecidos por funcionários do governo central
chinesa por commodities da América Latina e de chinês e outros analistas, dentro e fora da China,
outras regiões. Esse argumento também tem pela necessidade de reforma e regulamentação.
aparecido em um número pequeno, mas cres- Entretanto, especialmente à luz do elogio que a
cente, de análises de investidores internacionais China recebeu pelo gerenciamento de sua resposta
sobre a economia chinesa. Por exemplo, no final à crise financeira, mantendo altas taxas de
de 2009 e começo de 2010, o investidor de fundos crescimento doméstico e, assim, sustentando a
de hedges, James Chanos, ganhou as manchetes demanda por importações da América Latina, a
com sua observação de que o inflado setor percepção de que a China irá continuar a alimentar
imobiliário chinês parecia “Dubai vezes mil – ou o crescimento das exportações latino-americanas
pior” (BARBOZA, 2010)38. Chanos, quando mais continua elevado. Afinal, se a idéia do Consenso
tarde pressionado a comentar como um estouro de Pequim ou Modelo Chinês ganhou impulso é,
da bolha imobiliária chinesa poderia causar impacto em grande parte, porque alguns vêem na China
na economia mundial, disse que os mais expostos um modelo alternativo e fonte de desenvol-
seriam os exportadores de commodities, vimento.
especialmente nas áreas como as de minério de
Contudo, este artigo refutou a noção do senso
ferro 39 . Embora os comentários de diretores
comum de que, aparentemente, a demanda chinesa
estrangeiros de fundos de hedge possam ser
por commodities da América Latina é simplesmente
descartados como especulativos, previsões de
decorrência do rápido crescimento da China em
uma desaceleração a curto e médio prazo têm
longo prazo. A América Latina não é de alguma
forma organicamente ligada a uma força
desenvolvimentista indestrutível chinesa, mas, em
38 Chanos foi bem claro ao dizer que ele não previu uma
quebra na economia chinesa, mas, em vez disso, que ele
estava convencido de que a bolha imobiliária chinesa
enfrentaria uma severa correção. 40 Um exemplo de tais projeções de diminuições nas
39 Ver a palestra de Chanos (2010) em Oxford, de 28 de taxas de crescimento do PIB inclui Lou Jiwei, o chefe do
janeiro de 2010. Ver também a entrevista de Chanos a fundo soberano chinês, observando que dentro dos
Charlie Rose, em 12 de abril de 2010 (ROSE, 2010). Em próximos três a quatro anos o crescimento chinês vai
um exemplo mais recente, Fitch Ratings fez uma simulação diminuir abaixo da tendência dos últimos 30 anos, e nos
do impacto potencial de uma desaceleração simulada do próximos 20 anos, provavelmente, ficará na média de cerca
crescimento econômico chinês para menos de 5% em 2011, de 6%. Ver Sanderson (2010). Para maiores informações
a qual destaca o grande impacto negativo nos “setores de sobre as crescentes previsões pessimistas sobre a
energia e commodities” latino-americanos (FITCH desaceleração do crescimento econômico chinês no curto
RATINGS, 2010, p. 8). ao médio prazo ver Michael Pettis (2010c).
125
AS RELAÇÕES ENTRE CHINA E AMÉRICA LATINA
vez disso, é vinculada a uma fase específica do Do lado latino-americano, especialmente para
desenvolvimento chinês que tem cada vez mais aqueles países exportadores de commodities que
apresentado uma série de desequilíbrios, que por têm visto a China tornar-se rapidamente o seu
sua vez têm suscitado amplas preocupações, das principal destino de exportações, é imperativo
mais variadas, e pedidos de reforma. Os mais desenvolver um entendimento com mais nuances
conscientes desses desafios são as autoridades da economia política específica da demanda de
chinesas e os estudiosos que estão ativamente commodities chinesa. Ambos os lados devem,
trabalhando para a melhor compreensão e também, estar conscientes de como a linguagem
resolução desses desequilíbrios. Gerenciar o Sul-Sul e as relações de ganho mútuo alimentam
descompasso entre as expectativas infladas e os potencialmente expectativas demasiado otimistas
sérios desafios envolvidos na sustentação do de sustentabilidade da demanda de commodities
crescimento econômico estável chinês é no longo prazo. Gerenciar a atual disparidade entre
responsabilidade tanto de chineses quanto de expectativas elevadas e realidades mais
latino-americanos, bem como de outros desafiadoras não será fácil, mas certamente será
observadores interessados. Os líderes chineses mais fácil do que tentar controlar as
devem continuar a tentar trazer estabilidade aos conseqüências ao permitir que as bolhas de
problemáticos mercados internos para as expectativas estourem.
importações de commodities latino-americanas.
Matt Ferchen (matt.ferchen@gmail.com) é Doutor em Ciência Política pela Cornell University (EUA)
e Professor de Relações Internacionais na Universidade de Tsinghua (China).
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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 19, Nº SUPLEMENTAR: 145-148 NOV. 2011
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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 19, Nº SUPLEMENTAR: 151-154 NOV. 2011
dans le système international et la dépendance croissante de tous les pays par rapport à l’espace, on
explique que les raisons chinoises pour la coopération spatiale seraient la quête de sécurité, le
développement économique et la légitimité. En suite, on révèle le stade actuel de développement du
programme spatial chinois, particulièrement dans les domaines des satellites d’image, de la navigation,
de la communication et de la retransmission de données, bien comme dans les domaines des satellites
micro et nano. En ayant les stimulations structurelles, les objectifs stratégiques et le niveau actuel de
développement technologique, il est possible d’interpréter correctement les initiatives multilatérales
de la Chine dans le contexte mondial, avec le Comité des Nations Unies pour l’Utilisation Pacifique
de l’Espace Extra-Atmosphérique (Copous), bien comme dans le contexte régional, avec la récente
Organisation de Coopération Spatiale d’Asie-Pacifique (Apsco). De la même manière, il est possible
de comprendre le significat, la potentialité et les limites pratiques de la coopération bilatérale chinoise
avec le Brésil et l’Afrique du Sud, des puissances régionales hors de l’Asie. On conclut que la
politique de coopération spatiale chinoise vise à augmenter l’influence internationale de Beijing sans
produire des réactions excessives des autres puissances, reportant ainsi, une eventuelle militarisation
de l’espace et cherchant à construire des partenariats avec des puissances régionales encore
débutantes dans l’espace, mais ayant en vue l’avenir et les expectatives par rapport à l’impact de la
numérisation.
MOTS-CLÉS: la coopération spatiale ; le Programme Spatial Chinois ; la sécurité internationale.
* * *
LES RELATIONS ENTRE LA CHINE ET L’AMÉRIQUE LATINE : DES IMPACTS À COURT
OU LONG TERME?
Matt Ferchen
L’article met l’accent sur les relations d’affaires et d’investissements entre la Chine et l’Amérique
Latine dans les années 2000. Il y a trois interprétations principales, distinguées et liées, sur cet
ensemble de relations : pour la première, l’Amérique Latine, une région avec des ressources naturelles
abondantes, exporte des produits primaires à une Chine en expansion, mais en manque de ces
ressources. En soutenant celle-ci, nous avons ceux, y compris beaucoup de représentants éminents
du gouvernement, qui affirment que les relations économiques entre la Chine et l’Amérique Latine
sont fondamentalement complémentaires, ayant un effet positif pour toutes les deux. Toutefois,
d’autres observateurs soulignent que ce qui est vu comme une complémentarité, n’est en realité
qu’une manière renouvelée de dépendance latino-américaine. Ces auteurs disent que, malgré que
l’expansion rapide des affaires et investissements apporte des bénéfices à court terme pour les deux
côtés, cet espèce de relation basée sur des commodities, renforce les modèles dysfonctionnels de
développement de l’Amérique Latine, dont beaucoup de pays de la région ont renoncé il y a déjà
longtemps, et essaient d’oublier depuis plus d’un demi-siècle. En prennant cette discussion comme
référence, on présente premièrement, une vision générale des relations commerciales et
d’investissements entre la Chine et l’Amérique Latine, en soulignant le rôle important de la demande
chinoise pour les commodities latino-américaines. Deuxièmement, on décrit les différentes
interprétations sur ce qui conduit cette relation commerciale et quelles seraient ses conséquences.
Troisièmement, on présente l’argument, soutenu par nous, sur comment nous devrions comprendre
ce qui conduit les relations économiques entre la Chine et l’Amérique Latine et ce qui est en jeu. On
conclut en vérifiant les implications de nos découvertes avec l’idée selon laquelle, la Chine offre un
modèle unique d’économie politique nationale et internationale.
MOTS-CLÉS: les affaires ; les investissements ; la Chine ; l’Amérique Latine.
* * *
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