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Astrologia Mundial - Grandes Ciclos-Fernando Fernandes PDF
Astrologia Mundial - Grandes Ciclos-Fernando Fernandes PDF
Vejamos agora o critério de periodização que abarca períodos mais extensos e é indicador de
processos de maior amplitude: o conceito de eras astrológicas.
Na medida em que o pólo vai descrevendo seu lento movimento de bamboleio no céu, vai-se
alterando também a constelação zodiacal que serve de pano de fundo à passagem do Sol nos
equinócios. A constelação que marcava o equinócio de primavera no hemisfério norte na época de
Sócrates e de Platão era a de Áries; era Peixes quando Colombo descobriu a América; e, dentro de
pouco tempo, será Aquário. O ponto de interseção da eclíptica com o equador celeste, no equinócio
de primavera do hemisfério norte, é chamado de ponto vernal e marca o início do signo de Áries,
no zodíaco tropical utilizado pela Astrologia do Ocidente. Quanto o início da primavera no
hemisfério no hemisfério norte – o signo de Áries – coincidia com a passagem do ponto vernal pela
constelação do mesmo nome, estávamos na era de Áries. A passagem do ponto vernal para a
constelação de Peixes marcou o início da era de Peixes. Este movimento se dá no sentido contrário
ao dos signos do zodíaco, sendo chamado, por esta razão, de movimento precessional, que gera a
correspondente precessão dos equinócios.
A dificuldade para determinar quando a chamada Era de Aquário começa deve-se aos
diferentes sistemas zodiacais utilizados em diversos períodos. Pesquisadores modernos
contribuíram para a confusão ao considerar vários pontos de partida para suas
constelações zodiacais. (...) Astrônomos tornam a confusão ainda pior ao chamarem o
ponto vernal, que é móvel, de zero de Áries, e por usarem um sistema de determinação do
tamanho das constelações inteiramente diferente. O quadro seguinte mostra a variedade
de datas determinadas por várias autoridades astrológicas:
Observa-se, portanto, que não há unanimidade nem quanto à data de início da era de Aquário nem
quanto à própria duração do período precessional. De acordo com a fórmula do prof. Simon
1
WILLIAMS, David. Simplified Astronomy for Astrologers. Tempe – Arizona, AFA, 1980.
Se não temos limites precisos, podemos pelo menos tentar compreender o sentido geral das três
eras historicamente conhecidas, que são as de Touro, Áries e Peixes. Mas como fazê-lo? O
astrólogo francês André Barbault, em A Crise Mundial, indica o caminho da analogia entre o
simbolismo de cada era e das civilizações que nela se desenvolveram ao afirmar:
É um fato, que esse relógio das eras parece corresponder-se, em linhas gerais,
com as diversas civilizações e religiões antigas. Assim, quando o Sol de primavera
se elevava na era de Touro, dominava o mitraísmo na Ásia Menor, cujo animal sa-
grado era o boi Ápis (analogia com o símbolo de Touro: o touro); o culto do
Minotauro, que evoca a lenda do bezerro de ouro semita, estava associado às
religiões de Súmer, da Síria, do Egito... Depois, quando o mesmo Sol atravessava a
era de Áries (cujo símbolo é o carneiro), a mesma raça estava sob a supremacia
espiritual de Amon-Rá, o deus solar egípcio, com cabeça de cordeiro; havia o culto
do velocino de ouro, do cordeiro pascal... Enfim, após dois milênios, estamos no
que se chama a era de Peixes, que é a era do Cristianismo; pois os primeiros
cristãos tomaram os peixes como emblema e sinal para reuniões secretas,
gravando-os nos muros das catacumbas e sobre suas primeiras sepulturas, sendo
o peixe sempre o animal de sacrifício na religião cristã. Além disso, o espírito do
cristianismo está conforme a psicologia do último signo zodiacal: abnegação,
2
caridade, humanidade...
A era de Touro
A era de Touro é aquela que se estende (muito aproximadamente) entre 4000 a.C e 2000 a.C. Ao
longo desses dois milênios, comunidades nômades de caçadores e coletores começam a
sedentarizar-se primeiro em torno da atividade pastoril e, logo depois, da agricultura. A fixação à
terra e às riquezes dela decorrentes é a marca registrada da era de Touro.
Uma era não expressa apenas os valores de um signo, mas também os do signo oposto e
complementar e, em menor escala, dos signos com que forma quadraturas. É como se o signo
dominante da era representasse o Ascendente simbólico do mundo, ponto de partida de uma cruz
cósmica que pode envolver todos os signos cardinais, fixos ou mutáveis. Assim, a era de Touro é
também a de Escorpião no Descendente, de Aquário no Meio-Céu e de Leão no Fundo do Céu.
Escorpião simboliza a força concentrada das águas, enquanto Touro rege as construções. O
represamento das águas através de enormes obras de engenharia e o aproveitamento prático dos
2
Citado em: CRISTOFF, Boris. La gran catastrofe de 1983. Buenos Aires, Ed. Martinez Roca, 1979.
Egito e Suméria são casos pioneiros de estados burocráticos, em que o escriba que registra o
montante dos tributos é tão importante na sustentação do poder do monarca quanto as tropas do
exército.
A era de Áries
A passagem da era de Touro para a era de Áries é marcada por uma onda de invasões de povos
bárbaros que, vindos das terras mais frias do norte, invadem as regiões férteis do Mediterrâneo, do
Oriente Médio, do Egito, da Índia e da China. A chegada desses invasores desestabiliza os grandes
impérios agrários, como o do Egito, e instaura momentaneamente o caos e a desordem. A
superioridade dos invasores é de ordem militar: utilizam carros de combate puxados a cavalo (uma
novidade) e armamentos de ferro e de bronze. O domínio do ferro, metal regido por Áries, é uma
das marcas que identificam os povos surgidos nesta era.
A reorganização da vida social, política e econômica dá-se, a seguir, em novas bases, em que a
agressividade bélica a serviço do expansionismo territorial desempenhará um papel preponderante.
O Egito da época de Amenófis III e de Ramsés II, já na era de Áries, é uma potência militar voltada
para a disputa com os hititas pelo domínio dos corredores comerciais do Oriente Médio, em
contraste com o Egito isolado e voltado para os valores da terra da era de Touro, na fase do Antigo
e do Médio impérios.
As invasões da era de Áries começam a trazer para o mundo civilizado os povos indo-europeus que
constituirão a base étnica dos futuros estados da Europa. Gregos, latinos, persas e os
conquistadores arianos que se estabeleceram na Índia são alguns dos povos que “entram na
História” neste período. Suas religiões cultuam valores masculinos, solares, em contraste com o
culto da terra e do princípio lunar e feminino, na era anterior.
Como Libra é o signo oposto e complementar a Áries, a marca libriana está presente em diversas
formulações religiosas, filosóficas e institucionais da última parte deste período, como o budismo
(uma religião abstrata, que valoriza o “caminho do meio”), o confucionismo (um código ético
voltado para a regulação das relações sociais) e o próprio direito romano, cujos pilares são
estabelecidos. Na Grécia, novas experimentações políticas e institucionais levam à democracia
ateniense, ainda restrita a uma pequena elite (os escravos e estrangeiros, que somavam juntos 90%
da população, não são considerados cidadãos), mas já incorporando mecanismos de debate e de
livre escolha entre posições conflitantes.
Na medida em que a era se aproxima de seu término, começa a verificar-se um lento deslocamento
do eixo de poder do Oriente para o Ocidente, especialmente após a formação do império helenístico
A era de Peixes
A era de Peixes é, antes de tudo, a era da Europa e da trajetória da civilização ocidental no rumo da
hegemonia planetária, processo que se afirma com maior força em sua quarta e última fase, que vai
da expansão marítima ibérica até os nossos dias.
Eis, então, o traço mais definitivo da era de Peixes: o deslocamento do eixo de poder da Ásia para a
Europa, sendo Europa praticamente um sinônimo de cristandade, ou seja, de um conjunto de povos
unidos pelo traço comum da religião cristã e da herança cultural greco-romana.
Para entender o significado da transição da era de Áries para a de Peixes, é preciso investigar o
período entre o quarto século a.C e o quarto século A.D. em busca de indicações do que
desaparecia neste período para dar lugar a algo novo. Um bom começo é considerar o efeito das
conquistas de Alexandre, cujo governo estendeu-se de 336 a.C a 323 a.C., sobre o mundo
civilizado:
Não é difícil perceber Alexandre como um agente precursor da era de Peixes, na medida em que
cumpre papéis piscianos: integrar, dissolver fronteiras, fundir, diluir as diferenças. Para alguns
3
SILVA, José Luiz Werneck da. & AQUINO, Rubim Santos Leão de. História Antiga e Medieval. Rio de
Janeiro, Guymara Ed., 1970.
O terceiro fator na transição de eras é o advento do Cristianismo, cuja ascensão deve-se antes de
tudo ao próprio conteúdo moral e religioso da nova crença, que apresenta os seguintes
fundamentos:
o monoteísmo que coloca a comunhão com Deus, o Pai, por intermédio de seu filho
Jesus; o amor a Deus e ao próximo, considerado como irmão; (...) o desapego aos
bens materiais, infinitamente inferiores aos bens no Reino Celestial; a igualdade, a
pureza e a humildade do coração; o perdão das injúrias e a caridade; enfim, a
salvação prometida aos que acreditassem e cumprissem seus ensinamentos,
enquanto os demais seriam condenados. (...) O próprio caráter universalista da
religião, imprimido por Paulo de Tarso (...) que pregou a conversão de todos os
homens, e seu ideal de igualdade de todos perante a divindade constituiu um
motivo de sucesso entre os pobres, os humildes e os escravos, tendo, por meio
destes, penetrado nos lares dos poderosos, influenciando inicialmente os filhos e
4
as esposas de seus senhores.
Vários desses traços remetem a conteúdos do signo de Peixes: o caráter universalista, o desapego, o
amor e a caridade sem fronteiras, a difusão entre os pobres e escravos. Outros, como a valorização
da humildade e da pureza, expressam o signo oposto e complementar, Virgem. A expansão do
Cristianismo foi grandemente beneficiada pela
vitalidade da civilização helenística, que criara vínculos comuns aos mundos grego,
oriental e romano. A língua grega serviu de veículo inicial de transmissão do
Cristianismo, tendo permanecido até metade do século III como a língua oficial da
religião cristã. (...) A unificação política do mundo mediterrâneo, sob a égide de
Roma, também contribuiu para a propagação da fé cristã. Com efeito, a
cristianização (...) foi facilitada pela existência de um denominador comum, o
Império, do qual as estradas eram um veículo de romanização e, posteriormente,
5
de divulgação do Cristianismo.
4
SILVA, José Luiz Werneck da. & AQUINO, Rubim Santos Leão de. Op. Cit.
5
Idem.
Entretanto, estabelecer um ponto de partida para o início da era de Peixes é importante como base
de referência para tentarmos investigar quando se dará o momento inicial da era seguinte – a de
Aquário.
Boris Cristoff, para sua infelicidade, desenvolveu esta interessante discussão num livro cuja
proposta maior revelou-se um enorme fracasso em termos de previsões coletivas: A grande
catástrofe de 1983, escrito no final dos anos setenta. Neste livro, Cristoff tenta provar, com base
em profecias e evidências astrológicas, que o ano de 1983 seria marcado por terríveis hecatombes
mundiais, incluindo gigantescos terremotos e o desaparecimento de países inteiros. Como nada
aconteceu, o livro caiu no esquecimento e, com ele, a discussão sobre as suberas.
Cristoff, aliás, parece ter incorrido em outros pecados: estabelece como ponto de partida da era de
Peixes o ano zero do calendário cristão, como se correspondesse verdadeiramente ao nascimento de
Cristo; estabelece para o Grande Ano de Platão uma duração de 25.200 anos, que não é aceita
unanimemente pelos especialistas; e dá para cada era uma duração de 175 anos, que também pode
ser contestada. A seguir, define o conteúdo astrológico de cada subera de forma um tanto
simplificada e esquemática, sem entrar em maiores considerações de ordem histórica ou cultural.
Tentaremos resgatar a proposta central de Cristoff de que uma era pode ser subdivida em doze
fases, cada uma carregando conteúdos do signo e casa correspondentes. Contudo, em vez de
estabelecer datas e, a partir daí, procurar processos históricos que correspondam ao simbolismo
astrológico, faremos o percurso oposto, que é buscar, no desenvolvimento da civilização ocidental,
momentos coletivos que carreguem um sentido deste ou daquele signo, para apenas depois tentar
uma periodização mais detalhada.
O sentido geminiano está em que esta fase pode ser considerada um grande laboratório de
experimentação de novas formas de organização política e social. Os bárbaros recém-chegados da
vida nômade das estepes apoderam-se dos sofisticados recursos do Império Romano e
experimentam um poderoso choque cultural, comportando-se como “macacos na cristaleira”. É a
adolescência da Europa Moderna.
Porém, o que impressiona no Império Bizantino desta fase é a preocupação canceriana e de casa 4
no sentido de resgatar o passado, reconstituir o fio da meada da trajetória da civilização romana,
restaurar as raízes do império. Tal tentativa revela-se artificial, pois a base populacional de
Bizâncio já não é latina, e sim grega. Este fato é reconhecido pelos imperadores subseqüentes,
especialmente Heráclio (610-641), que finalmente abandona o latim como língua oficial e adota o
grego na legislação, na administração e até mesmo na denominação dos cargos. Com Heráclio,
Bizâncio, cancerianamente, encontra sua raiz.
O século VII marca o surgimento de uma nova religião – o Islamismo – e a emergência política e
militar do povo árabe, até então destinado a um papel secundário em relação às principais correntes
civilizatórias. O sentido canceriano do Islamismo está presente até mesmo em seu símbolo máximo
– a Lua crescente. Esta fase corresponde ao atingimento do primeiro quarto da era de Peixes, sua
casa 4 simbólica, cujo sentido é o da fixação das bases emocionais e das raízes ancestrais da
civilização. O Islamismo cumpre bem este papel, indo resgatar elementos do judaísmo, do
cristianismo e dos cultos tribais para sintetizá-los numa religião simples e de grande impacto
popular. O Islamismo expandiu-se rapidamente movido, entre outros fatores, por um intenso
emocionalismo, que é um traço canceriano. Ao mesmo tempo, a Europa Ocidental assiste a
tentativa de consolidação dos reinos bárbaros que, passada a turbulência dos séculos anteriores,
iniciam um processo de fixação à terra e de delimitação de territórios.
No Oriente, duas outras potências também estendem-se por enormes porções territoriais: o Império
Bizantino e o Califado de Bagdá, em plena fase de apogeu sob o governo de Harum-Al-Raschid.
Esta fase leonina, de centralização e estabilização, expressa também conteúdos de casa 5
(criatividade, auto-expressão) na retomada da produção cultural, que atinge níveis altamente
florescentes entre os árabes e manifesta-se na forma do “renascimento carolíngio” do Ocidente.
6
Idem.
Surgem o Sacro Império Romano Germânico, raiz da futura Alemanha, e o reino da França. Os
séculos X e XI representam o apogeu do feudalismo. A virada do milênio encontra uma Europa
agrária, compartimentada em unidades políticas e econômicas descentralizadas, que funcionavam
na prática como pequenos Estados independentes. Em 1066, os normandos (descendentes dos
vikings que se estabeleceram na costa francesa e assimilaram a cultura dos francos) invadem as
Ilhas Britânicas e instauram uma nova dinastia. É a origem da Inglaterra moderna.
Outro fato importante que marca essa época é a definitiva cisão, em 1054, entre as igrejas de Roma,
chefiada pelo papa, e de Bizâncio, chefiada pelo patriarca de Constantinopla. É o Grande Cisma
(cisão), que dividirá, daí em diante, a cristandade em dois blocos: católicos na Europa Ocidental e
ortodoxos na Europa Oriental.
Por outro lado, desencadeia-se nos séculos X e XI um processo de aperfeiçoamento das técnicas
agrícolas que resulta no aumento gradativo da produtividade e na geração de excedentes para o
comércio. É desse movimento que virá, já na fase Libra, o renascimento comercial e urbano da
Europa, a partir da segunda metade do século XI.
As décadas que marcaram mais fortemente este período são as que vão de 1488 – chegada de
Bartolomeu Dias ao cabo das Tormentas, no extremo sul da África – à primeira viagem a dar a
volta à Terra por mar, por Fernão de Magalhães, entre 1519 e 1522. Entre uma e outra, a chegada
de Colombo à América, em 1492, e de Vasco da Gama às Índias por mar, em 1498.
Nesta mesma fase, ocorre também a Reforma Protestante, iniciada por Lutero e aprofundada por
Calvino. Enquanto navegantes e piratas exploram os mais longínquos oceanos, a Europa mergulha
em sangrentas guerras de religião. Não é preciso lembrar que tanto as longas viagens quanto a
religião organizada são assuntos de Sagitário e de casa 9.
Toda a era de Peixes foi uma longa trajetória de ascensão da civilização ocidental em busca da
hegemonia mundial. Houve momentos de crise e de aparente retrocesso, especialmente na
passagem pelas casas que limitam o Fundo do Céu – a 3 e a 4 – e naquelas tradicionalmente
associadas a processos críticos, a 6 e a 8 (que simbolicamente estão em quincúncio com o
Ascendente da era). E houve um claro momento de expansão e de apogeu, na passagem pelas casas
A fase de casa 12 da era de Peixes pode ser identificada nos movimentos que começam a minar e a
ameaçar a hegemonia da civilização ocidental. Um marco notável foi a guerra do Vietnam, quando
os Estados Unidos experimentaram seu primeiro grande revés no papel de “polícia mundial”. Outro
delimitador foi a eclosão do terrorismo islâmico durante as Olimpíadas de Munique, em 1972. As
figuras encapuzadas dos membros do movimento Setembro Negro são pura casa 12: os inimigos
abertos da fase de casa 7 (cruzadas) tornam-se, modernamente, os inimigos ocultos que podem agir
a qualquer momento em pleno território ocidental. Ainda nos anos sessenta, o movimento hippie, as
manifestações pacifistas e de integração racial nos Estados Unidos e as revoltas estudantis por toda
parte começam a dar voz a uma inquietação latente sobre os rumos do “sistema”. Não é ainda a era
de Aquário: é o ocaso da era de Peixes, com toda sua carga de desencanto, dúvidas e perplexidade.
1973 marca a união dos produtores de petróleo – povos islâmicos, na maioria – para colocar contra
a parede os países industrializados do Ocidente, maiores consumidores do produto. 1979 é o ano do
renascimento do fundamentalismo islâmico, consubstanciado na tomada do poder pelos xiítas
iranianos.
Até a década de cinqüenta, o mundo ainda parecia em ordem. Apesar de toda a barbárie das duas
guerras mundiais, o Ocidente ainda era o dono do planeta. É nas décadas de sessenta e setenta que a
falência da civilização ocidental começa a prenunciar-se, de forma lenta, insidiosa e inexorável.
Conflitos históricos que se acreditavam absolutamente superados voltam à cena. Velhos ódios
étnicos e religiosos explodem outra vez, como se todos os ressentimentos acumulados ao longo da
era tivessem subitamente vindo à tona. As guerras civis de fundo étnico na Bósnia, no Kossovo, na
Chechênia e em outras regiões da Europa Oriental parecem o eco de velhas batalhas medievais,
mas não são apenas um anacronismo: são também uma recapitulação.
2 – Assinale a alternativa onde não há correspondência entre o processo histórico e a fase da era de
Peixes:
3 – Alguns personagens históricos parecem simbolizar especialmente o sentido de cada fase da era
de Peixes. Aponte a única alternativa em que os personagens não parecem ser uma boa escolha
para representar o espírito da fase relacionada:
a) Existe absoluta concordância em torno das datas de transição da era de Peixes para a era de
Aquário.
b) As eras astrológicas são decorrentes do movimento de precessão dos equinócios, que altera
gradativamente o ponto vernal.
c) Ponto vernal é o ponto inicial da constelação de Áries.
d) O movimento precessional explica porque, ao longo dos milênios, a passagem do Sol por
determinadas constelações acontece sempre nas mesmas estações do ano.
a) Introdução em larga escala de armas de ferro e supremacia dos povos que dominam a
tecnologia de sua produção.
b) Surgimento de grandes impérios agrários, dependentes do controle das águas dos rios e da
irrigação.
c) Deslocamento do eixo do poder da Mesopotâmia para a região do Mediterrâneo.
d) Desenvolvimento de grandes religiões monoteístas.
a) Touro ou casa 2.
b) Virgem ou casa 6.
c) Sagitário ou casa 9.
d) Peixes ou casa 12.
8 – Para utilizar um conceito muito comum em Astrologia Psicológica, cada fase da era de Peixes,
além de afirmar as características de um signo e de sua casa correspondente, ainda traz a “sombra”,
ou a manifestação negativa, do signo e da casa opostos. A propósito, aponte a única opção que não
relaciona corretamente um exemplo dessa manifestação negativa da polaridade:
Verifica-se que a maioria dos limites de datas corresponde ao simbolismo que identificamos nos
capítulos anteriores. Contudo, não temos a pretensão de considerar o quadro como definitivo, já
que esta é apenas uma das delimitações possíveis. Algumas observações fazem-se ainda
necessárias:
b) Este é um modelo que considera apenas o ponto de vista da Europa e do Oriente Médio.
Sua adoção deve-se à caracterização da era de Peixes como a era européia e ocidental por
excelência. Este fato, aliás, só se torna evidente a partir do último quarto da era, já que,
durante o primeiro milênio, alguns dos maiores focos de civilização estiveram no Oriente,
especialmente na Índia e na China.
c) O simbolismo de cada fase parece não esgotar-se em seus limites de tempo. Conteúdos
de cada fase são antecipados nas fases anteriores e sobrevivem nas fases seguintes. Estamos
falando aqui de traços dominantes, e não de uma caracterização fechada e excludente.
Mesmo com todos estes cuidados, não há como não observar que este modelo descreve com
adequada precisão a trajetória da civilização ocidental, do seu nascimento à crise que vivemos hoje.
É uma abordagem especulativa, mas perfeitamente factível.
Touro na casa 3 fala da dependência dos processos de comunicação aos suportes materiais: a
qualidade da comunicação e do ensino dependerá, em grande parte, da qualidade dos recursos
físicos disponíveis. Foi o que aconteceu, por exemplo, com a introdução do papel, mais barato que
o pergaminho, e da imprensa de Gutenberg, avanços materiais que tiveram profundas
conseqüências na vida cultural da Europa.
Apenas agora, na fase final da era atual e já no limiar da era de Aquário, o suporte da comunicação
começa a desmaterializar-se, como indicado pelo uso intensivo da eletricidade, de ondas de variada
espécie (o raio laser, por exemplo) e pela popularização da informática (Áries na casa 3 da era de
Aquário). Contudo, tal transformação é ainda limitada pelo fator econômico: o uso de recursos
como a Internet ainda depende da disponibilidade financeira para a aquisição de equipamentos,
sendo um reflexo natural disso o fato de que as populações carentes do terceiro mundo ainda
encontram-se à margem da aldeia global.
Gêmeos na casa 4 fala da pluralidade das origens étnicas e culturais das grandes civilizações da
era de Peixes. O próprio Cristianismo, seu marco fundador, já incorporou desde os primeiros
tempos elementos das culturas grega, judaica e romana, constituindo-se como religião de síntese.
Minorias étnicas e linguísticas foram e continuam sendo um problema da maior importância na
política interna da maioria dos Estados, da mesma forma como o sentido de pertencimento a uma
comunidade é determinado, em grande parte, pela língua. Como exemplos atuais, veja-se o caso da
Espanha, onde as minorias da Catalunha e das províncias bascas lutam ainda pela preservação do
1
Um astrólogo brasileiro que usa com freqüência tal esquema de raciocínio, sempre com resultados muito
pertinentes, é Antonio Carlos Siqueira Harres, o Bola.
Câncer na casa 5 corresponde ao princípio da fecundidade aplicado a dois assuntos desta casa: a
taxa de natalidade (a população da Terra nunca foi tão grande quanto nesta era, nem teve um
incremento tão rápido) e a exuberância da produção artística, um dos poucos saldos realmente
positivos da era de Peixes.
Leão na casa 6 indica, entre outras possibilidades, que os maiores avanços técnicos na área da
produção teriam relação com o elemento Fogo: as armas de combate, a máquina a vapor, o motor a
explosão. Mostra também a valorização das atividades produtivas de sentido análogo ao do signo,
especialmente a da produção dos artigos de luxo voltados para o consumo das classes dominantes.
Significa ainda as condições leoninas impostas ao trabalhador ao longo da era, obrigando-o ao
trabalho escravo ou servil em benefício de poucos.
Virgem na casa 7 expressa uma atitude seletiva e discriminatória frente à alteridade. Esta foi a
postura que predominou na Europa ao longo de toda a era, mudando apenas o rótulo atribuído ao
diferente: herege, pagão, infiel, bárbaro, gentio (aplicado aos nativos da América) e assim por
diante. O resultado foi a ausência de disposição integrativa, que levou a um relacionamento entre
desiguais sempre marcado pelo confronto.
Apenas por curiosidade, podemos perceber alguns sintomas da chegada da era de Aquário em
algumas mudanças que já se fazem sentir no tratamento de questões regidas por determinadas
casas. Por exemplo: Peixes na 2 da era de Aquário deverá indicar uma preocupação maior com o
sentido social da riqueza, assim como com a interdependência da economia mundial. Câncer na
casa 6 já se delineia na tendência cada vez maior ao trabalho doméstico (o escritório confundindo-
se com a própria residência) e, mais adiante, deverá traduzir-se por uma valorização do trabalho no
setor agrícola e de transformação de alimentos. Libra na 9 pode sinalizar o advento de uma era de
maior tolerância religiosa, enquanto Gêmeos na 5 trará, certamente, uma revolução nos métodos de
ensino básico. Mas tais considerações estão no terreno da especulação. Cumpre agora analisar o
outro uso que podemos fazer deste mapa simbólico da era: a de servir como uma estrutura de casas
para a análise dos ciclos dos planetas exteriores.
Com isso, é possível montar um quadro em que se sucedem os ciclos e as fases da era, como um
relógio cósmico que acompanha e delimita períodos da história humana. Sobre este quadro, cabem
algumas observações preliminares:
A periodização da era de Peixes em fases, apesar de analogicamente correta (todo ciclo pode ser
dividido em doze etapas, em correspondência com os doze signos e as doze casas), não apresenta
absoluta precisão nas datas que marcam o início de cada fase. É um esquema especulativo, que
pode sofrer algumas correções para mais ou para menos. Contudo, como a mudança de tônica de
uma fase a outra não se dá de chofre, mas sim de forma gradativa, a periodização é válida, servindo
os anos indicados no quadro apenas como um referencial aproximado.
2
Lugar Fechado, letra de Rubem Obelar publicada no boletim mimeografado Garra Suburbana, Rio de
Janeiro, 1976.
É importante observar também que cada ciclo tem uma área de aplicação específica, que depende
de sua duração e dos planetas envolvidos. Resumidamente, poderíamos dizer que os ciclos Netuno-
Plutão delimitam grandes mudanças na esfera cultural aproximadamente a cada dois milênios; os
ciclos Urano-Plutão aceleram a introdução de inovações tecnológicas e político-sociais,
caracterizando períodos de turbulência e mudanças bruscas; os ciclos Urano-Netuno, finalmente,
reforçam o sentido geral das fases da era de Peixes, quando caem no mesmo signo, ou servem-lhes
de contraponto, quando caem em signos diferentes. Na medida em que dissolvem ou abalam
estruturas do ciclo anterior, têm o papel de abrir caminhos para mudanças, se bem que nem sempre
de forma tão ostensiva quanto nos encontros Urano-Plutão.
Alan Meece, autor de Horoscope for the New Millennium3, defende o argumento de que as
conjunções Netuno-Plutão correspondem a fases de tremendas mudanças civilizatórias, turbulentas
e confusas enquanto ocorrem, mas sempre seguidas, um século depois, por um período de grande
renovação e florescimento cultural. O argumento procede, sendo amplamente confirmado pelos
fatos. Todavia, por que este intervalo de cem anos? Pode-se pensar que a conjunção Netuno-Plutão
funcione mais ou menos como um foco de dissolução e eliminação de modelos obsoletos, abrindo
caminho para a instauração de novas condições. As sementes destas seriam lançadas durante a
conjunção, mas necessitariam de algum tempo para florescer. Um século é mais ou menos um
quinto do tempo de um ciclo completo Netuno-Plutão. Se pensarmos em termos analógicos,
podemos associar este intervalo com o sentido do quintil, aspecto de 72º (um quinto da
circunferência) que costuma ser relacionado a talentos e à criatividade. Tais qualidades manifestar-
se-iam após a “limpeza de terreno” promovida durante a conjunção e nas décadas imediatamente
seguintes.
A conjunção de 578 a.C. acontece em 10° de Touro e prenuncia a ascensão e o apogeu de uma nova
civilização, a grega. A conjunção corresponde aproximadamente à época de profundas
transformações em todo o Mediterrâneo e Oriente Próximo, com o surgimento também da Pérsia
Aquemênida e da Roma republicana. Na fase do quintil, um século depois, Atenas estará no
apogeu.
Outra conjunção só viria a acontecer em 16°10’ de Touro, em 83 a.C. Esta fase coincide com
intensas lutas entre patrícios e plebeus na República Romana, já então a maior potência do
Mediterrâneo. Pouco depois, inicia-se uma sucessão de ditaduras, fase de transição para a
constituição do Império. Em 60 a.C., César assume o poder com Pompeu e Crasso, no primeiro
triunvirato; nos anos subseqüentes, expande o território romano mediante a conquista das Gálias e
inicia a campanha do Egito, que será completada por Otávio. Este, em 27 a.C., assume o título de
imperador. Todo o ciclo iniciado por esta conjunção coincide com os séculos do apogeu de Roma,
3
Llewellyn Publications, 1997.
Em 411, dá-se uma nova conjunção, desta vez em 23° de Touro. É o início de um período de cinco
séculos profundamente diferente do anterior: no lugar da Pax Romana, é hora da partilha da Europa
entre as tribos bárbaras chegadas no norte e do leste. Já com os dois planetas a apenas um grau da
conjunção exata, Alarico, rei dos visigodos, invade e saqueia Roma, prenunciando a queda
definitiva da cidade. Nas décadas seguintes, o império em decadência ainda sofrerá com a ameaça
dos hunos, em 452, e com a invasão da capital pelos vândalos, em 1455, até que em 476 o chefe
germânico Odoacro depõe o último imperador do Ocidente, no que é considerado o marco final da
Antiguidade. No século seguinte, o poderio do império ressurge, mas não mais em Roma, e sim em
Bizâncio, que terá dias de apogeu durante o reinado de Justiniano.
A conjunção Netuno-Plutão seguinte tem lugar no penúltimo grau de Touro, no ano de 905. Com a
derrocada final do que ainda sobrevivera do império de Carlos Magno, a Europa mergulha na fase
mais característica do regime feudal. Nas décadas subseqüentes, são gestados os dois reinos que
darão a tônica da geopolítica européia no milênio seguinte: formam-se o reino da França, sob a
dinastia dos Capetos, e o Sacro Império Romano Germânico, raiz da futura Alemanha. Um
acontecimento que exemplifica bem o enfoque cultural desta conjunção foi a fundação da abadia de
Cluny, na França, no ano de 910. Os monges cluniacenses terão papel fundamental na consolidação
do saber eclesiástico dos séculos seguintes, que estabelecerá o paradigma de conhecimento da
Europa medieval. Coincidentemente, este século também presencia o apogeu da cultura islâmica,
sob o Califado de Bagdá.
As coisas começam a mudar no final da Idade Média, já nas proximidades da primeira conjunção
Netuno-Plutão em Gêmeos. A adoção de técnicas agrícolas mais avançadas permite maior produção
em menores áreas, diminuindo a importância estratégica da extensão territorial. Gêmeos é um signo
de Ar, ligado aos processos mentais e à rapidez na aquisição de conhecimentos. O novo valor
dominante não seria a posse dos meios de produção, pura e simplesmente, mas o controle da
tecnologia de seu processamento. As potências emergentes a partir daí serão aquelas que farão um
uso inteligente da informação e desenvolverem canais adequados de troca – de conhecimento ou de
bens materiais. Não por acaso, o primeiro século do novo ciclo já presencia a primeira fase de uma
revolução comercial, com a expansão marítima européia, e uma outra revolução de caráter mais
sutil, mas não menos importante, na área da cultura. A avidez para testar, experimentar e inovar é
uma marca registrada desta fase iniciada em 1398. São os princípios geminianos que se afirmam,
em contraste com o relativo imobilismo dos séculos anteriores.
Por outro lado, a turbulência provocada por Tamerlão na Índia também contribuiu para criar um
clima de fragmentação política que viria a facilitar a criação das feitorias portuguesas, quase cem
anos mais tarde.
Netuno-Plutão em Touro
Netuno-Plutão em Gêmeos
Exercício de compreensão
Leia com atenção estes trechos retirados da obra Astrologia Mundial, de André Barbault:
Os caldeus admitiam que o mundo era alternativamente e de modo periódico inundado e queimado.
O período de reprodução desses fenômenos era aquele em que todos os astros errantes4 voltavam a
ocupar uma mesma posição em relação ao céu das estrelas fixas.
Através de Berósio (século III a.C.) sabemos o que ensinavam os babilônios a respeito do Grande
Ano cósmico. Infelizmente, não resta grande coisa da obra do grande sacerdote de Bel. O
fragmento de sua obra que trata desta doutrina foi conservado por Sêneca em suas Questões
Naturais, sem nenhuma dúvida citado na Meteorologia, hoje perdida, de Possidônio:
Uma conjunção perfeita das luminárias e dos planetas, quer dizer, de todos os astros do sistema
solar nos pontos solsticiais: esta é a configuração que determina o giro último em que morre um
mundo e nasce outro, sob um dilúvio de água ou de fogo, ponto de renovação do Grande Ano.
4
Planetas.
Platão, ao falar, no Timeu, da Gênese e da Criação, evoca o mais completo dos retornos periódicos,
aquele que, tomando os sete astros errantes em uma certa configuração e numa certa posição em
relação às estrelas fixas, devolve-os a uma posição idêntica:
Contudo, ao assinalar esta duração astronômica, Platão não dizia nada de novo, e sabemos que o
Grande Ano, ao qual se chamará platônico, já era muito bem conhecido antes dele.
2. Na visão platônica:
a) Cada novo Grande Ano traz novas condições de desenvolvimento para a humanidade.
b) O tempo é uma concepção cíclica, pois o novo Grande Ano restabelece as condições do
Grande Ano anterior.
c) A destruição e renovação do mundo se caracterizam, alternadamente, por dilúvios de água
e fogo.
d) Para caracterizar um Grande Ano, a conjunção de todos os planetas conhecidos deve
ocorrer nos pontos equinociais.
1 – Além de epidemias como a Peste Negra, a oitava fase da era de Peixes caracteriza-se pelo início
de um processo de nítida conotação Escorpião/casa 8. Estamos falando:
2 – Assinale a alternativa onde não há correspondência entre o processo histórico e a fase da era de
Peixes:
3 – Alguns personagens históricos parecem simbolizar especialmente o sentido de cada fase da era
de Peixes. Aponte a única alternativa em que os personagens não parecem ser uma boa escolha
para representar o espírito da fase relacionada:
a) Martinho Lutero, Cristóvão Colombo, Américo Vespúcio – fase Capricórnio/casa 10. [X]
b) Einstein, Pasteur e Oswaldo Cruz – fase Aquário/casa 11.
c) Osama bin Laden, “Chacal”, guerrilheiros da FARC e do IRA – fase Peixes/casa 12.
d) Luís XIV, Marquês de Pombal, Maurício de Nassau – fase Capricórnio/casa 10.
Comentário – Lutero foi o reformador (Escorpião) de uma religião (Sagitário). Ao dar início à
Reforma Protestante, dispara um processo de ampla discussão dos dogmas e dos evangelhos que
mergulhará a Europa em convulsões ideológicas por mais de um século. Lutero, ele próprio um
escorpiano, é uma das figuras mais intensas da fase Sagitário/casa 9 da era de Peixes. O mesmo
pode-se dizer de Colombo e Vespúcio, ambos viajantes, ambos aventureiros, ambos deixando um
legado de expansão dos horizontes civilizatórios (pura casa 9!) com a integração de grandes
regiões desconhecidas à esfera de influência européia.
a) Existe absoluta concordância em torno das datas de transição da era de Peixes para a era de
Aquário.
Comentário – Apenas a opção B está correta. Nas demais, eis os erros: não existe nenhuma
concordância sobre as datas de transição de eras, ao contrário do que afirma a opção A; o ponto
vernal é o ponto inicial do signo de Áries no zodíaco tropical, e não da constelação com o mesmo
nome (hoje o ponto vernal está transitando de Peixes para Aquário); e, finalmente, a passagem do
Sol por determinadas estações não coincide sempre com as mesmas estações. A passagem do Sol
pela constelação de Áries, que hoje acontece no outono do hemisfério Sul, já aconteceu no verão,
ao tempo da era de Touro, e dentro de alguns milênios delimitará o início do inverno.
a) Introdução em larga escala de armas de ferro e supremacia dos povos que dominam a
tecnologia de sua produção.
b) Surgimento de grandes impérios agrários, dependentes do controle das águas dos rios e da
irrigação. [X]
c) Deslocamento do eixo do poder da Mesopotâmia para a região do Mediterrâneo.
d) Desenvolvimento de grandes religiões monoteístas.
Comentário – Armas de ferro são típicas da era de Áries; o deslocamento do poder para o
Mediterrâneo ocorre no final da era de Áries e se consolida na era de Peixes. Já os impérios
agrários (agricultura – elemento Terra), que dependiam de grandes obras de irrigação (barragens
são um assunto do eixo Touro-Escorpião) se desenvolvem na era de Touro: Egito, Caldéia, China
antiga etc.
6 – A partir da leitura desta lição, fica claro que um dos momentos de maior retraimento da
civilização ocidental durante a era de Peixes aconteceu na fase:
a) Touro ou casa 2.
b) Virgem ou casa 6. [X]
c) Sagitário ou casa 9.
d) Peixes ou casa 12.
Comentário – O Islamismo, ou seja, a religião monoteísta cujos pilares foram deixados por
Maomé, é fruto da fase canceriana da era de Peixes. Até hoje a lua em fase crescente é o símbolo
do Islã, estando presente na bandeira de vários países do Oriente Médio.
Se pretendemos, por exemplo, entender as perspectivas do planeta nos anos 2003 e 2004, será que
poderemos chegar a grandes conclusões apenas pela análise dos trânsitos e progressões do mapa de
George W. Bush? Onde poderemos alcançar uma dimensão de análise mais coletiva e abrangente?
No mapa de Bush ou dos Estados Unidos? Do indivíduo ou da coletividade? Naturalmente, os
mapas de um país e de seu governante costumam estar em ressonância, já que o governante, de uma
certa forma, corporifica certas expectativas e tendências difusas, contribuindo para sua objetivação.
Seria ingenuidade pensar que Hitler e Stalin foram meros acidentes nas histórias da Alemanha e da
União Soviética. Não foram, pois havia condições históricas que tornaram possível a ascensão
desses líderes. E não vamos encontrar tais condições espelhadas apenas nas cartas natais de Hitler e
Stalin.
Para chegar logo ao ponto: quanto mais amplo e mais coletivo for o processo que estivermos
analisando, mais chance teremos de chegar a uma visão de conjunto que permita a compreensão de
personalidades e motivações individuais. E, do ponto de vista astrológico, quanto mais raro e
especial for o evento que consideramos, mais chances teremos de identificar significados que
remetam a processos históricos de natureza macroscópica. Os eventos mais raros são exatamente a
sucessão de eras (cada era durando mais de dois mil anos) e as conjunções de planetas trans-
saturninos. Trabalhando exclusivamente com estes indicadores, não vamos chegar a previsões
precisas e localizadas, mas vamos construir um cenário de vastas proporções, que constituirá um
pano de fundo seguro para análises mais factuais e específicas.
A exemplificação da técnica será feita, a seguir, com o complexo processo cultural que se
convencionou chamar de Humanismo e Renascimento. Para compreendê-lo, utilizaremos o
conceito de fases da era de Peixes e todos os ciclos de planetas trans-saturninos, considerando,
especialmente, os signos em que se deu cada conjunção e seus regentes.
O Humanismo precedeu e provocou o Renascimento, com o qual coexistiu. Sendo uma nova
postura diante da tradição clássica, permitiu que o Renascimento fosse buscar nessa tradição parte
da sua temática e da sua técnica expressiva. Mas sendo também uma escola de pensadores
revolucionariamente preocupados com o homem e seu ser-no-mundo, o Humanismo prosseguiu o
seu caminho independente. Na Alemanha, por exemplo, o pensamento humanista articulou todas as
pré-condições intelectuais para a eclosão da Reforma.
Não há processo que melhor defina o caráter dos novos tempos iniciados em 1398 do que o da
mudança de paradigmas estéticos e culturais trazida no bojo do Humanismo e do Renascimento.
Para compreendê-lo, é preciso lembrar que a superestrutura ideológica que condicionara a vida da
sociedade européia durante a Idade Média fora essencialmente ditada pela Igreja Católica. Em um
mundo feudal, fundamentado no imobilismo das classes sociais e em uma economia
auto-suficiente, quase “natural”, a ideologia religiosa satisfazia completamente enquanto elemento
de explicação e justificação da realidade material. O servo era servo por vontade divina e
encontraria no paraíso a compensação para os sofrimentos terrenos. A hierarquização da sociedade
feudal era um mero reflexo da hierarquia celeste dos santos, anjos e arcanjos. Sendo a ideologia
ditada pela classe dominante e satisfazendo aos interesses desta classe, para que mudá-la? À rigidez
da estratificação social, correspondia a rigidez dos dogmas. A facilidade de transformar-se o
perturbador da estabilidade política ou social em um “subversivo religioso” – um herege – explica,
até certo ponto, a manipulação política sofrida por alguns movimentos ou instituições de caráter
inicialmente religioso: as Cruzadas, a Santa Inquisição, as ordens religiosas de monges-soldados,
como a dos Templários etc.
A lentidão das mudanças, a dependência à terra e a economia de base agrária do mundo feudal
remetem ao cenário taurino do ciclo iniciado em 905. Se imaginarmos que o início de cada ciclo
tem um sentido de recomeço, de fundação de novas bases, podemos atribuir às grandes conjunções
um papel simbólico de Ascendente, sendo que o signo em que estas ocorrem determina o tom do
período ali iniciado. Do ponto de vista do ciclo Netuno-Plutão, a Europa feudal tem uma tonalidade
taurina, evidente inclusive nas imagens que a ela associamos: os pesados e rústicos castelos
fortificados, a massa de servos a manejar arados, o bucolismo da vida rural, a preocupação
defensiva. Se colocarmos Touro na 1, Capricórnio irá para a casa 9 – a da religião organizada –
retratando adequadamente a noção de ordem e hierarquia presente tanto na estrutura da Igreja
quanto na própria concepção teológica.
É a partir da última fase da Idade Média que se manifesta uma reação contra o monopólio católico
da ideologia. Principalmente nos séculos XV e XVI, um movimento de considerável amplitude no
âmbito da filosofia e da literatura, que atinge também as artes plásticas, o teatro e a música sob
forma de uma renovação de temas e de meios de expressão, marca em definitivo o aparecimento de
novas formas de pensar e de entender o mundo. Este movimento, desdobrado no Humanismo e no
Renascimento, deve ser entendido essencialmente como uma adaptação da ideologia às
necessidades de justificação e explicação da sociedade mercantil e burguesa (Gêmeos) que aos
poucos ocupava o lugar da sociedade feudal (Touro). O Humanismo e o Renascimento,
completados pelos movimentos da Reforma e da Contra-Reforma, compõem um grande painel que,
considerado em conjunto, constitui a cosmovisão da Europa Moderna.
O que Rosenfeld está a descrever não é a negação dos valores sagitarianos? Gêmeos, como signo
oposto a Sagitário, é o exílio de Júpiter e, portanto, onde os valores morais tornam-se mais ligeiros
e adaptáveis, dando lugar, por vezes, a uma atitude cínica diante dos fatos da existência. A fé passa
pelo crivo da razão, e a crença numa realidade espiritual invisível e distante cede espaço à
preocupação com o estar no mundo – o entorno imediato e seus múltiplos focos de interesse.
A concepção dialética do bem e do mal que interagem num universo mutável e polarizado tem
relação com a dualidade geminiana. Por outro lado, é esta mesma ênfase no signo de Mercúrio –
exílio de Júpiter – que permite a afirmação do sentido do trágico, entendido como o colocar-se do
homem diante do sofrimento provocado pelo entrechoque de forças cegas e incompreensíveis. Em
outras palavras: o sentimento do trágico é incompatível com Júpiter, só sendo possível quando o
sofrimento perde sua finalidade transcendente de abrir caminho para a manifestação da Graça
Divina (um conceito jupiteriano).
Na visão da religião organizada, o mal é sempre referenciado a uma hierarquia de valores que o
torna pouco mais do que um desvio temporário no processo de afirmação do bem absoluto. O mal,
na visão teológica medieval, tem um lugar definido na hierarquia cósmica (sentido de Capricórnio
na 9). No novo ciclo civilizatório instaurado por Netuno-Plutão em Gêmeos, predomina o sentido
de Aquário na 9, definindo uma nova concepção teológica menos hierarquizada, na qual todos os
conceitos-matrizes podem coexistir em “pé de igualdade”.
Há que lembrar ainda que a tragédia shakespeareana não se fundamenta na mesma cosmovisão da
tragédia grega, onde o homem é joguete dos deuses. Em Shakespeare, o universo é humano e, se o
personagem padece diante de forças cegas e impiedosas, é porque recusa conhecê-las com outro
instrumento que não seja a razão. A acuidade psicológica de algumas destas peças reside em grande
parte no retrato preciso do comportamento de personagens com uma dominante Ar confrontados
com tudo aquilo que temem: o abismo pantanoso dos próprios sentimentos, a explosão passional e a
intuição do incompreensível. Este é o drama de Hamlet, por exemplo, que, diante das terríveis
suspeitas quanto ao comportamento da própria mãe, reage filosofando no mais puro estilo
geminiano: “Ser ou não ser, eis a questão”. O lugar-comum associado a Hamlet, mesmo para quem
jamais leu uma única linha escrita por Shakespeare, é a imagem do príncipe dinamarquês a dialogar
com a caveira que tem em suas mãos: é o órgão mais geminiano do corpo a portar o símbolo da
morte (Plutão) enquanto forças sutis e insidiosas (Netuno) corrompem as bases do poder: “Há algo
de podre no reino da Dinamarca”...
Mas estamos indo muito longe. Voltemos atrás para analisar as origens da revolução cultural do
Renascimento e considerar suas implicações astrológicas.
O comércio italiano com o Império Bizantino abriu um intercâmbio cultural intenso entre Veneza,
Gênova, Florença e Constantinopla. A vinda de documentos originais greco-romanos para a Itália
foi uma decorrência desse intercâmbio. É preciso retirar da cabeça a velha imagem de sábios
bizantinos fugindo em desabalada carreira de Constantinopla para a Itália após as conquistas turcas
1
Maniqueu – Maniqueísta. Polarizado entre os conceitos de bem e de mal.
Sempre tomando Gêmeos como o Ascendente simbólico do ciclo iniciado pela conjunção Netuno-
Plutão de 1398, por analogia teremos Aquário na casa 9, a da filosofia e da religiosidade. Aquário,
sendo signo de Ar, é racional por definição; sendo o pólo complementar de Leão, cumpre uma
função ligada aos valores deste eixo. No corpo humano, por exemplo, Leão rege o coração, que
bombeia o sangue que o sistema arterial, regido por Aquário, encarregar-se-á de distribuir. Da
mesma forma, os humanistas serão os disseminadores de um novo paradigma cultural, baseado no
livre exame dos clássicos, na independência ideológica frente à ortodoxia da Igreja e na valorização
do homem – sendo Aquário o signo humano por excelência. O foco emissor de toda esta
inquietação cultural é a Itália, região à qual sempre se atribuiu uma regência leonina, e a base de
referência é a civilização clássica greco-romana, sendo que a Roma clássica tem em suas origens
um fundamento geminiano, a começar por seu mito de fundação, onde pontificam os irmãos
gêmeos Rômulo e Remo.
As conexões são mais do que óbvias, mas não custa enunciá-las: a idéia de renascimento está
profundamente vinculada a Escorpião e à casa 8, constituindo a dimensão positiva do simbolismo
destas duas instâncias astrológicas. Em Escorpião, algo precisa transmutar-se, processo que se
inicia pela eliminação das velhas formas que já não apresentam serventia. O que estava em crise na
fase Escorpião da era de Peixes (1248-1427) era a Igreja medieval, cujo desmantelamento se
aprofundaria com a Reforma e cuja renovação só se completaria com a Contra-Reforma, já na fase
Sagitário. O Renascimento, ao retomar o patrimônio clássico da primeira fase da era, cumpre o
papel escorpiano de reciclagem, ao atualizar e recolocar em circulação concepções estéticas e
modelos de abordagem da realidade que haviam “envelhecido” após séculos de monopólio
ideológico da Igreja.
Se bem que seja na fase seguinte, aquela de Sagitário, que o movimento daria seus melhores frutos,
a fase Escorpião é seu marco inicial e ponto de partida.
2
Artigo da Britannica Online, em tradução livre e condensada.
Sofisticada em sua planificação, com uso consciente da perspectiva, e ao mesmo tempo poética em
sua abordagem lírica: eis uma definição que aponta para duas qualidades librianas, ao que o crítico
acrescenta: “Vênus é a Virgem Maria em outra roupagem”, como a indicar uma mudança de tom na
abordagem da figura feminina na arte medieval e renascentista. No período anterior, ainda dentro
do ciclo de Netuno-Plutão em Touro, Virgem estaria simbolicamente na quinta casa do mapa-
matriz do ciclo, o que explica a onipresente utilização da figura da Virgem Maria como o arquétipo
da mulher por excelência na arte medieval. Com Libra na quinta casa de Gêmeos, o padrão agora é
outro, como enuncia Pioch mais adiante:
A poesia tem como pano de fundo uma espécie de nostalgia por algo que não
podemos possuir, mas com o que nos sentimos profundamente identificados. (...)
As figuras parecem etéreas, muito mais um sonho do que poderiam ser do que
propriamente uma visão do que são.
Esta é a beleza de Vênus em Libra, signo de Ar e, portanto, imaterial, etérea, idealizada, um padrão
inalcançável de perfeição. E o crítico acrescenta:
Em outras palavras: Botticelli (como faria Modigliani já no século XX) altera proporções, distorce
propositalmente a figura para realçar suas curvas suaves, suas linhas melodiosas. É uma
representação de Vênus tratada com padrões estéticos venusianos. É a expressão criativa de Libra
na casa 5. Este mesmo senso de beleza idealizada estará presente no trabalho de quase todos os
grandes artistas do período, seja no vigor de Miguel Ângelo, seja na suavidade das Madonnas de
Rafael. Estará presente também em outras criações no sentido mais amplo, como a carta em que
Pero Vaz de Caminha relata o Descobrimento do Brasil. O avistamento da terra por Cabral e os
primeiros contatos com os índios refletem um mapa onde Libra ocupa o Ascendente, e a descrição
desses acontecimentos, tal como uma pintura renascentista, flui da pena elegante de Caminha como
um sonho libriano, harmônico, equilibrado, integrando opostos numa unidade idílica e quase irreal.
Simbolicamente, o Ascendente do Brasil colonial está na casa 5 do ciclo Netuno-Plutão de 1398. O
Brasil também é filho desse ciclo, uma criação tão libriana quanto o Nascimento de Vênus de
Botticelli.
O dado fundamental a reter são os signos em que ocorre cada conjunção ou que correspondem a
cada novo duodécimo da era precessional. Estes signos darão a tonalidade dominante do período, e
sua combinação estabelecerá um padrão complexo e específico para cada etapa. Cabe notar também
que a divisão não é rígida, e que a proximidade da etapa seguinte já tonaliza os eventos ocorridos
nos anos imediatamente anteriores. Assim, a tomada de Constantinopla pelos turcos, por exemplo,
é um evento muito mais relacionado à conjunção Urano-Plutão de 1455, que se tornaria exata
apenas dois anos depois, do que à etapa então vigente, iniciada em 1427 com o início da fase
sagitariana da era de Peixes.
A transição de uma etapa a outra não é, aliás, um fenômeno brusco, pois, dos quatro fatores
considerados, apenas um se modifica de cada vez, indicando um dado astrológico novo que se
contrapõe a um pano de fundo de continuidade.
No quadro a seguir, a primeira coluna indica a fase corrente da era de Peixes. As três seguintes, os
ciclos de planetas exteriores então vigentes. A última coluna relaciona alguns marcos importantes
da produção cultural do período. O ciclo que se modifica em cada etapa está indicado em negrito.
Se considerarmos o planeta regente dos signos correspondentes a cada fase da era de Peixes, assim
como às conjunções dos três planetas exteriores, podemos montar um modelo de periodização do
Renascimento e do Humanismo em função das combinações entre tais regentes. Utilizando o
esquema clássico, em que Marte é o regente de Escorpião, teríamos os seguintes períodos:
Seja qual for a carta astrológica de Dante Alighieri, a Divina Comédia evidencia uma série de
valores escorpianos, em consonância com o ciclo iniciado com a conjunção Urano-Netuno neste
signo, em 1307. Significativamente, o poema começa a ser escrito um pouco antes de 1308 e sua
elaboração estende-se por longos anos, até quase a morte do autor, em 1321.
Dante situa todo o desenrolar do poema entre o início da noite da sexta-feira santa e o domingo de
Páscoa de 1300, ou seja, o período em que se recorda a morte e a ressurreição de Cristo, um
simbolismo ao mesmo tempo ariano (o do início de um novo ciclo) e escorpiano (a transmutação).
Áries e Escorpião têm em comum a regência marciana, a mesma desta etapa do Renascimento. A
Divina Comédia relata a visita de um homem – provavelmente o próprio Dante – sucessivamente ao
Inferno, ao Purgatório e ao Paraíso, numa seqüência que lembra o processo purificador de
Escorpião. Quem o guia nas duas primeiras etapas é o poeta clássico Virgílio; no Paraíso, Virgílio é
substituído por Beatriz, a musa do poeta.
A visita ao Inferno é, como Virgílio e mais tarde Beatriz explicam, uma medida
extrema, um ato doloroso mas necessário antes que o verdadeiro resgate possa
Tem-se aí o sentido da descida aos Infernos como uma tomada de consciência do que precisa ser
descartado. É um processo de purgação, não apenas do poeta, mas de todo uma sociedade que
precisa deixar para trás velhos modelos para alcançar um novo patamar.
Dante, se não chega a ser um renascentista, é pelo menos, um precursor deste movimento que teria
em Petrarca seu primeiro representante legítimo. Mas o que a Divina Comédia propõe é exatamente
uma renascença no sentido mais amplo: é a revisão do passado (Lua) para depurá-lo (Marte-
Escorpião) de forma a refundar as bases do futuro crescimento espiritual.
Na medida em que Dante aponta uma data precisa e um horário aproximado para o início da
jornada ao Inferno – o início da noite da sexta-feira santa de 1300, que corresponde, no calendário
juliano, à data de 10 de abril – estes dados permitem uma investigação curiosa: o levantamento do
mapa especulativo do ponto de partida do protagonista da Divina Comédia. O Ascendente do
momento do pôr-do-sol naquele dia é Libra, mas uma hora depois já temos Escorpião a levantar-se
no horizonte leste (se calcularmos a carta para a latitude de Florença).
3
Artigo da Britannica Online, em tradução livre e condensada.
Considera-se a data de 20 de julho de 1304 como a mais provável para o nascimento do poeta. Se
correta, a carta daí resultante apresentaria o Sol em Leão como dispositor final de todos os demais
planetas, um Sol conjunto a Mercúrio e em estreita quadratura com Netuno em Escorpião. Petrarca
foi um tipo Leão-Peixes, já que a Lua se encontra neste último signo em oposição a Júpiter,
reforçando a tonalidade pisciana do Sol decorrente do aspecto com Netuno. A profundidade e a
independência intelectual traduzem-se no Grande Trígono em signos de Ar, unindo Vênus a Urano
em Libra e a Plutão em Aquário. Vênus no final de Gêmeos recebe a quadratura de Saturno no
início de Libra, aspecto que provavelmente explica o rigor e a contenção formal do soneto, uma
forma fixa, econômica, padronizada, que obriga o poeta a um constante exercício de síntese,
verdadeiro trabalho de ourivesaria.
O tema recorrente na obra de Petrarca é um lirismo amoroso sempre voltado para uma mesma musa
– Laura, objeto de desejo sensual nos primeiros anos e progressivamente transformada numa
referência idealizada, visionária, impossível, em concordância com a quadratura do desapegado
Netuno ao passional Sol leonino. A poesia surge assim para Petrarca como a sublimação do afeto,
transferido para um patamar mais elevado e perene, no qual a musa se perpetua mesmo após a
morte física. Jamais se soube exatamente quem foi Laura. Sabe-se apenas que Petrarca viu-a pela
primeira vez em 6 de abril de 1327 numa igreja em Avignon, onde radicara-se a serviço do Cardeal
Collona. Laura, sempre para ele uma mulher inalcançável (talvez por ser casada), foi uma das
incontáveis vítimas da Peste Negra, vindo a falecer por volta de 1350.
Em Avignon, aliás, ainda jovem, o italiano Petrarca teve contato com a rica e corrupta corte papal,
transferida duas décadas antes para aquela cidade francesa em virtude da interferência política de
Felipe, o Belo. O ambiente não o desagradava. Petrarca sentia-se à vontade pavoneando-se pela
cidade e sendo admirado pela elegância (Sol e Mercúrio em Leão). Mas o clima de decadência
moral de Avignon acabaria calando fundo em sua alma e levando-o a buscar uma nova síntese entre
o pensamento clássico e o pensamento cristão. Petrarca seria toda a vida um cristão convicto, até
mesmo um místico em seus últimos anos, ao mesmo tempo em que alimentava uma profunda
admiração pelos clássicos, dos quais se torna um estudioso. Em torno de 1340, já de volta à Itália,
seu pensamento sofre uma evolução moral e espiritual. Por volta de 1343, Petrarca termina de
escrever o Secretum meum, um tratado autobiográfico em que retrata a si próprio dialogando com
Santo Agostinho. É nesta obra que formula a proposição de que é possível ao homem comum,
Por volta de 1350, Petrarca desenvolve suas opiniões sobre uma nova proposta educacional, que
substituísse o escolasticismo medieval em prol de uma aproximação mais direta com os clássicos e
sua nobreza espiritual. Segundo Petrarca, se existia uma Providência a guiar o mundo, certamente
esta Providência teria o homem como eixo central de seu projeto. Esta conciliação entre o espírito
clássico e o cristão, esta enunciação da nobreza e da dignidade da alma humana que busca a Deus
por uma via mais intimista, são a base do Humanismo, do qual este poeta, filósofo e erudito é o
verdadeiro precursor. A consolidação de sua mundividência ocorre na esteira da conjunção Urano-
Plutão em Áries, nos anos em que a Peste Negra assola a Europa, a mesma hecatombe que serviria
de pano de fundo para outra das grandes obras proto-renascentistas: o Decameron, de Giovanni
Boccaccio (1313-75).
O Decameron, coletânea de uma centena de histórias contadas por sete moças e três rapazes
reunidos nos arredores de Florença, fugindo da peste que assolava a cidade, estabeleceu o modelo
da prosa italiana. Obra considerada imoral durante muito tempo, o Decameron estaria justamente
no pólo oposto: dos relatos sobre casos de adultério, corrupção, venalidade e outros males sociais, o
leitor retira uma sátira irônica e mordaz, se bem que indulgente e bem-humorada, da decadência de
costumes que o autor retrata.
Dante, Petrarca e Boccaccio são as três referências mais marcantes da revolução cultural que estava
em andamento. Seria preciso esperar, porém, pela conjunção Netuno-Plutão de 1398 para que o
Renascimento começasse a ganhar contornos mais nítidos.
Comentário: Se bem que muitos autores alimentem este equívoco, o chamado Grande Ano de
Platão não é sinônimo de um ciclo precessional completo, constituído por doze eras astrológicas. A
expressão aplica-se à repetição cíclica (fenômeno praticamente impossível, aliás) das posições de
todos os planetas no céu. É um conceito que se fundamenta em posições planetárias, não em
movimento precessional. O conceito não é de Platão nem tampouco de Berósio, ou dos demais
astrólogos caldeus, em geral.
2. Na visão platônica:
a) Cada novo Grande Ano traz novas condições de desenvolvimento para a humanidade.
b) O tempo é uma concepção cíclica, pois o novo Grande Ano restabelece as condições do
Grande Ano anterior. (X)
c) A destruição e renovação do mundo se caracterizam, alternadamente, por dilúvios de água
e fogo.
d) Para caracterizar um Grande Ano, a conjunção de todos os planetas conhecidos deve
ocorrer nos pontos equinociais.
Comentário: Basta lembrar do trecho do Timeu em que Platão afirma que “de novo todas as coisas
serão restabelecidas segundo suas antigas condições”. Em outras palavras: a repetição de um céu,
ou seja, de todos os posicionamentos relativos de estrelas fixas e de planetas, resultaria numa
repetição de circunstâncias mundanas, ou num grande movimento de retorno.
A noção expressa na opção A é típica da moderna visão da sucessão das eras. A era de Aquário,
por exemplo, traria condições diversas da era de Peixes, e assim por diante. Já a afirmativa presente
na opção C define a concepção babilônica, que deve caracterizar-se por uma conjunção de todos os
planetas nos solstícios de verão e inverno (Câncer e Capricórnio), e não nos equinócios de
primavera e outono (Áries e Libra).
No análise das primeiras etapas do renascimento artístico, chegamos a considerar dois mapas
específicos: o do poeta Petrarca (uma carta especulativa) e o do início da jornada ao Inferno do
protagonista da Divina Comédia, de Dante Alighieri. No estudo dessas cartas, verifica-se com
clareza a diferença entre o enfoque macro (amplo e coletivo) e micro (restrito e individual). Por
exemplo: o equilíbrio formal e a rigorosa concisão do soneto, fórmula poética posta em moda por
Petrarca, podem ser explicados pelo próprio mapa do poeta (grande trígono em signos de Ar, Vênus
em quadratura com Saturno e assim por diante). Mas o fato de a obra de Petrarca ter sido um marco
da retomada do patrimônio cultural da antiguidade e de sua síntese com o pensamento cristão
medieval não pode ser explicado apenas pela carta individual. Se Petrarca não desse a partida no
processo, outro o faria. A conjugação de fatores Escorpião, decorrentes da conjunção de Urano e
Netuno naquele signo em concomitância com o transcurso da oitava fase da era de Peixes, é que
explica a própria idéia de Renascimento, entendido como a recuperação e a reciclagem do
patrimônio cultural greco-romano (conceitos de Escorpião e de casa 8).
Com o mapa de Petrarca, entendemos algumas características de seu estilo pessoal. Mas com a
análise dos ciclos correntes entendemos o movimento coletivo em que Petrarca se insere e do qual
é, em boa medida, um precursor. O poeta nasce pouco antes da conjunção exata Urano-Netuno em
Escorpião, um acontecimento raro do ponto de vista astrológico. O mapa do poeta, de uma certa
forma, “dialoga” com os indicadores do ciclo coletivo, da mesma forma como o próprio Petrarca,
enquanto personagem histórico, vivencia e absorve todas as influências culturais que o circundam
durante sua fase de preparação intelectual.
No decorrer deste curso, em seus vários módulos, veremos uma série de casos semelhantes, em que
indivíduos isolados, particularmente “antenados” com os ciclos coletivos de sua época, tornam-se
canais privilegiados de manifestação de seus significados. É o que observaremos, mais adiante, no
Dom Quixote de Miguel de Cervantes, na lenda de Robin Hood, na vida aventureira do Che
Guevara e no surgimento de uma nova religião – o protestantismo – pela ação de Martinho Lutero,
Felipe Melanchton e Frederico, o sábio, da Saxônia.
Observe-se que por enquanto sequer analisamos o significado das conjunções Urano-Plutão e
Urano-Netuno. Entretanto, queremos deixar claro desde já a base do modelo de análise com base
em ciclos: qualquer momento histórico pode ser referenciado aos ciclos astrológicos em cuja
vigência ocorrer, sendo que a vigência de um ciclo se estende até o momento do início do ciclo
seguinte. Em outras palavras: a aplicação mundana do significado de uma conjunção Urano-
Netuno, por exemplo, não se limita ao curto período (alguns poucos anos) em que estes dois
planetas encontram-se efetivamente em órbita de conjunção, mas estende-se até a conjunção
seguinte, que neste caso só ocorrerá 171 anos depois. Voltaremos a este tópico nos exercícios do
final da presente lição.
Durante o século XVI, destacam-se na Itália Ludovico Ariosto com seu magnífico poema épico
Orlando Furioso; Pedro Aretino, o sarcástico e cínico poeta radicado em Veneza; o florentino
Niccolò Machiavelli, autor de O Príncipe, um manual de ciência política, e Lourenço Valla,
historiador e crítico que inaugurou uma nova era para a ciência do conhecimento do passado.
1
A primeira conjunção Urano-Netuno ocorre nos últimos minutos de Escorpião, mais precisamente em 29º40’
de Escorpião, na data de 6 de dezembro de 1478. Em seguida, os dois planetas entram em Sagitário, sempre
em órbita de conjunção, tornam-se retrógrados no primeiro semestre do ano seguinte, retornam a Escorpião e
fazem uma segunda conjunção, ambos retrógrados, em 25 de julho de 1479 (28º49’ de Escorpião). Uma
terceira conjunção, novamente em movimento direto, ocorrerá em 19 de agosto do mesmo ano. Depois de
entrar definitivamente em Sagitário, Urano e Netuno continuam em órbita de conjunção até pelo menos 1481,
quando finalmente Urano começa a ganhar distância, adiantando-se mais de cinco graus em relação a Netuno.
O ano de 1550 marca o declínio do Renascimento na Itália. Como causa preponderante para o
fenômeno, aponta-se a perda de poderio econômico das cidades do Mediterrâneo em função da
transferência do eixo econômico da Europa para o Atlântico. Porém, a onde renovadora do
Renascimento já havia atingido praias mais distantes: França, Inglaterra, Espanha, Holanda,
Portugal e Alemanha encarregaram-se de dar continuidade à obra das pequenas cidades burguesas
da península.
Montaigne, o cético e pessimista autor dos Essais, foi um precursor indireto do Cartesianismo, pela
pregação do uso da dúvida metódica e pela descrença em qualquer sistema filosófico baseado na
postulação de verdades dogmáticas e definitivas.
Thomas Morus (1474-1536) é o primeiro grande humanista inglês. Em A Ilha de Utopia, a melhor
das Repúblicas, idealiza o Estado perfeito, de onde estavam ausentes a propriedade privada, a de-
sigualdade social, a miséria e os abusos de poder. Esta ilha imaginária era uma metáfora da própria
Inglaterra e valia como uma severa crítica à sociedade da época, cada vez mais submissa ao
absolutismo real e aos privilégios da classe dominante. Utopias sociais são bem o retrato, aliás, de
Aquário na casa 9 do ciclo Netuno-Plutão em Gêmeos.3
2
SICHEL, Edith. O Renascimento. RJ, Zahar, 1972.
3
Cada conjunção que inicia um ciclo pode ser considerada o Ascendente de uma mapa simbólico. É um
recurso para a compreensão de tendências gerais com o uso do conceito de casas. Como a conjunção Netuno-
Plutão de 1398 ocorreu em Gêmeos, podemos considerar, na análise dos processos que se desdobram na
vigência deste conjunção (quase 500 anos até a conjunção seguinte), que Câncer está na casa 2, Leão na 3,
Na Alemanha, a influência italiana na literatura e nas artes deu-se a princípio através do contato que
os estudantes germânicos tiveram com as novas correntes estéticas enquanto freqüentavam as
universidades da península.
De volta ao país de origem, estes estudantes tornaram-se propagadores da arte renascentista nos
prósperos centros urbanos de Heidelberg, München, Erfurt, Nurenberg e outros. Porém, o
renascimento artístico restringiu-se à pintura e à gravura. Albrecht Dürer e Hans Holbein são os
artistas plásticos mais notáveis. Na filosofia, desenvolveu-se uma tendência humanista mística, e
seus principais representantes dedicaram-se à exegese dos textos bíblicos em uma atmosfera de livre
exame que atentava diretamente contra o dogmatismo da Igreja Católica. Este humanismo à
germânica foi um dos elementos desencadeadores da Reforma Protestante.
Em Portugal, o primeiro nome a destacar é Luís de Camões. Em seu poema épico Os Lusíadas,
mostra a saga do povo português durante a fase gloriosa da expansão marítima do reino. Sá de
Miranda, introdutor do soneto em Portugal, e Gil Vicente, fundador do teatro lusitano, cultivaram o
bilingüismo, escrevendo em português e espanhol.
A teoria geocêntrica medieval foi posta abaixo pelos estudos de um grupo de sábios: Nicolau de
Cusa, Leonardo da Vinci e, principalmente, Copérnico. Este substituiu a teoria tradicional por uma
outra, conhecida como heliocentrismo, na qual se declara ser o sol o centro do sistema e estarem os
planetas em órbita em torno dele. Porém, Copérnico só publica seu trabalho em 1543, temeroso da
reação da Igreja Católica.
Na medicina, Falópio descobre as trompas que hoje levam o seu nome, enquanto Eustáquio
pesquisa o tubo que une o ouvido médio à garganta. Mundinus introduz a prática da dissecação na
Universidade de Bolonha e André Vesálio corrige superstições antigas, investigando detalhes
anatômicos do corpo humano. Fora da Itália, o francês Miguel Servet localiza a circulação
pulmonar do sangue e, algum tempo mais tarde, o inglês William Harvey completa-lhe os estudos
descobrindo o funcionamento de todo o aparelho circulatório e a importância do coração como
bomba distribuidora de sangue. Na Alemanha, o médico conhecido como Paracelso, uma exótica
mistura de pesquisador moderno e alquimista medieval, faz importantes descobertas sobre a
Esta longa enumeração de obras artísticas e descobertas científicas fala por si só. É um momento
literalmente luminoso (Sol) na história do conhecimento, onde os signos de Ar afirmam plenamente
o potencial da conjunção Netuno-Plutão em Gêmeos de 1398.
O Renascimento inglês foi um tanto tardio, assim como foi tardio o desenvolvimento comercial e
marítimo na Inglaterra. As grandes produções artísticas só apareceram no final da Era Tudor, na
passagem do século XVI para o XVII. A literatura e a filosofia serão as áreas de ação prediletas
para o gênio inglês. O drama, especificamente, pode ser considerado como uma criação inglesa,
visto que até então copiavam-se servilmente os modelos clássicos da tragédia e da comédia
greco-romanas ou os esquemas formais dos mistérios, milagres e farsas medievais.
Pintura e literatura foram os dois campos aos quais se limitaram os artistas espanhóis do
Renascimento. Na pintura, marcada pela preocupação religiosa, temos Luiz de Morales e El Greco
como os maiores expoentes. Na literatura dramática, destacam-se Tirso de Molina e Lope de Vega.
Porém, o maior nome do renascimento espanhol é Miguel de Cervantes (1547-1616), autor de Don
Quijote de La Mancha, obra-prima onde se retrata o choque dos valores medievais com a nascente
moral burguesa, realista e mundana.
Jamais se saberá a data de nascimento de Cervantes. Dele não há, inclusive, sequer uma descrição
acurada de sua aparência física. Originário de uma família de origem nobre mas que vivia em
extrema penúria (seu pai sobrevivia como practicante, ou seja, como médico prático), foi batizado
em 9 de outubro de 1547, devendo ter nascido algumas semanas (ou mesmo alguns meses) antes
desta data. Em 1571 estava alistado na armada espanhola que combateu os turcos na batalha de
Lepanto (17 de outubro de 1571), onde acabou ferido e perdeu para sempre os movimentos da mão
esquerda. Todavia, isso não foi o suficiente para tirar Cervantes da carreira militar. Em setembro de
1575, o navio em que Cervantes viaja é aprisionado no Mediterrâneo por mouros argelinos. Levada
O que se sabe ao certo é que a primeira edição de Don Quijote veio à luz em setembro (sempre
setembro!) de 1604, gerando para o autor, nos anos seguintes, uma enorme notoriedade, mas poucas
compensações financeiras, além de novos problemas com a justiça. Em 1605, por exemplo, foi
preso por algumas semanas acusado de participar de uma briga em que rivais foram mortos a golpes
de punhal. Depois de solto, passou três anos escondido. Apenas nos últimos anos de vida teve a
tranqüilidade necessária para escrever o restante de sua obra e participar de clubes literários. A
pobreza, porém, acompanhou-o até os últimos dias.
É bem provável que Cervantes tenha nascido em meados de 1547, talvez em junho ou início de
julho, quando Urano formava oposição a Júpiter, Sol e Mercúrio percorriam o signo de Câncer e
Marte encontrava-se em Leão. É provável também uma ênfase na casa 12 – talvez um Sol
canceriano na 12 com Marte no Ascendente, em Leão – o que poderia explicar as constantes
prisões, os cinco anos de escravidão e as perseguições e traições de toda ordem que teve de
enfrentar. Era, com certeza, um tipo turbulento e aventureiro (Marte, Urano-Júpiter), e que por mais
de uma vez esteve literalmente com a corda no pescoço.
Dom Quixote, um dos personagens mais conhecidos da história da literatura, transformou-se num
sinônimo universal de comportamento visionário e “lunático”. Ao tentar viver de acordo com o
código de comportamento de uma época já definitivamente sepultada, ao idealizar o passado e
combater moinhos de vento que tomava por inimigos gigantescos, Dom Quixote desempenha o
papel canceriano do que recusa a transformação social, do que fecha os olhos à imposição dos
interesses burgueses, com toda a sua fria lucidez e cinzenta praticidade. Se pensarmos que
Cervantes escreve no limiar do início da fase capricorniana da era de Peixes – os dois séculos mais
pragmáticos de todo este ciclo precessional – e em plena efervescência do início de um novo ciclo
Urano-Plutão em Áries, é possível entender Dom Quixote como o símbolo de tudo um mundo que
desmoronava e tornava-se obsoleto, só podendo sobreviver, daí em diante, no domínio idealizado da
ficção.
As conjunções Urano-Netuno
Esta conjunção ocorre em intervalos regulares de aproximadamente 171 anos. Dos ciclos
planetários, é o que mais se aproxima de uma divisão por doze de um inteiro ciclo precessional –
uma era astrológica. Se considerarmos que um ciclo precessional completo tem por volta de 26 mil
4
Veremos isso com mais detalhes no próximo curso, ao analisarmos a conjunção Urano-Plutão de 1597.
Já tratamos o assunto em detalhes na primeira parte deste curso, bastando recordar aqui que uma das
periodizações possíveis da era de Peixes seria considerar como seu marco inicial o ano 7 a.C., sendo
que, contando aproximadamente 180 anos a partir desta data, podemos estabelecer as doze fases em
que a era se desdobra, cada uma com características próprias e bem definidas.
A era de Peixes é a era da civilização européia. Seu início está vinculado ao surgimento do Império
Romano e ao advento do Cristianismo, que estabeleceram, respectivamente, o arcabouço jurídico e
ideológico do mundo ocidental para os dois milênios seguintes. Em analogia com a passagem dos
planetas pelos seis primeiros signos do zodíaco (ou pelas seis primeiras casas), o primeiro milênio
da era de Peixes representou uma fase de lenta afirmação do novo ambiente civilizatório, que só
começa a ganhar um caráter realmente expansivo a partir da sétima fase, aquela correspondente a
Libra, sinalizando o momento em que a Europa toma a iniciativa do confronto direto com outras
civilizações, ampliando pouco a pouco sua área de influência. Este período corresponde à época das
Cruzadas, quando a Cristandade do Ocidente, a pretexto do combate aos infiéis, reverte o
movimento de expansão muçulmana e promove o refluxo, iniciando a retomada de territórios.
Esta fase, assim como a imediatamente anterior e a seguinte são particularmente significativas por
serem as únicas, em toda a era de Peixes, que coincidem com uma conjunção Urano-Netuno no
signo correspondente ao período. É o que pode ser observado no quadro abaixo:
Durante séculos, as relações entre o Sacro Império e o Papado serão tensas, dada a imprecisão de
fronteiras entre os poderes temporal e espiritual. É a tematização do caráter contraditório da
presença de Netuno em Virgem, num fenômeno semelhante ao que ocorreria nos anos 40 do século
XX, quando, ao repetir-se o mesmo posicionamento, a Igreja Católica vê-se novamente acuada pela
ascensão dos regimes totalitários de Hitler e Mussolini. O Terceiro Reich, espécie de versão
moderna do Sacro Império, também tentará submeter a autoridade espiritual aos interesses do
Estado, criando outra vez um quadro de relações dúbias e uma área de sombra nas fronteiras entre
os dois poderes.
5
A querela das investiduras, disputa entre o imperador e o Papa sobre a primazia no direito de nomear
bispos e cardeais, representou, na prática, um dos momentos do permanente conflito entre o poder político e
econômico entre Roma e o Sacro Império.
A floresta maravilhosa, onde não entram criaturas maléficas nem jamais há extremos de frio ou
calor, não é uma imagem adequada do ideal de beleza e harmonia de Libra?
A arquitetura também começa a verticalizar-se. Em vez das grossas e sólidas paredes de pedra das
construções românicas, é a vez da leveza das catedrais mantidas em equilíbrio pelo inteligente uso
das ogivas e dos arcobotantes. Começa a construção de Notre Dame, de Chartres, dos grandes
6
A civilização francesa medieval é resultado da mescla das culturas franca (dos bárbaros francos) e normanda
(dos bárbaros vikings que se estabeleceram no litoral norte da França, entre outras regiões, e assimilaram a
língua local).
7
MARY, André (org.). Anthologie poétique française – Moyen âge 1. Paris, Garnier, 1967. O trecho do
poema, em francês arcaico, é da segunda metade do século XII.
É o outono da Idade Média, e é também o período em que surgem as maiores produções intelectuais
européias que ainda podem ser consideradas tipicamente medievais. Comparado com os ciclos
anteriores, este é um ciclo de crescente sofisticação intelectual, em consonância com a natureza
aérea de Libra e com o idealismo netuniano submetido ao ímpeto renovador de Urano.
Até 1377, serão eleitos sempre papas franceses que continuarão a ter em Avignon a sua sede. Esta
submissão aos interesses políticos da monarquia enfraquece a Igreja, que vê-se mais desgastada
ainda com a corrupção de costumes de parte do clero e com a pressão dos governantes de toda a
Europa que repudiam cada vez com mais vigor as interferências eclesiásticas na gestão dos assuntos
nacionais. Este período ficou conhecido como Cativeiro de Avignon, e está totalmente de acordo
com o sentido de Netuno no décimo-segundo signo a partir de Sagitário. A dimensão
especificamente escorpiana do ciclo revela-se no episódio da prisão dos Templários e no processo
movido contra seus principais líderes. O processo é discutido com mais detalhes em outro módulo
deste curso, mas chamemos a atenção para um de seus aspectos: os Templários constituíam uma
confraria envolta em mistério, cujos membros submetiam-se ao voto de silêncio sobre o que lhes era
dado conhecer em cada grau iniciático. Na verdade, a maioria dos segredos da Ordem dos
Cavaleiros do Templo dizia respeito a questões bem materiais, relativas à atuação da confraria como
força política e econômica de enorme influência. Mas a exaltação popular, atiçada primeiro pela
monarquia francesa e depois por outros reis europeus igualmente endividados com os templários,
acabou por vislumbrar nos monges-guerreiros figuras quase satânicas, detentoras de poderes
extraordinários e de secretos conhecimentos de magia.
Ao pôr um foco sobre tais questões, a sociedade européia realizava um dos sentidos da conjunção
Urano-Netuno em Escorpião: era o terror e ao mesmo tempo a fascinação do oculto, do mágico, do
iniciático, do subterrâneo – dos valores de Escorpião, enfim. Uma verdadeira histeria toma conta da
Europa. Não são apenas os templários, mas também as curandeiras populares que serão chamadas
de bruxas e lançadas em fogueiras, os “esquisitos” e os “diferentes” que serão acusados de pactos
diabólicos e submetidos à tortura para revelar a verdade sobre os encontros do Sabá. O substrato
pagão e o impulso herético que sobreviviam nos porões da religiosidade oficial são trazidos à tona,
indo alimentar o insaciável sadismo dos porões ainda mais sombrios da Santa Inquisição.
A conjunção de 1478 tem uma conotação mista: acontece no último grau de Escorpião, em 29°40’,
a apenas 20 minutos do início de Sagitário. Além disso, dá-se em oposição a Júpiter em Touro e em
conjunção simbólica com o ponto inicial da fase Sagitário da era de Peixes, o que reforça-lhe o
sentido sagitariano.
Reforma e Contra-reforma
Denis Meadows, historiador que produziu uma concisa e elucidativa História da Igreja Católica,
afirmou sobre o movimento desencadeado por Martinho Lutero:
A Reforma não foi propriamente uma reforma, e sim muito mais uma revolução.
Nos países por onde o movimento se espalhou com mais força, o que se viu foi o
desmonte de uma instituição já percebida como indesejável e sua substituição por
um corpo de práticas e crenças absolutamente novo.
Mesmo assim, algumas situações que se apresentavam aos olhos da opinião pública eram de caráter
tão escandaloso que mesmo os católicos mais acomodados sentiam um certo desconforto ao
perceber a contradição entre o ideário religioso e o escancarado cinismo das práticas da época.
Foi nesse terreno minado que o Papa Leão X resolveu fornecer o estopim que provocaria a
explosão do barril de pólvora. O desejo do pontífice era acabar a construção da Catedral de São
Pedro, obra que vinha-se transformando num enorme sorvedouro de recursos. O escândalo do
levantamento de fundos sacudiu os brios de alguns integrantes da própria Igreja, um deles um
monge agostiniano chamado Martinho Lutero – um homem genial.
De 1517 até vinte anos mais tarde, Lutero foi a mais proeminente figura do mundo
ocidental, uma singular e apaixonada voz levantada contra o pontífice de Roma, a
quem o mundo de até então havia considerado como o único e supremo Vigário de
2
Cristo.
Lutero nascera em Eislaben, na Saxônia, em 1483, filho de um mineiro que alcançara uma próspera
situação financeira. Ingressou em 1501 na Universidade de Erfurt, onde dedicou-se a estudos
jurídicos para satisfazer a vontade paterna.
1
MEADOWS, Denis. A Short History of the Catholic Church. New York, All Saints Press, 1960. Esta
citação e as seguintes são traduções livres e resumidas do texto original.
2
Idem.
Prometeu, porém, dedicar-se à vida religiosa em julho de 1505 ao ser surpreendido – diz a lenda –
por uma terrível tempestade em pleno campo. É mais provável que tenha ocorrido com Lutero um
processo semelhante ao de Paulo de Tarso no caminho de Damasco: um profundo e perturbador
insight de sua verdadeira vocação, com força suficiente para redirecionar toda a sua vida deste
momento em diante.
Lutero tornou-se agostiniano, tendo rezado sua primeira missa em 1507, e foi mais tarde nomeado
professor da Universidade de Wittenberg, às margens do rio Elba. Por volta de 1510, visitou Roma
pela primeira e última vez, lá mandado a negócios de sua ordem religiosa. Parece ter ficado
desgostoso e chocado pelo que viu a respeito da vida corrupta de boa parte do clero romano. “O
mais próximo de Roma”, diria ele mais tarde, “é o pior cristão”. Durante os quatro anos que se
seguiram à viagem, Lutero realizou conferências na universidade sobre temas do Velho e do Novo
Testamento. Por esta época ele desenvolveu o conceito ou, segundo suas próprias palavras, recebeu
do Espírito Santo a revelação da justificação pela fé. Este é o núcleo de todo o seu sistema
teológico. Resumindo a doutrina luterana, diríamos que pela Queda (o pecado de Adão) a natureza
humana tornou-se totalmente corrompida. A vontade humana, por si própria, é incapaz de qualquer
ato agradável a Deus, resultando daí a indignidade das chamadas “boas obras”. Na verdade, a
vontade humana não é livre. Apenas a graça divina, sem que seja merecida ou pedida, pode dotar os
atos humanos de algum valor ou dar ao fiel alguma esperança de salvação.
Por outro lado, a presença da graça divina não implica transformação da alma sobre a qual recaia.
A alma não é boa por si própria, mas por causa de uma determinação divina. As deduções lógicas
que retiramos dessas idéias são revolucionárias. Estudaremos o assunto com mais detalhes à vista
do confronto entre agostinianos e tomistas.
A revelação de Lutero foi, no nível pessoal, o ponto de partida da Reforma Protestante. Mas o
primeiro choque frontal com as autoridades eclesiásticas dá-se apenas em 1517, quando ocorre a
controvérsia a respeito das Indulgências. A princípio, Lutero não ataca a doutrina das Indulgências,
ou seja, da autoridade que a Igreja tem para oferecer, em consideração a obras pias, a remissão da
punição temporal por todos os pecados de que o fiel se arrependeu. De início, Lutero atacou apenas
certos abusos claros: o papa Leão X, necessitado de recursos, envolvera-se em complicadas
negociações financeiras com seu arcebispo alemão Alberto de Magdeburgo e com a família de
banqueiros Függer. Todas as esmolas recebidas na jurisdição deste arcebispado seriam divididas
em percentagens iguais: parte para Roma, parte para o arcebispo, parte para os frades dominicanos
(encarregados da cobrança) e o restante para os Függer, em pagamento dos empréstimos que estes
fizeram à Igreja. Para encorajar as esmolas para as obras de São Pedro, oferecia-se uma indulgência
completa para todos aqueles que contribuíssem, bastando que o fiel estivesse em dia com os
sacramentos. Johann Tetzel, frade dominicano, era o encarregado das pregações pró-esmolas na
região de Wittenberg. Sua indiscrição deu a Lutero a motivação necessária para iniciar uma
contestação aberta. O frade dominicano, ao contrário do que se afirma, não vendeu as indulgências.
Havia mesmo uma recomendação no sentido de que as indulgências não deveriam ser negadas
àqueles que, pela carência de recursos, só pudessem contribuir com preces e boa vontade. Até aqui,
nada que pudesse despertar a austera cólera de Lutero. Mas Tetzel, que era um mestre em oratória,
resolveu mostrar todo o seu talento em uma argumentação teologicamente inaceitável. Prometeu,
por exemplo, a indulgência para as almas que estivessem a penar no purgatório, oferecendo aos
parentes vivos das almas sofredoras a possibilidade de redimi-las. É claro que esses desvios
teológicos, agravados pelo fato de que Tetzel indulgenciava indivíduos que não comungavam nem
se confessavam, bastando apenas que pagassem, representavam um sintoma evidente da
mundanização da Igreja.
Em 31 de outubro de 1517, véspera do dia de Todos os Santos, Lutero afixou na porta da igreja de
Wittenberg as suas noventa e cinco teses condenatórias da venalidade, do mundanismo, da
Astroletiva – Nível Especialização – Astrologia Mundial e Grandes Ciclos 1 – Lição 5 – 2
corrupção e do imobilismo da Igreja. Era o primeiro movimento do cataclismo que iria sacudir a
Igreja por várias dezenas de anos. A partir daí inicia-se a campanha contra Tetzel e suas
indulgências. Lutero – no dizer de Denis Meadows – era um pregador “impregnado de emoção e
eloqüência, um mestre da língua alemã como era falada pelos camponeses e pelas massas urbanas,
colorida, vigorosa, hiperbólica e rica em imagens”. Os dominicanos recorrem ao arcebispo e este
passa a reclamação ao Papa, do qual chega a ordem para que Lutero se cale. Os agostinianos,
todavia, apóiam seu revolucionário confrade.
Do ponto de vista astrológico quem era Lutero? Sabe-se que nasceu entre 23h e meia-noite (hora
local) do dia 10 de novembro de 1483 na pequena cidade de Eislaben, na Turíngia3. Nos limites
desta faixa de tempo, podemos ter um Ascendente em qualquer ponto entre 27° de Leão e quase 8°
de Virgem. Há argumentos a favor de qualquer um desses Ascendentes, mas trabalharemos aqui
com uma carta especulativa levantada para as 23h37 LMT, o que deixaria seu Ascendente em 4° de
Virgem. Neste caso, o regente da carta seria Mercúrio em Sagitário (signo de religião, fé, filosofia e
teologia) em conjunção exata com Netuno, co-regente da casa 7. É um aspecto de misticismo, de
exaltação da busca espiritual e da necessidade do encontrar raízes firmes para a fé (a conjunção
está na casa 4).
O Luteranismo foi a primeira religião a ganhar terreno através da palavra escrita, a primeira a usar
o livro como ferramenta básica de difusão. Marte na 3 em Escorpião parece-nos um símbolo
bastante adequado para definir um aspecto essencial da vida deste literato-guerreiro.
Se analisarmos a vida de Lutero nos primeiros anos, até o momento em que a força das
circunstâncias projetou-o no primeiro plano da política européia, vamos vê-lo sempre obcecado por
livros, enfurnado no retiro das bibliotecas, estudando com seriedade e paixão. Nove planetas abaixo
da linha do horizonte, assim como o Sol em Escorpião no Fundo do Céu, explicam esta tendência
intimista, avessa ao bulício, enquanto Virgem no Ascendente dá bem o retrato do homem
escrupuloso, minucioso em suas pesquisas, eternamente curioso e ao mesmo tempo capaz de uma
enorme concentração mental. A conjunção de Mercúrio com Netuno, planeta naturalmente
dispersivo, parece contradizer em parte tal descrição, mas trata-se de um Netuno de casa 4, que
recebe também um trígono da Lua na 8 (uma casa de investigação, com conotação escorpiana), e
3
Turíngia – Região no leste da Alemanha. Eislaben é uma pequena cidade próxima de Magdeburgo e, entre o
final da segunda guerra e o início dos anos 90, fez parte do território da Alemanha Oriental.
4
A 3 como 7 a partir da 9 (casa derivada).
Astroletiva – Nível Especialização – Astrologia Mundial e Grandes Ciclos 1 – Lição 5 – 3
um Netuno que remete exatamente ao objeto fundamental de todas as pesquisas de Lutero: a fé, a
revelação divina e o caminho da ascese espiritual.
A Lua surge neste mapa com uma força incomum por ser o único planeta acima da linha do
horizonte, o que lhe dá enorme importância acidental em decorrência do isolamento hemisférico. É
uma Lua em Áries – combativa e direta, portanto – e de casa 8, o que faz dela um agente de
tremendas mudanças. Podemos chamá-las tremendas em virtude da oposição desta Lua a Plutão na
2, casa dos critérios de valor, que, sob o crivo rigoroso de Lutero, tornar-se-iam a chave para um
severo julgamento da ortodoxia vigente e causa do disparamento de uma reforma – uma
reciclagem completa (casa 8) da instituição religiosa. A Lua rege a 11, a casa das utopias sociais e
da insatisfação com o status quo. O duplo toque Marte-Escorpião desta Lua, por posicionamento
em signo, casa e aspecto, faria com que o ímpeto de transformar condições estagnadas não se
esgotasse no primeiro movimento. Lutero iria até as últimas conseqüências e faria uma reforma
radical.
São exatamente os planetas trans-saturninos, ainda não descobertos na ocasião, que dão à carta de
Lutero uma sintonia com as grandes correntes subterrâneas que esperavam apenas um agente
adequado para fazê-las aflorar. Mercúrio, regente do Ascendente, está enquadrado entre Netuno e
Urano; Plutão aspecta a Lua; e o jogo de regências faz desaguar toda a força da carta em Marte,
dispositor final dos outros nove planetas.
O ano de 1505 é um dos mais decisivos na vida de Lutero, por ter sido aquele em que a vocação
religiosa se revela de chofre, numa profunda experiência mística. Utilizando arcos solares, vemos
que Vênus, regente do Meio-Céu, atinge naquele ano a quadratura com o Ascendente. Junto com
Vênus vem Saturno, com quem forma conjunção em Escorpião na carta natal. Saturno rege a 5, da
criatividade e da emergência de uma nova religiosidade (por ser a nona casa a partir da 9). Marte,
por sua vez, entra em órbita de conjunção com o eixo do meridiano, opondo-se ao Meio-Céu,
enquanto a Lua dirigida está na 9, mostrando a adesão à vida monástica.
Por trânsitos, é Plutão em Sagitário que faz a quadratura com o Ascendente (um momento de
reciclagem de sua auto-imagem, em que o homem mundano fica para trás para dar lugar ao monge),
enquanto Júpiter transita pela 12 e Urano forma a primeira quadratura com sua posição natal. A
revolução solar daquele ano, primeira de Lutero entre os agostinianos, coloca o Ascendente
enquadrado entre o Sol e Mercúrio, estando este último planeta também em quadratura com o
Ascendente natal. São outras tantas evidências para confirmar a hipótese de um Ascendente entre
4° e 5° de Virgem.
Além de 1505, outro ano-chave na vida de Lutero é o de 1517, quando se manifesta sua “rebeldia”
em relação a Roma. Nele, veremos a Lua progredida transitar pela cúspide da casa 11, a dos
projetos sociais, enquanto Marte progredido chega ao Fundo do Céu, repetindo o posicionamento
por arco solar de 1505. Já os arcos solares de 1517 revelam uma série de sextis entre posições
dirigidas e natais: é um ano de oportunidades, e Lutero não as desperdiçaria.
Segundo os registros da época, Luterou afixou as 95 teses na porta da igreja de Wittenberg por
volta das 12h (hora local) do dia 31 de outubro de 1517. Este é o mapa do nascimento da Reforma
Protestante, que tantas conseqüências traria para a vida religiosa e política da Europa por mais de
um século e meio. O movimento nasce com Capricórnio no Ascendente e o visionário Netuno em
Aquário na 1, em quadratura com o Sol em Escorpião junto ao Meio-Céu. Marte está na 9, em
Escorpião, opondo-se a Urano na 3, aspecto revelador do impacto que o documento causaria,
desencadeando reações que logo fariam subir a temperatura política de todo o continente.
A partir de um certo momento, efetivamente, o processo desencadeado por Lutero adquire vida
própria e passa a ser independente em relação ao seu criador. Elementos políticos, econômicos e
sociais interferem no desenvolvimento do movimento protestante e transformam-no em um
importante marco histórico no processo de transformação da sociedade feudal em sociedade
burguesa. Precisamos, então, verificar o que acontecia pela Europa um pouco antes dos primeiros
sermões de Lutero.
Os antecedentes da Reforma
A Igreja Católica possuía imenso patrimônio em bens móveis e imóveis. Como lembrança de sua
época mais gloriosa, durante o apogeu do sistema feudal, restava-lhe uma extensão de terras que
correspondia, grosso modo, a um terço das terras aproveitáveis da Europa. Sendo a Igreja uma
grande proprietária, os bispos e arcebispos comportavam-se sob o aspecto econômico como
qualquer senhor feudal, recolhendo impostos, utilizando mão-de-obra servil, valendo-se da corvéia
e de outras práticas medievais. Os senhores feudais leigos, pertencentes à nobreza tradicional, viam
nas posses da Igreja um obstáculo para o seu próprio crescimento econômico. Na Alemanha, por
exemplo, qualquer contestação ao poder e aos direitos da Igreja Católica seria bem recebida por
boa parte da nobreza, pois permitiria a esta secularizar5 as terras eclesiásticas.
Deve-se lembrar também a situação das massas camponesas ainda submetidas a condições de
servilismo. Para esta classe explorada e miserável, o pagamento dos impostos eclesiásticos
obrigatórios era, por vezes, um fardo insuportável. Além disso, o camponês via o bispo ou o cardeal
como um ser não muito diverso dos grandes senhores leigos: eram ambos membros da classe
dominante e fundamentavam suas riquezas na espoliação do trabalhador rural. Por último, também
a burguesia tinha motivos para pôr-se ao lado dos reformistas, pois a Igreja Católica continuava a
ser um dos baluartes do feudalismo. Economicamente, dependia da terra; politicamente,
organizava-se a partir de uma hierarquia que em muito lembrava as relações feudais de vassalagem;
ideologicamente, desaprovava as atividades burguesas através da postulação da “lei do justo preço”
e da condenação da usura. A burguesia precisava de uma religião que expressasse a nova realidade
econômica européia. Da Reforma Protestante poderia surgir esta nova religião.
Podemos listar também o interesse de vários Estados Nacionais em formação no sentido de afastar
de seus negócios internos a influência da Igreja. A política do supranacionalismo6 papal era
incompatível com o nacionalismo radical pregado pelos monarcas absolutos. Tanto que a formação
de Igrejas Nacionais, principalmente na Inglaterra, atendeu a uma necessidade de fortalecimento da
autoridade real.
5
Secularizar – Transferir os bens eclesiásticos para o controle de leigos.
6
Supranacionalismo – A autoridade do Papa era definida como estando acima e além da autoridade de cada
Estado Nacional.
Astroletiva – Nível Especialização – Astrologia Mundial e Grandes Ciclos 1 – Lição 5 – 5
afastaram-se da temática religiosa, outros adotaram a prática do livre exame na retomada dos
testamentos, principalmente o novo, e desenvolveram um “humanismo religioso” (especialmente na
Alemanha) através da reinterpretação dos textos sagrados a partir das necessidades ideológicas da
modernidade. Ao teocentrismo medieval, sinônimo de um “eclesiocentrismo”, sucedeu o antropo-
centrismo humanista, que colocou na berlinda algumas indagações básicas sobre o destino do
homem: quem o criou, para que foi criado, o que conhece, como conhece (questão esta respondida
com as teses racionalistas de Descartes e com as teorias linguísticas de Port-Royal), o que é
condenável ou não aos olhos de Deus e dos homens e outros problemas de importância semelhante.
Com o Humanismo, uma ânsia de revisão de todo o conhecimento humano e sua avaliação a partir
dos critérios recém-introduzidos tomou conta da intelectualidade européia. No interior da Igreja
Católica, a rigidez dogmática e a dificuldade em modificar-se um sistema ideológico comprometido
com realidades sociais, políticas e econômicas sufocaram, num primeiro momento, a tendência
revisionista e deixaram campo aberto às iniciativas dos franco-atiradores. Em outras palavras: só
tinha plenas condições para criticar a Igreja aquele que já estivesse fora dela.
O imperador alemão Carlos V manteve uma posição dúbia durante o choque entre os reformistas e
o papado. Na frente interna, precisava conter o ímpeto dos senhores feudais e evitar a secularização
de terras, que mais os fortaleceria. Na frente externa, tentava sobrepor-se ao papa e anular os
efeitos da política supranacional do Vaticano mas, ao mesmo tempo, precisava do apoio papal para
a luta contra o rei Francisco I, da França. Na impossibilidade de pesar demoradamente cada aspecto
da questão, o imperador oscila em uma política indefinida e não toma partido. Pressionado pelo
papa, convoca a Dieta7 de Worms, em 1521, e intima Lutero a comparecer.
Este, apesar de acusado do crime de heresia, não sofre nenhuma sanção, protegido que estava pela
maioria da nobreza. A Dieta de Spira, em 1526, não soluciona nenhuma questão de importância.
Em 1529, uma nova Dieta de Spira encerra-se com uma decisiva resolução do imperador no sentido
de tolerar o Luteranismo onde este já estivesse, mas proibir sua propagação a novas áreas. A
resolução provoca protestos de vários príncipes e representantes de comunidades urbanas, e destes
protestos derivam um nome e uma liga militar. O nome é protestantismo, que, daí em diante,
passou a ser um sinônimo de reformismo. A liga militar é a de Schmalkalden (Liga da Esmeralda),
formada pelos príncipes ou senhores feudais protestantes em 1531, tendo como objetivo o
enfraquecimento do poder imperial, se bem que o pretexto para a guerra civil que prolongou-se de
1531 a 1555 fosse a defesa do Luteranismo contra a reação pró-católica de Carlos V.
7
Dieta – Assembléia de nobres, autoridades eclesiásticas e representantes das cidades livres.
Astroletiva – Nível Especialização – Astrologia Mundial e Grandes Ciclos 1 – Lição 5 – 6
A paz entre católicos e protestantes foi feita em 1555 (Paz de Augsburgo), ficando decidido que os
súditos teriam a obrigação de seguir a religião de seus príncipes, enquanto estes gozavam da
liberdade de escolha. A decisão enfraquece o poder imperial, sendo um nítido sintoma da
impotência do imperador diante das aspirações autonomistas da nobreza alemã. A religião não mais
poderia ser utilizada como um fator de unidade nacional dentro do Sacro Império.
O luteranismo, além de conquistar as almas de boa parte da população alemã, expandiu-se por
outros países, notadamente os da Escandinávia. Na Suécia, Noruega e Dinamarca, acabou sendo a
religião oficial do Estado, contribuindo para o fortalecimento de regimes absolutistas.
Podemos observar a carta do início da Reforma em busca dos indicadores da violência da guerra
civil que sacudiu a Alemanha por 14 anos. Por trânsitos, vemos que o período de beligerâncias, que
só se extinguiu quase dez anos após a morte de Lutero, corresponde aproximadamente à passagem
de Plutão em Aquário na casa 1 da Reforma. Sendo o co-regente do Meio-Céu e ocupando a 12 na
carta radical daquele processo histórico, Plutão é significador tanto das lutas pela hegemonia
política (causa principal dos combates) quanto da emergência de ódios seculares, mantidos
abafados (casa 12) até o momento em que encontraram o pretexto para manifestar-se. Plutão já está
a apenas quatro graus do Ascendente da carta da Reforma na primavera de 1520, quando Lutero é
excomungado por uma bula papal cujas primeiras palavras eram:
A bula, como relata Hermínio C. Miranda em sua interessante biografia de Lutero8, “espalhara
grande agitação na Alemanha, radicalizando posições e engendrando um clima de tensão. Só Lutero
parecia conservar admirável tranqüilidade espiritual”. Uma coisa fora promulgar a bula; outra seria
fazê-la cumprir. Os ânimos na Alemanha já estavam exaltados contra a Igreja, e Lutero ganhara
muitos adeptos desde 1517. Houve um nobre, porém, que, mesmo sem aderir à causa luterana,
desempenharia importante papel para proteger Lutero do risco de cair na garra dos “papistas”: era o
eleitor da Saxônia9, o príncipe Frederico, o Sábio.
8
MIRANDA, Hermínio C. As marcas do Cristo, volume II: Lutero, o Reformador. RJ, FEB, 1974.
9
Eleitor – Como o cargo de imperador alemão não era hereditário, mas eletivo, os nobres mais influentes do
país eram os que detinham a prerrogativa de eleger o novo imperador. Frederico era um deles.
Astroletiva – Nível Especialização – Astrologia Mundial e Grandes Ciclos 1 – Lição 5 – 7
posições de Marte na carta de ambos, em 1° de Escorpião. O Urano de Frederico ocupa a casa 1 de
Lutero, indicando uma disposição aberta para aceitar a personalidade inovadora do reformador.
Frederico era um homem equilibrado e de formação cultural primorosa, que mantinha em sua corte
algumas das mais importantes figuras intelectuais da época. Entre estes, os pintores Albrecht Durer
e Lucas Cranach, o velho, e o pensador humanista Georg Spalatin. Na época da excomunhão, o
famoso humanista Desidério Erasmo10 também se encontrava na corte de Frederico, sendo por este
procurado em 5 de novembro de 1520 para opinar sobre os desdobramentos cada vez mais graves
da situação. Consta que Erasmo, após alguma hesitação, respondeu-lhe com discreta ironia: “Lutero
cometeu dois pecados: tocou a coroa do Papa e o ventre dos monges”...
Carlos V, herdeiro dos vastos territórios dos Habsburgos que incluíam a Alemanha, a Áustria, a
Espanha, a Boêmia, Flandres, Holanda, Hungria e o reino de Nápoles, além de toda a América
Espanhola, havia nascido em 24 de fevereiro de 1500, em Ghent, na atual Bélgica, apenas dois
meses antes da chegada de Cabral ao Brasil. Seu mapa apresenta nove planetas em signos
femininos, com destaque para o stellium de Mercúrio, Júpiter, Sol e Marte em Peixes. Mas o único
planeta em signo masculino – Urano domiciliado em Aquário – desempenha um papel de destaque,
não só por esta condição diferenciada como também por ser o ápice de uma quadratura T, em
quadratura com a oposição praticamente exata entre Marte em Touro e Plutão em Escorpião. A
carta é uma taça – os dez planetas contidos dentro de uma oposição – e Plutão desempenha a
função de planeta-guia, aquele que, sendo o primeiro a cruzar os ângulos no movimento diário do
Ascendente, determina o padrão básico de aproximação deste rei em relação às experiências
mundanas. Esta quadratura T envolvendo Marte, Urano e Plutão em signos fixos é o retrato de um
homem sempre tensionado pelo impulso de preservação do poder e do controle, e que envidaria
todos os esforços para a manutenção de seu imenso império; além disso, havia um stellium em
Peixes, símbolo da dualidade de comportamento de um rei que teria sempre de “dividir-se em dois”
para dar conta das imensas responsabilidades de dirigir o maior império do mundo. Vejamos como
sua personalidade é descrita por um historiador isento:
Não apenas a tarefa, mas o homem a quem ela foi confiada tinham uma natureza
dual. Por formação, Carlos era um governante medieval, cuja visão de mundo foi
10
Também chamado Erasmo de Roterdã.
Astroletiva – Nível Especialização – Astrologia Mundial e Grandes Ciclos 1 – Lição 5 – 8
marcada por uma fé católica profundamente experienciada e pela nobreza de
ideais da extinta era da cavalaria. Por outro lado, um raciocício sóbrio, racional e
pragmático define-o como um homem de seu tempo. Se bem que a elevação moral
e o senso de honradez pessoal de Carlos tornam impossível impossível defini-lo
como um verdadeiro homem de Estado maquiavélico, (...) sua recusa em abrir mão
de qualquer parcela de seu patrimônio evidencia um forte e incondicional desejo de
poder. Mais do que isso, é precisamente esta necessidade pessoal de poder que
11
forma a essência de sua personalidade e explica seus objetivos e ações.
A natureza dual está em Peixes e também na própria psicologia da oposição, aspecto que implica a
necessidade de conciliação de opostos e de alguma forma de compromisso entre extremos. O
raciocínio sóbrio e pragmático relaciona-se com os quatro planetas em Terra (a Lua, em
Capricórnio, faz conjunção com Netuno e trígono com Saturno e Marte em Touro). O
conservadorismo nostálgico, que leva Carlos a adotar uma idealizada ética medieval, tem relação
com Lua-Netuno em Capricórnio. E a dificuldade para abrir mão de seja lá o que for, que obrigou
Carlos a percorrer a Europa incansavelmente para sufocar rebeliões e “apagar incêndios” nos
quatro cantos de seu império, é reflexo da quadratura T em signos fixos.
Carlos V enfrentou revoltas nas municipalidades espanholas, sufocou rebeliões em Flandres e nos
Países Baixos, envolveu-se em permanentes lutas com a França pelo domínio da Itália e assumiu
um papel semelhante ao dos reis-cruzados que o antecederam em alguns séculos, ao assumir a
defesa da Cristandade contra o crescente poderio dos turcos no Mediterrâneo e na Europa Oriental.
Em boa parte, foi bem sucedido, mas à custa da exaustão do tesouro imperial, cujos recursos foi
obrigado a canalizar para esforços bélicos. Quando necessário, usou de violência, mandando
executar rebeldes às centenas na Espanha e na Holanda (a rigidez da quadratura T envolvendo os
planetas “maléficos”). Mas foi, por outro lado, um imperador pio, cuja natureza basicamente
pisciana prevaleceu nos anos finais de vida, quando abdicou do trono, em 1556, para internar-se
num mosteiro e preparar-se para a morte.
11
Britannica Online, verbete sobre Carlos V.
Astroletiva – Nível Especialização – Astrologia Mundial e Grandes Ciclos 1 – Lição 5 – 9
verdade e escreveu a Roma, referindo-se ao sumiço de Lutero e à possível participação de
Frederico: “Foi aquela raposa saxônia que o raptou.”
Nesses anos vitais, de 1520 a 1522, Lutero ultrapassa o ponto de não-retorno e evolui da condição
de simples monge com idéias dissidentes e um tanto exóticas para líder inconteste de um
movimento revolucionário. Abrira mão voluntariamente das oportunidades de retratar-se e era
agora um herege, um excomungado e um homem com a cabeça a prêmio pelo Papa e pelo
imperador. Só lhe restava um caminho: ir até o fim, combatendo sempre.
Estes anos são caracterizados por três quadraturas em seu mapa: Urano em trânsito chega ao Meio-
Céu, enquanto Netuno atinge o Descendente e Plutão forma quadratura com a Lua natal.
Verdadeiramente, Lutero assume a condição de agente das grandes mudanças anunciadas pelo ciclo
Urano-Netuno de 1478. O período 1521-22 é também o da passagem de Marte progredido sobre o
Sol natal, reforçando o sentido de aguçamento de lutas. O Ascendente dirigido por arco solar atinge
a oposição Plutão-Lua, no eixo 2-8. Sob qualquer ângulo que consideremos, é o auge da vida de
Lutero, o momento decisivo de sua participação pessoal na construção de um novo credo religioso.
A retirada de cena de Lutero tornara o movimento um tanto acéfalo. A agitação cresce nas cidades
e no campo, trazendo o risco de convulsões sociais. Percebendo as condições do momento,
Frederico libera Lutero, que reaparece publicamente em Wittenberg e reinicia suas pregações,
retomando o leme da Reforma. Nos anos seguintes, cada vez o movimento ganharia um caráter
mais coletivo, com a emergência de novas lideranças e de seitas dissidentes. Lutero permaneceria
vivo e atuante até 1546, mas foi naquele período de 1521-22 que sua participação assumiu um
caráter mais decisivo. Era a prova de fogo da nova religião, o caminho sem volta.
Desconhece-se a hora exata do nascimento deste erudito humanista, mas sua constante atuação
como mediador, conciliador e pacificador, no meio do fogo cruzado de posições conflitantes, faz
pensar num Ascendente Libra – signo que não conta com qualquer planeta em sua carta. Se
considerarmos a possibilidade de um nascimento por volta das 21h, Libra estaria no Ascendente
com nove planetas abaixo da linha do horizonte, uma distribuição compatível com o temperamento
Melanchton, com Sol em Peixes e outros três planetas em signos mutáveis, é adaptável nos mesmos
pontos em que Lutero fixa-se na intransigência, e dispõe-se ao acordo nas mesmas situações que
despertam no companheiro apenas a disposição para o combate feroz. Outro interaspecto digno de
nota é Saturno de Melanchton em Áries, sobre a Lua de Lutero, que bem retrata a ascendência
moral e intelectual que o jovem professor de grego teria sobre o reformador. Lutero sempre
descreve o amigo como uma autoridade (Saturno) em assuntos culturais e teológicos, submetendo-
se também, em momentos críticos, aos seus conselhos de cautela e apaziguamento. Melanchton é o
freio de Lutero, o jovem que exerce, paradoxalmente, o papel de amigo sábio e conselheiro – um
papel de Saturno, enfim.
A importância de Philipp Melanchton para a educação alemã é tremenda. Foi ele quem lançou as
bases conceituais do ensino fundamental e médio do país, influenciando gerações de educadores.
Foi chamado, ainda em vida, o “preceptor da Alemanha”, o que destaca a importância das casas
ligadas à educação em seu mapa. Se o horário em torno das 21h revelar-se correto, Júpiter e Marte,
em Sagitário, estarão na cúspide da 3 (em conjunção com Mercúrio e Netuno de Lutero), enquanto
Mercúrio e Sol estarão na 5, sendo Mercúrio o regente da 9. Como Netuno também ocupa a 3,
teríamos assim cinco planetas nas duas casas mais ligadas às questões da educação fundamental,
exatamente a 3 e a 5.
As Luas dos dois mapas estão ambas em signos de Mercúrio. A Igreja Luterana foi a primeira a
surgir após o advento da imprensa, e sua difusão dependeu da palavra escrita, mais do que das
pregações no púlpito. Pode-se dizer que, sem o livro, a Reforma não existiria, e as Luas
mercurianas de Melanchton e do próprio movimento dão testemunho desta importância. O
Mercúrio da Reforma está em Sagitário, assim como o de Lutero (a palavra a serviço da causa
religiosa), reforçando o vínculo entre a transmissão do conhecimento e a difusão da fé. Até hoje, a
imagem que logo se associa aos “crentes” é a do pregador em praça pública, a ler a Bíblia em voz
alta com todo o entusiasmo de um Mercúrio em Sagitário.
Por outro lado, verifica-se também nesta religião um impulso de simplificação do culto e de busca
da essência, em detrimento da liturgia. Não há muito lugar para as exterioridades, prevalecendo a
importância da experiência mística, intimista, interior. O rompimento radical com alguns aspectos
ritualísticos do Catolicismo revela a importância de Plutão no mapa da Reforma, em plena 12,
O culto aos santos é eliminado, assim como a hierarquia do clero e a crença no purgatório.
Rejeita-se também o celibato, tendo o próprio Lutero contraído casamento com uma monja. A fé
aparece como o único caminho para a salvação, idéia evidentemente antitomista. Aqui é necessário
lembrar que dois grandes filósofos, Platão e Aristóteles, dividiam entre si as atenções dos teólogos
e que suas respectivas obras vinham merecendo uma detalhada exegese desde o início da Idade
Média. Santo Agostinho, ainda nos agitados primórdios da era medieval, desenvolve a partir de
Platão uma teoria na qual o homem aparece depravado pela sua própria natureza, podendo salvar-se
pela fé. Esta, e não as boas obras, poderia guiar o homem em direção ao paraíso. Contudo, a
valorização da fé não deixava bem claro o papel da Igreja para a salvação do homem. Séculos
depois surge São Tomás de Aquino, em pleno apogeu da Igreja na Idade Média, para elaborar um
novo sistema teológico no qual o homem era dotado de livre arbítrio (em Santo Agostinho
predominava a idéia de predestinação). Para Aquino, o homem teria o direito de escolher entre o
bem e o mal e, de acordo com o caráter de suas obras, seria conduzido para o céu ou para o inferno.
Como o diabo sempre estava a tentar o homem e a seduzi-lo inevitavelmente para o mal, a Igreja
adquire a importantíssima função de livrar o fiel desta satânica influência e mostrar-lhe o caminho
das obras pias. Como se vê, o livre arbítrio do homem coloca-o por completo na dependência da
Igreja, pois raramente é acompanhado de discernimento. Lutero, sendo agostiniano e estudioso do
Novo Testamento (onde as epístolas de São Paulo já antecipavam certas idéias de Santo
Agostinho), lutava contra o tomismo, quer dizer, contra a ideologia religiosa oficial que derivava de
São Tomás.
O comprometimento político com os príncipes alemães fora a tônica do luteranismo desde o início
do movimento. Era natural portanto, que fizesse concessões nesse sentido e fosse levado a declarar
a ascendência do Estado sobre a Igreja. A princípio postula-se a possibilidade de um Estado forte
coexistir com a tolerância religiosa: “O Estado deve deixar cada um livre de crer no que pode e
quer crer.” Porém, com a multiplicação de seitas protestantes, muitas vezes radicais e rivais entre
si, Lutero refaz a idéia e encaminha-se para a fórmula restrita: “tal príncipe, tal religião”. É uma
estratégia de sobrevivência do novo culto, mas que revela o sentido aristocrático presente no mapa
da Reforma. Nesta, Plutão, regente do Meio-Céu, encontra-se em conjunção com o regente do
Ascendente, expressando a aliança entre o movimento e as aspirações da oligarquia alemã. O Sol
junto ao Meio-Céu, em Escorpião (em ressonância com o Sol do próprio Lutero no mesmo signo)
Astroletiva – Nível Especialização – Astrologia Mundial e Grandes Ciclos 1 – Lição 5 – 12
fala desta vocação para o reforço da autoridade forte e controladora. Já no mapa de Melanchton, o
sentido de autoridade e disciplina está presente na conjunção de Vênus, regente do Ascendente,
com Saturno.
Exercícios de aplicação
A crise na Argentina
Durante os anos 80, a Argentina sofreu com a hiperinflação a ponto de, em 1989, os preços já
serem remarcados mais de uma vez no mesmo dia. Isso levou a saques de supermercados e a que o
presidente Raul Alfonsin antecipasse a transmissão do cargo para seu sucessor eleito, Carlos
Menem. Em 1991, Menem e seu ministro da Economia, Domingo Cavallo, instituíram um novo
plano econômico em que o peso passou a ter paridade com o dólar americano (mesmo valor) e o
câmbio tornou-se fixo. Por volta de 1993, o novo plano parecia estar produzindo o melhor de seus
resultados. Mas, de 1994 em diante, a Argentina mergulhou lentamente na recessão (diminuição
progressiva da atividade econômica), com aumento do desemprego. A causa principal foi o
encarecimento dos produtos argentinos no exterior, pois o dólar se valorizou internacionalmente, o
mesmo acontecendo com o peso argentino. Além disso, a dívida pública aumentou enormemente, já
que tanto o governo federal quanto as províncias gastaram mais do que podiam, sendo obrigados a
obter empréstimos cada vez maiores no exterior. A crise se aprofundou de 1999 a 2001, quando o
desemprego atingiu um recorde de quase 20%. Daí para a situação de miséria de 40% dos
argentinos e para o início dos saques foi apenas um passo.
O único grande ciclo de planetas exteriores iniciado nesses anos foi o da conjunção Urano-Netuno
que teve lugar em 1993, quando os dois planetas se encontraram aproximadamente a 18º de
Capricórnio.
A Argentina tem dois mapas de independência: um da primeira declaração, feita em Buenos Aires
em 25 de maio de 1810, e outro para a declaração formal de independência, no Congresso de
Tucumán, em 9 de julho de 1816.
Você está recebendo os dois mapas em cartas solares (sem indicação de casas, dadas as dúvidas
sobre os horários exatos). Tente responder às seguintes perguntas:
1 – Qual dos dois mapas apresenta planetas mais afetados pela conjunção Urano-Netuno de 1993?
4 – São inúmeras as anedotas sobre argentinos que circulam por aí. Veja algumas:
“O que quer dizer ego?” pergunta o garotinho. “Ego, meu filho”, responde o pai, “é o
pequeno argentino que vive dentro de cada um de nós”.
Como se faz para saber que um espião é argentino? É fácil! Ele leva um cartão que
diz: "El mejor espión del mundo".
Em Uruguaiana, fronteira com a Argentina, havia um padre que adorava falar mal
dos nossos vizinhos. Porém, os comerciantes brasileiros não gostavam nem um
pouco disso, porque vinha criando um clima ruim junto aos argentinos que
atravessavam a fronteira para fazer compras na cidade. Reclamaram com o bispo,
que proibiu o padre de falar mal dos argentinos. Então, na missa do dia seguinte, o
padre disse:
–Devemos amar os nossos queridos irmãos argentinos do mesmo jeito que Jesus
amou seus discípulos na Santa Ceia, mesmo sabendo que um deles o iria trair.
Como vocês sabem, quando Jesus disse isso, logo olhou para Pedro. E Pedro
perguntou: “Serei eu, Mestre?” E Jesus respondeu: “Não Pedro, não será você.”
Em seguida, Jesus encarou João, que também perguntou: “Por acaso serei eu o
traidor?” O Mestre respondeu igualmente com uma negativa e encarou Judas. Aí
Judas, muito incomodado, perguntou: “Hey hombre, por que me miras así?”
Agora, observe de novo as duas cartas da Argentina: qual das duas mais mostra um povo com uma
atitude básica semelhante à das anedotas que você leu? Justifique.
5 – Da mesma forma: qual das cartas mostra maior tendência para instabilidade política,
radicalismos, revoluções etc.? Considerando que a Argentina teve uma vida política extremamente
instável, agitada e muitas vezes violenta ao longo das últimas décadas, em que carta isso se revela
melhor?
Mapas complementares:
Mapas complementares:
Sobre a Argentina:
Exercícios de aplicação
A crise na Argentina
RESPOSTAS
Durante os anos 80, a Argentina sofreu com a hiperinflação a ponto de, em 1989, os preços já
serem remarcados mais de uma vez no mesmo dia. Isso levou a saques de supermercados e a que o
presidente Raul Alfonsin antecipasse a transmissão do cargo para seu sucessor eleito, Carlos
Menem. Em 1991, Menem e seu ministro da Economia, Domingo Cavallo, instituíram um novo
plano econômico em que o peso passou a ter paridade com o dólar americano (mesmo valor) e o
câmbio tornou-se fixo. Por volta de 1993, o novo plano parecia estar produzindo o melhor de seus
resultados. Mas, de 1994 em diante, a Argentina mergulhou lentamente na recessão (diminuição
progressiva da atividade econômica), com aumento do desemprego. (...)
O único grande ciclo de planetas exteriores iniciado nesses anos foi o da conjunção Urano-Netuno
que teve lugar em 1993, quando os dois planetas se encontraram aproximadamente a 18º de
Capricórnio.
A Argentina tem dois mapas de independência: um da primeira declaração, feita em Buenos Aires
em 25 de maio de 1810, e outro para a declaração formal de independência, no Congresso de
Tucumán, em 9 de julho de 1816.
Você está recebendo os dois mapas em cartas solares (sem indicação de casas, dadas as dúvidas
sobre os horários exatos). Tente responder às seguintes perguntas:
1 – Qual dos dois mapas apresenta planetas mais afetados pela conjunção Urano-Netuno de 1993?
Resposta: Podem ter vários significados, dependendo do enfoque. De maneira geral, Urano é
desestabilização, abertura, desejo de liberdade, arejamento ou ruptura de estruturas tradicionais.
Mais especificamente, rege as indústrias eletrônica, de informática e aeronáutica, os terremotos e
furacões e assim por diante. Netuno é a arte, a musicalidade, o ritmo, o misticismo, a ligação com o
oceano. Do ponto de vista econômico, o petróleo e seus derivados, os gases, as bebidas alcoólicas,
os anestésicos. Tensionado, Netuno significa escândalos, situações confusas e indefinidas, perda de
rumo, corrupção, falta de objetividade e corrosão de estruturas político-administrativas.
Resposta: No que tem de melhor, esta conjunção simboliza a possibilidade de romper e superar o
condicionamento a estruturas políticas, administrativas e culturais estagnadas e restritivas.
Considerando que os efeitos se manifestam numa faixa de tempo bastante ampla, foi sob uma
destas conjunções que a Europa viu a Igreja Católica entrar em crise e perder o monopólio da
cristandade, com o advento da Reforma Protestante. Sob outra conjunção Urano-Netuno, a de 1821,
as colônias americanas afastaram-se definitivamente do controle das metrópoles européias
(Espanha e Portugal) e iniciaram uma vida independente. Na conjunção de 1993, a Guerra Fria
acabou de vez, o “império” soviético desmoronou e a Internet trouxe uma revolução nas
comunicações internacionais.
No que tem de pior, sob a conjunção Urano-Netuno estruturas estáveis são abaladas e
convulsionadas. Limites necessários deixam de existir nitidamente e referências importantes são
perdidas. A Argentina, cujo mapa de 1816 foi fortemente afetado pela conjunção de 1993, abriu
mão da independência de sua moeda, atrelando-a ao dólar, e adotou um modelo neoliberalista em
que as importações entraram indiscriminadamente no país a ponto de desequilibrar a balança de
pagamentos. Empresas importantes e estáveis (Capricórnio) foram desnacionalizadas, vendidas,
puverizadas ou desestabilizadas. A conseqüência, mais adiante, foi a maior onda de desemprego da
história do país. Sem dúvida, predominaram os significados mais negativos da conjunção Netuno-
Urano, se bem que sua manifestação não tenha sido imediata.
4 – São inúmeras as anedotas sobre argentinos que circulam por aí. Veja algumas:
“O que quer dizer ego?” pergunta o garotinho. “Ego, meu filho”, responde o pai, “é o
pequeno argentino que vive dentro de cada um de nós”.
(...)
Agora, observe de novo as duas cartas da Argentina: qual das duas mais mostra um povo com uma
atitude básica semelhante à das anedotas que você leu? Justifique.
Resposta: O que há de comum na maioria das anedotas é uma imagem do argentino como um tipo
vaidoso, de ego inflado, com uma percepção distorcida do próprio valor e sempre disposto à
autoglorificação. O corolário de tais “qualidades” seria, naturalmente, um comportamento difícil de
suportar pelos não-argentinos.
Anedotas sempre exageram, mas por trás da brincadeira há um fundo de verdade. O clássico
indivíduo de ego inflado e que não tem pudor de demonstrá-lo é aquele que apresenta ênfase em
Leão, ou no Sol, e aspectos dissonantes extrovertidos ou “espaçosos”, como Sol-Marte ou Sol-
Júpiter. Isso também vale para uma instituição ou para um país. A carta de 1810 apresenta uma
conjunção Sol-Marte em Gêmeos (tagarelice, verborragia) recebendo uma oposição de Saturno e
Netuno no exagerado signo de Sagitário. Aspectos Sol-Saturno costumam ter efeito depressivo e de
queda na auto-estima, do que resulta um esforço de supercompensação. Algo no estilo: “Sinto-me
inseguro e descontente comigo mesmo. Mas não, não quero me sentir assim. Quero me sentir o
máximo. Aliás, eu sou o máximo e todo mundo precisa se convencer disto!”
Agora, o mais interessante: o outro mapa, de 1816, apresenta Marte em Leão, uma posição que é
análoga a Marte em conjunção com o Sol. O Sol, por outro lado, não está em aspecto com Saturno,
mas apresenta uma oposição à Lua em Capricórnio, signo de Saturno. Quem está em oposição a
Se bem que os dois mapas apontem para o mesmo “complexo”, o de 1810 é muito mais evidente, já
que exacerba o eixo Gêmeos-Sagitário, exatamente o da tagarelice, dos exageros verbais, da “lábia”
etc. Basta lembrar que os dispositores dos seis planetas que se encontram neste eixo são Mercúrio e
Júpiter.
5 – Da mesma forma: qual das cartas mostra maior tendência para instabilidade política,
radicalismos, revoluções etc.? Considerando que a Argentina teve uma vida política extremamente
instável, agitada e muitas vezes violenta ao longo das últimas décadas, em que carta isso se revela
melhor?
Resposta: Esta é uma questão de resposta muito difícil. Tudo depende da distribuição dos planetas
por casas, sobre o que não há nenhuma certeza dada a ausência de dados conclusivos quanto aos
horários das duas cartas. Mas analisando exclusivamente as posições de planetas por signos e seus
aspectos, o mapa de 1810 apresenta um excesso de planetas tensionados em signos mutáveis, o que
tende a levar a um excesso de idas e voltas que não se traduzem em resultados muito práticos. Os
acontecimentos do final de 2001 e início de 2002 na Argentina são bem a expressão dessas tensões
mutáveis: num dia o ministro anuncia o nono plano econômico, no outro o ministro renuncia, mais
adiante o próprio presidente renuncia para dar lugar a outro que não resiste por uma semana... e
tudo isso entremeado de dezenas de pronunciamentos em cadeia nacional, intermináveis reuniões
de lideranças partidárias, enfim, uma agitação que parece não ter fim e que não conduz a parte
alguma. Quanto à violência institucional, com a freqüente intervenção das Forças Armadas na vida
política, podemos associá-la a alguns aspectos que aparecem em ambos os mapas, como a oposição
Saturno-Marte. Mas novamente é o mapa de 1810 que traduz melhor a possibilidade da violência
associada ao exercício do poder (violência do governante ou contra o governante), tendo em vista
os aspectos que unem Sol, Marte, Saturno e Netuno.
NOTA: Depois de enviado este exercício, obtivemos um horário mais preciso para o juramento de
De la Rúa. A cerimônia não ocorreu às 9h, como estava inicialmente programada, mas às 9h46
(houve um atraso de quase uma hora). Neste novo mapa, Vênus não é mais regente do Meio-Céu,
que se situa já em Escorpião. Por outro lado, Vênus passa a estar presente no Meio-Céu, por
conjunção, o que torna este planeta, de qualquer maneira, o significador do presidente. Quanto ao
Ascendente (que representa o país e sua identidade coletiva), passa a ficar enquadrado entre Marte
e Urano... não poderia ser mais revelador!
a) Qual dos mapas mostra de maneira mais intensa que a crise do governo de De la Rúa
afetaria fortemente o Brasil (o que aconteceu especialmente no final de 2000 e início de
2001)?
OS ANOS DE HORROR
a) A Guerra dos Cem Anos e Joana d’Arc
A CONJUNÇÃO DE 1455
b) A questão negra
A CONJUNÇÃO DE 1597
c) O advento da ciência moderna
A CONJUNÇÃO DE 1710
d) Voltando no tempo: o governo de Luís XIV
e) O infatigável Colbert
f) A política externa de Luís XIV
g) Conflitos no Brasil, máquinas na Inglaterra
O fato mais significativo nesta seqüência é, portanto, a mudança de elemento, sendo que no último
milênio tivemos a alternância de três: Água, até 1090; uma fase transicional Água-Fogo entre 1090
e 1343; apenas Fogo daí até 1965 (e sempre em Áries e Leão); e Terra, fase iniciada com a
conjunção em Virgem de 1965.
Para tentar uma abordagem deste ciclo, iniciemos com a conjunção de 1965. Recordando o que
ocorreu no mundo na década de 60, não é difícil perceber uma série de correlações significativas:
• A independência das antigas colônias européias na África negra, processo que se inicia nos
anos 50 e só terminará nos 70, tendo seu auge no início da década de 60.
• A corrida espacial: a chegada do homem à Lua ocorre apenas três anos depois do início deste
ciclo.
Outra particularidade do ciclo Urano-Plutão é sua relação com o aspecto do trígono. Quando duas
conjunções seguidas ocorrem em signos do mesmo elemento, estes signos estão afastados entre si
Considerando o mapa simbólico da Terra nos últimos dois milênios, com o Ascendente em Peixes1,
é possível identificar que casas deste mapa da Terra os ciclos Urano-Plutão vão ativando durante os
séculos em que ocupam determinado elemento. Assim, as conjunções no elemento Água ativam as
casas de identidade (1, 5 e 9), enquanto as conjunções em Fogo colocam em evidência questões
relacionadas à produção (casas 2, 6 e 10). Já aquelas em Terra trazem à tona inovações nas áreas de
comunicação, trocas e aprendizagem. No período que mais nos interessa, aquele que vai de 1090 a
1965, estas conjunções estão nas casas 2 e 6 da era de Peixes, remetendo sempre a avanços na
forma de produção da riqueza e da organização do trabalho. Historicamente, correspondem ao lento
mas constante processo de transição do mundo feudal e agrário da Idade Média para o moderno
capitalismo industrial. São as conjunções burguesas por excelência e sinalizam transformações
violentas, os solavancos maiores que se traduzem mais adiante como etapas de rápido progresso no
desenvolvimento das forças produtivas.
Observemos agora com mais atenção os fatos que se relacionam com a conjunção de 1090,
extremamente importante por ter sido a primeira em signos de Fogo da era cristã.
Os normandos eram bárbaros ainda não cristianizados que, vindos do norte, assolaram o litoral da
Europa a partir do século VIII com freqüentes incursões que visavam à pilhagem e ao saque. Com
seus barcos pequenos e leves, penetravam também pelos vales fluviais e disseminavam o terror
entre as populações interioranas. Os magiares (atuais húngaros) eram bárbaros aparentados com os
hunos. Chegados das estepes asiáticas, penetraram na Europa Oriental e, praticando a pilhagem
como forma sistemática de sobrevivência, transformaram-se na segunda das pragas que desabaram
sobre a cristandade. A terceira praga – sempre do ponto de vista cristão – foram os muçulmanos.
Estes, impulsionados por um intenso fervor religioso e pelo interesse na conquista das zonas de
1
Ver o curso Eras e Ciclos Planetários 1, em que se discute o mapa simbólico da era de Peixes como fator de
contextualização dos ciclos de planetas trans-saturninos.
No alvorecer do século IX, a cristandade encontra-se num beco sem saída. Atacada por todas as
direções e escorraçada do Mediterrâneo pelos árabes, é obrigada a ruralizar-se e voltar-se para a
agricultura. O comércio tornara-se impraticável devido à perda do eixo marítimo mediterrâneo e à
instabilidade das rotas terrestres. Estrutura-se o feudalismo, sistema econômico no qual a terra é a
base de toda a riqueza e o feudo, ou seja, o latifúndio, funciona como uma unidade de produção
auto-suficiente. Socialmente, a divisão em classes se estabelece a partir da propriedade ou não-
propriedade da terra. Os senhores feudais são a nobreza e o clero, classes dominantes, enquanto os
camponeses sem terra transformam-se em servos dependentes de seus senhores.
Tal estado de coisas dura até o século XI, quando uma série de transformações trazem à Europa as
condições necessárias para a retomada dos caminhos do comércio e das grandes águas do Oceano.
Com o fim das invasões magiares e normandas e o início da decadência árabe, diminui a
insegurança que impedia a plena e regular exploração dos campos. A agricultura – atividade que
necessita de paz e estabilidade política para desenvolver-se – inicia nesta época um grande ciclo de
renovação de suas práticas, através de aperfeiçoamentos técnicos nos arados e outras ferramentas,
da substituição da rotação bienal pela trienal e da expansão das áreas cultivadas.
Com o fim das invasões e a relativa paz que se seguiu, houve condições para um novo surto
demográfico. Este, por sua vez, originou a necessidade da expansão das áreas cultivadas,
pressionando também no sentido da busca de maior produtividade. Trata-se, portanto, de um
conjunto de fatores que interagem, de tudo resultando uma conseqüência mais ampla cujo
conhecimento é essencial para a compreensão de fatos posteriores: o surgimento dos excedentes de
produção, em função dos quais o comércio teve condições de reativar-se e as cidades puderam sair
de sua tricentenária letargia. Neste mesmo século, as cidades italianas aceleraram o processo de
reconquista do Mediterrâneo aos árabes enquanto os caminhos do interior tornavam-se a cada dia
mais seguros. Preparava-se o caminho para o chamado Renascimento Comercial e Urbano, termo
que designa o conjunto das transformações econômicas sofridas pela Europa a partir do século XI.
Nas antigas cidades revitalizadas ou naquelas recém-fundadas, a população volta-se outra vez para
o artesanato e o comércio. Os elementos urbanos eram homens livres que se agrupavam em
corporações de ofício (associações comerciais e artesanais) para fins de proteção contra o senhor
feudal, anulação de concorrência e assistência social. As populações urbanas dão, assim, origem a
uma nova classe social: a burguesia, cujo nome deriva da expressão burgo (núcleo populacional
fortificado) ou ainda de forisburgo (núcleos populacionais localizados ao redor dos burgos
primitivos).
A conjunção de 1090
“Deus lo Volt!”
É claro que todos estes acontecimentos não se deram de uma única vez, nem com a mesma
velocidade em todas as regiões da Europa. São típicos especialmente nas regiões que já
apresentavam algumas pré-condições capazes de proporcionar-lhes a dianteira no processo de
mudança. Mas é fora de dúvida que se pode atribuir à conjunção Urano-Plutão de 1090 o papel de
aceleradora do chamado renascimento comercial e urbano da Europa, argumento que se torna ainda
mais evidente quando se recorda o fato que toma de assalto a mentalidade européia naquela década:
a luta pela reconquista da Terra Santa aos infiéis.
Ao término da prédica papal, ecoa na multidão um grito espontâneo, que toma conta de toda a praça
e se transformaria no mote das cruzadas: “Deus lo volt!” (em dialeto provençal arcaico: “Deus o
quer”). Para conseguir este resultado, Urbano II lançara mão de imagens altamente sugestivas,
como a descrição minuciosa dos supostos horrores praticados pelos turcos, e apelara para as
recompensas que estariam à espera do fiel disposto a embarcar na aventura cruzadista. Como
profundo conhecedor da realidade social e psicológica de seu rebanho, acrescentara ainda
argumentos bastante práticos, como a possibilidade de ocupação de terras férteis, “de onde
manavam leite e mel”, capazes de solucionar o problema da fome que grassava na Europa, e a
oportunidade de canalizar para fins nobres e aceitáveis aos olhos de Deus a enorme agressividade
que ainda caracterizava as relações sociais:
A Cristandade européia faria mais do que isso: combateria turcos e árabes e também aproveitaria
para ocupar Bizâncio a pretexto de protegê-la, instituindo por um breve período um Império Latino
do Oriente em terras gregas. Tomaria contato com uma realidade cultural até então quase
desconhecida e desenvolveria novas habilidades tecnológicas e novos hábitos de consumo. Após as
Cruzadas, a Europa nunca mais seria a mesma. Idealizadas para expandir e reiterar os valores da
sociedade feudal, as Cruzadas terminariam por abalá-los profundamente, abrindo caminho para o
avanço das atividades mercantis. Abalariam também o já ameaçado Império Bizantino,
enfraquecendo-o ainda mais e contribuindo para sua derrocada final, alguns séculos depois.
Todo este conjunto de processos turbulentos, desestabilizantes e arejadores está de acordo com o
simbolismo do encontro de Urano e Plutão no início de Áries. É a primeira conjunção destes
planetas em signos de Fogo. É o início de uma longa fase de 876 anos em que os ciclos Urano-
Plutão se repetirão em signos de Fogo (com uma única exceção), e que termina apenas em 1965,
com a conjunção em Virgem. Os grandes traços em comum deste período de quase um milênio são
A conjunção seguinte dá-se em 1201 no último grau de Câncer, no que talvez seja um indício da
complexidade do processo de transição. A conjunção anterior antecipara o fim da sociedade feudal
e lançara as sementes das grandes transformações que estavam por vir. Mas o velho modelo ainda
resiste, conforme pode ser observado na história de França e Inglaterra deste período.
A conjunção de 1201
Plutão-Urano e Robin Hood
De 987 ao século XI, a dinastia dos capetos governa uma França feudal, desunida políticamente.
Do século XI ao século XIV, ocorre uma progressiva centralização de poder levada a efeito pelos
reis capetos, que, apoiados muitas vezes na burguesia nascente, combatem os grandes senhores. O
rei Felipe Augusto (1180-1223) arrebata feudos aos plantagenetas2 e fiscaliza os grandes senhores
através de agentes reais (bailios e senescais). Não consegue ainda, porém, uma verdadeira unidade
nacional, que só viria no século XV. Tensão semelhante viviam também o Sacro Império Romano-
Germânico (onde a unidade nunca chegou a ocorrer) e a Inglaterra.
Até 1066, reinos celtas e anglo-saxões dividem as Ilhas Britânicas e enfrentam eventuais incursões
de piratas marítimos dinamarqueses. Naquele ano, porém, os normandos3 do noroeste da França
invadem a Inglaterra e, após a Batalha de Hastings, Guilherme, o Conquistador, torna-se rei.
Henrique II, seu neto, centraliza o poder e é considerado o fundador da dinastia plantageneta. A
família plantageneta governava a Inglaterra mas era proprietária de imensos feudos na França. Os
reis franceses, tentando uma centralização de poder, iniciaram intenso combate aos plantagenetas,
os quais, carentes de recursos para o esforço de guerra, buscam obtê-los estabelecendo impostos
cada vez mais altos sobre o povo inglês. A nobreza da Inglaterra, não querendo sustentar uma
guerra contra a França que interessava antes de tudo aos plantagenetas, revolta-se e obriga o rei
João Sem-Terra (1199-1215), filho de Henrique II e irmão mais jovem de Ricardo Coração de Leão
(1189-1199), a assinar a Carta Magna. Por esta, o rei se compromete a respeitar os direitos da
nobreza e a não estabelecer impostos sem consentimento dos vassalos. Este documento limita o
poder real e representa uma vitória dos interesses feudais. Por outro lado, é um antecedente
longínquo das modernas constituições que garantem as liberdades individuais e previnem os abusos
do poder.
Os conflitos de João Sem-Terra com a nobreza dão-se no âmbito da última conjunção Urano-Plutão
em Câncer e expressam vários atributos deste aspecto: a rebelião dos vassalos, a intranqüilidade
cercando o exercício do poder e o confronto entre o exercício autocrático da autoridade e o espírito
2
Plantagenetas – Família real inglesa de origem normanda e detentora de feudos de enorme extensão na
França. Assim, os plantagenetas desempenhavam papéis trocados em cada país: na Inglaterra eram suseranos,
tendo interesse no fortalecimento do poder real contra a nobreza; na França, eram vassalos, tendo interesse na
preservação das prerrogativas feudais e no enfraquecimento do trono.
3
Os normandos eram os descendentes dos piratas vikings que, originários da Dinamarca e da Escandinávia,
vinham assolando a Europa desde o século VIII. Instalados no litoral noroeste da França – região que ficou
conhecida como Normandia – assimilaram em algumas gerações a língua e a cultura francesa, que
transportaram depois para a Inglaterra. Na corte dos reis plantagenetas, como Henrique I e Ricardo Coração
de Leão, o francês era a língua dominante, em contraste com o dialeto local falado pelos anglo-saxões. O
francês dos normandos contaminou de tal forma a língua nativa que hoje 75% das palavras da língua inglesa
apresentam radicais latinos.
A instituição do parlamento britânico também faz parte deste ciclo e tem origem nas reuniões do
Conselho dos Nobres, formado para opinar sobre assuntos de interesse nacional e garantir a
submissão do rei às limitações impostas pela Magna Carta. Ganha importância no governo de
Henrique III, filho de João Sem-Terra, quando passa a contar com uma Câmara dos Lordes (Alto
Clero e Alta Nobreza) e uma Câmara dos Comuns (pequena nobreza e deputados da burguesia).
A lenda de Robin Hood e seu bando de rebeldes da floresta de Sherwood é ambientada exatamente
nos anos finais do reinado de Ricardo Coração de Leão e nos primeiros anos de João Sem-Terra,
correspondendo ao período da conjunção Urano-Plutão em Câncer. Robin é retratado como uma
figura desestabilizadora, como sempre são os personagens com uma dominante Urano-Plutão. Vive
escondido nas profundezas da floresta (um refúgio inacessível, com conotação canceriana) e,
apesar de despossuído, insiste em comportar-se de acordo com a velha ética da nobreza, à qual
pertence e a cujo seio enfim retorna. Robin é contraditório, pois exprime um ideal de retorno ao
passado (Câncer) contra os avanços da centralização monárquica (Leão, signo de Fogo, onde
ocorreriam as próximas conjunções Urano-Plutão) ao mesmo tempo em que lança mão de táticas
subversivas (Plutão) e desenvolve uma fórmula original (Urano) de proteger (Câncer) os fracos e
oprimidos. Séculos mais tarde, noutra conjunção Urano-Plutão, veremos a mitificação da figura
romântica de Che Guevara, morto em 1967 nas florestas da Bolívia e transformado em ícone
instantâneo de toda uma geração.
Apenas por curiosidade: Ernesto Guevara de la Serna, o “Che”, nascido em Rosario, Argentina, em
6 de junho de 1928, às 22h, tinha um Ascendente aquariano e um mapa onde oito planetas
agrupam-se numa área pouco maior que um trígono, entre Áries e Leão. No centro deste grupo,
uma conjunção Sol-Vênus em Gêmeos que recebe uma oposição de Saturno em Sagitário. Saturno
exerce um papel proeminente, por ser o planeta mais elevado da carta e por corresponder ao papel
de homem público e de “animal político” que sempre o caracterizou. A Lua em Capricórnio reforça
tal indicação, pois sua posição em Capricórnio torna-a administradora e empreendedora; pelo
posicionamento na 12 em quadratura com Júpiter, regente da 11, é também uma Lua que se sente à
vontade em atividades clandestinas em prol de um ideal coletivo.
Guevara manifestou sintomas de asma desde os dois anos de idade, sendo tal doença explicável por
vários aspectos em seu mapa. Basta observar que os planetas em Gêmeos e todos os planetas com
algum contato com a casa 3, além do próprio Mercúrio, significador natural do aparelho
respiratório, encontram-se severamente tensionados. A saúde delicada do menino levou a família a
mudar-se para uma cidade de clima mais saudável (Alta Gracia, perto de Cordoba), e a incentivá-lo
a praticar uma série de esportes capazes de aumentar-lhe a resistência física. Guevara tornou-se
jogador de rugby e motociclista, além de formar-se em medicina. Foi a paixão pela moto que levou-
o a fazer uma rústica viagem por toda a cordilheira dos Andes, cortando diversos países. Nesta
longa aventura, entrou em contato pela primeira vez com a rotina miserável das áreas rurais da
América Latina e fez as primeiras amizades que iriam influenciá-lo a ingressar na militância
política.
Em abril de 1965 Guevara desaparece da vida pública. Nos dois anos seguintes seus movimentos
seriam sempre secretos. Soube-se depois que estivera no Congo, apoiando as tropas de Patrice
Lumumba na guerra civil local, e que, em 1966, viajou incógnito para a Bolívia para liderar um
grupo guerrilheiro na região de Santa Cruz de la Sierra. Em 8 de outubro de 1967 o grupo foi
aniquilado por tropas especiais do exército. Guevara foi ferido, capturado e, logo depois, morto a
tiros.
Ernesto “Che” Guevara virou tema de posters que já estiveram nos quartos de quase todos os
adolescentes da América Latina. Sob a foto em pose heróica, a famosa frase: “Há que endurecer,
mas sem jamais perder a ternura.” É o próprio eixo articulador de sua carta, a oposição de Saturno
(o endurecimento) a Vênus (a ternura) ativada pela poderosa injeção de adrenalina do último ciclo
Urano-Plutão.
Teste de Verificação
1 – As conjunções Urano-Plutão em signos de Fogo podem ser relacionadas com momentos
importantes do processo de formação:
2 – Apenas uma das alternativas abaixo não corresponde a processos típicos da última conjunção
Urano-Plutão, ocorrida em Virgem nos anos 60. Assinale-a:
a) Significar uma completa ruptura com os processos iniciados no ciclo anterior, pois esta é a
dinâmica do trígono.
b) Reiterar, radicalizar e aprofundar processos já iniciados em ciclos anteriores no mesmo
elemento.
c) Suavizar e resolver conflitos iniciados em ciclos anteriores no mesmo elemento.
d) Trazer para o primeiro plano uma nova forma de organização da produção e uma nova
classe social hegemônica, numa seqüência descontínua.
a) Uma personificação idealizada das tendências dominantes em cada novo ciclo Urano-
Plutão, quais sejam, o avanço tecnológico, o cientificismo, o imperialismo e a concentração
do poder econômico.
b) O espírito romântico que domina cada novo início de ciclo Urano-Plutão, onde
predominam os valores da fé, da imaginação e da religiosidade.
c) Uma forma de resistência romântica e rebelde à impessoalidade e à violência dos processos
de concentração de renda e de avanço tecnológico que caracterizam as conjunções Urano-
Plutão.
d) A valorização da pobreza e do desapego, que são características dominantes de cada início
de ciclo Urano-Plutão.
6 – Assinale a única alternativa que não corresponde ao clima típico dos acontecimentos
demarcados pelas conjunções Urano-Plutão em signos de Fogo:
8 – Tanto a tomada de Jerusalém quanto o próprio início das cruzadas aconteceram no âmbito de
dois diferentes ciclos: o de Urano-Plutão em Áries (conjunção de 1090) e o de Saturno-Plutão em
Peixes (conjunção em 1083, por volta de 25º de Peixes). Ocorre que o ciclo Saturno-Plutão é bem
mais curto. Este de 1083, por exemplo, durou exatos 32 anos, até a ocorrência de nova conjunção,
desta vez em Áries, em 1115. Coincidentemente, as cruzadas com maior poder de mobilização
popular foram as primeiras, acontecidas ainda na vigência do ciclo Plutão-Saturno em Peixes. Das
alternativas abaixo, aponte aquela que identifica elementos piscianos na ideologia das Cruzadas:
Exercícios de Aplicação
Estes exercícios dependem da leitura dos três pequenos textos seguintes. Os textos, aliás, valem por
si só, pois permitem, com testemunhos de época, compreender o espírito das cruzadas e, por
conseqüência, do ciclo Urano-Plutão em Áries.
Quando os francos viram como seria difícil tomar a cidade, seus chefes ordenaram
4
Francos: franceses.
(...) No dia seguinte, a tarefa começou outra vez ao soar das trombetas (...) os aríetes, com
seu contínuo golpear, abriram uma brecha numa parte da muralha. Os sarracenos puseram
dois troncos diante da abertura, amarrando-s com cordas, e, empilhando pedras atrás,
puseram um obstáculo aos aríetes. No entanto, os que eles fizeram para sua proteção se
converteu, graças á Divina Providência, na causa de sua própria destruição. Porque, quando
as torres se aproximaram o máximo possível da muralha, as cordas que amarravam os
troncos foram cortadas, e com elas os francos construíram uma ponte, que estenderam
habilmente desde a torre até a muralha. Então uma das torres da muralha começou a arder,
porque os homens que manejavam nossas máquinas [de assédio] haviam lançado tochas
sobre ela até que as vigas de madeira se incendiaram. As chamas e a fumaça chegaram a ser
tão grandes que nenhum dos defensores daquela parte da muralha era capaz de permanecer
em seu lugar. Ao meio-dia de sexta-feira, com as trombetas soando e aos gritos de "Deus
nos ajude!", os francos entraram na cidade.
(...) Uma grande luta teve lugar nos pátios e pórticos dos templos, de onde eles eram
incapazes de escapar de nossos gladiadores. Muitos subiram ao teto do templo de Salomão,
e ali foram flechados, caindo mortos ao solo. Nesse templo foram mortos quase 10.000.
Com efeito, se pudesses estar ali, teria visto nossos pés cobertos até o tornozelo com o
sangue dos mortos. Porém, que mais devo contar? Nenhum deles ficou vivo: nenhuma
mulher ou criança foi perdoado.
Finalizada a matança, os cruzados entraram nas casas para colher tudo o que nelas havia.
(...) Assim, muitos que eram pobres se fizeram ricos.
Depois todos, clérigos e laicos, se dirigiram ao Sepulcro do Senhor e a seu Glorioso templo
entoando novenas. Com a devida humildade, recitaram orações e fizeram suas oferendas
nos santos lugares que haviam desejado desde há muito tempo (...).
Foi no ano de nosso Senhor de 1099 quando o povo gaulês tomou a cidade, Foi a 15 de
julho quando os francos se assenhorearam da cidade. Foi no (...) ano 285 desde a morte de
Carlos Magno e no duodécimo ano depois da morte de Guilherme I da Inglaterra."
"Era impossível olhar o grande número de mortos sem horrorizar-se; por todos os lados
havia fragmentos tirados de corpos humanos, e até mesmo o piso estava coberto de sangue
dos mortos. Não eram somente o espetáculo de corpos sem cabeça e extremidades
mutiladas jogadas em todas as direções que inspirava terror a todos que olhavam; mais
horripilante ainda era ver os vitoriosos banhados de sangue do pé à cabeça, uma onipotente
Em 20 de julho de 1209 o exército cruzado está diante das muralhas de Beziers. (...) Em 22
de julho, um grupo de defensores não se contém e faz uma saída em pleno dia para
enfrentar o inimigo cara-a-cara. Frente a isso, o chefe dos cruzados inicia um ataque. Os de
Beziers, surpreendidos, se retiram, mas os cruzados que os perseguem chegam a uma das
portas da cidade e dela se apoderam. Ante tão inesperada vantagem, os cruzados assaltam
em massa. A situação dos sitiados torna-se desesperadora: a população busca refúgio nas
igrejas, e os sacerdotes fazem repicar os sinos e vestem seus ornamentos. Ao ser
perguntado por seus soldados como distinguir os cátaros dos católicos, Arnaud Amalric
responde: "Matem a todos; Deus reconhecerá os seus!" Assim todos os habitantes de
Beziers foram mortos sem piedade e sem exceção: homens, mulheres, crianças, e
sacerdotes nas igrejas e ao pé dos altares.
Beziers tinha então 20.000 habitantes e sua população havia crescido com a chegada muitos
camponeses que, com sua família e gado, buscavam refugiar da guerra atrás das muralhas.
Após a matança, Arnaud Amalric, abade geral da Ordem Cisterciense, escreveu
imediatamente ao Papa: "Os nossos, sem perdoar classe, sexo nem idade, passaram em
armas a vinte mil pessoas. Depois da enorme matança de inimigos, toda a cidade foi
saqueada e queimada: a vingança de Deus foi admirável".5
Agora, as questões:
1 – É difícil, além de um tanto artificial, separar, numa configuração astrológica complexa, fatores
que sejam significadores específicos deste ou daquele aspecto da realidade. Mesmo assim, e apenas
para efeito didático, tente identificar, nas frases abaixo, todas pinçadas dos textos, o que
corresponde a cada um dos fatores envolvidos na conjunção Urano-Plutão em Áries. Para
exemplificar, a primeira citação já está com sua correspondência astrológica identificada.
5
Observe que os fatos relatados neste trecho referem-se a uma cruzada contra o grupo heréticos dos cátaros,
no sul da França, em 1209, e não às cruzadas iniciais, contra os turcos muçulmanos que ocupavam a Palestina.
A cruzada contra os cátaros já acontece sob uma nova conjunção Urano-Plutão, a de 1201, no último grau de
Câncer. Contudo, todas as cruzadas, até a última, sempre guardarão um vínculo astrológico com o ponto de
partida do movimento, que se dá no âmbito do primeiro ciclo Urano-Plutão em Áries. É interessante observar
– e veremos isso na próxima lição – que a conjunção de 1201 em Câncer desvia o foco das Cruzadas para
combates entre diferentes comunidades cristãs. A Cristandade lutando entre si, sem “sair de casa”, é um
simbolismo adequado para a turbulência da conjunção Urano-Plutão no signo das raízes domésticas.
2 – Em 15 de julho de 1099, quando Jerusalém foi tomada aos muçulmanos pelos cruzados francos
(franceses), Urano e Plutão já não estavam em conjunção. Urano estava em 11º de Touro, em semi-
sextil com Plutão em 11º de Áries. Plutão está em oposição a Saturno em Libra e em quadratura
com Marte em Câncer. Abaixo, seguem-se algumas afirmativas. Ao lado de cada uma, assinale
certo ou errado:
Mapas complementares:
Os albigenses foram identificados de imediato como um risco à ortodoxia católica. Contra eles
levantaram-se o Papado e a realeza. Parte da energia beligerante das cruzadas foi desviada para o
sul da França, onde terríveis carnificinas tiveram lugar nas últimas décadas do século XII e
primeiras do século XIII. Além da histeria religiosa, estavam em jogo as velhas diferenças culturais
entre o norte da França (onde estava Paris) e o sul, onde, inclusive, falava-se um dialeto local, a
Langue d’Oc, e também o interesse territorial dos nobres do norte na ocupação das terras que
pretendiam confiscar na região conflagrada. A cobiça foi o motor da cruzada contra os albigenses,
um dos genocídios mais selvagens da história medieval.
Entre tais decisões pode ser lembrada uma Constituição proclamada no concílio de Verona, em 4
de novembro de 1184, cujo texto decretava:
1
TESTAS, G. & TESTAS, J. A Inquisição. SP, Difel, 1968.
(...) os habitantes fariam juramento de denunciar ao bispo toda e qualquer pessoa
suspeita de heresia; (...) os bispos visitariam em pessoa, duas vezes por ano, as
2
cidades e aldeias de sua diocese, a fim de descobrir os heréticos (...).
A idéia já estava esboçada, mas não ainda os meios. Tanto que, como informam Guy e Jean Testas:
Num primeiro momento, a Inquisição volta-se apenas contra os hereges, aí entendidos aqueles que
deliberadamente contestavam os dogmas da religião oficial. O herege não é um não-cristão, mas um
cristão que se afasta da ortodoxia.4 Assim, os judeus que se conservavam fiéis ao judaísmo estavam
– pelo menos em tese – livres da perseguição do Santo Ofício. Da mesma forma, a feitiçaria
também não desperta a atenção inicial da Igreja, que mantém frente a magos, adivinhos e feiticeiras
uma postura razoavelmente tolerante até o século XIV. O objetivo da ação inquisitorial é claro:
punir o herege, aquele que é inimigo aberto da religião, o que traduz, portanto, um clima libriano,
típico da sétima fase da era.
É o início da fase Escorpião, em 1248, que sinaliza um endurecimento no perfil do Santo Ofício.
Até então, a Igreja evitara institucionalizar a tortura como recurso habitual nos interrogatórios (se
bem que esta fosse praticada extra-oficialmente). Mas em 15 de maio de 1252, através da bula Ad
Extirpanda, o papa Inocêncio IV autoriza-a formalmente, decisão que será ratificada por seus
sucessores. A partir daí, o uso da polé, da roda, das tenazes e da asfixia pela água torna-se cada vez
mais sofisticado, a ponto de merecer minuciosa regulamentação. Mais adiante, será a vez da
feitiçaria entrar oficialmente no rol das preocupações dos inquisidores. A este propósito, o papa
João XXII determina, em 1320, que os inquisidores persigam os acusados de crimes tais como
“bruxarias, pactos diabólicos e profanação de sacramentos”. A Europa mergulha, então, numa
verdadeira onda demonomaníaca, que se estenderá por toda a fase Escorpião e terá seu auge na fase
Sagitário, já nos séculos XV e XVI. E os judeus também perdem sua relativa imunidade a partir da
Peste Negra, quando são acusados de “envenenarem as águas”, provocando a doença. Por toda
parte ocorrem pogroms5. Esta onda de exacerbação do anti-semitismo e do terror às feiticeiras
2
Idem.
3
Ibidem.
4
A expressão herege vem do grego hairetikós, com o significado de faccioso ou sectário, e chegou à forma
atual depois de passar pelo latim haereticu e pelo provençal antigo eretge. O provençal era exatamente a
língua falado pelos albigenses.
5
Pogrom – Perseguição a judeus, normalmente com assassinatos em massa e confisco de bens. Os pogroms
eram facilitados pelo fato de que os judeus, na maior parte da Europa, viviam em bairros segregados. Em
Lisboa, por exemplo, este bairro chamava-se Judiaria, de onde veio o termo judiar.
Outro sintoma do endurecimento é que, até 1264, o inquisidor estava proibido de assistir à tortura,
já que fazê-lo seria incidir numa irregularidade canônica. A partir daquele ano, o papa Urbano IV
não apenas autoriza os juízes inquisitoriais a presidirem as sessões de tortura, mas estimula-os
também a aplicá-las pessoalmente. Contudo, e apesar do rigor, a atuação do Santo Ofício arrefece
aos poucos a partir do final do século XIV e do início do século XV, até mesmo em função da
desmoralização do papado, cada vez mais submetido a interesses temporais e cindido internamente
em várias facções rivais que disputam o poder.
Uma Inquisição renovada irá estabelecer-se, contudo, no final do século XV, já na fase sagitariana
da era de Peixes e em estreita relação com o início do ciclo Urano-Netuno de 1478, no último grau
de Escorpião. Sendo Sagitário o signo da fé, da instituição religiosa e do próprio papado, o advento
de uma época com a marca Escorpião-Sagitário teria de corresponder a uma renovação da energia
inquisitorial, mas já com um caráter diverso daquele das fases precedentes.
A decadência da Inquisição acontece apenas no século XVII, período de forte pragmatismo em que
a era de Peixes passa a viver sua fase capricorniana. De uma forma geral, é uma época de
enfraquecimento do poder da Igreja. Mais e mais, os Estados querem ter o controle de seus
negócios internos, e a presença de um tribunal eclesiástico com poderes supranacionais entrava em
choque com tal proposta. Em alguns países a Inquisição é simplesmente proibida, enquanto em
outros tem suas atividades sensivelmente atenuadas. Uma mudança que bem expressa os novos
tempos é a introdução do conceito de que a punição não deveria ser aplicada pelo simples desvio de
consciência, mas pela prática de crime que configurasse um fato material previsto na legislação
civil de cada país. Com exceção da Espanha, onde o Santo Ofício ainda teria uma sobrevida, a
figura soturna do inquisidor deixa de pairar sobre a comunidade cristã como uma permanente
ameaça.
A localização de Bizâncio não poderia ser mais privilegiada: levantada junto ao Bósforo, estreito
que une as águas do Mediterrâneo ao mar Negro, era passagem obrigatória de qualquer embarcação
que, partindo da Europa, quisesse alcançar os portos que davam acesso à Rússia, à Pérsia e à
6
O nome da cidade para os romanos era Constantinopla, em referência ao imperador Constantino.
As diferenças acentuam-se de forma tal que, com o passar dos séculos, bizantinos e ocidentais
tenderão a ver-se uns aos outros com uma sensação de estranhamento e de crescente desconfiança.
Um dos pontos mais controversos na relação com o ocidente dizia respeito à religião, onde parecia
pouco estimulante para o clero e para os imperadores bizantinos (os chamados basileus) submeter-
se à autoridade do Papa. No aspecto cultural, os bizantinos preservam, ao longo da primeira fase da
Idade Média, um nível de refinamento muito superior ao dos povos latinos, a quem consideram
pouco mais do que bárbaros; do ponto de vista político, disputam o papel de liderança na
Cristandade; já no aspecto econômico, ressentem-se da drenagem de impostos eclesiásticos
promovida pelo papa romano, situação que levará a uma série de querelas que culminarão com o
rompimento definitivo entre as duas igrejas, em 1054.
Não obstante, quando os turcos convertidos ao islamismo irrompem no Oriente Médio e na Ásia
Menor e começam a conquistar um a um os territórios árabes e bizantinos, Bizâncio deixa de lado a
velha rivalidade e apela para a ajuda militar do Ocidente, utilizando o argumento de que a defesa da
Cristandade era uma causa comum, acima dos eventuais conflitos de interesse. Tal argumento,
aliás, é devidamente explorado pelo papa Urbano II, quando da convocação da primeira cruzada.
Quando os exércitos do ocidente se põem em marcha, partem com a certeza de que encontrarão em
Bizâncio o apoio logístico necessário durante a travessia para a Terra Santa.
Contudo, a colaboração logo se transforma em novas fontes de atrito. Os bizantinos, que sempre
haviam tido dos povos latinos uma impressão de selvageria, transformam esta impressão em certeza
ao ter contato de perto com os rudes barões que comandavam as tropas a serviço do papado. Estas,
por sua vez, ao transitarem pelas ricas cidades bizantinas, têm sua cobiça despertada pela
abundância de recursos à disposição, recursos que constituíam, aliás, uma presa muito mais fácil do
que as terras em mãos dos turcos. Os mercadores e armadores de navios que financiam as cruzadas
também têm seus interesses em Bizâncio, onde querem obter maiores privilégios para suas
representações comerciais – e, de preferência, sem restrições legais e sem impostos.
Os atritos vão num crescendo até que, num desvio absolutamente injustificável do ponto de vista da
ideologia do movimento, a quarta cruzada é direcionada não mais para o combate aos turcos, e sim
para a conquista do próprio Império Bizantino. Em 1204, Constantinopla cai diante das tropas
ocidentais – especialmente francesas – e instala-se na velha metrópole um Império Latino do
A fase de ocupação latina em Bizâncio coincide com o ciclo da conjunção Urano-Plutão em Câncer
de 1201, sendo que a cruzada que lhe dá origem inicia-se exatamente quando a conjunção ainda
está presente nos céus. Esta ocupação é um golpe mortal para o Império, na medida em que o
enfraquece em duas frentes e facilita o desmembramento territorial. Quando Bizâncio restaurar sua
unidade e o basileu voltar para a Constantinopla, o império, reduzido apenas a uma extensão de
terra equivalente ao atual território da Grécia e a uma parte da Turquia, terá uma sobrevida de um
século e meio, acossado pela proximidade cada vez maior das tropas turcas e debilitado pela perda
de importantes fontes de suprimento e de rotas comerciais.
Se lembrarmos que Bizâncio levantara-se como potência com identidade própria no século VI, mais
ou menos um século após a derrocada final do Império Romano de que fazia parte, verificaremos
que a projeção de Bizâncio no cenário internacional dera-se durante a fase Câncer da era de
Peixes7. Agora, quase 700 anos depois, o império fragmentava-se em plena fase Libra, iniciada em
1069, e também na vigência de um ciclo Urano-Plutão em Câncer e um ciclo Urano-Netuno em
Libra (iniciado em 1136). A fase Câncer tem um sentido de casa 4 na era de Peixes, mas de casa 1
especificamente no que tange ao Império Bizantino. A fase Libra tem um sentido de casa 7 na
história da Cristandade, mas de casa 4 para Bizâncio. Passara-se um quarto da era de Peixes, uma
quadratura, portanto. E o ciclo que define o início do ocaso bizantino é o da conjunção Urano-
Plutão no último grau de Câncer, indicando um choque de desestabilização naquilo que constituía o
cerne da identidade bizantina. A capital controlada por “bárbaros” católicos, o basileu refugiado
numa província do interior, o clima turbulento das cruzadas trazendo a desorganização da estrutura
política e do poderio econômico de Bizâncio – tudo isso remete claramente ao sentido simbólico de
uma ativação pluto-uraniana no Ascendente.
O ciclo de 1343
Os anos de horror
A conjunção Urano-Plutão seguinte acontece em 1343, em 11°29’ de Áries. O acontecimento
marcante do período não poderia ser mais significativo. É a chegada da Peste Negra à Europa,
conforme já afirmamos em artigo anterior:
A sociedade medieval vinha sendo até então uma sociedade de classes fechadas,
com oportunidades de mobilidade e ascensão quase inexistentes. As
diferenciações entre nobres, clérigos e camponeses, justificadas pela ideologia
religiosa, constituíam barreiras intransponíveis que contribuíam para manter a
imutabilidade do status quo. O renascimento do comércio e da vida urbana, por
volta do século XI, assim como a crescente importância da burguesia e o
surgimento de movimentos heréticos, não haviam sido ainda suficientes para
provocar fissuras realmente importantes nesta estrutura. Com a peste negra,
ocorre uma desorganização da vida social numa escala sem precedentes. Nas
regiões atingidas, o incontável número de mortes despovoa campos e cidades, e o
terror da contaminação provoca a debandada da população remanescente. É um
verdadeiro “salve-se quem puder”, que iguala no pânico sacerdotes e mercadores,
7
Na verdade, o surgimento do Império Bizantino – ainda como Império Romano do Oriente, com forte
influência latina – remonta à fase Gêmeos, com a divisão da administração imperial entre duas capitais –
Roma e Constantinopla – por Teodósio, em 395.
Esta descrição está plenamente de acordo com o sentido de transformação violenta associado ao
ciclo Urano-Plutão. A Peste Negra, ao matar algo estimado em um terço da população da Europa e
ao desorganizar toda a vida social e produtiva, tem um drástico efeito de varredura, limpando o
terreno para a implantação de novas estruturas. Um dado significativo, se bem que compreensível
do ponto de vista epidemiológico, foi a ação seletiva da peste, que ceifou maior quantidade de vidas
exatamente nas regiões mais atrasadas e reacionárias do continente. A razão está nas medidas de
controle sanitário tomadas pelas municipalidades mais progressistas, as únicas que conseguiram
compreender que havia um vínculo entre a higiene e a saúde pública e que perceberam, se bem que
de forma incompleta, a relação existente entre os ratos e a contaminação. De qualquer forma, a
peste foi um perfeito agente do terremoto pluto-uraniano, ao conseguir acelerar o que a aliança
entre os reis e as cidades mercantis vinham obtendo com muita lentidão: o desmonte da sociedade
feudal e seus arcaicos privilégios.
Observe-se também que a peste está em sintonia com as Cruzadas, na medida em que foi a abertura
de pontes de contato com o Oriente que abriu o caminho para os navios por onde chegaram os
temíveis ratos negros. Assim, a conjunção Urano-Plutão em Áries de 1343 reverbera e amplia os
processos iniciados com a mesma conjunção em Áries de 1090. Em ambas há como um violento
vendaval que desaloja grupos sociais de seu espaço habitual e abre novos horizontes em meio a
crises e turbulências.
Já vimos que na origem do conflito entre França e Inglaterra estava a dupla condição dos reis da
dinastia plantageneta – originária da Normandia, no nordeste da França, diga-se de passagem – que,
ao mesmo tempo em que ocupavam o trono inglês, eram detentores de enormes feudos na França,
onde tinham o status de vassalos dos reis capetos9 e, posteriormente, dos reis da dinastia Valois10.
Em 1328, com a morte do rei Carlos IV, o trono da França ficou sem um sucessor direto. Dois
pretendentes apresentaram-se, sendo um deles o conde de Valois, neto de um rei anterior, Felipe III,
e o outro Eduardo III da Inglaterra, primo de Carlos IV. Eduardo, além disso, era também o duque
da Guiana (parte da Aquitânia, no sudoeste da França) e conde de Ponthieu, região próxima do
canal do Mancha. Havia outros motivos, entretanto, sendo o principal deles a disputa franco-inglesa
pelo controle da rica região comercial de Flandres.
A nobreza francesa optou pelo conde de Valois, entronizado com o nome de VI. Este, ansioso por
se livrar do risco plantageneta, confiscou em 1337 o ducado da Guiana, o que motivou imediata
reação militar da Inglaterra. As hostilidades prosseguiram pelos 116 anos seguintes (a exata
duração de um ciclo Urano-Plutão em sua versão mais longa), começando como uma típica guerra
feudal e assumindo aos poucos o perfil de um combate entre dois Estados nacionais. Foi preciso
8
FERNANDES, Fernando & OCAMPO, Ana Teresa. Peste Negra: o apocalipse do século XIV. In: Constelar
n° 5, novembro/98.
9
Reis capetos – da dinastia capetíngia, que ocupou o trono da França a partir do século X.
10
Dinastia dos Valois – dinastia que sucede a dos capetíngios na França após a morte, sem herdeiros diretos,
do último filho de Felipe, o Belo. Os Valois eram um ramo lateral da família capeto.
Joana, la pucelle d’Orléans, foi o arauto da fase Sagitário da era de Peixes. Sua atuação pública –
ou a missão que lhe fora confiada pelas vozes do céu, como ela própria afirmava – inicia-se em
1429, no limiar da fase Sagitário. Nada mais adequado para simbolizar o período dominado por este
signo do que a donzela vidente e portadora de uma ardente fé guerreira, capaz de enxergar a
esperança de vitória no momento em que a própria corte já se rendera à evidência da dominação
inglesa e apta para vislumbrar, no reino cindido e despedaçado, a futura glória da França. Sua
inspiração vinha, entre outras fontes, de Santa Catarina, outra figura vinculada ao arquétipo
sagitariano, também visionária e capaz de discutir teologia em pé de igualdade com os homens mais
sábios de sua época.
É neste contexto de uma guerra iniciada no ciclo Urano-Plutão em Áries e de uma missão revelada
na fase sagitariana da era que Joana vai despertar o ânimo de nobres e peões e transformar-se na
figura-símbolo da coragem e do espírito de sacrifício postos a serviço de uma causa coletiva. Joana
é puro elemento Fogo, e nas chamas morreria, após o mais injusto dos julgamentos, para ressurgir
como mito consolidador da unidade nacional. A guerra ainda duraria mais 22 anos após sua morte,
mas a contribuição estava dada.
Sagitário é também o signo para o qual aponta o eixo dos pontos médios das diversas conjunções
Urano-Plutão em Áries e Leão. No caso em pauta, a Guerra dos Cem Anos acontece enquadrada
entre as conjunções de 1343, por volta de 10º de Áries, e a de 1455, por volta de 13º de Leão. Os
pontos médios traçam, portanto, um eixo por volta de 11º30’ de Gêmeos-Sagitário.
As idas e voltas da Guerra dos Cem Anos concorreram para esgotar os recursos da nobreza feudal
de França e Inglaterra e preparar o terreno para o fortalecimento do centralismo monárquico nos
dois países. Por vias tortas, e em âmbito local, o sentido é semelhante ao da peste negra. É o mundo
medieval que lentamente se esvai.
Exercícios de Fixação
1 – Com base na periodização em fases da era de Peixes11, a fase Libra/casa 7, que se estende
aproximadamente de 1069 a 1248, engloba duas conjunções Urano-Plutão: a de 1090, em Áries, e a
de 1201, em Câncer. A fase Escorpião/casa 8 (aproximadamente 1248/1427) engloba a conjunção
Urano-Plutão de 1343, em Áries; e a fase Sagitário/casa 9 da era de Peixes (a partir de 1427,
aproximadamente) vê acontecer em 1455 a primeira conjunção Urano-Plutão em Leão.
Considerando a síntese destes fatores, associe as duas colunas:
11
Explicada na lição 2 do módulo 1 deste curso.
As descrições seguintes referem-se à peste negra, que grassou na Europa no século XIV. Leia-
as com atenção e responda às questões 2, 3 e 4.
Afirmo, portanto, que tínhamos atingido já o ano bem farto da Encarnação do Filho
de Deus de 1348, quando, na mui excelsa cidade de Florença, cuja beleza supera a
de qualquer outra da Itália, sobreveio a mortífera pestilência. Por iniciativa dos
corpos superiores ou em razão de nossas iniqüidades, a peste atirada sobre os
homens por justa cólera divina e para nossa exemplificação, tivera início nas
regiões orientais, há alguns anos. Tal praga ceifara, naquelas plagas, uma enorme
quantidade de pessoas vivas. Incansável, fora de um lugar para outro; e estendera-
13
se, de forma miserável, para o Ocidente.
2 – A peste negra começa na Europa pouco depois da conjunção de Urano e Plutão em Áries, em
1343. Você poderia destacar dos textos pelo menos dois trechos que remetam, especificamente, ao
simbolismo de Urano, Plutão e Áries?
Urano –
Plutão –
Áries –
3 – Por curiosidade, há um trecho nestes textos que parece sugerir que a peste negra tinha uma
causa astrológica. Você pode identificá-lo?
12
GUSMÃO Jr., Amiraldo M. A experiência do Apocalipse.
13
Giovanni Boccaccio, século XIV, escritor italiano do século XIV, autor do Decamerão e contemporâneo da
peste negra.
2 – Apenas uma das alternativas abaixo não corresponde a processos típicos da última conjunção
Urano-Plutão, ocorrida em Virgem nos anos 60. Assinale-a:
Comentário – Basta reler a lição 1 para recordar que a última conjunção em signo de Água ocorreu
em 1201. Daí até 1850 todas as conjunções ocorreram em signos de Fogo.
a) Significar uma completa ruptura com os processos iniciados no ciclo anterior, pois esta é a
dinâmica do trígono.
b) Reiterar, radicalizar e aprofundar processos já iniciados em ciclos anteriores no mesmo
elemento. (X)
c) Suavizar e resolver conflitos iniciados em ciclos anteriores no mesmo elemento.
d) Trazer para o primeiro plano uma nova forma de organização da produção e uma nova classe
social hegemônica, numa seqüência descontínua.
Comentário – O trígono é um aspecto reiterativo, ou seja, por unir signos do mesmo elemento, não
tende a promover rupturas, e sim continuidade de processos e aprofundamento da experiência.
Neste sentido, é um aspecto que conserva o movimento iniciado, seja qual for. Como as conjunções
Urano-Plutão acontecem durante muitos séculos em signos do mesmo elemento, que guardam entre
a) Uma personificação idealizada das tendências dominantes em cada novo ciclo Urano-Plutão,
quais sejam, o avanço tecnológico, o cientificismo, o imperialismo e a concentração do poder
econômico.
b) O espírito romântico que domina cada novo início de ciclo Urano-Plutão, onde predominam os
valores da fé, da imaginação e da religiosidade.
c) Uma forma de resistência romântica e rebelde à impessoalidade e à violência dos processos de
concentração de renda e de avanço tecnológico que caracterizam as conjunções Urano-Plutão.
(X)
d) A valorização da pobreza e do desapego, que são características dominantes de cada início de
ciclo Urano-Plutão.
Comentário – Robin Hood e Che Guevara, assim como o personagem Dom Quixote, de Cervantes,
são exemplos da luta individual contra a corrente dominante, que é sempre no sentido de impor à
força os valores, a tecnologia e o poder da classe hegemônica. Robin Hood, um membro da “velha”
aristocracia, luta contra os invasores normandos e contra a tentativa de fortalecimento do poder real
promovida pelo rei João sem Terra; Dom Quixote tenta negar o progresso e restaurar os tempos da
cavalaria; Guevara luta contra o imperialismo das grandes nações industrializadas. São exemplos,
pois, de resistência e de rebeldia.
6 – Assinale a única alternativa que não corresponde ao clima típico dos acontecimentos
demarcados pelas conjunções Urano-Plutão em signos de Fogo:
Comentário – Cada novo contato Urano-Plutão tem um forte efeito acelerador de mudanças
econômicas, normalmente trazendo mais concentração de riquezas. A atividade econômica se
expande e traz consigo desequilíbrios que resultam em conflitos sociais.
8 – Tanto a tomada de Jerusalém quanto o próprio início das cruzadas aconteceram no âmbito de
dois diferentes ciclos: o de Urano-Plutão em Áries (conjunção de 1090) e o de Saturno-Plutão em
Peixes (conjunção em 1083, por volta de 25º de Peixes). Ocorre que o ciclo Saturno-Plutão é bem
mais curto. Este de 1083, por exemplo, durou exatos 32 anos, até a ocorrência de nova conjunção,
desta vez em Áries, em 1115. Coincidentemente, as cruzadas com maior poder de mobilização
popular foram as primeiras, acontecidas ainda na vigência do ciclo Plutão-Saturno em Peixes. Das
alternativas abaixo, aponte aquela que identifica elementos piscianos na ideologia das Cruzadas:
Comentários: Mutilação e genocídio são dois conceitos que podem ser associados a Plutão, mais
do que a Urano ou Áries. Já as imagens arianas são muito claras: o sangue (regido por Marte), o
aríete (um recurso de ataque cujo nome vem exatamente de áries, ou seja, o carneiro – a forma de
utilizar o aríete lembrava um carneiro a golpear com os chifres) e o enfrentamento em campo
aberto. A expressão cara-a-cara lembra, aliás, Áries, que rege a face. Quanto ao último trecho, a
conotação uraniana é bem clara. Estruturas e proteções (como muralhas) são regidas por Saturno.
Urano é o princípio da desestabilização das estruturas. Quanto mais se tenta evitar a mudança, com
mais violência ela se dará. Uma imagem bem apropriada para este conflito essencial entre os
princípios saturnino e uraniano é a da lâmina 16 do tarô, a Torre, que mostra dois homens
desabando de uma torre que é fulminada por um raio.
2 – Em 15 de julho de 1099, quando Jerusalém foi tomada aos muçulmanos pelos cruzados francos
(franceses), Urano e Plutão já não estavam em conjunção. Urano estava em 11º de Touro, em semi-
sextil com Plutão em 11º de Áries. Plutão está em oposição a Saturno em Libra e em quadratura
com Marte em Câncer. Abaixo, seguem-se algumas afirmativas. Ao lado de cada uma, assinale
certo ou errado:
Comentário: O alcance de uma conjunção de planetas exteriores não se esgota quando os planetas
envolvidos se afastam. A conjunção inaugura um ciclo que durará até a ocorrência de outra
conjunção entre os mesmos planetas. Se bem que as ocorrências mais drásticas tendam a
concentrar-se no período de duração da conjunção em si, podemos reconhecer desdobramentos que
se estendem por um longo período. No caso do ciclo Urano-Plutão, por mais de um século.
Comentário: Certo. Tente lembrar, por exemplo, o que acontecia no mundo por volta de 1982,
quando esses dois planetas fizeram sua última conjunção, em Libra. Entre outros fatos, foi o ano da
Guerra das Malvinas, que opôs Argentina e Inglaterra.
Comentário: Errado. Cada técnica tem seu próprio espaço, sua própria metodologia e seu próprio
alcance. Eventualmente, o mapa de um evento poderá dar subsídios para que possamos inferir a
natureza de processos mais amplos. Mas, de maneira geral, não é o melhor caminho para se chegar
a um bom resultado. Exemplificando: se tomarmos o mapa da Independência do Brasil (o Grito do
Ipiranga) e o analisarmos descontextualizadamente, poderemos ter uma boa idéia do potencial do
Brasil como nação independente, de seus recursos, de seus conflitos básicos etc. Mas não iremos
ver, no mapa de nossa independência, os desdobramentos da história portuguesa ou as fases da
revolução industrial inglesa. Tal observação parece desnecessária, mas é extremamente comum o
estudante de Astrologia Mundial que tenta extrair de um mapa mais do que ele pode dar. Se
quisermos situar a independência do Brasil em seu contexto histórico, teremos de trabalhar com os
grandes ciclos de planetas exteriores (que permitem uma percepção panorâmica de períodos
extensos) ou comparar a carta brasileira com a de outras nações ou de eventos marcantes, como a
Revolução Francesa.
Mapas complementares:
A conjunção de 1455
A conjunção Urano-Plutão de 1455 é a primeira a ocorrer em Leão na era de Peixes. O aspecto
torna-se exato em setembro de 1455, mas seus efeitos já se faziam sentir em 1453 e ainda estavam
operantes em 1458, quando Urano, mais rápido, começa a afastar-se.
Leão é o sexto signo a partir de Peixes, o que dá a essa conjunção, e também à de 1710, uma certa
conotação de casa 6. Tal sentido é visível nas grandes transformações que se processam na esfera
da produção, que avança agora para novo estágio. Já na órbita de abrangência desta conjunção,
ocorrem acontecimentos marcantes, que definirão a transição final da Idade Média para a
Modernidade: a definitiva queda de Constantinopla dá-se em 1453, levando com ela um Império –
o Bizantino – que sobrevivera por um inteiro milênio à derrocada de Roma. Urano ainda estava no
fim de Câncer, a nove graus de Plutão, quando os turcos conquistam Constantinopla, em 29 de
maio de 1453, encerrando um ciclo de mil anos de história bizantina e fechando as rotas comerciais
que ligavam o Mediterrâneo à Ásia. A queda de Constantinopla, aliás, é marcada nos céus por uma
quadratura exata entre os dois maléficos da Astrologia Clássica, Marte e Saturno. No mesmo ano,
termina a longa Guerra dos Cem Anos entre França e Inglaterra, deixando um saldo que muito
contribuirá para a formação dos Estados Nacionais modernos. A França, por exemplo, já conta
agora com uma monarquia razoavelmente centralizada, com o embrião de um exército nacional e
com a formação de uma consciência inexistente nos séculos anteriores: a consciência de ser
francês.
Os dois acontecimentos são marcos do fim da Idade Média e da transferência do pólo comercial da
Europa do mar Mediterrâneo para o Atlântico. A partir daí, os países oceânicos, como Portugal,
terão cada vez maior importância como precursores de um novo ciclo da civilização européia.
Mas os dois eventos que, isoladamente, melhor exprimem o sentido da conjunção são o
aperfeiçoamento da imprensa, com a introdução dos tipos móveis, e a bula Romanus Pontifex, em
que a Igreja legitima o trabalho escravo.
A questão negra
Um conseqüência imediata do deslocamento do eixo comercial para o Atlântico foi o impulso na
exploração da costa africana pelos portugueses, que já se iniciara desde 1415. Das viagens em
caravelas, que chegavam cada vez mais ao sul, surge o contato com os povos negros do Golfo da
Guiné e a descoberta do apresamento e tráfico de escravos como um novo filão lucrativo.
A escravidão parecia banida da Europa cristã desde a decadência do Império Romano, substituída
pelo modelo de servidão característica do feudalismo. Contudo, a expansão marítima portuguesa
consumia grande quantidade de homens válidos e tornava necessária a importação de novos braços
para os trabalhos domésticos e da lavoura.
O pioneirismo da Igreja no ressurgimento da escravidão fica por conta do Papa
Nicolau V, que em 1454 (8 de janeiro de 1454) assinou a bula Romanus Pontifex,
dando exclusividade aos portugueses nos negócios da África, inclusive para
apresar negros e mandá-los para o reino. Na justificativa, os seguidores do Papa
Nicolau V afirmavam que, em todo caso, os negros seriam batizados e a sua
captura e escravidão serviriam portanto para ‘salvar-lhes as almas’. E estimulava
Portugal a continuar o tráfico, a fim de trazer todos aqueles negros à fé cristã.
(CHIAVENATO, Júlio. O Negro no Brasil.)
É um engano pensar que a utilização de escravos negros limitou-se às colônias. Em pouco tempo, o
elemento africano já respondia por mais de 10% da força de trabalho em Portugal. Na Espanha
acontece processo semelhante, assim como em outros países do continente, em menor escala.
A crescente ampliação de uma classe média culta e letrada é, talvez, o mais importante traço
distintivo do período que vai do século XV aos nossos dias, quando comparado com todos os
séculos anteriores. Astrologicamente, é uma diferenciação que corresponde à mudança de signo da
conjunção Netuno-Plutão, em Touro durante dois milênios e em Gêmeos a partir de 1398. Mas o
fator tecnológico – os novos recursos de impressão e reprodução em massa – corresponde
precisamente ao ciclo Urano-Plutão iniciado em 1455.
A conjunção de 1597
Em 1597, Urano e Plutão voltam a encontrar-se em Áries, desta vez por volta do vigésimo-primeiro
grau do signo. Se a conjunção de 1090, na fase libriana da era de Peixes, esteve ligada às Cruzadas
e a de 1343, na fase Escorpião, à Peste Negra, esta nova conjunção antecipa em poucos anos o
início da fase Capricórnio, em que o conceito de Estado Nacional atinge sua forma mais acabada.
Sendo Áries o segundo signo a partir de Peixes, esta conjunção tem também um sentido de casa 2,
indicando movimentos importantes de mudança do mapa da distribuição da riqueza entre as
grandes potências européias. As potências em ascensão são Holanda, Inglaterra e França; aquelas
em decadência, Espanha e Portugal.
Apenas nove anos antes, a Inglaterra de Elisabeth I batera a Invencível Armada espanhola de Felipe
II, primeiro sinal explícito do declínio do país ibérico. Em breve, a Inglaterra estaria disputando
territórios e mercados com a Holanda. É também o momento do apogeu da literatura inglesa com
Shakespeare, um tipo uraniano, que exatamente neste momento estava em plena atividade,
produzindo alguns de seus melhores dramas. Mas é na França que vamos encontrar um exemplo do
pragmatismo dos novos tempos, quando as guerras de religião entre católicos e huguenotes haviam
exaurido o país e levado ao fim da velha dinastia de Valois.
Henrique IV, sendo protestante, não poderia ser sagrado oficialmente como rei da França. Mesmo
que o fizesse, a maioria da população continuaria hostil à idéia de aceitar um monarca huguenote.
Sendo assim, Henrique converte-se ao catolicismo e assume os títulos reais. Os huguenotes,
contudo, não foram traídos ou esquecidos pelo seu chefe: em 1598, o rei promulga o Edito de
Nantes, garantindo a liberdade de consciência e de direitos políticos a todos os protestantes. As
guerras de religião terminam temporariamente e o reino pode entrar em uma fase progressista e
pacífica. O Mercantilismo é posto em prática através da obra administrativa dos ministros Sully e
Laffemas, mas ainda neste governo a França não alcançaria o mesmo desenvolvimento de Espanha,
Inglaterra ou Holanda. As guerras prolongadas, a regulamentação real sobre as corporações e os
pesados impostos não permitiram uma ampla acumulação de capital e atrasaram o crescimento de
uma burguesia forte e bem organizada.
Contudo, estava lançada a semente. A partir de Henrique IV, os tempos são outros. É a hora dos
grandes administradores, dos burocratas brilhantes e dos primeiros cientistas. Capricórnio
começava a impor o seu perfil.
Luis XIII sucedeu ao pai, Henrique IV,que fora assassinado em 1610 por um fanático louco. Tendo
apenas nove anos de idade, o novo monarca ficará sob tutela de sua mãe, a regente Maria de Mé-
dicis. Se bem que, num primeiro momento, a corte se tornasse um covil de amigos italianos da
rainha-mãe, aos poucos o Cardeal Richelieu conseguiu tomar as rédeas do poder até transformar-se
no primeiro-ministro de Luís XIII. Terminado o período regencial com a maioridade do rei,
Richelieu realiza um verdadeiro expurgo na corte, afastando nobres que pudessem-se transformar
em perigo para a estabilidade do trono. O italiano Concino Concini é assassinado e o “partido da
rainha” perde todo o seu poder.
No período de governo pessoal de Luís XIII (pessoal em oposição a regencial, apenas. Um governo
pessoal de fato, Luís XIII nunca exerceu.), o primeiro acontecimento político de vulto é a con-
firmação do Edito de Nantes através do Edito de Montpellier, em 1622, para atender a pressões de
grupos huguenotes. A partir daí, Richelieu não mais fará concessões e estará empenhado em
consolidar o absolutismo e transformar a França em uma grande potência respeitada
internacionalmente. A consolidação do poder monárquico fez-se através do combate ao poderio dos
huguenotes que haviam-se constítuido num verdadeiro Estado. Em 1629, o Edito de Paz da Graça
ou de Alais retirou dos huguenotes todas as vantagens políticas e militares que estes vinham
mantendo desde o Edito de Nantes. Travam-se sérios combates nas proximidades de La Rochelle,
quartel-general dos protestantes, vencidos pelas tropas reais.
A internacionalização das hostilidades veio com a entrada dos reinos protestantes da Escandinávia
em apoio da nobreza alemã. Dinamarca e Suécia, tentadas pela possibilidade de expansão através
do Mar Báltico, beneficiavam-se com uma possível derrota imperial. A França, apesar de ser um
reino católico governado por um primeiro-ministro que também era cardeal, une-se a todos os
protestantes, formando uma frente única. O fato demonstra a impropriedade que há em atribuir à
Guerra dos Trinta Anos um caráter eminentemente religioso. Com a vitória da França e de seus
aliados, as conseqüências são múltiplas: o imperador é obrigado a concordar com as cláusulas do
Tratado de Paz de Westfália (1648) que assegurou à França o controle da Alsácia, garantiu a
independência de Holanda e Suíça e manteve os privilégios da nobreza alemã, impedindo desta
maneira que o Império se fortalecesse. O tratado marca o início da hegemonia francesa na Europa e
reequilibra a política continental, pois fortalece países pequenos inimigos da casa dos Habsburgos.
1
O Sacro Império Romano Germânico é a origem da Alemanha atual. Envolvia territórios que hoje fazem
parte da Alemanha, Áustria, República Tcheca, Hungria e norte da Itália. Durante alguns séculos, os
imperadores da dinastia Habsburgo também governaram a Espanha e Flandres (atual Bélgica). Houve
momentos, portanto, em que a França esteve cercada de territórios do império dos Habsburgo por todos os
lados. O grande objetivo dos reis franceses desde o final da Idade Média até a época de Napoleão sempre foi o
de romper o cerco dos Habsburgos e equilibrar a disputa pelo controle territorial do continente.
Assim, Kepler, ao aperfeiçoar a teoria de Copérnico, estava contribuindo para o lançamento das
bases de uma nova abordagem do conhecimento baseada na concepção de um universo ordenado,
regido por leis matemáticas constantes e previsíveis, além de passíveis de verificação pela
observação direta e pelo uso rigoroso da razão. Apenas um ano depois da enunciação das duas
primeiras leis de Kepler, Galileu Galilei anunciava suas primeiras descobertas astronômicas. Foi
Galileu (1564-1642) quem aperfeiçoou o telescópio e, através de seu uso, descobriu os satélites de
Júpiter, os anéis de Saturno e comprovou a veracidade da teoria heliocêntrica. Suas descobertas
científicas conduzem-no ao Tribunal da Santa Inquisição, onde é acusado de crime de heresia e
obrigado a retratar-se de suas teorias.
O século XVII seria ainda o de John Locke, de Isaac Newton, de Pascal, de Thomas Hobbes, de
Leibniz e de Descartes. A obra de cada um deles em particular poderia servir como exemplo da
mudança geral de paradigma que então se verificava, com os atributos capricornianos tomando de
assalto os círculos acadêmicos e ocupando pouco a pouco o lugar das concepções teológicas dos
séculos anteriores. Mas lancemos um olhar mais atento sobre Francis Bacon, filósofo inglês de
talentos tão variados que, durante algum tempo, chegou-se a pensar que teria sido ele o verdadeiro
autor das obras de Shakespeare.
Bacon, um pensador inventivo e metódico, lança um dos pilares mais sólidos da filosofia moderna
ao glorificar o método indutivo e transformá-lo no ponto de partida para uma nova epistemologia.
Nascido em Londres em 22 de janeiro de 1561, tinha o Sol em conjunção com Mercúrio em
Aquário em trígono com Saturno em Gêmeos e em quadratura com a Lua em Touro (ver o mapa
fbacon.gif). Outro aspecto marcante de sua carta é a conjunção provavelmente exata entre Vênus e
Plutão em Peixes. Para Bacon, o conhecimento não parte das grandes categorias gerais para o fato
específico (método dedutivo, como em Aristóteles), e sim da experiência concreta para o conceito
abstrato (método indutivo). Em concordância com o espírito da época, valoriza a experiência direta,
sensorial, e suas possibilidades como matéria-prima para o conhecimento. Nele exemplica-se o
sentido de Aquário na 9 do ciclo Netuno-Plutão em Gêmeos, como no experimento que uma vez
realizou com uma galinha, congelando-a com neve para verificar até que ponto sua carne podia
conservar-se. A manipulação do gelo custou-lhe, aliás, um resfriado que acabou evoluindo para
uma bronquite que acabou por tirar-lhe a vida.
O Novum Organum de Francis Bacon foi escrito em 1620. No Livro Primeiro, o filósofo postula
que a observação e a experiência são as bases do conhecimento humano. Utilizando uma sugestiva
comparação, considera que
2
Britannica Online (tradução livre e condensada).
Seria uma generalização simplista atribuir todo o florescimento científico do século XVII ao ciclo
iniciado com a conjunção Urano-Plutão de 1597. Outros ciclos concomitantes, como os iniciados
pelas duas conjunções Urano-Netuno em Sagitário, e o vasto ciclo de mudanças culturais cujo
ponto de partida é a conjunção Netuno-Plutão de 1398, também ajudam a compreender as várias
etapas da transição progressiva da mentalidade medieval para a moderna. Mas Urano e Plutão,
quando se encontram, expressam sempre alguma forma de rompimento brusco que contribui para
um posterior avanço das forças produtivas. É o ciclo burguês por excelência, aquele que demarcará
todas as etapas seqüenciais da passagem do Feudalismo para o capitalismo industrial. E a série de
encontros destes dois planetas em Áries e Leão, por ocorrerem no segundo e no sexto signo a partir
de Peixes, signo-raiz da era atual, trazem à tona questões relacionadas ao universo das casas de
Terra, exatamente aquelas da riqueza, da produção e do poder.
Resumindo
Na esteira da conjunção Urano-Plutão de 1597, aceleram-se três processos na Europa: no nível
político, é o fortalecimento das monarquias nacionais, de que a França dos reis Bourbon é um
exemplo típico; no nível econômico, a concentração da riqueza continua, com aumento progressivo
do poder da burguesia e ampliação de sua capacidade de investimento. Cada vez mais, os melhores
resultados serão alcançados pelas nações que desenvolvem mecanismos de gestão mais modernos e
eficazes. Agora já não se trata apenas de chegar primeiro às fontes de matéria-prima ou de controlar
grandes porções territoriais, mas de administrar corretamente os recursos disponíveis. Esta ênfase
na administração cada vez mais técnica e especializada, que também exemplificamos com o caso da
França, é um produto tanto do impacto modernizador do ciclo Urano-Plutão quanto da natureza
específica da fase capricorniana da era de Peixes. Finalmente, no âmbito ideológico e cultural, o
materialismo da fase Capricórnio potencializa o impulso tecnológico sempre trazido pelas
conjunções Urano-Plutão em Fogo, produzindo um significativo avanço no conhecimento, que
A conjunção de 1710
1710 é o ano da conjunção Urano-Plutão em 28° de Leão, a última neste signo. É também o
momento do apogeu e do início da decadência do modelo da monarquia centralizada, legitimada
pelo direito divino e concentrando poderes absolutos. A figura central do início deste ciclo, que
simboliza todas as suas transformações, é a de Luís XIV, o rei-sol (le roi-soleil), epíteto de
inequívoca inspiração leonina. Mas é também o momento em que se lançam as bases da revolução
industrial, que colocará a burguesia definitivamente na linha de frente da trajetória histórica da
civilização ocidental.
Na engenhoca de Newcomen, o vapor gerado pelo aquecimento da água numa caldeira passa por
uma válvula e penetra num cilindro. O resultado é uma alteração da pressão atmosférica que
provoca o movimento de um pistom, o qual, por sua vez, transmite-o a uma engrenagem à qual está
conectado. O próprio movimento da engrenagem provoca o fechamento da válvula e a criação de
um vácuo, que será preenchido por um novo jato de vapor, permitindo o recomeço de todo o
processo. Esta criada a máquina a vapor.
O mecanismo foi utilizado inicialmente no bombeamento de água das minas. Novas aplicações só
começarão a tornar-se viáveis quando outro inventor, James Watt, introduz alguns
aperfeiçoamentos que permitirão melhor aproveitamento da energia. Daí em diante, os usos são
cada vez mais amplos: a locomotiva, o navio a vapor, as máquinas das indústrias têxteis... enfim, a
máquina de Newcomen é o primeiro passo da revolução industrial, a mais espetacular
transformação dos meios de produção da história da humanidade.
A primeira aplicação encontrada para a máquina foi o bombeamento de água nas minas, sendo que
Urano e Marte regem bombas d’água e Plutão, ao lado de Saturno, é significador de subterrâneos.
O simbolismo é, portanto, evidente. O primeiro passo da revolução industrial – que
tecnologicamente se define pela introdução de equipamentos que substituem e amplificam o
trabalho humano – é totalmente concordante com o ciclo que então se iniciava. Na base de tudo
está o aproveitamento racional de um processo de combustão, que pode ser associado aos signos de
Fogo – e lembremos que a conjunção deu-se em Leão.
Teste de Verificação
1 – As afirmativas abaixo são corretas, exceto uma. Aponte-a:
2 – Palavras-chave para definir a tônica geral da fase Capricórnio da era de Peixes, iniciada por
volta de 1606, conjugada ao ciclo Urano-Plutão em Áries de 1597:
3 – A conjunção Urano-Plutão de 1455 corresponde a uma fase de grandes avanços náuticos, seja
na técnica de construção de embarcações, seja no conhecimento geográfico e cartográfico.
Contudo, as viagens mais espetaculares só aconteceriam a partir de 1488, quando Bartolomeu Dias
a) A peste negra produzia em suas vítimas processos violentos de expurgo (purulência, suor
fétido etc.) que provocavam forte repugnância.
b) Os judeus, até então relativamente tolerados na Europa Ocidental, passam a ser
discriminados e perseguidos sob a acusação de terem “envenenado as águas”.
c) Se não as fossem as Cruzadas e a conseqüente reabertura de rotas comerciais para o
Oriente, provavelmente a peste negra não teria chegado à Europa.
d) O ciclo de evolução da peste era extremamente rápido, quase fulminante.
5 – As alternativas abaixo refletem conseqüências da Guerra dos Cem Anos que podem ser
explicadas pelo início do conflito nas proximidades de um novo ciclo Urano-Plutão. Aponte a única
alternativa incorreta:
a) Num primeiro momento, a Guerra dos Cem Anos deixa a França arrasada e com sua
economia desorganizada.
b) A Guerra dos Cem Anos, que começa como um conflito feudal e dinástico enfre França e
Inglaterra, escapa ao objetivo inicial e contribui para acelerar a decadência do feudalismo
nos dois países.
c) Joana d’Arc foi uma guerreira visionária e mística, capaz de acender a esperança em suas
tropas mesmo nos momentos mais difíceis.
d) Durante a Guerra dos Cem Anos, acontece um enorme avanço das técnicas de combate. As
primeiras batalhas da guerra são tipicamente feudais, com uso de lanças, espadas e flechas.
No fim da guerra, os dois exércitos já tinham introduzido, pela primeira vez na Europa, o
uso de canhões e a prática do bombardeio de posições inimigas.
6 – O descobrimento do Brasil deu-se no âmbito de uma série de ciclos então correntes, que
tiveram início com as seguintes conjunções.
7 – Qual o planeta do mapa do Descobrimento mais forte e diretamente aspectado por pelo menos
uma das conjunções referidas na questão anterior?
a) Sol
b) Vênus
c) Saturno
d) Netuno
a) Sagitário – Urano-Plutão
b) Capricórnio – Urano-Plutão
c) Capricórnio – Netuno-Plutão
d) Aquário – Netuno-Plutão
Exercícios de Aplicação
Esta é uma proposta de exercício bem mais complexa. As questões a seguir relacionam o Brasil da
época colonial, cujo mapa-matriz é o do Descobrimento (descobrimento.gif), com os ciclos de
planetas geracionais então correntes.
1 – Você pode estabelecer, de alguma forma, relações de causa e conseqüência entre os eventos
ocorridos nas proximidades de cada conjunção abaixo e a história do Brasil no período colonial,
especialmente no século XVI?
2 – A viagem do Descobrimento, realizada pela esquadra sob o comando de Pedro Álvares Cabral,
não tinha por objetivo final a exploração de novas terras na América, mas sim o estabelecimento de
feitorias portuguesas nas Índias. Durante quase 50 anos, o Brasil não recebeu grandes
1 – Com base na periodização em fases da era de Peixes, a fase Libra/casa 7, que se estende
aproximadamente de 1069 a 1248, engloba duas conjunções Urano-Plutão: a de 1090, em Áries, e a
de 1201, em Câncer. A fase Escorpião/casa 8 (aproximadamente 1248/1427) engloba a conjunção
Urano-Plutão de 1343, em Áries; e a fase Sagitário/casa 9 da era de Peixes (a partir de 1427,
aproximadamente) vê acontecer em 1455 a primeira conjunção Urano-Plutão em Leão.
Considerando a síntese destes fatores, associe as duas colunas:
Comentários:
As descrições seguintes referem-se à peste negra, que grassou na Europa no século XIV. Leia-
as com atenção e responda às questões 2 e 3.
Afirmo, portanto, que tínhamos atingido já o ano bem farto da Encarnação do Filho
de Deus de 1348, quando, na mui excelsa cidade de Florença, cuja beleza supera a
de qualquer outra da Itália, sobreveio a mortífera pestilência. Por iniciativa dos
corpos superiores ou em razão de nossas iniqüidades, a peste atirada sobre os
homens por justa cólera divina e para nossa exemplificação, tivera início nas
regiões orientais, há alguns anos. Tal praga ceifara, naquelas plagas, uma enorme
quantidade de pessoas vivas. Incansável, fora de um lugar para outro; e estendera-
4
se, de forma miserável, para o Ocidente.
2 – A peste negra começa na Europa pouco depois da conjunção de Urano e Plutão em Áries, em
1343. Você poderia destacar dos textos pelo menos dois trechos que remetam, especificamente, ao
simbolismo de Urano, Plutão e Áries?
Urano:
Os doentes (...) morriam em até cinco dias após a manifestação dos primeiros
sintomas.
Incansável, [a peste] fora de um lugar para outro; e estendera-se, de forma
miserável, para o Ocidente.
Comentário: O primeiro trecho dá conta do caráter rápido, súbito de Urano; o segundo lembra
outra característica do planeta, que é a disseminação, ou a irradiação. Processos de natureza
uraniana não se limitam a uma pequena área, mas tendem a espalhar-se – e rápido!
Plutão:
3
GUSMÃO Jr., Amiraldo M. A experiência do Apocalipse.
4
Giovanni Boccaccio, século XIV, escritor italiano do século XIV, autor do Decamerão e contemporâneo da
peste negra.
Áries:
Comentário: Áries e seu regente Marte regem febre, sangue (hemorragias) e inflamações. O último
trecho – “A morte se estampava no rosto dos condenados” – é dos cronistas da época e não poderia
ser mais precisa: é Plutão (morte) em Áries (rosto).
3 – Por curiosidade, há um trecho nestes textos que parece sugerir que a peste negra tinha uma
causa astrológica. Você pode identificá-lo?
Eis o trecho:
Comentário: Esta referência aos corpos superiores é, nitidamente, uma alusão à influência (como
se dizia então) dos astros. Por toda a Europa, aliás, governantes aterrorizados consultaram seus
astrólogos para identificar a origem da peste.
Mapas complementares:
Se bem que o processo tenha sido gradativo, é nas imediações desta conjunção de 1850 que haverá
uma intensificação, incluindo diversos episódios sangrentos. O caso mais evidente é o da China,
país fechado ao Ocidente durante séculos e no qual a presença européia limitou-se durante algum
tempo a pequenas feitorias litorâneas. Em 1840, estoura a Guerra do Ópio, cuja raiz é exatamente a
resistência chinesa em admitir uma maior penetração do comércio ocidental no país. A resistência
tem como resposta a intervenção armada de tropas européias, que, após alguns anos, conseguem
obrigar a China a abrir diversas concessões. É a abertura definitiva do mercado chinês, que gera, por
sua vez, um novo movimento de resistência, em bases ainda mais violentas. Será a vez da Rebelião
Taiping, que se inicia exatamente em 1850, estendendo-se até 1864.
Nesta conjunção de 1850, a presença européia desempenha por toda parte o papel de força
desestabilizadora, varrendo (Urano) velhas estruturas de poder e rompendo o equilíbrio de
civilizações centenárias. Em poucos anos, ocorre a Guerra da Criméia, que opõe o imperialismo
inglês ao russo, e penetra-se mais profundamente no território africano, onde comunidades são
arrancadas da vida tribal para o choque da civilização. São os anos também da aceleração da marcha
para o Oeste, nos Estados Unidos, especialmente para os recém-conquistados territórios da
Califórnia e do Texas.
A maior perda do México não foi sequer o Texas, mas a Califórnia. O governo do general Antonio
López de Santa Anna havia dividido esta região entre seus apaniguados, que tomaram posse de
vastas extensões de terra onde antes levantavam-se as missões religiosas franciscanas. Por volta de
1841, colonos americanos começaram a penetrar na região. Em 1846, já proclamavam a república
independente da Califórnia – outro dos motivos da guerra entre os Estados Unidos e o México. Em
1848, logo após o fim da guerra, são descobertas grandes jazidas de ouro, o que provoca uma
imediata corrida de aventureiros para o Oeste. A Califórnia, que despertara escassa atenção durante
três séculos, vê sua população dobrar rapidamente. Em 1850, na exata conjunção Urano-Plutão,
transforma-se no 31° estado norte-americano.
O toque netuniano é visível no papel que a Califórnia viria a desempenhar daí em diante. Num
primeiro momento, é a terra prometida, que atrai milhares de miseráveis à cata do ouro recém-
revelado nas Montanhas Rochosas. Mais adiante, será a sede das maiores indústrias
cinematográficas, a “fábrica de ilusões” de Hollywood. Netunianamente, a Califórnia é o estado
americano com maior grau de mistura racial, reunindo, além da maioria anglo-saxônica, expressivas
comunidades hispânicas, chinesas, vietnamitas, filipinas, negras e de descendentes das antigas
comunidades nativas dos pele-vermelha. É também o que conta com o maior contingente de
veículos motorizados do mundo (Urano-Plutão em Áries) e o trânsito mais caótico, responsável por
altíssimos índices de poluição atmosférica (Netuno).
A transformação da Califórnia em estado americano tem uma carta bastante reveladora: o ato foi
assinado por volta de 9h41 da manhã de 9 de setembro de 1850, em San José1. O Ascendente é
Escorpião, em estreita conjunção com a Lua no mesmo signo e em oposição a Urano-Plutão no
último grau de Áries. Netuno em Peixes está na cúspide da 5 – casa das artes e dos espetáculos – em
trígono com o Ascendente.
Trens e manifestos
O grande instrumento de penetração econômica em toda parte é o trem, cuja chegada sempre
transforma a paisagem econômica (a resistência dos índios pele-vermelha americanos ao trem não
era por acaso: eles percebiam claramente o que viria no rastro das locomotivas...). Mesmo no Brasil,
a conjunção também fará sentir seus efeitos na economia, com a introdução das primeiras linhas
ferroviárias que permitirão a interiorização das fazendas de café. A figura empreendedora do Barão
de Mauá, com sua disposição para transformar o país numa potência industrial, corporifica
claramente o espírito da época. Ainda no Brasil, é o momento em que o modelo escravista sofre seu
1
PENFIELD, Marc Heeren. Horoscopes of the Western Hemisphere. San Diego, ACS Publications, 1984.
Carta retificada por Marc Penfield.
Outro fenômeno que podemos associar à conjunção é a eclosão das ideologias socialistas na Europa,
especialmente com o Manifesto Comunista de 1848. Temos aí também uma simbologia claramente
netuniana, planeta que fora descoberto apenas dois anos antes. Netuno rege o socialismo e todas as
utopias, de uma forma geral. Mas o fator de turbulência e de convulsão social é dado por Urano-
Plutão, a conjunção eternamente desestabilizadora.
Do ponto de vista cultural, é a década da contestação aberta dos valores burgueses, exatamente os
valores que a mesma conjunção Urano-Plutão contribuíra para afirmar, nos ciclos anteriores. Os
exemplos são todos próximos e bem conhecidos: a música de protesto de Bob Dylan e Joan Baez, a
marcha sobre Washington pelos direitos civis conduzida pelo reverendo Martin Luther King, os
jovens americanos rasgando suas certidões do alistamento militar, a revolta dos estudantes na
Sorbonne, a Passeata dos Cem Mil no Rio de Janeiro, o musical Hair... Neste, aliás, um verso
anunciava: “When the Moon is in the seventh house...” (“Quando a Lua está na sétima casa...”). O
sentido é exatamente este, de sétima casa, de confronto, de busca de uma saída que não esteja no
batido repertório da sociedade de consumo. Para muitos, a saída estaria no Oriente, na retomada de
valores culturais da era pré-industrial, num sintomático processo de revisão do que se construiu ao
longo de todo um milênio. Quase ao mesmo tempo, a era de Peixes entrou também em sua última
fase – a fase Peixes ou de casa 12. A quase simultaneidade dos dois ciclos destaca um momento de
risco para a civilização ocidental. De um lado, são os inimigos abertos – Urano-Plutão na casa 7 da
era – e, de outro, os fatores ocultos de corrosão, os inimigos ocultos da casa 12. O mundo industrial
começa a descobrir os efeitos nefastos de seu modelo de exploração dos recursos do planeta. É a
crise dos recursos naturais que mostra sua face nos anos sessenta. Nos anos subseqüentes, os
tradicionais adversários da civilização cristã renovam sua força, caracterizando uma era de
recrudescimento de confrontos do Ocidente com o mundo muçulmano. A guerra árabe-israelense de
1967 (Guerra dos Seis Dias) foi um sinal. Bastariam poucos anos para que a primeira crise do
petróleo e o fundamentalismo islâmico mostrassem que o Ocidente era um gigante com os pés de
barro. Mesmo que não se saiba exatamente o que virá, sabe-se com certeza que nada será como
antes...
Para que você possa entender melhor o espírito do exercício, comecemos com um exemplo bem
simples e caricato. Vamos descobrir se há alguma correlação entre o comportamento de Bin Laden,
o cão pitbull de Belarmino Anabólico, e as variações climáticas da cidade onde ele vive.
Acompanhe o seguinte relato, tirado do diário de Belarmino Anabólico:
1º de agosto – Hoje choveu pra burro. Mesmo assim fui correr na praia com o Bin
Laden. O problema é que logo hoje ele resolveu morder uma turista alemã que
tomava água de coco num daqueles quiosques do Calçadão. Deu a maior
encrenca. Fomos parar na delegacia, mas como o delegado malha na mesma
academia que eu, ficou tudo em família e fomos liberados numa boa.
3 de agosto – Hoje fez um friozinho gostoso e não choveu. Como faltou luz na
academia, não fui malhar. Preferi dar uma volta do shopping pra azarar umas
gatas. Não queriam deixar o Bin Laden entrar, mas mostrei pro segurança minha
carteirinha da Polícia Federal e ele deixou rolar. Acho que nem sacou que a
carteira era falsa. Bin Laden se comportou muito bem. Todo mundo apavorado,
dizendo “olha lá o pitbull”, e ele nem aí. Quando parei na praça da alimentação pra
tomar meu açaí, ele se enroscou no pé da mesa e chegou a dormir.
4 de agosto – Não sei o que deu no Bin Laden hoje. Mal a gente saiu de casa, ele
avançou em cima de uns garotos que jogavam bola e estraçalhou um deles.
Devorou dois dedos e uma orelha do guri e só não comeu o resto porque apareceu
um guarda e começou a atirar. O garoto foi pro hospital e eu, pra variar, fui parar
na delegacia. Só não fiquei detido porque o delegado que é meu chapa conseguiu
chegar a tempo, mesmo com o temporal que inundou o bairro inteiro.
Precisa mais? Qualquer pessoa de bom senso já começaria a desconfiar de alguma relação entre a
violência de Bin Laden, o pitbull de Belarmino, e o mau tempo. Algo do tipo “choveu, mordeu”.
Mas como quatro dias são muito pouco tempo para tirarmos uma conclusão definitiva, seria preciso
observar Bin Laden por um longo período até confirmar a hipótese sem qualquer sombra de dúvida.
Seria preciso observar, por exemplo, se sempre que chove Bin Laden se torna agressivo, ou se os
acessos de agressividade também podem ocorrer em dias de sol. E depois que identificarmos um
padrão, podemos utilizá-lo para prevenir futuras ocorrências.
Seguem abaixo textos extraídos de diversas fontes. Exceto quanto à introdução do texto sobre os
bandeirantes, que é nosso, todos os demais são de autores não-astrólogos, o que implica dizer que
nenhum deles estava contaminado com um pré-julgamento astrológico sobre o significado de
determinados acontecimentos. Todos se relacionam com a História do Brasil (inclusive o de 1455) e
todos se referem a acontecimentos que tiveram lugar sob conjunções Urano-Plutão. Eis o que você
deve fazer:
3 – Considerando a posição por signo e casa e regências, que significado você atribuiria a Plutão e
Urano no mapa do Descobrimento? Este significado se confirma nos fatos ocorridos sob cada
conjunção?
A primeira bula, DUM DIVERSAS, datada de 1452, autorizava o rei a “... atacar,
conquistar e submeter sarracenos, pagãos e outros descrentes e inimigos de
Cristo; capturar seus bens e territórios, reduzi-los a escravatura perpétua e
transferir suas terras para o Rei de Portugal...”
2
Uma bula é um decreto do Papa, com valor de lei para a comunidade católica.
3
O texto completo está em http://www.geocities.com/Athens/Column/6138/emnomededeus.html.
Sendo uma capitania pobre, onde faltavam recursos para a aquisição de escravos,
São Vicente (onde está hoje a cidade São Paulo) não tem outra opção senão
apresar os índios e utilizá-los como mão de obra servil. Nos primeiros tempos,
apresavam-se apenas índios de tribos próximas, e as expedições tinham um
caráter particularmente defensivo, já que as tribos atacadas eram aquelas que
ameaçavam diretamente a segurança da população da vila de São Paulo de
Piratininga. Sobre isso, diz Sérgio Buarque de Hollanda:
Em 1709, (...) o novo governador promove a pacificação geral, sendo então criada
a Capitania de São Paulo e Minas do Ouro, pertencente à Coroa. Em
conseqüência dos conflitos, muitos paulistas, organizados em novas “bandeiras”,
abandonam as Gerais, dirigindo-se para o Oeste, vindo a descobrir novas minas
6
em Goiás e Mato Grosso.
4
Gentio – O índio, especialmente o ainda não convertido ao Cristianismo.
5
HOLLANDA, Sérgio Buarque de. História Geral da Civilização Brasileira. O Período Colonial, volume I.
SP, Difel, 1960.
6
TEIXEIRA, Francisco M. P. & DANTAS, José. Estudos de História do Brasil – Volume I: Colônia. SP, Ed.
Moderna, 1971.
A Coroa intervém (1711), nomeia (...) novo governador que põe fim aos conflitos e
confirma a autonomia de Recife. Mais uma vez, se evidencia a reação nativista
colonial frente à dominação metropolitana, representada aqui pela própria
7
burguesia portuguesa.
Esta possibilidade deu origem a um expediente: uma pessoa com influência junto a
um juiz incentivava a ocupação de terras por posseiros. Estes derrubavam a mata
e começavam a plantar roças. Quando as terras estavam abertas – o
desmatamento era a fase mais trabalhosa para a obtenção de solo cultivável –, o
interessado obtinha um registro de proprietário com o juiz. Em seguida, empregava
tropas ou jagunços para expulsar os ocupantes de “suas” terras.
7
Idem.
8
CALDEIRA, Jorge et alii. Viagem pela História do Brasil. Companhia das Letras.
Logo após assumir o poder, os militares incluíram a reforma agrária entre suas
prioridades. Um grupo de trabalho foi imediatamente designado (...) para a
elaboração de um projeto-de-lei de reforma agrária. O grupo trabalhou rápido e, no
dia 30 de novembro de 1964, o Presidente da República, após aprovação pelo
Congresso Nacional, sancionou a Lei nº 4.504, que tratava do Estatuto da Terra.
Assim, quanto mais terra tivesse o proprietário, mais crédito recebia e mais terra
10
podia comprar.
Teste de Verificação
1 – As afirmativas abaixo são corretas, exceto uma. Aponte-a:
9
Citado por Carlos Hollanda no material didático do curso Progressões Secundárias e Arcos Solares 2, de
Astroletiva.
10
Extraído do site www.geocities.com/reformagraria/estatter.htm.
2 – Palavras-chave para definir a tônica geral da fase Capricórnio da era de Peixes, iniciada por
volta de 1606, conjugada ao ciclo Urano-Plutão em Áries de 1597:
3 – A conjunção Urano-Plutão de 1455 corresponde a uma fase de grandes avanços náuticos, seja na
técnica de construção de embarcações, seja no conhecimento geográfico e cartográfico. Contudo, as
viagens mais espetaculares só aconteceriam a partir de 1488, quando Bartolomeu Dias dobra o Cabo
da Boa Esperança. A partir daí, começa a fase mais importante dos grandes descobrimentos
espanhóis e portugueses. Os ciclos que estão relacionados mais de perto com a fase áurea das
grandes navegações são:
Comentário – O sentido expansionista da fase Sagitário da era de Peixes é mais do que evidente:
nesta fase, os horizontes culturais e econômicos da Europa passam, pela primeira vez na História, a
abranger o mundo inteiro. A conjunção Urano-Netuno em Escorpião de 1478 ocorreu nos últimos
minutos do signo, funcionando, na prática, como uma conjunção de conotação Escorpião-Sagitário.
4 – Como decorrência da peste negra, há um fato que se ajusta claramente ao simbolismo específico
do ciclo Urano-Plutão em Áries. Aponte-o:
a) A peste negra produzia em suas vítimas processos violentos de expurgo (purulência, suor
fétido etc.) que provocavam forte repugnância.
b) Os judeus, até então relativamente tolerados na Europa Ocidental, passam a ser
discriminados e perseguidos sob a acusação de terem “envenenado as águas”.
c) Se não as fossem as Cruzadas e a conseqüente reabertura de rotas comerciais para o
Oriente, provavelmente a peste negra não teria chegado à Europa.
d) O ciclo de evolução da peste era extremamente rápido, quase fulminante. (X)
5 – As alternativas abaixo refletem conseqüências da Guerra dos Cem Anos que podem ser
explicadas pelo início do conflito nas proximidades de um novo ciclo Urano-Plutão. Aponte a única
alternativa incorreta:
a) Num primeiro momento, a Guerra dos Cem Anos deixa a França arrasada e com sua
economia desorganizada.
b) A Guerra dos Cem Anos, que começa como um conflito feudal e dinástico enfre França e
Inglaterra, escapa ao objetivo inicial e contribui para acelerar a decadência do feudalismo
nos dois países.
c) Joana d’Arc foi uma guerreira visionária e mística, capaz de acender a esperança em suas
tropas mesmo nos momentos mais difíceis. (X)
d) Durante a Guerra dos Cem Anos, acontece um enorme avanço das técnicas de combate. As
primeiras batalhas da guerra são tipicamente feudais, com uso de lanças, espadas e flechas.
No fim da guerra, os dois exércitos já tinham introduzido, pela primeira vez na Europa, o
uso de canhões e a prática do bombardeio de posições inimigas.
Comentário – O contexto em que Joana d’Arc atuou, de uma França destruída e convulsionada,
pode ser relacionado ao ciclo Urano-Plutão sob o qual a Guerra dos Cem Anos teve início. Mas a
própria figura de Joana d’Arc e sua trajetória de vida remetem muito mais ao simbolismo de
Sagitário, Júpiter-Netuno etc. Tratava-se de uma mística, movida por intensa fé, que luta por um
ideal até então abstrato (a unidade nacional do reino da França) e entra em conflito com as
instituições religiosas. Joana d’Arc imortalizou-se pelo seu comportamento durante um julgamento
eclesiástico (Sagitário) injusto e “de cartas marcadas”.
6 – O descobrimento do Brasil deu-se no âmbito de uma série de ciclos então correntes, que tiveram
início com as seguintes conjunções.
Comentário – Esta é uma questão que exige simplesmente observação. Quanto ao que estes
posicionamentos significam, veja a questão 1 dos Exercícios de Aplicação.
7 – Qual o planeta do mapa do Descobrimento mais forte e diretamente aspectado por pelo menos
uma das conjunções referidas na questão anterior?
a) Sol
b) Vênus (X)
c) Saturno
d) Netuno
Comentário:
Nas últimas décadas do século XV, quando a Espanha também começa a acumular seus segredos
náuticos, acontece entre Espanha e Portugal uma das primeiras guerras pela cooptação de talentos
de que se tem notícia. Pilotos experientes oferecem seus serviços a um e outro país a peso de ouro,
enquanto os dois reinos espionam-se mutuamente atrás de informações sobre rotas, terras recém-
descobertas e cartas marítimas atualizadas. Nas explorações além-mar, a presença de intérpretes
capazes de compreender a língua dos nativos ganha enorme relevância. Toda esta ênfase na
informação remete ao simbolismo de Gêmeos. O fato de o planeta regente do mapa do
Descobrimento estar em conjunção com o ponto de partida do ciclo Netuno-Plutão em Gêmeos é
muito significativo, pois situa o achamento das terras brasileiras como etapa do longo processo de
afirmação do conhecimento lógico e estruturado como fator capital para a vitória na competição
econômica.
a) Sagitário – Urano-Plutão
b) Capricórnio – Urano-Plutão (X)
c) Capricórnio – Netuno-Plutão
d) Aquário – Netuno-Plutão
Comentário – À primeira vista, pareceria lógico atribuir o enunciado à fase Aquário da Era de
Peixes, na medida em que racionalismo, tecnologia e ciência moderna sugerem características
aquarianas. Contudo, o que realmente corresponde à fase aquariana é a Revolução Industrial e o
rápido desenvolvimento científico e tecnológico tornado possível nos séculos XIX e XX, após o
advento da máquina a vapor e de uma atmosfera de real liberdade de pensamento. A fase
Capricórnio é aquela em que se reúnem as condições materiais, políticas e filosóficas para o salto
científico e tecnológico da fase seguinte. Assim, na fase Capricórnio a visão mecanicista e
materialista do universo (atributos de Saturno) supera a visão religiosa da fase anterior (Sagitário) e
lança as bases da ciência moderna. Na tabela de periodização da Era de Peixes apresentada na lição
2 do curso Astrologia Mundial – Eras e Ciclos Planetários 1 consta o ano de 1606 como sendo o do
início aproximado da fase Capricórnio, assim como o de 1785 como o do início aproximado da fase
Aquário. Observa-se que a formulação das teorias de Newton, pai da Física moderna, e de Kepler,
sobre a mecânica celeste, são dessa época, assim como o início da Revolução Industrial. Além do
mais, os primórdios da moderna ciência e tecnologia implicaram uma forte ruptura com o status
quo da fase anterior, sendo que esta ruptura faz parte dos desdobramentos da conjunção Urano-
Plutão de 1597, como já estudamos na lição 3.
Exercícios de Aplicação
Esta é uma proposta de exercício bem mais complexa. As questões a seguir relacionam o Brasil da
época colonial, cujo mapa-matriz é o do Descobrimento (descobrimento.gif), com os ciclos de
planetas geracionais então correntes.
Resposta – Esta conjunção ocupa a casa 8, das taxas, tributos e reciclagens, e ativa a quadratura
Vênus-Lua do mapa do Descobrimento. Destaca o papel do Brasil no período colonial como
fornecedor de riquezas para a metrópole, conforme será vista com mais detalhes na questão 2, e
conecta o regente do mapa do Descobrimento (Vênus) aos fatos históricos relacionados ao
progressivo fechamento das rotas comerciais pelo Mediterrâneo e à conseqüente transformação de
Portugal num país com vantagens estratégicas na busca de uma nova rota marítima para o oriente.
Tamerlão foi um chefe tártaro-mongol cujas hordas desestabilizaram toda a vida política e
econômica da Ásia. Ao invadirem o norte da Índia e, posteriormente, devastarem Bagdá e regiões
da Ásia Menor, contribuíram para desorganizar e encarecer o comércio internacional pelas rotas que
cortavam o Mediterrâneo e seguiam por terra a partir de Constantinopla. Assim, criaram condições
para que se buscasse uma rota alternativa, o que levará Portugal a iniciar a exploração e conquista
do litoral africano.
Resposta – Esta conjunção ocupa a casa 10 do mapa do Descobrimento e ativa por quadratura o Sol
do Descobrimento, na casa 7. A casa 10 é a do governante, da autoridade, sendo que, no caso, trata-
se da autoridade colonial da administração portuguesa. A conjunção Urano-Plutão de 1455 tem,
como vimos, forte correlação com os avanços tecnológicos (imprensa, armamentos, artes náuticas)
que permitiram a expansão oceânica de Portugal. Da mesma forma, é o aspecto astrológico que
testemunha o encarecimento do comércio pelo Mediterrâneo, dada a queda de Constantinopla, e o
surgimento de uma França e de uma Inglaterra unidas em torno de monarquias nacionais mais
fortes. É, finalmente, a época em que a Igreja justifica ideologicamente o retorno da escravidão,
estimulando o apresamento de negros africanos por Portugal. Todos esses elementos estarão
presentes na vida colonial: a relativa desimportância do Brasil em face das rotas oceânicas para a
Índia, nas primeiras décadas do século XVI, a sociedade escravocrata, a constante interferência de
franceses e mais tarde ingleses na vida colonial e a condição de dependência que impedia que o
Brasil se beneficiasse com as novas tecnologias, do que resultou, por exemplo, a relativa ausência
de uma imprensa local.
2 – A viagem do Descobrimento, realizada pela esquadra sob o comando de Pedro Álvares Cabral,
não tinha por objetivo final a exploração de novas terras na América, mas sim o estabelecimento de
feitorias portuguesas nas Índias. Durante quase 50 anos, o Brasil não recebeu grandes investimentos
de Portugal, mais interessado na exploração econômica do Oriente. Há algo no mapa do Brasil em
conexão com os ciclos referidos na questão anterior que seja análogo a este fato?
Resposta: Sim. Trata-se do mesmo interaspecto já abordado na questão anterior, qual seja, Vênus
do Descobrimento em conjunção com Netuno-Plutão de 1398.
Comentário:
No mapa do Descobrimento, Vênus rege a casa 1 – a natureza básica, o modo de ser do Brasil
durante o período colonial. Está em Gêmeos, signo de comércio e de trocas em geral (inclusive as
intelectuais) e na casa 8, dos recursos compartilhados e dos tributos. A casa 8 tem uma conexão
natural com Escorpião, signo que se encontra interceptado na casa 1, o que faz de Marte e Plutão,
seus regentes, também co-regentes do Brasil colonial. Vênus está em quadratura com a Lua em
Peixes, regente do Meio-Céu. Esta Lua, no mapa do Descobrimento, simboliza as autoridades
portugueses, os governadores gerais e, mais tarde, os vice-reis que chegavam da metrópole. Toda a
configuração fala do papel reservado ao Brasil: pagar tributos à metrópole, produzir riquezas para o
colonizador europeu. Fala também da tensão permanente que se estabelecerá entre os interesses dos
reinóis e dos nascidos na terra, o que irá gerar, mais tarde, os movimentos nativistas. Urano, em
conjunção com a Lua, mostra a administração portuguesa como um tanto errática, com diversas
mudanças de estilo ao longo dos 322 anos de dominação, alternando momentos de endurecimento
do controle sobre a terra com outros em que, pela absoluta falta de recursos, os portugueses
deixavam a vida na colônia “correr mais frouxa”.
Ou seja: o novo mundo inaugurado pelo ciclo Netuno-Plutão em Gêmeos é o mundo moderno,
distante da imutabilidade feudal e da rígida estratificação social e econômica do apogeu da Idade
Média. Na medida em que a conjunção de 1398 ativa os regentes do Ascendente e do Meio-Céu do
mapa do Descobrimento, que ocupam, por sua vez, as casas 8 e 5 deste mesmo mapa, o que temos é
o retrato da sintonia da colônia com uma vocação de adaptabilidade e de reciclagem cultural capaz
de transformar o Brasil num grande caldeirão onde se gesta uma civilização com características
inéditas. O papel histórico do país, desde o período colonial, foi servir de palco de experiências de
confronto e de adaptação mútua de grupos humanos os mais diversificados. Este toque geminiano
sempre foi vital no processo de mestiçagem cultural ainda em andamento, e que só seria possível no
âmbito dos signos mutáveis. Trata-se de uma idéia que aqui é apenas esboçada, e que merecerá
tratamento mais aprofundado em futuras investigações.
Seguem abaixo textos extraídos de diversas fontes. Exceto quanto à introdução do texto sobre os
bandeirantes, que é nosso, todos os demais são de autores não-astrólogos, o que implica dizer que
nenhum deles estava contaminado com um pré-julgamento astrológico sobre o significado de
determinados acontecimentos. Todos se relacionam com a História do Brasil (inclusive o de 1455) e
todos se referem a acontecimentos que tiveram lugar sob conjunções Urano-Plutão. Eis o que você
deve fazer:
1 – Identificar o que há de comum em todos os fatos e processos históricos relatados. O que sempre
parece acontecer sob estas conjunções? O que está em jogo? Quem sai ganhando?
Resposta – As grandes características dos períodos em que ocorrem estes encontros planetários são
a radicalização político-ideológica e a concentração de renda, gerando o capital necessário para
grandes empreendimentos econômicos nos anos ou décadas subseqüentes. A análise desta questão é
tão longa que resolvemos detalhá-las num capítulo inteiro, a seguir.
Em primeiro lugar, todos os textos falam de terra (ou de controle dos mares, o que dá mais ou
menos no mesmo). Em essência, a idéia central é uma disputa pelo controle dos meios de produção
que sempre se resolve em favor do mais forte. Vejamos os fatos que aconteceram sob a conjunção
Urano-Plutão de 1455:
O Papado (...), com relação a Portugal, segue uma linha expansionista e comercial
pretendendo satisfazer interesses reais e burgueses. (...) A primeira bula, DUM
DIVERSAS, datada de 1452, autorizava o rei a “... atacar, conquistar e submeter
sarracenos, pagãos e outros descrentes e inimigos de Cristo; capturar seus bens
e territórios, reduzi-los a escravatura perpétua e transferir suas terras para o
Rei de Portugal...”
Em outras palavras: é a Igreja, que, naquela época, detinha ainda o legítimo poder de legislar sobre
assuntos mundanos, beneficiando mediante uma bula (um decreto papal) os interesses
expansionistas do rei e da burguesia, ou seja, a classe social que concentrava os recursos de
investimento capazes de transformar o controle dos meios de produção em lucro. A referência a
“pagãos, descrentes e inimigos de Cristo” é mero pretexto. Sob a capa de uma cruzada tardia contra
os infiéis, o que se garante para Portugal é o direito de pilhar e concentrar riquezas. Já a bula
Romanus Pontifex simplesmente “cria o monopólio português nas regiões conquistadas, proibindo
outras nações de interferir no mesmo. E segue concedendo a Portugal “as províncias, ilhas, portos,
lugares e mares já adquiridos ou que de futuro eles vierem a adquirir”. A bula Inter Coetera só
confirma estas prerrogativas.
Naturalmente, garantir o monopólio da exploração dos mares à nação que, naquele momento,
encontrava-se mais apta para tirar proveito da aventura oceânica significava a união de uma força
política (a Igreja) com uma força econômica (a burguesia portuguesa) para, juntos, tornarem-se
ainda mais fortes e concentrarem mais riqueza.
Conjunção de 1597
Os fatos relacionados à conjunção seguinte têm sentido semelhante. Citamos um trecho sobre a
expulsão dos franceses do Rio Grande do Norte. O esforço já vinha de longe, mas os portugueses só
começam a obter sucesso quando da conjunção Urano-Plutão de 1597. É um enfrentamento militar
pelo controle do território e em nome do monopólio que Portugal tinha legalmente garantido sobre
estas terras (e que a França contestava). Mais importante, contudo, é a virada no comportamento
dos paulistas de São Vicente, até então acostumados a fazer expedições (“bandeiras”) defensivas
contra os índios, e que a partir de 1596 (já na órbita da conjunção) passam a adotar uma postura
agressiva de bandeiras que buscam territórios cada vez mais distante para neles ocupar a terra,
explorá-la e escravizar os índios. Novamente, como no caso das bulas de 1455, vemos a lei se
colocar a favor do grupo militarmente mais forte, mais agressivo e mais empreendedor. Em tese, a
lei proíbe a escravização, mas abre uma brecha para a chamada “guerra justa”. Tudo o que os
paulistas tinham de fazer era alegar que estavam agindo em legítima defesa contra determinada
tribo. Quem haveria para negá-lo? Na prática, enquanto durou a dominação espanhola no Brasil
(União Ibérica, de 1580 a 1640), os bandeirantes tiveram bastante liberdade para expandir seu raio
de ação. Os únicos que tentavam coibir a escravização dos índios eram os jesuítas, que acabaram
expulsos de São Paulo e Santos em 1640, sob uma chuva de paus e pedras. O resultado foi o que
todos aprenderam na escola: uma ampliação significativa do território brasileiro (às custas de muita
violência e muito sangue derramado) e a posterior descoberta das jazidas de ouro e diamante de
Minas e do Centro-Oeste.
Conjunção de 1710
A conjunção Urano-Plutão seguinte, a de 1710, coincidou com fatos ainda mais dramáticos. Os
paulistas haviam descoberto o ouro e sentiam-se no direito de garantir sua exploração. Mas era
muito mais interessante para a Coroa entregar os veios a grupos com maior capacidade de
investimento e, conseqüentemente, em condições de gerar lucros mais rápidos. Assim, após a
chamada Guerra dos Emboabas, a Coroa coloca-se a favor dos forasteiros (os emboabas), obrigando
os paulistas a buscar novas riquezas mais para o interior. A criação da Capitania de São Paulo e das
Minas do Ouro é apenas um recurso para aumentar o controle sobre a mineração. É uma forma de a
administração portuguesa fazer-se mais presente. O mesmo processo ocorre na Guerra dos
Mascates, entre Recife e Olinda: A lei ficará ao lado dos comerciantes de Recife, e não dos
fazendeiros endividados.
Conjunção de 1850
Em 1850, quando começa a década de apogeu do Segundo Reinado, o café já é a principal riqueza
de exportação do país. Com a Lei de Terras, o governo garantia que as terras produtivas não seriam
divididas entre pequenos proprietários com poucos recursos, mas sim fortemente concentradas nas
mãos de uma elite que tinha capacidade de investimento para fazê-las produzir no limite de sua
capacidade. O texto deixa patente que esta lei teve efeitos perversos, dando aos latifundiários
instrumentos para expulsar posseiros e ampliar ainda mais suas propriedades. As vítimas são os
índios (mais uma vez), os colonos europeus com poucos recursos e os pequenos proprietários ou
posseiros que não tinham como obter o respaldo dos magistrados locais.
Já quanto aos bombardeios ingleses a portos brasileiros, o sentido é mais ou menos o mesmo, se
bem que invertidos os papéis: os ingleses, que já não utilizavam trabalho escravo em suas colônias,
querem obrigar o Brasil a extinguir o tráfico negreiro, que fornecia mão-de-obra barata. Assim, os
produtos brasileiros não poderiam competir com os ingleses com a vantagem dos baixos preços. Os
ingleses estabelecem a lei (proibindo o tráfico), impõem à força tal legislação e usam canhões para
intimidar os recalcitrantes. Os grandes fazendeiros, que no caso da Lei de Terras são a parte mais
forte, em relação aos ingleses não têm força para impor seus pontos de vista, e acabam sendo
obrigados a abrir mão do suprimento barato de escravos proveniente do tráfico.
Conjunção de 1964
Em 1964, finalmente, às vésperas da última conjunção Urano-Plutão, mais uma vez os legisladores
favorecem a classe social com maior capacidade de investimento. O Estatuto da Terra, se bem que
visasse à Reforma Agrária, acaba beneficiando na prática o latifúndio produtivo, com vistas ao
aumento das exportações de soja. É um governo forte (o dos militares) favorecendo os proprietários
rurais mais afinados com a economia capitalista.
- o favorecimento, mediante instrumentos legais, dos grupos econômicos mais preparados para
gerar riquezas rapidamente;
- a formação ou a consolidação de monopólios ou, no mínimo, de condições econômicas
privilegiadas;
- a concentração dos meios de produção nas mãos da elite econômica – no caso dos bandeirantes
paulistas do século XVI, não temos exatamente uma elite, mas um grupo organizado
militarmente e com enorme disposição empreendedora, e que acabará gerando uma nova elite
alguns séculos depois;
- a associação entre a lei e a força: quem é forte cria as leis que o interessam, e quem tem o poder
de fazer as leis, fá-lo em benefício da elite;
- em todas as ocasiões referidas, a imposição da vontade do grupo dominante foi feita mediante o
uso da força. Os navegadores de 1455, os bandeirantes de 1597, os portugueses que expulsam
os franceses do Rio Grande do Norte, os emboabas e os mascates de 1710, os fazendeiros
paulistas de 1850 e o governo de Castello Branco de 1964 – todos, absolutamente todos ou se
organizam militarmente ou dispõem de forças militares a serviço de seus interesses.
Outro traço muito importante é que todos esses movimentos geram como conseqüência ciclos de
progresso econômico muito benéficos para o capital comercial e financeiro.
Vemos que as duas primeiras conjunções (1455 e 1517) impactam casas de Terra no mapa do
Brasil, diretamente relacionadas à Administração Colonial (casa 10) e à produção de bens (casa 6).
A conjunção de 1455 está relacionada ao fortalecimento econômico de Portugal e à criação das pré-
condições que permitiram, mais tarde, o Descobrimento do Brasil. A futura Colônia nasceria com o
Sol em quadratura com esta conjunção, o que já traduz uma ligação visceral e tensa entre o Brasil e
o projeto expansionista português.
Já a conjunção de 1597 fala de uma comunidade pobre e que ainda ocupa na Colônia um papel
subalterno (os paulistas), mas que inicia aí o impulso que a levará a desenvolver um modelo de
sustentação econômica viável.
Esta conjunção forma quadratura com Netuno do Descobrimento. Netuno está na casa 3, conjunto
ao Fundo do Cëu, e rege a 6, dos trabalhadores e da rotina produtiva. Esta conjunção iniciará um
ciclo de interiorização e de abertura de frentes de trabalho, o que reúne o sentido das casas 3
As conjunções seguintes ativam casas de Ar, colocando em evidência aspirações sociais (1710 –
casa 11) e a opção entre o acordo ou o conflito aberto (1850 – casa 7). Em 1710 temos a eclosão de
guerras que já demonstram, de forma ainda incipiente, a forte insatisfação de grupos locais contra a
metrópole portuguesa. Não são ainda movimentos independentistas, mas são, certamente,
movimentos nativistas e rebeldes. Tanto em Minas quanto em Pernambuco, brasileiros e
portugueses entram em conflito armado, sendo que, em Minas, o enfrentamento assume a dimensão
de uma verdadeira guerra com centena de mortos. Em ambos os casos, ocorre a frustração dos
projetos nativistas.
Cabe lembrar que a casa 11, dos projetos e esperanças, é também a casa da insatisfação com o
status quo e das associações de grupos em torno de ideais comuns. Tudo isso é reforçado pela
oposição ao Urano do Descobrimento na 5. Os acontecimentos de 1710 são um primeiro grito de
liberdade em terras brasileiras. A semente lançada em Minas e Pernambuco abrirá o caminho para
novas iniciativas nativistas, como a Revolta de Felipe dos Santos, a Inconfidência Mineira e a
Confederação do Equador, no Nordeste.
A conjunção de 1850 coloca em evidência a casa 7, dos inimigos abertos, bem de acordo com o fato
de que, exatamente naquele ano, portos brasileiros são bombardeados por uma potência estrangeira.
Neste período, o Brasil está envolvido também com os conflitos no Prata, e interferindo diretamente
nos assuntos internos da Argentina. Mais deslocamentos de tropas e mais conflitos, portanto.
O sextil com Marte em Câncer na casa 9 do Descobrimento fala do envolvimento da Marinha nos
acontecimentos da época, tanto nas costas brasileiras quanto na Argentina. Fala também do
envolvimento com potências estrangeiras (Marte na 9 regendo a 7) e num impulso ao crescimento
do país (Marte é co-regente do Ascendente, já que rege, junto com Plutão, Escorpião interceptado
na casa 1).
A conjunção de 1964 volta a evidenciar a casa 11, mas desta vez no âmbito de um Grande Trígono
que Urano-Plutão formam com planetas da carta natal brasileira. Por um lado, vive-se todo o clima
de restrição à liberdade do início do regime militar. É uma época de prisões, cassações e censura,
mas é também a do lançamento das bases do chamado Milagre Econômico que, mediante uma
enorme concentração de renda (típica deste ciclo), leva o Brasil a alguns anos de forte crescimento
industrial e do mercado financeiro, com expansão do emprego e estabilidade da moeda. O conceito
verbalizado pelo então ministro Delfim Neto, pouco tempo depois, de que “primeiro era preciso
esperar o bolo crescer para depois dividi-lo” é típico dos efeitos econômicos de qualquer conjunção
Urano-Plutão.
3 – Considerando a posição por signo e casa e regências, que significado você atribuiria a Plutão e
Urano no mapa do Descobrimento? Este significado se confirma nos fatos ocorridos sob cada
conjunção?
Plutão está na casa 1 do mapa do Descobrimento e é co-regente desta mesma 1, já que Escorpião
está interceptado. Por ser o único planeta nesta casa, é o principal significador do modo de ser do
Brasil Colônia e da imagem que o país projetava na Europa: um lugar selvagem, luxuriante,
Plutão forma dois aspectos maiores: um trígono com Júpiter domiciliado em Peixes na cúspide da
casa 6, aspecto que fala de riqueza e da possibilidade de obtê-la e acumulá-la através do trabalho e
do correto direcionamento dos recursos. Por outro lado, Plutão também forma uma oposição a
Saturno na 7, um Saturno que rege a casa 4, que simboliza a terra e as atividades dela dependentes
(agropecuária e mineração) assim como as origens ancestrais do povo brasileiro. É um aspecto tenso
e agressivo, traduzindo a relação predatória que se estabeleceu muitas vezes entre o colonizador e a
terra colonizada. Fala também esta oposição do eterno conflito fundiário que sempre caracterizou o
Brasil: Plutão, o plutocrata, em confronto com Saturno, a base e a estrutura. Este aspecto tem tantos
significados que seria impossível esgotá-los em poucos parágrafos, mas tanto diz respeito à
mineração, atividade que levou a colônia a seus momentos de maior interesse interesse para
Portugal, quanto à formação de uma aristocracia escravocrata que defendeu seus interesses com
mãos de ferro. Trata-se ainda de um aspecto fortemente explosivo na medida em que Plutão é um
fator de estraçalhamento e fragmentação dos alicerces administrativos e das estruturas de poder que
Saturna representa. Podemos supor, em vista do aspecto, que suas ativações por trânsitos e direções
devam estar diretamente ligadas aos momentos em que o Brasil, como unidade político-
administrativa, correu o risco de fragmentar-se em pequenos territórios descentralizados.
Quanto a Urano, ocupa no mapa do Descobrimento a casa 5, em conjunção com a Lua e trígono
com Marte. O contato Urano-Lua exprime uma disposição libertária nos filhos da terra (casa 5),
assim como, contraditoriamente, a criatividade tanto dos administradores portugueses (a Lua rege a
10, das autoridades), quanto da gente comum (significado essencial da Lua). É como se o mapa
dissesse: para que as iniciativas (Marte) prosperem no Brasil, há que conduzi-las de forma original.
Para um novo país, novas soluções.
Urano e Marte, tomados em conjunto, parecem ter muita relação com a expansão bandeirante e com
a rebeldia de comportamento das gentes da capitania de São Vicente (depois São Paulo). A
Independência será proclamada, mais tarde, exatamente em São Paulo, e com o Ascendente em
Aquário, bem próximo da posição ocupada por Urano no Descobrimento. E a cidade de São Paulo,
destinada a ser a maior do país, tem Sol e Marte em Aquário, destacando outra vez o fator uraniano.
As conjunções Urano-Plutão confirmam o significado que atribuímos a estes dois planetas na carta
da Colônia? Em grande parte, sim. As questões ligadas à terra e à concentração da riqueza sempre
estiveram em evidência, como já verificamos. E o confronto entre os interesses nativistas e
portugueses manifestaram-se com bastante força principalmente na conjunção de 1710, que se dá
em oposição a Urano radical.
Conclusão
O objetivo deste exercício foi mostrar que o estudo dos ciclos dos planetas exteriores é um recurso
eficaz para focalizar rapidamente alguns temas que a simples análise do mapa de cada evento, ou
exclusivamente do mapa nacional do país, poderia não revelar de imediato. Basta dizer que o estudo
que apresentamos do ciclo Urano-Plutão sobre o mapa do Descobrimento apresentou resultados que
surpreenderam até o autor deste curso. Anos de pesquisas com mapas isolados não haviam revelado
um padrão repetitivo tão consistente quanto o que surgiu da abordagem seqüencial de todas as
conjunções ao longo de cinco séculos. A questão da concentração de renda e do latifúndio está
Outro ponto que merece comentário é por que utilizamos o mapa do Descobrimento, e não o da
Independência, para verificarmos as ativações produzidas pelos trânsitos de Urano-Plutão de 1850 e
1964. É claro que a comparação com a carta da Independência permitirá a abordagem de outros
aspectos da questão, fornecendo resultados complementares. Mas teriam as questões da terra e da
distribuição de renda surgido apenas após a Independência? Não se desenham as mesmas desde o
tempo das capitanias hereditárias? Ora, se as questões persistem, se são essencialmente as mesmas,
é lógico que rastreemos sua origem no mapa do Descobrimento, que se mostra ainda eficaz para
descrevê-las até os dias de hoje. As evidências com o Estatuto da Terra e a Lei de Terras de 1850
falam por si.