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C.A.R.S.

– Childhood Autism Rating Scale

CONSIDERAÇÕES

I – RELAÇÃO COM AS PESSOAS

Definição – O modo como a criança se comporta em diferentes situações que envolvam


interacção com as pessoas.
Considerações – Considerar situações estruturadas e livres onde a criança tenha
oportunidade de interagir com os adultos, irmãos ou colegas. Considerar também a reacção
da criança por um lado quando se insiste com alguma persistência para que ela interaja e
por outro lado quando se permite uma liberdade total. Em particular note a dificuldade e o
tempo que leva a prender a atenção da criança. Registe a reacção da criança a contacto
físico, carícias e também a sua resposta a aprovação, critica ou punição. Considerar o grau
com que a criança se liga aos pais ou outros. Notar se a criança inicia interacção. Considerar
a resposta a estranhos – afastamento, timidez, confiança.

II – IMITAÇÃO

Definição – Modo como a criança imita os actos verbais e não verbais. È vantajoso pedir
que imite tarefas que já demonstrou ser capaz de fazer espontaneamente.
Considerações – Imitação verbal pode envolver repetição de sons simples ou frases mais
longas. Imitação física pode ser imitar movimento de mãos, de todo o corpo, cortar com uma
tesoura, copiar formas com um lápis ou brincar com brinquedos. Ter a certeza de que a
criança imita como fazendo parte de um jogo. Notar se imita o adeus, canções infantis ou
rimas. Tentar perceber se não faz imitação por não querer, porque não percebe, é incapaz de
fazer o som, dizer a palavra, ou fazer o movimento necessário. Proporcionar diferentes
situações onde a criança seja chamada a imitar. Registar se a imitação ocorre logo ou depois
de algum tempo.

III – RESPOSTA EMOCIONAL

Definição – O modo como a criança reage a situações agradáveis ou desagradáveis.


Determina se os sentimentos e emoções são apropriados à situação. Este item avalia tanto a
adequação do tipo de resposta como da sua intensidade.
Considerações – Resposta a um estímulo agradável, se mostra afeição ou prazer a um
brinquedo ou jogo favorito, a cócegas. Avaliar também a resposta a estímulo desagradável,
repreensão, remover brinquedo ou comida favorita, punição, dificultar as actividades ou
procedimentos dolorosos. Tipos de respostas inapropriadas podem incluir risos quando são
punidos ou variação imprevisível do humor sem razão aparente. Graus inapropriados de
resposta pode ser considerados falta de emoção em situações que crianças de idade
semelhante a revelam, birras excessivas ou ficar muito excitados com eventos menores.

IV – MOVIMENTOS DO CORPO

Definição – Avaliação da coordenação e adequação dos movimentos do corpo. Inclui alguns


desvios como postura, balanceio, rodopiar, marcha em bicos de pés, auto agressão.
Considerações – Avaliar estas actividades cortando com tesoura, desenhando, fazendo
puzzles e jogos físicos. Ver a frequência e intensidade da utilização bizarra do corpo.
Observar a persistência destes comportamentos avaliando a sua manutenção após proibição.

V – UTILIZAÇÃO DOS OBJECTOS


Definição – Avalia o interesse da criança nos objectos ou brinquedos e o modo como os
utiliza.
Considerações – Como interage com os objectos ou brinquedos, de preferência em
actividades não estruturadas com uma larga variedade de itens, os quais devem ser
adaptados às suas capacidades e interesses. Notar o nível de interesse que a criança lhe
dispensa. Particular atenção deve ser dispensada à utilização de brinquedos que se
proporcionem a rebolar e uso repetido de outros como cubos, dispondo-os em fila em vez de
os usar para fazer construções. Ter em atenção o interesse excessivo em coisas que
normalmente não o despertam. Finalmente verificar se a criança passa a utilizar os objectos
de um modo mais adequado após lhe ter sido ensinado.

VI – ADAPTAÇÃO À MUDANÇA

Definição – Esta escala diz respeito às dificuldades em alterar rotinas ou padrões


estabelecidos e dificuldade em mudar de uma tarefa para a outra. Estas dificuldades estão
muitas vezes relacionadas com comportamentos e padrões repetitivos.
Considerações – Notar a reacção da criança à mudança de uma tarefa para a outra,
particularmente se a criança está muito envolvida na tarefa anterior. Registar a reacção da
criança à tentativa de modificar os seus padrões de resposta ou comportamento, por
exemplo tentar alterar o modo repetido como ela estava a utilizar os cubos. Como reage à
alteração da rotina. Por exemplo, mostra sinais de stress quando visitas chegam de um
modo inesperado alterando-lhe a rotina, quando vai para a escola por um trajecto diferente,
quando a mobília é mudada, quando uma nova professora ou criança é introduzida na
classe? Tem rituais elaborados que acompanham actividades específicas como comer ou ir
para a cama? Insiste em comer ou beber somente com determinado utensílio?

VII – RESPOSTA VISUAL

Definição – Esta é a escala que avalia o padrão anormal de contacto visual muitas das
vezes encontrado nos autistas. Inclui ainda a avaliação da resposta visual que a criança
produz quando lhe é solicitado que observe objectos ou outro material.
Considerações – Observar se a criança faz contacto visual normal quando olha para um
objecto ou interage com as pessoas. Por exemplo, olha somente pelo canto do olho? Quando
interage com outras pessoas fá-lo olhando nos olhos ou evitando o contacto visual? Quantas
vezes é preciso dizer à criança para olhar enquanto desempenha uma tarefa? O adulto
necessita de agarrar a cabeça da criança para conseguir a sua atenção? Resposta visual
invulgar também inclui comportamentos peculiares como observar os seus dedos em
movimento de enrolar ou absorver-se em fixar reflexos ou movimentos.

VIII – RESPOSTA AO SOM

Definição – Esta é uma escala de observação de comportamentos auditivos invulgares e


respostas aos sons inadequados.
Considerações – Considerar preferências invulgares ou medo de ruídos correntes tais como
os provenientes de máquina de lavar, carros a passar, aspirador. Notar se a criança reage
anormalmente aos ruídos. Por exemplo a criança parece não ouvir sons intensos como
sirenes embora reaja a sons muito discretos como sussurros. Pode mesmo reagir demasiado
a sons vulgares que outros nem notam, encolhendo-se ou colocando as mãos a tapar os
ouvidos. Algumas crianças parecem ouvir os sons somente enquanto desocupadas, enquanto
outras podem atender a sons sem qualquer relação ao ponto de ficarem distraídas da sua
actividade inicial. Considerar o interesse da criança nos sons e ter a certeza que a resposta
da criança é para o som e não para o objecto que produz o som.

IX – RESPOSTA AO PALADAR, CHEIRO E TACTO

Definição – Avalia a resposta da criança à estimulação do paladar, cheiro e tacto, incluindo


dor. Notar ainda se a criança faz um uso adequado ou não destas modalidades sensitivas.
Em contraste com as capacidades sensoriais “à distância” (audição e visão) avaliadas nas
duas escalas anteriores, esta é uma escala das capacidades sensoriais “próximas”.
Considerações – Considerar se a criança mostra demasiado interesse ou por outro lado
evita de um modo excessivo determinados odores, comidas, sabores ou texturas. A criança
está preocupada em sentir certas superfícies como a da mesa, certas texturas como peles ou
lixa? Cheira objectos como peças de puzzle? Tenta comer lixo, folhas de plantas, madeira?
Reacção invulgar à dor? Reage excessivamente ou ignora a dor? Pode ser necessário dar-lhe
um beliscão para ver qual a reacção à dor.

X – MEDO OU ANSIEDADE

Definição – É uma escala de medos desajustados. Contudo também inclui a ausência de


medo em condições em que uma criança normal com o mesmo nível de desenvolvimento
manifesta medo ou pelo menos ansiedade.
Considerações – Comportamento de medo pode manifestar-se como choro, gritos,
esconder-se ou riso de nervos. Ao avaliar esta escala considerar a frequência, severidade e
duração da reacção da criança. Os medos parecem razoáveis ou não? Considerar a
consistência da resposta. É confinado a um só tipo de situações ou alargado a muitas ou
todas? A criança com idade semelhante reage deste modo em idênticas situações? A
intensidade da resposta pode ser avaliada pela dificuldade em acalmar a criança. Este tipo de
reacção pode ocorrer com a separação dos pais, em resposta à proximidade física, ou por ser
levantado do chão e envolvido em contacto físico. Respostas invulgares podem ocorrer em
relação a itens específicos como chuva, boneca… Outro tipo de resposta anormal é não
mostrar medo em situações nas quais outras crianças o fazem como o tráfego da rua, cães
desconhecidos. Ter em conta ansiedade anormal. A criança assusta-se facilmente como
resposta a um movimento ou som normal?

XI – COMUNICAÇÃO VERBAL

Definição – É a escala que avalia todas as facetas do uso da fala e da linguagem. Avaliar
não só a presença ou ausência de linguagem mas também a sua peculiaridade, invulgaridade
e inadequação dos elementos da frase quando está presente. Assim quando qualquer tipo de
linguagem está presente avalie o vocabulário, estrutura, tonalidade, volume e ritmo das
frases, a adaptação à situação e o seu conteúdo e sentido.
Considerações – Considerar a frequência, intensidade e extensão das frases peculiares,
bizarras e inapropriadas. Notar como a criança fala, se faz perguntas e se repete palavras ou
sons quando pedido. Problemas na comunicação verbal inclui mutismo ou falta de fala,
atraso em falar, usar características de linguagem da criança mais nova ou usar palavras de
um modo peculiar e sem sentido. Três tipos específicos de peculiaridades devem ser
notados, passada a idade em que tipicamente ocorrem, como troca de pronomes, ecolália e
o uso de jargon. Para as crianças que falam notar a tonalidade, o ritmo e o volume da voz.

XII – COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL

Definição – É uma escala de comunicação não verbal, através da utilização da expressão


facial, postura, gestos e movimento do corpo. Também inclui a resposta da criança à
comunicação não verbal dos outros. Se a criança tem uma razoável capacidade de
comunicação verbal, pode ter menos comunicação; contudo aqueles com capacidades de
comunicação verbal diminuídas podem desenvolver ou não meios de comunicação não
verbal.
Considerações – Observar a utilização de linguagem não verbal particularmente em
períodos em que a criança necessita e deseja comunicar. Notar também a resposta da
criança à comunicação não verbal dos outros. A criança usa gestos ou expressão facial, por
exemplo, para indicar o que quer comer, ou com o que é que quer brincar, ou tenta usar as
mãos do adulto como extensão das suas próprias? Usa gestos para indicar a alguém onde
pretende ir, ou tenta agarrar as pessoas para a levar?
XIII – NÍVEL DE ACTIVIDADE

Definição – Esta escala avalia a actividade motora da criança em situações restritivas e não
restritivas. Hiperactividade ou letargia fazem parte desta escala.
Considerações – Observar a actividade da criança em ambiente livre ou como reage
quando se obriga a permanecer sentada. Considerar a persistência do nível de actividade da
criança. Se letárgica, pode ser encorajada a mobilizar-se mais? Se excessivamente activa é
possível acalmá-la ou mantê-la sentada? Ao pontuar esta escala, factores tais como a idade
da criança, a distância de onde veio, a duração do teste e a fadiga devem ser tidas em
conta. Considerar também a influência de medicações que podem alterar o nível de
actividade.

XIV – NÍVEL E CONSISTÊNCIA DA RESPOSTA INTELECTUAL

Definição – Esta escala diz respeito ao nível global da função intelectual e da consistência
ou uniformidade de funcionamento de um tipo de tarefa para outro. Alguma flutuação do
funcionamento mental ocorre em muitas crianças normais e com deficiência. Contudo esta
escala está orientada para identificar capacidades extremamente invulgares características
do autismo de Kanner.
Considerações – Considerar não somente a utilização e compreensão da linguagem, dos
números e dos conceitos, mas também o modo como a criança recorda factos que ouviu ou
observou e como explora o ambiente. Atenção particular deve ser tomada para avaliar se a
criança apresenta uma capacidade invulgar em uma ou duas áreas em relação ao seu nível
global de funcionamento intelectual. Tem um talento especial para os números, memória ou
musica por exemplo? Avalie o pensamento concreto ou a tendência a tomar as coisas
literalmente após ultrapassada a idade ou nível funcional em que isto é esperado.

XV – IMPRESSÃO GLOBAL

Deve ser vista como uma escala global do autismo baseada na impressão subjectiva do grau
de autismo como definido nos 14 itens anteriores. Esta escala deve ser elaborada sem o
recurso à quantificação dos outros itens. Toda a informação fornecida que diga respeito à
criança deve ser tida em conta incluindo outras vias de informação como a história,
entrevista com os pais ou registos anteriores.

INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS DO C.A.R.S

Cada um dos 15 itens fornece uma pontuação de 1 a 4.

1 – Dentro dos limites normais para esta idade


1,5 – Muito ligeiramente anormal para esta idade
2 – Ligeiramente anormal para esta idade
2,5 – Ligeira a moderadamente anormal para esta idade
3 – Moderadamente anormal para esta idade
3,5 – Moderada a severamente anormal para esta idade
4 – Severamente anormal para esta idade

A pontuação total é o resultado da soma dos 15 itens. O resultado pode ir desde um mínimo
de 15 até um máximo de 60.
Uma pontuação abaixo de 30 é considerado não autista, acima de 30 é autista. Entre
30 a 60 é autismo. Entre 30-36,5 indica autismo ligeiro a moderado enquanto pontuações
entre 37 a 60 indicam autismo severo.
População TEACH (Treatment and Education of Autistic and related Communication
Handicaped Children) de 1500 crianças

CARS Falsos negativos – 14,6%


CARS Falsos positivos – 10,7%

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